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SUBJETIVIDADE
Conteudista
Prof.ª Esp. Susana Zaniolo Scotton
O tema dessa unidade, “O feminino: modernidade e subjetividade”, ao
que nos parece, merece atenção especial. Falar, por exemplo, sobre o
feminino, engloba uma série de considerações, principalmente, dentro dos
discursos da psicanálise e mesmo da psicologia.
Não nos parece possível atrelar espontaneamente o feminino aos
conceitos de modernidade e subjetividade, sem antes nos valermos de
algumas considerações. Isto é, a definição ou delimitação do feminino reclama
a presença da ideia de feminilidade, feminino, enquanto adjetivo. A
feminilidade, sim, percorre os discursos presentes na modernidade e,
juntamente com o feminino, participa do processo de subjetivação. Assim, ao
feminino acrescentamos a feminilidade para que possamos apenas iniciar uma
discussão, que não tem a pretensão de abarcar todos os inúmeros elementos
presentes a respeito do feminino e da feminilidade, principalmente, no que se
refere a sua presença no pensamento moderno e contemporâneo.
1
O termo polissemia significa que uma palavra, um termo, possui vários significados.
2
Quando dizemos feminino, ao que nos referimos? Ao
desenvolvimento da psicossexualidade da mulher como
proposto por Freud?; ao elemento feminino puro em homens e
mulheres como momento originário do Ser? (Winnicott); aos
processos identificatórios do materno primário, germe da
descoberta da alteridade e ao feminino primário matriz da
descoberta inicial da diferença entre os sexos? (Guignard,
1999); às perversões femininas (Welldon, 1988); a uma
posição feminina presente nos dois sexos e alicerce da
subjetividade?; ou será que estamos nos referindo ao estudo
dos papéis de gênero, condicionados pelos determinantes
sócio-culturais-ideológicos de época, que incidem em nossa
compreensão do que é masculino e feminino e que tem forte
impacto na construção das teorias e na prática psicanalíticas?
Estaríamos incluindo as diferenças entre os conceitos de
feminino e feminilidade? (HOLOVKO, 2008, p.13).
3
medida em que se constitui a mente (WOLFF, 2009, p.161,
grifos da autora).
2
Ou seja, o impulso mais primitivo que leva ao desejo de aderir ao seio materno.
4
feminino é essencial para a constituição psíquica, uma vez que possibilita a
noção de si mesmo3.
Para Wolff (2009), é esse feminino primordial que possibilitará o processo
de subjetivação. Claro que, nessa experiência primária corporal que o feminino
aparece como constituinte, não podemos esquecer que as diferenças
anatômicas proporcionam marcas de experiências corporais diferentes; e estas
vão constituir representações específicas nas quais o tempo, o espaço e a
sensorialidade constroem a imagem de corpo, que vai estabelecer a
identidade, incluindo a identidade sexual.
I. Subjetividade
Dentro de todos esses processos, atrelado a eles e resultado,
desencadeia-se a subjetivação, relacionada também ao meio que rodeia todo
indivíduo. Isto é, quando falamos em processo de subjetivação, subjetividade,
referimo-nos a:
[...] um terreno interno que se opõe ao mundo externo,
mas que só pode surgir deste [...]. Tal subjetividade se
desenvolve pela interiorização da cultura, que permite
expressar os anseios individuais e criticar a própria cultura que
permitiu a sua formação. A subjetividade implica a adaptação
para poder ir além dela, o que significa que pela própria
mediação da cultura o indivíduo pode pensá-la (CROCHÍK,
1998, p.1-2).
3
Há outros autores que partem dessa concepção de feminino como, por exemplo, Fiorini (1994),
Cosnier (1987), Montrelay (1979).
5
mesmo tempo, a relação estabelecida com a cultura. O processo de
subjetivação, que institui a feminilidade, pode ser bem sintetizado na famosa
frase de Simone de Beauvoir (2009, p. 361): “Ninguém nasce mulher, torna-se
mulher”.
O conceito de feminilidade, portanto, também faz parte de uma
construção social, histórica e cultural, a priori, associada às mulheres. As
desordens alimentares, por exemplo, pertenceriam também a gama de
elementos que correspondem à feminilidade4.
