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03/03/2019 A ANÁLISE FUNCIONAL E AS CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO - Portal Comporte-se

A ANÁLISE FUNCIONAL E AS CONTINGÊNCIAS DE


REFORÇAMENTO
Por Camila Comodo - 12 dez. 2016

Todos os profissionais atuam baseados em conceitos e usam instrumentos no seu dia-a-dia de


trabalho, e não seria diferente com o psicólogo! Os médicos têm como objetivo a cura das
doenças, e utilizam medicamentos para realizá-la. Os arquitetos procuram construir casas e
edifícios, e assim manejam réguas e compassos para tornar as construções possíveis. E os
psicólogos analistas do comportamento, e especialmente quem trabalha com Terapia por
Contingências de Reforçamento, têm como conceito para explicar comportamento, a análise
funcional, e como instrumento para realizá-la, as contingências de reforçamento.

Primeiro vamos falar um pouquinho sobre a Terapia por Contingências de Reforçamento, mais
conhecida pela sigla TCR. A TCR é uma forma de fazer terapia comprometida com o Behaviorismo
Radical e com a ciência da Análise do Comportamento. Sendo assim, o objeto de estudo da TCR é
o comportamento humano, e para fazer modificações no comportamento, Guilhardi (2004)
defende que deve-se alterar as contingências de reforçamento, das quais o comportamento é
produto (por isso a sigla TCR, já que manejamos as contingências de reforçamento para produzir
mudanças nos comportamentos).

Guilhardi (2004, p.07) afirma que a TCR abrange: “um conjunto de interações comportamentais
que ocorrem em diferentes contextos, nos quais uma pessoa com a função de agente de mudança
comportamental (terapeuta) influencia os comportamentos de outra pessoa (cliente), que
solicitou, da primeira, ajuda para alterar comportamentos e sentimentos que lhe são aversivos e
cuja mudança está incapacitada de fazer por si mesma”.

A TCR se diferencia de outras terapias comportamentais pelos procedimentos que usa e pelo
compromisso conceitual e experimental. Assim, os psicólogos da TCR usam as contingências de
reforçamento como instrumento para fazer a análise funcional delineando a avaliação e a
intervenção em comportamentos que estão trazendo sofrimentos para os clientes.

A tarefa de definir a análise funcional não é tão simples. Sturmey (1996), por exemplo, localizou
sete diferentes definições para o termo! Sob a perspectiva da Análise do Comportamento,
podemos considerar a definição elaborada pela professora Maria Amélia Matos em 1999. Essa
professora afirmou que fazer análise funcional é “identificar a função, isto é, o valor de
sobrevivência de um determinado comportamento” (Matos, 1999, p. 11). Vejamos também a
proposta de Sidman (1989/2011, p. 104) para o conceito de análise funcional: “Essa é a essência
da análise de contingências: identificar o comportamento e as consequências; alterar as
consequências; ver se o comportamento muda. Análise de contingências é um procedimento
ativo, não uma especulação intelectual. É um tipo de experimentação que acontece não apenas no
laboratório, mas, também, no mundo cotidiano”.

Então, fazer uma análise funcional é estabelecer relações entre a ocasião em que a resposta
ocorre (antecedentes), a resposta e as consequências que essa resposta produz. E são essas
relações de interdependência entre os antecedentes, a resposta e as consequências que
chamamos de tríplice contingência a qual esquematizamos da seguinte forma:

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A análise funcional é concretizada a partir do manejo das contingências de reforçamento que


estão produzindo, mantendo ou enfraquecendo o comportamento. O terapeuta por contingências
de reforçamento evidencia a análise funcional e, como tal, demonstra porque o cliente apresenta
determinado comportamento e planeja quais contingências deverão ser alteradas para que o
cliente tenha mais qualidade de vida!

Então vamos ver como o terapeuta por contingências de reforçamento trabalha de forma a
construir a análise funcional por meio das contingências de reforçamento? Vamos pensar em uma
mãe hipotética que relata o seguinte para o terapeuta: “Não consigo lidar com o meu filho! Toda
vez que ele está comigo, ele grita para eu ligar a TV para ele. Mas com o pai, ele não faz isso, só
comigo! Quando o pai dele chega, meu filho liga a TV sozinho, sem ajuda!”. Esse é a queixa da
mãe, e é tarefa do terapeuta da TCR transformar esse relato na tríplice contingência!

