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“AMOR DE PERDIÇÃO”, DE CAMILO CASTELO BRANCO

Escola Secundária de Vergílio Ferreira

Professora Ana Cirne

Trabalho realizado por: - Beatriz Gomes, nº3


-Constança Gameiro, nº5
-José Santos, nº15
-Maria Francisca Verdelho, nº18
-Marta Gomes, nº20

Turma: 11º7ª

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INTRODUÇÃO:
O trabalho que nos foi proposto no âmbito da disciplina Português, consiste em foi
interpretar a obra “Amor de Perdição”, da autoria de Camilo Castelo Branco, em diferentes
parâmetros, nomeadamente sobre a ação, as personagens, o tempo, o espaço e o discurso
utilizado pelo autor.
Castelo Branco integrou a segunda geração romântica ou seja, a sua obra reflete valores e
ideais românticos, já consolidados solidificados, bem como o gosto da nova classe dirigente,
a burguesia, mais interessada na expressão da emoção, em vivências locais e familiares,
naquilo que despertava a sua imaginação e sensibilidade. Por outro lado, e sobretudo a
partir de 1855, a sua obra não deixa igualmente de transparecer uma vertente social que
está mais próxima da estética realista/naturalista. Assim, esta obra, publicada em 1862, é
um exemplo claro da interseção da vertente romântica do idealismo, do amor-paixão, e da
vertente realista de sátira social, de crónica da mudança social.

DADOS BIOGRÁFICOS DO AUTOR:


Camilo nasceu em Lisboa, filho de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco e mãe incógnita.
Foi um escritor português, romancista, cronista, crítica dramaturgo, historiador, poeta e
tradutor do século XIX e viveu uma vida tipicamente romântica.
Foi o primeiro Visconde de Correia Botelho, um título concedido pelo rei D. Luís. Foi um dos
escritores mais prolíferos e marcantes da literatura portuguesa. Castelo Branco adotou
alguns pseudónimos como “Saragoçano”, “Manoel Coco” ou “Anastácio das Lambrigas”.
Acabou por falecer em 1890.
CARACTERÍSTICAS DA ESCRITA DE CAMILO CASTELO BRANCO:
Camilo, ao longo desta obra apresenta diversas características, destacando-se de outros
escritores portugueses como:
- Tem como tema predominante o amor que leva à desgraça, à perdição (amor-paixão);
- Revela uma escrita com qualidade conceptual e uma condução própria da narrativa;
- Revela os costumes, os comportamentos e o falar do norte;
- Esta obra (Amor de Perdição) é um reflexo do seu próprio percurso biográfico (agitação,
instabilidade, raptos, conflito entre a paixão e a razão);
-O ser humano como vítima das suas próprias atitudes / paixões, deixando de ser um
joguete do destino;
- Os impulsos do coração determinam a ação das personagens principais, que se confrontam
com outras, movidas por outros impulsos.
Para além disso, esta obra, estando inserida no Romantismo, apresenta diversas
características e abrange diversos temas predominantes deste período literário,
nomeadamente o culto da natureza, em tumulto (locus horrendus), recheado de imagens
tenebrosas, noturnas e sombrias, em consonância com o estado de espírito do herói
romântico (espécie de anti-herói, auto excluído da sociedade por se sentir incompreendido
e desenquadrado), o pessimismo, o culto da ideologia patriótica, pois o patriotismo conduz
à defesa da pátria e da justiça, entre outros.

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AÇÃO:

Estrutura da obra:
A narrativa desta obra pode resumir-se à frase “Amou, perdeu-se e morreu amando.”
Amou- Introdução -Capítulo II- Apresentação dos antecedentes propícios ao desenrolar da
ação.
Perdeu-se - Desenvolvimento - Capítulo III-IX- Ação central e todas as peripécias
desenvolvidas.
Morreu amando- Conclusão - Desfecho trágico da ação.

