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Laminagem

Introdução
A laminagem é um processo de deformação plástica na massa, no qual o
material é forçado a passar entre dois rolos (cilindros) que rodam em
sentido oposto, com a mesma velocidade periférica, e estão distanciados
entre si de um valor inferior à espessura do material que vai ser
deformado. A propulsão do material durante a laminagem é efectuada
pelas forças de atrito, embora possam também ser aplicadas forças
exteriores criando tensões quer de propulsão quer de contra-propulsão.

O material ao passar entre os dois rolos sofre deformação plástica, a espessura é reduzida e o
comprimento e a largura são aumentados. A laminagem é utilizada tanto na produção de
produtos planos, por exemplo, chapas finas e grossas, como no fabrico de produtos não
planos, como seja o caso de varões, tubos, barras e perfis estruturais.

Chapa Rolo

Direcção de 1
Avanço

Laminagem
Introdução

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Laminagem
Introdução
A laminagem ocupa um lugar de destaque entre os processos de deformação plástica, uma
vez que cerca de 90% dos materiais metálicos utilizados pela indústria transformadora são,
algures no decurso do seu processamento, submetidos a operações de laminagem.

A grande maioria dos processos de laminagem é realizada a quente em consequência dos


valores de deformação que são exigidos na transformação dos produtos. Adicionalmente, a
laminagem a quente tem a vantagem de praticamente não introduzir tensões residuais nos
produtos fabricados e de as suas propriedades serem isotrópicas. Contudo, trata-se de um
processo em que o controlo dimensional é particularmente difícil, para além da qualidade
superficial dos produtos transformados ser má, em virtude da camada de óxidos superficiais
que sempre se forma. Por este motivo, é usual depois das operações a quente proceder-se a
operações de laminagem a frio, destinadas a aumentar a resistência do material, a controlar
dimensionalmente e a melhorar a qualidade dos produtos fabricados.

Laminagem
Laminagem de produtos planos
Redução de laminagem (de espessura ou secção)

R
α h0 − h1
r =
h0
L vr
∆h
τ 2
Relação entre velocidades
h0 h1
h0
ponto neutro
v1 = v0
h1

v
Condição necessária para que a chapa seja
v1
vr arrastada pelos rolos no início da operação de
laminagem
v0
F
Ft cos α > Fr sin α µ = t > tan α → β > α
Fr

α Conclui-se assim que apenas existirá arrastamento (ou


Ft Fr seja, alimentação automática), quando o ângulo de atrito,
α β, for superior ao ângulo de contacto, α.
vr
Como o ângulo de contacto, α, aumenta à medida que a
h0 h1 redução de laminagem se vai tornando mais elevada
então será necessário ir aumentando o atrito ou recorrer
a forças auxiliares para se continuar a assegurar a
condição de arrastamento necessária ao início da 4
laminagem.

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Laminagem
Laminagem de produtos planos
Máxima redução admissível de espessura
α
R 2 − (R − ∆h / 2)
R
R ∆h ∆h
2
L
tan α = = ≅ =
L vr R − ∆h / 2 R − ∆h / 2 R R
∆h
τ 2

h0 h1

ponto neutro

∆hmax = (tan α) R = µ 2 R
2

Após a chapa ter sido arrastada para o interior da zona de


w0 w 1 > w0
trabalho, a laminagem prossegue normalmente sem que
volte a existir qualquer tipo de problemas de
arrastamento.

α′ < α Ft cos α′ > Fr sin α′


α
Ft Fr
α
vr

h0 h1

Laminagem
Laminagem de chapas a frio

A laminagem de chapas pode ser efectuada a quente ou a frio. A


laminagem a frio é utilizada para produzir chapas com acabamento
superficial e tolerâncias dimensionais melhores do que as que se
conseguem obter por laminagem a quente.

O encruamento que resulta da redução de espessura na laminagem a


frio pode também ser aproveitado para melhorar as propriedades
mecânicas das chapas e, consequentemente, dos produtos que, a partir
delas, forem fabricados.

A laminagem de chapas a frio dá origem a estruturas metalúrgicas caracterizadas por terem


uma orientação preferencial, resultante da rotação e alongamento dos grãos na direcção de
laminagem de maneira a acomodar a deformação que é aplicada pelos rolos. Esta orientação
preferencial dos grãos está na base do fenómeno de anisotropia que é típico do
comportamento mecânico das chapas finas laminadas a frio.

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Laminagem
Laminagem de chapas a frio

A laminagem a frio é principalmente utilizada na produção de chapas com espessuras


inferiores a 1 mm, usando como matéria-prima as bobinas de chapa que são previamente
obtidas a partir da laminagem a quente dos lingotes.

