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 Empiricus Crypto Alert

26/06/2018

Homo (in)economicus

Índice:

As últimas 168 horas

Notinhas rápidas

Operações Abertas

Operações Encerradas

As últimas 168 horas


Caso você não saiba, o resultado do concurso 2.052 da Mega-Sena, realizado no sábado (23), foi
inusitado e gerou todo tipo de suspeitas nas redes sociais – a sequência de números foi recebida com
incredulidade.
Fonte: Caixa Econômica Federal

Eu, particularmente, não sou muito fã de teorias da conspiração – acho que o avião do Teori caiu
porque, às vezes, aviões caem e tenho plena convicção de que o homem pisou na Lua em 1969. Até que
me provem o contrário, os sorteios da Mega-Sena são aleatórios e o único esquema que existe é de
compra de bilhetes premiados para lavagem de dinheiro – alguns políticos brasileiros ficaram famosos
com a prática.

Dito isso, a chance da sequência acima sair é estritamente a mesma das dezenas “04 08 15 16 23 42”
saírem no próximo sorteio. Se eu ainda souber fazer contas de fatorial, estamos falando em uma chance
em pouco mais de 50 milhões, que é também a mesma chance da aposta d’O Homem que Copiava (“01
02 03 04 05 06”) sair vencedora. Desculpe, mas não há argumentos capazes de derrubar a matemática.

Desde que o sorteio seja justo, cada dezena tem 1/60 chance de sair e o resultado anterior não interfere
no próximo sorteio, tirando o fato de que números já sorteados saem do “pote”. Assim, quando o
número 01 é sorteado, a chance de você tirar 02 ou tirar 34 é absolutamente a mesma (1/59).

A gente enxerga “esquemão” quando vê o resultado do último sábado porque nosso cérebro não foi
desenhado nem treinado para pensar racionalmente. Em tudo que fazemos, carregamos uma série de
vieses cognitivos que atrapalham nosso julgamento e nos impedem de tomar decisões ótimas o tempo
todo.

Um exemplo clássico:

Qual dos dois cenários você prefere?

i. 50% de chance de ganhar R$ 10 mil e 50% de chance de não ganhar nada;

ii. Ganhar R$ 4 mil com certeza.

A grande maioria prefere a segunda opção, apesar de a primeira ter um valor esperado de R$ 5 mil
contra os R$ 4 mil da segunda. Se você jogar esse jogo diversas vezes, se sairá melhor se escolher a
primeira opção sempre e, por mais que as probabilidades não sejam tão claras no “mundo real”, sua
vida é uma sequência de decisões. Quanto mais você domar seus vieses e conseguir fazer as escolhas
ótimas, maiores as chances de chegar em um ponto melhor no fim do caminho.
No brilhante “Rápido e Devagar – Duas Formas de Pensar”, do prêmio Nobel Daniel Kahneman, o autor
expõe uma série de desvios comportamentais que deixam claro que, bem, o ser humano não é um
grande exemplo de racionalidade. Curiosamente, toda a teoria econômica clássica é baseada na
premissa de que os agentes econômicos (as pessoas) são todos racionais e capazes de maximizar o
resultado de suas decisões – é o famoso Homo economicus.

Como, na prática, as pessoas são bem mais irracionais e aleatórias, a economia clássica é incapaz de
explicar a realidade e, portanto, não é uma boa ferramenta para análise e tomada de decisões. Surge,
então, a teoria das finanças comportamentais (behavioral finance), dedicada à análise desses “desvios”
e que busca amenizar seus efeitos.

Dentre os muitos vieses que costumam afetar os mercados, um dos principais é a ideia de que a
situação atual, boa ou ruim, vai se perpetuar no futuro. Esse viés é particularmente danoso porque as
economias são cíclicas – o crescimento não dura para sempre e a recessão uma hora acaba – e, ao
perpetuar o momento atual, superestimamos (durante o boom) ou subestimamos (durante a crise) o
valor dos ativos.

É justamente o que me parece estar acontecendo com o mercado brasileiro. Um sentimento de


desesperança tomou conta do país desde a grave dos caminhoneiros e, convenhamos, o ambiente
externo não tem ajudado a melhorar nosso humor.

Aos mesmo tempo em que os EUA e a Europa dão sinais de normalização da política monetária, o que
deve reduzir significativamente o fluxo de capitais para países emergentes, as pesquisas eleitorais não
trazem boas notícias.

