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VOL. 18 | N. 30 | 2013

Caravaggio, Rammstein Hipermodernidade, sociabilidade Manifestações e mídias


e Madonna e tecnologias digitais alternativas
Ticiano Paludo Erika Oikawa Antonio Brasil e Samira Moratti Frazão

P.79 P.89 P.127


Recebido em 28 de novembro de 2013 . Aceito em 17 de março de 2014.

Drones no ar e ninjas Resumo Abstract

nas ruas: os desafios do


Nas manifestações populares The recent manifestations in
recentes no Brasil, os jornalistas Brazil constitute a scenario where

jornalismo imersivo nas


enfrentaram dificuldades para journalists face difficulties in
realizar a cobertura jornalística, performing the journalistic coverage,

mídias radicais
fazendo uso de tecnologias como making use of technologies like
os drones. Em contraste, mídias drones. In contrast, alternative media
alternativas como a Mídia N.I.N.J.A. such as Media N.I.N.J.A. practice the
Drones in the air and ninjas on the praticaram o jornalismo imersivo,
transmitindo os protestos pela
immersive journalism, broadcasting
the protests by internet. This trend
streets: the challenges of immersive internet. Para tratar este movimento, is analyzed through the study of
journalism in the radical media recorre-se aos estudos de Castells,
Foucault e Downing. O objetivo é
Castells, Foucault and Downing. From
the reviewing of articles published
investigar como se constroem as in the press and videos available
estratégias de cobertura pela mídia on the internet, this paper aims to
tradicional e mídia alternativa, a partir investigate how coverage strategies
da revisão de artigos divulgados na are constructed by traditional media
Antonio Brasil¹ , Samira Moratti Frazão2 imprensa e vídeos disponíveis na and alternative media.
internet.

Palavras-chave Keywords
Manifestações populares; mídias Public manifestations; alternative
alternativas; jornalismo imersivo. media; immersive journalism.

PORTO ALEGRE | v. 18 | n. 30 | 2013 | pp. 127-136


Sessões do Imaginário
Drones no ar e ninjas nas ruas: os desafios do jornalismo imersivo nas mídias radicais

Introdução orientação, alguns jornalistas de TV se restringiram contrapartida, o telespectador “participa” da produção