Resumo dos capítulos / ação:

Amor de Perdição narra a vida do jovem Simão Botelho, filho de Domingos Botelho. Tinha
um irmão mais velho, Manuel Botelho, com quem tinha alguns desentendimentos, tinha
duas irmãs mais novas, sendo a mais pequena, Rita, a sua preferida e sua mãe também
chamada Rita que possuía uma postura bastante severa e arrogante.
Simão era um jovem violento e problemático que por vezes envergonhava a sua família, as
suas atitudes traziam desgosto e desprezo aos seus pais, a maioria das suas amizades eram
com pessoas desordeiras e de classes sociais inferiores, para além disto passava os dias a
agredir as pessoas pelos locais que passava. Por consequência de um romance o rapaz muda
o seu comportamento completamente tornando-se: caseiro, quieto e calmo. A sua paixão
pela jovem Teresa Albuquerque, filha de Tadeu Albuquerque, inimigo de seu pai era
proibida e mantida em segredo pelos dois apaixonados que mal se podiam observar na rua.
Simão retorna a Coimbra, onde tinha iniciado os seus estudos, a fim de terminá-los para
dessa forma ter condições de construir um futuro com a sua amada. O rapaz esforçou-se ao
máximo nos estudos, enquanto ambos continuaram a manter o romance através de cartas.
Nesta mesma altura, Teresa e Ritinha, a irmã de Simão, tornaram-se amigas e Teresa
confidencia-lhe o segredo do romance. Um dia Domingos encontra a filha a conversar com
Teresa e obriga-a a contar tudo o que sabe. O pai ao saber do romance fica exaltado e neste
momento começa todo o tormento do casal.
Tadeu, pai de Teresa, ao saber agora o que se passava entre a filha e Simão promete a mão
da filha ao seu sobrinho Baltazar Coutinho, sabendo que a sua filha sente pelo seu primo
apenas repugnância. O pai, não conseguindo mesmo assim separar o casal, começa a
ameaçar Teresa constantemente: ou a menina casava com o primo ou tornar-se-ia freira.
Esta não opta por qualquer uma destas opções e mantém-se sempre fiel a Simão que
através de cartas enviadas pela mesma fica a saber o que se passa na sua ausência. Simão
volta de Coimbra zangado pelas tentativas de Baltazar de acabar com o seu romance. Desta
vez não volta para sua casa, instala-se na casa de um ferrador que devia a vida ao seu pai,
chamado de João da Cruz, tornando-se o homem seu servo fiel e prometendo-lhe ajuda em
relação à Teresa.
João possuía uma filha de nome Mariana que logo se apaixonou perdidamente por Simão,
tratando-o com todo carinho e ternura mesmo sabendo que o seu amor nunca seria

