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P: Tu tem alguma dúvida em relação, porque é importante que a pessoa que seja

entrevistada...

E: Aham.

P: Assim a gente tá entrevistando vários núcleos...

E: Certo...

P: Familiares né.

E: Aham...

P: Por isso que a gente às vezes prefere ir para casa, mas como você colocou essa sugestão de
vir pra cá.

E: É por causa do horário de dia é bem complicado.

P: É, pois é.

E: O que daria pra fazer em outro local, sem ser a delegacia mas teria que ser a noite.

P: Mas não tem problema, mas aí a gente faz agora, qualquer coisa pra complementar a gente
sempre volta entendeu?

E: A hunrum, então tá ótimo.

P: Então vamos lá, vou tentar ser bem objetiva né porque o... a questão mesma é mais precisa
prática possível.

E: Certo.

P: Vamos começando... Começar a falar da sua família, original né, seus pais. Vocês são daqui
de Manaus?

E: Sou eu nasci em Manaus... Eu nasci em Manaus...

P: Uma caneta... Obrigada.

E: Em 12 de dezembro de 1976.

P: Aham.

E: Aí no outro ano minha família foi pro Rio de Janeiro. Pra...

P: Tinha quantos anos?

E: Tinha 1 ano, fui para o Rio com 1 ano de idade e ficamos no Rio de Janeiro acho que até
1982 e... depois de 1982 a gente foi pra Mato Grosso e depois de Mato Grosso que a gente
voltou pra Manaus, em 1987.
P: E qual era a profissão de seus pais?

E: Meu pai era engenheiro civil, por isso que a gente viaja, tanto, isso. Só que na época que a
gente foi pro, quando eu era criança que nos fomos...

P: E a sua mãe?

E: Não, minha mãe é costureira, é costureira... É não né, porque ela não tá fazendo mais, mas a
minha mãe é costureira, certo. E na época eles foram pro Rio de Janeiro, trabalharam lá no Rio
de Janeiro depois foram pra Mato Grosso, em razão de obras que meu pai fazia e depois nos
viemos pra Manaus.

P: Ah... Seu pai trabalhava assim? Sempre sendo... Sempre redirecionado pra outras cidades?

E: Pra outras cidades... É isso, sempre redirecionado pra outra cidade.

P: E sua mãe acompanhava?

E: Acompanhava isso.

P: Naquele tempo, quem cuidava de vocês? Assim...

E: A minha mãe...

P: Ah sim...

E: A minha mãe, minha mãe ela...

P: Ah... Mas como ela, como que ela conciliava a questão do trabalho de costureira né ?

E: Isso, eu lembro que ela tinha dentro de casa, eu lembro que ela tinha uma sala, que era uma
sala de costura e ali ela fazia as coisas que ela tinha que fazer e parava pra poder dar nossa
alimentação, é fazer comida, cuidar, dar banho.

P: Então ela conciliava mesmo...

E: Isso ela conciliava.

P: O trabalho, na família.

E:Trabalho interno dentro de casa, com a família.

P: E morava mais algum...

E: Até porque nós éramos quatro crianças.

P: Ah sim...

E: Era uma escadinha né, de quatro crianças, eu o mais velho e depois as minhas três...
Meninas mais novas.

P: Ah.. Você tem três irmãs...


E: Eram quatros crianças que tinham que ficar. Isso.

P: E me diz uma coisa, morava mais alguém com vocês? Além da... Da... Da... Dos filhos
biológicos.

E: Hum... Não... Nessa época não morava mais ninguém.

P: Nem lá e nem aqui em Manaus quando vocês retornaram?

E: Nem aqui em... Não, não... Quando a gente retornou sim. Quando a gente retornou, morou
uma irmã minha mais velha do primeiro casamento da minha mãe.

P: Hm.

E: Ela chegou a morar com a gente uma temporada, o irmão também do primeiro casamento
chegou a morar com a gente e só.

P: Mas sempre gente que tinha relação com a família né?

E: Com a família, só... Com a família.

P: Entendi... E me diz uma coisa se fosse pra descrever um dia típico da sua infância, como que
seria?

E: Um dia típico, a gente acordava cedo sempre foi, do dia da semana né, tem que descrever
que existiam duas situações diferentes, existia a situação do final de semana e a situação de
dia de semana.

P: Sim, sim...

E: A gente acordava cedo sempre, porque a gente sempre estudou de manhã né, também
meus pais sempre quiseram que a gente estudasse de manhã.

P: Eles falavam isso?

E: Falavam né, falavam porque a gente tinha que estudar de manhã.

P: (risos) Acostumar com isso...

E: Porque, eu vivo essa filosofia até hoje, que criança tem que estudar de manhã, tanto que
meus filhos estudam de manhã, porque quando... eu entendo que quando o filho estuda a
tarde, termina que ele passa dormir... Quer dormir até meio dia.

P: Perde o ritmo né.

E: Depois perde o ritmo, vai estudar a tarde e, ou seja, ele não rende nada, não se torna um
ser produtivo.

P: Sim aí acordava de manhã cedo...

E: Sim aí acordava de manhã cedo, tomávamos banho, nós tomávamos café, todo dia de
manhã a gente tomava café todo mundo junto né.
P: Hurum.

E: Depois meus pais levavam a gente na.. pra...

P: No dia de semana vocês se reuniam na mesa pra tomar café?

E: Hã? Na mesa pro café em dia de semana mesmo.

P: Dava tempo?

E: A gente acordava muito cedo, meio na correria mas a gente acordava né.

P: Isso.

E: Então tomava café bem cedo todo mundo e meus pais deixavam a gente na escola, né.

P: De carro?

E: Quando não tinha carro né, a gente não... na verdade a gente pegava o ônibus, quando não
tinha carro, quando tinha carro eles que deixavam a gente na escola. Que teve uma temporada
que a gente ficou sem carro né, então a gente fazia tudo isso né, e a volta a gente sempre
voltava de ônibus.

P: E ai quando chegava em casa, como é que ficava?

E: Aí Quando chegava em casa a primeira coisa que tinha que fazer era tomar banho e tudo, ir
almoçar. Minha mãe preparava o almoço, então nos almoçávamos e depois tínhamos que
fazer as tarefas e ajudávamos nas tarefas de casa também.

P: A sua mãe que fazia todos os deveres de casa?

E: As tar... de casa era minha mãe, meu pai passou muito tempo fora...

P: Não tinha empregada? Essas coisas assim?

E: Não, não tinha empregada. Na época meu pai passava muito tempo fora por causa de obra
e tudo, então saia de manhã e só volta... só retornava a noite. Então a gente tinha essa
rotina... Dia de semana.

P: E como era a conciliação do estudo no dia, no decorrer do dia, por exemplo, você estudava
de manhã tudo bem, aí chegava almoçava e tinha tempo pra estudar?

E: Tinha que fazer a tarefa... A gente chegava em casa e a primeira.

P: Como é que ela fazia isso com vocês?

E: Deixava a gente... A gente tinha, na verdade, meu pai mandou fazer...

P: Hum.

E: Umas cadeiras, que era uma cadeira acoplada a uma mesinha.

P: Hum.
E: Então ficávamos nós quatro, a gente sentava ali e tinha que estudar ali, a gente sabia o
horário que a gente tinha que estudar.

P: Sabia...

E: Sabia!

P: Mas ela mandava vocês ou vocês que iam?

E: A tinha dia que a gente ia, tinha dia que a gente ia ela que mandava, vai lá fazer a tarefa.

