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Francine Veríssimo Walsh

VOCÊ no
Ministério
Infantil
“Um livro sobre ministério infantil repleto de sabedoria, informação e carinho,
como tudo que a autora faz. Acredito que ele seja indispensável para pessoas que
querem trabalhar ou já trabalham com crianças dentro e fora de suas igrejas. Ten-
ho certeza que se todos nós o lêssemos, nossas Escolas Bíblicas Dominicais seriam
muito melhores, com professores mais capacitados e um desenvolvimento de aula
mais claro.” Rita Carolina, do canal Geolê

“’VOCÊ no Ministério Infantil’ é imprescindível para quem quer trabalhar de for-


ma intencional com as crianças de sua igreja. Nesse eBook você encontrará respos-
tas para seus anseios de como ensinar, onde ensinar, o que fazer quando um aluno é
indisciplinado e até mesmo como lidar com alunos com Necessidades Específicas.
É um eBook simples, prático e completo.” Raissa Lucena, do canal Evangelho em
Questão

“Eu só tenho a agradecer a Deus por este eBook simples e objetivo que vejo como
uma resposta às minhas orações. Recomendo ‘VOCÊ no Ministério Infantil’ a
todos, por nos ajudar a retirar nossas lentes do medo, da preguiça e até mesmo da
autossuficiência.” Tássia Fernandes

“O que encontrei nesse eBook foram muitos ensinamentos que extrapolaram os


limites do assunto abordado e foram como flechas certeiras a um coração aflito, an-
sioso, egocêntrico, altivo, confuso. A linguagem é simples e envolvente - dá vonta-
de de ler tudo de uma vez e várias vezes!” Rebeca Guimarães

“Um eBook que pode e deve ser usado não somente nas aulas no Ministério In-
fantil, como também na vida cotidiana. ‘VOCÊ no Ministério Infantil’ poderá ser
usado por mamães e papais que desejam realizar culto familiar dentro da sua casa e
muitas vezes não sabem como explicar a Palavra de Deus para seus filhos.” Cinthia
de Morais 

“Motivador e reflexivo ao mesmo tempo. É sempre bom nos lembrarmos que é o


Senhor quem age através da nossa incapacidade e, como Francine diz, isso ‘tira o
peso que colocamos em nossos ombros’. Essa é a premissa de toda e qualquer pessoa
que deseja servir a Deus, seja no Ministério Infantil ou em qualquer outra área.”
Vitória Baptista

“Se você ainda não sabe se o Ministério Infantil é o seu lugar, ou se já sabe mas ain-
da não descobriu por onde começar, este eBook é para você!” Vanessa Moura
VOCÊ no
Ministério
Infantil
Um eBook para todo crente em Cristo que deseja servir

Francine Veríssimo Walsh


gracaemflor.com

Esse eBook é uma cortesia do Ministério Graça em Flor.


É proibida a cópia total ou parcial de seu conteúdo, sem autorização dos autores.
2017 © Todos os direitos reservados.
Dedicado a Érica Barros, “dona Érica”,
que não só acreditou no meu potencial
como foi uma professora excelente,
acendendo em mim a vontade
de ser o mesmo.
SUMÁRIO

Introdução ..............................................................................................................................6
1. Eu? No Ministério Infantil? .........................................................................................11
2. Por que ensinar os pequeninos? ...................................................................................15
3. Como ensinar os pequeninos? .....................................................................................23
4. Como montar as lições ..................................................................................................28
5. As faixas etárias ...............................................................................................................34
6. A responsabilidade do professor em ser um exemplo ..............................................54
7. Conhecendo suas ovelhas .............................................................................................58
8. Por amor e em amor - sobre a disciplina ....................................................................63
9. Incluindo todos - ensinando crianças com necessidades específicas ....................71
Conclusão .............................................................................................................................77
Sobre a autora e Agradecimentos......................................................................................78

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Introdução
“Fran, vem cá, temos que conversar sobre sua situação no cultinho...”

Eu tinha 12 anos quando a esposa do pastor da minha igreja me chamou para


conversar. Aparentemente eu era a única exceção à faixa etária do “cultinho” (como
nós chamávamos o culto para crianças), que só aceitava crianças de até 10 anos.
Mas, já por dois eu burlava o sistema.

Eu não conseguia evitar: sempre que o pastor chamava as crianças para irem ao
fundo da igreja, eu escapava e passava junto com as menores. O que eu podia fazer?
Amava o cultinho! Amava as músicas, as crianças, as brincadeiras, o lanchinho
e, principalmente, amava as histórias sobre Jesus, e também sobre as vidas de
missionárias, que a professora contava. Eu me via em Amy Charmichael, em Corrie
ten Boom, em Fanny Crosby… Eu queria ser como elas, elas eram minhas heroínas!

Mas, minha alegria acabaria ali. Eu sentia que naquela conversa a esposa do pastor
me daria o ultimato: você já está grande demais para o cultinho.

“Então, Fran... Nós sabemos o quanto você ama estar aqui, e não queremos que você
saia”, ela disse, “temos uma ideia então... Que tal se, ao invés de vir como participante,
você começasse a trabalhar como ajudante da professora? Você pode ajudar a olhar os
mais novos.”

Meu coração pulou e minha alegria transbordou! Será que seria verdade? Agora eu
não só participaria do cultinho, eu seria parte dele? Eu seria uma professora? Eu,
uma pré-adolescente, me envolvendo em um ministério tão importante?

Ainda dou graças a Deus pela sensibilidade daquela querida professora, esposa do
meu pastor. Ela viu em mim não uma criança mimada que não queria participar
do culto normal, mas uma criança que amava crianças, e acendeu em mim um fogo
que nunca mais apagou.

Foi dessa maneira que começou minha jornada de amar crianças, amar servi-las
e amar fazer isso principalmente no contexto da igreja, onde eu tinha liberdade
de ensiná-las sobre Jesus e o quão maravilhoso Ele é. Já são mais de dez anos de
caminhada, e o que começou como uma quase que brincadeira hoje virou minha
profissão - me formei em Pedagogia em 2013, e Psicopedagogia Institucional em

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2015.

E é aqui que esse eBook entra: nesse meu processo de me tornar professora, eu
tive medo de não estar cumprindo bem o meu propósito, ainda que amasse esse
ministério. Os obstáculos foram muitos - houve dificuldades com crianças que
choravam sem parar; receio de ser muito jovem para ensinar; medo de prejudicar o
aprendizado de algum pequeno; e até mesmo preguiça, vez ou outra, de continuar.

Eu não sei como esse eBook vai te encontrar. Talvez, assim como eu estive, você
está servindo no ministério infantil com medo. Ou talvez tem servido, mas sem
muita vontade, sem muita paixão. Ou possivelmente participar desse ministério
seja algo que nunca tenha passado por sua cabeça.

O que eu sei é que se você está com esse conteúdo em mãos é porque algo te
despertou, te moveu em direção a ele, e me alegro por essa disposição em seu
coração.

Se o título desse eBook te fez pensar “Eu? Será?”, eu peço que você ore e clame
ao Senhor por um coração aberto, disposto a se colocar em qualquer ministério
e serviço que precise de você. E se o que te fez buscar esse eBook foi a vontade
de aprimorar a forma como tem servido no ministério infantil, eu peço que você
ore e clame ao Senhor por uma disposição firme de servi-lO com excelência nesse
trabalho tão precioso.

O ministério infantil não precisa ser um bicho-de-sete-cabeças. Não precisa ser


algo que você queira evitar a qualquer custo. Pelo contrário, pode ser algo feito
com alegria e excelência. Mas, é preciso uma disposição, uma vontade de servir e
saber que, seja qual for o trabalho, o Senhor é quem recompensa, o Senhor é quem
reconhece teus esforços. Não há nada de luxuoso nesse ministério, e se é isso que
você busca eu preciso ser sincera em te dizer que não vai encontrar em fraldas sujas,
narizes escorrendo e num levanta-e-agacha constante. Nós não temos holofotes
nem aplausos.

Mas, talvez seja isso que faça desse ministério algo tão especial. Na maioria das
vezes ninguém verá seus esforços, sua consistência, sua dedicação. Ninguém a não
ser o Senhor. E então seu trabalho feito em secreto terá uma recompensa secreta,
só sua, entre você e Ele. E sinceramente? É assim que aprendemos o verdadeiro
sentido de serviço - no cansaço sem medalhas.

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Esse eBook é, portanto, um trabalho de mão dupla. O seu papel é estar disposto,
ainda que despreparado, para arregaçar as mangas e servir, sem esperar nada em
troca a não ser recompensas espirituais. O meu é te dar ferramentas para cumprir
isso. E eu entendo o quão grande é a minha responsabilidade em me colocar como
alguém capaz de “formar” pessoas para o serviço, e mesmo sabendo de minhas
limitações, eu descanso no fato de que o Senhor pode falar através de mim ou
apesar de mim (Ele falou até através de uma jumenta, né?). Eu quero ser alguém
que não pegou seu talento e o enterrou na areia. Eu quero me colocar aqui para
dizer: eis o pouco que eu sei, espero que te ajude.

Muitas pessoas que se colocam no ministério infantil também pensam assim - elas
sabem de suas limitações. Muitas delas não têm muita experiência, muitas não
entendem de criança, de ensino. Algumas têm filhos, trazem esse conhecimento
prévio, mas outras nem isso. E aí o que acontece é que conforme o tempo passa e as
dificuldades surgem, essas pessoas se cansam, se estafam e acabam desistindo.

Eu não as culpo. Esse é um ministério cansativo e quando reconhecemos nossas


limitações, chega a ser assustador.

Mas é aqui que o “VOCÊ no Ministério Infantil” entra. Eu acredito em você e


na sua capacidade e paixão de servir. E eu quero te ajudar, te acompanhar e te
encorajar enquanto você constrói um ministério infantil na sua igreja que floresce
ao educar os pequenos no caminho da Verdade.

Eu quero poder pegar seus braços cansados, colocar sobre meus ombros e dizer
“vamos juntos”.

Seja qual for sua situação, de alguém que está prestes a entrar nessa aventura, ou
de alguém que está querendo desistir dela, me dê a mão e vamos juntos. Vamos
acreditar que, na força do braço do Pai, a gente consegue. Porque se essas crianças
são dEle, você é dEle e a Igreja é dEle, então é Ele quem fará a obra. Nós somos
apenas os canos enferrujados pelos quais Ele passará a Água da Vida.

Ciência x Bíblia
Eu quero poder, desde o começo da sua leitura, te dizer meu posicionamento
quanto à teoria colocada nesse eBook. Durante meus anos de formação na
área da Educação, tanto na graduação quanto na especialização, eu tive que ler
muita literatura voltada ao aprender, às crianças e ao desenvolvimento infantil.

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Eu li muito sobre como elas pensam, como aprendem, como se desenvolvem...
Li também sobre por que choram, quando choram, por que desobedecem, e
sobre como lidar com essa desobediência. Tudo isso vindo de teóricos da área
pedagógica.

Mas, eu sei - e creio de todo o meu coração - que nenhuma dessas teorias abrange
toda a realidade de quem são as crianças e de como elas funcionam. Só existe um
livro que, de fato, consegue ser totalmente certeiro, e esse é a Bíblia. E eu digo isso
por uma lógica simples: quem melhor do que Steve Jobs para te explicar como
funciona um MacBook?

Ninguém pode explicar a mim ou a você sobre como as crianças funcionam


melhor do que Aquele que as criou. E Ele faz isso, falando sobre elas em Sua
Palavra. E não só isso, Ele fala sobre como ensiná-las. Ele até mesmo explica porque
elas choram e fazem manha e são, por vezes, difíceis.

Como eu poderia, então, riscar a Verdade absoluta e substituí-la com verdades


humanas? Não o farei. Esse eBook trará muito do meu conhecimento pedagógico
que cultivei durante os anos estudando a área, mas em nenhum momento esse
conhecimento científico substituirá o conhecimento bíblico, ou se colocará sobre
ele. Por acreditar na graça comum, creio que Deus dá sabedoria aos homens para
descobrirem coisas através da ciência. Acredito que muito do que aprendi nos
livros pedagógicos e psicológicos é válido por ser conhecimento que simplesmente
explica seres criados por um Deus incrivelmente criativo. Mas, se em algum
momento, enquanto escrevia, eu tive dúvidas acerca de algum conceito, eu me
voltei à Palavra e não às ciências falíveis. Esse é, acima de tudo, um eBook sobre
preceitos bíblicos para ser usado em um ministério da igreja, com ovelhinhas do
Bom Pastor.

Te encorajo a fazer o mesmo: se em algum momento de seu serviço no ministério


infantil você se deparar com uma situação com a qual não saiba lidar, que te
angustia e aflige, não corra para livros ou vídeos ou artigos como primeira
opção. Corra sempre primeiramente para a Palavra. Deus prometeu que, se nós
pedíssemos por sabedoria, Ele nos daria livremente e de boa vontade (cf. Tiago
1:5). Esse pequeno e humilde eBook jamais substituirá a melhor fonte de todas
sobre a infância (e sobre qualquer outro assunto, na verdade) - a Bíblia.

Para quem é esse eBook?

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Minha oração é que esse pequeno e rápido eBook possa alcançar você, que um dia
começou nesse ministério cheio de vigor, mas foi, pouco a pouco, cansando. Quero
também alcançar você, que já considerou começar nesse serviço, mas desistiu por
medo de não ser capaz. E por fim, quero trocar ideias com você, que talvez está
nesse ministério há mais anos do que eu tenho de vida. A vida cristã é isso: um
ajudando o outro a crescer, um levantando o outro que caiu. Afinal de contas, “É
melhor ter companhia do que estar sozinho, porque maior é a recompensa do trabalho
de duas pessoas. Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a levantar-se.” (Eclesiastes 4:9,10)

Vamos ajudar os cansados a levantarem-se e recomeçarem! Vamos ajudar os que


estão começando a persistir! E vamos ajudar os que já estão servindo há muito
tempo a renovarem seu fôlego!

Enquanto você se junta a mim nessa intenção de mostrar Jesus e o amor dEle às
crianças, junte-se também a mim em oração, e peça que Jesus nos esclareça a mente
e nos dê de Sua graça para que consigamos servir aos pequenos da maneira que Ele
quer que façamos: intencionalmente e com dedicação.

Vamos?

“De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, (...) se é
ensinar, que haja dedicação ao ensino.” Romanos 12:6,7 (ACF)

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Capítulo 1

Eu? No Ministério Infantil?


Imagine a cena: eu, abaixada no chão, um joelho para cima e outro tentando
equilibrar o peso do meu corpo todo. No joelho que está para cima senta uma
criança de 3 anos que chora de saudade da mãe, o nariz escorrendo e o olho
vermelho. No meu outro braço um pequeno de 4 anos me abraça e chora porque
um colega bateu nele. Com o canto do olho eu consigo ver um terceiro que corre
atrás de um amiguinho, que grita para ele parar. Enquanto isso, recebo uma quinta
criança, que já chora só de pensar que tem que dizer adeus à mãe. Por fim, uma
sexta criança chega pulando, segurando as calças e implorando para que eu a ajude
a ir ao banheiro, pois está muito apertada.

E tudo isso nos primeiros cinco minutos da aula.



Eu compreendo porque, possivelmente, a pergunta título desse capítulo seja sua
resposta automática quando alguém resolve te oferecer um cargo no ministério
infantil. Eu? Cercado de crianças pulando e gritando e dando trabalho? Não,
obrigado.

Não te culpo. Eu acredito sinceramente que Deus nos deu dons diferentes
justamente porque Ele nos criou como pessoas individuais e únicas, com vontades
e aspirações diferentes. Pode ser que você simplesmente não goste muito da ideia
de trabalhar com crianças, e esse realmente não seja seu chamado.

Uma amiga minha certa vez escreveu um texto justamente sobre isso, sobre
não sermos obrigados a servir em ministérios para os quais não nos sentimos
vocacionados, nos quais não nos sentimos bem. A igreja é composta de várias
áreas e com certeza é possível que você encontre muitas nas quais pode ser útil: no
coral, no louvor, no acolhimento, nos jovens, nos acampamentos, nas mídias, entre
outros.

Entretanto, posso te pedir um favor? Já que você baixou esse eBook e se dispôs a
tentar lê-lo, gostaria que você também se permitisse abrir o coração e pensar que,
por vezes, teremos que nos envolver em lugares onde não estamos exatamente
confortáveis. Talvez sua igreja seja pequena e precise que você se envolva em mais

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de um ministério, possivelmente até naqueles que não te atraiam tanto. Ou pode
ser que o Senhor queira te ensinar sobre fazer coisas difíceis, desafiadoras, e por
isso você precise ponderar mais sobre servir em um ministério que não seria sua
primeira opção natural.

Deixa eu te dar meu exemplo: se tem algo que me assusta é a possibilidade de servir
em algum ministério que me obrigue a conversar com estranhos ou fazer algo em
frente a um grande público. Eu sempre fui muito envergonhada, especialmente
quando me pedem para cantar em público - minhas pernas tremem, minha voz
não sai e eu passo a maior vergonha! Entretanto, em 2015, eu fui convidada a
participar de um ministério em minha igreja local na época, chamado Juventude
Acolhedora. Basicamente o que fazíamos era convidar os visitantes da igreja a se
reunirem após o culto de domingo à noite em nosso salão social, com o intuito de
estarmos com eles, conversando, os conhecendo e acolhendo. Para mim foi um
desafio e tanto dizer sim! Eu, que morro de medo de conversar com gente nova.
Eu, que prefiro mil vezes somente ir ao culto e ir embora rapidinho, sem ter que
falar com ninguém. Eu, a introvertida.

Foi aí que eu senti como se o Senhor estivesse dizendo “Francine, é exatamente aí


que eu te quero: no lugar que você mais tem medo, assim você aprenderá a depender
de mim totalmente”.

Eu sei que pode ser difícil dizer sim para um ministério tão fora da sua zona de
conforto. Mas, eu quero que você creia no seguinte: você, sozinho, não é capaz
de nada. Posso repetir, dizendo isso com todo amor que sinto por você? Você,
sozinho, não é capaz de nada. De nada mesmo. Se você se considera um bom
cantor, saiba que sem Deus você não canta nada. Se pensa ser um bom pregador,
saiba que longe de Cristo suas palavras são vazias.

E ao mesmo tempo que isso é assustador é também maravilhoso demais! Eu não


sou nada. Eu não posso nada. E isso tira todo o peso que eu colocava em meus
ombros! É por Cristo, em Cristo, com Cristo que servimos no ministério infantil.
Pela capacidade dEle. E na capacidade dEle você pode qualquer coisa.

Sabe o que foi mais interessante em dizer “sim” para aquilo que eu não queria e não
me sentia vocacionada, ali na minha igreja? É que depois eu acabei amando servir
naquela área! Eu me sentia bem e me sentia à vontade, justamente porque estava
servindo e aprendendo a crescer. Justamente porque o fiz na força de Cristo, e Ele
foi fiel em agir através de mim.

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Era uma situação comum em minha vida eu olhar para mim mesma e me sentir
imatura, incapaz e inútil. Todo mundo parecia mais talentoso, mais capaz. E todo
dia eu pedia ao Senhor que me ajudasse a crescer, a ser menos imatura, menos
egoísta. E sabe o que descobri? Que crescer envolve muito desconforto, muitos
desafios e muito “fazer o que eu não quero”. Talvez você evite o ministério infantil
por se sentir incapaz. Mas, Deus te quer justamente ali para te moldar, te quebrar,
te refazer, até que você seja capaz - na força dEle.

