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Márcio André Lopes Cavalcante

Todos os julgados foram comentados.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
TRIBUNAL DE CONTAS
 Requisito para integrar Tribunal de Contas.

DIREITO ADMINISTRATIVO
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
 Possibilidade de dupla condenação ao ressarcimento ao erário pelo mesmo fato.

DIREITO CIVIL
USUCAPIÃO
 Pode ser deferida usucapião especial urbana ainda que a área do imóvel seja inferior ao "módulo urbano".

DIREITO AGRÁRIO
ARRENDAMENTO RURAL
 Prazo mínimo de contrato de arrendamento rural para a criação de gado bovino.

DIREITO DO CONSUMIDOR
PLANO DE SAÚDE
 Dever de assistência ao neonato durante os trinta primeiros dias após o seu nascimento.

DIREITO EMPRESARIAL
CHEQUE
 Cheque pré-datado e o seu prazo de apresentação para pagamento.
 Possibilidade de protesto de cheque após o prazo de apresentação com a indicação apenas do emitente no
apontamento.

DIREITO ECONÔMICO
DIREITOS ANTIDUMPING
 Suspensão da exigibilidade do direito antidumping provisório

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


EXECUÇÃO
 Necessidade de prévia intimação das partes antes de se decretar a prescrição intercorrente.

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DIREITO PENAL
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS
 Impossibilidade de reconversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade a pedido do condenado.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA
 O síndico mencionado no inciso II do § 1º, do art. 168, do CP não é o síndico de condomínio edilício.

EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES


 Prostituta que arranca cordão de cliente que não quis pagar o programa responde por exercício arbitrário das
próprias razões.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


NOTICIA CRIMINIS
 Dever de a Receita Federal encaminhar a representação fiscal para fins penais mesmo que não haja imposição de
multa ao contribuinte.

DIREITO TRIBUTÁRIO
IPI
 Base de cálculo do IPI nas vendas a prazo.

REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS


 Dever de encaminhar a representação mesmo que não haja imposição de multa ao contribuinte.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PREVIDÊNCIA PRIVADA
 Devolução de valores recebidos a título de antecipação de tutela posteriormente revogada.

DIREITO CONSTITUCIONAL

TRIBUNAL DE CONTAS
Requisito para integrar Tribunal de Contas

Membro do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas de Estados ou do Distrito Federal


que ocupa esse cargo há menos de dez anos pode ser indicado para compor lista tríplice
destinada à escolha de conselheiro da referida corte.
STJ. 2ª Turma. RMS 35.403-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/3/2016 (Info 584).

Como é a composição dos Tribunais de Contas:


 TCU: 9 membros (são chamados de Ministros do TCU).
 TCE: 7 membros (são chamados de Conselheiros do TCE).

Quais são os requisitos constitucionais para ser membro dos Tribunais de Contas?
São requisitos para ser Ministro do TCU ou Conselheiro do TCE:
a) nacionalidade brasileira (brasileiros natos ou naturalizados);
b) mais de 35 e menos de 65 anos de idade;
c) idoneidade moral e reputação ilibada;
d) notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública;
e) mais de 10 anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos
mencionados.

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Obs: os requisitos acima estão previstos no art. 73, § 1º c/c o art. 75 da CF/88.

Como é a forma de composição do TCU?


1/3 (3 Ministros) são escolhidos pelo Presidente da República.
Desses 3 Ministros, o Presidente deverá escolher:
1 dentre os auditores do TCU (indicados em lista tríplice pelo Tribunal)
1 dentre os membros do MP que atuam junto ao TCU (também indicados em lista tríplice)
1 de livre escolha do Presidente (esta escolha é livre, atendidos os requisitos constitucionais).
Todos os indicados pelo Presidente precisarão ser aprovados pela maioria simples do Senado, em arguição
secreta.

2/3 (6 Ministros) são escolhidos pelo Congresso Nacional.

Os Ministros do TCU terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens


dos Ministros do STJ (art. 73, § 3º, CF).

Como é a forma de composição do TCE?


A CF/88 não traz, de modo detalhado, como deve ser a composição dos Tribunais de Contas dos Estados,
dizendo apenas que o TCE deve ser formado por 7 Conselheiros e que as normas previstas para o TCU
aplicam-se, no que couber, ao TCE (art. 75 da CF/88).
Assim, entende-se que a forma de escolha dos membros do TCE deve ser prevista na respectiva
Constituição Estadual. O STF, contudo, afirmou que, por força do princípio da simetria, essas regras de
escolha dos Conselheiros do TCE devem obedecer ao mesmo modelo estabelecido pela Constituição
Federal para o TCU (art. 73, § 2º da CF).
Em suma, a Constituição Estadual deverá detalhar as normas sobre a escolha dos membros do TCE, mas
tais regras deverão seguir a mesma sistemática adotada para a composição do TCU. Esse entendimento
deu origem à súmula 653 do STF:
Súmula 653-STF: No Tribunal de Contas estadual, composto por sete conselheiros, quatro devem ser
escolhidos pela Assembleia Legislativa e três pelo Chefe do Poder Executivo estadual, cabendo a este indicar
um dentre auditores e outro dentre membros do Ministério Público, e um terceiro à sua livre escolha.

Desse modo, os 7 membros do TCE são designados da seguinte forma:


3 Conselheiros são escolhidos pelo Governador do Estado.
Desses 3 Conselheiros, o Governador deverá escolher:
1 dentre os auditores do TCE (indicados em lista tríplice pelo Tribunal)
1 dentre os membros do MP que atuam junto ao TCE (também indicados em lista tríplice)
1 de livre escolha do Governador (esta escolha é livre, atendidos os requisitos constitucionais).

4 Conselheiros escolhidos pela Assembleia Legislativa.

Os Conselheiros do TCE terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e


vantagens dos Desembargadores do TJ (STF. Plenário. ADI 4190 MC-REF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado
em 10/03/2010).

Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:


No Tribunal de Contas de determinado Estado, um Conselheiro que era oriundo do Ministério Público do
Tribunal de Contas aposentou-se. Isso significa que o Governador terá que escolher outro Conselheiro e
que esta vaga é reservada para o MP que atua junto ao TCE. Assim, será elaborada uma lista com três
nomes de Procuradores de Contas e o Governador escolherá um desses para ser nomeado Conselheiro.
Suponhamos que a lista tríplice foi formada com os nomes de João, Maria e Pedro.
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Tese de que os membros do MP deverão ter mais de 10 anos para que possam ser Conselheiros
Maria e Pedro impugnaram o nome de João alegando a tese que será exposta a seguir.
O art. 73, § 1º, IV, da CF/88 prevê que só pode ser membro do TCU aquele que tiver mais de 10 anos de
função ou efetiva atividade profissional. Veja:
Art. 73 (...)
§ 1º - Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os
seguintes requisitos:
(...)
IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os
conhecimentos mencionados no inciso anterior.

Os requisitos desse art. 73, § 1º aplicam-se também para os membros do TCE (art. 75 da CF/88).
Além disso, os impugnantes alegaram que, para as vagas nos Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais
Federais destinadas ao quinto constitucional somente podem concorrer membros do MP com mais de 10
anos de carreira (art. 94 da CF/88). Esse mesmo raciocínio deve ser estendido para os Tribunais de Contas.
João possui menos de 10 anos de Ministério Público. Logo, ele não poderia concorrer ao cargo de
Conselheiro do TCE, não podendo, portanto, figurar na lista tríplice.

A tese de Maria e Pedro foi aceita pelo STJ? Para que o membro do Ministério Público junto ao Tribunal
de Contas possa concorrer ao cargo de Conselheiro do TCE é necessário que ele possua mais de 10 anos
de carreira no MP?
NÃO.

Membro do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas de Estados ou do Distrito Federal que ocupa
esse cargo há menos de dez anos pode ser indicado para compor lista tríplice destinada à escolha de
conselheiro da referida corte.
STJ. 2ª Turma. RMS 35.403-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/3/2016 (Info 584).

Art. 73, § 1º, IV, da CF/88 não exige que o candidato ao cargo tenha 10 anos de carreira no MP
O art. 73, § 1º, da CF/88 não estabelece que os membros do Ministério Público ou os auditores devem ter
mais de 10 anos no cargo para poderem ser nomeados para a função de membro do Tribunal de Contas.
O que o § 1º do art. 73 da CF/88 prevê é que, para ser nomeado membro do Tribunal de Contas, a pessoa
deve ter mais de 10 anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija notórios
conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública.
Desse modo, a pessoa pode ter apenas 7 anos, por exemplo, no cargo de Procurador de Contas, mas se ela
tiver outros 3 anos de atividade profissional na qual se exija notórios conhecimentos jurídicos, ela terá
preenchido o requisito constitucional.

As regras do quinto constitucional (art. 94 da CF/88) não se aplicam para a escolha dos Conselheiros do
Tribunal de Contas
Realmente o art. 94 da CF/88 prevê a exigência de que o membro do MP tenha 10 anos no cargo para que
possa ser nomeado Desembargador nos Tribunais Regionais Federais ou Tribunais de Justiça, nas vagas
destinadas ao chamado "quinto constitucional".
No entanto, essa regra não se aplica às Cortes de Contas.
Os Tribunais de Contas, embora se denominem tribunais e tenham alta relevância constitucional, não
integram o Poder Judiciário, razão pela qual não se pode pretender que normas destinadas a reger o
Judiciário devam ser aplicáveis a eles, salvo previsão constitucional específica.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Possibilidade de dupla condenação ao ressarcimento ao erário pelo mesmo fato

Não configura bis in idem a coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e
sentença condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam
o ressarcimento ao erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do
valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento da execução do título
remanescente.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.413.674-SE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª
Região), Rel. para o acórdão Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/5/2016 (Info 584).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Determinado Município celebrou convênio com a União recebendo recursos federais que deveriam ser
investidos em projetos de interesse social.
O Tribunal de Contas da União instaurou procedimento de tomada de contas especial para fiscalizar o
convênio e, ao final, concluiu que João, prefeito do Município à época, responsável pelo pacto, utilizou
incorretamente os recursos, causando prejuízo ao erário, razão pela qual aplicou multa ao administrador,
além de determinar que ele faça o ressarcimento da verba pública.
De posse do acórdão do TCU, o Procurador da República ajuizou ação de improbidade administrativa
contra o Prefeito alegando que ele, ao não aplicar corretamente as verbas do convênio, praticou ato de
improbidade administrativa, nos termos do art. 10 da Lei nº 8.429/92.
O juiz federal julgou a ação procedente e condenou o Prefeito, aplicando-lhe as seguintes sanções:
a) Ressarcimento integral do dano;
b) Suspensão de direitos políticos por 3 anos;
c) Proibição de contratar com o Poder Publico ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo
prazo de 3 anos.

Recurso do Prefeito: tese do bis in idem


O Prefeito recorreu contra a decisão argumentando que foi vítima de bis in idem. Isso porque ele foi
condenado duas vezes a ressarcir o dano: uma pelo TCU e outra pelo Poder Judiciário.
Dessa forma, a defesa pediu que fosse excluída a sanção "a" (ressarcimento integral do dano).

A tese da defesa foi aceita pelo STJ?


NÃO. As instâncias judicial e administrativa não se confundem, razão pela qual o fato de o TCU já ter
punido o administrador com o ressarcimento ao erário não proíbe que seja proposta ação de improbidade
administrativa relacionada com o mesmo fato e que o administrador seja novamente condenado pelo
Poder Judiciário a ressarcir ao erário.

Mas o administrador pagará duas vezes o ressarcimento? Neste caso, haverá um enriquecimento sem
causa do Poder Público, que receberá duas vezes o ressarcimento...
NÃO. O STJ afirmou que no momento do segundo pagamento, deverá ser feito o abatimento do valor que
foi pago na primeira execução que foi movida.
O que não se permite é a constrição patrimonial além do efetivo prejuízo apurado. Assim, é possível a
formação de dois títulos executivos, devendo ser observada a devida dedução do valor da obrigação que
primeiramente foi executada no momento da execução do título remanescente.

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Em suma:
Não configura bis in idem a coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e sentença
condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam o ressarcimento ao
erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do valor da obrigação que
primeiramente foi executada no momento da execução do título remanescente.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.413.674-SE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª
Região), Rel. para o acórdão Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/5/2016 (Info 584).

