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O HANDEBOL COMO PRÁTICA SOCIAL NO AMBIENTE ESCOLAR

Rodrigo Aranda Serra1 - UNIGRAN CAPITAL

Eixo – Didática
Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O Handebol é um esporte que cresce e tem se tornado referência em diferentes cenários. Esta
modalidade é muito dinâmica e capaz de desenvolver vários aspectos sociais, cognitivos e
motores, tais, como cooperação, sociabilização e inclusão, lateralidade, agilidade e
flexibilidade, além de habilidades como correr, saltar e arremessar. Este estudo teve como
objetivo compreender de que forma a prática do handebol pode influenciar os aspectos sociais
dentro do ambiente escolar. A metodologia utilizada foi com abordagem qualitativa, tipo de
pesquisa bibliográfica, com consulta virtual nos principais bancos de dados como scielo, lilacs,
medline e revistas do esporte e do movimento, tendo como principais descritores Educação
Física Escolar, Handebol, esporte educacional e esporte social. Os resultados das buscas e
análise demonstram uma predominância de estudos relacionados ao contexto de esporte de
rendimento. Sob uma perspectiva muito tecnicista, a grande maioria dos artigos traz o handebol
com as atenções voltadas ao ensino do esporte em si, tornando-o objetivo final das aulas e não
o meio para um ensino aprendizagem significativo, mesmo sendo uma modalidade tradicional
na escola que visa a performance dos alunos e que permeiam por competições escolares. O
aspecto social ainda é pouco explorado, mesmo sendo o principal meio de motivação nas aulas
de educação física. O jogo, na escola ainda conta com uma perspectiva competitiva o que não
é prejudicial. O professor é responsável por esse estímulo do escolar. Conclui-se que o handebol
comtempla todas as capacidades funcionais que os escolares necessitam e possibilita além de
uma carreira no esporte outros valores que norteiam uma sociedade, mesmo que indiretamente,
a sua prática desenvolve valores necessários para um cidadão.

Palavras-chave: Handebol. Educação Física Escolar. Prática Social.

Introdução
Este estudo aborda a temática sobre os aspectos sociais que a modalidade handebol traz
consigo no ambiente escolar por meio da Educação Física e também investiga como as aulas
podem desenvolver de forma integral os escolares envolvidos.
Haydt (1997 apud CAMPOS, 2016, p.208) cita que “a formação das crianças e dos
jovens ocorre por meio de sua participação na rede de relações que constitui a dinâmica social.

1
Mestre em Psicologia: Concentração em Saúde pela Universidade Católica Dom Bosco - UCDB. Docente na
Faculdade UNIGRAN Capital (Campo Grande/MS). E-mail: rodrigoaranda20_04@hotmil.com

ISSN 2176-1396
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É convivendo que as pessoas assimilam conhecimentos e desenvolvem hábitos e atitudes de


convívio social”.
Visto enquanto um fenômeno mundial, que cativa diferentes públicos e movimenta
grandes negócios, o esporte é hoje um sistema dotado de grande independência, capaz de existir
em diferentes nações e países de todos os continentes, sejam quais forem seus costumes e
identidades culturais. Esse fenômeno vêm evoluindo ao longo dos anos com intensa exigência
no processo do desenvolvimento humano, seja na sua formação física ou mental
Para Galatti (2010, apud NAVARRO, 2011) “o esporte é um fenômeno sociocultural
em ascensão, cada vez mais valorizado e presente no cotidiano de diferentes povos, com
personagens que atribuem ao fenômeno múltiplos significados [...]”. Ele assume importante
papel educacional frente à realidade social em que se vive, principalmente quando se leva em
conta o seu cunho pedagógico em detrimento do caráter de contemplação (SILVA, 2014).
Dentro deste contexto, o Handebol é um esporte que cresce e tem se tornado referência
em diferentes cenários. Esta modalidade é muito dinâmica e capaz de desenvolver vários
aspectos sociais, cognitivos e motores, tais, como cooperação, sociabilização e inclusão,
lateralidade, agilidade e flexibilidade, além de habilidades como correr, saltar e arremessar.
Além disso, o handebol possui características diferenciadas com relação aos outros
esportes coletivos, uma vez que o mesmo já inclui, em suas regras, possibilidades reais da
participação de todos os jogadores em todos os momentos do jogo.
Segundo Vargas et al (2010), o handebol passou por diversos processos evolutivos, que
consequentemente, passaram a exigir dos atletas maiores adaptações fisiológicas e
características morfológicas específicas.
A prática do Handebol permite três movimentos naturais, que são: o correr, o saltar e o
arremessar, acontecendo de modo constante. Na escola, esses movimentos fazem parte de uma
rotina estabelecida pelo professor de Educação Física dentro de suas aulas. Assim, cada vez
mais a criança é inserida nesta prática esportiva e, por consequência, com uma melhor condição
física e com mais possibilidades sociais, no meio em que convive.
Por ser uma modalidade coletiva, atualmente é o esporte mais praticado nas escolas
brasileiras. Para Gonçalves (1997, p.134), a “Educação Física tem um papel importante para a
vida humana, se destacando como ato educativo que: relaciona-se diretamente à corporalidade
e ao movimento do ser humano”. Implica, portanto, uma atuação intencional sobre o homem
como ser corpóreo e motriz [...].
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A importância do professor que trabalha e desenvolve atividades com o movimento, é