Eu não sei qual a sua situação. Mas, posso te pedir uma coisa? Ore. Ore e peça
ao Senhor direcionamento e clareza sobre onde você pode servir, onde pode ser
mãos e pés dEle nessa Terra. E mais do que isso, peça que Ele te desperte para o
desconfortável, para o sacrifício, para o serviço difícil. E esteja pronto para receber
isso! Peça por ombros mais fortes e saiba que Ele te dará mais peso.

Talvez você nunca se envolveu com o ministério infantil simplesmente porque tem
medo de não dar conta, medo de não ser suficientemente capaz. Eu peço que você
dê uma chance a esse eBook, leia com atenção, e tente, aos poucos, compreender
se servir aos pequenos da sua igreja pode ser uma opção para você. Não é nenhum
contrato. Seja qual for sua situação atual em relação ao ministério infantil, ao final
do eBook ainda será sua escolha, sua em parceria com o Pai.

Eu não prometo te dar respostas. Mas, eu prometo que acredito em você. Não
porque eu ache que você seja capaz, mas porque eu creio, com todo o meu coração,
que Cristo é capaz. Por isso, eu vou tentar ao máximo, com as capacidades que
o Senhor me deu, mostrar para você como o caminho para servir no ministério
infantil pode ser mais fácil se nós simplesmente compreendermos alguns conceitos,
aprendermos com algumas dicas, e acreditarmos mais na capacidade de Cristo e
menos na nossa.

O cerne, a essência desse eBook é essa: Jesus é capaz, você não é, eu não sou. Eu
quero te desafiar a ver o precipício, ver a sua incapacidade, e pular sem medo,
sabendo que Ele é forte o suficiente para te segurar. Ele pode te dar força e
capacidade além do que você jamais imaginou. Deus quer servos que se dispõem
a servir. Imagina o que Ele pode fazer com pequenos e simples servos que clamam
“Senhor, eis-me aqui. Eu não sei nada de crianças, eu não consigo ensiná-las, mas
estou aqui. Creio no Teu poder na minha fraqueza. Me usa. Me usa. Me usa. No
poder do nome de Jesus eu peço.”

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Meu coração quase salta do peito de pensar em muitos orando essas palavras. QUE
REVOLUÇÃO O SENHOR PODE FAZER! E sabe, minha proposta não é te
dar lições prontas ou um bê-a-bá de como dar as aulas. Não vou te dar tudo o que
precisa - você ainda vai precisar da sabedoria dos outros professores da sua igreja,
das pessoas mais velhas que estão nesse serviço há mais tempo, e de livros muito
mais completos que esse. Mas eu espero e oro que ao final dessa leitura você esteja
ciente do poder de Cristo em te fazer útil. E que, na prática, esteja capacitado a
pensar nas suas próprias aulas, ter mais direcionamento sobre como agir e sobre
como ensinar, caso sua escolha seja servir nesse ministério, realmente.

Então, abra seu coração, sente, relaxe, leia, ore e depois decida.

E posso te contar um segredo? Aquele cenário lá do começo do capítulo é
realmente assustador! Quando acontece eu acho que vou explodir, ou que vou
sentar e chorar. Imagina que lindo: as crianças chorando e a professora também.
Mas, por mais exaustivo que seja às vezes, basta um sorriso sincero, um abraço
apertado, um beijinho gostoso... Basta ver que os pequenos estão entendendo
sobre Cristo... E tudo parece fazer sentido: todo serviço, todo planejamento, todo
esforço. E então a gente enche o coração de coragem, arregaça as mangas e vai para
mais um dia de serviço, sabendo que fazemos para Ele, com amor.

“Servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens. Sabendo que cada
um receberá do Senhor todo o bem que fizer.” (Efésios 6:7,8)

Na prática

Peça ao pastor de sua igreja, ou ao líder do ministério infantil, se você pode passar
alguns dias apenas observando o trabalho deles. Diga que está lendo um eBook
sobre esse ministério e que gostaria de ter uma ideia de como ele funciona. Vale
sentar no cantinho da sala e só observar, mesmo. Vale tentar ajudar também.
Conforme funcionar melhor para vocês. Esse exercício, ainda que feito em apenas
um dia, pode abrir seus olhos para como esse ministério funciona em sua igreja e
como um todo. Talvez você descubra a alegria que existe junto aos pequenos!

Quando fizer isso, ore muito antes e peça que Deus abra seus olhos para ver essas
crianças como Ele vê - como pequenas almas que precisam dEle hoje.

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Capítulo 2

Por que ensinar os pequeninos?


Eu tenho um pedido: feche os olhos por alguns segundos e pense em um grupo de
pessoas.

Pronto? Promete que fez?1

Muito bem, deixa eu te perguntar uma coisa agora: nesse grupo de pessoas que
você pensou... Tinha alguma criança? Bom, pode ser que tinha, afinal de contas
você está lendo um eBook sobre crianças, e talvez seu subconsciente tenha te
ajudado. Mas, a verdade é que, em um contexto aleatório, nós provavelmente não
incluiríamos crianças em nosso pensamento. Por quê?

De acordo com Larry Fowler, autor do livro “Crianças Firmadas na Rocha”, nós
não incluímos crianças em nosso pensamento porque não as vemos como pessoas.
Elas estão simplesmente na categoria de, bem, crianças. É como se isso as encaixasse
em uma categoria completamente independente e separada.

Quando vemos o texto de Marcos 10 percebemos o quanto Jesus valorizava as


crianças. Quando os discípulos as rejeitaram e as viram como empecilhos, Jesus as
viu como preciosas e importantes. Ele abriu Seus braços para elas, e não só fez isso,
como nos ordenou que fôssemos mais como elas.

E nós, como temos visto as crianças de nossas igrejas?

Algumas igrejas compreendem que o ministério infantil serve somente como um


“depósito” de crianças, ou seja, é uma salinha no fundo da igreja onde colocam
todas as crianças assistindo a algum filme ou brincando de alguma coisa enquanto
os pais ficam no templo, assistindo ao culto sem perturbações e distrações. Essa
visão nos mostra nossa própria falta de compreensão daquilo que o Senhor
Jesus deixou bem claro: crianças não são empecilhos. Crianças são bênçãos, são
exemplos, e precisam ser vistas e tratadas como tal.

Por outro lado, algumas igrejas enxergam as crianças somente como o futuro da
1 Ideia original do livro “Crianças Firmadas na Rocha: Fornecendo às crianças uma base bíblica para
a vida”, de Larry Fowler (Editora Batista Regular).

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igreja, os futuros membros. E, de certa forma, isso é verdade. Entretanto, o perigo
com essa definição é que parecemos nos esquecer de que elas já são alguém, hoje
e agora. Não podemos reduzir nossa visão dos pequeninos ao que queremos que
eles sejam amanhã, como se elas já não fossem dignas de valor e atenção hoje. Se
não focarmos e nos preocuparmos com sua formação hoje eles não serão o que
gostaríamos que fossem amanhã e o futuro da igreja e da sociedade estará nas mãos
de adultos despreparados.

E então é aí que está o motivo de ser tão importante ensinar os pequeninos - eles
são pessoas, e não empecilhos, que precisam ser valorizadas hoje. Foi assim que
Jesus as viu e é assim que precisamos vê-las também.

O ministério infantil é necessário e importante para educar crianças na Palavra


de Deus, para que, ainda crianças, elas entendam quem é Jesus e o que Ele fez por
aqueles que creem em Seu santo nome. Elas podem compreender. Elas são capazes
de mais do que simplesmente sentar e assistir a um DVD infantil. Mas, precisamos
acreditar nisso. Precisamos acreditar na capacidade desses pequeninos, como Jesus
fez.

Mas... Qual a definição de ministério infantil?

Existem muitas frentes de trabalho nas igrejas e instituições cristãs quando


pensamos em atuação com crianças: EBD (Escola Bíblica de Domingo - ou
Dominical), EBF (Escola Bíblica de Férias), Culto Infantil, Coral Infantil, oficinas
para a comunidade, evangelização em escolas, evangelização através de esportes,
etc. Na minha opinião, todas essas atividades podem se encaixar na definição de
ministério infantil, pois para mim ele nada mais é do que um serviço intencional
e planejado que objetiva o ensino da Bíblia a crianças e pré-adolescentes. Então seja
ele feito dentro da igreja, na comunidade, em escolas, ou outros ambientes, o
considero ministério infantil, desde que se encaixe nessa definição.

As igrejas evangélicas não mantêm um padrão que pode ser encontrado em todas:
as Batistas se diferem das Presbiterianas, que se diferem das Congregações, que
se diferem das Assembleias... E isso não só na questão doutrinária, mas na prática
também. Por isso, é difícil dizer que para os evangélicos o ministério infantil seja X
ou Y, porque não somente as denominações diferem entre si, como dentro de uma
mesma denominação pode haver muitas diferenças. Peço que você mantenha em

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mente que o que estiver escrito nesse eBook pode se diferenciar do projeto da sua
igreja local.

Portanto, creio que seja imprescindível que você conheça a abordagem prática
de sua igreja em relação ao trabalho com crianças. Meu objetivo com esse eBook
é capacitar você para servir melhor nesse ministério, mas não creio que para isso
você precise fazer as coisas exatamente como eu as proponho. Não quero que você
leve esse eBook a seus pastores e diga: viu só, ela faz diferente! Nós estamos fazendo
errado. Tome cada capítulo desse eBook como uma diretriz, nunca como regra.

Pais ou professores?

Eu sempre gosto de dizer: o que é bíblico é bíblico e precisa ser padronizado, e o


que não é tem abertura para ser debatido. Penso que no caso do ministério infantil,
o que é bíblico e indiscutível é que as crianças precisam ser ensinadas na Palavra
primeira e principalmente pelos pais (ver Dt. 6:6-7, Ef. 6:4). Essa é a base.

Todavia, assim como eu vejo acontecendo nas escolas seculares, dentro da igreja a
responsabilidade da educação dos pequenos tem sido, muitas vezes, “terceirizada”.
Vemos pais entregando aos professores da Escola Dominical, ou dos serviços com
crianças, essa tarefa, e “lavando suas mãos”.

É claro que existem muitos contextos diferentes nessa temática e para os propósitos
desse eBook, não pretendo me aprofundar neles. Mas, eu sei que existem
situações de pais incrédulos ou ausentes. Nesse caso, creio que cabe sim à igreja
responsabilizar-se de que esse pequeno esteja recebendo de Cristo. E cabe também
um interesse profundo pela família dessa criança, de modo a trazê-la para Cristo.
Não é correto que a igreja também se abstenha das responsabilidades de ensinar
essa criança, uma vez que os pais já não o fazem.

Minha conversão é fruto disso. Meus avós, quando jovens, moravam em uma
cidade bem pequena do interior de São Paulo. Um grupo de missionários
estadunidenses se instalou ali e começou um trabalho muito bom de evangelização
de crianças, propondo atividades a elas na comunidade. Primeiramente foi meu
tio mais velho quem participou, e se converteu ali. Logo em seguida, os outros
tios e meu pai. E isso aproximou meus avós da igreja, sendo que logo eles também
ouviram do Evangelho e foram convertidos a Cristo.

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Ver o interesse daqueles missionários em seus filhos e a mudança que Jesus fez na
vida de seus pequenos foi o que aproximou meus avós do Senhor. Por isso creio
que a igreja não pode lavar as mãos. Ela precisa é arregaçar as mangas e ensinar,
com afinco, as crianças que Deus leva até ela, ainda que os pais não se façam
presentes. E precisa mostrar interesse genuíno na família, estando em contato com
eles sempre que possível.

Mas, novamente, caso os pais sejam convertidos, é papel prioritário deles o ensinar
de Cristo. É no lar que a Bíblia precisa ser estudada, e é ali que a vida cristã é
vivida com intensidade e verdade. As crianças precisam olhar para seus pais como
exemplos de vida cristã, e caráter cristão genuíno. Como professor do ministério
infantil, você precisa relembrar os pais disso, caso seja necessário. Volte sempre a
responsabilidade maior a eles, pois foi a eles que Deus a entregou.

As frentes de trabalho com crianças


Eu gostaria agora de tentar explicar um pouco sobre cada tipo de trabalho que
o ministério infantil abrange, e as possibilidades de cada um. Novamente, pode
ser que existam versões diferentes das descritas aqui, ou atividades que nem serão
citadas, mas esse é um panorama geral.

Escola Bíblica Dominical: É um momento focado no ensino - geralmente existe


uma separação em classes, divididas por faixas etárias. Realmente uma espécie de
escola - com professores, alunos, currículo, chamada, etc. Acontece semanalmente,
aos domingos, geralmente pela manhã (novamente as diferenças entre igrejas:
algumas têm cultos pela manhã e à noite, aos domingos, e algumas não). A EBD,
como é geralmente chamada, pode ocorrer após a pregação pastoral normal do
culto ou anterior à ela. Eu também já vi igrejas que fazem a EBD somente com
as crianças, simultaneamente à pregação, que é dada só para os adultos. Essa
prática é muito comum nos EUA. No Brasil, o que sempre vejo é uma EBD que
separa adultos e crianças, onde ambos têm suas classes. Mas, a divergência mais
comum por aqui vem na questão da pregação pastoral: algumas igrejas substituem
a pregação pelas aulas, não havendo mensagem pastoral, e geralmente o pastor
ministra aulas em alguma classe. Na minha igreja do Brasil, temos a pregação
pastoral primeiro, e a divisão de salas depois - e tanto os adultos quanto as crianças
participam de ambos. Na minha igreja dos EUA apenas as crianças têm aulas,
durante a mensagem pastoral para os adultos.

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Escola Bíblica de Férias: Ocorre nas férias escolares de Julho ou Dezembro/Janeiro.
Geralmente é mais um projeto de evangelização da comunidade do que focado
na igreja em si. O convite é aberto à vizinhança e aos amiguinhos das crianças que
frequentam a igreja. Pode ser de dois, três dias ou até uma semana! Envolve muita
diversão: brincadeiras, músicas, jogos, teatros, lanche... Além, é claro, das lições
bíblicas ou missionárias (ou ambas). Geralmente as EBFs, como são conhecidas,
têm um tema e as lições se dão ao redor dele. Para mim, é um trabalho de extrema
importância nas igrejas, pois as férias são um momento muito propício para
o trabalho com crianças: elas estão em casa, geralmente entediadas, e quando
ouvem de um lugar onde terão lanche, brincadeiras e diversão, logo se animam em
participar. É uma linda maneira de evangelizar e atrair não só as crianças, mas as
famílias da comunidade local - geralmente os pais ficam felizes ao ver o interesse
da igreja em acolher seus pequenos para um momento assim. É comum vê-los
deixando ou buscando as crianças das EBFs com um sorriso no rosto, e essa é uma
ótima oportunidade da igreja mostrar interesse por seu bairro e sua comunidade.

Coral Infantil: Algumas igrejas, geralmente as maiores, mantêm um grupo de coral


infantil para apresentações ocasionais. Os ensaios podem acontecer durante os
cultos - em uma parte do Culto Infantil, ou em um momento específico semanal.
E, é claro, é sempre muito bonitinho ver as crianças se apresentando.

Oficinas: Já vi algumas igrejas que propõem oficinas artísticas para as crianças da


vizinhança - seja de música, de confecção de brinquedos, de pintura, de teatro,
etc. Esses momentos não precisam, necessariamente, envolver uma mensagem
bíblica. Mas, é uma forma de servir à comunidade local e proporcionar às crianças
a oportunidade de saírem das ruas e de conviverem com cristãos (e quem sabe não
é a porta de entrada para um momento de evangelização mais intencional?).

Atividades esportivas: Seguindo a mesma proposta das oficinas, as atividades


esportivas são uma outra oportunidade de convívio com cristãos. Já vi projetos
muito sérios que fazem esse trabalho, especialmente com o futebol, para
evangelizar e discipular meninos da comunidade.

Evangelização nas escolas: Algumas escolas abrem suas portas para que um cristão
tenha um momento para compartilhar do Evangelho com os alunos. Até mesmo
algumas escolas públicas fazem isso, especialmente nos anos finais - ensino
fundamental II e médio. Acredito que muitas direções escolares permitem isso
com um intuito de introduzir algum tipo de moralidade a essas crianças e pré-
adolescentes, e cabe a nós aproveitar esses momentos para ensinar não somente

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regras de conduta, mas especialmente sobre Jesus e Sua morte por pecadores.

Culto Infantil: Geralmente o Culto Infantil acontece simultaneamente à pregação


pastoral - assim que a mensagem começa, as crianças saem para ter seu momento,
pode ser aos domingos ou em qualquer outro dia de culto que a igreja tenha. Sei
de algumas igrejas que fazem uma programação especial para as crianças em um
dia que não tem culto regular da igreja. Cada igreja se diferencia na prática, mas
o que eu conheço é um momento onde os pequenos louvam com músicas, ouvem
uma mensagem (lição) que pode ser bíblica ou missionária, oram, e fazem alguma
atividade final para memorização da mensagem - ou seja, bastante parecido com
o culto “dos adultos”. A faixa etária para o Culto Infantil varia muito: pode ser
somente para o berçário; para as crianças menores que 6, 7 anos; ou para todas as
crianças, até a idade de 10, 12 anos.

Culto Infantil: ter ou não ter?


Existe muita divergência quanto ao Culto Infantil. Eu já ouvi pessoas que
respeito muito se posicionando contrariamente a ele. Esses irmãos defendem
que as crianças precisam ficar no culto, junto com os adultos, para aprenderem
a se disciplinarem quietas, e ouvir a Palavra. Essas pessoas creem que as crianças
podem entender a mensagem que o pastor prega, e que é imprescindível que elas
estejam junto à igreja durante esse momento para sentirem-se parte da igreja e
compreenderem como ela funciona - suas liturgias, costumes, etc.

Por mais que eu concorde com parte desse discurso, não consigo concordar por
completo. E aqui peço que compreendam que essa é minha opinião pessoal -
novamente, não é a regra. E encorajo vocês, inclusive, a pesquisarem um pouco
sobre essa visão para formarem suas próprias opiniões.

Entretanto, o que creio, como Pedagoga, é que as crianças pequenas não


conseguem compreender a linguagem utilizada na mensagem pastoral, o que faria
com que apenas parte - ou nada - do conteúdo bíblico fosse apreendido por elas.
Penso que a beleza do Culto Infantil está justamente nisso: a lição é dada em uma
linguagem que as crianças compreendem, com ilustrações que fazem sentido ao
mundo e cognitivo delas.

Eu tenho um exemplo: um de meus tios se converteu, quando criança, por causa


de um Culto Infantil. Enquanto seus pais estavam no salão da igreja, ele e os

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outros pequenos se dirigiram à uma salinha separada. Ali eles aprenderam com
uma ilustração sobre o amor e cuidado de Deus que, se não me engano, era algo
sobre galinhas e como elas cuidam de seus pintinhos, colocando-os debaixo das
suas asas. Para meu tio, uma criança pequena, aquela ilustração fez todo o sentido,
e ele compreendeu naquele dia sobre o amor de Deus como Pai. Eu me pergunto:
será que se ele estivesse no culto normal, ele teria apreendido essa preciosa lição?
Será que o Evangelho teria alcançado seu coraçãozinho? (E aqui cabe pontuar
que eu creio em um Deus Soberano que o teria salvado de qualquer maneira, mas
é importante ponderar a nossa responsabilidade em evangelizar da maneira mais
compreensível ao público.)

Por causa dessa compreensão de que os pequenos precisam de uma linguagem


deles, que eu defendo o Culto Infantil.

Mas, aqui cabem duas ponderações extras.

