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1- Tratamentos Térmicos dos Aços

1.1 Definição e Objetivos

Tratamento térmico é o conjunto de operações de aquecimento e resfriamento a que são


submetidas as ligas metálicas, sob condições controladas de temperatura, tempo,
atmosfera e velocidade de resfriamento, com o objetivo de alterar as suas propriedades
ou conferir-Ihes características determinadas.
Um tratamento térmico é feito em três fases distintas: 1- aquecimento, 2- manutenção da
temperatura e 3- resfriamento.

As propriedades das ligas metálicas dependem, em princípio, de sua microestrutura. Os


tratamentos térmicos modificam, em maior ou menor escala, a microestrutura das ligas,
resultando, em conseqüência na alteração de suas propriedades.

Os principais objetivos dos tratamentos térmicos são os seguintes:

1. Remoção de tensões
2. Aumento ou diminuição da dureza
3. Aumento da resistência mecânica
4. Melhora de ductilidade
5. Melhora da usinabilidade
6. Melhora da resistência ao desgaste
7. Melhora das propriedades de corte
8. Melhora da resistência à corrosão
9. Melhora da resistência ao calor
10. Modificação das propriedades elétricas e magnética

A simples enumeração dos objetivos acima evidencia claramente a importância e a


necessidade do tratamento térmico dos aços. Em geral, a melhora de uma ou mais
propriedades, mediante um determinado tratamento térmico, é conseguida com prejuízo
de outras. Por exemplo, o aumento da ductibilidade provoca simultaneamente queda nos
valores da dureza e resistência à tração. É necessário, pois, que o tratamento térmico
seja escolhido e aplicado criteriosamente, para que os inconvenientes apontados sejam
reduzidos ao mínimo. Não se verifica, pela simples aplicação de um tratamento térmico,
qualquer alteração da composição química do aço.

Há casos, entretanto, em que interessa somente uma modificação parcial de certas


propriedades mecânicas; por exemplo, melhorar superficialmente a dureza do aço. Esse
efeito é conseguido pela alteração parcial da sua composição química.
Os tratamentos em que a combinação de operações de aquecimento e resfriamento é
realizada em condições tais que conduzem a uma mudança parcial da composição
química da liga e, conseqüentemente, uma modificação parcial de suas propriedades
mecânicas, serão chamados de “tratamentos termoquímicos".

1.2 Fatores de influência nos tratamentos térmicos

Antes de serem definidos e descritos os vários tratamentos térmicos, será feita uma
rápida recapitulação dos diversos fatores que devem ser levados em conta na sua
realização, são eles:

1. Aquecimento
2. Tempo de permanência à temperatura de aquecimento
3. Resfriamento
4. Atmosfera do forno

Os tratamentos térmicos usuais dos aços são: recozimento, normalização, têmpera,


revenido, coalescimento ou esferoidização, patenteamento e os tratamentos isotérmicos.
Uma definição simplificada destes tratamentos é descrita a seguir.

1.3 Recozimento

Recozimento é um Tratamento térmico que tem por finalidade eliminar a dureza de uma
peça temperada ou normalizar materiais com tensões internas resultantes do forjamento,
da laminação, da trefilação. É o tratamento térmico realizado com o fim de alcançar um
ou vários seguintes objetivos:

- Remover tensões devidas ao tratamento mecânico a frio ou a quente


- Diminuir a dureza para melhorar a usinabilidade do aço
- Alterar as propriedades mecânicas como resistência, ductilidade etc.
- Modificar os característicos elétricos e magnéticos
- Ajustar o tamanho de grão
- Regularizar a textura bruta, remover gases, produzir uma microestrutura definida,
eliminar enfim os efeitos de quaisquer tratamentos térmicos ou mecânicos a que o aço
tiver sido anteriormente submetido.

O tratamento térmico genérico do recozimento abrange os seguintes tratamentos


específicos: Recozimento total ou pleno, Recozimento isotérmico ou cíclico,
Recozimento para alívio de tensões, Recozimento em caixa.

1.4 Esferoidização

Consiste num aquecimento e resfriamento subseqüente, em condições tais a produzir


uma forma globular ou esferoidal de carboneto no aço. A esferoidização ou
coalescimento é um processo normalmente usado com aços de médio e alto teor de
carbono com o objetivo de melhorar sua usinabilidade. Nesses aços, a perlita é
envolvida por uma rede de cementita, que dificulta trabalhos de usinagem e outros
processos de fabricação.
1.5 Normalização

Consiste no aquecimento do aço a uma temperatura acima da zona crítica, seguindo de


resfriamento ao ar, fora do forno. A normalização visa refinar a granulação grosseira
de peças de aço fundido principalmente; freqüentemente, e com o mesmo objetivo, a
normalização é aplicada em peças depois de laminadas ou forjadas. A normalização é
ainda usada como tratamento preliminar à têmpera e ao revenido, justamente para
produzir estrutura mais uniforme do que a obtida por laminação.