Vale ressaltar que existem outros precedentes no mesmo sentido:


(...) 1. O fato de existir um título executivo extrajudicial, decorrente de condenação proferida pelo Tribunal
de Contas da União, não impede que os legitimados ingressem com ação de improbidade administrativa
requerendo a condenação da recorrida nas penas constantes no art. 12, II da Lei n. 8429/92, inclusive a de
ressarcimento integral do prejuízo.
(...)
3. Ademais, não se há falar em bis in idem. A proibição da dupla penalização se restringe ao abalo
patrimonial que o executado poderá sofrer. O princípio não pode ser interpretado de maneira ampla, de
modo a impedir a formação de um título executivo judicial, em razão do simples fato de já existir um outro
título de natureza extrajudicial. (...)
STJ. 2ª Turma. REsp 1135858/TO, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 22/09/2009.

(...) 6. As instâncias judicial e administrativa não se confundem, razão pela qual a fiscalização do TCU não
inibe a propositura da ação civil pública, tanto mais que, consoante informações prestadas pela autoridade
coatora, “na hipótese de ser condenada ao final do processo judicial, bastaria à Impetrante a apresentação
dos documentos comprobatórios da quitação do débito na esfera administrativa ou vice-versa.”. Assim,
não ocorreria duplo ressarcimento em favor da União pelo mesmo fato. (...)
STF. 1ª Turma. MS 26969, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/11/2014.

DIREITO CIVIL
USUCAPIÃO
Pode ser deferida usucapião especial urbana ainda que
a área do imóvel seja inferior ao "módulo urbano"

Não obsta o pedido declaratório de usucapião especial urbana o fato de a área do imóvel ser
inferior à correspondente ao "módulo urbano" (a área mínima a ser observada no
parcelamento de solo urbano por determinação infraconstitucional).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.360.017-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/5/2016 (Info 584).

Preenchidos os requisitos do art. 183 da Constituição Federal, o reconhecimento do direito à


usucapião especial urbana não pode ser obstado por legislação infraconstitucional que
estabeleça módulos urbanos na respectiva área em que situado o imóvel (dimensão do lote).
STF. Plenário. RE 422349, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/04/2015 (Info 783 STF).

Usucapião especial urbana


Existem várias modalidades de usucapião.
A CF/88 prevê duas espécies:
a) a usucapião especial urbana (pro misero) (art. 183);
b) a usucapião especial rural (pro labore) (art. 191).
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O julgado ora analisado diz respeito à usucapião especial urbana.

Requisitos da usucapião especial urbana


A usucapião especial urbana é prevista no art. 183 da CF/88, sendo também reproduzida no art. 1.240 do
CC e no art. 9º da Lei n. 10.257/2001.
Para se ter direito à usucapião especial urbana, é necessário preencher os seguintes requisitos:
a) 250m2: a pessoa deve estar na posse de uma área urbana de, no máximo, 250m2;
b) 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área por, no mínimo, 5 anos ininterruptos,
sem oposição de ninguém;
c) Moradia: o imóvel deve estar sendo utilizado para a moradia da pessoa ou de sua família;
d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem imóvel (urbano ou rural).

Algumas observações:
 Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé;
 Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez;
 É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for calcular se o tamanho
do imóvel é menor que 250m2 não se incluirá a área comum, como salão de festas etc, mas tão
somente a parte privativa);
 O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos,
independentemente do estado civil.

Feitos os esclarecimentos acima, imagine a seguinte situação hipotética:


João é possuidor, há mais de 5 anos, de uma área urbana de 50m2, que utiliza para a sua própria moradia.
Ele não tem o título de propriedade dessa área, mas lá mora há todos esses anos sem oposição de
ninguém. Vale ressaltar também que ele não tem outro imóvel, seja urbano, seja rural.
Determinado dia, João procura a Defensoria Pública e esta ajuíza, em nome do autor, uma ação de
usucapião especial urbana pedindo que ele se torne proprietário da área.
O juiz julga improcedente o pedido alegando que João preenche os requisitos da usucapião especial
urbana previstos no art. 183 da CF/88, porém ele não poderia se tornar proprietário em virtude de o plano
diretor da cidade (Lei municipal “XXX”) proibir que existam imóveis urbanos registrados com metragem
inferior a 100m2. Em outras palavras, o plano diretor da cidade, para fins de organização e planejamento
urbano, fixou que o módulo mínimo dos lotes urbanos naquele Município seria de 100m2 e, como a área
ocupada por João seria menor que isso, ele não poderia registrar o imóvel em seu nome.

A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na lei municipal impede que a
pessoa tenha direito à usucapião especial urbana?
NÃO. A decisão do juiz não foi correta. Segundo entende o STF e o STJ, se forem preenchidos os requisitos
do art. 183 da CF/88, a pessoa terá direito à usucapião especial urbana e o fato de o imóvel em questão
não atender ao mínimo dos módulos urbanos exigidos pela legislação local para a respectiva área
(dimensão do lote) não é motivo suficiente para se negar esse direito, que tem índole constitucional.
Para que seja deferido o direito à usucapião especial urbana basta o preenchimento dos requisitos
exigidos pelo texto constitucional, de modo que não se pode impor obstáculos, de índole
infraconstitucional, para impedir que se aperfeiçoe, em favor de parte interessada, o modo originário de
aquisição de propriedade.

Em suma:
Não obsta o pedido declaratório de usucapião especial urbana o fato de a área do imóvel ser inferior à
correspondente ao "módulo urbano" (a área mínima a ser observada no parcelamento de solo urbano
por determinação infraconstitucional).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.360.017-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/5/2016 (Info 584).
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Preenchidos os requisitos do art. 183 da Constituição Federal, o reconhecimento do direito à usucapião
especial urbana não pode ser obstado por legislação infraconstitucional que estabeleça módulos
urbanos na respectiva área em que situado o imóvel (dimensão do lote).
STF. Plenário. RE 422349, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/04/2015 (Info 783 STF).

DIREITO AGRÁRIO

ARRENDAMENTO RURAL
Prazo mínimo de contrato de arrendamento rural para a criação de gado bovino

Importante!!!
É de cinco anos o prazo mínimo para a duração de contrato de arrendamento rural em que
ocorra pecuária de gado bovino, independentemente da maior ou menor escala da atividade
exploratória ou da extensão da área a que se refira o contrato.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.336.293-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 24/5/2016 (Info 584).

Arrendamento rural
De forma resumida, arrendamento rural é um contrato por meio do qual o arrendador aluga um imóvel
que será utilizado por outra pessoa (arrendatário) para a exploração de atividade rural (agrícola, pecuária,
granjeira etc).

Vamos detalhar essa definição:


Arrendamento rural é...
- o contrato agrário
- por meio do qual uma pessoa se obriga a ceder à outra,
- por tempo determinado ou indeterminado,
- o uso e gozo de imóvel rural (no todo ou em parte),
- incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades,
- com o objetivo de que nele seja exercida atividade de
- exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista,
- pagando o arrendatário ao arrendador uma retribuição ou aluguel,
- observados os limites percentuais da Lei.

O contrato de arrendamento rural é regido pelo Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64) e pelo Decreto nº
59.566/66.

Imagine a seguinte situação hipotética:


João, dono de uma fazenda, firmou contrato particular de arrendamento rural com Pedro por meio do
qual este, arrendatário, poderia explorar, durante 2 anos, o imóvel para criar gado, devendo pagar, em
contraprestação, R$ 5 mil por mês.
Chegando ao fim do contrato, Pedro queria renová-lo, mas João não aceitou.
Diante disso, Pedro ingressou com ação alegando que, como ele desenvolve pecuária bovina no local, o
prazo mínimo do arrendamento deveria ser de 5 anos, nos termos do art. 12, II, "a", do Decreto nº
59.566/66. Assim, pedia que fosse declarada a nulidade da cláusula que previa apenas 2 anos e que o
contrato fosse estendido até completar os 5 anos estabelecidos no Decreto. Veja o dispositivo legal
mencionado:

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8
Art. 13. Nos contratos agrários, qualquer que seja a sua forma, contarão obrigatoriamente, cláusulas que
assegurem a conservação dos recursos naturais e a proteção social e econômica dos arrendatários e dos
parceiros-outorgados a saber (Art. 13, incisos III e V da Lei nº 4.947-66);
(...)
II - Observância das seguintes normas, visando a conservação dos recursos naturais:
a) prazos mínimos, na forma da alínea " b ", do inciso XI, do art. 95 e da alínea " b ", do inciso V, do art. 96
do Estatuto da Terra:
- de 3 (três) anos nos casos de arrendamento em que ocorra atividade de exploração de lavoura
temporária e ou de pecuária de pequeno e médio porte; ou em todos os casos de parceria;
- de 5 (cinco) anos nos casos de arrendamento em que ocorra atividade de exploração de lavoura
permanente e ou de pecuária de grande porte para cria, recria, engorda ou extração de matérias primas
de origem animal;

O juiz julgou o pedido parcialmente procedente. O magistrado reconheceu que o autor tinha direito de
estender o prazo do contrato, mas não para 5 (como queria Pedro) e sim para 3 anos. Isso porque, na visão
do julgador, a pecuária desenvolvida pelo arrendatário era de pequeno e médio porte e o prazo de 5 anos
só se aplica para a pecuária de grande porte. O autor recorreu e a questão chegou até o STJ.

O argumento do magistrado foi aceito pelo STJ? O prazo mínimo do arrendamento rural deverá ser de 3
anos caso a pecuária desenvolvida seja de pequeno e médio porte?
NÃO.

É de cinco anos o prazo mínimo para a duração de contrato de arrendamento rural em que ocorra
pecuária de gado bovino, independentemente da maior ou menor escala da atividade exploratória ou da
extensão da área a que se refira o contrato.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.336.293-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 24/5/2016 (Info 584).

Função social da propriedade e prazo mínimo do contrato


O contrato agrário, mesmo tendo natureza privada (por envolver particulares), é utilizado pelo legislador
como um instrumento de concretização da função social da propriedade rural (arts. 5º, XXIII, 182 e 186 da
CF/88). Por essa razão, o arrendamento rural está sujeito a inúmeras repercussões do direito público.
Uma dessas "influências" do direito público é a proteção conferida pelo legislador à parte
economicamente mais frágil deste contrato (o arrendatário), conforme dispõe o art. 13 do Decreto nº
59.566/66.
Segundo este artigo do decreto, os contratos de arrendamento rural que tenham por objeto atividade de
pecuária (alínea "a" do inciso II do art. 13) devem ter prazos mínimos de vigência com a finalidade de
permitir que o arrendatário tenha tempo para criar, reproduzir e engordar o gado, considerando que isso
demora. O art. 13 faz a seguinte distinção
 pecuária de pequeno e médio porte: o arrendamento deverá ter prazo mínimo de 3 anos;
 pecuária de grande porte: o prazo mínimo será de 5 anos.

O que se entende por pecuária de pequeno, médio e grande porte?


Existe divergência na doutrina sobre o tema, mas o STJ adotou a corrente doutrinária que defende o seguinte:
 Pequeno porte: envolve apicultura, piscicultura, avicultura, cunicultura e ovinocultura.
 Médio porte: refere-se à criação de suínos, caprinos e ovinos.
 Grande porte: abrange o gado bovino, bubalino, equino e asinino.

É a posição de RAMOS, Helena Maria Bezerra. Contrato de arrendamento rural. 2ª ed. Curitiba: Juruá,
2013, p. 97 e de COLHEO, José Fernando Lutz. Contratos Agrários: uma visão neo-agrarista. Curitiba: Juruá,
2006, p. 130).

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9
Desse modo, quando o Decreto fala em grande porte, não está se referindo ao tamanho da propriedade,
número de animais etc. O critério aqui é a espécie de animal que é criado. Veja:
"A expressão 'grande porte' não se refere à escala da atividade (número de unidades de animais, por
exemplo), mas, sim, ao porte dos animais, cujo prazo reprodutivo e de engorda é maior que os de menor
porte. Na pecuária de pequeno porte são incluídas a apicultura, piscicultura, avicultura e cunicultura. Na
de médio porte, a suinocultura, caprinocultura e ovinocultura e na de grande porte a bovinocultura,
bubalinocultura, equinocultura e asinino cultura." (CARVALHO, Edson Ferreira de. Manual didático de
direito agrário. Curitiba: Juruá, 2010, p. 410).

Assim, tratando-se do exercício de pecuária de gado bovino, deve-se reconhecer que a atividade é de grande
porte, aplicando-se o prazo mínimo de 5 anos para a duração dos contratos de arrendamento rural.