Em primeiro lugar, de maneira nenhuma eu defendo um Culto Infantil que sirva


com o propósito único de “tirar a distração que as crianças são” do culto normal.
Vimos isso no começo desse capítulo: o ministério infantil não é um depósito
onde colocamos as crianças para que elas parem de atrapalhar o culto. Não é a
salinha onde elas ficam brincando e vendo filmes. Se vamos tirar os pequenos do
culto normal, então é imprescindível que eles também participem de um culto -
ainda que na linguagem deles - com orações, louvores e lição bíblica. E é necessário
que eles aprendam a disciplina e a reverência que um culto precisa ter, ainda que
sendo Culto Infantil.

Em segundo lugar, eu acredito que somente as crianças pequenas devam sair


para ter esse momento específico. E aqui eu faço a linha limite na idade de 6, 7
anos. Para mim, as crianças maiores que isso conseguem apreender bastante da
mensagem pastoral, o suficiente para compreendê-la.

E aqui tenho meu ponto de convergência com os que não gostam do Culto
Infantil: assim como eles, eu acredito que as crianças precisam conviver nos
momentos da igreja, para sentirem-se parte dela e de suas práticas. Não é positivo
que as crianças pensem ser de uma “igrejinha” dentro da igreja. Se salvas, elas são
parte da Igreja, com “i” maiúsculo, e precisam entender isso. Por isso defendo que
as crianças maiores e os pré-adolescentes participem do momento normal dos
cultos - para compreenderem o que é ser igreja.

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Dessa maneira, pessoalmente, eu defendo o Culto Infantil, desde que seja feito
intencionalmente, com o objetivo de ensinar os pequenos sobre Cristo, e não de
separá-los dos adultos para que não sejam uma “distração”.

Esse eBook trará, então, alguns pensamentos e diretrizes, e até algumas


possibilidades mais práticas, para te ajudar com o ministério com crianças -
independente de qual seja a sua frente de trabalho.

Querido leitor, eu oro para que seu coração seja encorajado a começar em algum
lugar, seja como ajudante do Culto Infantil, como um voluntário nas escolas
públicas, ou até mesmo como um professor de futebol. Nossas crianças precisam
de Cristo e eu quero crer que você se levantará para dizer “Eis me aqui, Senhor!
Envia-me a mim.”

Na prática
Ore com muita intencionalidade pedindo ao Senhor que te conduza a
compreender qual a frente de trabalho que mais precisa de sua ajuda, no momento.
E ore confiando que Ele abrirá seus olhos e abrirá portas para oportunidades
que talvez você nem tenha imaginado possíveis. Pode ser que Deus te conduza
a começar um ministério evangelístico com as crianças da vizinhança da igreja,
através dos esportes; ou que abra as portas para um evangelismo nas escolas.

Apenas ore e se faça disponível ao Senhor, e deixe Ele te mostrar as maravilhas que
o poder dEle faz através de pecadores dispostos a servir.

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Capítulo 3

Como ensinar os pequeninos?


Tem uma coisa que acontece frequentemente comigo, e que eu odeio. Eu pego o
celular com o objetivo de mandar uma mensagem a alguém sobre algo específico,
e de repente vejo algumas notificações que aguardam minha atenção no aplicativo
do WhatsApp. Checo as mensagens, rio, respondo, mando áudio. Depois dou
uma olhadinha no Instagram. Poxa vida, minha amiga está grávida - preciso
mandar mensagem parabenizando-a! Abro o WhatsApp de novo. Em seguida,
volto pro Instagram. Aquela editora que eu gosto está com livros com 50% de
desconto? Abro o site deles no navegador e faço uma compra. Por fim, corro
os olhos pelas últimas atualizações do Twitter. Leio os comentários engraçados
de algum comediante famoso e vejo alguns links para artigos no Desiring God.
Marco alguns para ler depois. E aí paro e penso “hm, o que eu ia fazer mesmo?”.
Não lembro, dou de ombros, coloco o celular de lado, continuo a vida. Resultado:
não mandei a mensagem que precisava ser mandada (e geralmente era para minha
mãe para avisá-la que cheguei viva em algum lugar, e agora tenho que lidar com a
braveza dela…).

Um dos maiores males dessa era (não deve ser só comigo!) é a falta de foco, a não
produtividade, a procrastinação. Conhece? A famosa arte de deixar para depois o
que você podia (e devia) estar fazendo agora? Eu sou muito boa nisso. Por vezes
escolho coisas não essenciais na minha vida ao invés de escolher o que é vital,
necessário. Isso acontece com frequência e Deus sabe como oro todas as manhãs
para ter mais diligência.

Entretanto, por muito tempo, a procrastinação impediu que eu me dedicasse ao


ministério de ensinar e o fizesse com excelência. Nós fomos chamados a fazer
tudo com o máximo de zelo e eu vejo isso na Palavra, quando ela diz “Tudo o que
fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens.” (Cl.
3:23) Quando eu paro para pensar no que significa fazer como para Deus... Isso
é tremendo! Significa, no contexto do ministério infantil, que quando estamos
naquela salinha, com aqueles olhinhos nos mirando e ouvidos atentos à história
que vamos contar, estamos fazendo isso PARA DEUS. Ele está ali e Ele espera
nosso melhor nesse serviço. O quão forte é isso?

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Lembra quando eu disse, em um capítulo anterior, que o que fazemos, fazemos
na força e capacidade de Cristo? Isso não significa, de maneira nenhuma, que não
precisamos fazer bem feito. Pelo contrário, a força de Cristo em nós é que nos dá a
capacidade de não só servir, mas fazê-lo com excelência.

O Evangelho nas lições

Quando eu digo “Evangelho”, eu quero dizer as boas novas, a história de Cristo,


o nascer do Cordeiro e o plano de salvação através de Sua morte e ressurreição.
Absolutamente toda e qualquer história precisa introduzir esse conceito. Essa é
uma diretriz essencial para um professor que queira cumprir bem seu papel no
ministério infantil.

Se você tiver que lembrar de somente uma coisa desse eBook todo, gostaria que se
lembrasse disso: Jesus Cristo e Seu sacrifício remidor precisam ser apresentados às
crianças em toda oportunidade de aula que tivermos.

Para ajudar, vou tentar exemplificar para vocês como fazer a introdução do
Evangelho em qualquer história.

Há alguns anos fui para a Bolívia em uma curta viagem missionária e lá contamos a
história de José do Egito, uma vez que a questão da prisão fazia parte da realidade
das crianças do orfanato que visitamos (seus pais estavam presos).

Em uma das lições ensinamos às crianças a parte da história em que José vai
trabalhar na casa de Potifar. Como introduzir o Evangelho nessa lição? Para
mostrar isso, gostaria de compartilhar com vocês todo o nosso planejamento da
lição (você verá como criar uma lição como essa no próximo capítulo). A parte em
negrito é o Evangelho. Busque perceber como o introduzimos:

Lição: José na casa de Potifar


Versículos: Gênesis 39: 1-21

A. José é vendido a Potifar (v. 1)

Depois que seus irmãos o venderam, os comerciantes levaram José ao Egito, uma terra muito longe
de Canaã, onde vivia a família de José. (Mostrar mapa, se possível) Ali ele foi vendido a um homem
chamado Potifar, um oficial do exército. José trabalhou como um escravo ali, e não recebeu nada em troca
de seu trabalho. Você consegue imaginar? Isso deve ser muito difícil e triste.

B. O Senhor estava com José (v. 2)

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Mas apesar deste momento tão difícil na vida de José, a Bíblia nos diz que o Senhor estava com ele e o
permitia prosperar em tudo que fazia. Potifar gostava muito de José e o colocou como servo principal em
sua casa (v. 4). Portanto, o Senhor abençoou a José, aliviando-o do trabalho duro que os demais escravos
tinham. E pelo amor que Deus tinha por José, a casa de Potifar prosperou (v.5)

C. Tentação: a mulher de Potifar (v. 7-19)

Mas, algo muito ruim estava prestes a acontecer. A esposa de Potifar, a Bíblia não nos diz seu nome, era
uma mulher com intenções pecaminosas e más. Um dia ela convidou José a ficar com ela. O que ele faria?
Ninguém estava olhando, ninguém estava por perto... Sabe, às vezes temos vontade de fazer coisas ruins,
e as fazemos escondido, porque ninguém está vendo. Mas, foi isso que José fez? Não! A Bíblia diz que ele
correu! Ele fugiu da tentação do pecado. Vocês sabem o que é pecado? (Esperar as respostas e analisar
as hipóteses). O pecado é algo ruim que está dentro de nós, desde o nascimento, e nos empurra a fazer
coisas ruins e equivocadas. Só há uma maneira de ser salvo do pecado, sabe qual é? Através de Jesus.
Você sabe quem é Jesus? Ele é o Filho de Deus, que veio ao mundo para morrer em uma cruz para que
pudéssemos ser livres da culpa do pecado. Quando confessamos (falamos sobre) nosso pecados, Jesus
é fiel para nos salvar de todos os nossos pecados pois seu sangue nos deixa limpos do pecado. Mas, o
que aconteceu depois que José fugiu da esposa de Potifar? Ela fez algo terrível! Ela mentiu. A mentira é
outra consequência do pecado. Ela disse a seu marido que José é quem queria ficar com ela, e assim Potifar
ficou muito bravo com José.

D. José vai para a prisão (v.20)

Assim, Potifar chamou os chefes da guarda e ordenou que eles prendessem José, apesar de ele ser
inocente! E agora? O que vai acontecer? Será que Deus vai salvar José das mãos dos guardas? (Deixar que
elas respondam)

Foi possível perceber a forma como introduzimos o Evangelho aqui? Não é nada
complicado: basta encontrar a parte da história em que algum pecado é exposto
e a partir dali “puxar” o Evangelho. Não só isso, podemos fazer de outras formas
também - por exemplo, quando ensinamos sobre o Êxodo podemos falar sobre
como éramos escravos do pecado; e quando ensinamos sobre o rei Davi, podemos
introduzir que Jesus é nosso Rei.

Quando conseguimos introduzir Jesus e o Evangelho em todas as lições estamos


dando aos pequenos a oportunidade de ouvir sobre a salvação, vez após vez,
domingo após domingo. E não é esse nosso maior objetivo? Que eles conheçam a
Cristo como Salvador?

A própria Bíblia aponta para Cristo, do começo ao fim. Gosto bastante de ver
isso - como em cada livro, em cada história, existe uma simbologia que nos mostra
Jesus: o Cordeiro de Êxodo que foi morto, cujo sangue aplaca o poder da morte;
o cordão escarlate de Raabe que salva sua família, cuja cor nos lembra o sangue de
Cristo; o redentor em Rute, na figura de Boaz; o noivo desejável de Cantares; no
tratamento de Oséias à sua esposa infiel; entre outras histórias que poderiam ser
citadas. É fácil apontarmos para Cristo com uma história da Bíblia, pois todas elas

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têm um momento de redenção, um momento que aponta para um pecado/dor/
sofrimento/dificuldade, ou que aponta para alguma figura de Cristo. Toda vez
que esses momentos surgirem, podemos introduzir a Cristo e mostrar que Ele é a
resposta para tudo.

Introduzir o Evangelho nas lições não é difícil. Basta que olhemos de perto e
examinemos a história até achar esse cordão escarlate que a perpassa - Jesus Cristo.

O não planejamento

A partir do momento em que compreendemos a importância grandiosa que o


ministério infantil tem aos olhos de Deus (conforme vimos no capítulo anterior),
precisamos deixar de lado algumas práticas negativas que, infelizmente, são
comuns de professores do ministério infantil. Uma das piores, creio eu, é a prática
do não planejamento.

Eu mesma já fui culpada desse mal. Teve uma época em que eu servia nesse
ministério enquanto estava na faculdade. Por vezes a correria da semana me
impedia de separar um tempo para planejar a aula de domingo. E por vezes eu me
esquecia mesmo. E outras vezes a Senhora Procrastinação roubava meu tempo
livre. E então, minha solução era: alguns minutos antes da aula começar, eu corria
para o fundo da igreja e dava uma olhada em qual era o tema daquela semana... “Ah,
a história de Zaqueu? Ok, sem problemas, essa é fácil.”

Se formos sinceros, assumiremos que fazemos isso de vez em quando. E


sinceramente? É de se esperar, uma vez que o ministério infantil não é um
emprego, e sim um trabalho voluntário. Se pensarmos ainda que a maioria
das pessoas que servem nesse ministério já é mãe, ou pai, e tem muitas outras
obrigações, fica ainda mais compreensível a dificuldade de planejar as aulas de
forma consistente.

Entretanto, o planejamento das aulas é imprescindível se quisermos fazer um


trabalho positivo e que tenha impacto na vida das nossas ovelhas. A história é o
momento crucial - aquele em que Cristo será apresentado. Mesmo que todo o resto
de nosso momento com elas for ótimo - o lanche está gostoso, as brincadeiras são
envolventes, a música é divertida - se a lição for mais ou menos e a mensagem não
chegar ao coração delas, então todo o resto foi em vão.

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Precisamos nos lembrar que o Ministério Infantil não é um depósito de crianças.
É um ministério da igreja, e como em todas as outras ações que ocorrem na casa
de Deus, o objetivo de estarmos ali é somente um: apontar as crianças para Jesus
Cristo.

Pensemos assim: se o pastor precisa se preparar, e muito, para apresentar o


Evangelho em todo culto, porque nós nos sentimos no direito de nos prepararmos
pouco (ou não nos prepararmos) para o ministério infantil? Nós também temos
a mesma missão: expor a Palavra e Cristo, na busca de levar os pequenos ao
conhecimento da salvação que existe nEle.

E por isso todas as lições, sem exceção, precisam ter o Evangelho embutido nelas.

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Capítulo 4
Como montar as lições
Agora que já compreendemos qual o objetivo das lições e como introduzir nelas
o Evangelho, podemos pensar um pouco sobre a parte prática de como montá-
las. A maioria das igrejas utiliza um material pronto, comprado de editoras
cristãs, e eu recomendo que o façam, se for possível - isso facilita muito o trabalho
dos professores. Entretanto, se essa for a escolha de sua igreja, esteja atento ao
conteúdo desses materiais e à forma como as histórias bíblicas são ensinadas. Eu já
me deparei com alguns materiais que ensinavam doutrinas que eu não creio serem
bíblicas. Tenha certeza de que esses materiais estão de acordo com a declaração
doutrinária de sua igreja local.

Algumas igrejas, por outro lado, podem optar por criar seu próprio material -
seja por não se identificarem com nenhum material do mercado; pela falta de
orçamento para a compra destes; ou pela vontade de ter seu próprio material,
que seja personalizado de acordo com as necessidades da igreja em si. Talvez
você que está começando a se interessar pelo ministério infantil queira ter um
conhecimento maior de como criar lições do zero, caso algum dia isso se faça
necessário no seu contexto, e eu creio ser muito válido que cada professor desse
ministério saiba como montar uma lição. Por isso, quero apresentar a vocês apenas
algumas diretrizes que, creio, iluminarão seu caminho nesse sentido. Com certeza
não trarei uma fórmula que te permita criar um currículo completo da Bíblia toda,
mas ao menos uma preparação básica para saber onde começar.

Exemplo de esquema de lição

Independentemente da forma que você decidir montar seu currículo - seja por
temas ou por sequência bíblica (ou outra opção, como por exemplo, histórias
missionárias), eu gostaria de te mostrar um esquema de lição que sempre me ajuda
a planejar uma boa aula. Esse é um esquema teórico da lição, um documento que o
professor escreve para si mesmo, para estudar e se preparar para a aula. Jamais leia
a lição às crianças! Se nós que somos adultos ficamos entediados quando alguém
lê uma palestra direto do papel, imagine os pequenos! Saiba ser dinâmico na hora
da lição. As crianças ficam muito animadas e atentas a professores que sabem
fazer barulhos nas horas certas, e que são bastante expressivos com seus gestos

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e expressões faciais. Fale alto (sem gritar) e conquiste a atenção delas não pela
disciplina forçada, mas pelo lúdico.

Esquema exemplo de lição

Lição número X : Nome da lição


Versículos: Os textos bíblicos que serão usados nessa lição

Objetivo do professor: Aqui são explicadas quais as lições morais e históricas


que pretende-se ensinar e o que é esperado que a criança saiba ao final da aula. É
importante listar o que é esperado do professor, e o que é esperado das crianças.

O professor pode voltar a esse tópico ao final da aula e conferir se alcançou seus
objetivos. Esse momento de reflexão da prática é de extrema importância para o
professor, pois o ajuda a melhorar suas aulas futuras e pensar no que é preciso ser
mudado.

1. Introdução
A introdução deve ter um resumo da história anterior, de maneira a ajudar as
crianças a se lembrarem da semana/aula anterior, e um pequeno resumo do que será
visto hoje, sem que se revele muito da história.

É possível, também, introduzir perguntas instigantes, para que as crianças sejam


atraídas à história. É aqui que utilizaremos recursos que eu gosto de chamar de
“ganchos”, ou seja, qualquer tipo de material ou recurso que seja atraente e chamativo,
para que as crianças fiquem atentas à história. Um bom exemplo disso é quando
contamos a história de algum rei e começamos com um som de trombeta bem alto,
ou quando mostramos um objeto relacionado à história e perguntamos sobre ele. Isso
atrai a atenção dos pequenos.

A introdução deve ser breve.

2. Progresso:
É aqui que todo o conteúdo da história deve estar. Este é o momento central da aula -
o desenvolvimento da história. Essa parte pode ser dividida em tópicos (A, B, C, etc.)
de acordo com a divisão da história e dos versículos, de maneira a facilitar o ensino e
também a compreensão da história pelos pequenos (essa divisão de tópicos não deve
ser citada durante a história - é apenas um recurso para a organização do próprio
professor).

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Aqui serão utilizados todos os recursos materiais que estiverem à disposição: sons,
fantasias, imagens, objetos, etc.

Esse momento deve ser objetivo e breve (a duração varia de acordo com a faixa etária
das crianças).

É também nesse momento que devemos introduzir o Evangelho, como vimos no


capítulo anterior.

3. Ápice:

Aqui teremos o ápice da história, e eu o uso no sentido de ser o momento que deixará
no ar o que acontecerá na próxima história.
Essa parte depende muito de como o currículo for montado. Se a história de hoje
é única, ou seja, sem continuação, então o ápice não é necessário. Mas ele se faz
indispensável em histórias que são divididas e contadas em várias aulas. Assim as
crianças se sentem atraídas à história e sentem a vontade de voltar na próxima aula
para saber a continuação.

O ápice sempre termina com uma pergunta. Por exemplo: “vimos que a esposa de
Potifar fez com que José fosse preso. O que será que vai acontecer? Será que ele vai fugir
da prisão ou ficar lá? Será que Deus se esqueceu dele?”

Permita que as crianças formulem hipóteses sobre o que acontecerá na próxima lição,
mas sem dar a resposta a elas; isso as envolve e aumenta sua curiosidade.

4. Final:

Aqui colocamos a conclusão da história, de forma sucinta e direta, para que as


crianças compreendam exatamente o que foi ensinado.

É possível também relembrar o Evangelho que já tinha sido introduzido na lição, e


introduzir o versículo a ser memorizado.

Esse exemplo de lição é apenas um recurso que quero que você tenha em mãos.
Caso você já tenha um esquema que use, e que funciona para você, continue
usando! O importante é fazer algo que funcione tanto para as crianças quanto para
o professor, e também juntar dicas e sugestões de várias fontes para criar algo que

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seja seu.

Temas x Sequência Bíblica

Primeiramente é preciso escolher qual será o parâmetro para se montar a sequência


das lições. Existem duas formas mais comuns: por temas ou pela sequência bíblica.
As editoras geralmente criam seus materiais seguindo a sequência por temas,
como por exemplo: “Uma vida de vitórias”, ou “Deus cuida de mim”. A outra
opção, a sequência bíblica, é montada de forma que as histórias sejam contadas de
acordo com a sequência em que, de fato, aconteceram historicamente (sequência
cronológica) ou na sequência em que foram narradas na Bíblia (Gênesis, Êxodo,
Levítico, etc.). Vejamos as duas opções um pouco mais detalhadamente.

