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organismo humano. Estas sfo também uma realidade, mas 0 modo de contem- plé-la ¢ diferente, e € necessério a fim de se compreender a phuralidade do organis- mo humano. Muitos fenémenos patologicos s6 se tormam compreensfveis e s6 se revestem de sentido, a partir da contemplago das estruturas dindmicas atuantes no ser humano. A TRIPLICE ORGANIZACAO DO SER HUMANO O exame dos 6rgfos forece importantes esclarecimentos sobre suas fun- g6es. Entretanto, para conhecer seu significado, quanto ao homem como um todo, dever-se-4 examinar aquilo que se expressa na fungdo em especial. Deve-se progre- dir do 6rgo em diregao a dindmica que nele pode ser reconhecida, Pode-se alcan- gar, desse modo, o conhecimento de que diversos érgifos formam uma unidade pelas suas fung6es. Observando-se, por exemplo, os érgdos sensoriais, facilmente, re- conhecer-se-4 que todos eles tém algo em comum: transmitem a alma humana a no- g4o do mundo ambiente (por exemplo: olho, ouvido), ou do proprio corpo (por exemplo: equilibrio, calor, tato). Além disso, poder-se- constatar que todos os Orgdos sensoriais apresentam ligagdo e relagdo nitidas com os nervos e, portanto, com o cérebro. Nao é, enfim, por acaso, que os principais érgdos dos sentidos es- tdo concentrados na cabega (olho, ouvido, nariz, lingua, labirinto no ouvido como Orgdo de equilibrio). Também na cabega temos a maior massa nervosa, 0 cérebro. Por estas razGes, esses dois grupos de Orgdos podem ser resumidos em uma unida- de funcional, o sistema neurossensorial, Acompanhando-se a dindmica, as tendén- cias das diregGes e as relag6es dinamicas, conforme existem no sistema neurossen- sorial, deve-se dizer que, certamente, nfo € por acaso que se encoiitrem na esfera cefalica 6rgdos da percepcdo, cuja ago se estende de fora pata dentro. A luz, 0 Som, © alimento, enfim, fluem para o interior do organismo, através das portas especialmente criadas para cada um. Em realidade, os 6rgios sensoriais desem- penham a fun¢do de portas. Destinam-se a deixar passar algo com um minimo de alteragdo, por exemplo: 0 olho admite a luz, 0 ouvido, o som, etc, Suas fun- ges sero tanto melhores quanto menos modificarem aquilo que deixam pas- sar. Ora, para tal, a condigfo indispensdvel € a inércia, Eis porque a cabega ¢ a par- te do corpo mais imével; existem muitos meios para compensar e amortecer os movimentos e comog6es (no sistema nervoso), como a elasticidade da coluna vertebral, das cartilagens, 0 liquor céfalo-raquiano, etc, Pois nenhum 6rgdo é mais sensivel a comogées do que o cérebro. Entre as relag6es caracteristicas do sistema neurossensorial com deter- minadas forcas, mencionemos ainda a relacdo com 0 calor e 0 frio. Todos podem observar que a distribuigéio do calor no corpo humano é da maior importancia quanto 4 sua atividade. Poderfamos citar indmeras observagdes, das quais ressalta © fato de que a cabega, ou o sistema nervoso, nfo pode ultrapassar certa medi- da de calor para funcionar normalmente. Para pensar direito, 0 homem deve “manter a cabega fria”. Por outro lado, um volume sanguineo excessivo, como ocorre sempre na febre, por exemplo, representa um considerdvel entrave a fung4o dos Orgios sensoriais. Portanto, a fungdo normal do sistema neurossensorial ndo exige apenas a inércia, mas também uma temperatura moderada, ou seja, um certo “Frio”. Adicione-se ainda o seguinte fato: no sistema nervoso ngo apenas predo- minam a “inércia” ¢ o “frio”, mas também, ¢ por isso mesmo, nele “nada aconte- ce”, ou seja, ocorrem muito poucas transformages metabélicas; compreendemos, ent&o, porque as células nervosas, e também as células dos drgdos sensoriais, so as que apresentam menos vitalidade. Uma célula nervosa perde logo apés 0 nas- cimento, praticamente, sua capacidade de divisfo. Nessa esfera, quase nfo existe um crescimento real como expresso de vida. A maior parte do olho, assim como a substéncia branca do cérebro, praticamente nao revelam nenhuma vida. Prosse- guindo nessa linha de pensamento, aqui apenas insinuada, devemos dizer que no sistema neurossensorial age justamente o oposto da vida, ou seja, a morte. Mesmo em vida esses OrgGos j4 esto, ao menos parcialmente, mortos, ¢ s6 por isso so capazes de desempenhar suas fung6es. Assim, por exemplo, no cristalino € no cor- po vitreo do olho, nfo encontramos sangue e quase nada de processos metabdli- cos. O mesmo € vélido quanto A substancia branca do cérebro. Facilmente pode- remos imaginar que 0 homem nfo seria capaz de viver de tais Grgdos, e que, portan- to, sua vida deve estar ligada a outros 6rgfos. A dindmica que descrevemos com sua tendéncia 4 inércia, ao frio e A morte, é t@o manifestamente unilateral e concen- trada sobre um s6 campo que, sem davida, o oposto deve existir e atuar em alguma parte do