O primeiro passo, de acordo com Matos (1999), seria identificar a resposta de


interesse, ou, pensando na análise funcional, a coluna do meio. O terapeuta
por contingências de reforçamento faz isso apresentando algumas perguntas
ao cliente ou observando o comportamento do cliente quando isso é possível.
Por exemplo, no caso da mãe hipoteticamente apresentada: Quando você
está presente, como o seu filho age? O que o seu filho fala para você nesses
momentos? Como seu filho pede para assistir a TV? Quando o pai está
presente, como o seu filho age? Entre outras perguntas que vão ajudar o
terapeuta a preencher a coluna da resposta na análise funcional.

Em seguida, o terapeuta observa ou faz perguntas sobre as condições antecedentes, ou seja,


aquelas que estão presentes no ambiente quando o comportamento ocorre e servem de ocasião
para a resposta do cliente. Nesse caso, o terapeuta poderia fazer perguntas como: Quem está
presente quando o seu filho começa a gritar? O que você está fazendo quando o seu filho grita?
Essas e outras perguntas vão preencher a primeira coluna da tríplice contingência.

Por fim, o terapeuta procura descobrir as consequências produzidas pelas respostas do cliente,
consequências essas que estão mantendo ou enfraquecendo o comportamento do cliente. Nesse
ponto, poderiam ser feitas as seguintes perguntas para a mãe hipotética: Como você reage
quando o seu filho grita? Como o pai reage quando seu filho liga a TV?

Por meio dessas perguntas ou observações, o terapeuta por contingências de reforçamento


“monta” a tríplice contingência. E a partir dessa análise é que serão propostas algumas alterações
nas contingências em operação na vida do cliente. Voltando uma última vez à mãe fictícia,
provavelmente vamos ter como resultado da tríplice contingência as seguintes situações: Na
presença da mãe, o filho grita pedindo que ela ligue a TV e produz como consequência a TV ligada
pela mãe (a mãe prontamente larga o que estiver fazendo e diz “não precisa gritar comigo”,
enquanto liga a TV). Na presença do pai, o filho pega o controle remoto, liga a TV e acomoda-se
no sofá ao lado do pai, produzindo como consequência a atenção e o afeto do pai (o pai diz “você
é muito sabido, querido!”). Sendo assim, fica claro, por meio da análise das contingências de
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reforçamento, que cada um dos genitores selecionou um padrão


diferente de comportamento no filho. Não se trata de dupla
personalidade, nem de que o filho ama mais o pai do que a mãe.
Simplesmente a mãe é estímulo discriminativo para exigir com gritos e
ser atendido, e o pai é estímulo discriminativo para o filho ligar a TV
com independência e ser elogiado. De posse dessas análises, o
terapeuta por contingências de reforçamento vai orientar essa mãe a
não mais atender o filho quando ele grita, esperar que ele próprio ligue
a TV e só então reforçar tais respostas. Com isso, o filho passará a se comportar na presença da
mãe, da mesma forma que o faz na presença do pai.

Concluindo, a análise funcional é uma forma de entender porque os comportamentos ocorrem. E o


instrumento com qual se faz a análise funcional e com qual se intervém nos comportamentos,
visando alterá-los, são as contingências de reforçamento!

REFERÊNCIAS:
Guilhardi, H. J. (2004). Terapia por contingências de reforçamento. Em: Terapia Comportamental e
Cognitivo-Comportamental: práticas clínicas. Cristiano Nabuco de Abreu e Hélio José Guilhardi
(Orgs.). São Paulo: Roca.
Matos, M. A. (1999). Análise funcional do comportamento. Estudos de Psicologia, 16 (3), 8-18.
Sidman, M. (1989/2011). Coerção e suas implicações. Editora Livro Pleno.
Sturmey, P. S. (1996). Functional Analysis in Clinical Psychology. England, John Willey & Sons.

Camila Comodo

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