Sequência por tema

As lições por tema são escolhidas de acordo com um assunto central determinado.
Por exemplo: “Deus nos guarda” é o tema escolhido. Dentro desse tema usamos
histórias bíblicas como os espias e Raabe; Davi e Saul; os israelitas resgatados; o
naufrágio de Paulo; etc. Histórias que não têm, necessariamente, ligação direta
umas com as outras, mas têm o mesmo tema - que Deus cuida de nós em todo o
tempo.

Esse tipo de sequência tem a vantagem de focar em uma só “lição-chave” a ser


aprendida, nesse caso “Deus cuida de nós”. Esse foco pode facilitar a apreensão da
moral pelas crianças, fazendo com que elas guardem bem essa verdade-chave por a
escutarem repetidamente, semana após semana.

As desvantagens que eu vejo nesse formato, entretanto, são a fragmentação da


Bíblia e o foco em histórias específicas, mais conhecidas (por exemplo: Davi
e Golias, Esaú e Jacó, Moisés, José, a multiplicação dos pães e peixes, etc.) Esse
conhecimento fragmentado é prejudicial ao aprendizado dos pequenos, pois
os impede de entender a ligação da Bíblia como um livro total, que tem uma
linearidade; e também os impede de compreender as pessoas bíblicas como pessoas
reais, que tiveram uma história de vida, e não somente como personagens de um
acontecimento momentâneo. Davi, por exemplo, acaba sendo lembrado pela
batalha com Golias, mas dificilmente por todas as outras dificuldades e vitórias
que ele vivenciou, e que fizeram dele um homem segundo o coração de Deus.

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Outro problema que pode ocorrer é que possivelmente as crianças acabam ouvindo
a mesma história várias vezes. Como as lições são divididas em temas a mesma
história pode aparecer em diversos materiais, para ilustrar diferentes temas. Essa
repetição pode tornar uma aula monótona para a criança que acaba “desligando”
seu interesse ao ter que ouvir uma história ser repetida, com muita proximidade da
outra.

Sequência bíblica

As lições por sequência bíblica se dão na sequência da ordem canônica (de Gênesis
a Apocalipse); ou por ordem cronológica (ordem em que os livros foram escritos,
historicamente). Essas lições não precisam incluir todas as histórias de forma
minuciosa (não é necessário contar todos os relatos de Juízes, por exemplo), mas
com uma visão geral, como se fosse um panorama da Bíblia. Para ser sincera,
apenas uma vez eu presenciei um ministério infantil que fizesse isso, e foi o ensino
mais eficaz que já vi em uma igreja.

O motivo pelo qual eu proponho o ensino da sequência bíblica como prioridade


é para que, desde pequenas, as crianças que frequentam nossas igrejas saibam que
a Bíblia é um livro contínuo, onde uma história segue e explica a outra, e onde
todas, como vimos no capítulo anterior, apontam para Cristo. Dessa maneira,
seria importante que todas as salas ensinassem a mesma história, mas de formas
diferentes, adaptadas a cada idade. E por que isso? Para que no processo de passar
as crianças de uma sala para a outra (por estarem crescendo) elas cheguem na
próxima sala na mesma história que teriam na anterior, não ficando prejudicada,
assim, a sequência.

Dar esse panorama mais abrangente ajuda as crianças a formarem em suas cabeças a
noção de que os personagens bíblicos foram humanos como nós, que passaram por
vales e montanhas, e que as coisas magníficas ou até sobrenaturais que aconteceram
com eles foram apenas pela graça e força do Braço Divino.

Se contamos as histórias em sequência bíblica, montando um currículo coerente,


nós podemos facilitar o entendimento das crianças do panorama geral da Bíblia,
facilitando até mesmo a introdução do Evangelho, pois Jesus é visto de Gênesis
até Apocalipse. Por exemplo: se contamos a história da vida de José e sua família
e, na sequência, a de Moisés, nós podemos permitir que as crianças entendam
que o povo de Deus havia sido escravizado no Egito porque Jacó e sua família se

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mudaram para lá depois que descobriram José vivo e governando aquele país. Esse
povo cresceu e muito se multiplicou (o que remete à promessa de Deus a Abraaão,
outra história que precisaria ter sido introduzida anteriormente). Por causa da
grandeza do povo e por causa do novo Faraó que se levantou, que não conhecia
José, é que Israel foi feito escravo no Egito. Se contássemos a história de Moisés
sem essa conexão, esse panorama de fundo, as crianças ficariam sem entender a
escravidão, fazendo com que isso fosse apenas um fato aleatório na cabeça delas.

Como Pedagoga eu aprendi que as crianças formam seu conhecimento por


associações. Elas pegam todo seu conhecimento anterior e o atrelam ao
novo, criando assim novos e mais evoluídos conceitos. Ao criar um espaço de
aprendizagem onde as histórias bíblicas se complementam e têm linearidade,
permitimos que as crianças as associem umas às outras, fazendo o aprendizado
bíblico ser muito mais significativo.

33
Capítulo 5

As faixas etárias
Uma das maiores dificuldades que voluntários do ministério infantil têm é saber
como lidar com crianças de diferentes faixas etárias. Se você já está nesse ministério
há algum tempo, sabe que as crianças de 3 anos são muito diferentes das de 9, e que
precisamos de técnicas e materiais diferentes para ensinar cada uma. Nesse capítulo
veremos direções gerais para o ensino de cada faixa etária.

Divisão de salas: as peculiaridades de cada igreja

Antes de vermos as faixas etárias de forma específica, é preciso que comecemos


nos lembrando que cada igreja é única. Não existe uma regra geral que vai ser
perfeitamente aplicada a todas. E isso porque assim como eu creio que cada criança
é única e especial, e deve ser respeitada em sua singularidade, também creio que
cada igreja é única e precisamos trabalhar com suas singularidades.

O que quero dizer com isso? Bom, se você está em uma igreja de 1.000 membros,
então sua realidade é bastante diferente da minha quando dava aulas em uma igreja
de 50 membros - com 5 crianças na minha sala. Não só o número de crianças por
sala será diferente, como a divisão das classes também será. Se sua igreja tem 10
crianças, de 0 a 12 anos, não faz sentido criar uma sala de pré-escolares, uma de
juniores e uma de pré-adolescentes (fora a questão do espaço - muitas congregações
não têm espaços físicos suficientes para essa divisão).

Quando não é possível fazer uma divisão

Pensando nisso, é necessário sermos realistas quanto às nossas situações. Não se


preocupe muito caso sua sala tenha crianças de 3, de 9 e de 12 anos, todas juntas.
Será mais complicado, mas há opções.

Você pode, por exemplo, separá-las na hora das tarefas, dando algo mais manual
às crianças pequenas, e algo mais prático e profundo às crianças maiores. Também
pode propor atividades que sejam interessantes a qualquer faixa etária, como
brincadeiras e músicas. A grande dificuldade se daria na história, uma vez que as
crianças pequenas tem uma atenção limitada, e as grandes conseguem focar por

34
mais tempo. O que eu te aconselharia a fazer é o seguinte: se você tem crianças
pequenas e grandes na mesma sala, tente separá-las, ao menos para a hora da lição,
caso isso seja possível. Peça a algum voluntário que possa te ajudar ficando com as
menores, contando a história em 5-10 minutos, enquanto você foca na lição com
os maiores, talvez em um outro canto da sala, ou outro espaço.

Se isso não for possível, que tal pedir aos mais velhos para ajudarem vocês no
contar da história? Eles podem te auxiliar e geralmente amam isso! Você pode
pedir que eles contem determinada parte, ou até que contem a história inteira, se
eles estiverem familiarizados com a mesma, e você os auxilia quando errarem ou
esquecerem alguma parte.

Posso te afirmar que isso funciona, afinal de contas, foi assim que eu comecei no
ministério infantil - uma pré-adolescente de 12 anos, a quem foi confiada a tarefa
de auxiliar no ensino dos menores. Isso me fez sentir digna e confiante de que se
aquelas professoras confiavam em mim é porque eu era capaz de não só aprender
essas lições, como também ensiná-las. E claro, não deixe de mostrar a esses pré-
adolescentes que é somente pela graça e ajuda de Cristo que nós podemos ensinar,
e o mesmo vale para eles. Você pode juntar-se a eles em oração, antes da aula
começar, ou orar por eles, antes da lição, pedindo que o Senhor os dê a capacidade
de ajudar os pequenos a aprender.

Esse senso de comunidade, de ajuda mútua, é extremamente válido e dá aos pré-


adolescentes uma injeção de ânimo, além de ensiná-los sobre a comunhão do
Corpo de Cristo, e sobre como nós nos preocupamos em encorajar e ensinar uns
aos outros.

As faixas etárias

Se sua igreja têm espaço físico e um número suficiente de crianças para fazer uma
divisão por salas, segue uma ideia geral, bastante resumida, de como as crianças
são, biológica e psicologicamente, em cada idade. Essas ideias poderão te ajudar a
lidar com os pequenos, pois uma vez que sabemos o que eles são capazes de fazer,
como funcionam e como pensam, nossos planejamentos de aula podem ser mais
intencionais.

Não se esqueça: essa divisão das faixas etárias que eu fiz é muito subjetiva. Graças
à criatividade de Deus, as crianças são muito individuais e cada uma se desenvolve

35
a seu tempo. Por isso, seja flexível com os dados que eu passar aqui: pode ser que
o que está escrito para crianças de 4 a 6 anos valha mais para o seu pequeno de 3
anos do que os dados da faixa-etária dele. Crianças podem se desenvolver mais
rapidamente ou mais lentamente do que a média da sua idade. Não as julgue e não
as rotule dizendo: “como ela é inteligente!”, ou “como ele é lerdinho…”; trataremos
mais sobre isso no capítulo 7.

Também é importante salientar que a divisão mostrada aqui foi feita de forma
geral. Eu compreendo que as crianças de 1 ano são diferentes das de 3, mas não
caberia aqui uma explicação por idade, ano a ano, por isso separamos por faixas
etárias gerais.

0-3 anos

Do nascimento até os 3 anos de vida, a criança passa por um processo de


desenvolvimento em todos os níveis: físico, emocional, motor, de fala, etc. Por
isso os conceitos sobre Deus, amor, Jesus, já devem ser introduzidos nessa fase. É
algo muito errado pensar que crianças dessa faixa etária (principalmente de 0 a 1
ano) devem ficar somente em berçários com as mães, durante o culto.  Nessa idade,
a criança ainda não pode compreender com profundidade conceitos como o de
salvação, mas a terra deve ser preparada para que a semente venha e seja germinada.

Como ela aprende?


O processo do desenvolvimento da inteligência é chamado, por Jean Piaget2,
biólogo suíço que estudou o desenvolvimento das crianças no século XX,
de estágios do desenvolvimento cognitivo, ou seja, do desenvolvimento do
conhecimento. Para ele, o ser humano passa por quatro estágios: sensório-
motor (0-2 anos), pré-operacional (2-6 anos), operacional concreto (7-11 anos)
e operacional formal (a partir dos 11/12 anos). No sensório-motor, o bebê
demonstra inteligência, desejo, através dos movimentos, e é capaz de perceber a
realidade (tudo que o cerca) por meio de órgãos dos sentidos. O bebê se comunica
então, não através da fala, mas dos movimentos. Tudo que ele vê, ouve e sente
fica em sua mente, por isso é essencial fazê-lo ouvir de Deus já nessa idade, e de
experimentar do amor e cuidado dEle através de nossas ações físicas.

Como devem ser os educadores dessa etapa?

2 Tenho ressalvas quanto à teoria de Jean Piaget, e não recomendo que a usemos para a Educação,
algo que o governo brasileiro tem feito através do método Construtivista. Entretanto, sua divisão das etapas
do desenvolvimento infantil é válida aqui no que pretendo tratar quanto à divisão das faixas etárias.

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A principal característica do educador dessa etapa é cuidar ensinando e ensinar
cuidando. Isso quer dizer que, enquanto nessa idade, a criança precisa de cuidados
assim como precisa de ensino. Não podemos nos limitar a cuidar desses pequenos,
com a alimentação e troca de fraldas, nos esquecendo de que essas crianças já são
capazes de compreender o mundo ao seu redor.

E aqui cabe uma divisão maior, as crianças de até 2 anos são bastante diferentes das
crianças de 2 e 3 anos. Até 2 anos elas precisam primariamente de cuidados, mas
também de ensino. Aos 2 e 3, o ensino passa a ter maior importância, e elas já estão
prontas para pequenas e rápidas lições sobre Jesus e a Palavra.

Para além da parte de conhecimentos, o educador dessa faixa etária deve buscar
estabelecer um vínculo afetivo profundo tanto com as crianças quanto com os
pais. Eles devem acompanhar o desenvolvimento dos bebês, e tanto passar aos pais
o que acontece na igreja, quanto receber deles o que tem acontecido em casa. Isso
pode ser feito através de visitas, de reuniões ou de cartas aos pais (dependendo do
quão grande é sua igreja e sua sala). Em uma igreja que frequentei, os professores
sempre faziam uma reunião com os pais assim que entrava uma criança nova na
sala, para explicar as regras e os tipos de lições que as crianças iam fazer.

Além disso, é muito importante estabelecer regras com os pais, principalmente


nessa faixa etária. As mães sentem que precisam ficar com os bebês dentro do
berçário, o que atrapalha muito o trabalho dos professores, principalmente se a sala
for pequena. Diga às mamães que quando os bebês precisarem mamar ou coisas
do tipo, você as chamará no culto. Caso contrário, diga que elas podem assistir
ao culto despreocupadas, que você cuidará das necessidades do bebê. Por isso,
é necessário que você esteja preparado para trocar fraldas, fazer mamadeiras (se
necessário, pois geralmente as mães trazem prontas), ninar, etc. Essas atividades
são responsabilidades suas enquanto o bebê estiver em sua sala. Não se voluntarie a
ser professor dessa faixa etária se não se sentir preparado para lidar com bebês muito
pequenos.

É importante que um mesmo educador (ou time de educadores) permaneça com


a mesma sala durante, no mínimo, 6 meses, para que os bebês já os reconheçam e
sintam-se seguros com eles. Como disse anteriormente, é de grande importância o
vínculo afetivo criado entre professor-criança em todas as faixas etárias, mas nessa
de forma especial, uma vez que a criança tem a parte afetiva latente nos primeiros
anos de vida, nos quais ela formará seu conceito de confiança, precisando assim
de adultos que estejam em sua vida de forma consistente. Para além disso, é

37
importante essa consistência no grupo de educadores para que esses conheçam de
fato as crianças em sua sala, de forma a saber as necessidades e vontades dela. A
criança até os 2 anos não pode se comunicar através da linguagem e precisa que o
adulto “decifre” o que seus choros, sorrisos e grunhidos querem dizer. Para que isso
seja possível, é preciso um contato constante entre o adulto e a criança.

Quanto ao vestuário, uma dica é que vocês se vistam sempre confortavelmente


(aliás, para dar aula para qualquer idade). Evite saltos altos, calças sociais,
ternos, etc., mesmo que o culto seja à noite. Sapatos baixos e cabelos presos são
indispensáveis (lembre-se que bebês gostam de pegar coisas e puxá-las, por isso,
evite brincos grandes, colares e cabelos soltos).

Quais os principais cuidados que a criança dessa etapa necessita?


Fisicamente, o bebê precisará ser alimentado, e provavelmente você terá que trocar
fraldas, dar remédios na hora determinada pelos pais, ou qualquer outra urgência
do tipo. Pode ser necessário limpá-lo se ele passar mal, ou dar banho em casos
de febre (se o banheiro de sua igreja tiver chuveiros). Isso só acontecerá em casos
extremos em que os pais da criança não estejam presentes ou não façam parte da
igreja. Caso contrário, eles sempre deverão ser chamados em casos de emergências.
Não se esqueça de perguntar às mamães o que a criança precisa, e peça que ela te dê
aquelas bolsas onde carregam os objetos do bebê, para você manter dentro da sala.
Saiba sobre alergias e qualquer questão específica (como medos extremos, etc.) -
isso é muito importante!

Emocionalmente, o bebê precisa se sentir protegido e amado, receber


atenção através de conversas, cânticos, ouvir o nome dele, etc. Como foi dito
anteriormente, nessa fase o bebê precisa do afeto; de maneira nenhuma os trate
com frieza, descaso ou rispidez.

Espiritualmente, sabemos que o bebê precisa da salvação que há em Cristo Jesus


(cf. Rm. 3.23), e é papel do professor começar a ensiná-lo sobre isso, ainda que seja
através de cânticos, pequenas histórias e contos.

Como deve ser o ambiente da sala de aula?


Como foi dito anteriormente, é preciso respeitarmos as individualidades de cada
igreja. Sabendo disso, é claro que nem todas poderão dispor de um ambiente cheio
de recursos para as salas infantis. Entretanto alguns cuidados, especialmente no
que diz respeito à higiene, são indispensáveis, independente do tamanho da sala
que você tem em sua igreja.

38
A sala do berçário deve ser um lugar claro, arejado e, se possível, com berços e
trocadores. De preferência, as paredes devem ser pintadas de cores claras, que
transmitam calma aos bebês. Se possível, o chão deve ser revestido com algum
material (pode ser um tapete comum - que seja limpo frequentemente para evitar
o acúmulo de sujeira, ou um tapete de material tipo EVA) para que os bebês não
tenham contato direto com o chão, que pode ter sujeiras e é muito frio, enquanto
brincam. Mantenha os brinquedos em caixas, e fora do alcance dos bebês - essas
caixas precisam ser constantemente higienizadas para não haver o risco de insetos.
É aconselhável, também, que haja uma pia para que os professores mantenham suas
mãos sempre limpas. Caso isso não seja possível, tenha sempre um álcool gel por
perto (fora do alcance dos bebês).

Como devem ser os momentos da aula?


Deixo aqui uma ideia de aula para essa idade, mas que você tem a liberdade de
modificar conforme seus interesses e necessidades. Para além disso, verifique o
capítulo sobre como montar as aulas.

A aula pode ser dividida em três partes, sendo que você precisa adaptar sua aula de
acordo com o tempo que lhe é dado. Se você for ficar com eles somente durante
as pregações, deve ter em torno de 40 min/1 hora. Se for durante a EBD, deve ser
entre 1h/1h30min.

Durante a chegada dos bebês, mantenha sempre um brinquedo à mão, para


“convencê-los” a separarem-se das mães e ficarem no berçário. Distraia-os com os
brinquedos um tempo e depois os coloque sentadinhos no tapete, sendo que os
que estiverem dormindo não devem ser acordados - não é necessário acordá-los
para aula, essa é uma idade em que eles precisam do sono. Deixe-os dormindo no
bercinho e quando acordarem junte-os aos outros nas atividades - não se esqueça
de sempre, sempre, assisti-los, ou seja, não os deixe no berço e foque nas outras
crianças, esquecendo-o ali! Crianças pequenas precisam de cuidado e observação
constantes.

Saiba que nessa idade, você não conseguirá fazer com que eles fiquem parados
para ouvir histórias ou cantar. Por isso, deixe que eles brinquem o tempo todo, e
durante os momentos todos (enquanto brincam, mamam, são trocados, ninados,
etc.) cante sempre corinhos, ore, conte uma história breve. Eles estão absorvendo
tudo, não se engane pensando que eles não vão entender nada.