DIREITO DO CONSUMIDOR
PLANO DE SAÚDE
Dever de assistência ao neonato durante os trinta primeiros dias após o seu nascimento

Quando o contrato de plano de saúde incluir atendimento obstétrico, a operadora tem o dever
de prestar assistência ao recém-nascido durante os primeiros trinta dias após o parto (art. 12,
III, "a", da Lei nº 9.656/98), independentemente de a operadora ter autorizado a efetivação da
cobertura, ter ou não custeado o parto, tampouco de inscrição do neonato como dependente
nos trinta dias seguintes ao nascimento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.269.757-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/5/2016 (Info 584).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Maria é cliente de um plano de saúde.
Vale ressaltar que seu contrato oferece cobertura inclusive para tratamento obstétrico.
Maria ficou grávida e deu à luz a Lucas.
Ocorre que o bebê apresentou problema respiratório ao nascer.
Os pais tentaram que o plano de saúde atendesse o recém-nascido, mas, como a autorização estava
demorando muito para ser dada, e considerando que ele corria risco de morte, eles decidiram interná-lo
pagando do próprio bolso o tratamento.
Felizmente, depois de 20 dias na UTI neonatal, Lucas teve alta e pode ser levado para casa.
Maria ingressou, então, com ação de indenização contra o plano de saúde cobrando todos os custos que
teve com o tratamento do filho.
O plano de saúde contestou a demanda afirmando que o contrato previa a assistência de saúde apenas à
Maria, e não ao seu filho, o que deveria ser ainda objeto de aditamento do pacto.

A ação deverá ser julgada procedente? O plano de saúde tinha o dever de prestar assistência ao filho
recém-nascido de Maria?
SIM.

Quando o contrato de plano de saúde incluir atendimento obstétrico, a operadora tem o dever de
prestar assistência ao recém-nascido durante os primeiros trinta dias após o parto (art. 12, III, "a", da Lei
nº 9.656/98), independentemente de a operadora ter autorizado a efetivação da cobertura, ter ou não
custeado o parto, tampouco de inscrição do neonato como dependente nos trinta dias seguintes ao
nascimento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.269.757-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/5/2016 (Info 584).

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10
O art. 12 da Lei nº 9.656/98 (Lei dos Planos de Saúde) prevê diversas modalidades de planos de saúde,
estabelecendo os serviços que são incluídos.
No caso de ter sido contratado o plano com atendimento obstétrico, esse serviço abrange também a
cobertura assistencial do recém-nascido nos 30 primeiros dias após o parto. Veja:
Art. 12. São facultadas a oferta, a contratação e a vigência dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1º
do art. 1º desta Lei, nas segmentações previstas nos incisos I a IV deste artigo, respeitadas as respectivas
amplitudes de cobertura definidas no plano-referência de que trata o art. 10, segundo as seguintes
exigências mínimas:
(...)
III - quando incluir atendimento obstétrico:
a) cobertura assistencial ao recém-nascido, filho natural ou adotivo do consumidor, ou de seu
dependente, durante os primeiros trinta dias após o parto;

Vale ressaltar que, para ter direito ao atendimento, não é necessário que o recém-nascido esteja incluído
ou seja cadastrado no plano. Esse é um direito que decorre do simples fato de ser filho do cliente do
plano.

Em suma, o plano de saúde deveria ter autorizado o tratamento do recém-nascido sem impor dificuldades,
considerando que a Lei nº 9.656/98 garantia este direito.

É importante alertar, no entanto, que, mesmo já recebendo o tratamento, o filho recém-nascido deverá
ser inscrito no plano de saúde no prazo de 30 dias para ter direito de se tornar dependente do titular (pai
ou mãe), sem a exigência de carência:
Art. 12. (...)
III - quando incluir atendimento obstétrico:
b) inscrição assegurada ao recém-nascido, filho natural ou adotivo do consumidor, como dependente,
isento do cumprimento dos períodos de carência, desde que a inscrição ocorra no prazo máximo de trinta
dias do nascimento ou da adoção;

DIREITO EMPRESARIAL

CONTRATOS BANCÁRIOS
Período de legalidade da cobrança de tarifa de renovação de cadastro (TRC)

É válida cláusula contratual que prevê a cobrança da tarifa de renovação de cadastro (TRC) em
contrato bancário celebrado ainda no período de vigência da Circular 3.371/2007 do BACEN,
considerando que ela autorizava que os bancos exigissem a TRC.
Posteriormente, com a edição da Circular 3.466/2009 do BACEN, que entrou em vigor no dia
14/09/2009, foi proibida a cobrança da referida tarifa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.303.646-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 10/5/2016 (Info 584).

Tarifas bancárias
“Tarifa bancária” é o nome dado para a remuneração cobrada pelas instituições financeiras como
contraprestação pelos serviços bancários prestados aos clientes. Ex: caso o cliente solicite do banco o
fornecimento de cópia ou de segunda via de algum comprovante ou documento, terá que pagar a tarifa
bancária por este serviço.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11
Tarifa de Renovação de Cadastro (TRC)
A Tarifa de Renovação de Cadastro (TRC) era cobrada pela instituição financeira, até duas vezes por ano,
sob o argumento de que o banco precisava fazer a atualização cadastral do cliente (consultar se o telefone
permanecia o mesmo, se o endereço havia mudado etc.), de forma que o correntista deveria remunerar a
instituição por este serviço.

Quem autoriza ou proíbe que as instituições financeiras cobrem dos usuários tarifas bancárias?
O Conselho Monetário Nacional (CMN).
O Conselho Monetário Nacional (CMN) é um órgão federal, classificado como "órgão superior do Sistema
Financeiro Nacional". Suas competências estão elencadas no art. 4º da Lei nº 4.595/64, sendo ele
responsável por formular a política da moeda e do crédito, objetivando o progresso econômico e social do
País (art. 3º da Lei).
O CMN é composto por três autoridades:
 Ministro da Fazenda (que é o Presidente do Conselho);
 Ministro do Planejamento;
 Presidente do Banco Central.

As reuniões do CMN acontecem, em regra, uma vez por mês. As matérias são aprovadas por meio de
"Resoluções".

Por que o CMN é que define as tarifas bancárias que podem ser cobradas? Qual é o fundamento legal
para isso?
Essa competência do CMN encontra-se prevista na Lei nº 4.595/64.
A Lei nº 4.595/64 trata sobre as instituições monetárias, bancárias e creditícias, sendo conhecida como
"Lei do Sistema Financeiro nacional".
Vale ressaltar que a Lei nº 4.595/64, apesar de ser formalmente uma lei ordinária, foi recepcionada pela
Constituição Federal de 1988 com status de lei complementar. Isso porque o art. 192 da CF/88 preconiza
que o sistema financeiro nacional "será regulado por leis complementares".

CMN tem competência para limitar a remuneração que os bancos recebem pelas operações realizadas e
pelos serviços prestados
Veja o que diz o art. 4º, VI, da Lei nº 4.595/64:
Art. 4º Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da
República:
(...)
IX - Limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos, comissões e qualquer outra forma de
remuneração de operações e serviços bancários ou financeiros, inclusive os prestados pelo Banco Central
da República do Brasil (...)

Assim, é o CMN que define se os bancos podem cobrar ou não pelos serviços oferecidos.
A disciplina e os limites impostos pelo CMN são realizados por decisões instrumentalizadas por meio de
"resoluções". Assim, quando o CMN decide proibir que as instituições financeiras cobrem determinada
tarifa, ele o faz por meio de uma "resolução".

Resolução CMN 2.303/1996


Em 1996, o CMN editou a Resolução nº 2.303, que disciplinava a cobrança de tarifas pela prestação de
serviços por parte das instituições financeiras.
Esta Resolução era considerada flexível e "não intervencionista". Isso porque permitia que os bancos
cobrassem pela prestação de quaisquer tipos de serviços, desde que fossem efetivamente contratados e

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12
prestados ao cliente, com exceção de uns poucos que a Resolução definia como básicos e que, por isso,
não poderiam ser cobrados (ex: o fornecimento de um extrato por mês deveria ser gratuito).
Assim, de acordo com a Resolução CMN 2.303/1996, tirando os considerados "básicos", os bancos
poderiam cobrar tarifas por quaisquer outros serviços prestados.

Resolução CMN 3.518/2007 e Circular BACEN 3.371/2007


Em 30/4/2008, a Resolução CMN 2.303/1996 foi revogada e, em seu lugar, passou a vigorar a Resolução
CMN 3.518/2007.
A nova Resolução assumiu uma postura mais intervencionista e regulatória e dividiu os serviços bancários
em quatro categorias:
a) os essenciais (art. 2º), que não poderiam ser cobrados dos clientes pelos bancos;
b) os prioritários (art. 3º), cuja cobrança somente poderia ser realizada se autorizada pelo BACEN;
c) os especiais (art. 4º), regidos por legislação própria, entre os quais o crédito rural, mercado de câmbio,
PIS/PASEP, penhor civil e operações de microcrédito; e
d) os diferenciados (art. 5º), que admitiam a cobrança de tarifa, desde que explicitadas ao cliente ou
usuário as condições de utilização e pagamento.

Em cumprimento ao disposto no art. 3º, o BACEN editou a Circular 3.371, de 6.12.2007, definindo os
serviços considerados "prioritários" que poderiam ser cobrados. Esta Circular afirmou, ainda, que a
cobrança de tarifa por qualquer serviço "prioritário" que não estivesse ali prevista só poderia ser realizada
com autorização do Banco Central.

TRC constava na Circular 3.371/2007 como serviço que poderia ser cobrado
A Tarifa de Renovação de Cadastro (TRC) constava na Circular 3.371/2007 (que era o complemento da
Resolução CMN 2.303/1996) como serviço que poderia ser cobrado dos clientes. Em outras palavras, a
Circular 3.371/2007 autorizava que os bancos cobrassem a TRC.

Circular 3.466/2009
Algum tempo depois foi editada a Circular 3.466/2009, vigente a partir de 14/9/2009, que proibiu os
bancos de cobrarem TRC.

Em suma:
É válida cláusula contratual que prevê a cobrança da tarifa de renovação de cadastro (TRC) em contrato
bancário celebrado ainda no período de vigência da Circular 3.371/2007 do BACEN, considerando que
ela autorizava que os bancos exigissem a TRC.
Posteriormente, com a edição da Circular 3.466/2009 do BACEN, que entrou em vigor no dia
14/09/2009, foi proibida a cobrança da referida tarifa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.303.646-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 10/5/2016 (Info 584).

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13
CHEQUE
Cheque pré-datado e o seu prazo de apresentação para pagamento

Atualize seu livro de 2014 (p. 423)


Atualize livro Julgados Resumidos (p. 400)
O cheque pós-datado amplia o prazo de apresentação? Em suma, no caso de cheque pós-datado
(pré-datado), a partir de quando é contado o prazo de apresentação?
1) Pós-datação regular (efetivada no campo referente à data de emissão): SIM.
A pactuação da pós-datação de cheque, para que seja hábil a ampliar o prazo de apresentação
à instituição financeira sacada, deve espelhar a data de emissão estampada no campo
específico da cártula. O ordenamento jurídico confere segurança e eficácia à pós-datação
regular (efetivada no campo referente à data de emissão).
Ex: no dia 20/05, João emitiu (preencheu) um cheque e o entregou para Pedro (beneficiário).
No entanto, no campo reservado para a data de emissão, ele, em vez de colocar 20/05,
escreveu 20/07 (data que ficou combinada para que Pedro sacasse o cheque). O termo inicial
do prazo de apresentação do cheque é o dia 20/07.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/4/2016 (recurso
repetitivo) (Info 584).

2) Pós-datação extracartular (feita em campo diverso do campo específico): NÃO.


A pós-datação extracartular do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo de
prescrição do título. A pós-datação extracartular tem existência jurídica, mas apenas com
natureza obrigacional entre as partes (Súmula 370). Esta pactuação extracartular, contudo, é
ineficaz em relação à contagem do prazo de apresentação e, por conseguinte, não tem o condão
de operar o efeito de ampliar o prazo de apresentação do cheque.
Ex: João emitiu o cheque no dia 20/05 e o entregou a Pedro. No campo reservado para a data
de emissão, ele colocou 20/05 (dia atual). No entanto, no verso do cheque escreveu o seguinte:
“bom para o dia 20/07” (que foi a data combinada para que Pedro sacasse o dinheiro). O termo
inicial do prazo de apresentação do cheque continua sendo o dia 20/05.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013 (Info 528).