1.6 Patenteamento
Tratamento térmico de arames e tiras, empregado em aços de médio e alto carbono. Neste
tratamento ocorre aquecimento acima da zona crítica e resfriamento ao ar, ou em banho de sal
ou chumbo, com a finalidade de obter-se uma microestrutura adequada às deformações
subseqüentes. Exemplo de material patenteado e encruado: “fio de música” ou “corda de
piano”.

1.7 Têmpera

Em muitos aços é necessário conferir dureza na superfície ou parte dela ou mesmo em


toda a peça. Dentes de engrenagem, engate de veículos, partes do amortecedor do carro
e as brocas devem ser fabricadas com aço endurecido para suportarem esforços a que
são submetidos. A têmpera é um dos tratamentos térmicos destinados à obtenção de
dureza nos aços. Uma têmpera feita corretamente possibilita vida longa à ferramenta,
que não se desgasta nem se deforma rapidamente.
A têmpera consiste no resfriamento rápido do aço de uma temperatura superior à sua
temperatura crítica em um meio como óleo, água, salmoura ou mesmo ar. A velocidade
de resfriamento, nessas condições, dependerá do tipo de aço, da forma e das dimensões
das peças. Como na têmpera o constituinte final desejado é a martensita o objetivo
dessa operação, sob o ponto de vista de propriedades mecânicas, é o aumento da
dureza que deve verificar-se até uma determinada profundidade. Resultam também da
têmpera a redução da ductilidade, da tenacidade e o aparecimento de apreciáveis tensões
internas. Tais inconvenientes são atenuados ou eliminados pelo revenido.

A forma do resfriamento é o que distingue esse tipo de tratamento. No resfriamento


rápido em água a peça é retirada do forno e mergulhada apenas em água. A
temperatura cai de 850 °C para 20 °C se for à temperatura ambiente, em poucos
segundos. Trata-se de um resfriamento brusco que produz a martensita. Os
resfriamentos menos bruscos são os realizados em óleo queimado, ou óleos especiais
(óleo para têmpera) emulsionáveis em água produzidos por fabricantes de óleo. As
peças temperadas possuem consideráveis aumentos de sua dureza, da resistência do
desgaste e da resistência a tração, porém, sofrem uma apreciável diminuição na
ductilidade. Esse problema pode ser corrigido posteriormente pelo revenimento.

1.7.1 Têmpera Superficial

O endurecimento superficial dos aços, em grande número de aplicações de peças de


máquinas, é, freqüentemente, mais conveniente que seu endurecimento total pela
têmpera normal, visto que, nessas aplicações objetiva-se apenas a criação de uma
superfície dura e de grande resistência ao desgaste e à abrasão.
A têmpera superficial consiste em produzir-se uma têmpera localizada apenas na
superfície das peças de aço, que assim adquirirá as propriedades e característicos típicos
da estrutura martensítica. Vários são os motivos que determinam a preferência do
endurecimento superficial em relação ao endurecimento total:

• Dificuldade, sob os pontos de vista prático e econômico, de tratar-se de peças de


grandes dimensões nos fornos de tratamento térmico convencional;
• Possibilidade de endurecer-se apenas nas áreas críticas de determinadas peças,
como por exemplo, dentes de grandes engrenagens, guias de máquinas
operatrizes, grandes cilindros, etc; e vários outros motivos.

Por outro lado, as propriedades resultantes da têmpera superficial são:

• Superfícies de alta dureza e resistência ao desgaste;


• Boa resistência à fadiga por dobramento,
• Boa capacidade para resistir cargas de contato;
• Resistência satisfatória ao empenamento.

Os processos usuais de têmpera são:

1.7.1.1 Têmpera por chama

Neste processo aquece-se rapidamente, acima da temperatura crítica, a superfície a ser


endurecida, por intermédio de uma chama de oxiacetileno, seguindo-se um jato de água,
em forma de borrifo, de modo a produzir uma camada endurecida até a profundidade
desejada.

1.7.1.2 Têmpera por indução:

O calor para aquecer uma peça pode ser gerado na própria peça por indução
eletromagnética. Assim se uma corrente alternada flui através de um indutor ou bobina
de trabalho, estabelece-se nesta um campo eletromagnético altamente concentrado, o
qual induz um potencial elétrico na peça a ser aquecida envolvida pela bobina e, como a
peça representa um circuito fechado, a voltagem induzida provoca o fluxo de corrente.
O modelo de aquecimento obtido por indução depende da forma da bobina de indução
que produz o campo magnético, do número de voltas da bobinas, da freqüência de
operação e da forma elétrica da corrente alternada.