organismo. De fato, encontramos 6rgaos nos quais reina a tendéncia totalmente opos- ta: para nenhum outro érgo o movimento € mais caracteristico do que para o muis- culo. E do conhecimento geral o fato, sentido ¢ usado principalmente pelos despor- tistas, que 0 calor é a condicdo para uma perfeita fungdo do misculo. Por outro lado, 0 calor acelera todos os fendmenos ¢, portanto, suspende justamente a inér- cia. Movimento e calor estao ligados entre si como inércia e frio. | Ora, 0 conceito de movimento nfo deve restringir-se ‘ao deslocamento ex- ternamente perceptivel, mas também engloba, por exemplo, as transformag6es me- tabélicas. Sabemos que a oxidagdo, transformagao metabélica particularmente in- tensa, produz calor. Existem 6rgaos cuja principal funcdo consiste nessa transformagéo das substincias, O figado é 0 érgdo principal do metabolism. Continuamente ocorrem nele transformag6es de substancias de todas as origens. Tais transformag6es, ou seja, tais processos metabélicos intensivos, nao ocorrem apenas nos misculos e no figado, mas também no intestino, nos rins e no sangue. Nestes 6rgfos pode ser visto o centro de gravidade das transformag6es metab6licas. A totalidade desses fendmenos e desses Srgiios pode ser designada como sistema do metabolismo e dos membros ou simplesmente sistema metabélico locomotor. De fato, esses Orgdos apresentam uma relaggo nitida para com a vida. Em muitas linguas as palavras figado e vida se assemelham (exemplo: no alemdo, leber ¢ leben, respectivamente). Acompanhando os efeitos da funcdo he- patica, confirmamos que o figado € realmente um 6rgdo principal da vida. A propria vida manifesta-se através de trocas metabélicas e nelas se ex- pressa Contemplando esses dois sistemas, 0 sistema neurossensorial ¢ o sistema metabdlico, opostos entre si, verificar-se-A que no apenas seus érgdos principals séo especialmente separados, mas que as tendéncias descritas e todos os fendmenos so opostos. Se no sistema neurossensorial revelava-se a tendéncia predominante de admitir, no organismo, 0 mundo exterior, através dos sentidos, encontramos no sistema metabélico o principal meio de exeregdo. Ao invés de captacao ¢ passivi- dade, encontramos aqui entrega, atividade e influéncia sobre o ambiente. Se existissem apenas esses dois sistemas opostos, eles estariam em cons- tante rivalidade e suas fung6es estinguir-se-iam, como o calor e 0 frio reunidos resultam em um intermedidrio morno, ou como positive e negativo anulam-se em curto-circuito. Esse risco € eliminado pela existéncia de um terceiro sistema no ser humano, sistema mediador entre os outros dois. E somente gracas a essa mediagfo que a tensdo entre os opostos pode ser Ievada adiante. Trata-se de uma acentuagdo da polaridade, em sentido “goetheano”. Prosseguindo com a linha de pensamento acima, esse sistema deverd ser encontrado, espacialmente, no centro. O equilfbrio entre os dois sistemas nfo consiste apenas entre o pélo supe- rior e inferior, mas principalmente também numa alternancia temporal. Esta, por sua vez, resulta num ritmo. Todos os processos ritmicos no organismo participam dessa alternéncia temporal e podem, por isso, ser vistos em conjunto como sis- tema ritmico. Em realidade, os dois sistemas opostos que descrevemos nao atuam simultaneamente, mas em alterndncia continua, isto é, ritmicamente. De dia o homem estd acordado ¢ “vive” das forgas do sistema neurossensorial. A noite, durante 0 sono, desenvolvem-se os processos vitais propriamente ditos; ocorrem, de um modo geral, um aquecimento, uma vitalizacdo, uma estimulacdo dos pro- cessos metabélicos. Necessariamente isso se acompanha de uma extingdo da ati- vidade neurossensorial; o homem dorme. A atuagdo do sistema ritmico é, portanto, reconhecida no tempo. Exa- tminando-se isso mais de perto, compreende-se que o ritmo de vigilia e sono é ex- piessdo da predominancia, em cada caso, de um dos sistemas polares, ou seja, da atividade neurossensorial ou da atividade metab6lica. Essa alterndncia, ou ritmo, pode ser vista, como em arque-imagem no coragdo e@ no pulmdo. E to evidente a atividade ritmica destes drgos que eles podem ser considerados como representantes do sistema ritmico. O coragao alter- na-se, ininterruptamente, entre contragao e dilatag4o, e a contragdo/tensto pode ser vista como 0 contririo da dilatagfo/flacidez. A dindmica que descrevemos acima € perfeitamente evidente aqui. Ocorre o mesmo no pulmao, com sua ininterrupta alternancia entre inspiragdo e expiragdo. Nao se trata, em primeiro lugar, daquilo que normalmente é considerado como o principal nessas duas fun- gOes orgdnicas: o transporte do sangue ou do ar. Estas so, naturalmente, da maior importancia, mas falando em fungao do sistema ritmico entendemos antes a pura

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