NOÇÕES GERAIS SOBRE O CHEQUE


Conceito
O cheque é...
- uma ordem de pagamento à vista
- que é dada pelo emitente do cheque
- em favor do indivíduo que consta como beneficiário no cheque (ou seu portador)
- ordem essa que deve ser cumprida por um banco
- que tem a obrigação de pagar a quantia escrita na cártula
- em razão de o emitente do cheque ter fundos (dinheiro) depositados naquela instituição financeira.

“Trata-se de uma ordem de pagamento, na medida em que seu criador não promete efetuar
pessoalmente o pagamento, mas promete que terceiro irá efetuar esse pagamento. Esse terceiro deverá
ser um banco, no qual o criador do cheque deverá ter fundos disponíveis. À luz desses fundos, o banco
efetuará o pagamento das ordens que lhe forem sendo apresentadas, vale dizer, o cheque se tornará
exigível sempre no momento em que for apresentado ao sacado (vencimento sempre à vista).”
(TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. Vol. 2. São Paulo: Atlas, 2011, p. 218).

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14
Personagens
a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
b) sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);
c) beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja, aquele que tem o
direito de receber o valor escrito no cheque.

Natureza jurídica
Para a doutrina majoritária, trata-se de um título de crédito.

Legislação aplicável
O cheque é regido atualmente pela Lei n.º 7.357/85.

O que é o chamado “prazo de apresentação do cheque”?


É o prazo de que dispõe o portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado, a fim de receber o valor
determinado na cártula.
Ex: João passa um cheque de 2 mil reais para Eduardo. O prazo de apresentação é o tempo que Eduardo
tem para levar o cheque ao banco e receber o valor.
O prazo de apresentação começa a ser contado da data da emissão do cheque.

De quanto é o prazo de apresentação?


30 dias 60 dias
Se o cheque é da mesma praça do pagamento Se o cheque for de praça diferente
(município onde foi assinado é o município da (município onde foi assinado é diferente do
agência pagadora). município da agência pagadora).
O prazo será de 30 dias se o local da emissão do O prazo será de 60 dias se o local da emissão do
cheque (preenchido pelo emitente) for o mesmo cheque (preenchido pelo emitente) for diferente
lugar do pagamento (local da agência pagadora do lugar do pagamento (local da agência
impressa no cheque). Nesse caso, diz-se que o pagadora impressa no cheque). Nesse caso, diz-
cheque é da mesma praça (mesmo município). se que o cheque é de outra praça.
Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo
(SP), o emitente datou e assinou São Paulo (SP) (SP), o emitente datou e assinou Manaus (AM)
como local da emissão. como local da emissão.

Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá pagamento?
SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser apresentado para pagamento ao
sacado, desde que não esteja prescrito.

Então para que serve esse prazo de apresentação?


A doutrina aponta três finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução do cheque.
2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para pagamento dentro do
prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário perde o direito de executar os
codevedores. Poderá continuar executando o emitente do cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado o
cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.
3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa de pagamento
perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de
apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei n.
7.357/85).

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15
Qual é o prazo prescricional para a execução do cheque?
6 meses, contados do fim do prazo de apresentação do cheque.
Atente-se que o prazo prescricional somente se inicia quando termina o prazo de apresentação, e não da
sua efetiva apresentação ao banco sacado.

CHEQUE "PRÉ-DATADO"
Cheque “pré-datado” (ou “pós-datado”)
Vimos acima que o cheque é uma ordem de pagamento à vista. Isso está, inclusive, previsto na própria Lei
do Cheque (Lei n.º 7.357/85):
Art. 32. O cheque é pagável à vista. Considera-se não-escrita qualquer menção em contrário.

Ocorre que há muitos anos, adotou-se outra prática, qual seja, a de se colocar uma data futura no cheque,
com o objetivo de proporcionar que o emitente tenha um prazo maior para pagamento. Ex: no dia 16/05,
Maria queria fazer uma escova no salão de cabeleireiro. Ocorre que ainda não havia recebido seu salário.
Por isso, combinou com a dona do salão de “passar” um cheque com data de 04/06, momento no qual a
sua remuneração já teria sido depositada.

Essa prática ganhou o nome de cheque “pré-datado”. A maioria da doutrina, contudo, prefere utilizar a
nomenclatura cheque “pós-datado”. Pode-se utilizar as expressões indistintamente.

O cheque “pós-datado” pode ser conceituado como um cheque no qual emitente e beneficiário
combinaram que seria colocado um dia futuro na cártula, a fim de que a apresentação do título somente
ocorresse a partir daquela data.

Existem duas formas de se emitir um cheque pós-datado (pré-datado):

1) Pós-datação regular 2) Pós-datação extracartular


(efetivada no campo referente à data de emissão) (feita em campo diverso do campo específico)
Ocorre quando o emitente, no campo reservado Ocorre quando o emitente, no campo reservado
para o dia de emissão, escreve uma data futura para o dia de emissão, escreve a data atual, ou
que foi combinada entre as partes. seja, o dia da emissão realmente. No entanto, no
verso da cártula, ele escreve um aviso de que o
cheque somente deverá ser descontado em uma
data futura.
Ex: no dia 20/05, João emitiu (preencheu) um Ex: João emitiu o cheque no dia 20/05 e o
cheque e o entregou para Pedro (beneficiário). No entregou a Pedro. No campo reservado para a
entanto, no campo reservado para a data de data de emissão, ele colocou 20/05 (dia atual). No
emissão, ele, em vez de colocar 20/05, escreveu entanto, no verso do cheque escreveu o seguinte:
20/07 (data combinada para que Pedro sacasse o “bom para o dia 20/07” (que foi a data combinada
cheque). para que Pedro sacasse o dinheiro).
Vale ressaltar que, mesmo este aviso estando
consignado no próprio cheque, tal combinação é
considerada extracartular porque a Lei não prevê
que isso possa ser escrito na cártula, não havendo
campo com este objetivo.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16
O cheque pós-datado continua sendo uma ordem de pagamento à vista? Se o beneficiário apresentar o
cheque pré-datado antes da data nele escrita, o banco deverá pagá-lo?
SIM. O cheque pré-datado é um acordo entre o emitente e o beneficiário. No entanto, esse ajuste só vale
entre as partes, não produzindo efeitos perante a instituição financeira. Logo, o cheque (mesmo sendo
pré-datado) será pago no dia em que for apresentado ao banco, mesmo que antes da data combinada.
Isso ocorre porque a data futura no cheque é considerada pelo caput do art. 32 da Lei do Cheque como
não-escrita (inexistente). Assim, é comum os doutrinadores dizerem que, para efeitos de direito cambiário,
a pós-datação não existe (não altera as características e efeitos do cheque).
Ressalte-se que o parágrafo único do art. 32 da Lei do Cheque determina que, mesmo se o campo da data
de emissão estiver indicando um dia futuro, mas o portador do cheque apresentá-lo antes dessa data, o
banco deverá pagar imediatamente. Ex: Maria emitiu o cheque no dia 16/05, mas preencheu o cheque
com a data de 04/06. Se, em 01/06, o portador for até o banco e apresentar o cheque, a instituição
financeira deverá pagá-lo mesmo havendo uma data de emissão escrita para um dia futuro. Veja:
Art. 32 (...) Parágrafo único. O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de
emissão é pagável no dia da apresentação.

Se o banco pagar um cheque pós-datado antes da data prevista na cártula, pratica algum ato ilícito?
NÃO. Ao contrário, como o cheque é, por força de lei, uma ordem de pagamento à vista, o banco é
obrigado, em regra, a pagá-lo.

O beneficiário que apresenta no banco o cheque pós-datado antes da data nele prevista pratica algum
ato ilícito?
SIM. Como já explicado, o cheque pós-datado é um ajuste de vontades, um acordo entre emitente e
tomador. Logo, o beneficiário, ao descumprir esse pacto, pratica um ilícito contratual, podendo, portanto,
ser condenado a indenizar o sacador por danos morais e materiais. Esse é o entendimento do STJ:
Súmula 370-STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado.

O cheque pós-datado amplia o prazo de apresentação? Em suma, no caso de cheque pós-datado (pré-
datado), a partir de quando é contado o prazo de apresentação?
Depende:

1) Pós-datação regular: 2) Pós-datação extracartular:


SIM NÃO

A pactuação da pós-datação de cheque, para que A pós-datação extracartular do cheque não


seja hábil a ampliar o prazo de apresentação à modifica o prazo de apresentação nem o prazo de
instituição financeira sacada, deve espelhar a data prescrição do título.
de emissão estampada no campo específico da A pós-datação extracartular tem existência
cártula. jurídica, mas apenas com natureza obrigacional
O ordenamento jurídico confere segurança e entre as partes (Súmula 370). Esta pactuação
eficácia à pós-datação regular (efetivada no campo extracartular, contudo, é ineficaz em relação à
referente à data de emissão). contagem do prazo de apresentação e, por
STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis conseguinte, não tem o condão de operar o efeito
Felipe Salomão, julgado em 27/4/2016 (recurso de ampliar o prazo de apresentação do cheque.
repetitivo) (Info 584). STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013 (Info 528).

Em suma, somente a pós-datação regular, efetuada no campo da data de emissão do cheque, é hábil a
ampliar o prazo de apresentação da cártula a que se refere o art. 33, caput, da Lei do Cheque.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17
CHEQUE
Possibilidade de protesto de cheque após o prazo de apresentação
com a indicação apenas do emitente no apontamento

Sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de cheque com
a indicação do emitente como devedor.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/4/2016 (recurso
repetitivo) (Info 584).

O que é um protesto de título?


Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a finalidade de provar a
inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de crédito ou de outros documentos
de dívida.

É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo de apresentação?
SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente depois do prazo de apresentação, desde
que não escoado o prazo prescricional relativo à ação cambial de execução.

Mas o art. 48 da Lei n. 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o prazo de
apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no lugar de
pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de apresentação.” E agora?
Calma. O STJ afirma que a exigência imposta no art. 48 de que o protesto ocorra antes de expirado o prazo
de apresentação do cheque só vale para o protesto necessário, isto é, aquele feito contra os coobrigados,
para o exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do título.
Em outras palavras, o art. 48 da Lei nº 7.357/85 trata apenas da possibilidade de cobrança dos eventuais
devedores indiretos (coobrigados), mas não do devedor principal (emitente).
O protesto pode ser feito contra o emitente mesmo após o prazo de apresentação, desde que o cheque
ainda não esteja prescrito.

Relembrando:
 Prazo de apresentação do cheque: 30 dias, se ele for da mesma praça do pagamento ou 60 dias, se for
de praça diferente.
 Prazo prescricional para a execução do cheque: 6 meses, contados a partir do momento em que
termina o prazo de apresentação do cheque.

Resumindo:
O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício do direito de regresso deve
ocorrer antes de expirado o prazo de apresentação (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do chamado
protesto necessário.
O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo depois do prazo de
apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de Noronha, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

O STJ reafirmou este entendimento, agora sob a sistemática de recurso repetitivo, e fixou a seguinte tese:
Sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de cheque com a
indicação do emitente como devedor.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/4/2016 (recurso repetitivo)
(Info 584).

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18
Exemplo:
João emitiu um cheque em fevereiro/2015 em favor de Pedro. Este, por sua vez, endossa o cheque para
Carlos. Isso significa que Pedro passa a ser codevedor do cheque perante Carlos.
Suponhamos que o cheque seja da mesma praça do pagamento. Logo, neste caso, o prazo de
apresentação do cheque é de 30 dias.
Carlos tenta descontar o cheque, mas não há fundos disponíveis.
Diante dessa cenário, Carlos tinha até março/2015 (prazo de apresentação) para fazer o protesto do
cheque contra João (emitente) e Pedro (codevedor).
Imaginemos, no entanto, que chegou abril/2015 e Pedro não fez o referido protesto. Ele perderá o direito
de protestar e de executar o codevedor (Pedro), nos termos do art. 48 da Lei do Cheque. Ele poderá ainda,
contudo, levar o cheque a protesto, mas agora apenas contra o emitente (João). Este protesto contra o
emitente poderá ser feito até setembro/2015 (prazo prescricional = 6 meses depois do fim do prazo de
apresentação do cheque).