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Novamente, nunca deixe qualquer bebê sozinho! Por isso, é necessário mais de
um educador nessa faixa etária (aliás, acho que o essencial é sempre ter mais de um
educador por sala, independente da faixa etária), para que nenhum bebê tenha
falta de atenção. Já vi acidentes acontecerem quando o educador vai trocar o bebê e
se vira por alguns segundos para pegar a fralda na bolsa! Tenha sempre tudo à mão
quando for trocá-los.

Na hora da despedida, entregue o bebê aos pais e relate tudo o que aconteceu - isso
demonstrará que a criança foi bem cuidada.

Lembrem-se sempre que nessa idade, o que eles mais precisam é de atenção e
cuidado. Por isso, descubra maneiras de introduzir a Palavra de Deus enquanto faz
as atividades rotineiras que um bebê necessita.

4-6 anos
A criança de 4 a 6 anos está em uma das fases mais ativas da vida, com uma energia
constante. Isso pode ser bem canalizado pelo professor, de forma a ajudá-la a se
acalmar e aprender; ou pode ser lidado de maneira imprópria, o que acarretará
em muita indisciplina e ações agressivas por parte do professor. Entretanto, não
confunda energia com falta de interesse: a criança dessa etapa é muito interessada
e consegue se concentrar bem, desde que entregue a uma atividade que a agrade e
atraia. Nessa faixa etária, a criança começa a ter um vocabulário mais complexo e
é necessário que os professores colaborem com isso, deixando-as falar e expressar
suas opiniões, sem reprimi-las demais. Esse é um momento de muitas dúvidas e dos
famosos “por quê?”. O professor precisa estar preparado para responder às questões
que elas levantarem, com paciência e sabedoria, mesmo que as mesmas pareçam
bobas ou provocativas. Os conceitos de Deus e pecado, por exemplo, podem ser
rejeitados ou questionados, e é preciso um espaço de respeito para que elas possam
se expressar e ter suas dúvidas sanadas, de acordo com a Palavra, sendo sempre
apontadas, com carinho, a Cristo.

Como ela aprende?


A criança de 4 a 6 anos está em um estágio pré-operacional de aprendizagem. Isso
significa que ela está em uma etapa em que a brincadeira é a forma mais eficiente de
aprendizagem. Essa criança já consegue sentar-se e concentrar-se em uma atividade
de aprendizado, mas a mesma precisa ser lúdica e interessante, senão a criança logo
a deixa. Por isso, no contexto de ministério infantil, é preciso sempre ter em mente

40
que a criança de 4 a 6 anos não ficará sentada muito tempo, ouvindo uma história
contada por um adulto, sem recursos visuais.

Infelizmente alguns voluntários que ensinam essa faixa etária se esquecem disso,
e pensam que essas crianças são como os pré-adolescentes, ensinando-as de forma
séria e contínua, sem nenhuma entonação marcante ou recurso visual expressivo.
Por isso vemos que as salas de 4 a 6 anos são “as mais agitadas”. As crianças dessa
idade não podem ficar sentadas e entediadas, ou elas realmente dispersarão. Cabe
aos professores manterem suas aulas interessantes e divertidas, e ainda assim
profundamente bíblicas.

Existem muitos materiais e recursos na internet que podem auxiliar o professor


dessa etapa a planejar aulas que sejam divertidas: recursos feitos de material
reciclado, teatros, fantoches, objetos usados para fazer barulhos e sons, ilustrações
com materiais sólidos, bonecos, músicas, vídeos, etc.

Imagens ilustradas até podem ser usadas, mas é preciso cuidado: a criança de 4 a 6
anos ainda aprende muito através do concreto. Por isso, se você mostrar a ela cinco
pedrinhas e um estilingue ela aprenderá muito melhor a lição de Davi e Golias
do que se você segurar um desenho na frente dela. Mantenha isso em mente e seja
dinâmico com seus materiais!

Como devem ser os educadores dessa etapa?


Muito criativos! É necessário muita criatividade e energia para entreter essa faixa
etária - como vimos, eles são fáceis de perder a atenção. Além disso, é preciso muito
“jogo de cintura” para saber lidar com os momentos de dispersão. Por exemplo:
se as crianças estão se “desligando”, o professor pode bater palmas e cantar uma
música rapidamente, e quando elas voltarem a atenção, voltar à história.

É preciso sensibilidade para aproveitar as respostas deles: essa é uma idade que
precisa da afirmação de suas ideias, então o professor precisa usar suas opiniões e
sugestões, sem ignorá-las de todo. Um exemplo: se no meio da história a criança
começa a contar um episódio aleatório de sua vida, o professor não precisa mandar
que ela se cale por completo, ele pode pegar o que ela falou e usar como ilustração
do que está sendo ensinado. É preciso também saber como cortar as “divagações”
delas, sempre com cuidado e carinho, mas também com firmeza. Não permita que
elas “tomem as rédeas” da aula, porque se você der espaço, elas com certeza o farão
(aliás, a partir dessa faixa etária até os pré-adolescentes, essa dica se faz válida...
Todos eles amam falar junto com a gente!).

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O educador dessa faixa etária também precisa de muita paciência - nessa fase
as crianças são muito egocêntricas e têm dificuldade de ter empatia. Por isso,
dificilmente conseguirão dividir bem brinquedos ou materiais, e constantemente
“baterão de frente” com os educadores (especialmente as crianças de 3 e 5 anos). É
preciso muita oração para que o Senhor te dê graça de lidar com esses problemas
com consistência e paciência, trazendo sempre o Evangelho às situações,
relembrando os pequenos que somos todos pecadores que precisam de Cristo.

Além disso, é necessário que o educador seja firme, sem ser rude. As crianças dessa
etapa serão muito difíceis em alguns momentos, e o professor precisa de firmeza
para lidar com a indisciplina delas. Só não deixe que a firmeza abafe a graça.
Busque ser como Jesus: manso e tranquilo, mas firme e zeloso. Quando elas forem
difíceis, seja firme. Mas, quando elas fizerem as coisas certas, não deixe de reforçar
essa atitude (veremos mais sobre os problemas de indisciplina no capítulo 8 desse
eBook).

Quais os principais cuidados que a criança dessa etapa necessita?


Ela precisa de atenção - essa é uma etapa de formação de consciência e
personalidade, por isso o professor precisa estar atento à forma como trata esses
pequenos. Eu gosto muito de uma frase que diz que a criança não se lembrará das
palavras ditas na sala de aula, mas sim dos sentimentos que ali vivenciou. Por isso,
mesmo que elas não se lembrem das histórias que você contou, elas se lembrarão
da forma como você as tratou, e isso pesará em seus corações - para o bem ou para
o mal. Trate-as com amor e carinho, e assim elas se lembrarão que seu professor do
ministério infantil foi como Jesus, e o amor dEle será mais real na vida delas.

A criança dessa faixa etária já é muito mais independente que os bebês da etapa
anterior. Mas, ainda assim, é preciso muita atenção: fique sempre de olho nos
momentos de atividades, para que elas não coloquem cola, giz, ou qualquer outra
coisa na boca. Elas também gostam de brincar com tesoura e cortar os cabelos uma
das outras (já vi acontecer! Fique atento...). Além disso, preste muita atenção nos
momentos de interação, porque a raiva que elas sentem geralmente se expressa em
mordidas ou arranhões, e cabe ao professor impedir que isso aconteça. Lembre-se:
enquanto elas estão em sua sala, a saúde e segurança delas são responsabilidade sua.

Como deve ser o ambiente da sala de aula?


A sala para as crianças de 4 a 6 anos não precisa de tantos cuidados específicos
quanto a sala dos bebês. Se for possível, o tapete ainda se faz necessário, porque

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impede que as crianças tenham contato direto com o chão frio e sujo. Esse tapete
pode ser normal, desde que bem higienizado, ou aqueles feitos de material EVA. A
necessidade da higiene ainda se faz presente: essas crianças brincam muito no chão
e ainda levam a mão à boca, então é necessário que os cuidados higiênicos sejam
observados.

Seria ideal que a sala fosse bastante colorida: desde os brinquedos dispostos e
as atividades propostas durante a aula, até às paredes (a não ser que você tenha
crianças com Necessidades Específicas em sua sala - ver capítulo 9). Caso não
seja financeiramente possível à sua igreja dispor de muitos brinquedos ou pintar
as paredes ou materiais, não se preocupe. Ore ao Senhor por possibilidades
alternativas, de maneira a criar um ambiente gostoso para que essas crianças se
sintam acolhidas, ainda que com poucos gastos. É possível usar materiais reciclados
para a confecção de brinquedos, ou até mesmo pedir aos membros da igreja que
doem os brinquedos menos utilizados de seus filhos. Quanto às paredes, alguns
cartazes bem desenhados, com cores e figuras, são suficientes para trazer cor à sala
de aula dessa faixa etária. Você pode até mesmo dar uma cartolina ou pedaço de
papel pardo (ou papel kraft) às próprias crianças e permitir que elas desenhem os
murais de sua sala. Além disso, pendure sempre que possível os trabalhos manuais
delas nas paredes - isso faz com que as crianças se sintam valorizadas, além de
deixar o ambiente muito mais bonito.

Como devem ser os momentos da aula?


A divisão de momentos da sua aula, como eu disse anteriormente, vai depender de
quanto tempo você tem com as crianças. Aqui vou deixar uma linha do tempo de
sugestão e, se você quiser, pode usá-la da maneira que melhor se encaixar em seu
planejamento:

1. Comece conversando - pergunte aos pequenos sobre sua semana, como foi e o
que fizeram. Só não abra muito espaço para a conversa porque eles se empolgam e
acabam contando da vida toda deles, dos pais, do cachorro e dos vizinhos. Limite
esse tempo a uns poucos minutos. De preferência sente em roda. Receba-os sempre
alegre e com um sorriso no rosto - isso faz muita diferença para eles.

2. Faça a chamada/veja quem decorou versículo/recolha a oferta/reconheça os


visitantes ou faça qualquer outra atividade mais rotineira (isso varia dependendo
de como funciona sua EBD, ou Culto Infantil, etc.).

3. Momento de louvor: é sempre preferível que as músicas cantadas tenham algum

43
tipo de conexão com a história que será apresentada. Isso facilita que as crianças
aprendam a lição ou moral daquela aula. Tenha empolgação: use gestos corporais
durante as músicas. Isso empolga e envolve as crianças e também ajuda a gastar um
pouquinho da energia delas...

Se quiser, e tiver tempo sobrando, faça uma “ginastiquinha” com elas em seguida,
especialmente com alongamento. Isso ajuda a acalmá-las depois das músicas, e
prepará-las para a oração e a lição.

Uma brincadeira que usávamos muito na escola em que eu trabalhava, para


acalmar, era o desafio do copo. Encha um copo com água (não muito) e diga às
crianças, bem baixinho para que elas prendam a atenção em você: “será que vocês
conseguem passar esse copo pela roda toda, sem derrubar nem uma gotinha de
água?”. E então, calmamente exemplifique como precisa ser feito: passe, muito
devagar, o copo da sua mão à mão da criança ao seu lado. Tenha o corpo muito
equilibrado e controlado. Elas vão imitar tudo o que você fizer, então faça bem
devagarinho e calmamente. Isso acalma a sala como um todo. Só tome cuidado e
seja prudente: se suas crianças são muito agitadas, pode demorar um pouco para
conseguirem cumprir esse desafio. Então, tente começar com um copo mais vazio
do que cheio... E nada de apressá-las! Deixe que levem quanto tempo precisar até
“aperfeiçoarem” a técnica.

4. Oração: nesse momento você pode orar por elas ou deixar que elas orem
sozinhas. Não peça que elas repitam o que você disser. A maneira das crianças
aprenderem a orar é escutando os adultos e aprendendo na Palavra, com exemplos.
Quando você fala e manda elas repetirem, você apenas está reforçando uma ideia
errada de que a oração é uma conversa vazia, que pode ser feita por qualquer um
e repetida por elas. As crianças precisam aprender que a oração é uma conversa
íntima e pessoal com Deus - somente elas podem fazer isso por elas mesmas.

Esse momento pode envolver pedidos de oração: é bom encorajá-las a


compartilhar suas alegrias e tristezas, e orar umas pelas outras. É bacana, também,
trazer uma lista dos missionários que sua igreja sustenta e orar por eles.

Não reprima a oração das crianças. A não ser que elas estejam zombando desse
momento, não há porque dizer “isso não pode”, “isso tá errado”. Caso elas estejam,
de fato, zombando na hora da oração, você deve parar a “oração” delas e naquele
mesmo momento explicar o que significa orar (falar com o Deus Todo-Poderoso),
e até mesmo dizer, de maneira que elas entendam, que de Deus não se zomba (cf.

44
Gl. 6:7).

E deixe que elas aprendam do seu exemplo - ore devagar e com palavras fáceis, que
elas entendam.

5. História: Como eu disse anteriormente, as histórias para essa faixa etária


precisam ser envolventes - de preferência com muito material visual e de toque.
Deixe as crianças experimentarem e deixe que elas participem ativamente da
história. Se você vai falar de pesca, peça que elas mostrem como fazemos com a
vara para pegar um peixe. Se for falar de leões, deixe elas imitarem o som que eles
fazem, etc. Em qualquer idade nós aprendemos melhor aquilo que fazemos do que
aquilo que escutamos, mas entre os 3-6 anos, isso se faz ainda mais essencial.

A atenção dessas crianças pode ficar em você por, no máximo 10 minutos, e isso
se sua história for muito interessante. Por isso, seja realista: prepare uma aula que
tenha somente 10 minutos de história/mensagem, e planeje o resto do tempo
com atividades rotineiras, lúdicas, manuais e musicais. Não tente prender crianças
pequenas com histórias longas ou perguntas sobre a história, por muito tempo.
Você ficará frustrado e elas inquietas.

O tempo de atenção, para atividades de aprendizagem, para cada idade, é


geralmente calculado da seguinte maneira: idade cronológica + 1. Então, as
crianças de 4 anos, por exemplo, conseguem focar a atenção por 5 minutos. Mas, é
sempre possível estender isso, se a atividade for prazerosa, e com muita oração.

6. Atividades manuais: uma revisão da lição, através de algum tipo de atividade


manual. Pode ser desenho, pintura, colagem, encenação, etc. Não tenha medo
de ser criativo. Crianças ficam um pouco entediadas quando, todo domingo,
oferecemos uma folha em branco para “desenho livre”. Permita, sim, que elas se
expressem livremente quanto ao que aprenderam, mas dê algumas delimitações
e direções - isso as ajuda, nessa faixa etária. Também seja cauteloso: se for propor
uma atividade com tinta, tenha certeza de que sua igreja dispõe de aventais
individuais. Geralmente os pais vestem as crianças com suas melhores roupas para
irem à Casa de Deus.

***

Os sub-capítulos “7-10 anos” e “11-13 anos” foram escritos com uma grande ajuda de
Thais Ferro e Gabriela Brito, voluntárias da Equipe Graça em Flor. Thais é formada

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em Pedagogia, pela Faculdade Anhanguera, e trabalha com educação infantil.
Gabriela é formada em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista UNESP e
na época em que esse eBook foi escrito fazia o curso de Evangelista no Instituto Bíblico
Eduardo Lane.

Toda a minha gratidão às duas pela colaboração maravilhosa a esse projeto. Deus as
recompense!

7-10 anos

Nessa faixa etária a criança começa a se utilizar da lógica, de maneira completa,


pela primeira vez. O pensamento deixa de ser dominado pelas percepções e
emoções e agora a criança é capaz de resolver problemas que existem no seu dia-
a-dia usando os exemplos que tem ao redor de si e das informações armazenadas
até ali em sua mente. Ocorre um declínio do egocentrismo e ela se torna capaz de
construir pensamentos que são mais compatíveis com o “mundo real”.

O real e o imaginário já não se misturam. Eles aprendem que podemos retornar


mentalmente ao ponto de partida, relembrando histórias e fatos com maior
facilidade, e isso nos ajuda no sentido das lições que contamos que agora eles têm
maior facilidade em lembrar.

Como ela aprende?


Diferente do que muitos acreditam, umas vez que essas crianças sejam maiores e
o raciocínio esteja mais aguçado, o lúdico e a imaginação não são mais a maneira
mais eficiente de se trabalhar. Agora essa criança foca em tudo o que é real,
concreto, no que tem lógica e motivos para ser ou existir. Isso as leva a serem mais
questionadoras e curiosas, tentando entender como funcionam as coisas, como
podemos reproduzir algo e finalmente os tão esperados “por quês”. É nessa fase
também que eles aprendem que apesar de errarmos, é possível retornar e tentar
novamente sem a necessidade de choro e birra.

Nesse sentido, a criança de 7 a 10 anos aprenderá com lições que incentivem


a curiosidade, e que não sejam muito focadas no imaginário, mas no real. Elas
também precisam que as aulas tenham bastante abertura para perguntas, já que
nessa fase muito do que elas aprendem vem pelas boas respostas às suas dúvidas.

Como devem ser os educadores dessa etapa?

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O primeiro ponto a se destacar é que todas as crianças aprendem por imitação,
como veremos melhor no próximo capítulo. É importante ter em mente, então,
que o professor dessa etapa deve ser dinâmico, entusiasta, realmente acreditando
no que está ensinando, para contagiar os alunos. Eles estão em busca de um
exemplo adulto e ainda se espelham em super-heróis ou figuras importantes para
eles. Seja essa pessoa aos seus alunos! 

Por conta das características da criança de 7 a 10 anos, é fundamental que o


professor dessa etapa opte por aulas nas quais as crianças possam fazer aplicações
diretas em suas vidas, preferencialmente fazendo o uso de materiais áudio-visuais,
para que a atenção dos alunos, seja redobrada.

Deve-se focar no trabalho de questões como arrependimento de pecados e


conversão já que eles compreendem de forma mais clara o “começar de novo”,
“tentar mais uma vez”, “não desistir”, “assumir seus erros” e já têm capacidade de se
colocar no lugar do outro (não que estes assuntos não necessitem ser tratados com
crianças menores, mas nessa idade deve ser redobrada a atenção para eles!).

Seguir sequências de histórias e cronologia são a melhor maneira para otimizar o


aprendizado, e garantir que esses pequenos compreendam a Bíblia como um livro
contínuo e com sentido.

Quais os principais cuidados que a criança dessa etapa necessita?


Diferente das crianças menores, os cuidados físicos diminuem bastante. Por outro
lado, os cuidados emocionais se multiplicam, já que agora essa criança aplica à sua
vida tudo o que aprende e coloca em prática tudo o que absorveu.

O professor deve ter uma sensibilidade (que devemos pedir muito ao Senhor) para
auxiliar estas crianças durante esse processo de mudanças, erros e acertos focando
no fato de que somos todos pecadores, mas temos Alguém que pode nos ajudar.

Como deve ser o ambiente da sala de aula?


A cada aula, prepare materiais que possam ser expostos e permanecer na sala por
algum tempo para fixação do conteúdo dado, como por exemplo mapas mentais
ou linhas do tempo que possam ter conexões com o dia-a-dia das crianças, para
que elas possam assimilar o conhecimento e conseguir os colocar em prática.

Recursos visuais são mais que bem vindos, mas não há necessidade de uma sala
tão colorida e com disposição de brinquedos, uma vez que elas são maiores. Tudo

47
agora torna-se mais prático e objetivo.

Como devem ser os momentos da aula?


A fase dos 7 aos 10 anos é uma das etapas nas quais as crianças mais querem
compartilhar acontecimentos diários e experiências cotidianas, então é positivo
que a aula se inicie com um resumo, bastante rápido, sobre a semana de cada um,
onde eles falem de um acontecimento que o marcou naquela semana, tanto bom,
quanto ruim. Tente pedir que cada criança compartilhe um acontecimento só, para
que seja mais rápido. Depois disso, busque fazer uma oração, aproveitando algum
pedido de oração que possa ter surgido nesse compartilhar.