A sociedade brasileira foi surpreendida com a transmitir ao vivo as manifestações somente das e da transmissão das notícias e das coberturas pelas
a magnitude, diversidade e persistência das cabines de helicópteros de reportagem. A Rede Globo redes sociais, indicando pautas, expondo opinião
manifestações populares nas ruas das principais cidades de Televisão, por exemplo, também considerou a respeito dos fatos reportados ou colocando-se
brasileiras desde junho de 2013. Para compreender essa necessário responder as críticas e hostilidades de à disposição para auxiliar no processo noticioso,
nova realidade, o público busca notícias, explicações uma parcela de manifestantes com a transmissão desempenhando, inclusive, funções antes delegadas
e, principalmente, imagens sobre os protestos de rua. de declarações por meio de editoriais no Jornal exclusivamente aos jornalistas.
No entanto, o cenário social e político ainda é difuso, Nacional, telejornal de maior prestígio da emissora4. Com pressupostos teóricos fundamentados nos
indeterminado e, em outras situações, violento e Além do afastamento das equipes de reportagens conceitos de Castells, Foucault e Downing, o presente
hostil. A imprensa e as entidades de classe divulgaram e de explicações transmitidas para o público, estudo é mais uma etapa da pesquisa iniciada em 2001
matérias sobre repórteres ameaçados ou atacados pela também houve a “descaracterização” da cobertura sobre as narrativas, tecnologias e mídias alternativas
polícia e pelos manifestantes. Nos protestos de rua, das emissoras de TV, com a retirada das canoplas5 com transmissões ao vivo na internet. O objetivo é
instituições tradicionais tais como o governo, a polícia presentes nos microfones e utilizadas pelos repórteres investigar como se constroem os sentidos na mídia,
e o jornalismo, foram questionadas e desafiadas. de vídeo, ou outro tipo de identificação visual utilizada diante das estratégias diferenciadas de cobertura
Nos noticiários surgem novos e inesperados atores pelo profissional, seja repórter, cinegrafista ou outro de grandes manifestações populares pela mídia
sociais, além de fluxos informacionais experimentais auxiliar. É importante destacar que, no contexto das tradicional e mídia alternativa.
e inovadores. As manchetes os descrevem como rotinas profissionais do telejornalismo, assim como o
manifestantes, “protestadores”, vândalos ou microfone é considerado a “arma” do repórter de TV, a Cobertura jornalística pelo jornalismo
baderneiros. No campo informacional, os jornalistas canopla é a identificação funcional da emissora para a imersivo
são designados como alternativos e as novas mídias qual o profissional trabalha. Antes de se falar a respeito das ações jornalísticas
digitais são descritas como independentes ou radicais, Nessa mesma vertente, empresas de alternativas como as empreendidas com o auxílio de
tais como o grupo Mídia N.I.N.J.A3, do qual falaremos comunicação como a Folha de S. Paulo e O  Globo7
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drones ou mesmo por grupos independentes como o
adiante. Neste mesmo cenário, os jornalistas que testaram tecnologias como os drones8 para a Mídia N.I.N.J.A., é necessário compreender os conceitos
trabalham para meios tradicionais enfrentam grandes cobertura das grandes manifestações no Rio e em teóricos que darão base para a discussão. Com relação
dificuldades para cobrir os novos eventos. São Paulo. Operados à distância, os drones portam à cobertura, de imediato, e aos preceitos do jornalismo,
O noticiário brasileiro deu destaque às imagens poderosas câmeras fotográficas e videográficas que a questão que se enfrenta é a da própria definição do
de manifestantes “hostilizando” e impedindo o garantem imagens inusitadas, mas também afastam termo. Assim, recorrendo à experiência profissional e
trabalho dos repórteres de TV, carros de reportagem o jornalista dos fatos. aos manuais de produção, a cobertura corresponde
destruídos, além de jornalistas que foram vítimas No sentido oposto dessas estratégias de cobertura ao trabalho de reportagem a ser realizado no local
da violência policial. Em resposta a essa dinâmica jornalística das empresas de comunicação tradicionais de ocorrência de um fato a ser noticiado. Porém, há
social, emissoras de TV em várias capitais optaram que privilegiam o afastamento, constata-se a expansão também a acepção mais técnica que indica o termo
pela estratégia de afastamento dos acontecimentos da mídia considerada alternativa, independente ou cobertura a ser compreendido como a área definida
considerados adversos e imprevistos. Essa iniciativa radical que opta pelo “jornalismo imersivo”. Trata- pelo espaço geográfico ou virtual de abrangência,
restringiu o posicionamento de jornalistas de TV ao se de uma proposta de abordagem e produção na ou espaço recoberto ou alcance de sinal da emissora
alto dos prédios vizinhos aos protestos. Nessa mesma qual o jornalista “mergulha” nos fatos e eventos. Em ou veículo de imprensa. Na atualidade, é comum nas

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redações designar cobertura para praticamente todo compreendidos de duas formas distintas: conceitual vez que é inerente à própria existência da televisão
o trabalho de reportagem que aprofunde, desenvolva – relativa ao trabalho jornalístico e as perspectivas brasileira, criada em tempo real. Além disso, comumente
ou diversifique um tema central (Emerim; Brasil, 2011). possíveis para exibição do fato – e temporal – quando a se emprega o uso da transmissão ao vivo para
Apesar de as transmissões feitas do local do cobertura do acontecimento é feita durante um longo grandes acontecimentos, gerando no telespectador a
acontecimento também serem descritas como período de tempo (Emerim; Brasil, 2011). impressão de que presenciará uma grande cobertura.
grandes coberturas, não significa que se trate de No senso comum, grandes coberturas e No entanto, aqui se considera como transmissão ao
coberturas grandes, uma vez que os termos podem ser transmissões ao vivo estão intimamente ligadas, uma vivo em televisão a “operação técnica que permite