fundamental para a evolução do esporte e permite uma escolarização diferenciada na formação
do homem, tanto na sua dimensão pessoal como social.
Diante das situações citadas acima, a problemática deste estudo indaga: de que forma a
implantação do handebol no ambiente escolar refleti na preservação das características dos
escolares e qual seu papel social?
Assim, este estudo teve como objetivo compreender de que forma a prática do handebol
pode influenciar os aspectos sociais dentro do ambiente escolar e analisar qual o papel do
professor neste contexto. A metodologia foi com abordagem qualitativa, tipo de pesquisa
bibliográfica, com consulta virtual nos principais bancos de dados como scielo, lilacs, medline
e revistas do esporte e do movimento, tendo como referências as palavras-chave: educação
física escolar, handebol, esporte educacional e social.

O Handebol e as suas Possibilidades no Contexto Escolar


Em meados do século passado (1848), o professor dinamarquês Holger Nielsen criou
no Instituto de Ortrup, um jogo denominado "Haaddbold" determinando suas regras. Na mesma
época os tchecos conheciam jogo semelhante denominado "Hazena". Fala-se também de um
jogo similar na Irlanda, e no "Salon" do uruguaio Gualberto Valetta, como precursor do
handebol (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE HANDEBOL, 2007).
Definido com um jogo coletivo com utilização de bola, exercido com as mãos, cujo
propósito é marcar o maior número de gols contra a equipe adversária em um determinado
tempo. Tenroller (2007, p.18 apud OLIVEIRA, 2012, p. 89) diz que “o handebol é uma
atividade simples e interessante sob o ponto de vista de ensino e aprendizagem, pois é um
esporte dinâmico, que necessita de tomadas de decisões rápidas durante a dinâmica do jogo”.
Para Rodenbusch (2009, p.48 apud OLIVEIRA, 2012) o handebol:

[...] surgiu da união de elementos do Basquete e do Futebol, trata-se de uma


modalidade que permite desenvolver em seus praticantes diversas habilidades e
qualidades, entre elas: físicas, psíquicas, sociais, morais e cognitivas, desenvolvendo,
ao mesmo tempo, resistência, habilidade, coordenação, velocidade, força, coragem,
controle emocional, inteligência, entre outras.

De acordo com a Confederação Brasileira de Handebol (2007, apud MONTEIRO e


GALANTE, 2007, p.5), “a bola é, sem dúvida, um dos instrumentos desportivos mais antigos
do mundo e vem cativando o homem há milênios. Homero cita, na Odisseia, o jogo de Urânia,
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praticado na antiga Grécia, com uma bola do tamanho de uma maçã, usando as mãos, mas sem
balizas”. Também há registros que os Romanos realizavam o Harpastom, jogo com bola e
praticado com as mãos.
O Handebol é o terceiro esporte mais praticado no Brasil, com 227 mil atletas federados.
A modalidade fica atrás apenas do futebol de campo e do futebol de salão (informações
registradas em reportagens do Jornal Lance, em 16/9/98, e do Diário de São Paulo, em
24/08/2003).
Recentemente, a Folha de São Paulo publicou uma reportagem sobre a modalidade, em
que Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) aponta o
handebol como “o esporte de maior potencial de crescimento no Brasil - segundo ele, um novo
vôlei” (FERREIRA, 2010, p. 73).
É considerado um desporto que apresenta características de esforços físicos de alta
intensidade e de curta duração, com ênfase nas capacidades motoras de velocidade e de força,
especialmente, a força explosiva e a força rápida. O ensino dos fundamentos básicos do
handebol “visa o processo de conscientização do indivíduo, a competição também faz parte
desse processo (ela existe na vida das pessoas), desde que orientada no sentido da promoção
humana” (GONÇALVES, 1994 apud NUNES, 2013, p.01).
Souza et al (2006) diz que o treinamento das referidas capacidades motoras é um
componente importante do desempenho físico e, a esse respeito, mais atenção deve ser referida
ao desenvolvimento do condicionamento físico específico (preparação física específica) dos
handebolistas. Assim, o handebol, como outros desportos coletivos, envolve uma sequência de
atividades que solicitam o metabolismo anaeróbio de forma determinante.
A procura pela pratica do Handebol vem crescendo significativamente no mundo, como
conteúdo escolar essa pratica sofreu grandes modificações e hoje vem sendo bem aceita pelos
professores de Educação física por ser uma prática que realiza movimentos de fácil execução e
que ajuda no desenvolvimento motor das crianças.

