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UESB
Departamento de Ciências Humanas
Curso de Ciências Sociais
Disciplina Relações Sociais de Gênero
Prof. José Ricardo Marques dos Santos
Prova
Michel Foulcault (1926-1984) foi um filósofo que dedicou boa parte de sua obra
a estudar a sociedade moderna. Segundo ele, essa sociedade é caracterizada por uma
nova forma de poder, desenvolvido a partir do século XVIII. Nessa nova organização, o
poder não está somente identificado no poder político e na sua forma repressiva, mas
está destribuído nos vários âmbitos da vida social. Para Foucalt, o poder fragmentou-se
em micro-poderes e tornou-se muito eficaz. Também há, segundo o autor, uma relação
clara entre a produção de saber e o poder, de modo que, os discursos produzidos pela
ciência tendem a legitimar um “regime de verdade” que vai ditar as regras e as normas
predominantes na sociedade.
Em seu livro A história da Sexualidade Foucalt evidencia como a sociedade
burguesa construiu através de suas instituições um discurso racionalizante sobre a
sexualidade, de modo a produzir sujeitos economicamente úteis. O sexo, nessa nova
configuração, estaria condicionado a um controle estatal, a um ‘regime de verdade’ que
ditaria quem poderia falar sobre ele e como falar, o que era considerado normal e o que
era considerado desviante. Sendo assim, todo indivíduo que tivesse um comportamento
sexual desviante do considerado “normal” estaria sujeito a uma ‘sansão normalizadora’.
Foucalt , participou ativamente do movimento social francês conhecido como
Maio de 68, nesse movimento também estavam outros filósofos como Derrida,
Bourdieu, Deleuze, Sartre, dentre outros, que reivindicavam além da liberdade sexual,
uma sociedade sem conservadorismo, livre de preconceitos e que respeitasse as
diferenças e subjetividades de cada indivíduo. Cabe ressaltar que esse movimento
começa justamente por uma questão sexual, os estudantes de uma universidade
protestam contra a divisão dos dormitórios entre homens e mulheres, tem-se adesão de
outros universitários e o movimento vai ganhando força até se espalhar para outros
seguimentos da sociedade.
Apesar de discutir sexualidade Foucalt não falava em gênero, todavia sua
influência a essa problemática foi significativa quando este pensa o sujeito de forma
descentralizada, não natural e des-substancializado, de modo que toda forma de querer
enquadra-lo numa categoria pré-definida seria uma forma de violência, nessa
perspectiva vai criticar a psicanálise freudiana, pois nessa, a teoria do desejo e do sujeito
estaria subordinada à hipótese repressiva e uma concepção jurídica de poder, o
complexo édipo, segundo Foucalt, nada mais seria do que um discurso médico para
tentar justificar uma determinada sexualidade.
Como o marxismo não podia dar respostas às reais origens da opressão das
mulheres na sociedade, Rubin busca essas respostas no estudos sobre o parentesco:
“Em sociedades ainda não constituídas em Estado, o parentesco é o idioma da interação
social, e organiza as atividades econômicas, políticas, cerimoniais e também sexuais”
(RUBIN, 16). Nessa perspectiva a autora retoma Claude Levi-Strauss e seu livro As
estruturas Elementares do Parentesco. Levi Strauss entendia o parentesco como uma
imposição da organização cultural sobre os fatos da procriação biológica, sua essência
era a troca de mulheres entre os homens, dessa maneira localisa a opressão das
mulheres no interior dos sistemas sociais e não na biologia. Todavia, segundo Rubin
“a troca de mulheres se torna uma fonte de confusão quando é vista como uma
necessidade cultural e quando é usada como o único instrumento para análise de um
sistema particular de parentesco” (RUBIN, 25).
Outra obra de Lévi-Strauss retomada por Rubin é ‘A Família’, nesta Levi
Strauss ao estudar a divisão sexual do trabalho, vai identifica que apesar de toda
sociedade ter algum tipo de divisão de tarefas de acordo com o sexo, a atribuição de
determinada tarefa a um ou a outro sexo varia, o autor vai concluir que a finalidade
dessa divisão é garantir a união de homens e mulheres, ou seja, instituir uma situação
de dependência entre os sexos. Rubin ao analizar essa obra e toda a teoria do parentesco
vai identificar que num nível mais geral, a organização social do sexo proposta por Lévi
–Strauss baseia-se sobretudo no gênero, na obrigatoriedade do heterossexualismo e na
repressão da sexualidade da mulher.
Para Rubin fica evidente como ambas as teorias caminham para o sexismo,
todavia concorda como a partir dessas foi possível fazer uma separação entre sexo e
gênero de modo a desvincular a opressão social baseada na divisão de classes como
postulava o marxismo. O sistema de sexo/gênero, segundo ela, não é imutavelmente
opressor, tendo já perdido muito sua função tradicional. Mas para que esse sistema não
perdure mais, Rubin sugere uma forte oposição política. Não aquela que prega um
matriarcado de amazonas, no intuito de eliminar os homens ou escravisa-los, pois essa
ideia ainda mantém o gênero e a divisão dos sexos, a mulher sofre opressão não por ser
mulher, mas por ter que ser mulher. O feminismo deve não somente lutar para eliminar a
opressão da mulher, mas deve sonhar em eliminar as sexualidades obrigatórias e os
papéis sexuais: “O sonho que acho mais fascinante é o de uma sociedade andrógina e
sem gênero (embora não sem sexo), na qual a anatomia sexual de uma pessoa seja
irrelevante para o que ela é, para o que ela faz e para a definição de com quem ela faz
amor.” (RUBIN, 55)
Butler ainda vai problematizar em sua obra a discussão posta pela filósofa
belga Luci Irigaray, que afirmava, que as mulheres “são o sexo que não é uno, e numa
linguagem difusamente masculina, uma linguagem falocentrica, as mulheres constituem
o irrepresentável” (BUTLER, 28), ou seja, diferentemente de Boavoir, para quem as
mulheres são o negativo dos homens, para Irigaray, o feminino jamais poderia ser
teorizado em termos de uma relação determinada entre o masculino e o feminino em
qualquer discurso dado, haja vista que os discursos constituem modalidades da
linguagem falocêntrica:
Para concluir, Butler propõe um conceito de gênero não mais como uma
identidade, mas interpretado de forma performática. Onde os sujeitos teriam autonomia
para produzir seus próprios significados diante de seus corpos, de sua sexualidade, e de
suas vidas. Podemos observar então, que o propósito de Butler não é somente
desnaturalizar e desconstruir a lógica binária, mas sobretudo romper as estruturas
padronizada de sexo, gênero e desejo em que a sociedade está projetada.