Um dos termos cunhados por Kahneman é o wysiati, “what you see is all there is” (o que você enxerga é
tudo que existe), que nada mais quer dizer que somos incapazes de reconhecer que há algo além do
nosso universo de compreensão. Simplesmente não consideramos a existência de uma saída para crises
e problemas se estiver fora do alcance de nossa visão.

O termo é particularmente importante para o momento atual porque, com Ciro e Bolsonaro à frente das
pesquisas eleitorais, fica difícil enxergar um terceiro candidato surgindo e mudando essa história.
Talvez ele não exista mesmo. Mas, talvez, em outubro, tenhamos um cenário bem melhor para a
economia e para o país.

Vale destacar que, enquanto escrevo por aqui, Fernando Henrique está agendando uma reunião para a
próxima quinta-feira (28) com políticos e movimentos, dentre eles o “Agora!”, do qual faz parte Luciano
Huck, para costurar uma aliança para o centro. E se daí surgir uma nova candidatura viável?

Há, também, a possibilidade até de que um dos dois atuais líderes seja bem melhor do que estamos
esperando. Em junho de 2002, creio que ninguém seria capaz de prever que Lula faria um governo
absolutamente pró-mercado em seu primeiro mandato – manteve a agenda tucana à risca.
Analogamente, quase ninguém precificou corretamente o desastre que estava sendo o governo Dilma
entre 2012 e 2013.

Meu ponto é simples: é cedo para saber!


Por outro lado, por mais que o governo Temer tenha sido recheado de problemas e desconfiança, há,
sim, um legado positivo. No apagar das luzes do governo Dilma, as expectativas para 2016 eram de PIB
negativo em 3%, inflação em torno de 7%, Selic de 15,25% (!!!), dólar de R$ 3,99 para o fechamento do
ano e um CDS (risco-país) de quase 500 pontos.

Hoje, o que se espera para o ano é crescimento de 1,5% de PIB, a Selic está 6,5% e, mesmo que suba no
médio prazo, deve ficar abaixo dos 10% até o fim do ano. O câmbio parece ter estabilizado em torno dos
R$ 3,70 e o CDS gira em torno dos 270 pontos.

Além disso, o país caminha com um pouco mais de austeridade fiscal (teto de gastos), privatização
deixou de ser um palavrão e, dada a situação caótica do balanço fiscal, as reformas, sobretudo a da
Previdência, já fazem parte do debate eleitoral – não há candidato, à esquerda ou à direita, que negue a
necessidade de ajustes.

Mais do que isso, por mais que escutemos bravatas populistas de vários candidatos, como revogar teto
de gastos e pagar a dívida sem mostrar a origem dos recursos, o poder do presidente é relativamente
limitado – é preciso saber dialogar com o Legislativo ou, como Dilma bem sabe, as propostas não saem e
o presidente, sim.

Em resumo, a situação, hoje, é complicada, sim, mas estamos longe do cenário caótico de 2016. Vale
destacar, também, que as empresas arrumaram a casa nos últimos anos – as operações estão
devidamente dimensionadas e adequadas à nova realidade, sem contar a menor alavancagem (menor
dívida). De forma consolidada, o Ibovespa tinha dívida líquida sobre Ebitda de 4,5x há dois anos e, hoje,
são 2,5x, muito mais saudável.

Sem falar nos preços das commodities, que, querendo ou não, são um dos principais impulsionadores
da economia brasileira – o petróleo saiu de US$ 35 para US$ 75 o barril, a tonelada do minério de ferro
era US$ 35 e hoje negocia acima dos US$ 65 e a celulose saiu dos US$ 750 para mais de US$ 1 mil a
tonelada.

A situação não é a maravilha que pintava em janeiro com a condenação de Lula, mas também ainda
estamos longe do desastre da Nova Matriz. Nosso entendimento é de que muitos dos preços em tela não
se justificam e há uma boa recompensa esperando os mais pacientes e racionais, desde que se espere o
clima clarear.

Ao menos por enquanto, o fantasma de Lula perdeu um pouco da capacidade de aterrorizar os


mercados – Fachin arquivou o novo pedido de liberdade do ex-presidente após o TRF-4 negar recurso
extraordinário e, ao que tudo indica, vai mandar um novo (!!!) pedido para ser analisado em plenário,
onde o ex-presidente deve encontrar menor simpatia do que na segunda turma do STF.