A Educação Física Escolar: História e Evolução


A constituição da Educação Física, ou seja, a instalação dessa prática pedagógica na
instituição escolar emergente dos séculos XVIII e XIX, foi fortemente influenciada pela
instituição militar e pela medicina (BORGES, 2010). Até décadas atrás apresentava um modelo
em que o físico (corpo), a aptidão física e desempenho eram o mais importante, desprezando
muitas vezes os aspectos sociais, cognitivos e afetivos.
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O relevante dentro das aulas de Educação Física Escolar era o Esporte-Rendimento, ou


seja, o aluno deveria apresentar um bom desempenho e habilidades não só nas aulas, mas
também nos jogos e em determinadas modalidades esportivas, levando o aluno a ser quase um
atleta (SANTOS e GONÇALVES, s/d).
A Educação Física é uma prática que envolve um amplo processo de ações, sejam
educacionais ou não. Ela ocorre no ambiente escolar e tem função de promover aspectos
motores, psicossociais e culturais (TENROLLER, MERINO, 2006 apud TAVARES, SENNA,
BARRA, s/d).
Segundo Gonçalves Junior (2007 apud MONTEIRO e GALANTE, 2007, p.01):

[...] tradicionalmente a Educação Física valoriza as capacidades e habilidades


envolvidas nos jogos, nas quais os meninos são mais competentes. Assim, é necessário
repensar a atuação do professore em dois aspectos: primeiro, às meninas devem ser
dadas oportunidades de se apropriarem dessas competências em situações em que não
se sintam pressionadas, diminuídas, e tenham tempo para adquirir experiências. Em
segundo lugar, com a incorporação das atividades rítmicas e expressivas às aulas de
Educação Física, os meninos poderão também desenvolver novas competências.

“A Educação Física somente terá seu valor como disciplina pedagógica, se estiver
comprometida com a formação de todos os educandos e não apenas com aqueles que têm o dom
e a inteligência para práticas desportivas” (GARDNER, 2005 apud NUNES, 2013, p.02). A
Educação Física é abordada sendo também uma cultura corporal e dentre as produções dessa
cultura, algumas foram incorporadas pela disciplina dentro de seus conteúdos: o jogo, o esporte,
a dança, a ginástica e a luta.
O conceito de cultura é aqui entendido como produto da sociedade, da coletividade à
qual os indivíduos pertencem, antecedendo-os e transcendendo-os” (BRASIL, 1997, p. 23).
Onde entende-se por cultura “[...] o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo
grupo: neles o indivíduo é formado desde o momento da sua concepção; nesses mesmos
códigos, durante a sua infância, aprende os valores do grupo; por eles são mais tarde
introduzidos nas obrigações da vida adulta, da maneira como cada grupo social as concebe”
(BRASIL, 1997, p.23).

O Esporte e as Relações pedagógicas no Ambiente Escolar


Acredita-se que, a partir dos gregos, houve uma organização de competições para medir
as habilidades físicas, já que, além disso, valorizavam o culto ao corpo. Os gregos constituíram
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e organizaram um conteúdo, mas sua contextualização foi concretizada pela sociedade


contemporânea como esporte (LESSA, 2008 apud TAVARES, SENNA, BARRA, s/d).

O esporte, visto enquanto um fenômeno mundial que cativa diferentes públicos e


movimenta grandes negócios, torna-se um sistema dotado de grande independência,
capaz de existir em diferentes nações e países de todos os continentes, sejam quais
forem seus costumes e identidades culturais. No entanto, constata-se que o que move
e direciona o atual período histórico esportivo é a competição (MONTEIRO,
GALANTE, 2007).

