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A ORQUESTRA DE CORDAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

CARIRI COMO UM FATOR DE INTERAÇÃO SOCIAL

Gessyane de Santana Monte1


Priscilla Grycia Sousa Silva 2
Rosa Janine Alves Oliveira 3
Marco Antonio Silva4

RESUMO:​ Este trabalho propõe um estudo sobre a rotina da Orquestra de cordas da


Universidade Federal do Cariri apresentado através da análise de seu repertório e sua
inserção na comunidade do cariri, proporcionando aos alunos da Universidade Federal
do Cariri, assim como aos cidadãos da região um fator de interação social e troca de
conhecimento a partir da prática instrumental.

Palavras–chave: extensão; interação social; orquestra de cordas; repertório

INTRODUÇÃO

O curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Cariri promove diversos


projetos e ações de extensão. Essas atividades estão relacionadas à interação social e troca
de conhecimento a partir dos projetos (cursos, oficinas, palestras e grupos musicais). Assim,
compreende-se que:

A extensão, entendida como uma das funções básicas da Universidade é


o processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a
pesquisa de forma indissolúvel e viabiliza a relação transformadora entre
a Universidade e a Sociedade. (UNIVERDIDADE FEDERAL DO CEARÁ,
Resolução nº 06/CEPE, 1989)

Compreende-se, portanto que o objetivo da extensão é trazer novas perspectivas, enriquecer


as experiências musicais da região e ampliar a atividade musical fora do campus. A Orquestra
de Cordas da Universidade Federal do Cariri é um projeto de extensão criado pelos
professores Marco Antonio Silva e Claudio Mappa Reis. Esse grupo foi iniciado com o objetivo
de proporcionar aos alunos das disciplinas de prática instrumental de cordas friccionadas
(violino/viola e Violoncelo/Contrabaixo) a vivencia da música de concerto, como também da
música popular. Outro objetivo desse projeto é estabelecer a interação entre a Universidade e o
meio social na qual está inserida. Nesse sentido a orquestra é constituída não só de jovens
aprendizes do curso de música, como também de instrumentistas da região. O grupo iniciou
suas atividades com 15 participantes, e hoje conta com 25 integrantes, dos quais 12 são
bolsistas com funções divididas em: 1 secretária, 1 arquivista, 5 chefes de naipe, 1
acordeonista, 2 percussionistas e 2 montadores. Cada Bolsista tem um papel fundamental na
organização da orquestra, e os ensaios acontecem todas as segundas e quartas-feiras de 13
às 17 horas, em uma sala no bloco do curso de música. A orquestra cumpre um papel
importante na formação dos futuros educadores musicais da região. Desta forma, torna-se
importante investigar a rotina, repertório, e sua interação com a sociedade sob a ótica dos
investigadores que ao mesmo tempo são músicos desse grupo.

METODOLOGIA DE INTERVENÇÃO

De acordo com Minayo (2010), a observação participante é um procedimento pelo qual o(s)
pesquisador (es) observa (m) um evento da sociedade com o objetivo de construir uma
investigação cientifica. A ferramenta metodológica que escolhemos para embasar essa
pesquisa, observação participante, é o fato de estarmos inseridos dentro do grupo e a
necessidade de compreender tal grupo social.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A rotina da Orquestra tem inicio com os integrantes dirigindo-se à sala de ensaios, e o