Sendo a feminilidade também um produto da cultura, podemos perceber
como foi construída por meio dos discursos de pensadores e cientistas ao
longo dos tempos.
Aquilo que nos foi herdado por meio do discurso, de acordo com as leis
da linguagem, revela uma estrutura de pensamento. A forma de concepção da
feminilidade, em nossa cultura, por exemplo, remonta o pensamento moderno 5,
pois esse é a base do pensamento contemporâneo; ou seja, para entendermos
a feminilidade hoje é preciso rastreá-la no momento em que a sociedade
começou a discutir os papéis e os lugares dos homens e das mulheres no
mundo; momento em que as mulheres iniciaram sua participação na esfera
pública.
4
Claro que os homens também são acometidos pelos transtornos alimentares.
5
O pensamento moderno (séc. XVII / XVIII Iluminismo) se caracterizou por sua ruptura com o
pensamento medieval (séc.V até séc. XV). Os preceitos desse momento englobavam a: valorização o
indivíduo, a consciência, a subjetividade, a experiência e a atividade crítica, em oposição às instituições, à
hierarquia, ao sistema e à aceitação dos dogmas e verdades estabelecidas, características da ordem social
medieval.
6
precisaria ser domada pela sociedade e pela educação para que assim as
mulheres pudessem cumprir o seu destino como fêmeas na sociedade
patriarcal; isto é, deveriam ocupar um único lugar social: a família e o espaço
doméstico, continentes necessários para a maternidade. Para que
correspondessem ao que se esperava delas, elas deveriam ostentar as
virtudes próprias do que era considerado feminilidade: o recato, a docilidade,
uma receptividade em relação aos desejos e necessidades dos homens e,
depois, dos filhos.
A partir do século XVIII, Foucault aponta para o surgimento de grandes
dispositivos de saber e poder sobre o sexo, sendo um deles a histerização do
corpo da mulher, entendida como um conjunto de estratégias produtoras de
uma sexualidade feminina, ou seja, uma sexualidade que deveria ser adequada
ao lugar que deve ser ocupado pela mulher na família burguesa:
Histerização do corpo da mulher: tríplice processo pelo
qual o corpo da mulher foi analisado como corpo integralmente
saturado de sexualidade; pelo qual este corpo foi integrado,
sob o efeito de uma patologia que lhe seria intrínseca, no
campo das práticas médicas; pelo qual, enfim, foi posto em
comunicação orgânica com o corpo social (cuja fecundidade
regulada deve assegurar), com o espaço familiar (do qual deve
ser elemento substancial e funcional) e com a vida das
crianças (que produz e deve garantir, através de uma
responsabilidade biológico moral que dura todo o período da
educação): a Mãe, com sua imagem em negativo, que é a
‘mulher nervosa’, constitui a forma mais visível desta
histerização. A mãe, mulher ociosa nos limites do mundo –
onde sempre deveria figurar como valor – e da família, onde
lhe atribuíam novo rol de obrigações conjugais e parentais:
assim apareceu a mulher nervosa, sofrendo de ‘vapores’; foi aí
que a histerização do corpo da mulher encontrou seu ponto de
fixação. (FOUCAULT, 2005, 99-114).
7
como não pensar no caso Dora6 e sua psicose doméstica, encerrada nos
limites do mundo e da célula familiar?