Os louvores deixam de ser mais gesticulados e passam a ter recursos visuais


diferenciados, como cartazes que somente tenham a letra escrita da música,
ou talvez uma ou outra ilustração. O uso de instrumentos musicais é bem
interessante já que essa faixa etária se interessa muito por coisas novas e recursos
complementares, além de deixar o momento dos cânticos mais gostoso!

O momento da história deve ser lido primeiramente na Bíblia - inicialmente pelo


professor, mas também possivelmente pelos pequenos. Antes que o professor
explique a leitura feita, ele deve perguntar aos alunos o que eles entenderam e o
que podemos aprender com aquela passagem. Baseado, então, nas respostas, o
professor pode explanar a aula, sempre interagindo com os alunos (mas sem deixar
que eles tomem conta da discussão, dispersando-a).

Caso os alunos não compreendam a passagem e não sejam capazes de, depois
da leitura, explicá-la, o professor deve ler apresentando o texto com palavras e
sinônimos que os alunos conheçam. Entretanto é bem raro que os alunos não
compreendam nada de um texto, geralmente eles terão algo a acrescentar.

É importante que o professor não faça apenas uma aula expositiva, mas
que ele incentive a mente das crianças a refletir sobre o assunto. Por isso,
preferencialmente use histórias para fazer aplicação prática.

Já que essas crianças são alfabetizadas, o desafio das atividades deve ser maior,
com perguntas que exijam respostas dissertativas, ligar uma opção à outra e
atividades de memorização! O professor deve propor desafios que os façam pensar,
relacionando a passagem bíblica ao cotidiano deles sempre que possível.

Para encerrar é válido fazer outra oração, diferente da primeira, que pode ser

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um pouco mais longa, lembrando os alunos sempre de como devemos orar -
engrandecendo a Deus, agradecendo, pedindo perdão pelos pecados, e orando
pelo próximo.

Após as aulas, é sempre bom fazer uma rápida revisão do conteúdo aprendido.

11-13 anos

Nessa faixa etária temos não mais crianças, por assim dizer, mas pré-adolescentes.
Muitas igrejas não focam seu ministério infantil nessa faixa etária, mas algumas
o fazem, especialmente com projetos comunitários ou extra-curriculares, como
atividades esportivas, por exemplo.

Se sua igreja não tem essa faixa etária no ministério infantil eu te desafio a começar
a olhar para eles. Os pré-adolescentes estão às portas de uma das fases mais
complicadas da vida, onde muitas decisões serão feitas. Esses pequenos precisam
muito da influência positiva de líderes espirituais.

Uma das formas mais eficazes de envolver os pré-adolescentes no ministério


infantil é permitindo que eles sejam professores assistentes nas salas com crianças
menores, especialmente no maternal e pré-escola. Eles se sentirão valorizados,
verão que confiamos neles e em sua capacidade e, o mais importante, começarão a
entender o privilégio que é servir a Igreja de Cristo.

Mas caso sua igreja os envolva como estudantes do ministério infantil, seja em qual
frente for - desde a EBD até ministérios esportivos - seguem dicas de como ensiná-
los.

Como ela aprende?


Os pré-adolescentes constroem linhas de raciocínio sozinhos, baseados no que
aprenderam através da vivência com adultos e também através do que aprendem
uns com os outros. Questões abstratas começam a ser compreendidas mais
facilmente e eles são capazes de ver pela perspectiva do outro, conseguindo
imaginar situações narradas por outros. Nessa etapa eles passam por grandes
transformações mentais e principalmente físicas.

Como devem ser os educadores dessa etapa?


Os educadores dessa etapa devem ser muito bem preparados para saber responder

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a questionamentos mais profundos e muitas vezes imprevistos. Crianças dessa
idade estão passando por diversas transformações, fazendo com que questionem
com certa frequência qual a razão ou objetivo de determinadas regras, instruções
ou acontecimentos, o que exige que o professor seja firme e direto em seus
ensinamentos.

É bom que o professor também saiba qual “linguajar” usar com estes alunos, já que
não são nem crianças nem jovens. É preciso que o educador não se utilize de um
vocabulário infantil demais, nem adulto demais.

É muito importante também que o professor esteja atento aos assuntos pertinentes
a essa faixa etária, como bullying, suicídio e sexualidade, trazendo-os para a
sala de aula, mostrando como o Evangelho se aplica a esses temas. É de extrema
importância que o educador dessa etapa seja guiado de perto pelos pastores da
igreja, uma vez que deverá tratar de assuntos mais complicados e delicados.

Quais os principais cuidados que a criança dessa etapa necessita?


Os cuidados nessa idade voltam a ser físicos, ainda que indiretamente - as
mudanças que ocorrem no corpo assustam muito algumas crianças. Acompanhá-
los nesse processo é muito importante já que normalmente eles estão perdidos sem
saber como agir e alguns pais não fazem o acompanhamento devido (outros nem
mesmo têm pais para os acompanharem, infelizmente). Essas mudanças devem
ser tratadas de forma bíblica e saudável, e claro, sempre por educadores do mesmo
sexo que as crianças (mulheres com meninas, e homens com meninos). Além disso,
o acompanhamento e cuidado espiritual devem ser redobrados já que os desafios
diários na vida deles aumentam.

Como deve ser o ambiente da sala de aula?


Nessa idade não há mais necessidade de salas de aula coloridas e enfeitadas, já que
eles não se consideram mais como crianças. É interessante que seja um ambiente
com menos recursos visuais e mais materiais  que possam ajudá-los, de fato,
durante as aulas. Por exemplo, caso o professor esteja estudando a vida de Paulo,
seria interessante disponibilizar na sala um mapa onde mostre a trajetória das
viagens do apóstolo.

Se possível, seria ótimo que a sala tivesse armários ou prateleiras onde os alunos
possam ter acesso a seus materiais e também a livros diversos, de preferência não
muito grossos, para que possam ter o hábito de fazer leitura tanto da Bíblia quanto
de outros livros, entendendo melhor como funcionam os estudos.

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Como devem ser os momentos da aula?
O momento da oração é indispensável em qualquer faixa etária e nesta não é
diferente. Trabalhe com eles a importância de interceder um pelo outro. Crie
cronogramas de oração tanto para sala de aula, quanto para casa. Exemplos de
temas a serem lembrados em oração são: as famílias da igreja, viúvas da igreja,
países perseguidos, irmãos que necessitam de emprego, pessoas doentes, amigos
com problemas, etc. Estimule-os a colocar em prática tudo o que já aprenderam
sobre oração.

A história não necessita de recursos visuais e os trechos lidos podem ser maiores.
Faça um cronograma mensal e compartilhe com eles para que a leitura da passagem
bíblica possa ser antecipada, fazendo com que eles já tenham refletido sobre a
passagem em casa e também cheguem na sala com dúvidas e comentários.

Essa é uma boa idade para ensinar também para além do texto bíblico. É possível
adicionar à programação de aulas estudos sobre os catecismos, por exemplo, ou
sobre os grandes missionários e pregadores da história do Cristianismo.

As atividades pós-lição evoluem mais no quesito de dificuldade, e agora os alunos


podem escrever mais, desenvolvendo pensamentos sobre determinados assuntos. É
interessante que além da atividade de sala, eles possam levar para casa atividades a
serem desenvolvidas durante a semana, tanto para relembrar a aula anterior, quanto
para introduzir a próxima aula.

O professor precisa fazer com que o aprendizado esteja para além da sala de aula!
É preciso ensinar os alunos empatia tanto através da oração, quanto através do
contato direto. Essa é uma faixa etária muito boa para visitar irmãos idosos que são
mais solitários, por exemplo. O serviço é uma excelente maneira de aprender que
estes irmãos normalmente têm muito a nos ensinar, começando a influenciá-los
quanto à humildade e o respeito aos mais velhos. A empatia deve ser sinônimo de
cristão e por que não começar o quanto antes, enquanto pré-adolescentes?

Observações extras

Segue uma lista de sugestões práticas gerais para o trato com crianças de qualquer
faixa etária:

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• Sempre que for falar com uma criança, agache-se e fique na mesma altura que ela.
Isso mostra respeito e interesse ao que ela tem a dizer.

• Autoridade é um conceito bíblico e, na sala de aula do ministério infantil, a


autoridade é você. Tenha isso em mente enquanto ensina. Não permita que
as crianças tomem conta da situação. Se elas se descontrolarem, você precisa
permanecer controlado. Se elas gritarem, você precisa continuar com tom de
voz baixo. Se elas espernearem, você precisa se manter calmo. Lembre-se do
exemplo de Cristo que mesmo quando precisava ser firme, fazia-o em amor e em
preocupação pelas almas que O ouviam.

• Nunca grite, a não ser em caso de incêndio. Se precisa chamar uma criança, e ela
estiver do outro lado da sala, dirija-se a ela, não grite seu nome. E lembre-se da
observação anterior: mantenha a postura de autoridade. Isso envolve não gritar.

• Geralmente as crianças falarão em um tom de voz mais alto que o nosso. Por isso,
quando quiser silêncio ou que elas falem mais baixo, reduza seu tom de voz a um
som bem baixinho. Elas ainda falarão mais alto que você, mas a voz delas ficará
mais baixa conforme você reduz a sua. Se você falar alto, elas gritarão.

• Não tenha medo de sentar no chão, e de preferência em círculo! Crianças amam


e isso não só as aproxima de você e umas das outras, reforçando a afeição, como
facilita o foco delas em você (e facilita o controle, pois todas estão no seu campo
de visão).

• Reforce noções de educação. “Por favor”, “Obrigado”, “Desculpa”, “Com licença”,


são palavras que devem ser usadas e reforçadas nas salas do ministério infantil
(especialmente pelos professores).

• Seu emocional precisa estar sempre equilibrado na presença de crianças. Não


importa se você teve o pior ou melhor dia da sua vida. Sua relação e atitude
quanto a elas deve ser equilibrada: nem muito empolgada, nem triste e
“carrancuda”. Peça ao Senhor a capacidade e graça de fazer isso, especialmente
nos dias difíceis. As crianças sentem nossa tristeza e mau-humor, e são afetadas
por eles.

• Fique atento à necessidade de banheiro! E isso especialmente para as crianças


de 2-5 anos. Muitas delas ainda não estão muito seguras para avisar quando
precisam usar o banheiro, e por vezes não querem ir se estiverem muito focadas
na brincadeira. Por isso, caso seu tempo com elas seja de uma hora ou mais,
na metade da aula lembre todas as crianças da necessidade de ir ao banheiro,
e conduza as que tiverem vontade até lá (se elas tiverem 2, 3 anos, talvez

52
seja necessário colocá-las sentadinhas no vaso sanitário, mesmo que digam
não precisar - elas acabam usando). E fique de olho quando elas “dançarem”
enquanto estiverem fazendo alguma atividade, mexendo de um lado pro outro.
Sempre pergunte: você precisa usar o banheiro? Lembre-se que elas dificilmente
tomarão a iniciativa de te falar quando precisarem.

• Conheça as regras de segurança que sua igreja mantém em relação a ida ao


banheiro. Pode ser que alguns pais prefiram que você os chame caso seus filhos
precisem usar o banheiro. Pode ser também que sua igreja tenha uma regra onde
dois adultos precisem ir juntos com as crianças, nunca um só. E pode ser que sua
igreja não tenha nenhuma regra para isso - nesse caso, sente-se com a liderança de
sua igreja e pensem juntos em uma política de banheiro que assegure a proteção
dos pequenos.

53
Capítulo 6

A responsabilidade do professor em
ser um exemplo
Quando eu trabalhei em uma escola secular, meu maior desafio era ser um exemplo
daquilo que eu tentava passar aos alunos. Eu me lembro de um dia em que estava
com bastante pressa, tentando ser malabarista, cumprindo várias tarefas de uma
vez, e em meio a tudo isso uma pequena derrubou suco no chão. Eu nem pensei
duas vezes - peguei o pano que estava junto à porta, coloquei embaixo do meu pé e
limpei em cinco segundos a bagunça, mandando que ela fosse fazer uma atividade
longe do chão molhado.

O problema é que tínhamos uma regra na sala que as crianças é que deveriam
limpar qualquer sujeira que criassem, e isso sozinhas. Elas eram proibidas de usar
os pés, porque queríamos que aprendessem a fazer o trabalho bem feito, usando as
mãos e treinando suas habilidades motoras. Como você pode imaginar, isso sempre
demorava muito tempo, e requeria que as professoras acompanhassem o processo
de perto para que a limpeza não acabasse virando caos (imagine um monte de
crianças jogando água e sabão umas nas outras…). Por isso naquele dia, como eu
estava com muita pressa, acabei burlando a regra.

Bom, como é de se prever, alguns dias depois dessa situação, eu vi uma criança que,
depois de derrubar iogurte no chão, apressadamente jogou o pano para debaixo
dos pés e em três segundos “limpou” sua sujeira. Nem preciso dizer que a mistura
de terra da sola de seu sapato com a água do pano e o iogurte fez uma meleca
horrorosa.

Mas, com que autoridade eu poderia ir àquela criança e exigir que ela voltasse e
limpasse direito? Afinal de contas, ela simplesmente imitou exatamente o que viu
sua professora, seu exemplo, fazer. Ao invés de reprimi-la eu deveria é parabenizá-la
por tão perfeita imitação!

Sensor de hipocrisia

Se você tem contato com crianças em sua vida, com certeza já percebeu duas coisas
a respeito delas: primeiro, elas imitam tudo o que veem; e segundo, elas percebem

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hipocrisia. Vou tratar mais sobre o primeiro ponto mais para frente, mas por agora
quero falar desse quase sensor-de-hipocrisia-e-falsidade que elas têm.

Se você chegar em sua sala de aula e tentar passar uma lição que você mal estudou
e para a qual não se preparou, pode ter certeza que as crianças não só perceberão,
como responderão com desinteresse e possivelmente indisciplina (que muitas vezes
é uma consequência natural do desinteresse). Crianças são sensíveis à hipocrisia.
Se você diz a ela “não faça x!”, mas aquilo é algo que você mesmo pratica com
frequência, ela vai ser a primeira pessoa a te lembrar disso.

Por isso, não tente esconder-se por trás de uma máscara de perfeição enquanto
ensina. Deus não nos chamou à falsidade, mas à verdade (cf. Ef. 4:25).

Mentes absorventes

A médica italiana Maria Montessori, conhecida pelo método Montessori de


educação, disse que as crianças têm mentes absorventes, ou seja, tudo aquilo que
elas veem, ouvem, sentem, cheiram, experimentam, elas interiorizam. Isso significa
que elas são como esponjinhas que vão absorvendo tudo ao seu redor, tanto as
coisas boas quanto as ruins.

Você já deve ter percebido isso em crianças de 3 anos que chegam da escola
dizendo algum palavrão porque ouviu um coleguinha dizer (e o coleguinha
possivelmente ouviu do irmão mais velho). Basta que falemos uma palavra torpe
uma vez e nossos pequenos estarão repetindo por semanas.

Isso acontece especialmente para que o processo de humanização se concretize.


As crianças precisam copiar o que os adultos fazem para que pouco a pouco
compreendam o que é ser humano - como andar, falar, se expressar e praticar
atividades básicas de nosso cotidiano. Crianças copiarão, então, as autoridades
e os adultos à sua volta, que geralmente são não só os pais, mas os parentes mais
próximos, professores escolares e, no caso das crianças cristãs, seus professores e
líderes da igreja.

Releituras falhas de Da Vinci

É natural que essa mente absorvente e a necessidade que as crianças têm de um


exemplo nos preocupe, e isso porque nós temos consciência do quanto somos

55
falhos. Eu sei que sou uma pecadora que cai e erra, por isso meu desejo natural
é que ninguém olhe para mim como exemplo, porque sei que seria hipócrita
se tentasse passar uma imagem de perfeição. Entretanto, o que nós precisamos
entender é que não somos o exemplo final, ou principal, que nossos alunos têm.
Nós somos, na verdade, apenas uma réplica, um espelho.

Imagine um pintor iniciante que decide fazer uma réplica de uma obra de Da
Vinci. É de se esperar que a cópia não seja perfeita, longe disso. Provavelmente
pouco se parecerá com o original. Mas, se com o tempo, conforme esse pintor
cresce em suas habilidades, ele resolve fazer outra cópia, essa segunda com certeza
sairá muito mais parecida com o original, ainda que não seja perfeita.

Assim somos nós. Jesus não nos chama à perfeição, mas sim a copiá-lo e a seguir
nos Seus passos (cf. 1 Jo. 2:6). Isso significa que nós apenas tentaremos, dia após
dia, melhorar nosso reflexo do Cristo, e ser mais como Ele é.

Podemos sentir paz em saber que quando nossas crianças nos copiam e olham para
nós como exemplos, elas estão na verdade olhando para pessoas falhas, que caem e
erram, mas que tentam viver como Cristo viveu. E esse é o maior e melhor exemplo
que podemos dar a elas.

O mais importante exemplo que podemos dar às nossas


crianças

A Bíblia traz vários comandos para que os crentes sejam exemplos, especialmente
aqueles em papéis de liderança (ex. 1 Tm. 4:12; 1 Pe. 5:15). Entretanto, Deus sabe
que somos extremamente falhos. E é por isso que o exemplo mais importante que
você dará às suas crianças não é de alguém que nunca erra, mas de alguém que erra
e cai, mas que nunca fica caído. De alguém que quando peca, confessa seu erro a
Deus, pede perdão a quem foi atingido, e muda suas atitudes, fazendo isso até que
chegue aos céus, onde finalmente alcançará a perfeição.

Uma das piores coisas que você pode fazer por seus alunos é ser arrogante o
suficiente para nunca confessar seus erros. Me deixa repetir isso, porque é algo que
eu realmente quero que você leve dessa leitura: uma das decisões mais prejudiciais
que você pode tomar como professor é evitar mostrar suas fraquezas aos seus
alunos, e encobri-las, fingindo perfeição.

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E sabe por quê? Não só porque crianças percebem hipocrisia, como eu disse
anteriormente, mas porque elas precisam de alguém que mostre que errar é
humano, e que elas não são menos aceitáveis ou amadas porque erram. Elas
precisam aprender graça, afinal de contas foi isso que Deus nos mostrou.

Imagine o quão marcante é às crianças quando seus professores chegam a elas e


dizem “queridos, eu queria confessar para vocês que semana passada eu fiquei
sem paciência e acabei falando alto com vocês. Eu não deveria ter feito isso, me
desculpem”. Quantas vezes crianças veem isso acontecer? É tão comum vermos
adultos apontando vez após vez, sem deixar escapar nada, os erros dos seus filhos
e alunos, mas tão incomum vermos adultos assumindo às crianças seus próprios
erros.

Como Cristo

Como eu disse anteriormente, podemos ser exemplos não porque somos perfeitos
- longe disso - mas porque estamos vivendo como espelhos de Cristo, e apontando
os pequenos a serem assim também. Gosto da passagem de 1 Coríntios 11:1 onde
o apóstolo Paulo diz, “Tornem-se meus imitadores”, e segue não com “porque eu
sou perfeito e tenho vivido de forma inculpável perante vocês” ou “porque eu sou
o mestre/adulto/autoridade aqui e vocês precisam me imitar”. Mas ele seguiu esse
comando com a humilde e encorajadora frase “como eu o sou de Cristo”. É isso. As
crianças podem e devem nos imitar, desde que nós estejamos nos esforçando para
imitarmos a Cristo.