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correspondido. Teresa, sabendo da presença de Simão na casa de João avisa-o através de
cartas sobre o seu aniversário dizendo a este que esta seria uma noite oportuna para um
encontro entre os dois. Simão vai então ao local marcado, mas não consegue encontrar
Teresa porque Baltazar percebera que algo estava diferente quando a seguiu. O encontro é
remarcado para o dia seguinte e Simão volta na noite seguinte, contudo Baltazar já lhe havia
preparado uma armadilha. João da Cruz que já havia pensado que tal armadilha seria uma
possível jogada de Baltazar vai com Simão e com um ajudante para auxiliar o rapaz que
estava em perigo. O encontro faz-se e começa uma briga entre Baltazar e Simão. Este e os
seus companheiros fogem do local a cavalo, entretanto os ajudantes de Baltazar
perseguem-nos. João mata um dos homens e o outro foge, Simão é ferido no ombro e
levado para a casa do ferrador. João e Mariana fazem de tudo pelo hóspede chegando ao
ponto de darem as suas economias ao mesmo fingindo ser esta uma quantia enviada pela
mãe de Simão, para este se curar.
Teresa continua a rejeitar o casamento e por isso é obrigada a instalar-se num convento
por ordem de seu pai. Leva secretamente consigo o tinteiro e papéis para continuar a
escrever cartas a Simão. No convento, onde pensava que teria uma vida em paz,
surpreende-se com o convívio com freiras fofoqueiras e maldosas que a julgavam. Mais
tarde, Tadeu resolve tirar a filha daquele convento para levá-la a outro onde tinha uma
parente. Simão é alertado desta notícia , recebendo uma carta e este fica a saber que o seu
pai também levaria para o mesmo caminho de Teresa o resto de sua família e a família de
Baltazar. A notícia enlouquece Simão que resolve ir até este convento, escondido com João
e Mariana. Chegando lá depara-se com todos, inclusive Baltazar que o enfrenta.
Enraivecido, Simão mata o rival.
Simão por ser filho do desembargador (de Domingos Botelho), facilmente escaparia a
prisão, mas não quis e faz de tudo para ser preso. O seu pai, ao saber do acontecimento
resolve não ajudá-lo, desprezando-o totalmente. A sua família muda-se para Vila Real e a
sua mãe oferece-lhe ajuda desta vez, mas Simão rejeita-a declarando-se voluntariamente
sem família. Passa a viver do socorro de João da Cruz e Mariana que a este ponto se
encontra totalmente submissa ao mesmo e apresenta problemas de ordem mental. Teresa
no novo convento encontra freiras mais bondosas e verdadeiras. A correspondência com
Simão é cada vez mais difícil , porém ainda é feita.
Nesse período Simão é condenado à forca. Teresa ao saber de tal notícia entrega-se à
tristeza e passa a viver depressivamente. O avô de Simão vai ter com Domingos e pede-lhe
que este interceda imediatamente pelo filho dizendo que não vivera uma vida honrada até
aquele momento para presenciar tal acontecimento, ameaçando suicidar-se. Domingos
pressionado pelo pai decide então livrar o filho da sentença de morte. Simão é transferido
para uma prisão mais próxima onde também ficava o convento de Teresa. Tadeu tenta tirar
a filha de lá, mas as freiras, amigas da menina, já não permitem tal ato. Simão vive por dois
anos e nove meses na prisão. João é morto pelo filho do homem que havia assassinado,
Mariana vende tudo o que tinha e vive exclusivamente para Simão. São então oferecidas
duas penas a Simão: ficar dez anos preso ou viver dez anos no exílio na Índia. A vontade de

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Teresa é que o amado espere por ela na cadeia, porém Simão opta pelo exílio, seguido por
Mariana. Graças ao cargo de seu pai, Simão entra no navio como homem livre e torna-se
logo amigo do capitão, que também lhe oferece ajuda para que este tenha na Índia uma
nova vida, prometendo também auxiliar a jovem Mariana no que for preciso.
No entanto, Simão, assiste à morte da amada Teresa que já estava no limite da debilidade e
da tristeza. No camarote, Simão lê a última carta que Teresa lhe escrevera. Simão abalado
adoece, passa a arder em febre e desce novamente ao camarote, agora amparado por
Mariana. O condenado fica gravemente doente, acabando por morrer, nove dias depois.
Quando os marujos se preparam para atirar o cadáver de Simão ao mar, Mariana atira-se
também, agarrando-se ao cadáver de Simão, entregando-se também à morte.

