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04/01/2019 “Brasil acima de tudo”: sou patriota e não sou fascista, acreditem se quiser - Instituto Liberal

“Brasil acima de tudo”: sou


patriota e não sou fascista,
acreditem se quiser

14 NOV '18
PEDRO HENRIQUE ALVES

O Brasil passou por constantes rupturas, sejam elas com a sua história ou com a
democracia. Não nutrimos um elo muito robusto com as nossas heranças, além
daquelas que recebemos de nossas famílias e costumes mais imediatos e “bairrescos”; a
nossa história, enquanto nação, nunca foi prioridade para governantes e cidadãos. Na
escola, o aprendizado dessa matéria era tratado como mera condição para passar de
ano, o estudo de nossos álbuns empoeirados e prateleiras de museus era coisa de
esotéricos das classes de humanas; nada e nem ninguém que mereça muita atenção.
Saber do contexto onde nossos avós cresceram, ou da política que vigorava quando
tínhamos reis e rainhas não passava de mera curiosidade que — vez ou outra —
encontrávamos num fim de tarde entediante de conversas familiares ou em programas
televisivos.
Não conhecemos minimamente a nossa história, “malemá” temos heróis nacionais que
habitam o nosso imaginário, nunca passamos por eventos que nos pediram um amor
sacrificial por nossa pátria; aliás, sejamos sinceros, mal sabemos o que é um amor
pátrio. Somos quase que apátridas em terras ermas e aleatórias.
Um povo sem biografia:
O nosso elo histórico mais vigoroso foi cortado ainda na monarquia. Após o advento
da República de Deodoro, nos encontramos numa queda vertiginosa de apreço
nacional; não raro defendemos o implante de modelos internacionais pré-concebidos
em várias de nossas instituições, uma espécie de Ctrl-C + Ctrl-V jurídico, político e
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social. Todavia, apartado de nossas raízes, não era de se espantar que tenhamos tentado
implantar braços nos lugares das pernas.
Quando um povo se afasta de sua aorta histórica, ele vira um Frankenstein político,
uma nação retalhada por ideologia, dissensões religiosas e brigas que não possuem
nenhum objetivo que não a busca incessante e selvagem pelo poder e vantagens
diversas. As instituições fundadas para serem instrumentos e vozes do populacho nada
mais se tornam do que cabides de emprego, centros oficiais de corruptelas e demais
atos vis a que diariamente assistimos nos noticiários como se fossem séries da Netflix.
Quando o povo não conhece as suas heranças, fica impossível amá-las; e, se não as
amamos, por qual motivo deveríamos nos sacrificar e nos desgastar por elas? Quem
não conhece a sua história, não sente com a sua história, não sofre com a sua história,
não permanece com a sua história; mantém seu pensamento num egocentrismo
“tolificante”; fecha-se em sua áurea de certezas e individualismos, sem ter qualquer
apreço por aqueles que se avizinham e mantêm elos de sangue ou camaradagem. O
povo que não sabe sequer quais foram as gentes que deram origem aos filetes de ouro
que tecem o seu DNA genético e histórico não será capaz de patriotismos e
autossacríficios por sua nação.
Patriotismo não é nacionalismo:

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do vigário?

Outro fator que impossibilita o amor pátrio pelo Brasil é a confusão recorrente
entre nacionalismo e patriotismo. Nacionalismo é um sentimento que geralmente está
alicerçado no remorso por flagelos e humilhações pregressas, além do desejo
desenfreado por poder e pela soberania de um grupo auto-eleito: “o mais puro”. Trata-
se de uma ideologia que enxerga a virtude social e moral sob a posse exclusiva de seu
povo, raça ou casta; pregando, dessa maneira, a ideia de que todos devem se dobrar
frente à sua concepção de governo e Estado — caso contrário, eles próprios farão isso
pela força militar, “pelo bem de seu grupo”.
No nacionalismo, não há lugar para irmandades e amor; o sentimento predominante é o
egocentrismo alastrado e massificado, as almas dos indivíduos são cimentadas e
transformadas num bloco uniforme de obediências e dogmatismos padronizantes; tudo
isso abrangendo o Líder (sumo sacerdote do Estado) como o representante mor e chefe
inconteste. Não há nacionalismo sem Estado forte, obeso e burocrático; a burocracia é
o modus operandie a desculpa para o controle social e cultural.
Patriotismo não é nazismo, comunista ranhento:
O patriotismo, por sua vez, é um sentimento fincado na partilha, na consciência de
afeição e fraternidade de sangue ou vizinhança entre os concidadãos de um país
(família, bairro, cidade, estado); mas, principalmente, se trata do apreço por suas
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heranças históricas, da consciência do preço de sangue que custa a liberdade de um