O nosso maior objetivo é poder chegar ao ponto de dizermos às nossas crianças


do ministério infantil aquilo que Paulo disse aos Filipenses: “Tudo o que vocês
aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim, ponham-no em prática” (4:9).

Será que se você for sincero consigo mesmo, você poderia dizer as mesmas palavras
aos seus alunos? Você quer que eles pratiquem tudo o que tem visto você fazer,
ouvido você dizer, e observado você vivendo?

Queridos, não somos chamados à perfeição. Mas como professores temos uma
grande responsabilidade dada por Deus de sermos exemplos. Leve esse chamado
a sério. Seja um cristão autêntico, e não hipócrita, e viva o que prega e ensina. E o
Senhor será glorificado em nós assim!

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Capítulo 7
Conhecendo suas ovelhas
Há muitos anos, quando eu ainda começava no ministério infantil, o Senhor abriu
meus olhos para um versículo especial que desde então mantive comigo, em meu
coração:

“Procura conhecer o estado das tuas ovelhas e cuida dos teus rebanhos.” Provérbios
27:23

Você já conheceu um pastor na vida real? Não um pastor de igreja, um pastor


literal mesmo, de animais? É incrível como esse serviço é uma analogia quase que
perfeita de Cristo, e também de todos aqueles que querem ser líderes em qualquer
esfera.

O pastor tem duas tarefas principais: cuidado e proteção das ovelhas. Ele cuida de
suas ovelhas quando está perto delas, se preocupando com suas vidas, tendo certeza
que elas estão saudáveis, que têm alimento suficiente e que estão crescendo bem.
E ele protege suas ovelhas não somente quando afasta predadores, mas também
quando as corrige, não permitindo que elas machuquem a si mesmas ou a outras
ovelhas do mesmo rebanho.

Esse versículo de Provérbios me ensinou que aqueles pequeninos que o Senhor


coloca sob minha responsabilidade nas poucas horas do ministério infantil são as
ovelhinhas que Ele me confiou, e é de tremenda importância que eu cuide delas e
as proteja.

Mas para poder proteger nossas ovelhas, e cuidar delas, é preciso que de fato as
conheçamos. É impossível ser um bom pastor, que cumpre seu papel, se nem
sequer conhecemos nossas ovelhas. Se pensarmos no tempo que passamos
com esses pequenos é realmente muito pouco, uma ou duas horas por semana,
geralmente. Por isso, é importante que sejamos realmente intencionais em tentar
conhecer nossas ovelhas no ministério infantil.

Por que conhecer minhas ovelhas?

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A importância de conhecer seus alunos não é expressa somente na Bíblia, como
já vimos, mas é uma importância até mesmo pedagógica. Quando você conhece
profundamente cada uma de suas crianças, você sabe o que cada uma já sabe,
o que não compreendeu ainda, qual gosta de qual brinquedo, quais crianças
brincam juntas, quais têm uma maior tendência em brigar, quais são mais sensíveis
e choram, o que funciona na hora da disciplina, etc. Com esse conhecimento é
possível planejar melhor suas aulas e suas poucas horas com seus alunos.

Pense assim: se você conhece bem seus pequenos e sabe quais crianças têm mais
dificuldades em compartilhar brinquedos, por exemplo, você terá mais facilidade
em antecipar o problema antes que ele aconteça, e poderá ajudar essa criança com
essa dificuldade. Ou se sabe quais crianças têm problemas em casa, com pais que
são mais duros ou desinteressados, é mais fácil mostrar compaixão e graça quando
elas tiverem momentos difíceis na aula. Conhecimento gera interesse, compaixão,
e claro, ensino eficaz.

Como conhecer minhas ovelhas?

Para conseguir conhecer seus pequenos só existe um “método” que eu comprovei


ser eficiente: o método da observação. Quando cientistas querem entender
algum processo biológico em alguma planta, por exemplo, eles se dispõem a
pacientemente observar aquela planta por dias e dias, vendo como ela reage a
diferentes situações e ambientes.

Assim também precisamos ser intencionais em observar nossas crianças durante


os momentos que temos junto a elas. Somos como cientistas tentando conhecer
as ovelhas que temos, compreendendo quem elas são, e quais características e
traços peculiares fazem delas únicas. A Maria sempre chora quando chega e sente
saudades da mãe, o João é mais emotivo e precisa de companhia, a Júlia é mais
inquieta na hora da história, a Camila gosta de ajudar os professores, etc. Nossas
ovelhas foram formadas a dedo por um Deus extremamente criativo que deu a
cada uma delas traços peculiares, e cabe a nós, pastores, conhecermos quais são
essas peculiaridades e como podemos usá-las a favor da aprendizagem.

Quando eu trabalhava em uma escola que seguia o método da observação


(conhecido como Pedagogia Científica, da teórica Maria Montessori), usávamos
uma planilha. É algo muito simples de se fazer e acho muito válido que todos
os professores do ministério infantil, em qualquer frente, compreendam a

59
importância de fazer esse registro com consistência.

A planilha serve como uma espécie de registro contínuo do desenvolvimento e


envolvimento das crianças. Ao final de cada aula, tiramos uns dez minutinhos,
pode ser ali na sala mesmo, e escrevemos coisas que percebemos em cada criança
naquele dia. Segue um exemplo:

Maria (3 anos) João (3 anos e 4 meses) Júlia (2 anos)


12/04: Hoje Maria chegou chorando 12/04: Hoje João brincou correta- 12/04: Durante a história Júlia ficou
e levou alguns minutos para parar. mente com os colegas, não pegando tentando voltar aos brinquedos,
Chamava a mãe. Depois de um os brinquedos de ninguém. Ao atrapalhando a atenção dos outros
tempo, chamamos ela para brincar na finalzinho da aula tentou incomodar colegas.
roda e ela parou de chorar. Na hora da um colega, mas assim que chamamos
história ficou quietinha e respondeu sua atenção ele se acalmou. Prestou
às perguntas ao final, parecendo com- atenção à história, mas teve difi-
preender bem o que foi ensinado. culdades em responder a perguntas
sobre ela.

Criança 4 Criança 5 Criança 6

O objetivo dessas anotações não é de forma robótica escrever o que vemos, mas
sim criar um hábito de conhecer nossos pequenos e observar com intencionalidade
quem eles são, e como podemos ajudá-los a serem mais como Cristo, o que é,
afinal, nosso papel como professores do ministério infantil.

Esse registro semanal consistente nos permite planejar as aulas ao redor das
peculiaridades de cada aluno. Por exemplo, saber que o João tem a tendência de
pegar os brinquedos dos outros me ajuda a sempre estar atenta a ele no sentido de
prever o que vai acontecer, e evitar o incidente antes que ele ocorra.

Cuidado com os rótulos

É importante, entretanto, entender que o objetivo da observação não é de


maneira nenhuma que você rotule seus pequenos. Não queremos escrever: “João,
bagunceiro”, “Maria, chorona”. Devemos nos lembrar que o Senhor nos fez
diferentes e isso é resultado de Sua maravilhosa criatividade. Dessa forma, algumas
crianças serão mais quietas, outras mais agitadas, outras mostrarão mais interesse

60
na história e outras no momento de desenhos.

Precisamos também ter em mente que o pecado surgirá diferentemente em todas


as crianças: algumas serão briguentas, outras gritarão quando não conseguirem
o que querem, outras vão morder, etc. É necessário que tenhamos sempre uma
palavrinha mágica em nossas mentes quando formos lidar com os pequenos: graça.
Assim como Deus tem paciência com nossos erros, tenhamos também com os
deles.

É maravilhoso notarmos também, através dessas anotações, o crescimento


espiritual de nossas ovelhas, vendo que no começo do ano Maria tinha tendência
ao egoísmo, e ao final do ano parece ter mais facilidade em compartilhar
brinquedos. Assim como um diário espiritual que nos permite ver nosso próprio
crescimento, esse registro nos ajuda a ver o amadurecimento de nossas ovelhas.

Uma última observação quanto ao registro é que ele deve ser privado e com
objetivo educativo. Evite compartilhar essas anotações com os pais, mas apenas
conte a eles sobre problemas disciplinares grandes ou, com alegria, compartilhe
sobre as áreas em que as crianças têm crescido e amadurecido. Cuidado também
para que esse registro não vire uma forma de fofoca entre você e outros professores,
quando compartilharem suas anotações uns com os outros - lembre-se sempre que
o objetivo é a edificação e conhecimento dos pequenos, nunca a rotulação e crítica
gratuita.

Conheça para além das paredes da igreja

Eu não sei qual a realidade das crianças que você tem servido no ministério
infantil, mas existem algumas crianças que vão à igreja sem seus pais, ou cujos pais
estão afastados do convívio da igreja. É preciso que conheçamos essa realidade dos
nossos alunos: qual a vida deles fora da igreja? Como são suas famílias? Eles têm
irmãos? Já estão na escola? Algum deles é filho adotivo? Têm algum problema
sério de saúde? etc.

É extremamente importante conhecer suas ovelhas para além das paredes da


igreja. Saiba a realidade deles e tenha a delicadeza necessária para lidar com essa
realidade. Por vezes você terá crianças em situações difíceis, e é preciso muita
sabedoria e sensibilidade para lidar com esses problemas, sabendo encontrar
o equilíbrio entre a ajuda e a intromissão. Precisamos lembrar sempre que não

61
somos os salvadores de nossas ovelhas. Apenas Cristo salva, tanto a alma quanto o
corpo. Se você tem pequenas ovelhas que vivem em situações de risco ou carência,
se envolva sim, ajude sim, e procure direcioná-las a órgãos governamentais que
possam ajudar também. Mas saiba seus limites. Coloque esse pequeno diante do
Senhor reconhecendo que, por mais que você se esforce em ajudar, só Ele pode
de fato salvar essa vida, seja do que for - pais abusivos, pobreza, dificuldades e,
principalmente, do inferno.

Se os pais de seus alunos forem participantes da igreja, mantenha contato e tente


fazer bom uso desse relacionamento com eles. Incentive a boa comunicação entre
vocês, e ofereça para tê-los por perto, seja saindo juntos para um jantar ou passeio,
seja os recebendo em sua própria casa para um café. Mostre a esses pais que você
ama seus filhos, e quer dar seu melhor para vê-los crescer em amor ao Senhor. Seja
sempre, também, amigável na entrada e saída das aulas, conversando com os pais e
responsáveis, e mostrando interesse em suas vidas.

Como vimos, é de importância vital que conheçamos o estado de nossas ovelhas


e que saibamos como elas são e estão. Devemos carregá-las em nosso coração
e lembrar delas em nossas orações, clamando ao Bom Pastor que nos ajude a
pastoreá-las de forma eficaz, para que cresçam no conhecimento de Cristo.

62
Capítulo 8

Por amor e em amor - sobre a


disciplina
Um dos grandes desafios do ministério infantil, e de qualquer trabalho com
crianças na verdade, é a indisciplina. É difícil, e pode ser desanimador, se encontrar
frente a frente com um pequeno que, gritando, te diz que não vai fazer o que você
pediu. Por saber que vamos, uma hora ou outra, ter que lidar com a indisciplina em
nossas aulas do ministério infantil que escrevi esse capítulo, na esperança de te dar
um um pouco de refrigério quanto a essa parte tão desanimadora do serviço com
crianças.

Eu quero começar te contando sobre duas crianças queridas da minha vida que me
ensinaram bastante sobre como corrigir os pequenos.

Eu tenho uma “sobrinha” (filha de uma prima) chamada Victoria, de 3 anos de


idade. Desde que nasceu, a Vic é a criança mais preciosa do mundo para mim. Ela é
muito amada por todos ao seu redor e desde que chegou ao mundo é mimada com
ternura por todos os seus parentes e amigos.

Apesar de ser uma criança doce e amável na maior parte do tempo, como qualquer
outro pequeno por vezes a Vic dá trabalho. Ela sabe ser insistente quando quer
alguma coisa. De vez em quando faz manha, ou chora porque não consegue o que
quer.

Se algum dia desses enquanto a Vic resolvesse fazer manha eu dissesse “você quer
um abraço?” as coisas iriam piorar, você não acha? Ela iria achar que eu estou
concordando com seu comportamento errado e até mesmo recompensando-o com
o abraço.

Mas deixa eu te contar também sobre outra criança.

Quando eu dava aula em uma pré-escola eu tinha um aluno de também 3 anos,


o W., que era uma criança muito carinhosa. Ele gostava de abraçar e se algum dia
eu chegasse e não o cumprimentasse, ele ficava chateado. Mas frequentemente,

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mais do que gostaríamos, W. tinha momentos de raiva onde jogava objetos nas
professoras e batia nos colegas. Isso acontecia quando ele era contrariado. Mas
acontecia com mais frequência, e intensidade, quando ele era desprezado. Por
causa desse temperamento de W. as crianças gostavam de desprezá-lo e dificilmente
o chamavam para brincadeiras. Isso criava um ciclo: ele era agressivo, elas o
evitavam, ele era mais agressivo.

Certo dia fiquei sabendo que os pais de W. estavam passando por um processo
de divórcio e que por trabalharem muito, ele ficava com o avô. Chegou ao nosso
conhecimento, também, que seus pais brigavam bastante um com o outro antes
de decidirem pelo divórcio. Com isso, eu pensei ter encontrado a justificativa do
comportamento dessa criança - ele queria, e precisava de atenção. E era fato: seus
ataques de raiva apareciam com mais frequência quando ele se sentia desprezado,
abandonado e ignorado - um reflexo do que ele sentia em casa.

Um dia W. teve um ataque tão forte de raiva que jogou uma mesa para cima de
mim. Naquele dia senti que devia agir diferente. Senti que devia tentar mostrar
amor e não braveza, e isso porque eu conhecia esse pequeno por nossa vivência de
meses (conforme vimos no capítulo anterior). Perguntei a W., “você precisa de um
abraço?”; ele disse que sim, nos abraçamos e ele, chorando, se acalmou. Nunca me
esqueci desse dia.

A raiz das atitudes de W. são as mesmas das atitudes de Victoria, mas a forma
como eu reagi a eles foi diferente. Apesar de saber que ambos são pecadores que
precisam de salvação e graça, eu sei também que Victoria reage à disciplina de
forma diferente de W., na maioria das vezes.

Cada criança é única, e precisamos entender que tipo de atitude corretiva funciona
melhor a cada uma.

O pecado na criança e a autoridade do professor

Eu acredito que a raiz de qualquer indisciplina nas crianças nada mais é do que o
pecado, como já disse. O Salmo 58 nos mostra isso ao dizer que já nascemos em
pecado - todos nós, sem exceção. As crianças já nascem pecadoras, e não é preciso
muita observação para constatarmos que isso é verdade: elas choram quando
contrariadas, jogam coisas umas nas outras, mordem de raiva, puxam o cabelo, são
egoístas com seus brinquedos, etc., e tudo isso antes de uma idade em que tenham,

64
de fato, consciência moral.

A Bíblia é muito clara quanto a essa questão: a criança precisa ser disciplinada por
causa do pecado que nela habita, e não só isso, ela precisa ser disciplinada pelos
pais. Assim como vimos que é dos pais o dever de ensiná-las, é também deles o
dever de discipliná-las, e podemos ver isso em versículos como Provérbios 22:13,
23:14-15, e Efésios 6:4.

Entretanto, uma vez que a criança estiver dentro de nossas salas de aula, nós somos
a autoridade sobre ela ali. Isso significa que por aqueles quarenta minutos ou uma
hora (ou mais) nós somos responsáveis por manter a ordem, e garantir que essas
crianças estejam seguras e seguramente limitadas.

A Bíblia nos comanda a respeitar nossas autoridades, como vemos em Romanos


13, “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores. Pagai a todos o que lhes
é devido: (…) a quem respeito, respeito; a quem honra, honra.” Uma vez que as
crianças estão em nossas classes, elas nos devem respeito, e nós devemos respeitá-
las também como criaturas de Deus que são. E uma das formas de respeitá-las é
criando um ambiente seguro, onde limites são claros e estabelecidos, e a disciplina
corrige para o bem.

Afeto e limites

Como eu disse anteriormente, precisamos entender que crianças são diferentes e


apesar de os limites e obrigações delas serem os mesmos, a forma prática como a
disciplina e correção ocorrerão pode ser diferente.

Victoria, minha sobrinha, não se importa em levar palmadas, por exemplo (apesar
de levar assim mesmo). Ela ri e continua bagunçando quando sua mãe a corrige
dessa maneira. Mas se ela coloca Victoria para pensar, separada de todo mundo no
seu quarto, aí sim ela sente o peso da disciplina e, chorando, pede perdão.

W. não se importava com gritos. Ele provavelmente conhecia isso de sua casa,
então se as professoras tentavam gritar e falar com braveza para que ele parasse, ele
ficava ainda mais raivoso e petulante. Mas, quando calmamente conversávamos
com ele e explicávamos a situação, mostrando com nossa calma que nós o
amávamos, ele parecia conseguir se acalmar e cessar seu comportamento negativo.

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Se eu colocasse W. sozinho numa sala ele possivelmente quebraria alguns objetos.
Se eu tentar somente conversar com calma com Victoria, ela vai petulantemente
rir.

Crianças são diferentes, e precisam de formas diferentes de correção, apesar de


todas precisarem de correção.

A vara em casa e a perda de liberdade na sala de aula

Nós vemos na Bíblia, em várias passagens do livro de Provérbios (23:14, 22:15,


29:15, entre outras) a instrução aos pais de praticarem disciplina física em
seus filhos, em específico com uma vara. Essa era uma prática antiga, e alguns
pais contemporâneos aplicam a correção física de outras maneiras que não
necessariamente com uma vara, o que serve o mesmo objetivo.

Eu não vou me aprofundar nesse assunto, porque ele vai além do recorte que
temos nesse eBook, mas os pontos que cabem serem feitos aqui são dois: em
primeiro lugar a correção física vem dos pais, e em segundo deve ser feita em amor
e por amor. Vemos em Provérbios 3:11 e 12 o Senhor dizendo, “Meu filho, não
despreze a disciplina do Senhor nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor
disciplina a quem ama, assim como o pai faz ao filho de quem deseja o bem.” Esse é
o padrão do Senhor para a disciplina: que seja feita por causa do amor que os pais
sentem pelas crianças, e por desejarem o bem delas.

Como eu disse anteriormente quanto ao pastor e às ovelhas, o pastor por vezes


precisa pegar suas ovelhas pelo pescoço com sua vara e puxá-las de volta ao
rebanho, quando elas estão prestes a sair do pasto rumo ao deserto, o que poderia
custar-lhes a vida. Nesse caso, a disciplina nada mais é do que amor e proteção. É
esse tipo de disciplina que precisa acontecer também em nossas salas do ministério
infantil.

Quando digo, então, que as crianças são diferentes e precisam de diferentes


tipos de correção, como vimos com Victoria e W., não estou tentando ir contra
a Palavra. A Bíblia é clara: a correção da criança vem pela disciplina física
(novamente, com amor e em amor). A mãe da Victoria dá palmadas, ainda que ela
não as leve a sério nesse momento de sua vida. Mas o que precisa ficar claro, apesar
de ser um pouco óbvio, é que esse é o papel dos pais somente. Não dos professores.

66
Agora, se nós, como professores, não devemos disciplinar de forma física, como
podemos disciplinar as crianças com más atitudes em nossas salas de aula?

A prática que eu creio ser a mais eficiente nessas situações é a perda de liberdade.
Deixa eu explicar: se uma criança está correndo na sala, durante a contação da
história, você pode gentilmente pegá-la, colocá-la sentada do seu lado e dizer,
“Fulano, você está atrapalhando a aula. Você conhece nossas regras e sabe que não
pode correr, então agora você perdeu a liberdade de sentar com seus colegas, e vai
passar o resto da aula sentado aqui comigo”.