P: Mas... Como era era a forma de punição?

E: Hã? A punição era castigo, cê ficava de castigo não pode sair de casa, vai ficar no quarto...
Né, não vai mais ver televisão. Então tinha as punições!

P: E as palmadas existiam?

E: As palmadas existiam, naquela época existiam, sempre existiu. Não existia o


espancamento... É o grande problema que a sociedade confunde é por... A sociedade
confunde palmada com espancamento. Espancamento que a gente não pode tolerar... Né. Isso
aí tem que ser algo intoléravel, por exemplo, a gente vê uns casos, por exemplo, uma criança
de 9 meses que tava toda marcada

P: Hurum...

E: né, Que os pais foram pra... numa criança de 9 meses você não toca, numa criança de 9
meses, numa criança de 2 anos você não toca né...

OP: Tem café quente... O Senhor aceita?

E: Aceito... Se a menina... Pede pra menina trazer pra gente então... A menina lá dá... da copa,
se ela puder trazer. Então o espancamento é intolerável pra qualquer idade

P: Sim...

E: Não é só pra criança não, agora o pai chegar pra uma criança. por exemplo, de 2 anos, 3
anos de idade aí ele pega e joga um negócio no chão, o pai dá uma palmada de leve na mão da
criança isso realmente não vai dizer que vai tipo quebrar ou destruir a autoestima da criança,
que vai destruir, isso não existe.

P: Você não... Não acha que tem correlação entre...

E: Não... Não tem, até porque a criança todo mundo tem que... é aquilo que eu sempre falo, as
pessoas criam muita expectativa de achar que a criança não pode sofrer frustação essas coisas
tudinho... Você não tá preparando uma criança pro mundo e é por isso que nos temos uma
sociedade jovem toda... que é quase toda delinquente hoje, porque se esqueceu de...

P: Você tem essa impressão que a sociedade... Que a juventude, que a juventude hoje em dia é
mais delinquente do que a...
E: Tenho impressão não, eu tenho certeza porque eu trabalho com números.

P: Trabalha com números.

E: Entendeu, então eu não passo nem impressão, é certeza. Então hoje é uma sociedade
delinquente, é uma sociedade que não tem limites. Eu sempre digo que hoje as pessoas estão
ficando velhas, a geração atual tá ficando velha sem é... ter se passado... se tornado adoles...
Ter se... Ter se tornado adulto. Porque hoje você ver pessoas de 30, na faixa de 30 à 40 anos
que são adolescentes, agem como adolescente, tem impulso de adolescentes e não tem
responsabilidade de adolescente. E ai quando chega com 40 anos tá velho, é aquilo que eu to
falando... É uma geração que tá saindo da adolescência ficando velha, por falta de
responsabilidade e ter limites às pessoas acham que podem...

OP: Com licença instantinho.

E: Não tem leite ai não?

OP: Tem nada....

E: Fala com o Fabrício. Po, pela amor de Deus.

OP: (Risos)

E: Compra um... tá... é. Aí...

OP: É ninho que o senhor quer?

E: É, traz o leite ninho, porque os outros leites tem muita gordura.

OP: Tá.

E: Então... é uma sociedade, que na verdade é uma sociedade que acha que pode fazer o que
quer, tem liberdade pra fazer o que quer, que não se tem limites né. Então... essa é a....
sociedade que a gente vive. E a pessoas de 30 e 40, eu tenho 38 anos né. Então eu vivo nessa
faixa etária, tipo as pessoas não tem limites, as pessoas não tem responsabilidades, elas acham
que podem chegar aqui e virar pra você e falar o que quer, aí eles acham que isso é atitude,
que isso é falar na cara, isso não é falar na cara, isso é ofender. Eu acho que você tem que
conversar, as pessoas não foram, não criaram maturidade, elas só criaram a idéia do ataque,
eles acham que isso é certo. Atacar você, atacar a outra, atacar as autoridades, então é essa a
realidade que a gente vive hoje! E essa geração cria crianças hoje, cria crianças, imagina como
vai ser a futura geração daqui a 30 anos, como não vai ser daqui a 25 anos 30 anos... Então,
então a gente tinha limites dentro de casa, a gente tinha o horário pra ver televisão, a gente
tinha o horário pra poder fazer nossa tarefa

P: E o senhor lembra disso?

E: Lembro... E nós tínhamos o horário pra brincar. Nós éramos, aquilo que eu sempre penso
nos éramos o cão chupando manga, nos quando começava a brincar era pra brincar mesmo!
Então diz ah, a criança só vive brincando, não a criança tem limites certo? então nos temos o
nosso limite e a gente ajudava até nas tarefas de casa. E aí depois...
P: Ajudavam também?

E: Ajudava também...

P: O que que vocês faziam?

E: A gente passava pano no chão, a gente varia, tirava os pratos de cima da mesa.

P: Hum...

E: Né, e ai o que que acontece, depois a gente pegava e ia brincar, meu pai falava assim "é a
hora de brincar", vamos brincar e a gente ia brincava. Mas só a gente não...

P: Brincava na rua?

E: Dentro de casa, a gente brincava no quintal ou na rua na frente de casa, a gente morava em
bairro né então eram essas brincadeiras. Todos...

P: Pois é né, é mais comum né...

E: Era comum essas brincadeiras. Então a gente brincava subia nas árvores, brincava de carro,
brincava disso, brincava de bola, brincava de tudo né?

P: Hurum...

E: E sabendo que, quando dava, por exemplo, 7 horas da noite, o meu pai ou a minha mãe só
ia na porta de casa e olhava e já sabia que tinha acabado a brincadeira. Pronto! Entrava todo
mundo dentro de casa, ia tomar seu banho e ia pro quarto.

P: Escola pública? Sempre estudou em escola pública?

E: Escola pública, sempre estudamos em escola pública.

P: E me diz uma coisa, é, se lembrar... se lembrando assim da sua.. Da... Da.. Da... do contexto
familiar, lembrava que era uma contexto familiar é economicamente... deviam... É... É... É uma
economia assim folgada...?

E: Não... não..

P: Ou tinha apertos? Como é que era?

E: Tinha apertos, a gente não viveu como rico quando era criança, quando meu pai e minha
mãe viveu...

P: Anram.

E: Nossas roupas eram roupas modestas que nos tínhamos, não tinha muitos brinquedos
dentro de casa.

P: Mas tinha?
E: Tinha mais era pouca coisa, né. Tinha alimentação todos os dia, mas nós não éramos ricos
né.

P: Se fosse caracterizar como uma classe social, vocês daquele tempo, da família de vocês seria
o quê?

E: Não, não éramos nem da classe média.

P: Não eram?

E: Não, não eram nem da classe média. Né mas assim, a gente sempre teve a casa, a tv...

P: Mas isso foi mudando conforme o tempo, as dificuldades, conforme...

E: Foi mudando conforme o tempo é, conforme foi ficando adolescente...

P: Conforme foi ficando adolescente?

E: Foi ficando adolescente né, foi aumentando a casa né. Nós sempre trabalhamos muito, eu
lembro que eu sempre trabalhei muito.

P: Anram.

E: Então economicamente começou a entrar dinheiro dentro de casa. Então isso...

P: A quando vocês começaram a trabalhar?

E: É, não.

P: Ou não?

E: Nos sempre trabalhávamos. Não, com meus pais... Porque meu pai quando nos fomos pro
Rio de Janeiro...

P: Sim...

E: Meu pai foi primeiro como estudante.