Outros métodos de têmpera superficial: raios laser, raios eletrônicos e aquecimento por
resistência de alta freqüência.
1.8 Revenido

O revenido é o tratamento térmico que normalmente sempre acompanha a têmpera,


pois elimina a maioria dos inconvenientes produzidos por esta; além de aliviar o
remover as tensões internas, corrige as excessivas dureza e fragilidade do material,
aumentando sua ductibilidade e resistência ao choque.

2 - Tratamentos Termoquímicos dos Aços


Tratamento termoquímico é o conjunto de operações de aquecimento e resfriamento a
que são submetidas as ligas metálicas que sofrem ações químicas na sua estrutura, sob
condições controladas de temperatura, tempo, atmosfera e velocidade de resfriamento,
com o objetivo de alterar as suas propriedades ou conferir-Ihes características
determinadas. Estes tratamentos visam o endurecimento superficial dos aços, pela
modificação parcial da sua composição química e aplicação simultânea de um
tratamento térmico.
Os tratamentos termoquímicos são também conhecidos como tratamentos de
endurecimento superficial (que é sua principal finalidade). A modificação da
composição química se dá por difusão termoquímica de elementos na superfície do
aço como: carbono, nitrogênio e boro, entre outros. Pode ser usado também pra
adquirir propriedades como resistência à fadiga, à corrosão e à oxidação em altas
temperaturas.

2.1 Cementação

A cementação é um tratamento que consiste em aumentar a porcentagem de carbono


numa fina camada externa da peça. A cementação é feita aquecendo-se a peça de aço de
baixo teor de carbono, junto com um material rico em carbono (carburante). Quando a
peça atinge alta temperatura (750ºC a 1.000ºC) passa a absorver parte do carbono do
carburante. Quanto mais tempo a peça permanecer aquecida com o carburante, mais
espessa se tornará a camada. A cementação pode ser feita por via: Sólida, Gasosa ou
Líquida.
Cementação Líquida: Neste processo, as peças são mantidas submersas em um banho
de sal fundido a base de cianeto e cloreto de Na, Ba e K.
Cementação Gasosa: Neste processo, o responsável pela oferta de carbono é um gás.
Normalmente, um gás endotérmico enriquecido com propano.
Cementação Sólida: Neste processo, as peças são colocadas em caixas de aço contendo
carvão.

Fases da cementação

1ª Fase: Aquecimento

- Cementação em caixa: As peças são colocadas em caixas juntamente com o


carburante, fechadas hermeticamente e aquecidas até a temperatura recomendada. Os
carburantes podem ser sólidos, (grãos ou pós), líquidos ou gasosos

- Cementação em banho: As peças são mergulhadas no carburante líquido aquecido,


através de cestas ou ganchos.

2ª Fase: Manutenção da temperatura – O tempo de duração desta fase varia de


acordo com a espessura da camada que se deseja e da qualidade do carburante utilizado.

3ª Fase: Resfriamento – A peça é esfriada lentamente dentro da própria caixa. Após a


cementação as peças são temperadas.
2.2 Nitretação

Tratamento termoquímico de endurecimento superficial, baseado na introdução de


nitrogênio em sua superfície. O processo se realiza, expondo a peça em uma atmosfera
do forno rica em nitrogênio. A nitretação aumenta a resistência ao desgaste, resistência
à fadiga, resistência à corrosão e a dureza superficial.

Vantagens:
- A temperatura de tratamento é inferior à da cementação;
- As peças apresentam-se nas dimensões e acabamento finais.
Desvantagens:
- O tempo de permanência é grande;
- A espessura da camada nitretada é muito pequena.

2.3 Carbonitretação

Tratamento termoquímico, em que se promove o enriquecimento superficial simultâneo


com carbono e nitrogênio.
Carbonitretação é uma forma modificada de cementação e nitretação que consiste na
introdução de amônia na atmosfera gasosa. O nitrogênio contido na amônia difunde na
superfície da peça, simultaneamente com o carbono e abaixa a velocidade critica do
resfriamento. A carbonitretação é feita com temperatura mais baixa e tempo mais curto
do que a cementação.

2.4 Boretação

O boro se difunde na superfície do material tratado, formando boreto de ferro. Pode-se


tratar qualquer tipo de aço. As peças são colocadas em uma caixa de aço contendo
granulado de boro. A temperatura varia de 800 a 1050 ºC. O objetivo da boretação é
aumentar a dureza superficial em torno de 1800 a 2000 HV, melhorar a resistência ao
desgaste e corrosão de ácidos.

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