DIREITO ECONÔMICO

DIREITOS ANTIDUMPING
Suspensão da exigibilidade do direito antidumping provisório

Não se pode aceitar as máquinas do importador como caução idônea (garantia) para liberar as
mercadorias importadas e que estão sujeitas a direitos antidumping provisórios.
Isso porque o art. 3º da Lei nº 9.019/95 prevê que a a exigibilidade dos direitos provisórios
poderá ficar suspensa, até decisão final do processo, a critério da CAMEX, desde que o
importador ofereça garantia mediante: depósito em dinheiro ou fiança bancária.
Essas hipóteses do art. 3º são taxativas e, portanto, não se admite como garantia o
oferecimento de maquinário.
A suspensão da exigibilidade do direito provisório é um benefício excepcional e, portanto, não
se pode permitir a interpretação extensiva do art. 3º para alcançar outras formas de garantias
nele não previstas, sob pena de o Poder Judiciário atuar como legislador positivo e afrontar o
princípio da separação dos poderes.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.516.614-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/5/2016 (Info 584).

Dumping
"O dumping consiste na conduta dos agentes econômicos que vendem os seus produtos fora do país
abaixo do custo de produção e também por preço inferior aos cobrados no país de origem." (MASSO,
Fabiano Del. Direito Econômico esquematizado. São Paulo: Método, 2ª ed., p. 283).
Trata-se de uma prática comercial predatória por meio da qual uma empresa exporta seus produtos por
preços inferiores ao custo com o objetivo de fazer com que as indústrias do país importador não consigam
competir e, assim, quebrem. Durante um tempo, a empresa exportadora fica suportando o prejuízo de
vender suas mercadorias abaixo do custo. No entanto, depois de não ter mais concorrentes no mercado
(já que eles faliram por não acompanharem os preços), a empresa que praticou o dumping aumenta
absurdamente os preços de seus produtos, considerando que o público consumidor não terá mais opções
de outras empresas.
É uma forma, portanto, de eliminar a concorrência.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19
Direitos antidumping
O dumping é condenado pelos organismos de comércio internacional, como a Organização Mundial do
Comércio (OMC), que possui medidas de combate a essa prática.
O artigo VI do GATT 47 (Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio) prevê que os países deverão
disciplinar medidas para se proteger do dumping. São os chamados direitos antidumping e de
compensação.
No Brasil, foi editada a Lei nº 9.019/95, que dispõe sobre a aplicação em nosso país dos direitos previstos
no Acordo Antidumping e no Acordo de Subsídios e Direitos Compensatórios. Esta Lei prevê que o
Governo brasileiro, ao perceber que determinada mercadoria está entrando em nosso país com o objetivo
de fazer dumping, deverá exigir, para que haja o desembaraço aduaneiro, o pagamento de um valor que
corresponda ao percentual da margem de dumping que está sendo praticado ou dos incentivos que o
Governo estrangeiro está dando para aquele exportador.
Assim, a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) investiga possíveis dumpings e, se constatar que está
ocorrendo, instaura um processo administrativo e calcula o quanto de "desconto" artificial a empresa
estrangeira está fornecendo.

Art. 5º Compete à SECEX, mediante processo administrativo, apurar a margem de dumping ou o montante
de subsídio, a existência de dano e a relação causal entre esses.

Depois disso, a Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) se reúne e pode decidir que o Brasil irá cobrar essa
diferença para que a mercadoria entre em nosso país. Com isso, a CAMEX garante que o preço praticado
seja justo, evitando que a indústria nacional quebre e que, em médio ou longo prazo, o próprio
consumidor brasileiro seja prejudicado.

Art. 6º Compete à CAMEX fixar os direitos provisórios ou definitivos, bem como decidir sobre a suspensão
da exigibilidade dos direitos provisórios, a que se refere o art. 3º desta Lei.
Parágrafo único. O ato de imposição de direitos antidumping ou Compensatórios, provisórios ou
definitivos, deverá indicar o prazo de vigência, o produto atingido, o valor da obrigação, o país de origem
ou de exportação, as razões pelas quais a decisão foi tomada, e, quando couber, o nome dos
exportadores.

Esse valor que é exigido como direito antidumping é autorizado pelo art. 1º da Lei nº 9.019/95 e é fixado
pela CAMEX por meio de Resoluções.
Veja o que diz o art. 1º da Lei nº 9.019/95 em suas partes mais importantes:
Art. 1º Os direitos antidumping e os direitos compensatórios, provisórios ou definitivos, (...) serão
aplicados mediante a cobrança de importância, em moeda corrente do País, que corresponderá a
percentual da margem de dumping ou do montante de subsídios, apurados em processo administrativo,
(...) suficientes para sanar dano ou ameaça de dano à indústria doméstica.

Segundo o parágrafo único do art. 1º, "os direitos antidumping e os direitos compensatórios serão
cobrados independentemente de quaisquer obrigações de natureza tributária relativas à importação dos
produtos afetados." Em outras palavras, o importador pagará o imposto de importação, o imposto sobre
produtos industrializados (se for o caso) e mais os direitos antidumping.

Em palavras mais simples, os direitos antidumping consistem em um valor a mais (fora os tributos) que
terá que ser pago pelo importador em virtude de estar trazendo para o país uma mercadoria que está
sendo vendida pela empresa no exterior abaixo do preço de custo.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20
Direitos antidumping provisório e definitivo
Os direitos antidumping fixados pelo Governo brasileiro poderão ser:
 Provisórios: são aplicados antes que a investigação tenha encerrado, desde que, em análise preliminar,
verifique-se a existência de indícios da prática de dumping ou de concessão de subsídios, e que tais
práticas causam dano, ou ameaça de dano, à indústria doméstica, sendo necessário impedi-las no
curso da investigação.
 Definitivos: ocorre quando a investigação já se encerrou e foi constatada realmente a ocorrência da
prática de dumping ou de concessão de subsídios.

Obs: vale ressaltar que os direitos antidumping são sempre fixados por prazo determinado, tanto no caso
de direitos provisórios como definitivos. Assim, quando se fala em "direitos definitivos" não significa que
sejam para sempre. Definitivos, aí, está no sentido de que foram fixados após a conclusão do processo
administrativo.

Suspensão da exigibilidade dos direitos antidumping provisórios


Como vimos acima, os direitos antidumping provisórios são fixados durante a investigação de dumping, ou
seja, ainda não se tem certeza se realmente está ocorrendo e, ao final, poderá ser que se constate a sua
não-ocorrência.
Por ser uma imposição ainda provisória, a lei prevê a possibilidade de o importador "adiar" o pagamento
desses valores até que a investigação e o processo administrativo sejam concluídos. No entanto, para
gozar dessa suspensão do pagamento, ele precisará oferecer uma garantia. Isso está disciplinado no art. 3º
da Lei nº 9.019/95:
Art. 3º A exigibilidade dos direitos provisórios poderá ficar suspensa, até decisão final do processo, a
critério da CAMEX, desde que o importador ofereça garantia equivalente ao valor integral da obrigação e
dos demais encargos legais, que consistirá em:
I - depósito em dinheiro; ou
II - fiança bancária.
(...)
§ 3º O desembaraço aduaneiro dos bens objeto da aplicação dos direitos provisórios dependerá da
prestação da garantia a que se refere este artigo.

Veja um exemplo de Resolução CAMEX que impõe direitos antidumping:


RESOLUÇÃO No 24, DE 28 DE ABRIL DE 2010
(Publicada no D.O.U. de 29/04/2010)

Aplica direito antidumping definitivo, por até 5 anos, às importações brasileiras de canetas esferográficas
fabricadas a base de resinas plásticas de corpo único tipo monobloco ou desmontável, retrátil ou não, com
ou sem grip, com tinta gel ou a base de óleo, originárias da República Popular da China.

O PRESIDENTE DO CONSELHO DE MINISTROS DA CÂMARA DE COMÉRCIO EXTERIOR - CAMEX, ouvidos os


respectivos membros, com fundamento no que dispõe o inciso XV do art. 2º e no § 7º do art. 4º do
Decreto nº 4.732, de 10 de junho de 2003, e no § 3º do art. 64 do Decreto nº 1.602, de 23 de agosto de
1995, e tendo em vista o que consta nos autos do Processo MDIC/SECEX 52000.032886/2008-10,
RESOLVE:
Art. 1º Aplicar direito antidumping definitivo, por até 5 (cinco) anos, às importações brasileiras de canetas
esferográficas fabricadas a base de resinas plásticas de corpo único tipo monobloco ou desmontável,
retrátil ou não, com ou sem grip, com tinta gel ou a base de óleo, originárias da República Popular da
China, comumente classificadas no item 9608.10.00 da Nomenclatura Comum do MERCOSUL, a ser
recolhido sob a forma de alíquota específica fixa de 14,52 US$/kg (catorze dólares estadunidenses e

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21
cinqüenta e dois centavos por quilograma), tornando público os fatos que justificaram a decisão.
Art. 2º A alíquota específica do direito antidumping foi aplicada por razões de interesse nacional,
considerando a necessidade de se evitar onerar as despesas de aquisição de material didático-escolar de
que trata o inciso VIII do art. 70 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Art. 3º As importações das canetas em questão deverão ser objeto de monitoramento estatístico pela
Secretaria de Comércio Exterior – SECEX do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
– MDIC.
Art. 4º A CAMEX poderá, a qualquer tempo, alterar o direito antidumping aplicado nesta Resolução, caso a
SECEX recomende, como resultado do monitoramento mencionado no artigo anterior, a modificação no
nível de direito ora aplicado.
Art. 5º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:


A empresa "XXX" importou "vidros" da China, que seriam utilizados em sua linha de produção.
Ocorre que o Governo brasileiro, por meio da Resolução CAMEX n° 55/2014, aplicou direito antidumping
provisório para os vidros importados da China. Isso significa que a empresa "XXX", além dos tributos
decorrentes da importação, terá que pagar os direitos antidumping.
Diante disso, a empresa pediu que a exigibilidade dos direitos provisórios ficasse suspensa até a decisão
final do processo oferecendo, para tanto, como garantia, uma máquina de seu parque industrial e que
seria equivalente ao valor integral da obrigação e dos demais encargos.

O pedido da empresa poderá ser aceito, segundo o STJ?


NÃO.

Não se pode aceitar as máquinas do importador como caução idônea (garantia) para liberar as
mercadorias importadas e que estão sujeitas a direitos antidumping provisórios.
Isso porque o art. 3º da Lei nº 9.019/95 prevê que a exigibilidade dos direitos provisórios poderá ficar
suspensa, até decisão final do processo, a critério da CAMEX, desde que o importador ofereça garantia
mediante: depósito em dinheiro ou fiança bancária.
Essas hipóteses do art. 3º são taxativas e, portanto, não se admite como garantia o oferecimento de
maquinário.
A suspensão da exigibilidade do direito provisório é um benefício excepcional e, portanto, não se pode
permitir a interpretação extensiva do art. 3º para alcançar outras formas de garantias nele não
previstas, sob pena de o Poder Judiciário atuar como legislador positivo e afrontar o princípio da
separação dos poderes.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.516.614-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/5/2016 (Info 584).

Se os direitos antidumping não forem pagos, o importador ficará impedido de realizar o desembaraço
aduaneiro e retirar as mercadorias?
SIM, isso mesmo. É o que preconiza o art. 7º da Lei nº 9.019/95:
Art. 7º O cumprimento das obrigações resultantes da aplicação dos direitos antidumping e dos direitos
compensatórios, sejam definitivos ou provisórios, será condição para a introdução no comércio do País de
produtos objeto de dumping ou subsídio.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

EXECUÇÃO
Necessidade de prévia intimação das partes antes de se decretar a prescrição intercorrente

Importante!!!
Em execução de título extrajudicial, o credor deve ser intimado para opor fato impeditivo à
incidência da prescrição intercorrente antes de sua decretação de ofício.
Esse dever de prévia intimação do credor para decretação da prescrição intercorrente não era
previsto expressamente no CPC/1973, sendo aplicado pelo STJ com base na incidência
analógica do art. 40, §§ 4º e 5º, da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal).
O CPC/2015, contudo, resolve a questão e prevê expressamente a prévia oitiva das partes:
Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de
ofício, reconhecer a prescrição de que trata o § 4º e extinguir o processo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.589.753-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/5/2016 (Info 584).

Não localização de bens penhoráveis


João ingressou com execução cobrando R$ 100 mil de Pedro.
O executado não pagou espontaneamente o débito e não foram localizados bens de Pedro que pudessem
ser penhorados.
Ocorrendo isso, o juiz deverá proferir uma decisão suspendendo o processo, nos termos do art. 921, III, do
CPC/2015:
Art. 921. Suspende-se a execução:
(...)
III - quando o executado não possuir bens penhoráveis;

Hipóteses do inciso III


Vale ressaltar que a suspensão da execução com base no inciso III abrange três hipóteses:
1ª) quando não é localizado nenhum bem do devedor (não tem nada em seu nome);
2ª) quando são localizados bens, mas estes se classificam como impenhoráveis (exs: o executado tem uma
casa em seu nome, mas é bem de família; o executado possui uma poupança com menos de 40 salários
mínimos depositados);
3ª) quando até foram localizados bens do devedor que podem ser penhorados, mas se alienados, não
pagarão nem as custas da execução, nos termos do art. 836 do CPC/2015 (ex: o executado possui uma
mobilete, ano 1990).