Em verdade, de acordo com Maria Rita Khel (1998), essa proliferação de
afirmações filosóficas, científicas e médicas sobre a natureza feminina e o
verdadeiro lugar determinado para elas denunciam os acontecimentos na
Europa desde o século das luzes. Isso porque a insistência com que
pensadores e cientistas afirmaram que o único lugar digno para a mulher é o
lar e sua tarefa mais importante e para a qual sua natureza a preparou, a
maternidade, pode ser pensada como reação a desordem social que se
esboçou no início do século XVII e se tornou alarmante no século XVIII,
momento em que a Revolução Francesa destruiu as fronteiras que apartavam
a esfera pública da vida privada:
Durante a revolução, as fronteiras entre a vida pública e a
vida privada mostraram grande flutuação. A coisa pública, os
espíritos públicos invadiram os domínios habitualmente
privados da vida. Não resta dúvida de que o desenvolvimento
do espaço público e a politização da vida cotidiana foram
definitivamente responsáveis pela redefinição mais clara do
espaço privado no início do século XIX. O domínio da vida
pública, principalmente entre 1789 e 1794, ampliou-se de
maneira constante, preparando o movimento romântico do
fechamento do indivíduo sobre si mesmo e da dedicação à
família, num espaço doméstico determinado com uma maior
precisão. No entanto, antes de chegar a este termo, a vida
privada iria sofrer a mais violenta agressão já vista na história
ocidental. (LYNN HUNT apud KHEL,1998, p.60).
6
Dora foi uma das pacientes histéricas de Freud e era uma mulher com inteligência e energia
superiores aos de seus genitores. Assim uma das hipóteses de sua histeria teria que ver com esse
encerramento numa vida doméstica muito pouco interessante, com pais limitados, em oposição à sua
grande capacidade.
8
Entre esses intensos deslocamentos entre a vida pública e privada, as
mulheres deixaram seus antigos postos e saíram às ruas, nem sempre
organizadas, mas com muita sede de participação cívica e desobediência
revolucionária, de tal forma que o teórico monarquista De Bonald afirmou que a
revolução não teria sido tão revolucionária se as mulheres não tivessem
participado. Depois, o próprio Marx afirmará que não há revolução possível
sem a participação das mulheres.
Para Sledziewski, a revolução deu às mulheres a ideia de que não eram
mais crianças, reconhecendo-lhes um lugar cívico que o antigo regime lhes
negava e, assim, elas puderam se tornar seres humanos completos, capazes
de exercerem seus direitos. No entanto, é certo também que os homens não
estavam preparados para as consequências do que Maria Rita Kehl chamou de
“a fúria do retorno do recalcado”, que significa o furor com o qual as mulheres
vieram às ruas nos primeiros períodos da revolução. De acordo com Khel
(1998, p.62): “Incendiárias, indisciplinadas, buchas de canhão nas mais
violentas insurreições populares, as mulheres estiveram na linha de frente das
manifestações públicas no final do século 18”:
Ora, sabe-se que na Europa moderna as mulheres
desempenhavam tradicionalmente o papel de agitadoras. Não
é, portanto, de admirar encontrá-las à cabeça de certas
insurreições parisienses. Em 5 de outubro de 1789, foram elas
as primeiras a se agrupar e marchar sobre Versalhes, seguidas
nessa tarde pela guarda nacional. Os levantamentos da
Primavera de 1795 começaram pelas suas manifestações [...]
elas desempenhavam o papel de bota-fogo, escreverão mais
tarde as autoridades. (DOMINIQUE GODINEAU apud KHEL,
1998, p. 62-63).
10
aspectos da vida social, familiar ou política. Fora esse filósofo, os
revolucionários não mostravam qualquer simpatia pelas pretensões das
mulheres.
O conceito de natureza relacionado às mulheres, que estava presente
desde o século XVIII e perdurou nas Luzes, assumiu um valor de explicador
universal, transcendente para o valor de imanência7 próprio do pensamento
científico oitocentista. Se a ideia de natureza, de algum modo, deslocou o
homem do centro do universo e eliminou toda causa metafísica e divina para o
comportamento humano, por outro lado, no que concerne à mulher, tornou-se
um argumento poderoso para escravizá-la às particularidades de sua biologia.
Diz Maria Rita Khel (1998, p.67): “Poucos homens, mesmo entre os intelectuais
mais revolucionários, aceitaram o estado de abandono que parecia ameaçar
seus lares, seus filhos e a vida conjugal como um todo em decorrência da fúria
que as mulheres se atiraram para fora de casa nas Revoluções (1789-1848)”.