PERSONAGENS:
Simão Botelho é o filho de D. Domingos Botelho e D. Rita Preciosa; Apaixona-se por Teresa
de Albuquerque; É o protagonista e representa o herói romântico tanto em termos físicos
como psicológicos (a rebeldia, a bravura, a determinação, impulsividade e é belo com 15
anos, apesar de parecer mais velho); Tem no seu interior, as duas grandes forças dos
Botelho: o amor e a violência. Numa primeira fase, até aos 15 anos, ou seja, até conhecer
Teresa, predomina a violência. Após conhecer Teresa, a sua vida será regida pelo amor. No
entanto, sendo um amor-paixão, a sua natureza é violenta e por isso esse traço não
desaparece do carácter de Simão.
Teresa de Albuquerque tem 15 anos e apaixona-se por Simão; É a principal causa da
aparente mudança de carácter e comportamento em Simão, despertando nele o amor-
paixão que igualmente a consome desde o instante em que se veem. Relativamente à sua
caracterização psicológica, segundo o narrador esta apresenta uma “força de carácter”, o
“orgulho fortalecido pelo amor”, “o despego das vulgares apreensões” e é perspicaz.
Em relação à sua caracterização física, Teresa é muito bela. Todas estas características se
adequam ao perfil de mulher-anjo e de heroína romântica que Teresa assume.
Domingos Botelho e Tadeu de Albuquerque: Ambos os pais dos heróis românticos são
caracterizados de forma semelhante como pais tiranos contra a união de seus filhos. O pai
de Teresa (Tadeu) é mais consistente que Domingos, até porque tem muito mais destaque
do que este último, ao longo da intriga. No entanto, à semelhança de pai de Simão, também
ele coloca a honra e o ódio pela família vizinha acima de tudo, mesmo da felicidade e da
vontade da própria filha; Simbolizam a hipocrisia social, o apego egoísta e tirano ao honrado
sobrenome.
Baltasar Coutinho: É o primo de Teresa; É considerado um anti-herói, personagem
adversária a Simão; Revela-se um homem orgulhoso s, cobarde e sem princípios; Esta
personagem simboliza, então, defeitos como a cobardia, perversão pelo interesse do
sentimento amoroso, vaidade e cinismo.
João da Cruz: Ao contrário das personagens até aqui analisadas, que pertencem todas à
aristocracia (nobreza), João da Cruz é um homem do povo e bastante humilde. Daí a sua
linguagem seja marcadamente popular e castiça (expressões populares, ditados, vocabulário

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expressivo, calão); As suas ações e comportamentos têm como principal objetivo auxiliar
Simão a aproximar-se de Teresa; É a figura romântica do “bom bandido”, um homem que
comete crimes (morte do recoveiro de Carção, morte do criado de Baltasar Coutinho), mas
que, nem por isso, deixa de ser solidário e humano (em relação a Simão).
Mariana: Filha do ferrador João de Cruz; É uma mulher do povo, elogiada pela sua beleza e
sensualidade; Pertence ao triângulo amoroso com Simão e Teresa; O seu coração é especial,
pois lhe revela o que vai acontecer no futuro (é um coração cheio de presságios, intuindo as
desgraças); Apesar de sofrer e sentir ciúmes é vista como uma mulher-anjo.
D. Rita Preciosa: era uma mulher altiva e caprichosa. Desde o início desdenha o marido e as
suas origens, julgando-se superior, como dama da corte que era.
Ritinha: É a irmã mais nova de Simão; Esta é a única pessoa da família que sabe do seu amor
por Teresa e é através dela que o narrador terá tido conhecimento desse amor trágico.

Ao longo desta obra, podemos dividir as personagens em dois grandes grupos:


- os que se amam: Simão e Teresa, que são auxiliados por João da Cruz (Simão), pela
prelada do convento de Monchique, prima de Tadeu (Teresa);
- os que se opõem ao amor de Simão e Teresa: os pais, Domingos de Botelho, apoiado pela
mulher (D. Rita) e Tadeu de Albuquerque, apoiado pelo sobrinho (Baltasar Coutinho)

A caracterização das personagens pode ser: direta, isto é, a partir daquilo que o narrador ou
uma personagem nos diz diretamente acerca de uma (outra) personagem
(heterocaracterização) ou daquilo que a própria personagem diz de si própria
(autocaracterização) ou indireta, isto é, a partir das ações, atitudes que uma personagem
revela em determinada circunstância; em “Amor de Perdição” predomina a caracterização
indireta. (deviam dar exemplos)