Por quanto tempo este processo ficará suspenso?


O juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1 ano. Neste período de 1 ano, ficará suspensa também a
prescrição (§ 1º do art. 921).

O que acontece se, neste período, for localizado algum bem penhorável?
Neste caso, os autos serão desarquivados para prosseguimento da execução (§ 3º do art. 921).

Depois que passar este prazo de 1 ano, o que acontece?


A execução continuará suspensa. No entanto, o prazo prescricional começará a correr.
Art. 921 (...) 4º Decorrido o prazo de que trata o § 1º sem manifestação do exequente, começa a correr o
prazo de prescrição intercorrente.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23
Para que o prazo prescricional comece a correr, é necessária decisão ou despacho do juiz afirmando isso?
NÃO. Depois que transcorrer 1 ano da execução suspensa, o prazo da prescrição intercorrente começa a
correr automaticamente, sem necessidade de decisão ou despacho do magistrado.
Enunciado 195-FPPC: O prazo de prescrição intercorrente previsto no art. 921, § 4º, tem início
automaticamente um ano após a intimação da decisão de suspensão de que trata o seu § 1º.

Qual é o nome desta prescrição?


Prescrição intercorrente. É assim chamada porque ocorre durante o processo.

Qual será o prazo prescricional da prescrição intercorrente?


Irá variar de acordo com o que está sendo executado. Isso porque a execução prescreve no mesmo prazo
de prescrição da ação (Súmula 150-STF).
Ex1: João ingressou com execução de uma nota promissória contra Pedro (emitente). O prazo para se ingressar
com ação de execução de nota promissória é de 3 anos. Isso significa que o prazo da prescrição intercorrente
na execução da nota também será de 3 anos. Logo, depois de não se localizarem bens de Pedro, este terá que
esperar 4 anos para se livrar do processo (1 ano de suspensão da prescrição + 3 anos até prescrever).

Ex2: João ingressou com ação de indenização contra Pedro. O juiz condenou o réu a pagar R$ 100 mil.
Houve o trânsito em julgado. O credor iniciou o cumprimento de sentença. Não foram localizados bens
penhoráveis. O prazo para que a pessoa ingresse com ação de reparação civil é de 3 anos (art. 206, § 3º, V,
do Código Civil). Isso significa que o prazo da prescrição intercorrente no cumprimento de sentença de
uma condenação de reparação civil também será de 3 anos. Logo, depois de não se localizarem bens de
Pedro, este terá que esperar 4 anos para se livrar do processo (1 ano de suspensão da prescrição + 4 anos
até prescrever).

Daí ter sido editado o Enunciado 196-FPPC: O prazo de prescrição intercorrente é o mesmo da ação.

A prescrição intercorrente pode ser decretada de ofício ou depende de requerimento do executado?


Pode ser decretada de ofício. No entanto, antes de decretar, o juiz deverá intimar as partes para que se
manifestem no prazo de 15 dias:
Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício,
reconhecer a prescrição de que trata o § 4º e extinguir o processo.

O executado normalmente não se manifesta ou simplesmente vai corroborar a ideia de que a execução
deve ser extinta pela prescrição. O exequente, contudo, poderá alegar algum fato que obste a decretação
da prescrição (ex: o juiz contou errado o prazo).

Mesmo antes do CPC/2015, a jurisprudência majoritária do STJ entendia, com base na interpretação
analógica do art. 40, §§ 4º e 5º, da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal), que o juiz, antes de decretar a
prescrição intercorrente, deveria intimar o exequente:
Em execução de título extrajudicial, o credor deve ser intimado para opor fato impeditivo à incidência
da prescrição intercorrente antes de sua decretação de ofício.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.589.753-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/5/2016 (Info 584).

Essas regras acima analisadas valem apenas para a execução de título extrajudicial ou também para o
cumprimento de sentença?
Para ambos. As regras da prescrição intercorrente previstas no art. 921, III e §§ 1º a 5º, do CPC/2015,
valem tanto para a execução de título extrajudicial como para o cumprimento de sentença. Nesse sentido
é o Enunciado 194-FPPC: A prescrição intercorrente pode ser reconhecida no procedimento de
cumprimento de sentença.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24
DIREITO PENAL

PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS


Impossibilidade de reconversão da pena restritiva de direitos
em privativa de liberdade a pedido do condenado

O condenado que recebeu pena restritiva de direitos e ainda nem sequer iniciou seu
cumprimento não tem o direito de escolher cumprir a pena privativa de liberdade que foi
originalmente imposta.
A reconversão da pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade depende da
ocorrência dos requisitos legais (descumprimento das condições impostas pelo juiz da
condenação), não cabendo ao condenado, que nem sequer iniciou o cumprimento da pena,
escolher ou decidir a forma como pretende cumprir a sanção, pleiteando aquela que lhe
parece mais cômoda ou conveniente.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.524.484-PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 17/5/2016 (Info 584).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi condenado a 3 anos de detenção em regime aberto.
A pena privativa de liberdade foi convertida (substituída) em duas penas restritivas de direitos (prestação
de serviços à comunidade e prestação pecuniária), nos termos do art. 44 do CP.
A sentença transitou em julgado.
No momento da execução da pena, quando o juiz iria designar a instituição na qual o apenado iria prestar
serviços à comunidade, o condenado formulou requerimento dizendo que não queria cumprir penas
restritivas de direitos e que, para ele, era mais benéfica a pena privativa de liberdade. Em outras palavras,
antes mesmo de iniciar a execução, o apenado pediu para a pena restritiva ser reconvertida em pena
privativa de liberdade.

O pedido do condenado foi aceito pelo STJ?


NÃO.

O condenado que recebeu pena restritiva de direitos e ainda nem sequer iniciou seu cumprimento não
tem o direito de escolher cumprir a pena privativa de liberdade que foi originalmente imposta.
A reconversão da pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade depende da ocorrência dos
requisitos legais (descumprimento das condições impostas pelo juiz da condenação), não cabendo ao
condenado, que nem sequer iniciou o cumprimento da pena, escolher ou decidir a forma como pretende
cumprir a sanção, pleiteando aquela que lhe parece mais cômoda ou conveniente.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.524.484-PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 17/5/2016 (Info 584).

O art. 33, § 2º, alínea "c", do Código Penal estabelece que o condenado não reincidente, condenado a
pena igual ou inferior a 4 anos poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto. Isso não significa,
contudo, que o apenado tenha o direito subjetivo de escolher se quer cumprir a pena privativa de
liberdade ou a pena restritiva de direitos, que foi imposta na sentença.
Se preenchidos os requisitos legais do art. 44 do CP, a imposição da pena restritiva de direitos não pode ser
evitada por vontade do réu porque isso se insere no campo da discricionariedade vinculada do magistrado.
Assim, ao se deparar com situação que, em tese, comporta a substituição da pena, o magistrado deve
assim proceder. Não cabe ao condenado escolher ou decidir a forma como pretende cumprir a
condenação que lhe foi imposta, pleiteando aquela que lhe parecer mais cômoda ou conveniente.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25
Observação (sem importância para concursos):
A decisão acima acaba sendo, na prática, inócua. Isso porque para que a pena restritiva de direitos seja
novamente convertida em pena privativa de liberdade, basta que ocorra o "descumprimento injustificado da
restrição imposta" (§ 4º do art. 44 do CP). Em outras palavras, basta que o condenado não vá nenhum dia
para a prestação de serviços à comunidade ou deixe de pagar a prestação pecuniária que não restará
alternativa ao juiz a não ser converter a pena restritiva de direitos em privativa de liberdade. Dessa forma, no
final das contas, na prática, o condenado tem sim a faculdade de escolher a pena privativa de liberdade.

EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES


Prostituta que arranca cordão de cliente que não quis pagar o programa
responde por exercício arbitrário das próprias razões

Importante!!!
A prostituta maior de idade e não vulnerável que, considerando estar exercendo pretensão
legítima, arranca cordão do pescoço de seu cliente pelo fato de ele não ter pago pelo serviço
sexual combinado e praticado consensualmente, pratica o crime de exercício arbitrário das
próprias razões (art. 345 do CP) e não roubo (art. 157 do CP).
STJ. 6ª Turma. HC 211.888-TO, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/5/2016 (Info 584).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João combina com Madalena, prostituta que trabalha nas imediações do porto, programa sexual em troca
do pagamento de R$ 50.
Terminado o programa, João diz que está sem dinheiro e que não irá pagá-la.
Diante disso, Madalena, pessoa humilde e sem instrução formal, arrancou do pescoço do cliente um
cordão que ele usava como forma de cobrar pelo serviço prestado e que não foi pago.
Quando João vai para cima de Madalena para tomar de volta a corrente, ela saca uma navalha e o ameaça,
fazendo com que ele desista de recuperar o objeto. A meretriz foge, então, do local, mas em seguida é
presa pela Polícia Militar.
O Ministério Público denunciou Madalena pela prática do crime de roubo impróprio (art. 157, § 1º do CP).

Agiu corretamente o MP? Madalena praticou roubo?


NÃO. Madalena não praticou roubo impróprio, mas sim exercício arbitrário das próprias razões, delito
previsto no art. 345 do CP.

A prostituta maior de idade e não vulnerável que, considerando estar exercendo pretensão legítima,
arranca o cordão de ouro do pescoço de seu cliente pelo fato de ele não ter pago pelo serviço sexual
combinado e praticado consensualmente, pratica o crime de exercício arbitrário das próprias razões (art.
345 do CP) e não roubo (art. 157 do CP).
STJ. 6ª Turma. HC 211.888-TO, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/5/2016 (Info 584).

O crime de exercício arbitrário das próprias razões encontra-se assim tipificado no Código Penal:
Art. 345. Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei
o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.
Parágrafo único. Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 26
Para que se caracterize o crime do art. 345 do CP, é necessário que a pretensão discutida possa ser
buscada no Poder Judiciário
O exercício arbitrário das próprias razões é um crime contra a administração da justiça. Em virtude disso, a
doutrina afirma que este crime só se configura quando o agente poderia buscar aquele direito (pretensão)
no Poder Judiciário, mas, em vez disso, decide fazer "justiça com as próprias mãos". Nesse sentido:
"É pressuposto do crime que a pretensão do agente, pelo menos em tese, possa ser satisfeita pelo
Judiciário, isto é, que exista alguma espécie de ação judicial apta a satisfazê-la. Assim, não haverá
exercício arbitrário das próprias razões quando faltar interesse de agir (dívida prescrita, por
exemplo) ou quando o pedido for, em tese, juridicamente impossível (matar alguém que matou
seu filho). No último caso, obviamente o crime será o de homicídio. Nessas hipóteses, em que a
pretensão não poderia sequer em tese ser satisfeita pelo Judiciário, não existe o crime do art. 345
porque não há desrespeito à administração da justiça. Em tais casos, dependendo da situação,
poderá haver mero fato atípico ou outra espécie qualquer de infração penal." (GONÇALVES, Victor
Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado. Parte Especial. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 1082).

Esse foi o grande ponto que gerou debate neste processo: a prostituição pode ser considerada uma
atividade lícita? Se o cliente da prostituta deixa de pagar pelo serviço praticado, ela poderá ingressar
com ação judicial para cobrar essa quantia? Veja que esta resposta é muito importante porque, segundo
a doutrina, só existe o crime do art. 345 se a pretensão exigida por conta própria poderia ter sido
cobrada por meio do Poder Judiciário. E então, o crédito de Madalena poderia, em tese, ter sido exigido
por meio de ação de cobrança?
SIM. Conforme explica Nucci:
"Na órbita do Direito Civil, a prostituição deve ser reconhecida como um negócio como outro
qualquer (...) O comércio sexual entre adultos envolve agentes capazes. Como já se deixou claro,
reconhecida a atividade no rol das profissões do Ministério do Trabalho, o objeto é perfeitamente
lícito, pois é um contrato sexual, mediante remuneração, entre agentes capazes. Seria o
equivalente a um contrato de massagem, mediante remuneração, embora sem sexo. Não há
forma prescrita em lei para tal negócio, que pode ser verbal (...).