P: Hurum

E: Aí se formou aí vai entrando, lógico no...

P: Ele é formado aonde?

E: No Rio de Janeiro.

P: Na federal de lá?

E: Não sei, e começar a entrar engenheiro e nós também começamos a trabalhar, estudamos e
tudo. Então vai, e sempre a gente trabalhou como negócios né ou comercio ou...

P: Ah entendi... Então além de trabalho dele, ainda tinha um comércio?


E: Além.... Do trabalho dele ainda tinha, que isso ajuda na renda da família.

P: De família?

E: Era um comércio pequeno, depois foi começando a lucrar renda, então...

P: E esse comércio ainda permanece?

E: Não, não.. A gente não trabalha mais, eu trabalho ainda na atividade privada. Servi... Serviço
Público, tenho curso preparatório.

P: Hunrum.

E: A minha irmã tem um consultório particular de Odonto. Então, essa ideia da iniciativa
privada trabalho de comércio, motivou a gente ter negócios.

P: Entendi.

E: Né.

P: Entendi, negócio próprio.

E: Negócio próprio.

P: E qual a profissão dos seus outros irmãos?

E: Uma irmã minha é odontóloga, certo.

P: Hunrum...

E: E tem o consultório dela, a outra se formou em marketing né, em marketing e administração


trabalha em administração, a outra se formou em enfermagem aí ela é concursada da polícia
civil e também trabalha como enfermeira no município de Parintins.

P: Assim... verificando a dinâmica da sua família, você acha que mudou muita coisa a ligação
dos pais, cê falou um pouquinho né, é... é... da maneira de criar os filhos. Acho que já até falou
um pouco já né.

E: Anram. Da atual geração?

P: É, da atual geração.

E: Sim, sim mudou muito. Hoje as pessoas criam os filhos com muita liberdade, sem nenhum
limites, acham que tudo vai ser uma ofensa pro filho... Né. Acham...

P: Percebe isso no?

E: Nos núcleos de amigos que eu tenho é isso...

P: Ah nos núcleos de amigos ou na... no trabalho?

E: Hã?
P: Ou não?

E: No trabalho e no núcleo de amigos.

P: Ce sabe distinguir uma distinção entre as classes? Por exemplo pessoas de classe média
são... é... são mais... é... é como é que eu posso dizer cuidadosas em relação a isso ou então
são mais liberais? Ou não tem distinção?

E: Não, não tem distinção, vejo em todas as classes. Em todos as classes... Né.. Em todas as
classes não tem uma distinção. Aí a verdade é que vejo essa criação muito liberal, essa criação
criou a ideia da criança feliz, eu tenho que fazer tudo pra criança ser feliz, aí quando se tem
dinheiro isso é complicado, porque quando você não tem dinheiro até que você não complica
tanto a vida, mas quando se tem dinheiro é complicado. Se eu tenho a ideia de que tudo a
criança tem quer ser feliz, a ideia do comprar felicidade, eu começo a comprar... Aí começo a
dar presente, a dar brinquedo, a dar viagem e começo a não impor limites e aí a criança acha
que pode fazer o que quer... Por isso que eu vejo hoje...

P: Entendi.

E: Tem o pobre, a pobre pega uma arma e vai cometer crimes, vai assaltar.

P: O pobre, o adolescente?

E: O pobre adolescente, por causa dessa criação. O rico ele não pega um revólver, ele pega
uma carro e usa esse carro como arma e começa a sair matando na rua sem limites.

P: Entendi.

E: Ou então tá cheirando cocaína.

P: Isso tudo é a... Questão da?

E: A Questão da criação.

P: A.. Questão da criação.

E: Só muda o brinquedo, mas o dano é o mesmo. O crime continua, pra... continua constando
o crime. Em razão dessa criação muito aberta sem limites que se tem aí de todas...

P: Você é casado, não é?

E: Sou casado.

P: E... E... Em relação ao convívio assim com o companheiro.

E: Anram.

P: Fazendo um comparativo da... Da.. Dos seus pais e da sua companheira, da sua esposa.

E: Hurum.

P: Mudou muita coisa, cê acha?


E: Não, não... Não mudou, porque assim meus pais tinham uma boa convivência e depois eles
se separam, assim né meus pais são separados.

P: Tinha quanto quando eles separaram?

E: Eu tinha 10 anos, quando eles se separam.

(Portas abrindo)

E: "Tem alguma missão pra agora?" (Dialógo com alguém externo) Ah ta. Na verdade meus
pais são separados, separarão com 11 anos de idade.

P: 11 anos.

E: É eu tinha 11 anos de idade, mas sempre... não teve briga, na verdade meus pais nunca
foram de brigar na... na frente da gente, então o problema particular deles, eles resolviam
dentro do quarto deles. Né, então a gente nunca acompanhou...

P: Ah foi, eles não brigavam assim, na frente de vocês?

E: Não na frente da gente não, nunca, nunca brigaram na nossa frente não.

P: É mesmo é?

E: Eles brigavam assim e essa é minha filosofia até hoje... Eu sou casado... (Dialógo com alguém
externo) e isso a gente reproduz hoje dentro de casa, também né. Eu tenho meus filhos, né.
Lógico que todo casal às vezes tem os seus problemas e tudo, então a gente vai, quer discutir
problema, a gente vai pra dentro do nosso quarto discutir nossos problemas.

P: Qual é a sua formação?

E: Eu sou formado em direito, né. Me formei em direito. E... Tenho mestrado...

P: Qual universidade?

E: Pela Ufam.

P: Pela Ufam, mesmo?

E: Pela Ufam, tá. Sou formado em direito pela UFAM, tenho minha pós pela Ufam, minha pós
em penal, em processo penal é pela Ufam e tem o meu, eu sou mestrando também pela USP
de São Paulo. Então a gente discute hoje né dentro de casa, a gente acha que a gente não tem
que tá discutindo na frente de filho, aquelas coisas que a gente vê e ameaça, ameaça na frente
de filho acho realmente isso é muito complicado.

P: Mas você não acha que isso sempre existiu, que agora tá só mais vivido?

E: Sempre existiu, sempre existiu. Mas aquilo que eu sempre digo, é uma filosofia de vida. As
pessoas é que decidem, eu vou discutir na frente do meu filho ou vou ter a cabeça no lugar pra
discutir com a minha mulher sem ele ver.
P: Entendi, me diz uma coisa além dos momentos de brincadeira e de estudo, tinham outra
atividade que vocês faziam?

E: Tinha, na... no final de semana, por exemplo, a gente tinha uma coisa que era bem
interessante meu pai passava muito tempo fora de casa dia de semana para ir pro trabalho né,
então a gente tinha final de semana que a gente se reunia de manhã pra ver televisão.

P: Desde quantos anos?

E: Desde três anos.

P: Todo mundo junto?

E: Todo mundo junto, as pessoas falam naquela época, tinha assim tônica de que a tv separa as
famílias eu digo que hoje né, não é a tv que separa a família, o que separa a família são essas
mídias sociais...

P: Sim, sim, cada um na sua.

E: Cada um tem a sua, né. E aí fica...

OP: Quer mais café Dr.