TEMPO:
O tempo da obra “Amor de Perdição” é, como o da novela típica, cronológico, contínuo.
Relativamente à ação, esta decorre entre o final do século XVIII e o início do século XIX.
Embora o narrador tenha a preocupação de situar o leitor no tempo da história, fornecendo
constantemente datas que ajudam a balizar os acontecimentos, tem-se, a dada altura,
sobretudo quando a intriga amorosa se começa a adensar, a sensação de que tudo decorre
num tempo indefinido, vago, intemporal – o tempo do discurso.
Existem, então dois tempos narrativos:

 Tempo da história: corresponde à sucessão cronológica de eventos suscetíveis de


serem datados com maior ou menor rigor;
 Tempo do discurso: corresponde à forma como os acontecimentos se dispõem na
narrativa de modo a conduzirem ao desenlace, podendo, por exemplo, haver recuos
ou avanços no tempo (analepses e prolepses).

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No que diz respeito ao tempo da história, podemos dizer que ele é linear e quase sempre
cronológico. A perceção de linearidade é particularmente veiculada através das datas, mais
ou menos detalhadas, com que o narrador pontua o seu relato, a começar logo pela
Introdução. Assim, ainda antes de se iniciar a narração propriamente dita, o leitor fica já
com uma noção do período de tempo durante o qual decorrerá a intriga amorosa, uma vez
que o narrador deixa já algumas pistas sobre o tempo da história, referindo o registo “das
entradas dos presos desde 1803 a 1805” e ainda a data de partida de Simão para a Índia –
“17 de março de 1807”.
Deste modo, a Introdução funciona como um resumo da vida de Simão e da sua trágica
história de amor com Teresa, ou seja, apresenta, em termos de tempo do discurso, um
desfasamento temporal entre o relato, a narração (em poucas linhas) e aquilo que é
relatado e que corresponde a um período de tempo longo.
Essa sensação de desfasamento também se verifica no capítulo I, onde apresenta os
antecedentes da intriga. Porém, abarca um período de mais de quatro décadas: a data mais
antiga mencionada corresponde ao ano de 1758, ano em que se dera uma tentativa de
regicida na qual, supostamente, participara Fernão Botelho, avô de Simão; e a data mais
recente é a de 1801, ano em que o narrador nos diz – “achamos Domingos José Correia
Botelho de Mesquita corregedor em Viseu.”
Por sua vez, a intriga central, que se inicia no capítulo II (“No espaço de três meses fez-se
maravilhosa mudança (...) Simão Botelho amava” - e que se prolonga até à Conclusão, onde
se narram eventos ocorridos em apenas seis anos (1801-1807), mais precisamente quatro
anos, já que Simão avista Teresa pela primeira vez quando tem dezassete anos (Caiei –
“Simão Botelho amava. Aí está uma palavra única, explicando o que parecia absurda
reforma aos dezassete anos.”).
Assim, há uma concentração temporal da ação, na medida em que os principais factos da
intriga amorosa correspondem a um período muito curto, sendo-nos apresentados ao longo
de vários capítulos, rumo à fatalidade. Todos os factos expostos no primeiro capítulo da
obra “Amor de Perdição” têm como principal objetivo explicar a ação central – o amor
contrariado de Simão e Teresa – e por isso o narrador percorre cerca de 40 anos de vida dos
Botelho (passando por três gerações) em poucas páginas. Por isso, também o florescer do
amor entre Simão e Teresa é relatado de forma breve, pois o que interessa ao narrador é
contar a perdição dos amantes, uma vez que esta é uma história de amor-paixão, um amor
que só pode terminar na morte.

De uma forma muito resumida, a ação decorre em seis anos:

Capítulo I – 1779-1801: Abrange os antecedentes da ação, mas o tempo é delimitado


imprecisamente. O início da novela é datado de 1779, mas logo é sugerida uma época
anterior. O ritmo narrativo é rápido e a noção cronológica de tempo é nítida.
1801 – Simão tem quinze anos.