Conclui o autor afirmando ser:


"(...) perfeitamente viável que o trabalhador sexual, não tendo recebido pelos serviços sexuais
combinados com o cliente, possa se valer da Justiça para exigir o pagamento. Ademais [e aqui a
relevância da conclusão para o exame do caso concreto], evita-se o exercício arbitrário das
próprias razões (crime previsto no art. 345 do CP) e termina-se com a sacralização da Justiça para
apreciar somente casos que se considerem moralmente aceitáveis." (NUCCI, Guilherme de Souza,
op. cit., p. 190) " (NUCCI, Guilherme de Souza. Prostituição, lenocínio e tráfico de pessoas. 2ª ed,
Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 190).

De acordo com o Código Brasileiro de Ocupações de 2002, regulamentado pela Portaria do Ministério do
Trabalho n. 397, de 9 de outubro de 2002, os (ou as) profissionais do sexo são expressamente
mencionados no item 5198 como uma categoria de profissionais, o que, conquanto ainda dependa de
regulamentação quanto a direitos que eventualmente essas pessoas possam exercer, evidencia o
reconhecimento, pelo Estado brasileiro, de que a atividade relacionada ao comércio sexual do próprio
corpo não é ilícita e que, portanto, é passível de proteção jurídica.
Desse modo, não se pode negar proteção jurídica àquelas (e àqueles) que oferecem serviços de cunho sexual
em troca de remuneração, desde que, evidentemente, essa troca de interesses não envolva incapazes,
menores de 18 anos e pessoas de algum modo vulneráveis e desde que o ato sexual seja decorrente de livre
disposição da vontade dos participantes e não implique violência (não consentida) ou grave ameaça.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 27
Resumindo:
Ante o exposto, como a pretensão que foi cobrada pela ré "com suas próprias mãos" poderia ter sido
exigida mediante ação judicial e como o seu dolo não era o de roubar, mas sim o de cobrar o cliente pelo
serviço que ela prestou regularmente, tem-se que a prostituta considerava estar exercendo pretensão
legítima, de sorte que deverá responder pelo crime do art. 345 do CP (e não por roubo).

APROPRIAÇÃO INDÉBITA
O síndico mencionado no inciso II do § 1º, do art. 168, do CP
não é o síndico de condomínio edilício

Importante!!!
O "síndico" mencionado no inciso II do § 1º, do art. 168, do Código Penal é o síndico da massa
falida (atualmente denominado "administrador judicial" da falência ou recuperação judicial -
Lei nº 11.101/2005), e não o síndico de condomínio edilício.
Por essa razão, não se aplica esta causa de aumento para o caso de um síndico de condomínio
edilício que se apropriou de valores pertencentes ao condomínio para efetuar pagamento de
contas pessoais.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.552.919-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/5/2016 (Info 584).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João é síndico do condomínio de apartamentos "Morar Bem".
Descobriu-se que ele se apropriou de parte dos recursos do condomínio para pagar suas despesas pessoais.
Diante disso, o Ministério Público ofereceu denúncia contra o síndico pela prática de apropriação indébita,
crime tipificado no art. 168, CP:
Art. 168. Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

O Promotor de Justiça pediu também que incidisse a causa de aumento prevista no inciso II do § 1º do art.
168 do CP considerando que o agente praticou o crime na qualidade de "síndico":
§ 1º A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;

Agiu corretamente o MP ao imputar a mencionada causa de aumento?


NÃO.

O "síndico" mencionado no inciso II do § 1º, do art. 168, do Código Penal é o síndico da massa falida
(atualmente denominado "administrador judicial" da falência ou recuperação judicial - Lei nº
11.101/2005), e não o síndico de condomínio edilício.
Por essa razão, não se aplica esta causa de aumento para o caso de um síndico de condomínio edilício
que se apropriou de valores pertencentes ao condomínio para efetuar pagamento de contas pessoais.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.552.919-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/5/2016 (Info 584).

A doutrina, ao interpretar este dispositivo, é unânime em afirmar que o "síndico" a que se refere a majorante
do inciso II do § 1º do art. 168 do CP é o "administrador judicial" (Lei nº 11.101/2005), ou seja, o profissional
nomeado pelo juiz e responsável pela condução do processo de falência ou de recuperação judicial.
Não é possível incluir o "síndico" do condomínio por meio de interpretação, considerando que o rol acima
mencionado é taxativo e não pode ser ampliado por analogia ou equiparação, até porque todas as
Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 28
hipóteses elencadas no referido inciso - "tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro
ou depositário judicial" - cuidam de um munus público.
O síndico do condomínio não exerce munus público, possuindo uma relação contratual de direito privado
com os demais condôminos.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


NOTICIA CRIMINIS
Dever de a Receita Federal encaminhar a representação fiscal para fins penais mesmo que não
haja imposição de multa ao contribuinte

A Delegacia da Receita Federal deve enviar ao Ministério Público Federal os autos das
representações fiscais para fins penais relativas aos crimes contra a ordem tributária
previstos na Lei nº 8.137/1990 e aos crimes contra a previdência social (arts. 168-A e 337-A do
CP) após proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito
tributário correspondente, mesmo quando houver afastamento de multa agravada.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.569.429-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 5/5/2016 (Info 584).

Veja comentários em Direito Tributário.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IPI
Base de cálculo do IPI nas vendas a prazo

A base de cálculo do IPI na venda a prazo é o preço "normal" da mercadoria (preço de venda à
vista) mais os eventuais acréscimos decorrentes do parcelamento.
A base de cálculo do IPI nas vendas a prazo, sem a intermediação de instituição financeira, é o
valor total da operação.
Situação diferente ocorre na chamada "venda financiada". Nesta, o comprador obtém recursos
de instituição financeira para pagar a aquisição da mercadoria e o IPI incide apenas sobre o
valor efetivamente pago ao vendedor do produto, não englobando os juros pagos ao
financiador, sobre o qual incidirá apenas o IOF.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.586.158-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/5/2016 (Info 584).

IPI
IPI é a sigla para Imposto sobre Produtos Industrializados.
Trata-se de um tributo federal e que incide sobre a produção e a circulação de produtos industrializados.
O IPI foi instituído por meio da Lei nº 4.502/64.

Fato gerador do IPI


Segundo o art. 46 do CTN, o IPI possui três fatos geradores:
I - o desembaraço aduaneiro do produto industrializado, quando de procedência estrangeira;
II - a saída do produto industrializado do estabelecimento industrial ou equiparado a industrial;
III - a arrematação do produto industrializado, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 29
Base de cálculo do IPI
A base de cálculo do IPI irá variar de acordo com o fato gerador (art. 47). Veja:
I – na importação: será o valor aduaneiro;
II – na produção nacional: será o valor da operação;
III – no leilão: será o valor da arrematação.

O que é o valor da operação (base de cálculo do IPI no caso da produção nacional)?


O valor da operação compreende o preço do produto, acrescido do valor do frete e das demais despesas
acessórias, cobradas ou debitadas pelo contribuinte ao comprador ou destinatário (§ 1º do art. 14 da Lei
n. 4.502/64).
Desse modo, no caso de produção nacional de produtos industrializados, o IPI será calculado com base no
preço do produto (valor da operação).

Feitos esses esclarecimentos, imagine a seguinte situação: o preço do produto à vista é R$ 1.000,00. No
entanto, se ele for vendido a prazo, custa R$ 1.200,00 em quatro vezes de R$ 300,00. Haverá um
aumento de R$ 200,00 em virtude dos acréscimos decorrentes do parcelamento. Neste caso, o IPI deverá
ser pago com base no valor total, incluindo os acréscimos do parcelamento (R$ 1.200,00)? Se a venda for
a prazo, a base de cálculo do IPI deverá incluir os eventuais acréscimos decorrentes do parcelamento?
SIM.

A base de cálculo do IPI na venda a prazo é o preço "normal" da mercadoria (preço de venda à vista)
mais os eventuais acréscimos decorrentes do parcelamento.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.586.158-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/5/2016 (Info 584).
Como vimos acima, a base de cálculo do IPI nas operações internas é o "valor da operação" (art. 47, II, do CTN).
Para a lei, não interessa como se chegou ao valor da operação, ou seja, se "x" por cento do preço
corresponde aos custos de produção, "y" por cento corresponde ao lucro, "z" por cento corresponde aos
impostos etc. O que importa no momento de pagar o tributo é o custo total da operação, sendo
irrelevante de que forma o vendedor chegou ao valor que cobrou pelo produto por ele comercializado.
Venda financiada é diferente
Coisa inteiramente diversa aconteceria se o comprador, não tendo como pagar à vista, contratasse um
financiamento para a compra. Nessa hipótese, se o preço da operação fosse R$ 1.000,00, a base de cálculo
do IPI seria esse exato valor, ainda que para poder pagá-lo o comprador acabasse por pagar à financeira os
R$ 1.000,00 mais R$ 200,00 de juros. Não haveria de se pensar em incidência de IPI sobre esses R$ 200,00,
pois estes não comporiam o preço da operação, constituindo remuneração pelo capital obtido em
empréstimo para pagar a compra. O imposto que incidiria sobre esses R$ 200,00 seria apenas o IOF, que é
o imposto incidente sobre juros de financiamento.

Base de cálculo do IPI / ICMS


Venda a prazo Venda financiada
Ocorre quando o adquirente combina com o Ocorre quando o adquirente, não tendo como
vendedor de comprar o bem de forma parcelada, pagar à vista, contrata um financiamento para a
pagando as prestações para o vendedor. compra, recebe um empréstimo, paga o vendedor
Neste caso, o vendedor cobra mais caro por estar e fica pagando o mútuo realizado.
vendendo o produto a prazo.
A base de cálculo do IPI na venda a prazo será o A base de cálculo do IPI será o preço da
preço "normal" da mercadoria (preço de venda à mercadoria (preço da operação) sem incluir o
vista) mais os eventuais acréscimos decorrentes valor do financiamento.
do parcelamento.
Se o vendedor está cobrando mais caro quando O financiamento é a remuneração do capital
vende a prazo, não há como dizer que o valor obtido em empréstimo para pagar a compra e,
Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 30
cobrado a mais na venda a termo não compõe o portanto, não tem nada a ver com o vendedor.
valor da operação.

Nesse sentido, já decidiu o STJ em precedente relacionado com o ICMS, mas que pode ser perfeitamente
aplicado também para o IPI:
(...) 1. A "venda financiada" e a "venda a prazo" são figuras distintas para o fim de encerrar a base de
cálculo de incidência do ICMS, sendo certo que, sobre a venda a prazo, que ocorre sem a intermediação de
instituição financeira, incide ICMS.
2. A "venda a prazo" revela modalidade de negócio jurídico único, cognominado compra e venda, no qual o
vendedor oferece ao comprador o pagamento parcelado do produto, acrescendo-lhe um plus ao preço final,
razão pela qual o valor desta operação integra a base de cálculo do ICMS, na qual se incorpora, assim, o preço
"normal" da mercadoria (preço de venda à vista) e o acréscimo decorrente do parcelamento. (...)
3. A venda financiada, ao revés, depende de duas operações distintas para a efetiva "saída da mercadoria"
do estabelecimento (art. 2º do DL 406/68), quais sejam, uma compra e venda e outra de financiamento,
em que há a intermediação de instituição financeira, aplicando-se-lhe o enunciado da Súmula 237 do STJ:
"Nas operações com cartão de crédito, os encargos relativos ao financiamento não são considerados no
cálculo do ICMS."
4. In casu, dessume-se do voto condutor do aresto recorrido hipótese de venda a prazo, em que o financiamento
foi feito pelo próprio vendedor, razão pela qual a base de cálculo do ICMS é o valor total da venda. (...)
STJ. 1ª Seção. REsp 1106462/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 23/09/2009.

Há também um enunciado sobre o tema:


Súmula 395-STJ: O ICMS incide sobre o valor da venda a prazo constante da nota fiscal.

REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS


Dever de encaminhar a representação mesmo que não haja imposição de multa ao contribuinte

A Delegacia da Receita Federal deve enviar ao Ministério Público Federal os autos das
representações fiscais para fins penais relativas aos crimes contra a ordem tributária
previstos na Lei nº 8.137/1990 e aos crimes contra a previdência social (arts. 168-A e 337-A do
CP) após proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito
tributário correspondente, mesmo quando houver afastamento de multa agravada.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.569.429-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 5/5/2016 (Info 584).