Essa perda de liberdade pode ocorrer em vários sentidos. A criança pode perder
a liberdade de brincar com determinado objeto se ela se recusar a compartilhar.
Perder a chance de responder se ela estava fazendo gracinhas e não respondendo de
fato. Perder a liberdade de brincar com as outras se chutou alguém, etc.

O importante é que você entenda o sentido dessa punição: o objetivo é sempre


retirar a criança de uma situação onde ela estava sendo negativa. Seja retirá-la da
brincadeira, para que pare de machucar outras; seja retirá-la da roda, para que pare
de atrapalhar a lição; seja retirá-la da mesa, para que pare de incomodar os colegas;
entre outras situações. Ela perde a liberdade de fazer algo que poderia fazer em
uma situação normal justamente porque está atrapalhando a normalidade da aula.

Isso é um pouco diferente do famoso “castigo” porque não significa que


necessariamente colocaremos a criança sentada no canto. Dependendo da
situação ela simplesmente perde a chance de continuar brincando com aquele
determinado carrinho, por exemplo, porque está sendo egoísta, não querendo
compartilhar. Retiramos o carrinho das mãos dela e pronto, não precisa ir sentar
no canto. Por vezes, entretanto, o sentar isolada pode ser, sim, uma disciplina
eficaz, especialmente se a criança estava sendo negativa com seus movimentos, seja
correndo ou chutando, ou algo nesse sentido físico.

Vale lembrar também que os castigos de sentar no canto ou retirar determinado


brinquedo são mais eficazes com crianças menores. As crianças maiores e os pré-
adolescentes não irão sentar num canto. Geralmente o que essas crianças maiores
precisam é de uma conversa séria, talvez até mesmo as retirando da sala, para
esclarecer o pecado e a atitude do coração que é na verdade a raiz da sua atitude
negativa. Você precisará ter uma sensibilidade de saber tratar as crianças menores
com os limites físicos que elas precisam, e as maiores com os limites morais que
elas necessitam. Não tente ter uma conversa de dez minutos com uma criança de

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três anos e colocar uma de doze anos para sentar no canto (a não ser em situações
específicas, e caberá a você saber identificar essas exceções).

Regras e motivos claros & conversas espirituais

Algo que é muito injusto com as crianças, e até mesmo desrespeitoso, é quando
nós requeremos delas algo que nunca foi estabelecido. Repare que no exemplo
que eu trouxe acima da criança correndo durante a aula eu disse “Você conhece
nossas regras e sabe que não pode correr”. Para que possamos ser honestos em
nossa correção, as regras precisam ter sido claramente estabelecidas antes, para que
elas entendam que, de fato, quebraram nosso “contrato”, nosso combinado. Se nós
nunca dissemos a elas que é proibido correr na sala de aula, com que autoridade
podemos castigá-las por correr? Deus mesmo fez suas regras e mandamentos
sempre muito claros ao Seu povo, de maneira que eles não tinham desculpa
quando desobedeciam.

Uma maneira prática de fazer com que isso funcione é tendo as regras gerais da sala
na parede, em papel, ou na lousa, de maneira permanente. Leia as regras com os
alunos no começo do ano letivo, e sempre que um novo aluno chegar peça para um
antigo explicar as regras para ele. Dessa forma não há desculpas para não cumprir o
combinado.

Em contrapartida, um outro problema grande que adultos têm a tendência de


cometer é criar regras que não têm motivos claros. Se queremos que as crianças
não corram precisamos explicar porque: pode machucar outros colegas pois nosso
espaço é pequeno, e atrapalharia a aula dispersando os outros da lição. Crianças
maiores precisam entender os motivos das regras - elas gostam disso e isso também
as ajuda a cumprir os combinados com mais facilidade. As menores não precisam
necessariamente que expliquemos o motivo de todas as regras, mas é preciso que
nós saibamos o motivo, ainda que ele não seja verbalizado.

Uma amiga professora me disse uma vez que estava observando uma escola quando
viu uma situação interessante: uma criança de uns seis anos estava preparando seu
lanche, quando pegou um pedaço de pão, adicionou um pouquinho de manteiga
e em seguida requeijão, e por cima geléia. A professora parou a menina, dizendo
que aquilo não podia. Minha amiga disse que ficou sem entender, afinal de contas
qual era o problema? Claro, era um pouco incomum, mas e se ela de fato gostasse
daquilo? Depois, conversando com os pais da criança, minha amiga descobriu que

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de fato a menina gostava da mistura, e comia em casa sempre.

A questão então é: nossas regras precisam ter motivos que sejam justos, senão
seremos como pequenos fariseus, vomitando regras sem sentido e motivo, apenas
querendo comprovar nossa autoridade.

É importante também sempre explicarmos o porquê quando colocarmos crianças


em situações de discipilna. Sempre pergunte a uma criança “você sabe por que
perdeu essa liberdade?”. Perceba se ela está em uma fase que entende o que é
pecado, e caso não entenda, explique. Sempre use essas oportunidades para trazer o
Evangelho a elas, mostrando como o pecado vai contra Deus, mas que Ele escolheu
enviar Seu Filho para nos dar paz com Ele. Essas conversas espirituais precisam
sempre acompanhar a disciplina, para que não seja apenas punições vazias de
sentido e de oportunidade de remissão.

Consistência e paciência
Uma atitude que já percebi, infelizmente, em muitos professores, tanto seculares
quanto na igreja, é a falta de dois ingredientes essenciais à didática: consistência e
paciência.

Precisamos de consistência no sentido de que nossas atitudes precisam ser sempre


as mesmas, não importa a situação. Não posso querer tratar meu filho na sala de
aula diferente dos outros alunos. Não posso, também, decidir que caso a criança
chute alguém ela deve voltar para os pais, e o professor da semana que vem na
escala fazer algo completamente diferente com outra criança que também chutou
alguém. As regras e aplicações de disciplina precisam ser as mesmas para todas as
crianças e todos os professores. O mesmo é verdade quanto à rotina - todos devem
seguir a mesma ordem, ainda que façam pequenas alterações.

Precisamos também de muita paciência, e isso tanto para tratar com as


indisciplinas, como também para lidar com a possível demora de aprendizado.
Se uma criança parece não entender uma lição enquanto todas as outras já
compreenderam, tenha paciência e não a ignore, continuando como se ela tivesse
entendido. Mostre paciência também no escutar: as crianças, por vezes, demoram
um pouco para formarem as frases, justamente porque estão tentando formar
o pensamento em suas cabeças. Tenha paciência para escutar suas perguntas e
respostas, respeitando seu tempo.

69
Lidar com a disciplina na sala de aula é uma das maiores dificuldade que os
professores seculares têm, e isso reflete também no ministério infantil. Mas
se seguirmos a lógica de Deus, de disciplinar em amor e por amor, então
conseguiremos, ainda que lentamente, criar uma sala de aula segura e calma, onde
o aprendizado da Palavra é eficiente.

70
Capítulo 9

Incluindo todos - ensinando crianças


com Necessidades Específicas
Este eBook já estava praticamente terminado quando o Senhor pesou em meu
coração o tema desse capítulo. Durante o meu processo de escrita, fiz uma pesquisa
pedindo que pessoas que trabalham com o ministério infantil me dissessem coisas
com as quais têm mais dificuldade nesse serviço, e para minha surpresa um dos
temas mais comentados foi esse - como lidar e ensinar crianças com deficiências?
Baseado nisso decidi adicionar esse capítulo ao eBook na esperança de dar algumas
diretrizes gerais para ajudar voluntários do ministério infantil. Entretanto, não
sou especialista na área da Educação Especial, e esse capítulo será uma pequena
e humilde ajuda, o começo da discussão e pesquisa para aqueles que têm esses
preciosos pequenos em suas salas.

Grande parte do que for apresentado aqui veio do material disponibilizado pelo
ministério Key (www.keyministry.org), que é uma organização estadunidense
voltada ao ensino nas igrejas de pessoas com Necessidades Específicas.

Qual o contexto?

Uma pesquisa feita nos EUA mostrou que 90% das crianças com Necessidades
Específicas (NE) não vão a nenhuma igreja. Não é preciso pensar muito para
entender porque isso acontece. Os pais dessas crianças já sofrem muito com
estigmas e preconceitos, e já têm muita dificuldade em estar com elas em lugares
públicos. Ir à uma igreja, onde muitas pessoas julgarão a forma como eu educo meu
filho e onde esperam que ele fique sentado por horas? Não, obrigado!

Infelizmente a Igreja de Cristo tem falhado em alcançar essas pessoas e suas


famílias. Entretanto, a Bíblia deixa claro que não é isso que Deus espera de nós.
Vemos na Palavra o Senhor Jesus mostrar compaixão a pessoas com deficiências,
como paralíticos, cegos, e o homem com uma mão paralisada (cf. Mt. 9 e 12),
curando-os fisicamente e lhes mostrando esperança espiritual. Além disso temos
também o caso do rei Davi que mostrou compaixão a Mefibosete, filho de Jônatas,
que tinha deficiência nos pés (cf. 2 Sm. 2:9).

71
O que as igrejas muitas vezes falham em reconhecer é que as crianças com
deficiências, sejam elas mentais ou físicas, precisam de salvação tanto quanto as
crianças sem deficiência, e que é nosso papel colaborar com os pais na pregação do
Evangelho a elas.

Por onde começar?

Se a sua igreja tem o privilégio de receber uma dessas crianças, alegre-se e desde já
ore ao Senhor para que Ele conceda graça à igreja como um todo para abençoar
esse pequeno e sua família. Um bom lugar para começar é de joelhos, pedindo
misericórdia para servir bem.

Mas, depois disso uma boa forma de começar de forma prática é criando um
“Buddy System”, ou um “Sistema de Parceria”. Com esse sistema teríamos Adultos
Parceiros de Sala (APS) que seriam adultos extras na sala de aula, que estariam ali
somente para ajudar com a criança com NE. Eles não seriam professores, por assim
dizer, e nem precisariam se preparar para aulas. Estariam ali apenas com o intuito
de acompanhar a criança com NE em tudo o que ela precisar, e para dar a aula
uma confiança de ter alguém com quem contar a todo momento, mesmo que o
professor principal esteja ocupado.

Os voluntários para esse trabalho devem ser pessoas cheias de compaixão, que
saibam lidar com crianças e gostem disso. Não precisam ter uma especialização na
área, mas precisam ser obreiros aprovados, que têm vivido de acordo com a Palavra.
Precisam também ser flexíveis e bastante imaginativos.

É importante notar que nem todas as crianças com NE precisarão de um APS.


Algumas são bastante independentes e precisarão apenas de um pouco mais de
atenção do professor de sala. Cabe a você sentir o nível de necessidade de suas
crianças.

Algumas regras gerais importantes para o APS:

• Nunca deixe a criança sozinha, em hipótese alguma. Em casos de emergência, ou


de não saber o que fazer em determinada situação, chame os pais ou responsáveis
da criança.

• Consistência é importante em qualquer situação com crianças, mas


especialmente com crianças com NE. Um mesmo adulto deve ser sempre o APS

72
da mesma criança, para que ela crie um vínculo de confiança e afeto com esse
adulto. Caso seja necessário, em casos de viagens ou doenças do APS, tenham
um substituto que seja sempre a mesma pessoa também.

• Pergunte aos pais ou responsáveis da criança quais as necessidades que ela tem,
se tem alguma alergia, ou algo que a deixa ansiosa, ou quaisquer necessidades
especiais quanto ao uso do banheiro. Anote todas essas informações em um
papel, e mantenha-o sempre com você, e uma cópia na parede da sala de aula,
para que qualquer outro adulto possa visualizar, caso se faça necessário.

Para além do sistema de APS, é importante também que se faça um levantamento


de dados na igreja para saber quantas crianças com NE existem, e quantos
profissionais da área da saúde e educação que podem ser de grande auxílio.
Converse com essas pessoas e aceite suas sugestões e dicas, na medida do possível.

Sala de aula
Como podemos criar um ambiente de sala que respeite as Necessidades Específicas
desses alunos? Seguem algumas dicas gerais:

• Se possível, busque não ter luzes muito claras e brilhantes, que podem atrapalhar
a visão das crianças com NE.

• Cores neutras na parede são melhores para acalmá-las. Quanto mais estímulos
visuais essas crianças receberem, mais ansiosas ficarão. Busque não colocar muitas
coisas nas paredes, como recursos visuais, especialmente aqueles que sejam muito
coloridos.

• Crie uma rotina e a siga sempre. Essas crianças precisam de estrutura para se
sentirem seguras, e será de grande ajuda se o professor não mudar a rotina
sempre. É importante que a rotina seja também consistente entre todos os
professores da mesma sala.

• Se possível, coloque um relógio grande na parede. As crianças com NE


geralmente se sentem menos ansiosas quando sabem quando a próxima transição
ocorrerá, e quando seus pais ou responsáveis voltarão para buscá-la. Explique, de
acordo com a idade dela, que seus pais retornarão quando o ponteiro chegar no
6, ou que tomaremos o lanche quando chegar no 3, por exemplo.

• Se possível, coloque imagens simples em lugares específicos, para direção e

73
esclarecimento de informações necessárias, como na porta do banheiro, ou
perto da pia para que saibam onde lavar as mãos. Algumas dessas crianças têm
dificuldades em ler, mas entendem imagens bem. Só tenha cuidado para não cair
no extremo de ter imagens demais, como explicamos, para não criar estímulo
exagerado. 

• Se possível, de acordo com o tamanho do espaço que você tiver, crie um cantinho
de descanso, com almofadas, livros e brinquedos apropriados, de maneira que
essa criança possa ir com seu APS quando se sentir sobrecarregada, ansiosa, ou
apenas precisar “dar um tempo”.

E as lições?

Uma das grandes preocupações que professores do ministério infantil têm


em relação às crianças com NE é quanto às lições - podemos usar as mesmas?
Precisamos criar um currículos só para elas?

Bom, depende muito de qual a necessidade específica de sua criança. Crianças com
surdez não têm dificuldades cognitivas, elas apenas precisam de um intérprete de
LIBRAS. Já crianças com NE cognitivas precisarão de lições mais realistas com a
situação delas. O que eu recomendo que você faça é buscar pesquisar na internet e
em livros sobre a NE de seus alunos. Nesse eBook não caberia que eu tentasse falar
sobre Autismo, TDAH, Síndrome de Down, etc. Mas pela graça de Deus com a
tecnologia que temos hoje é possível encontrar muita informação. Faça bom uso
desses recursos!

Mas, alguns pensamentos gerais que podemos trazer aqui:

• Talvez sua criança com NE consiga ouvir e fazer as mesmas lições que as outras, e
precise apenas de algumas pequenas adaptações, como mais imagens, um giz de
cera mais grosso para a atividade escrita, etc.

• Talvez ela precise de uma atividade que seja similar. Por exemplo, se as outras
crianças estiverem respondendo perguntas sobre a história no papel, deixe que
ela as responda oralmente.

• Por fim, pode ser que sua criança com NE precise de atividades completamente
diferentes. Nesse caso, você precisa certificar-se que as atividades, ainda que
diferentes, sirvam ao mesmo propósito: ajudar na aprendizagem da Palavra.

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Utilize-se de muitas atividades lúdicas, com músicas, imagens e objetos
concretos.

Claro que teremos também a ajuda do APS durante a lição e as tarefas, e isso será,
então, um auxílio extra.

Evite o preconceito ignorante

Infelizmente nós vivemos em corpos caídos, e muitas vezes isso se reflete em


pecados que são ignorantes, ou seja, que nem notamos. Vemos isso em falas
absurdas que muitos crentes dizem por força do hábito, da criação e daquilo que
ouviram a vida toda. Mas não podemos usar nossa criação como desculpa para
pecar. Esse tipo de linguagem é pecaminosa e odiosa, e devemos abandoná-la.

Segue uma lista de linguagem a ser evitada, no contexto de Necessidades


Específicas, e o que deve ser dito no lugar:

EVITE USE NO LUGAR

Necessidades Especiais Necessidades Específicas

Inválido, aleijado, deficiente Pessoa com deficiência

Portador de síndrome de Down, retardado ou portador Pessoa com síndrome de Down


de retardamento mental

Criança autista Criança com autismo

Criança hiperativa Criança com TDAH

Doença genética Condição genética

Pessoa especial Pessoa com Necessidades Específicas

Evite também:

• Palavras como “defeituoso”, “condenado”, “erro genético”, “anomalia”, ou qualquer


outra palavra de conotação negativa;

• O termo “criança normal”. Diga “criança sem deficiências” ou “criança não-


deficiente”;

• Dizer coisas como “ele tem Down mas é inteligente”. Esse tipo de frase apenas
reforça esteriótipos e são muito desrespeitosas.

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Queridos leitores, essa é a apenas uma discussão geral e inicial sobre o assunto da
educação de crianças com NE dentro das igrejas. Espero que seja uma base para
que muitas outras conversas venham a surgir em sua igreja e comunidade local, de
maneira que a graça de Cristo seja exaltada em nosso meio, através de nosso bom
trabalho com todas as crianças que Ele nos der.

76
Conclusão
Querido leitor, meu coração grandemente se alegra que você tenha investido seu
tempo com esse eBook. Espero que ao final dessa leitura você esteja se sentindo um
pouco revigorado, talvez até encorajado, quanto ao serviço no ministério infantil.

Nós pudemos ver a importância desse ministério e regras e dicas básicas de como
servir nele com excelência. Como eu disse no começo desse eBook, cabe a você
a partir de agora decidir se quer seguir nesse ministério ou não. Essa será uma
decisão que tomará com o Pai, em oração.

De qualquer maneira, eu espero que saiba que estarei em oração por você e por sua
igreja, para que o nome de Cristo seja exaltado através de vocês, exatamente no
lugar e tempo em que Ele mesmo plantou essa igreja.

Que por Ele, com Ele e através dEle possamos seguir fazendo o Reino dos Céus
conhecido e expandido, em todas as frentes necessárias.

Avancemos!

Em Cristo,
Sua amiga e serva,

Francine Veríssimo Walsh


Minnesota, Setembro de 2017

77
Sobre a autora
Francine Veríssimo Walsh é Pedagoga formada
pela Universidade Estadual Paulista UNESP, e
pós-graduada em Psicopedagogia Institucional,
pelo Centro Universitário Barão de Mauá.
Blogueira desde 2006, atualmente escreve no
Graça em Flor, ministério online para mulheres
cristãs. Serve no ministério infantil desde 2004,
ensinando principalmente a faixa etária de 3 a 6
anos, e atualmente faz parte da liderança do ministério infantil de sua igreja.

Francine mora no estado do Minnesota, nos EUA, com seu marido Beau.

Agradecimentos
Eu gostaria de agradecer, em primeiro lugar, ao Senhor Jesus pela oportunidade
que me deu, mais uma vez, de servir à Sua amada Igreja.

Agradeço a meu marido Beau pelo apoio e encorajamento de sempre sem o qual
esse projeto não teria sido terminado.

Agradeço aos meus pais pelo empenho e amor em garantir minha formação em
Pedagogia, e por serem meus maiores “cheerleaders”.

Agradeço às leitoras do Graça em Flor, em especial àquelas que fazem parte da


Equipe, pelo envio de perguntas, dicas e sugestões para a escrita desse material.

Agradeço às leitoras beta desse eBook, cujos nomes estão na primeira página,
pelo tempo que dedicaram à leitura de VNMI, garantindo que ele chegasse até os
leitores sem erros ortográficos e de digitação.

E por fim agradeço a você, que adquiriu esse eBook, colaborando assim com a
continuação de nosso ministério. Muito obrigada, e que o Senhor te abençoe e
recompense!

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