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1803 – Teresa escreve uma carta a Simão, dizendo-lhe que o seu pai a ameaça com a ida
para o convento.
1804 – Simão é preso com 18 anos.
1805-1807 – Simão encontra-se preso (20 meses na prisão e decorrem mais sete meses
antes de partir para a Índia, degredado).
17 de março de 1807 – Simão parte para a Índia.
28 de março de 1807 – Simão morre.

ESPAÇO:
O espaço tem como funções principais situar as ações das personagens e estabelecer com
elas uma interação, quer influenciando as suas atitudes, pensamentos ou emoções e
também pode sofrer eventuais transformações provocadas pelas personagens.

Ao analisar o espaço físico da obra observa-se que a ação se passa em várias cidades
diferentes: Vila Real, Coimbra (local onde Simão estudava), Viseu (onde residiam as famílias
de Simão e Teresa e de João da Cruz) e ainda no Porto (onde se situavam a prisão para onde
Simão foi levado o convento onde estava Teresa). O convento e a prisão foram os espaços
que mais influenciaram a tragédia amorosa que ocorre no fim. O convento é um espaço
desagradável para Teresa e também para Simão, uma vez que os impede de comunicar,
acabando por provocar um desespero e melancolia nas duas personagens e afetar a saúde
de Teresa de Albuquerque. A prisão é um espaço que representa a privação da liberdade, a
vergonha por parte dos pais por terem um filho na cadeia e simboliza ainda um ambiente de
solidão, de tristeza, angústia e sensibilidade. Por último temos o exílio de Simão para a
Índia, onde ocorre o desfecho trágico da narrativa, uma vez que as duas personagens
sabendo que não iriam conseguir ficar juntas, encontraram na morte a única saída para os
seus problemas.

O espaço físico apresenta gradativo afunilamento à medida que a ação se desenvolve até
atingir o clímax, o auge emocional, ou seja até ao desfecho trágico da obra, sendo que no
início história passa-se num espaço aberto, na cidade onde as personagens principais se
podiam deslocar quase livremente para um espaço fechado quando Simão é preso por ter
assassinado Baltasar Coutinho (o primo com quem Teresa teria de se casar) e Teresa vai
para um convento. À medida que o espaço se fecha, o casal tem cada vez mais dificuldade
em comunicar o que provoca uma maior distância entre eles e desta forma o espaço torna-
se um elemento intensificador da tragédia que vai ocorrer. O local onde Simão e Teresa se
encontram no fim da narrativa representa o aprisionamento das suas vidas, pois estão os
dois presos nas dimensões da sua própria tragédia. O lançamento do corpo de Simão ao mar
quando este morre no navio simboliza o retorno a um espaço aberto e grande, tal como a
dimensão do amor que ele sentia por Teresa, sem qualquer limite.

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DISCURSO:
Na obra Amor de Perdição o narrador apresenta-se na 1ª pessoa, na introdução, começando
por falar sobre a história da sua família. O recurso à 1ª pessoa é útil para dar veracidade ao
que nos vai sendo relatado no decurso da obra.
No decorrer dos capítulos passa a apresentar-se na 3ª pessoa, caracterizando-se como
narrador omnisciente, penetrando e ao desvendar o que se passa nas mentes e corações
das personagens. Como narrador omnisciente cita datas, descendências e costumes da
época, além das circunstâncias vividas pelas personagens.
Apesar do estatuto de omnisciência que assume, coloca-se também na posição de alguém
que obteve informações, através da leitura de cartas e de documentos, o que, assim como
na introdução, confere veracidade e verossimilhança à história.
O narrador intervém através de comentários, interrompendo o relato para tecer
considerações, comenta atos e comportamentos. A título de exemplo: “Os poetas cansam-
nos a paciência a falarem do amor da mulher aos quinze anos, como paixão perigosa, única
e inflexível. Alguns prosadores de romances dizem o mesmo. Enganam-se ambos. O amor
aos quinze anos é uma brincadeira; é a última manifestação de amor às bonecas;”.
Na introdução, o narrador faz também comentários que nos permitem perceber o quanto
compreende e desculpabiliza o herói da narrativa: “me causaram aquelas linhas, de
propósito procuradas, e lidas com amargura e respeito e, ao mesmo tempo, ódio”.
Quanto à linguagem e estilo do diálogo, estes são marcados pela retórica sentimental e pela
nobreza trágica, em dadas circunstâncias.
As classes nobres (Simão, Teresa e respetivas famílias), apresentam uma linguagem
convencional, esmerada e elaborada.
Exemplo: (diálogo entre Tadeu de Albuquerque e Teresa)
- ”Teresa... - disse o velho.
- Aqui estou, senhor - respondeu a filha, sem o encarar.
- Ainda é tempo (…) de seres boa filha.
- Não me acusa a consciência de o não ser.”
As classes populares (João da Cruz, Mariana), recorrem a uma linguagem viva, espontânea e
incisiva.
Exemplo: (diálogo entre João da Cruz e Mariana)
“- Meu pai, não lhe dê esses conselhos!...
-Cala-te aí, rapariga! - disse mestre João.
-Vai tirar o albardão à égua, amanta-a, bota-lhe seco. Não és aqui chamada.”

