Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O SIGNIFICADO DO SACRAMENTO
Com o passar do tempo, a palavra sofreu duas evoluções semânticas, de acordo com
Berkhof (p. 622): "(a) no uso militar do termo, em que denotava o juramento pelo qual
um soldado prometia solenemente obediência ao seu comandante". Note-se, aí, que os
cristãos aproveitam essa idéia de obediência, pois, no batismo, o fiel promete obedecer a
Cristo, através da profissão de fé. "(b) no sentido especificamente religioso que o termo
adquiriu quando a Vulgata o empregou para traduzir o grego mysterion." Parece que daí
vem a idéia católica de que o batismo tem algo sobrenatural, místico, infundindo graça
ao batizando. Entre os cristãos primitivos o termo "sacramento" significavam doutrinas,
"selos", "sinais" ou mesmo "mistérios".
Agostinho chegava a entender que o batismo eliminava todos os pecados, fossem eles
contraídos consciente ou inconscientemente. Tais entendimentos, ainda que oriundos de
ensinamentos transmitidos por homens eruditos, e reconhecidos como intérpretes
famosos das Escrituras, não estavam nem estão em acordo com o verdadeiro sentido
que a Palavra de Deus dá ao batismo em águas.
A Igreja Católica Romana adotou esses ensinos, pregando que "o sacramento é algum
rito instituído por Cristo ou pela Igreja, como sinal externo e visível de alguma graça
interna e invisível" (Champlin e Bentes, p. 33). Mais que isso, segundo Berkhof, a
Igreja Católica considera o "sacramento" como algo que "contém tudo que é necessário
para a salvação dos pecadores, não precisando de interpretação e, portanto, tornam a
Palavra completamente supérflua como meio de graça...". Por isso, "Os católicos
romanos afirmam que o batismo é absolutamente necessário para todos, para a
salvação...." (Idem, p. 623).
Para esses, os sacramentos são em número de sete, sendo eles o "batismo", "a
confirmação" (crisma), "a penitência", "a santa eucaristia", "as santas ordens"
(ordenação de sacerdotes), "o matrimônio" e a "extrema-unção", todos eles transmitindo
de alguma forma algum tipo de graça santificante ou salvífica.
A palavra vem do latim, de ordo(inis), relativa a ordinari, "ordenar". Daí, é que se deriva
a palavra ordinans(antis), "ordenança", significando "uma regra autoritária, um decreto,
uma lei, um rito religioso, uma disposição ou posição, um desígnio" (Champlin, p. 615).
No Novo Testamento, vemos que os apóstolos foram ordenados pelo Senhor (Ver Jo
15.16). Em At 6.6, os diáconos foram ordenados para o serviço de socorro aos
necessitados. Nesse aspecto, a ordenação é um rito de consagração ou separação de
obreiros. Ordenança tem o sentido de "ordem", "mandamento", "determinação". O
sacramento pode ser entendido como uma ordenança. Berkhof assim o define:
"Sacramento é uma santa ordenança, instituída por Cristo, na qual, mediante sinais
perceptíveis, a graça de Deus em Cristo e os benefícios da aliança da graça são
representados, selados e aplicados aos crentes, e estes, por sua vez, expressam sua fé e
sua fidelidade a Deus" (grifo nosso).
Na verdade, como acentua Horton (p. 569), "as ordenanças, determinadas por Cristo e
celebradas por causa do seu mandamento e exemplo, não são vistas pela maioria dos
pentecostais e evangélicos como capazes de produzir por si mesmas uma mudança
espiritual, mas como símbolos ou formas de proclamação daquilo que Cristo já levou a
efeito espiritualmente nas suas vidas".
Com esse sentido, o batismo tem muita importância na vida do crente fiel. Nada
justifica a negligência em buscá-lo com santo interesse. Sua realização não significa
salvação. Mas sua omissão pode significar um estado de desobediência, velada ou não,
que impede o crente de atender à ordenança do Senhor.
Além da igreja Católica, há certos grupos luteranos e anglicanos, bem como seitas,
como os "Testemunhas de Jeová" e Mórmons, que se baseiam numa teologia
sacramentalista, segundo a qual o batismo é necessário por transmitir a salvação. Muitos
chegam a dizer que "fora do batismo não há salvação".
Contudo, o batismo em si, como ato simbólico, não tem a virtude de transmitir a
salvação, pelos seguintes motivos:
1) Somos salvos pela graça de Deus e não por obras ou ritos externos (cf. Ef 2.8,9).
Jesus disse à mulher samaritana que os verdadeiros adoradores haveriam de adorar ao
Pai "em espírito e em verdade" (Jo 4.23,24).
3) O batismo não dá origem à fé, e só deve ser ministrado a quem já demonstra tê-la (At
2.41; 9.37; 16.14,15.30-33).
4) A Bíblia revela o caso de pessoas que não tiveram oportunidade de batizar-se e foram
salvas, a exemplo dos fiéis do AT e do ladrão que aceitou a Cristo no Gólgota. Alguns
irmãos, nas igrejas, indagam: "Jesus não disse que quem crê e for batizado será salvo?".
