Semestral
ISSN 1517-0845
Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir a ideia de realeza defendida pelo dominicano Vicente de Beau-
vais em sua obra De morali principis institutione; analisamos principalmente os capítulos V e VI, nos quais Vi-
cente tenta explicar, por um lado, por que um Deus bom pode permitir o governo de maus reis e, provando-se
que maus reis são instrumentos providenciais, como é que eles podem ser recompensados. O retrato do mau
rei, proposto por Vicente, pode ser interpretado inversamente como traços do bom rei: apesar de exercer um
poder estruturalmente negativo, já que nasceu do pecado (ambitio potestatis), o rei pode e deve colaborar com
Deus na economia da salvação assumindo um ministério sobre as almas na forma de um rei-pastor.
PALAVRAS-CHAVE: MONARQUIA CRISTÃ, PODER POLÍTICO, PASTORADO RÉGIO
Introdução
1 Para este artigo, utilizei a edição crítica estabelecida por Carmen de Acuña (2008) e publicada na Biblioteca de
Autores Cristianos de Madri.
2 O fato de nem mesmo Étienne Gilson, em seu A filosofia na Idade Média (1995), sequer mencionar, salvo engano, o
nome de Vicente de Beauvais, é sintomático dessa negação.
3 Nos autem non ideo hec omnia inculcavimus ut potestatem reprobemus aut reprehendamus. Nam, ut ait quidem
sapiens: Deus potentes non abicit cum et ipse sit potens [Jó 36, 5]. Verum homines eius appetitu vel amore deterrere inten-
dimus (…). (VICENTE DE BEAUVAIS, 2008:86)
Bibliografia
ARTIFONI, Enrico. “Retorica e organizzazione del linguaggio politico nel duecento italiano”. In:
CAMMAROSSANO, Paolo (org.). Le forme della propaganda politica nel due e trecento. Roma:
École Française de Rome, 1994. p. 157-182.
BOUGEAT, J.-B. Études sur Vincent de Beauvais, théologien, philosophe, encyclopédiste. Paris:
A. Durand Librairie, 1856.
BOURNE, John Ellis. The educational thought of Vincent of Beauvais. Harvard University Press,
1960.
CASSIRER, Ernest. O mito do Estado. Trad.: Álvaro Cabral. São Paulo: Códex, 2003.
EVANGELISTI, Paolo. “I pauperes Christi e i linguaggi dominativi. I francescani come protagonis-
ti della costruzione della testualità politica e dell’organizzazione del consenso nel bassomedioevo
(Gilbert de Tournai, Paolino da Venezia, Francesc Eiximenis)”. In: La propaganda politica nel
Basso Medioevo (Atti del XXXVIII Convegno storico internazionale, Todi, 14-17 ottobre 2001).
Spoleto: CISAM, 2002. p. 315-392.
FOUCAULT, Michel. ‘“Omnes et singulatim’: uma crítica da Razão política”. In: DA MOTTA,
Manoel Barros (org.). Michel Foucault estratégia, poder-saber. Coleção Ditos e Escritos IV. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2003. p. 355-385.
GABRIEL, Astrik Ladislas. The educational ideas of Vincent of Beauvais. University of Notre
Dame, 1956.
GENET, Jean-Philippe. “Saint Louis: roi politique”. In: Médiévales. Vol. 34, 1998. p. 25-34.
______. La genèse de l’État moderne: culture et société politique en Angleterre. Paris: PUF, 2003.
GILSON, Étienne. A filosofia na Idade Média. Trad.: Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fon-
tes, 1995.
LE GOFF, Jacques. Saint Louis. Paris: Gallimard, 1996.
MARAVALL. Estado moderno y mentalidad social. Madri: Alianza Editorial, 1986. vol. 1.
PAULMIER-FOUCART, M.; LUSIGNAN, S.; NADEAU, A. (org.). Vincent de Beauvais: inten-
tions et réceptions d’une oeuvre encyclopédique au Moyen Âge. Paris: Librairie Philosophique J.
Vrin, 1990.
RUCQUOI, Adeline. Génesis medieval del Estado Moderno: Castilla y Navarra (1250-1370).
Valladolid: Ambito, 1987.
SASSIER, Yves. Royauté et idéologie au Moyen Âge. Paris: Armand Colin, 2002.
* André L. Pereira Miatello é professor de História Medieval da Universidade Federal de Minas Gerais.
E-mail: < andremiatello@gmail.com>.