Em suma, a linguagem e o estilo de Camilo Castelo Branco na obra de Amor de Perdição, é


caracterizada pelos seguintes aspetos:
 Linguagem adaptada à caracterização das personagens;
 Linguagem poética, sobretudo nas cartas;

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 Presença de metáforas, com o intuito de intensificar os sentimentos;
 Recurso à ironia na crítica social;
 Uso recorrente do vocabulário dos campos semânticos de amor, dor, morte e
sofrimento.
Os diálogos têm, na sua maioria, o objetivo de dar informações quanto a determinadas
circunstâncias, fazer a expansão sentimental, permitir o confronto ou comunicar
decisões tomadas.

CONCLUSÃO:
Este trabalho permitiu-nos adquirir um conhecimento mais enriquecedor sobre a obra Amor
de Perdição e sobre o autor (Camilo Castelo Branco).
Ao longo deste trabalho recolhemos informações como alguns dados biográficos de Castelo
Branco, as características da sua escrita, a ação, as personagens, o tempo, o espaço e o
discurso utilizado em Amor de Perdição.
Assim, de um modo geral, através da nossa pesquisa podemos concluir que:
- Para além de escritor, foi um romancista, cronista, crítico, dramaturgo , historiador, poeta
e tradutor português;
- Camilo Castelo Branco foi um escritor que fez parte da segunda geração romântica e esta
obra é um exemplo claro da interseção da vertente romântica do idealismo, do amor-
paixão, e da vertente realista de sátira social, de crónica da mudança social;
- A obra é um reflexo do seu percurso biográfico;
- As personagens participantes na obra são Simão Botelho, Teresa de Albuquerque,
Domingos Botelho, Tadeu de Albuquerque, Baltasar Coutinho, João da Cruz, Mariana, D.
Rita Preciosa e Ritinha que apresentam diversas características físicas e psicológicas;
- Nesta obra, predomina a caracterização das personagens de forma indireta;
- Relativamente ao tempo da ação podemos dividi-lo em tempo da história e tempo do
discurso;
- A ação decorre em seis anos (de 1801 a 1807);
- O convento e a prisão foram os dois espaços físicos que mais influenciaram a tragédia
amorosa no fim;
- O local onde Simão e Teresa se encontram no fim da narrativa representa o
aprisionamento das suas vidas, pois estão os dois presos nas dimensões da sua própria
tragédia;
- Na introdução, o narrador apresenta-se na primeira pessoal. Porém, no decorrer dos
capítulos passa a apresentar-se na terceira pessoa;
- O narrador é omnisciente;
- Nesta obra predomina o recurso à ironia na crítica social, o uso recorrente do vocabulário
dos campos semânticos de amor, dor, morte e sofrimento, a linguagem adaptada à
caracterização das personagens, a linguagem poética, sobretudo nas cartas e a presença de
metáforas, que visa intensificar os sentimentos das personagens.

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