coordenador do projeto, auxilia os músicos na afinação e organização do espaço. A afinação
tem origem de uma única referência, que pode variar entre a nota Lá do piano, ou do
acordeom, ou ainda de um dos violinos. Durante a afinação, aqueles que possuem mais
experiência ajudam os iniciantes na afinação de seus instrumentos. No decorrer deste
processo aqueles que ainda não tem o ouvido tão apurado para as pequenas diferenças de
afinação podem aprender e treinar suas habilidades para a afinação de seu próprio
instrumento, e os que já possuem tal capacidade podem enriquecer seus métodos pedagógicos
a partir da troca de saberes. Quando todos os instrumentos encontram-se devidamente
afinados, os músicos se dispõem em seus lugares e ensaiam as músicas propostas pelo
maestro. Estas obras que compõe o repertório da orquestra são escolhidas pelo regente tendo
em vista o nível técnico dos participantes. Um dos compositores que mais se adequa ao
repertório da orquestra é o
italiano Antonio Vivaldi (1678-1741), sem dúvida, um dos mais conhecidos e populares da
história da música, simbolizando a essência da música barroca (PALISCA, 1988). Dentre suas
várias composições a orquestra interpreta o primeiro movimento do Concerto for Strings in D
major (RV 121). Esta obra apresenta um nível técnico acessível para todos os estudantes da
orquestra. O que possibilita ao regente a oportunidade de explorar as arcadas, afinação,
dinâmicas, consequentemente mais fluência durante a execução da música. Outro aspecto
percebido nesta obra é que ela apresenta vários trechos em uníssono, onde o público pode
apreciar uma grande massa
sonora com uma pulsação viva, ou seja, um andamento rápido e dinâmico. Vale
salientar que essa obra apresenta vários trechos com o mesmo motivo melódico para
todos os instrumentos de cordas, ou seja, em forma de uníssono.
Esse procedimento se assemelha ao método Jaffé, conforme descrição de
Silva (2008):
Jaffé utilizava como princípio, as semelhanças dos instrumentos. Conseguiu
unir essas semelhanças para poder ensinar diferentes instrumentos em um
mesmo momento. Ou seja, todos tinham corda Lá, portanto, todos poderiam
iniciar o treinamento de um mesmo ponto de partida. Aplicando a mesma
digitação, tocavam a mesma melodia. Tendo em vista que se tratava de um
método de iniciação para instrumentos de cordas, entende-se que essas
semelhanças constituem uma forma de unir todos os quatro instrumentos em
uma mesma sala de aula.
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Essa metodologia implantada pelo professor Alberto Jaffé é utilizada nas
aulas de prática instrumental do curso de música da UFCA. E assim como no
método citado, esta música de Vivaldi se utiliza das cordas soltas para expor o
motivo melódico que é comum entre todos os instrumentos de cordas
friccionadas. Consequentemente, o que envolve todos os músicos da orquestra
em uma mesma direção sonora.
Além de Vivaldi, outro autor bastante utilizado no repertório da
orquestra, é o famoso compositor Ludwig van Beethoven. O tema de sua 9ª
Sinfonia faz parte do repertório, sendo considerado o ápice das apresentações da
orquestra. É sempre usada para apresentar a família das cordas ao público que,
no Cariri, dificilmente tem acesso a musica de concerto. A música começa com
os graves, ou seja, os contrabaixos. Em seguida a melodia é realizada pelos
violoncelos, posteriormente às violas e por fim é executada pelos violinos.
Ordenando-se, portanto, dos instrumentos mais graves, seguido pelos médios até
os agudos. Apresentando assim, um diálogo entre os instrumentos.
Regionalizando o repertório, insere-se no roteiro musical as músicas do
pernambucano Luiz Gonzaga (1912 – 1989)5. Com solos do acordeonista Ranier
Oliveira e do tenor Werbto Sales a música Juazeiro ganhou grande destaque no
âmbito popular e é sempre bem recebida e fortemente aplaudida pelos ouvintes.
Tanto pela letra que transmite a dor através arte (CORRÊA, 2012), como pelo
arranjo feito pelo maestro Bonifácio Salvador, aluno do curso de música, a
música surpreende os ouvintes por ser incomum no repertório para orquestras.
Em suas interpretações a orquestra busca expressar essa dor característica desta
música, dando assim mais profundidade à peça.
O que podemos apontar com a análise destas três peças é que a construção
pedagógica do repertório da orquestra se dá de maneira diversificada. A escolha do
repertorio visa suprir tanto a execução do tradicional repertório mundial para orquestras
de cordas (chamado popularmente como música clássica), como a interpretação de
obras de cunho regional, enraizadas na região do Cariri. Estas músicas se inserem na
rotina da orquestra como forma de motivar os participantes, mostrando-os que são
capazes de tocar essas obras de grande importância mundial. Assim como explora a
capacidade dos mesmos de interpretar músicas tradicionais que cresceram ouvindo.
Dessa forma os instrumentistas desenvolvem suas habilidades para ambos os estilos
(erudito e popular), não havendo assim prejuízo em suas capacidades. A execução de
peças amplamente conhecidas pelos participantes (as músicas regionais) facilita o
processo de aprendizado do instrumento e ajuda o iniciante a desenvolver mais fluência
ao tocar. Por já terem um conhecimento prévio do que irão interpretar os músicos
rapidamente respondem ao que o maestro pede durante a música, pois os mesmos já
possuem estas músicas internalizadas desde uma tenra idade.
Com as músicas prontas e devidamente ensaiadas, estas são levadas ao
público através de apresentações. À medida que o grupo ensaiava, realizava recitais e
apresentações, o mesmo foi consolidado como uma orquestra de estudantes, sendo
requisitado em diversos eventos e nos mais variados ambientes sociais. Podemos citar
vários concertos nas aberturas de eventos da UFCA assim como de outras universidades
5 Nascido na cidade de Exu-PE. Em uma apresentação em 1950, foi aclamado “o rei do baião”,