O objetivo de ensino perante os PCN‟s (BRASIL, 2000 apud LOPES, MACHADO,


2010, p.01) “é trabalhar com a cultura corporal para o pleno exercício da cidadania. O esporte
sendo um dos conteúdos da cultura corporal deve exercer tal função contribuindo para a adoção
de uma postura não preconceituosa e discriminatória diante das manifestações e expressões dos
diferentes grupos étnicos e sociais e às pessoas que dele fazem parte”.
Trichês e Trichês (2010) dizem que a prática esportiva como instrumento educacional
visa o desenvolvimento integral das crianças, jovens e adolescentes, capacita o sujeito a lidar
com suas necessidades, desejos e expectativas. Bem como, as necessidades, as expectativas e
os desejos de pessoas próximas, de forma que o aluno possa desenvolver as competências
técnicas, psico-cognitivas, sociais e comunicativas, essenciais para o seu processo de
desenvolvimento individual.
Sobre a prática esportiva no âmbito escolar Borges (2010, p.2) diz:

[...] o trabalhar o esporte com a criança, o educador possibilita o aumento do repertório


de conhecimentos e habilidades no aluno, bem como a compreensão e a reflexão sobre
a cultura corporal. A prática esportiva acentua o aspecto sócio comunicativo, elevando
o nível de desempenho social das crianças, e a convivência delas com o próximo, na
medida em que conseguem cooperar entre si e aceitar as derrotas e vitórias como
processo natural do aprimoramento do caráter.

“O esporte, como prática social que institucionaliza temas lúdicos da cultura corporal,
se projeta numa dimensão complexa de fenômeno que envolve códigos, sentidos e significados
da sociedade que o cria e o pratica” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 70, apud RONCHI,
2010, p.14).
O handebol é uma modalidade esportiva coletiva que teve sua origem associada às
atividades esportivas praticadas em aulas de Educação Física. É um esporte que se caracteriza
por ser um jogo de fácil aprendizagem, pois apresenta movimentos natos dos seres humanos,
como: correr, saltar e arremessar, dinamizando o aprendizado por considerar as habilidades
naturais de toda criança (NUNES, 2013).
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Assim, a prática do Handebol nas aulas de Educação Física pode ser apresentada de
formas diferentes para cada etapa de ensino, através de atividades lúdicas, brincadeiras que
incentivam o esporte, atividades com caráter recreativo e o próprio jogo dependendo do nível
de ensino da turma. O professor também deve vir a ser um mediador e buscar, pois, segundo
Pedroso, (2012, p. 14):

[...] entender os benefícios que a pratica de uma modalidade desportiva deve ser uma
necessidade constante de um educador, pois assim como as demais, o voleibol permite
o desenvolvimento do aluno, pois além de explorar os movimentos corporais, aguça
sua desenvoltura na criação e variação de movimentos, que o colocará mais próximo
na integração e socialização com seus companheiros sejam estes meninos ou meninas.

Através disso o educador precisa saber separar o que é para o esporte de alto
rendimento e o que deve ser feito com os alunos nas aulas de educação física, “sendo que nesta
deve estar bem claro a necessidade do confrontamento diferencial buscando o trabalho como
conteúdo de educação física, pois só assim, através do jogo e do lúdico, despertaremos o prazer
em movimentar-se.” (CAMPOS, 2006 apud PEDROSO, 2012, p.14).