Crimes envolvendo o não pagamento de tributos


Normalmente, a prática de crimes tributários é descoberta pelo Fisco quando este está apurando se o
contribuinte pagou ou não os tributos devidos.
Vale ressaltar, ainda, que no caso dos crimes tributários materiais (art. 1º, I a IV, da Lei nº 8.137/90), eles
só se consumam depois que o Fisco realiza a constituição definitiva do crédito tributário (Súmula
Vinculante 24).
Dessa forma, o que estou querendo dizer é que o processo administrativo-fiscal realizado pela Receita é
fundamental para que se comprove a ocorrência ou não dos crimes tributários. Sem ele, o Ministério
Público dificilmente teria elementos para oferecer denúncia contra os autores dos delitos.
Pensando nisso, o legislador previu que, após ser encerrado o procedimento administrativo-fiscal no
âmbito da Receita Federal, se ficar provado que o contribuinte não pagou realmente o tributo, o Auditor-
Fiscal tem o dever de encaminhar cópia dos autos ao Ministério Público Federal a fim de que este analise
se houve ou não a prática de crime contra a ordem tributária. Esse envio, que está previsto no art. 83 da
Lei nº 9.430/96, é chamado de "representação fiscal para fins penais", sendo uma espécie de noticia
criminis. Veja o texto da Lei nº 9.430/96:

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 31
Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos nos
arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social,
previstos nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será
encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a
exigência fiscal do crédito tributário correspondente.
§ 1º Na hipótese de concessão de parcelamento do crédito tributário, a representação fiscal para fins
penais somente será encaminhada ao Ministério Público após a exclusão da pessoa física ou jurídica do
parcelamento.

Na grande maioria dos casos, o Procurador da República oferece a denúncia pelos crimes contra a ordem
tributária utilizando-se das informações enviadas pela Receita Federal na representação fiscal.

Decreto nº 2.730/98
O art. 83 da Lei nº 9.430/96 foi regulamentado pelo Decreto nº 2.730/98.
Veja o que preveem os arts. 1º e 2º do Decreto:
Art. 1º O Auditor-Fiscal do Tesouro Nacional formalizará representação fiscal, para os fins do art. 83 da Lei
nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, em autos separados e protocolizada na mesma data da lavratura do
auto de infração, sempre que, no curso de ação fiscal de que resulte lavratura de auto de infração de
exigência de crédito de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal do
Ministério da Fazenda ou decorrente de apreensão de bens sujeitos à pena de perdimento, constatar fato
que configure, em tese:
I - crime contra a ordem tributária tipificado nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990;
II - crime de contrabando ou descaminho.

Art. 2º Encerrado o processo administrativo-fiscal, os autos da representação fiscal para fins penais serão
remetidos ao Ministério Público Federal, se:
I - mantida a imputação de multa agravada, o crédito de tributos e contribuições, inclusive acessórios, não
for extinto pelo pagamento;
II - aplicada, administrativamente, a pena de perdimento de bens, estiver configurado em tese, crime de
contrabando ou descaminho.

ACP contra o art. 2º, I, do Decreto nº 2.730/98


O Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública contra o art. 2º, I, do Decreto nº 2.730/98 alegando
que ele é ilegal porque teria extrapolado a sua função meramente regulamentar, já que restringiu
indevidamente o art. 83 da Lei nº 9.430/96. Explico.
O art. 83 da Lei nº 9.430/96 prevê que a representação fiscal deverá ser encaminhada ao MPF sempre que
o processo administrativo que tramitou na Receita constatar "a exigência fiscal do crédito tributário
correspondente".
O art. 2º, I, do Decreto nº 2.730/98, por sua vez, determina que o Auditor-Fiscal somente deverá
encaminhar a representação fiscal se houver crédito tributário constituído e multa agravada. Assim, de
acordo com o Decreto, se a multa agravada for afastada durante o processo administrativo, o Auditor
estaria desobrigado de enviar a representação fiscal.

A tese defendida na ACP foi aceita pelo STJ? O art. 2º, I, do Decreto nº 2.730/98 é ilegal por contrariar o
art. 83 da Lei nº 9.430/96? A Receita Federal deverá encaminhar a representação fiscal mesmo que a
multa agravada seja afastada?
SIM.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 32
A Delegacia da Receita Federal deve enviar ao Ministério Público Federal os autos das representações
fiscais para fins penais relativas aos crimes contra a ordem tributária previstos na Lei nº 8.137/1990 e
aos crimes contra a previdência social (arts. 168-A e 337-A do CP), após proferida a decisão final, na
esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente, mesmo quando
houver afastamento de multa agravada.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.569.429-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 5/5/2016 (Info 584).

Segundo o STJ, pela leitura dos citados dispositivos, conclui-se que o ato normativo secundário (isto é, o
Decreto nº 2.730/98) inovou no mundo jurídico, criando mais um obstáculo para o envio das
representações fiscais ao Ministério Público, como se fosse preceito normativo originário.
Dessa forma, exorbitou da função meramente regulamentar dos Decretos expedidos pelo Poder Executivo,
conforme expresso no art. 84, IV, da CF/88.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

PREVIDÊNCIA PRIVADA
Devolução de valores recebidos a título de antecipação de tutela posteriormente revogada

Se a antecipação da tutela anteriormente concedida a assistido de plano de previdência


complementar fechada houver sido revogada em decorrência de sentença de improcedência
do seu pedido, independentemente de culpa ou má-fé, será possível à entidade previdenciária
- administradora do plano de benefícios que tenha suportado os prejuízos da tutela antecipada
- efetuar descontos mensais no percentual de 10% sobre o montante total de cada prestação
do benefício suplementar que vier a ser recebida pelo assistido, até que ocorra a integral
compensação, com atualização monetária, da verba que fora antecipada, ainda que não tenha
havido prévio pedido ou reconhecimento judicial da restituição.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.548.749-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/4/2016 (Info 584).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João é beneficiário de uma aposentadoria concedida por um plano de previdência privada complementar.
João considerou que o valor dos proventos estava menor do que ele teria direito, razão pela qual ajuizou
ação pedindo a revisão de sua aposentadoria.
O juiz concedeu a tutela provisória de urgência antecipada e aumentou em R$ 1 mil o valor da
aposentadoria mensal por ele recebida.
A sentença foi procedente, porém, em sede de apelação, o Tribunal reformou a decisão, revogando a
tutela antecipada. Houve trânsito em julgado, sendo a decisão contrária ao pedido de João.
Ocorre que o autor recebeu, durante dois anos, R$ 1 mil a mais em seus proventos por força da tutela
antecipada, sendo que esse acréscimo foi, ao final, considerado indevido.

Diante disso, indaga-se: o plano de saúde poderá cobrar de volta os valores que João recebeu a título de
tutela antecipada?
SIM. A reforma da decisão que antecipa a tutela obriga o autor da ação a devolver os benefícios
previdenciários indevidamente recebidos (STJ. 1ª Seção. REsp 1.401.560-MT, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel.
para acórdão Min. Ari Pargendler, julgado em 12/2/2014. Recurso Repetitivo. Info 570).
As verbas de natureza alimentar do Direito de Família (ex: pensão alimentícia) são irrepetíveis, porquanto
regidas pelo binômio necessidade/possibilidade. Esse raciocínio, contudo, não vale para as verbas oriundas
de aposentadoria complementar, uma vez que possuem índole contratual, estando sujeitas, portanto, à
repetição (devolução) em caso de pagamento indevido por força de tutela antecipada.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 33
Assim, os valores de benefícios previdenciários complementares recebidos por força de tutela antecipada
posteriormente revogada devem ser devolvidos, ante a reversibilidade da medida antecipatória, a
ausência de boa-fé objetiva do beneficiário e a vedação do enriquecimento sem causa.

A análise da boa-fé do segurado que recebeu os valores será importante neste caso?
NÃO. A legislação processual prevê que os danos causados por força de tutela provisória posteriormente
revogada devem ser indenizados independentemente de culpa da parte que recebeu os valores, não
sendo necessário analisar se ela agiu de má-fé ou não. Trata-se de responsabilidade processual objetiva,
bastando a existência do dano, nos termos dos arts. 297, parágrafo único, 520, I e II, e 302 do CPC/2015
(arts. 273, § 3º, 475-O, incisos I e II, e 811 do CPC/1973):
Art. 297. (...) Parágrafo único. A efetivação da tutela provisória observará as normas referentes ao
cumprimento provisório da sentença, no que couber.

Art. 520. O cumprimento provisório da sentença impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo
será realizado da mesma forma que o cumprimento definitivo, sujeitando-se ao seguinte regime:
I - corre por iniciativa e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a
reparar os danos que o executado haja sofrido;
II - fica sem efeito, sobrevindo decisão que modifique ou anule a sentença objeto da execução,
restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidando-se eventuais prejuízos nos mesmos autos;

Art. 302. Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo prejuízo que a
efetivação da tutela de urgência causar à parte adversa, se:
I - a sentença lhe for desfavorável;
II - obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios necessários para a citação
do requerido no prazo de 5 (cinco) dias;
III - ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal;
IV - o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor.
Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre
que possível.

Para que ocorra a devolução, é necessário que a decisão judicial que revogou a tutela de urgência
determine expressamente a restituição dos valores?
NÃO. A obrigação de indenizar o dano causado pela execução de tutela antecipada posteriormente
revogada é consequência natural da improcedência do pedido. É uma decorrência ex lege (por força de lei)
da sentença, e, por isso, não precisa de pronunciamento judicial.
A sentença de improcedência, quando revoga tutela antecipadamente concedida, constitui, como efeito
secundário, título de certeza da obrigação de o autor indenizar o réu pelos danos eventualmente
experimentados, cujo valor exato será posteriormente apurado em liquidação nos próprios autos.
Em suma, se a decisão apenas determinar a revogação da tutela, sem falar em restituição, mesmo assim
essa devolução é obrigatória.

Para que a parte prejudicada com a tutela antecipada (posteriormente revogada) possa ser indenizada pelos
prejuízos sofridos é necessário que ela faça pedido reconvencional ou proponha uma ação autônoma apenas
para isso? O reconhecimento desse direito de ser restituído depende de pedido expresso?
NÃO. Conforme já explicado acima, a obrigação de indenizar o dano causado pela execução de tutela
antecipada posteriormente revogada é consequência natural da improcedência do pedido. É uma
decorrência ex lege (por força de lei) da sentença, e, por isso, dispensa pedido da parte interessada.
A parte prejudicada precisará, no entanto, requerer a liquidação dos danos nos próprios autos, conforme
preconiza o parágrafo único do art. 302 do CPC/2015.

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 34
Ok. O autor terá que devolver os valores recebidos. A parte ré, que havia sido prejudicada com a tutela
antecipada, poderá descontar esses valores da aposentadoria que o autor recebe até que a dívida toda
seja paga?
SIM. É possível à entidade previdenciária que suportou as consequências da antecipação de tutela
(prejuízos), a possibilidade de desconto no percentual de 10% do montante total do benefício
mensalmente recebido pelo assistido, até que ocorra a integral compensação da verba percebida.
Ex: a pessoa recebe R$ 1 mil de aposentadoria e deve R$ 20 mil; a entidade poderá descontar todos os
meses R$ 100 (10%) dos proventos da pessoa até que ela quite o débito.
Obs: se a pessoa não estiver recebendo benefício previdenciário, e não aceitar pagar voluntariamente, a
entidade deverá pedir ao juiz a penhora de bens que ela possua em seu nome.
Esses critérios decorrem da aplicação, por analogia, do art. 46, § 1º, da Lei nº 8.112/90.

Resumindo:
Se a antecipação da tutela anteriormente concedida a assistido de plano de previdência complementar
fechada houver sido revogada em decorrência de sentença de improcedência do seu pedido,
independentemente de culpa ou má-fé, será possível à entidade previdenciária - administradora do
plano de benefícios que tenha suportado os prejuízos da tutela antecipada - efetuar descontos mensais
no percentual de 10% sobre o montante total de cada prestação do benefício suplementar que vier a ser
recebida pelo assistido, até que ocorra a integral compensação, com atualização monetária, da verba
que fora antecipada, ainda que não tenha havido prévio pedido ou reconhecimento judicial da
restituição.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.548.749-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/4/2016 (Info 584).

O STJ já possuía precedente no mesmo sentido:


Os valores de benefícios previdenciários complementares recebidos por força de tutela antecipada
posteriormente revogada devem ser devolvidos, observando-se, no caso de desconto em folha de
pagamento, o limite de 10% (dez por cento) da renda mensal do benefício previdenciário até a
satisfação integral do valor a ser restituído.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.555.853-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/11/2015 (Info 573).

Informativo 584-STJ (27/05 a 10/06/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 35

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