Olhando para os dados macroeconômicos, em maio, a criação de empregos decepcionou – foram 33,7
mil vagas contra as 65 mil esperadas, provável reflexo da paralisação dos caminhoneiros, que durou
boa parte da segunda quinzena do mês. Nos últimos 12 meses, foram 196 mil novas vagas, o que ainda é
pouco frente aos quase 13 milhões de desempregados, mas é mais um sinal de que estamos caminhando
para uma recuperação lenta e gradual.
Por fim, o Banco Central manteve a Selic inalterada em 6,5% e foi fiel aos pronunciamentos recentes de
Ilan, que sinalizou estabilidade da taxa. Em comunicado, o Copom mostrou preocupação com os
desdobramentos da paralisação de maio, tanto sobre a inflação quanto sobre o nível da atividade, que,
acredita, devem ser afetados nos próximos meses. Deixou, assim, o movimento para a próxima reunião
ainda em aberto.

Seguimos apreensivos e preocupados, mas confiantes de que, cedo ou tarde, o mercado deve voltar a
precificar os ativos brasileiros de uma forma mais razoável.

Notinhas rápidas
Olhando para os papéis de nossa carteira sugerida, apesar de não termos visto grandes novidades,
alguns nomes variaram bastante e o Ibovespa apresentou uma boa recuperação, de 1,9% na semana.

Dentre os destaques, as altas de 7,6% de Rumo ( RAIL3), de 5,6% de Multiplan ( MULT3) e de 5,4% de
Hypera Farma (HYPE3) e de 3,8% de Itaú ( ITUB3), que estreou com o pé direito em nossa carteira. Não
vimos nenhuma notícia que justificasse altas assim expressivas na semana, o que vimos foi um
movimento de repique no Ibovespa, que subiu 2,3% no dia 19 (terça-feira passada).

De negativo, o destaque mais uma vez ficou com CCR ( CCRO3), que recuou 6,0% no período. Aqui
também não vimos nenhum fato que justifique o movimento. Ao que tudo indica, o mercado tem ficado
mais apreensivo com possíveis desdobramentos da prisão do ex-diretor da Dersa, Pedro Silva.

Ao que tudo indica, há uma série de movimentações suspeitas na conta do ex-diretor, que foi preso
durante as apurações da operação Pedra no Caminho, que investiga desvios nas obras do Rodoanel –
seriam adendos contratuais irregulares que montam prejuízos de mais de R$ 600 milhões à estatal,
favorecendo as construtoras OAS e Mendes Júnior.

Até o momento, a CCR não foi citada diretamente e o trecho do Rodoanel sob suspeita não está sob
administração da concessionária. Mas um dos maiores riscos de se investir em empresas do setor é
justamente o envolvimento em escândalos do tipo – não é possível descartar novas notícias que
envolvam a companhia.

O evento teve impactos sobre a Cesp (CESP6). O presidente da estatal, Laurence Casagrande Lourenço,
teve sua prisão temporária decretada no dia 21 (quinta-feira) e renunciou ao cargo. A prisão nada tem
a ver com seu trabalho à frente da Cesp, mas está relacionada à sua atuação como secretário de
Transportes do governo Alckmin e como presidente da Dersa à época em que foram executados os
contratos de obras no Trecho Norte do Rodoanel.

As ações da Cesp caíram nos dias 19 (-5,16%) e 21 (-1,59%), mas encerraram a semana com alta de 2,6%,
com indícios de que o processo de privatização está andando, mesmo com os contratempos recentes. De
fato, o processo nos parece mais relevante no médio prazo.

Os demais papéis apresentaram flutuações em linha com o mercado.


Operações Abertas

Para renda fixa, o preço de entrada é o preço de compra no Tesouro Direto, no dia da sugestão, e o
preço atual é o preço de venda de hoje.

Para ações, o preço de entrada e sa ída é o preço de abertura do dia da sugestão de compra ou de venda,
e o preço atual é o de fechamento do dia anterior.

Comprar: comprar até o preço-teto e até o limite de peso no portfólio.

Manter: segurar a posição. Quem tem, fica. Quem não tem, espera.

Vender : desmontar a posição. Não sugerimos posições vendidas (short).

Estratégicas: são as alocações em renda fixa e ações com percepção de menor risco, que comporão a
parcela mais estável da carteira e terão prazo de carregamento mais longo.

Táticas: são alocações voltadas ao aproveitamento de oportunidades de curto prazo, tolerando-se maior
risco.

As alocações em seguro são opções. Antes de comprar, leia o tutorial na Área do Assinante, em
Conteúdos Especiais: Guia de Opções.

Operações Encerradas
Editor
Responsável

Alexandre Mastrocinque
Editor

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