Resultados e Discussão
A revisão bibliográfica pôde contar com a descrição de alguns estudos que deram ênfase
na abordagem do esporte escolar e, consequentemente, o handebol nas aulas de Educação Física
e também como o professor tem mediado esta modalidade em seus diversos contextos.
Barbosa (2013), em seu estudo sobre a o ensino do handebol na escola, na formação de
cidadãos para a vida e para a prática esportiva, investigou a atuação do professor e seu papel
diante das possibilidades do esporte na escola. Os resultados mais relevantes da pesquisa citada
acima apontam que mesmo o handebol não sendo a preferência dos alunos na escola, para
66,66%, mais da metade dos professores, o handebol tem o mesmo valor que as outras
modalidades. 33,33% dos entrevistados acreditam que o handebol é importante por desenvolver
habilidades básicas e ampliar a coordenação motora. Para 16,66% dos professores
entrevistados, a importância do handebol está atrelada às noções que o handebol oferece para
escolher uma modalidade no futuro, para outros 16,66% às vivências de práticas corporais e
16,66% ao desenvolvimento do respeito e do espírito de cooperação.
Sobre o conhecimento do handebol na escola e no rendimento, Joaquim (2011) descreve
que no âmbito escolar se tem outro objetivo, diferente do rendimento, ou seja, na escola
formam-se alunos que precisam ter o conhecimento da disciplina educação física que tem seus
conteúdos básicos que são ginásticas, dança, lutas, capoeira, esportes e brincadeiras e jogos.
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Pode-se dizer que o aluno, na escola, adquire de forma positiva diferentes valores, como
respeito pelo coletivo e a disciplina dentro do contexto escolar e também na sociedade,
viabilizado pelo esporte. Existem ainda algumas discussões sobre a competição que já está
intrínseca no ser humano, desde que ele nasce.
Tani et al (2013) dizem que a contribuição da escola para o desenvolvimento do esporte
de alto rendimento é apenas indireta, no sentido de que, se ela cumprir bem o seu papel
educacional, amplia-se o número de praticantes sensibilizados pelos seus valores intrínsecos.
Consequentemente, crescem as possibilidades de aumentar o contingente de pessoas com
potencial para participar do esporte de alto rendimento. O desenvolvimento desse potencial
deve ocorrer em instituições especificamente constituídas para esse fim.
Silva et al (2009) relatam em seu estudo sobre a Educação Física nas séries
fundamentais, que o esporte tradicional pode trazer limitações e poucas possiblidades em
relação às experiências corporais para uma criança no período escolar. Descrevem também que
o esporte encontra-se carregado de princípios de esporte de rendimento, com classificação
discriminatória privilegiando os melhores alunos. Frente a esses problemas, a classe docente,
além de estar atenta à necessidade de ampliação das vivências corporais, deve refletir também
sobre os valores que estão sendo trabalhados.
A realização da prática de handebol nas aulas de Educação Física promove uma
mudança no comportamento e postura dos alunos, desenvolvendo o lado social, motor,
psicológico e afetivo, além de contribuir para a forma física e mental trabalhando habilidades
como: velocidade, agilidade, coordenação motora e o raciocínio (SILVA et al, 2014).
Essas diferentes manifestações corporais, são, em primeiro lugar, culturais, posto que
tudo que é realizado e produzido pelo ser humano é cultural; assim, as aulas de Educação Física
escolar devem privilegiar as práticas corporais e a cultura dos alunos, uma vez que “os
movimentos corporais que os alunos possuem extrapolam a influência da escola, são culturais
e têm significados” (DAOLIO, 2006, p. 32, apud MONTEIRO, 2011, p.03).
A pesquisa de Pires et al. (2016) sobre o esporte na escola e da escola nas aulas de
Educação Física realizada com vinte e cinco professores revelou que o esporte ainda vem sendo
desenvolvido sob uma perspectiva muito tecnicista, com as atenções voltadas ao ensino do
esporte em si, tornando-o objetivo final das aulas e não o meio para um ensino aprendizagem
significativo, apresentando a necessidade de atualização constante por meio de uma formação
continuada dos professores de Educação Física.
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Santos et al (2006, apud MAIA, 2010) citam que no esporte da escola as regras são
flexíveis, modificáveis, a uma busca pela participação coletiva, priorizando a inclusão de todos
na atividade proposta, os jogos são criados e idealizados pelos alunos, o professor é o mediador
dos alunos, tem uma característica lúdica, não a separação por sexo, entre outras.
Já no esporte na escola são reproduzidas as regras já existentes, a uma busca pelo gesto
técnico, sempre tem que haver um campeão, existe um profissional tecnicista, as possibilidades
para o desenvolvimento da criatividade são reduzidas, há uma separação por sexo, possuindo
uma tendência a ser praticado pelos talentos esportivos.
Maia (2010), em seu estudo sobre as dimensões do esporte, evidenciou que a dimensão
social do esporte, mais trabalhada nas escolas de Pau dos Ferros/RN, é o esporte participação,
na qual nesta perspectiva é visado o prazer lúdico, a diversão, descontração, sem existir uma
discriminação podendo ser praticada por todos os alunos. Percebeu também que a dimensão do
esporte educação aproximou-se bastante da dimensão participação, na qual os objetivos destas
dimensões são bastante parecidos, onde fazendo uma junção destes, o esporte pode ser
trabalhado dentro da escola perfeitamente.
Gardner (2005, apud BARBOSA, 2013, p.30) diz que a Educação Física somente terá
seu valor como disciplina pedagógica, se estiver comprometida com a formação de todos os
educandos e não apenas com aqueles que têm o dom e a inteligência para práticas desportivas.
No entanto, a escola é uma das ferramentas mais potencializadas para a evolução da educação
e sua prática dentro da sociedade.
Marchini e Armbrust (2012) acreditam que as atividades proporcionadas nas aulas de
Educação Física influenciam diretamente na escolha de suas atividades fora do contexto
escolar. Em seu estudo, dos 60 alunos do ensino médio entrevistados 32 responderam ‘sim’
(53,3%) e 28 ‘não’ (46,7%). Percebe-se, então, a importância de um trabalho de conscientização
a respeito desses benefícios, para que os alunos relacionem, reflitam e transfiram o aprendizado,
desfrutando das manifestações corporais com autonomia em suas vidas.
Outro aspecto evidenciado nas aulas de Educação Física é a “competição”. Estudos
mostram que a competição como elemento característico do esporte tem sido objeto de muitas
controvérsias, principalmente no âmbito escolar, com especial atenção as suas possibilidades,
que podem ser positivas ou negativas.
Anton (2000, apud OLIVEIRA, 2012) nos relata que do ponto de vista pedagógico e
positivo ela deve ser usada como um meio para o crescimento individual e coletivo de todos os
envolvidos.
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Entretanto, a competição também gera comportamentos negativos, onde disposições