E: Eu quero um pouquinho mais... tá. Eu digo que são as mídias sociais que separam a família,
isso com muitas famílias, as famílias domingo se reunirem pra ver a programação de domingo
de manhã, Disneylândia, então a gente botava lá o tapetinho no chão e ficava todo mundo
reunido, era um momento de reunião da família. Terminava de fazer aquela reunião e ia
comer um macarrão entendeu, terminava a programa Disneylândia que era meio dia que
acabava e ia comer um macarrão, a família toda. Então tinha essa programação, né. Outras
vezes a gente pegava e ia andar de bicicleta né, também né. Meu pai a gente tinha, meu pai
tinha uma bicicleta... Então ele colocava a gente em cima da bicicleta e tinha mais uma
pequena, então a gente saia pra andar de bicicleta. Então tinha essas atividades também.

P: Mas assim em termos de aula de canto... de música...?

E: Não, não a gente tinha aula de reforço.

P: De reforço escolar...

E: De reforço escolar, até porque não sobrava dinheiro pra fazer aula de canto.

P: A não sobrava?

E: Não, é aquilo que eu falo, acho que a gente não tinha, porque a comida era dinheiro da
casa, mas era tudo controlado pra poder não... né.

P: Era tudo organizado. E qual foi a idade que cê lembra, que você começou a pensar numa
profissão? Numa profissão mesmo?

E: Numa profissão? Eu trabalho desde os 9 anos de idade, então eu lembro que não tinha que
pensar em profissão.
P: Sim, sim...

E: Então quando eu já saí, quando eu terminei o segundo grau com 16 anos 17, eu já sabia que
eu queria seguir a área de direito.

P: Fez vestibular e passou de primeira?

E: Fiz vestibular, passei... Né. E iniciei a carreira.

P: O que ce acha, a que se daria esse... Esse... Esse digamos assim seja sucesso, seria sucesso
mesmo né. Na primeira tentativa passar, você deve ser concursado também...

E: Sou concursado também. A questão da disciplina!

P: E como seria no dia a dia essa disciplina?

E: No dia a dia, a gente tinha traba... o horário pra estudar então isso fez com que, a gente
sempre tivesse disciplina no estudo. A gente...

P: Vocês estudavam mesmo?

E: Estudava mesmo quando sentava era pra estudar mesmo, tinha o horário de um trabalho
dentro de casa que a gente ajudava nas atividades domésticas, isso já era uma luz que lá na
frente você saber que você vai ter que trabalhar certo... E... meu pai fazia uma regra que era
muito interessante dentro de casa a gente trabalhava dentro de casa organizando as coisas e a
gente recebia um valor por isso, entendeu? Então a gente tinha um valor que a gente recebia
pelo trabalho que a gente fazia. Então a gente aprendeu a poupar dinheiro cedo, aprendemos
a juntar...

P: Que seria como uma mesada?

E: Era uma mesada, era pouquinha coisa... Mas na verdade

P: Que seria mais o menos quanto hoje em dia? 10 reais?

E: 10 reais, 5 reais... Era isso. Então.

P: Simbólico.

E: Mas fora o símbolo, era pra mostrar que as pessoas que trabalham elas ganham seu
dinheiro e elas guardam, elas vão ter alguma coisa mais na frente.

P: Hoje você vê e observa isso na.. Na verdade.

E: Hurum, na verdade naquela época não tinha que perceber, tanto que hoje eu percebo. Eu
tenho um filho de quatro anos e meio e eu ensino isso pro meu filho, né. Meu filho de 4 anos e
meio tem o horário dele, hoje a situação econômica é bem diferente, eu tenho hoje duas três
fontes de renda. Não sou um homem rico mas tenho três fontes de renda, né.

P: Você se consideraria de classe?

E: Média-alta.
P: Média-alta...

E: Hurum...

P: Ah te volto a perguntar, sempre me esqueço de perguntar. Qual sua renda?

E: Minha renda bruta ou minha renda líquida?

P: Os dois...

E: Os dois... O bruto deve tá dando... Acho que uns... 40 mil, o líquido deve dá uns 20 poucos
mil.

P: O líquido? Contando todas as atividades que você tem?

E: Sim, é o que sobra. Hurum entendeu. Porque tá na crise o país...

P: Você sentiu a crise?

E: Senti a crise, eu tinha uma renda média de 35 mil líquidos.

P: Hurum.

E: Então hoje, é aquilo que eu falo pra vocês, sempre digo nas palestras que eu vou... Hoje eu
tenho secretária dentro de casa, que eu pago. Eu tenho carro, minha mulher tem carro...

P: Por falar nisso eu queria perguntar como você acha essa lei das domésticas? Como vocês
absorveram isso?

E: Foi tranquilo assim... Essa lei do trabalho doméstico é um trabalho... É um trabalho digno é
um trabalho que você precisa.

P: Cês acharam justo?

E: Eu achei justo.

P: É, porque tem gente que num... Não concorda.

E: É justo... É justo. É um trabalho assim, é aquilo que eu falo, a gente tem empregada
doméstica a gente não tem escrava.

P: Sim... Sim.

E: Então é justo. Até a questão assim, essas pessoas que trabalham como empregada
doméstica chegavam no futuro não teria aposentadoria, se quebrassem uma perna ou
ficassem doente, não tinha uma aposentadoria. Então realmente foi justo, realmente foi.. A
nossa é registrada. Nossa secretária é registrada.

P: E me diz uma coisa... Continuando falar sobre a questão da profissão, qual seria cê já falou
né. A profissão dos sonhos seria mesmo... Advogado? Direito?

E: Foi foi...
P: Alguma coisa relacionado ao direito?

E: É... É... Foi foi...

P: Mas porque o direito? Porque um adolescente de 16 anos geralmente né, ele é tão indeciso
né. Como você teve certeza de direito?

E: É.. Acho que assim a gente foi criado muito com regras...

P: Ahh...

E: Entendeu? Não aquela questão que, as pessoas, aquilo que sempre falo as pessoas que
confundem regras com agressões. Regra é regra, e agressão é outra coisa totalmente
diferente. Então nós tínhamos regras.

P: E viam as regras de uma forma positiva.

E: De uma forma positiva, então nos tínhamos as regras né, dentro de casa então a gente via
isso como uma forma positiva, você sabia que se cumprisse as regras você tinha bônus. É assim
que funciona a sociedade.

P: Cê acha que se a sua mãe não fosse tão presente na sua vida... Na vida de vocês né, teria o
mesmo resultado?

E: Acho que não... Precisa ter, precisa ter alguém.

P: É preciso.

E: É aquilo que eu sempre falo se você for estudar, talvez eu esteja até comentendo algum
equivoco de data e locais. Mas se você for conferir aí na Grécia na Roma, em Roma, você
estuda a história desses países, isso a 2 mil anos atrás né, o que que acontece as pessoas e as
famílias tinham tutores. O que que é um tutor? Ou seja seu filho, quando entrava na
adolescência, você entregava seu filho pro tutor pra ele te... educar seu filho.

P: Na Grécia?

E: Na Grécia em Roma, um desses dois... Mas eu acho que era mais na Grécia, então você
entregava, o filho era disciplinado, o filho sabia obedecer regras...

P: Inclusive a gente ouve várias histórias engraçadas em relação a isso... Os filósofos.

E: Hoje em dia então que a sociedade mudou, quem passou a colocar essas regras? Você já
não tinha mais um tutor mas você tinha um pai e a mãe pra botar esses limite e essas regras.
Hoje não tem!

P: Por conta da dinâmica que mudou né, a mãe tem que trabalhar fora...

