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14 NOV '18
PEDRO HENRIQUE ALVES
O Brasil passou por constantes rupturas, sejam elas com a sua história ou com a
democracia. Não nutrimos um elo muito robusto com as nossas heranças, além
daquelas que recebemos de nossas famílias e costumes mais imediatos e “bairrescos”; a
nossa história, enquanto nação, nunca foi prioridade para governantes e cidadãos. Na
escola, o aprendizado dessa matéria era tratado como mera condição para passar de
ano, o estudo de nossos álbuns empoeirados e prateleiras de museus era coisa de
esotéricos das classes de humanas; nada e nem ninguém que mereça muita atenção.
Saber do contexto onde nossos avós cresceram, ou da política que vigorava quando
tínhamos reis e rainhas não passava de mera curiosidade que — vez ou outra —
encontrávamos num fim de tarde entediante de conversas familiares ou em programas
televisivos.
Não conhecemos minimamente a nossa história, “malemá” temos heróis nacionais que
habitam o nosso imaginário, nunca passamos por eventos que nos pediram um amor
sacrificial por nossa pátria; aliás, sejamos sinceros, mal sabemos o que é um amor
pátrio. Somos quase que apátridas em terras ermas e aleatórias.
Um povo sem biografia:
O nosso elo histórico mais vigoroso foi cortado ainda na monarquia. Após o advento
da República de Deodoro, nos encontramos numa queda vertiginosa de apreço
nacional; não raro defendemos o implante de modelos internacionais pré-concebidos
em várias de nossas instituições, uma espécie de Ctrl-C + Ctrl-V jurídico, político e
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04/01/2019 “Brasil acima de tudo”: sou patriota e não sou fascista, acreditem se quiser - Instituto Liberal
social. Todavia, apartado de nossas raízes, não era de se espantar que tenhamos tentado
implantar braços nos lugares das pernas.
Quando um povo se afasta de sua aorta histórica, ele vira um Frankenstein político,
uma nação retalhada por ideologia, dissensões religiosas e brigas que não possuem
nenhum objetivo que não a busca incessante e selvagem pelo poder e vantagens
diversas. As instituições fundadas para serem instrumentos e vozes do populacho nada
mais se tornam do que cabides de emprego, centros oficiais de corruptelas e demais
atos vis a que diariamente assistimos nos noticiários como se fossem séries da Netflix.
Quando o povo não conhece as suas heranças, fica impossível amá-las; e, se não as
amamos, por qual motivo deveríamos nos sacrificar e nos desgastar por elas? Quem
não conhece a sua história, não sente com a sua história, não sofre com a sua história,
não permanece com a sua história; mantém seu pensamento num egocentrismo
“tolificante”; fecha-se em sua áurea de certezas e individualismos, sem ter qualquer
apreço por aqueles que se avizinham e mantêm elos de sangue ou camaradagem. O
povo que não sabe sequer quais foram as gentes que deram origem aos filetes de ouro
que tecem o seu DNA genético e histórico não será capaz de patriotismos e
autossacríficios por sua nação.
Patriotismo não é nacionalismo:
Outro fator que impossibilita o amor pátrio pelo Brasil é a confusão recorrente
entre nacionalismo e patriotismo. Nacionalismo é um sentimento que geralmente está
alicerçado no remorso por flagelos e humilhações pregressas, além do desejo
desenfreado por poder e pela soberania de um grupo auto-eleito: “o mais puro”. Trata-
se de uma ideologia que enxerga a virtude social e moral sob a posse exclusiva de seu
povo, raça ou casta; pregando, dessa maneira, a ideia de que todos devem se dobrar
frente à sua concepção de governo e Estado — caso contrário, eles próprios farão isso
pela força militar, “pelo bem de seu grupo”.
No nacionalismo, não há lugar para irmandades e amor; o sentimento predominante é o
egocentrismo alastrado e massificado, as almas dos indivíduos são cimentadas e
transformadas num bloco uniforme de obediências e dogmatismos padronizantes; tudo
isso abrangendo o Líder (sumo sacerdote do Estado) como o representante mor e chefe
inconteste. Não há nacionalismo sem Estado forte, obeso e burocrático; a burocracia é
o modus operandie a desculpa para o controle social e cultural.
Patriotismo não é nazismo, comunista ranhento:
O patriotismo, por sua vez, é um sentimento fincado na partilha, na consciência de
afeição e fraternidade de sangue ou vizinhança entre os concidadãos de um país
(família, bairro, cidade, estado); mas, principalmente, se trata do apreço por suas
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04/01/2019 “Brasil acima de tudo”: sou patriota e não sou fascista, acreditem se quiser - Instituto Liberal
Sei que é difícil imaginar tal postura de apego e amor ao Brasil. O momento em que
aqui o civismo teve propaganda foi justamente na época do Regime Militar, uma época
nada exemplar em muitos patamares. No entanto, amar o país não significa apoiar
ditaduras, ser nacionalista ou antidemocrático; um dos países mais democráticos do
mundo, os EUA, é profundamente patriótico e, não raro, exemplo de austero defensor
das liberdades individuais.
O brasileiro, ao amar seu país, superando assim a síndrome de cachorro sem dono, cria
condições para o crescimento e manutenção da prosperidade nacional. Uma sociedade
que ama seu país trabalhará, estudará, educará e fará tudo com novo ardor, tendo como
anexo de suas motivações o crescimento pátrio e a prosperidade de seu povo.
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