reconhecido assim até hoje no Brasil.
3
da região. Também fomos capazes perceber durante nossa observação que a sociedade
também foi cativada pela orquestra e seu repertório de concerto diversificado. Durante
estas apresentações houve intensa participação do público, incentivado pelo maestro, na
execução das músicas. O regente por sua vez, além de dialogar com a plateia, várias
vezes chamou algum espectador para vivenciar a regência de uma orquestra. É
concluso, portanto que esta interação com a comunidade é indispensável, visto que se
trata de um projeto de extensão.

CONCLUSÕES

Concluímos que a Orquestra como projeto de extensão tem uma importância


singular dentro da Universidade, por ser uma forma de interação com a Sociedade da
qual faz parte. Além de levar um repertório diferenciado à população do Cariri, aos
alunos dos outros cursos dessa universidade, e até mesmo aos alunos do curso de
música da UFCA a oportunidade de apreciar e participar, já que o maestro interage
diversas vezes com o público.
Com seu repertório mesclado de erudito e popular, sendo apresentado ao
público caririense por meio de apresentações em aberturas e encerramentos de eventos
que ocorrem na região. Permitindo o seu destaque dentro e fora do campus. Logo
compreendemos que esse grupo expande a atividade musical no Cariri. Um projeto
futuro é transformar a orquestra de cordas em uma orquestra sinfônica. Desta forma,
inserem-se na orquestra os instrumentos de sopros (madeiras/metais), para que se possa
desenvolver um repertório mais amplo e apurado.
Pode-se dizer então que a orquestra tornou-se um sólido grupo musical, de
suma importância para o curso de música, para o campus e para a região. O mesmo tem
participado ativamente na cultura da região do Cariri, como pudemos observar durante
nossa participação neste grupo.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a PREX o auxilio para o desenvolvimento deste trabalho. Ao


Marco Antonio Silva pela paciência durante os ensaios da Orquestra e pela orientação
neste trabalho.
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REFERÊNCIAS

GROUT, D. J & PALISCA, C. V. História da Música Ocidental. Lisboa: Gradiva, 2001.


MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 29ª ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2010.
SILVA, M. A. Reflexões Sobre o Método Jaffé Para Instrumentos de Cordas: A
experiência realizada na Cidade de Fortaleza. João Pessoa, 2008.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Resolução nº. 06/CEPE, de 19 de setembro
de 1989. Disponível em:
<http://www.prex.ufc.br/images/stories/arquivos/legislacao/ufc_resolucao06_cepe1989
_extensao.pdf>. Acesso em: 13 de Outubro de 2013.
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