povo e de quantos tijolos de moralidade ou pedras foram necessários para erguer uma
nação próspera e feliz. Ou seja, o patriotismo é a consciência mais abrangente de amor
comunitário; um olhar de coesão que abarca — apesar das diferenças de ideias, cores,
religiões e sexos — um esforço conjunto pelo crescimento da nação, pela melhoria das
condições de um povo. O amor pátrio age, dessa maneira, através de
indivíduos interdependentes, isto é: de indivíduos diferentes, diversificados em suas
funções e relações, mas que buscam os mesmos fins, ou seja, o bem do país.
Não é concebível para um patriota, por exemplo, o pensamento: “quanto pior, melhor”;
ou seja, o ato de usar do caos — ou propriamente construí-lo — com o intuito de que
uma crise acentuada leve a uma vitória política de sua visão de mundo. Tal
mentalidade doentia deveria ser um absurdo em si mesmo.
Um democrata patriota não deve torcer pelo fracasso de um governo republicano, pois,
ainda que adversários políticos, estão sob o mesmo vernáculo; é como se um tripulante
começasse a furar o casco de seu navio porque não gosta do comandante. No fim
ambos estarão à deriva. Um verdadeiro patriota não concebe como razoável uma luta
ideológica que se sobreponha à saúde da nação; nesse sentido, o patriotismo é um
antidoto natural contra a ideologia: o indivíduo que pensa no bem de seu país não terá
porque priorizar as diretrizes do partido, frente às reais necessidades da nação.
O patriota reconhece o acerto pelo acerto e o erro pelo erro, não fazendo a distinção da
verdade pelos pressupostos políticos daqueles que os colocam em prática. Se são os
socialistas que estão no poder, ele amará a sua nação e procurará colaborar naquilo que
for possível, ainda que desaprove 90% daquilo que o atual governo aprova; o patriota
se apegará aos 10% que sobraram e fará de sua vida uma luta pelo acerto. E quando a
crítica for necessária, primeiramente o fará pelo bem do país e não do partido.
Patriotas não querem suprimir países vizinhos — a não ser que estes os ameacem;
muito menos submetê-los às suas tradições e modelos políticos por puro fetiche de
expansão. O patriota busca apenas honrar, defender e fazer com que sua nação
prospere. Os atos de um patriota, ao contrário do nacionalista, não estão ancorados na
rancorosa supressão de terceiros para a glória de seu rebanho, mas numa virtuosa e
laboriosa ascensão social, no amor medular pela sua população. Ser patriota não se
trata de achar deméritos nos outros países a fim de elevar os méritos do seu, mas sim
em trabalhar e construir arduamente os seus patrimônios e orgulhos.
No fundo, o patriota estende a sua concepção de amor familiar para os demais que se
avizinham a ele; o sentimento mais tenro que permeia a sua casa, ele tenta vislumbrar
em seu país; o autosacrifício que faria por seus pais, ele busca fazer por sua pátria.
Sei que é difícil:

Leia também: O PT não defende a Democracia, mas


seu Projeto de Poder

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Sei que é difícil imaginar tal postura de apego e amor ao Brasil. O momento em que
aqui o civismo teve propaganda foi justamente na época do Regime Militar, uma época
nada exemplar em muitos patamares. No entanto, amar o país não significa apoiar
ditaduras, ser nacionalista ou antidemocrático; um dos países mais democráticos do
mundo, os EUA, é profundamente patriótico e, não raro, exemplo de austero defensor
das liberdades individuais.
O brasileiro, ao amar seu país, superando assim a síndrome de cachorro sem dono, cria
condições para o crescimento e manutenção da prosperidade nacional. Uma sociedade
que ama seu país trabalhará, estudará, educará e fará tudo com novo ardor, tendo como
anexo de suas motivações o crescimento pátrio e a prosperidade de seu povo.

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