Espessura
Largura < 125 mm 125 mm < Largura < 250 mm 250 mm < Largura
mm)
0.1 ±0.008 a ±0.01 ±0.01 a ±0.02 ±0.015 a ±0.02
1 ±0.03 a ±0.04 ±0.035 a ±0.05 ±0.045 a ±0.06

Tolerâncias de espessura para chapas laminadas a frio

Laminagem
Cálculo de chapas laminadas a frio – método da energia uniforme

A metodologia de cálculo é análoga à que foi apresentada para o forjamento na disciplina


Tecnologia Mecânica I e consiste nos seguintes procedimentos:

1. Determinação da projecção horizontal do arco de R


α
contacto do rolo com a chapa
L vr
∆h
L = R 2 − (R − ∆h / 2) ≅ R ∆h τ
2
2

h0 h1

ponto neutro

2. Determinação da extensão verdadeira à saída

εz = 0
[ (ε − ε y ) + (ε x − ε z ) + (ε y − ε z ) ]
1
2 2 h0
ε1 = ε = = ε y = 1.15 ln
2 2 2 2

ε x = −ε y
x
3 3 h1

3. Determinação da tensão na região em deformação plástica

σ = K εn K ε1
n

σ unif =
ε1 = ε n +1

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Laminagem
Cálculo de chapas laminadas a frio – método da energia uniforme (continuação)

4. Determinação da força de separação dos rolos


α
Fs = σ unif L w ⋅ Qfs R

L vr
∆h
5. Determinação do momento e da potência de τ 2

laminagem h0 h1

M = Fs L P =Mω ponto neutro

3.0 5
1
Atrito máximo 4
2.5 Atrito máximo
4 µ =0.15
2.0 µ =0.2 1
4
Q fs 3 µ =0.1
Qfs 1.5
Todos os casos
2
1.0 µ =0.05
Sem atrito
h + h1
0.5 hm = 0 1
µ =0
2
0 0
0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 209
hm/L
L/hm

Laminagem
Cálculo de chapas laminadas a frio – método da fatia elementar
A metodologia de cálculo é análoga à que foi apresentada na disciplina Tecnologia Mecânica I e
baseia-se numa analogia entre a laminagem e o forjamento em matriz aberta em condições de
deformação plana:

vr
w0 = w1
ds

h0 dx
h1
vr
τ
τ

p
y
τ=µp
x
z

h + dh h 2φ
σ x+ d σ x σx

τ=µp
Plano xy
p
p
µ> Cálculo da pressão média aplicada pmédia a partir do
equilíbrio das tensões actuantes numa fatia elementar:
τ

⎛ µL ⎞
ponto neutro p média ≅ σ e ⎜⎜ 1 + ⎟⎟
⎝ 2hm ⎠ 10

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Laminagem

Cálculo de chapas laminadas a frio – métodos das linhas de escorregamento e


do limite superior

A aplicação destes métodos é efectuada com base nos Capítulos 8 e 9.

Apresenta-se um exemplo de laminagem de chapa em condições de deformação plana


resolvido através do método do limite superior:

R
γ
α vr
A
C
v0
B v1
h0 h1
45º

v1
α v0 C
dW ⎛ ⎞
O
γ 45º P =Mω=
dt
≤ ∫ k ∆v dS = k ⋅ ⎜⎜ ∫ ∆v AB
dS + ∫ ∆v BC
dS ⎟

B SD ⎝S AB S BC 11 ⎠
A

Laminagem
Defeitos de laminagem
1. Flexão exagerada dos rolos de laminagem p

provocada pela força de separação p


τ

ponto neutro

2. Ondulação da chapa provocada pela flexão


dos rolos dos laminadores

3. Tensões residuais de tracção na região


central e de compressão junto aos bordos

4. Fendas na região central devido às tensões


residuais

5. Defeitos provocados por um ‘camber’ dos


rolos excessivo

6. Abertura da chapa em forma de ‘boca de


jacaré’
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Laminagem
Laminagem de chapas a quente

A laminagem a quente é usada nas primeiras operações de


laminagem efectuadas sobre os lingotes fundidos, com o
intuito de promover reduções de espessura mais elevadas,
tendo por objectivo produzir blocos ou placas para o fabrico
de barras ou chapas (com espessuras que variam na gama
compreendida entre os 0.8 e os 6 mm e larguras inferiores a
2300 mm).

A estrutura metalúrgica das chapas fabricadas por laminagem a quente resulta da sobreposição
de dois efeitos:
• A evolução da deformação com o tempo
• A variação da temperatura com o tempo

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Laminagem
Laminagem de chapas a quente (continuação)

A combinação da evolução da extensão e da temperatura com o tempo durante a laminagem de


chapas a quente determina que o comportamento tensão-extensão do material da chapa na
região em deformação plástica seja semelhante ao que se encontra representado na figura e
típico do fenómeno de recristalização dinâmica.