E: A dinâmica da sociedade mudou... Mas mesmo, é aquilo que eu sempre falo mesmo que
trabalhe mas aqui o grande problema as pessoas acham que porque trabalham é... Elas
querem compensar o filho de outro jeito, ah eu to muito fora de casa, to com sentimento de
culpa então vou dar presente, seria real eu vou chamar atenção, eu to aqui com ele só duas
horinhas eu não vou chamar atenção dele.

P: Aí quer compensar de outra forma.

E: Aí quer compensar de outra forma, isso que ta sendo um problema na sociedade, é aquilo
que eu sempre falo, mesmo que você não tenha, por exemplo.

P: Cê vê no meio dos seus amigos?

E: Eu vejo no meio dos meus amigos, é aquilo que eu sempre falo eu tenho amigo, por
exemplo, que tem a minha faixa etária eu tenho 38, eu tenho amigo que tem 42/43 e tenho
amigos que tem 45 é uma diferença pequena se a gente parar pra pensar em tempo é uma
diferença pequena mas eles já tem filhos de 21 anos, 21/22 tiveram filhos cedo, eu tive filho
tarde. Tive filho com 35/34 anos tanto que meu filho mais velho tem 4 anos e meio. E...

P: Tem quantos filhos?

E: Hã? Eu tenho 3 filhos. Eu tenho 3 filhos né, eu tenho um de 4 anos e meio, tenho um de 2
anos e meio e tenho um de 45 di... 2 meses. Então o que que acontece esse meu amigo tem
uma renda muito boa e uma vez ele chegou "Jorge pelo amor de Deus, meu filho não quer
trabalhar, não quer fazer nada não sei quê". O filho dele tem 22 anos, olha você quer que eu
fale a verdade ou você quer que eu minta?

P: (Risos)

E: Né, "não, Jorge me fala a verdade" Cara...

P: Ce acompanhou a...

E: Eu acompanhei foi meu amigo de adolescência até a vida adulta, "Meu amigo você sempre
teve dinheiro deu tudo, você alguma vez levou seu filho lá pro teu escritório pra ver como se
ganha dinheiro? Alguma vez você mandou seu filho acordar cedo pra arrumar a cama dele? Se
você não acostumou teu filho a trabalhar quando pequeno, não adianta depois de 21 anos
querer trabalhar. Dê sorte se Deus um dia colocar na cabeça dele que ele tem que trabalhar,
reze pra isso. Porque você não ensinou". Essa é a realidade do mundo, se você não ensina não
vai aprender. O meu filho por exemplo, é aquilo que eu falo hoje é muito fácil, é... Se saísse
todo dia e meu filho pedisse um presente, ia perder dinheiro...

(Diálogo com um funcionário pedindo a saída pois suas filha encontra-se febril).

E: Aí que que acontecesse né, então se meu filho pedir dinheiro todo dia, me pedir um
presente todo dia eu tenho como dar, só que se eu fizer isso eu faço ele ter uma visão do
mundo sem limites. Que ele pode ter tudo, então não faço. Eu viro pro meu filho e falo assim:
"Não filho papai tá sem dinheiro, papai não pode. Papai ainda vai trabalhar pra ganhar
dinheiro, no final do mês a gente vê". Né, aí...

P: E isso mais ou menos, cê acha que é um ponto positivo que cê trouxe da sua criação?
E: É da minha criação, tanto que as vezes eu viro pro meu filho, não filho quando a gente
ganha dinheiro a primeira coisa que a gente tem que comprar e ele fala e repete isso, a gente
tem que comprar comida, roupa e depois os brinquedos.

P: Já ia perguntar como era seus gastos?

E: Pra ele saber... Pra ser... Pra ele saber que tem prioridades... Na vida, eu não posso pegar
meu dinheiro e sair pra diversão.

P: Como que você organiza os seus gastos no mês?

E: Primeiro a gente tem a organização de gastos, né. Primeiro a gente, por exemplo eu tenho
duas atividades, eu tenho uma atividade pública e uma atividade privada. Eu procuro manter
meus gastos fixos...

P: Qual é atividade privada?

E: Eu sou dono de curso preparatório.

P: Hum.. Ah é? é?

E: Sou. Então eu procuro manter minha renda do jeito que se der errado a iniciativa privada eu
teria como cobrir minhas contas.

P: Entendi.

E: Com o dinheiro que eu recebo do dinheiro público, então lá nos meus gastos é assim se
paga secretária, a casa é quitada hoje, aí paga prestação de carro, né paga cartão de crédito.
Então assim que a gente faz aí pagou isso, aí a gente compra supermercado essas coisas todas,
essas coisas de qualquer residência.

P: E...

E: Priorizando isso né. Fiz investimento em terreno, apartamento... Não torrei dinheiro né, né
fiz dinheiro em terrenos, em apartamentos. Por isso eu comprava...

P: Trabalha com poupança essas coisas assim?

E: Trabalhamos, nos guardamos dinheiro em poupança e tudo. Isso é aquilo que eu to falando
é um ensino pro filho, eu por exemplo pego meu filho e falo, o de 2 anos e meio eu não faço
isso ainda, mas o de 2 anos e meio ele vê o de 4 anos e meio levantando da mesa e tirando o
prato, ele já repete ele mesmo pegava o copinho dele só que ele não sabe colocar na pia, ele
joga. Mas ele sabe que existe uma regra ali, né por exemplo domingo foi bem engraçado agora
além dos meus 3 filhos eu tenho um enteado ainda de 8 anos. Aí foi engraçado, a gente tava lá
em casa domingo, ai tava com eles os dois de 4 anos e meio e 8 anos, levantaram e deixaram
as coisas em cima da mesa, tomaram café foram brincar aquela coisa. Eu deixei eles
começarem a brincadeira isso e aquilo, quando eles começarem eu falei assim "olha, agora
vocês vão parar a brincadeira de vocês pra saber que antes de começar a brincar a gente tem
que trabalhar, certo? A gente tem que fazer o nosso dever, vocês tem escravos aqui dentro de
casa? Não, não a gente não tem. Pois é, então vocês já sabem". Foram lá pegaram as coisas e
botaram, eu não grito eu só falo.

P: Além dessa dinâmica que o ce falou que as pessoas hoje em dia querem compensar né, a
sua ausência e aí dá várias coisas pro filho em relação a isso. Tem mais alguma coisa que você
acha que aqui na... na... na... criação contemporânea né dos filhos, contribui para que as
crianças não incorporem essa compreensão do trabalho da disciplina... Tem mais alguma
coisa?

E: Tem, tem a falta de você ensinar a isso. Não adianta você chegar na sua casa todos os dias,
por exemplo eu saio de manhã meu filho não vê o que que eu faço durante o dia.

P: Anram...

E: Aí eu chego lá em casa, aí eu vou abrir a geladeira... Tem tudo. Aí eu abro o quarto tem todo
o conforto do mundo, certo. E isso no final de semana se eu não estiver trabalhando eu durmo
até tarde, aí o que que acontecesse. Aí o filho vendo isso ele não sabe daonde saiu isso o que
aconteceu, eu tenho que ensinar pra ele daonde saiu tudo isso. Ele tem que saber que se
aquela geladeira tá cheia é porque alguém ta trabalhando muito pra poder aquela geladeira tá
cheia.

P: Sempre reforça isso?

E: Sempre reforço isso, todo o dia.

P: Você acha que é isso que falta na...

E: Na criação de hoje.

(Diálogo com pessoa externa)

E: Então o que falta hoje é os pais mostrarem isso, eu tenho uma revista de psicólogia que
você pode procurar até, que fala sobre criação de filhos. Os pais hoje em dia até frustações
deles eles não contam pros filhos, eles tem vergonha. Eles tem vergonha de falar pros filhos
que foram pobres, entendeu? Eles tem vergonha de falar pros filhos que eles tem problemas
no trabalho.