Porém, nesse mesmo período, Olympe de Gouges, completando a
declaração dos Direitos dos Homens, escreveu a Declaração dos Direitos da
mulher e da cidadã, no qual se engajava na campanha por uma militância
feminina contra a tirania dos homens. Um pouco depois na Inglaterra, 1792,
Mary Wollostonecraft publicou uma reivindicação pelos direitos da mulher, no
qual afirmava que, para as mulheres, a aquisição dos direitos sociais
inexistentes ainda representava o desejo de modificações significativas em seu
destino. Dois anos antes, Condorcet já havia publicado um texto sobre a
admissão dos direitos de cidadania das mulheres, em que questionava a
exclusão das mulheres do direito de cidadania. Para ele, isso representava
equivalência a qualquer outra forma de discriminação ao espírito emancipador
da Revolução. A advertência do filósofo foi algo surpreendente, pois essa era
a primeira vez que uma voz masculina se opunha à vasta argumentação sobre
as razões naturais para a discriminação das mulheres.
No entanto, o próprio Condorcet pecou por certa leviandade masculina ao
afirmar que menstruação e gravidez poderiam ser equiparadas aos ataques de
gota e constipação sofridos por alguns homens. Na verdade, ele tinha como
7
O conceito de imanência tem que ver com aquilo que é indissociável, inseparável. Nesse
sentido, a ideia de que a natureza feminina explicava o comportamento e o caráter das mulheres esteve
profundamente atrelado ao pensamento científico durante muito tempo na história da humanidade.
11
base um sentimento que mulheres como Wollostonecraft tentavam chamar
atenção e que teria que ver com o fato de uma mulher passar a maior parte da
vida sentindo-se igual aos homens, uma vez que sua experiência de vida não
tenha sido apartada da experiência masculina pela educação e convenções
sociais. Wollostonecraft afirmou ainda que as qualidades humanas independem
do sexo: “não existe sexo nas almas”, disse ela, debatendo as ideias de
Rousseau. Mais tarde (1822), a feminista francesa Frances Wright escreveu a
um amigo que a mente não teria sexo, a não ser aquele que o hábito e a
educação lhe dão. Em 1837, a escritora francesa Aurore Dupin (George Sand),
também, numa carta a um amigo, referiu-se ao seu imenso orgulho, que
poderia levá-la a um destino heróico não tivesse ela a infelicidade de nascer
mulher.
Mas as contemporâneas de Wollostonecraft e Olympe de Gouges e as
mulheres de gerações seguintes pouco compartilharam com suas ideias e
reivindicações. Peter Gay, por exemplo, citando as cartas de leitoras feministas
na Revista L’Athénée dês Dames, advertiu as mulheres quanto ao ridículo de
se questionar a superioridade masculina sobre as mulheres. Ou seja, mesmo
no período revolucionário, o entusiasmo de um grande grupo de mulheres não
correspondia à formação de um novo senso comum questionando as
diferenças naturais entre os sexos.
Geneviève Fraisse, no volume 4 da História das Mulheres, dedicou um
capítulo à história do pensamento filosófico sobre a diferença entre os sexos.
Ela citou autores, como Fitche, Kant e Hegel, que divergiram sobre o estatuto
moral e jurídico do casamento e da família, mas que concordaram inteiramente
com aquilo que Kant considerava como a incapacidade civil e a dependência
natural das mulheres. Mesmo que Kant considerasse que a mulher também era
um ser racional e que, portanto, deveria ser livre em suas escolhas, seria essa
mesma razão que destinaria a mulher a seu papel de reprodutora da espécie e
à submissão de seus interesses particulares aos da espécie, representada pela
família.
Hegel, por sua vez, reconhecia um estatuto de sujeito do lar às mulheres,
excluindo as mesmas de qualquer participação na construção das civilizações.
Para ele, a dialética entre a família e a comunidade só poderia funcionar com
base numa repressão positiva da feminilidade, a qual, entretanto, não
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desapareceria inteiramente – como tudo que é reprimido – transformando-se,
então, na eterna ironia da comunidade.