Os grãos deformados e alongados pela acção dos rolos de laminagem, ao passarem por um
processo recristalização, formam novos grãos promovendo a regeneração completa da
estrutura metalúrgica. No caso da redução de espessura ser elevada a recristalização tem lugar
ainda na região em deformação plástica. Pelo contrário, quando a redução de espessura é mais
baixa a recristalização irá surgir na parte final da operação de laminagem.

σ
α>

vr

α< vr

ε crit ε 14

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Laminagem
Laminagem de chapas a quente (continuação)

O cálculo da força de separação dos rolos e da potência na laminagem a quente pode ser
efectuado de uma forma análoga à que foi efectuada para a laminagem de chapas a frio.

No caso de se aplicar o método da energia uniforme a principal diferença, para a laminagem a


frio, reside no cálculo de uma velocidade de deformação média, e na obtenção de um valor
médio (constante) de tensão no interior da região em deformação plástica através das curvas
tensão-velocidade de deformação que caracterizam o comportamento viscoplástico do
material.

1. Determinação da velocidade de deformação média


α
R
∆ε v h
ε& média = = 1.15 r ln 0
L vr ∆t L h1
∆h
τ 2

h0 h1

2. Determinação do valor médio da tensão


ponto neutro

σ unif = C ε& mmédia

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Laminagem
Laminagem de produtos não-planos

O termo laminagem de produtos não-planos é habitualmente


utilizado para designar o conjunto de operações de laminagem
que se encontram associadas à produção de varão, barra, perfis
estruturais normalizados (perfis H, I, L, T, U) e perfis estruturais
de geometria complexa.
Os produtos não-planos são laminados a quente, de uma forma progressiva, em trens de
laminagem que fazem intervir conjuntos sucessivos de rolos que são atravessados pelo
material durante a sua progressão no sentido longitudinal. O planeamento dos passes
intermédios e a concepção e o projecto dos correspondentes conjuntos de rolos é uma tarefa
complicada que envolve bastante experiência.

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Laminagem
Processos especiais de laminagem – laminagem de tubos

A laminagem de tubos é um processo especial de laminagem que


normalmente se realiza a quente e que permite fabricar tubos
compridos, sem costura, e com espessura de parede grossa.
O processo convencional utiliza dois rolos, geralmente inclinados
de um ângulo , relativamente ao eixo da peça, e um mandril. A
inclinação dos rolos dá origem a que se desenvolvam duas
componentes distintas da tensão de atrito na interface de contacto
da peça com os rolos; uma componente axial e uma componente
radial. A componente axial é responsável pela alimentação do
varão para o interior da região em deformação plástica, enquanto
que a componente radial provoca o movimento de rotação.
O princípio de funcionamento da laminagem de tubos baseia-se no
facto da compressão radial da secção transversal circular do varão
induzir tensões de tracção no seu interior, na região da linha de
simetria.

rolo

zona III
varão tubo

mandril
zona V
zona I zona II zona IV

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Laminagem
Processos especiais de laminagem – laminagem de anéis

A laminagem de anéis é utilizada para reduzir a espessura


e aumentar o diâmetro de peças com geometria anelar. O
princípio de funcionamento baseia-se na compressão
radial progressiva da peça entre o rolo motor principal e o
rolo louco, da qual resulta o aumento de diâmetro do anel.
A presença de rolos de borda destina-se a controlar a
espessura da peça à medida que esta vai sendo laminada.

O processo realiza-se a quente quando o diâmetro da


peça a fabricar é grande ou quando os materiais
possuem uma resistência mecânica elevada. A
geometria da secção transversal dos anéis que podem
ser transformados não se encontra limitada a formas
rectangulares, podendo igualmente serem produzidas
peças com secções transversais complexas.

rolo motor

rolo louco

rótula plástica
anel

ovalização 18

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Laminagem
Laminadores

Os laminadores podem ter uma grande variedade de configurações, em função das aplicações
a que se destinam ou da técnica de laminagem para a qual são concebidos:

1. Laminadores de dois rolos (duo)


2. Laminadores de três rolos (trio)
3. Laminadores de quatro rolos
4. Laminador Sendzimir
5. Laminadores de produtos não-planos
6. Fieiras

Laminador Sendzimir

Laminador de dois rolos Fieira 19


Laminador de quatro rolos

Laminagem
Auto estudo

Resolução dos problemas 16.4, 16.5 e 16.6


O programa de elementos finitos I-ROLL pode ser obtido na página da disciplina e instalado na
directoria c:\i_roll.

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