P: Você acha que isso é negativo?

E: Isso é negativo... isso não é certo.

P: Por quê?

E: Porque você tem que mostrar pra criança que a vida não é só de coisa boa, a vida é feita de
coisa ruim e de coisa boa. A vida é feita de ganhar e de perder... Se eu ganho beleza, eu tenho
que saber ser um vencedor, mas se eu perder eu tenho que saber como perder. Eu tenho que
saber perder também e as pessoas né criam um grande problema que eu vejo, hoje as pessoas
criam filhos como se o mundo fosse um céu maravilhoso e aí o filho vai pro mercado de
trabalho e leva o primeiro esporro do chefe, sabe o que ele quer fazer? Pedir as contas. Isso aí
a gente vê hoje, eu vi um exemplo claro, tava vendo o filho da minha secretária. Teve uma
época que tive que fazer um trabalho em boa vista e aí eu fiquei 1 ano e meio em Boa Vista e
levei a minha secretária, que trabalhava comigo minha secretária tem 3 filhos, levei aluguei
uma casa lá pra eles e tudo. Eles foram com a gente pra Boa Vista aí a secretária perguntou
assim Jorge poxa, eu queria uma atividade pro meu filho isso e aquilo tu conhece gente aqui
em Boa Vista, aqui eu não conheço muito mas tem um rapaz ali que eu conheço. Os filhos dela
não tinham estudo nem nada, estavam começando, aí eu falei olha ele tem um lava-jato e ele
tá precisando de um lavador de carro lá e ele paga a metade de cada carro que for lavado todo
o dia, ele paga a metade do valor. Então ou seja hoje vai ter um carro pra lavar é 30 reais 40
reais, então teu filho vai sair ali com em média 100 reais por dia. Agora tu imagina 100 reais
por dia pra quem não tem estudo da 3 mil por mês.

P: Ele não tem estudo?

E: Não, o menino não tinha estudo né. Ela "tá bom então consegue lá pra mim". Arrumei lá o
serviço pra ele, passou uma semana passei lá no lava-jato e o menino não tava ai cara
perguntou "cadê o fulano de tal, né" aí eu falei não sei mas vou falar com a mãe dele. Cheguei
lá com a mãe dele, e perguntei cadê o fulano de tal? Aí ela ah não ele não foi mais porque o
chefe dele gritou com ele isso aquilo e aquilo, ele não gosta de engolir sapo! Por isso que eu te
falo que o problema tá sendo em todas as classes sociais não tá sendo só na classe alta não.
Aí... né... Eu peguei...

(Diálogo externo)

OP: Com licença... Tem uma situação de droga aí...

E: Mas quem trouxe?

OP: Foi o agente Sales.

E: Mas é muita droga ou pouca?

OP: Deixa eu chamar o agente Sales.

OP: Tem dois advogados aí o Márcio e outro.

E: Se retira, que eu vou falar pra eles, é rapidão.

E: Aí... Né o que que acontece, aí eu peguei e virei pra ela Dona Joana a senhora acha que a
gente vive nessa casa aqui desse jeito, ce acha que eu te pago um bom salário né e que eu só
faço assim (estala os dedos) e tudo caí do céu? Eu tive que engolir sapo a minha vida toda né,
então eu acho que até hoje né, até hoje mesmo que eu era subsecretário de segurança tu acha
que até hoje eu não engoli sapo? Tu acha que eu não entendia que o governador chega lá puto
da vida e dá esporro e tudo e a gente tinha que aguentar? Certo? É por isso que eu consegui
ter tudo, porque...

P: Você considera isso....

E: Porque isso faz parte da vida, certo. Agora seu filho pega o primeiro esporro e já quer ir
embora.
P: Você foi subsecretário de segurança?

E: Fui, subsecretário de segurança, fui diretor daqui...

P: Como foi pra chegar nesse nessa nesse, como foi indicação? Como é? Indicação? Indicação
é?

E: É indicação do governador.

P: Do governador... E como é que foi ter um cargo relacionado com seu círculo de... de... de
amigos foi indicação estritamente profissional?

E: Foi assim, na verdade esses cargos são muito indicado pra quem o governado conhece, só
que na época eu não conhecia o governador.

P: Quem era?

E: Era o Eduardo Braga, eu não conhecia o governador Eduardo Braga. Aí nos tinhamos um
trabalho que a gente fazia de conseguir em uma certa região da cidade, diminuir bastante a
criminalidade. Aí aquele trabalho despertou atenção da imprensa, a impressa sempre
acompanhou em tudo. Aí teve uma troca de secretária na... na... Uma troca de secretários e
um secretário de segurança que tinha na época falou olha tem um delegado tal tal, que ta
fazendo um bom trabalho na cidade, né então a gente poderia nome-a-lo. E foi assim...

P: Foi assim... Você tinha proximidade com ele?

E: Com o governador?

P: Não, com essa pessoa?

E: Com essa pessoa tinha, com essa pessoa tinha. Ele sabia, acompanhava os trabalhos.

P: Ele é amigo? Pode se considerar amigo?

E: Ele... depois se tornou, mas época era só profissional. (Ligação telefônica) Alou, um
pouquinho Lu porque? Ah, tá bom então. Isso. Tu viu lá o negócio lá? Hã? É que eu já vou
amanhã né. Anram... Bora vê se a gente consegue se encontrar hoje nem que seja rapidinho.
Tá bom? Tu vai dá aula até que horas? Aí...

P: Eu perguntei isso porque eu queria saber até que ponto o seus círculo de amizade
influenciou também...

E: Não, na verdade na época eram uma... Porque existe um círculo de amizades, de amigos
íntimos, e existe o círculo profissional e eu tinha um círculo profissional com essa pessoal,
quando ele levou meu nome até o governador. Ele era amigo do governador, eu não era.
Então ele acompanha o serviço, e fala olha eu tenho uma pessoa que trabalha assim assim
assim e poderíamos testa-lo e foi assim. Entendeu?

P: Entendi.

E: Mas assim os cargos que eu consegui, foi muito em razão do trabalho.


P: Do trabalho.

E: Do trabalho, foi realmente depois de muitos cargos. Mas foi em razão de toda a experiência
profissional que eu acumulei, as pessoas terminam convidando pra certos cargos. Eu já fui
subsecretário...

P: Então vamo lá, vamo conversar um pouco sobre a questão do círculo de amizade que a
gente entrou nesse outro ponto. Você considera que tem muitos amigos assim? Amigos?

E: Amigos? É... Depende é aquilo que eu sempre falo, depende de... (Diálogo Externo referente
à delegacia) Então assim as minhas amizades elas são... Eu tenho amizades de muito tempo,
muito longa né. Eu tenho amizades desde a época da infância quando você entrou tinha um
rapaz sentado aqui.

P: Hum...

E: Deixa eu só atender uma ligação aqui rápidinho... Eu tenho amizades desde a época da
infância, esse rapaz que tava sentado aqui é um amigo meu desde a época da infância né, e
fomos amigos de infância e tudo, trabalhamos juntos depois eu assumi alguns cargos e
indiquei ele pra certos cargos. Não porque ele era meu amigo mas pela competência, é cara
que sempre trabalhou muito e continua trabalhando comigo até hoje na política.