De todos os escritores que se manifestaram a favor da volta das mulheres
ao seu estado de natureza, o mais dedicado e influente foi Rousseau, que
desenvolveu no Contrato Social o ideal de casamento baseado no amor, na
liberdade dos cônjuges e na busca da felicidade compartilhada. Esse autor se
transformou no grande propagandista das virtudes do amor materno com a
publicação de Émile (1762). Nessa obra, o capítulo V é dedicado à descrição
da esposa perfeita ao seu herói, Sofia, paradigma do ideal de feminilidade
baseado na dedicação, na doçura e na submissão. Assim, ele demonstrou ao
leitor por que a diferença sexual faz toda diferença entre os sexos. Afinal, para
a época, tal diferença determinaria a posição da mulher na espécie como
procriadora e responsável pela manutenção da prole:
Mas se Émile trata da educação, é importante
observarmos que a natureza aqui é somente o fundamento
irredutível sobre o qual se constituem homem e mulher. De
resto, os ideais de gênero para os personagens estão
claramente construídos, não mais como características naturais
e sim como desejáveis para que cada um cumpra seu papel
em sociedade – a partir de suas predisposições naturais. [...] só
existe uma mulher, esta mulher. Trata-se de aconselhar os pais
sobre como educar sua jovem filha para ser uma Sofia, isto é:
para ser Mulher (KHEL, 1998, p.72-73).
15
Porém, depois de tantas lutas ao longo do percurso histórico, as
mulheres, as mães das famílias burguesas do século XIX, não eram mais
obrigadas a ocupar o lugar de Rainhas do Lar, conquistaram direitos e
participaram e participam ativamente da sociedade; no entanto, havia - e ainda
há - um gozo nessa posição (maternidade, casamento, etc.) designada
socialmente como feminina.
De qualquer forma, no último século, o avanço das mulheres sobre todos
os espaços da vida pública abalou a sustentação imaginária da diferença, dita
“natural”, entre os sexos8. O resultado disso para os homens teve o efeito de
uma perda ou mesmo de uma “feminização”. A masculinidade, construção
discursiva tão cultural como a feminilidade, vem sendo profundamente
desconstruída. Hoje, de acordo com Khel (2007), a questão freudiana, “o que
quer uma mulher?” foi substituída, em nossos dias, por: “o que é um homem?”
ou “O que um homem precisa fazer para provar que é realmente um homem?”.
Se na vida pública os lugares ocupados por homens e mulheres já se
embaralharam de maneira irreversível, na vida privada a resposta parece
banal, diz Khel (2007): um homem “se garante” ao satisfazer sua mulher? O
resultado disso é o poder sexual das mulheres se tornar quase intolerável, com
efeitos de aumento da violência doméstica.
Desde a popularização dos métodos anticoncepcionais, nada mais obriga
uma mulher a permanecer casada, nem fiel, ao homem que não a satisfaz.
Mesmo o casamento, que na modernidade inspirou-se na ideia de que homem
e mulher poderiam se tornar dois em um, já não é o que prometia ser.
Entretanto, esses movimentos de conquista e liberdade fluem de forma
diferente nas diferentes culturas. Há culturas em que essas questões são
discutidas de forma aberta e democrática e onde há a participação ativa de
ambos os sexos e culturas em que há a predominância da subserviência da
mulher.
Mesmo que grandes mudanças tenham acontecido, fica claro como a
questão da feminilidade ainda está atrelada à noção de natureza, de
sexualidade, de corpo e como o corpo feminino ainda é objeto de especulações
8
Para saber mais, ver Maria Rita Khel, O que pode uma mulher (2007).
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diversas. O corpo reprimido das histéricas, o corpo moldado para o olhar do
outro ainda hoje, a submissão do corpo aos anseios dos outros e de si próprio,
etc. ainda é uma questão que perdura e que está profundamente ligada como
vimos a questões políticas e sociais, à expressão da liberdade. Há tanto um
retrocesso das mulheres ao casamento e suas formas arcaicas, como comenta
Kehl num outro texto de 2002, como também uma impossibilidade de viver a
maternidade de forma plena. Um dos maiores problemas das mulheres hoje é
engravidar e poder vivenciar da melhor forma seu período gestacional.
Obviamente todas essas questões influenciarão na vida social como um todo,
coibindo progressos e retrocessos.
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REFERÊNCIAS:
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