regulamentares criadas com objetivo de contribuir para participação das crianças num
“processo de aprendizagem social e de desenvolvimento integral, harmonioso e prazeroso”
(PAES, 2006, p. 222), são lidas e interpretadas somente com o olhar competitivo e de resultado.
Monteiro (2011) diz que “a competição não deve ser compreendida como um problema,
devendo ser extinta da escola e das aulas de Educação Física, principalmente porque isso
significaria o fim da prática esportiva na escola. O que se pretende é o uso pedagógico da
competição, um novo sentido para sua existência no âmbito escolar, permitindo que o
desempenho individual e as diferenças entre os alunos não sejam fatores que desestimulem a
participação nas aulas de Educação Física escolar”.
Nesse sentido, Darido (s/d) cita que o papel da Educação Física ultrapassa o ensinar
esporte, ginástica, dança, jogos, atividades rítmicas, expressivas e conhecimento sobre o
próprio corpo para todos, em seus fundamentos e técnicas (dimensão procedimental), mas inclui
também os seus valores subjacentes, ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas e para as
atividades corporais (dimensão atitudinal).
E, finalmente, busca garantir o direito do aluno de saber o porquê realizar este ou aquele
movimento, isto é, quais conceitos estão ligados àqueles procedimentos (dimensão conceitual).
Assim, o handebol praticado como elemento educativo no processo de aprendizagem
do aluno na escola, interfere diretamente em suas habilidades e também em suas tomadas de
decisões durante sua vida. Existe um alcance que este esporte evidencia, explorado entre as
outras demais modalidades, que é a interação das habilidades motoras com as cognitivas, para
o exercício contínuo dentro e fora da prática esportiva.

Considerações Finais
Para se trabalhar o esporte como fenômeno social na Educação Física no ambiente
escolar, percebeu-se neste estudo que o principal papel do esporte seja ele o handebol, ou não,
ainda se instrumentaliza pelo jogo de rendimento e consequentemente possibilita outros valores
que estão associados à rotina do aluno.
Caso o professor estimule essa modalidade na escola, ele permite a interação entre as
várias vertentes que o esporte tem, mas se pauta nas competições que são a grande marca do
esporte tradicional, como a exemplo do futebol, evidenciado pela mídia e por toda uma
sociedade capitalista.
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O professor de Educação Física tem um papel fundamental e cabe a ele proporcionar


todas as vivências que o esporte tem. Articular os princípios e as características do esporte
moderno, os valores, sentidos e significados de sua prática, as singularidades e semelhanças
entre as modalidades, de forma que permita ao aluno conhecer não apenas essas restritamente,
mas as correlações de seus percursos históricos, as influências econômicas, culturais, sociais,
políticas em cada uma das modalidades e em seus fundamentos de regulação ou mesmo gestos
técnicos e pensamentos e ações táticas.

REFERÊNCIAS

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