E acrescentam: "Para que serve, então, o batismo, se ele não salva?".
A Bíblia não pode contradizer-se. A salvação não é por obras, mas pela fé em Jesus. O
batismo, como ordenança, segundo Horton (p. 570), tem os seguinte propósitos
simbólicos:
1) Identificação com cristo. "para os crentes, ... simboliza a identificação com Cristo.
No batismo, o recém convertido testifica que estava em Cristo, quando Cristo foi
condenado pelo pecado, que foi sepultado com Ele e que ressuscitou para a nova vida
nEle".
2) Morte para a velha vida. "O batismo indica que o crente morreu para o velho modo
de viver e entrou na ' novidade da vida', mediante a redenção em Cristo. O ato do
batismo nas águas não leva a efeito essa identificação com Cristo, ' mas a pressupõe e a
simboliza".
3) Identificação com a Igreja. "O batismo nas águas também significa que os crentes se
identificaram com o corpo de Cristo, a Igreja. Os crentes batizados são admitidos na
comunidade da fé e, com sua atitude , testificam publicamente diante do mundo sua
lealdade a Cristo, juntamente com o povo de Deus".
Desse modo, o batismo não salva, mas confirma a fé. É sinal legítimo, exterior, da
obediência, da vida de quem já é salvo (Ver Gl 3.27; 1 Co 12.13). É um ato de fé
genuína, que precisa ser acompanhada de obras de salvo, indispensáveis ao bom
testemunho cristão (Ver Rm 2.6; Tg 2.14; Mt 5.16; Ef 2.10).
Deve ser um ato natural, em seqüência à conversão. Entre os crentes, nos primórdios da
Igreja, dificilmente se encontrava alguém que não houvesse sido batizado em águas,
algumas vezes logo após a aceitação a Cristo (cf. At 8.37,38; 16.33; 18.8). Aliás, é
interessante que se busque a razão pela qual um crente, com muitos anos de convertido,
não seja batizado em águas. Nada justifica tal situação, a não ser que um impedimento
de ordem espiritual, moral ou legal subsista. Neste caso, a pessoa precisa de orientação
e ajuda na busca da solução de seu problema. Em algumas igrejas, as pessoas só podem
assumir cargos ou funções eclesiásticas se forem "membros do Corpo de Cristo",
condição que se completa, na comunidade cristã, após o batismo em águas.
Segundo os historiadores cristãos, três são as formas possíveis de batismo: por imersão,
por afusão (derramamento) e por aspersão. A Igreja Católica e algumas denominações
evangélicas, utilizam o método de batizar por aspersão. Este consiste na aspersão de um
pouco de água sobre a cabeça do batizando, normalmente de crianças. Muitos dizem
que esse deve ser o método de batizar as pessoas enfermas ou próximas à morte, quando
se torna inviável levá-las a um tanque ou lugar onde haja bastante água, ou por não ser
indicado mergulhar seus corpos em água.
Num antigo documento (100 A. D.), denominado "Didaquê", havia instruções para a
ministração do batismo, orientando que, em princípio, deveria ser por imersão, mas não
havendo água suficiente, poder-se-ia derramar água fria (ou morna) sobre a cabeça da
pessoa, três vezes, "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Este era o método
por afusão.
Os evangélicos em geral aceitam a idéia de que o batismo deve ser feito por imersão
(mergulhar em água), seguido de emersão (sair dá água), visto que esse ato simboliza o
"sepultamento-ressurreição" do batizando. Tal entendimento tem base em Rm 6.3,4, que
diz: "Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados
na sua morte?" De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que,
como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em
novidade de vida".
Os que defendem essa forma de batismo são chamados de "imersionistas". Há quem não
aceite a imersão como única forma de batismo, alegando que as palavras gregas bapto e
baptizo não significam só "imergir", mas, também, "lavar", "banhar-se" e "purificar
mediante lavamento" (Berkhof, p. 635). Com isso, aceitam as formas por afusão e
aspersão. Entretanto, mesmo havendo outros sentidos para as palavras originais, "...o
próprio simbolismo que diz respeito ao modo é aquele que projeta a idéia de imersão"...
"visto que a 'imersão' concorda mais com o sentido e com o simbolismo do batismo, do
que qualquer outro modo, do ponto de vista simbólico lingüístico e histórico, não erram
aqueles que batizam por imersão" (Champlin, p. 461).
Criticando os que defendem formas diferentes da imersão, esse autor diz que "tentar
furtar à palavra baptizo de seu sentido básico, 'imergir', é ridículo, uma violência à
língua e à história do termo". Sem dúvida alguma, se o batismo é um simbolismo da fé,
da obediência e da nova vida em Cristo, devemos zelar para que esse ato não venha
perder sua característica peculiar de representativo de algo que é tão real e importante,
como ordenança deixada pelo Senhor (Mt 28.19).