P: Essa questão da competência, tudo bem né. Mas por exemplo, se não
tivesse...Competência... A competência a gente não coloca em questão, né. A questão é o ciclo
de... De...

E: Bom dia meu companheiro tudo bom? Tudo certinho pra aquele negócio. Hã? Ainda não,
mas me informaram lá que vai sair, tá? Te dou uma ligadinha daqui a pouquinho. Hoje não,
hoje não tá? Mas amanhã vai precisar. Mas eu te dou uma ligadinha mais tarde, te dou uma
ligadinha mais tarde. Tô com teu número aqui, tá bom? Valeu?

P: A questão é a competência e o contato... São coisas que concluem.

E: É você precisa alinhar as duas coisas, né.

P: É.

E: É sim.

P: Ce acha que influencia então? Esses...

E: É influencia sim, por que...

P: A gente chama de capital social, né de ter relações.

E: Aham precisa ter. Hoje o mundo é assim, o que é complicado é algumas pessoas serão
nomeadas só pela amizade.

P: Sim... Sim...

E: Outros vão ser nomeados só pela competência, agora se ele conseguir alinhar...
P: Você percebe que tem muito isso contratação só por amizade?

E: Tem e isso atrapalha muito o serviço, atrapalha demais mesmo. A gente tem essa questão
dessa... Dessa...

P: Que lugares você costuma frequentar com teus amigos mais próximos assim?

E: Deixa eu só eu ver aqui esse sistema aqui, que eles querem que transfira uma ocorrência
urgente.

P: Tá.

E: Vou só abrir aqui rapidinho tá, que tem gente aguardando lá na delegacia.

P: Hurum.

E: Tá pensando nas perguntas?

P: (Risos) Tão todas aqui no roteiro, to tentando ser mais objetiva possível. Eu geralmente
também falo muito né, converso mais do que eu tô conversando mas como né o... o... As
circunstâncias são diferentes hoje né, então to tentando ser mais objetiva possível.

E: (Diálogos Externos)

P: A minha pergunta foi em relação do... Do... Do ciclo de amizades... Se prefere sair.

E: Ah sim, você precisa né. Oh... Minhas amizades né, o meu trabalho né. O meu trabalho fez
com que eu tivesse eh... Tivesse que selecionar minhas amizades né, eu sou delegado de
polícia...

P: A quanto tempo?

E: 14 anos, né. Então já tive cargos no governo, vários cargos no governo como delegado de
polícia. Trabalho combatendo traficante, combatendo crime né, então tive que selecionar
muito minhas amizades pra não correr o risco de me aproximar de pessoas que tivessem
ligação com o crime. Entendeu? Quando eu falo em selecionar, não é selecionar por classe
social não entenda isso, eu tenha amizades muito legais com pessoas que são bem humildes.
Certo?

P: E o que seria essa relação com o crime?

E: Hã?

P: O que seria crime?

E: Às vezes, as pessoas tem uma amizade o cara é traficante, estelionatário. Lembra do


Wallace Souza que faleceu no natal? Teve uma denúncia contra o Wallace Souza, ele disse não
isso aquilo e aquilo eu não vou, eu não tenho amizade com traficante. No outro dia no Acrítica,
primeira capa o Wallace Souza na piscina da casa dele abraçado com um cara que é acusado
de tráfico de drogas. Então tudo isso, então até pra entrar na minha casa sempre selecionei
muito né, as vezes.
P: Assim né... Pra... Pra... Preservar a idoneidade.

E: Isso, muito. Sempre tive muito essa cautela.

P: Pensei que fosse a relação a preservar mesmo a própria vida.

E: Não, não. Era questão da própria imagem, pra evitar um desgaste necessário na imagem.
Nunca foi a questão social, a questão é por motivo de preservar a imagem. Tanto que eu tenho
amizade com pessoas humildes né, tenho amizades com pedreiro. O cara chegar lá, poxa vai
ter aniversário da minha filha de 15 anos doutor, eu sempre fui. Tenho amizades com gente do
alto escalão do governo, mas tem gente do alto escalão do governo que eu não aproximo,
porque eu sei que não presta que é bandido. Entendeu?

P: Ah...

E: Assim como tem gente da classe baixa que eu não me aproximo porque sei que é bandido.
Então sempre tive essa cautela, mas assim tenho amizades muito antigas desde a época da
infância, tenho amizades da época da infância, tenho amizades da época da escola e tenho
amizades do trabalho né. Muito antigas né, meu laços de amizade...

P: Então no trabalho quase não tem, é mais mesmo em outros... de outros ambientes?

E: De outros ambientes... É. De outros ambientes, tá. Então...

P: Me diz uma coisa, com relação aos momentos de lazer com seus amigos ou com sua família
mesmo. Prefere ficar em casa ou sair?

E: As minhas festas foram mais internas, lá de casa. As festas que eu participo geralmente são
festas mais familiares.

P: Entendi, então nunca foi de sair muito?

E: Não... Não...

P: De frequentar barzinho? De...

E: Não, não, não dá.

P: (Risos)

E: (Conversas Externas)

P: Então você prefere mais ficar em casa do que sair?

E: É.. Não, não...

P: Sempre foi assim?

E: Não, não. Não é que eu prefira mais ficar em casa, na verdade eu prefiro as... as...

OP: Senhor.
E: Paulo vê a transferência desse negócio aqui. Vai ter que abrir.

OP: A sua senha.

E: Não já tá aberto com a minha senha.

OP: Já abriu?

E: (Diálogos Externos)

E: Pede pra moça trazer mais café. Aí...

P: Só pra ter ideia, a gente estava falando sobre ficar em casa.

E: A gente tava falando... Eu gosto muito de sair, mas sempre as minhas festas, tem sido mais
festas em casa. Em casa ou festas na casa de amigos.

P: Mas quando você saí, vão pra aonde?

E: Tipo de festa, primeiro festa, jantar eu faço ou vou pra festa na casa de amigos. Certo, assim
festa contendo mais gente eu não...

E: (Diálogos externos)

E: Aí, então são essas festas, que são opção de festas mais familiares, que eu gosto. Mas
quando eu saio assim, com a minha mulher eu vou pra restaurante, com meus meninos pra
restaurante né. A gente leva as crianças pra sorveteria, leva as crianças pro shopping.

P: Ah porque você tem filhos né? Não tem como...

E: Agora assim as festas noturnas a gente tem evitado, a gente sempre evitou bastante.

P: Entendi.

E: Pela questão da segurança mesmo.

P: A sua esposa trabalha né?

E: A minha esposa agora não ta trabalhando, só ta estudando pra concurso.

P: Mas qual é a formação dela?

E: Ela é engenheira de produção.

P: Engenheira de produção. Você sente essa pressão da sua esposa e a... Que ela não trabalha,
mas ela tá estudando e isso demanda tempo dela também.

E: Anram.

P: Eh... Essa questão dela com relação aos sonhos dela e familiar?

E: (Diálogos Externos).
P: Deixo eu te fazer uma pergunta qual que assim é a sua temática é muito próxima do que eu
estudo também, estudo uma área considerada perigosa né que ali no São Sebastião com... no
Petrópolis. Não aparta não? Essa delegacia não aparta não?

E: Não, não...

P: Tem outra delegacia. Pois é, o que cê acha que seria assim, perigoso? O que que seria...

E: (Diálogos Externos).

P: O quê que seria perigoso? Um lugar perigoso?

E: Um lugar perigoso é um local onde você possa ser alvo de uma agressão...

P: Qualquer pessoa ou de um modo geral?