A FÓRMULA DO BATISMO
Os cristãos em geral utilizam a forma trinitária de batizar alguém, fazendo-o como Jesus
ordenou em Mt 28.19b: "Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome
do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo". No original grego, tal expressão é eis to onoma
tou patros kai tou hyou kai tou hagiou pneumatos, significando "para uma relação com o
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo".
Segundo Horton (p. 570), "os crentes neotestamentários eram batizados 'para dentro' do
nome do Senhor Jesus (At 8.16)". Isto porque a preposição eis, no grego, quer dizer
"para dentro de", podendo significar, também, "em relação a". Assim, o batizando é
introduzido em Cristo, no seu nome, ficando debaixo de seu senhorio. Para tanto,
necessária se faz uma profissão de fé autêntica, mediante a qual a pessoa a ser batizada
confirma sua convicção de ser um verdadeiro discípulo de Cristo.
As seitas unicistas utilizam esses textos bíblicos para defender a idéias do batismo "só
no nome de Jesus", pois eles pregam que a fórmula ditada por Jesus não inclui "o
nome", e sim, "as funções diferentes de Deus", como Pai, como Filho e como Espírito
Santo, o que é uma heresia absurda. Segundo o Pastor Esequias Soares (p. 37), as
passagens bíblicas invocadas pelos unicistas "não tratam da fórmula batismal, e sim de
atos ou eventos de batismo...Se elas revelassem a fórmula batismal, seriam iguais, pois
a fórmula é padronizada. Aquelas pessoas eram batizadas na autoridade do nome de
Jesus". Desse modo, entendemos que a fórmula trinitária, ditada por Jesus, antes de se
despedir dos seus discípulos, é a mais correta e adequada para a ministração do ato
batismal.
O batismo não tem o sentido místico que lhe é atribuído por alguns (sacramentalistas),
mas não pode ser reduzido a um simples ritual ou ato formal. Há quem procure o
batismo, em alguma igreja, pelo fato de desejar ter um cargo ou função; há jovens que
procuram batizar-se para poder namorar com alguém ou imitar seus colegas. Isso não
tem o menor sentido bíblico, e perde o valor diante de Deus.
É necessário que haja um testemunho sincero de uma nova vida em Cristo, para que o
simbolismo do batismo seja verdadeiro. Um velho pastor dizia: "se não tivermos
cuidado, no dia do batismo, podemos levar ao tanque um pecador enxuto, e sair de lá
um pecador molhado". Com isso, advertia para o cuidado em se fazer uma profissão de
fé criteriosa, buscando-se, também evidências de que o candidato ao batismo desse
demonstração de que é de fato uma nova criatura em Cristo, e não apenas alguém
interessado em cumprir um ritual. O batismo é uma importante ordenança de Cristo à
sua igreja, mas não transmite salvação
BATISMO DE CRIANÇAS?
Para os que vêm o batismo como um "sacramento", ou um ato que transmite graça
santificante, não só adultos mas crianças devem ser batizadas. Entretanto, de acordo
com a Palavra de Deus, não se vê, na Bíblia, um só caso de batismo infantil
(pedobatismo) ou de pessoas não convertidas.
Um outro argumento dos que defendem o batismo de crianças reside no fato de algumas
famílias inteiras terem sido batizadas, havendo, certamente, crianças entre seus
integrantes, como registrado em At 16.15; 16.33 e 1 Co 1.16. Trata-se, no entanto, de
suposição, que não pode servir de base doutrinária.
Há, ainda, quem alegue possuir a criança o pecado original, e que este exige perdão, que
só pode ser obtido através do batismo. Tal assertiva peca por falta de base escriturística.
O perdão do pecado se obtém através da lavagem do sangue de Jesus (1 Jo 1.7) e não
pelas águas do batismo. Além disso, a Bíblia nos dá a entender que as crianças em idade
tenra, quando ainda não podem discernir entre o bem e o mal, não carregam em si a
culpa do pecado, nem mesmo do pecado original, pois este não é uma doença
contagiosa, que passe de pai para filho. A criança tem, na verdade, em si as
conseqüências daquele pecado, mas não a responsabilidade por ele.
Jesus, ao receber as criancinhas em seus braços, disse aos seus discípulos: "Deixai vir os
meninos a mim, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos
digo que qualquer que não receber o reino de Deus como menino de maneira nenhuma
entrará nele'. (Mc 10.14,15). Assim, na condição de criancinhas, elas não precisam ser
batizadas para Ter acesso ao "reino de Deus", pois já lhes pertence, em seu estado de
pureza, simplicidade e inocência.
BIBLIOGRAFIA
BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. São Paulo, Luz para o Caminho, 1990.
CHAMPLIN & BENTES. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. São Paulo,
Candeia, 1995.
HORTON, Stanley. Teologia sistemática. Rio, CPAD, 1997.
KELLY, J. N. Doutrinas centrais da fé cristã. São Paulo, Edições Vida Nova, 1994.
S0ARES, Esequias. Lições Bíblicas, 2. Trim. 97 - Seitas e Heresias. Rio, CPAD, 1997.
(Publicado na Revista Obreiro, de fevereiro de 1999, pela CPAD).