E: Não de gente que a gente nunca viu.

P: Não assim, por exemplo, na sua visão de quem não mora num lugar e de quem... De externo
o que seria, porque um lugar pode ser caracterizado perigoso?

E: Ah ter muita incidência de tráfico de drogas aí o bairro termina ficando bastante perigoso.
Muita incidência de gente que já cometeu homicídios, então termina sendo uma localidade
muito perigosa. Principalmente com incidência de tráfico de drogas.

P: Mas não... Tráfico de drogas né, é isso que é mais considerado. Então vamos logo emendar
na... Na... Na... No debate da questão política, sobre essa questão mesmo do processo de...
Das propostas de legalização da droga ou não, como você enxerga isso?

E: Sou contra a legalização de drogas.

P: Por quê?

E: Porque na verdade querem fazer um comparativo do Brasil com Holanda, nós não somos a
Holanda, nós a Suécia. Imagina não tem como comparar Brasil com Holanda. Holanda é um
país de primeiro mundo, Holanda é onde todo mundo tem uma renda per capita mensal de
mais de 10 mil dólares, certo? É onde pessoas já são criadas e educadas pra aquele sistema ali
de preservação a vida, de direitos, de respeito as regras, de respeito as normas. Aí no Brasil
está se dando a falsa ideia que a vou legalizar droga, vou liberar a maconha, a legalização da
droga é a liberação da droga pra uso pessoal.

P: Da maconha né?

E: Aí tão dando a falsa ideia de que a permissão dessa droga vai ser a salvação do mundo e não
é assim. Holanda liberou a droga? Liberou, a Holanda liberou só pra fazer um comparativo a
Holanda liberou a maconha pra você ter um comprador, o vendedor tem que ser uma empresa
toda legalizada que paga seus impostos e que não tem nenhum problema com justiça. Tá
certo? E isso é o vendedor. E o comprador? Registrado e cadastrado. O comprador registrado,
cadastrado, não pode ter antecedentes criminais. Pra você ver, então já muda completamente
a ideia do... Do Brasil. Caras que não tem antecedentes criminais, esse carinha ele já... Agora
vou ser bem franco com você! Ele vai usar um cigarro de maconha por mês, que é a
quantidade permitida pra ele comprar. Fora isso ele não pode comprar mais nada. Aí aqui o
cara passa o dia fumando maconha, entendeu? Como é que vai legalizar o direito de o cara
passar o dia fumando maconha. Você vai querer que a pessoa sobre efeito de circunstâncias
que causam alucinação, deturpação de sentindo dentro da tua casa trabalhando? Entendeu?

P: Entendi, porque na verdade o Uruguai, foi o Uruguai que é do Mojica?

E: Pois é, a mesma coisa.

P: Pois é e ele não é um país assim de primeiro mundo é um país até menos economicamente
que o Brasil...

E: Hurum.

P: E em pouco tempo quando liberou nesses termos aí que você falou, é... Diminui a questão
da... Da.. Incidência de morte relacionados a droga. Porque na verdade as mortes relacionada
as droga estão relacionadas a que? A questão do tráfico... As pessoas morrem, são presas por
conta da criminalização da droga.

E: Isso dá droga, isso.

P: Ce não acha que o fato descriminalizar?

E: A gente cultura... Culturalmente nos não temos como comparar Brasil com Uruguai.

P: Por quê?

E: Economicamente pode até ser um país que não tem o PIB do Brasil, o Brasil é uma potência
mundial em economia. Mas a cultura do Uruguai é diferente da nossa. No Uruguai todo mundo
estuda, todo mundo tem educação, todo mundo tem saúde, todo mundo tem segurança é um
país que não tem criminalidade. É isso que eu penso.

P: Pois é, mas a questão do crime é o que a gente considera crime né...

E: Anram, pois é. Tanto que eu te falei...

P: Por exemplo, se há tráfico de droga...

E: Tem homicídio no Brasil?... No Uruguai tem? É uma das menores taxas mundiais de
homicídio. No Brasil é uma das maiores taxas mundiais.

P: Mas isso não é questão de política? Eu falo isso porque o meu estudo também passa por
isso também né, e as perguntas que eu to fazendo aqui é só pra provocar mesmo né porque
você trabalha diretamente com essa área.

E: Anram...

P: Não seria o fato, por exemplo, um passo primeiro da política de descriminalização, e aí ter
outra abordagem? Veja bem...
E: Não, não. Eu acho que a gente tem coisas mais importantes pra fazer, primeiro combater o
traficante, dois garantir saúde pra população, três garantir educação pra população, quatro
garantir segurança. O Estado brasileiro até hoje não conseguiu garantir nem educação pras
pessoas.

P: Entendi.

E: Como é que eu vou liberar uma droga dentro de um país que ta essa zona? não é o um
usuário que eu tenho não... Eu tenho vários. E o cara da Holanda e do Uruguai ele foi criado
né, ele foi criado pra ter educação, educado, ele foi criado pra saber que ele vai trabalhar que
ele vai ter a empresa dele. Que tem leis que ele tem que respeitar, que tem regras no país que
ele tem que respeitar, que ele tem que preservar família dele que ele tem a honra e a moral.
Aqui no Brasil as pessoas não são criadas pra isso, certo? Então as pessoas acham...

P: É porque na verdade eu acho assim a partir do momento que criminaliza, nunca chega nesse
âmbito de debater sobre educar em relação a essas coisas.

E: Aí o que que acontece, então as pessoas não são criadas pra isso, então lá na Holanda ou no
Uruguai o cara pra comprar um cigarrinho de maconha vai chegar ali no cantinho num local
permitido pelo estado, certo. São locais permitidos pelo estado, não é... O pessoal tem ideia
que a Holanda você pode chegar lá ah vou comprar um cigarrinho de maconha e vou fumar
num ônibus, isso não existe. É uma ilusão. Vou fumar no centro, não tem. Você tem os locais
certos pra você usar ali o teu cigarro de maconha. Você pagou teu cigarro de maconha você
volta pra sua casa, volta pro teu trabalho, volta pro teu lazer e você é criado pra não destruir o
teu patrimônio em razão da droga. O que eu vejo aqui é uma destruição do patrimônio pela
droga, e fica destruindo o patrimônio não é o traficante, o traficante ta ficando rico! É o
usuário.

P: Pois é, o traficante tá ficando rico porque não paga imposto não paga nada. Mas se
descriminalizar e tentar estabelecer toda essa normalização, essa questão da formalização de
como é que se vai se vender...

E: Anram

P: O cara que vende pagar imposto, e aí isso incidir no próprio preço da própria maconha né, e
aí talvez como ce falou fique uma coisa mais elitizada. Porque a tendência é essa se fica mais
caro né, não fica tão acessível como é hoje em dia. Então não passa primeiro pela questão da
descriminalização?

E: É isso que eu to falando, vai descriminalizar o que? Você até me falou?

P: Vai descriminalizar a questão da venda de droga.

E: Descriminalizar a maconha... Não droga não pode, porque nenhum país discriminalizou a
venda de drogas... Descriminalizou a venda da maconha.

P: Pois é, da maconha... Da maconha.


E: Aí o cara usa maconha e ele não pensa em destruir a família dele, a honra dele por conta da
maconha. Aqui no Brasil não é a maconha o problema, aqui no Brasil ninguém usa maconha tá
certo? Por que? Porque o cara não quer usar maconha, ele que usar o crack que causa uma
alta depêndencia.

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