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produzir e apresentar eventos simultaneamente à sua Democracia, visibilidade, vigilância e as e mídias alternativas como o grupo Mídia N.I.N.J.A.,
ocorrência” (Emerim; Brasil, 2011, p. 3). Em oposição mídias radicais cuja argumentação baseia-se, sobretudo, em tentar
a esse tipo de estratégia de cobertura jornalística Segundo o sociólogo e ativista Herbert de esclarecer ao público fatos que seriam omitidos do
utilizada pelas empresas de comunicação tradicionais, Souza (apud Franke; Trevisol, 2010), para o exercício discurso empregado pelas mídias tradicionais. Em
é possível analisar a estratégia inovadora das mídias da democracia, é preciso destacar cinco princípios relação às mídias alternativas ou radicais, aqueles que
consideradas radicais ou alternativas. fundamentais: igualdade, diversidade, solidariedade, exercem o poder é que são submetidos à visibilidade
Essa apresentação simultânea dos acontecimentos liberdade e participação nas relações de poder presentes de uma forma bem maior do que aqueles sobre quem
pode ser responsável por construir a retórica do direto nas esferas social, jurídica, política e de igualdade; com o poder é exercido. Desse modo, somente haverá
(Martín-Barbero, 1997), segundo a qual um dispositivo respeito aos direitos de todos, garantindo, ainda, o democracia quando os indivíduos participarem das
organiza o espaço da televisão sobre o eixo da direito ao indivíduo à participação nos acontecimentos, ações promovidas pelos poderes existentes, incluindo
proximidade e da magia do ver. Para Martín-Barbero tornando-o, portanto, cidadão. Essa participação seria a mídia (Franke; Trevisol, 2010).
(1997), o principal efeito de sentido produzido é o da conjunta unida a outros poderes, e aqui se inclui a mídia Assim sendo, as manifestações de rua
imediatez, uma das características da própria televisão. em geral, pela importância e visibilidade que fornece à enquanto “movimentos sociais” se enquadram
É em virtude desse imediatismo, impulsionado pela informação, para a organização e vida em sociedade. nos fundamentos do exercício da democracia no
gravação ao vivo e transmissão direta, que a atenção Em outra vertente que caracteriza as relações Brasil. No caso das manifestações recentes, poderia
do telespectador é atraída. entre o poder e visibilidade, Michel Foucault (apud ser aplicado o conceito de “movimentos sociais
Reportar direto do local de acontecimento Thompson, 1999) recorre a uma imagem emblemática: em rede” (Castells, 1999), um modelo comum a
dos fatos contribui para a imersão do indivíduo no o Panóptico. Em 1791, o filósofo e jurista inglês Jeremy movimentos em diversos países como os Estados
acontecimento. No caso das manifestações, a estratégia Bentham publicou um modelo de penitenciária que Unidos, Espanha, Líbia e Egito. Especificamente a
se opõe à postura tradicional dos grandes veículos seria considerada ideal, chamada de Panopticon. A respeito das manifestações brasileiras, o sociólogo
de comunicação que optaram por se distanciar dos construção consistia em um prédio circular com uma Manuel Castells disse recentemente, em entrevista,
eventos ao preferir “subir no telhado” ou embarcar em torre de observação disponibilizada ao centro, da qual que esses movimentos começam
helicópteros e se afastar da realidade (Brasil, 2013a). seria possível controlar os presos continuamente. “Cada
Dessa forma, a principal característica do jornalismo interno, confinado em sua cela, é permanentemente [...] na web (internet e redes móveis), mas se
imersivo é o envolvimento e a participação. visível; cada ação pode ser vista e monitorada pelo articulam no espaço público urbano e interagem
Esse tipo de experiência propõe ao indivíduo a supervisor que permanece invisível” (Thompson, constantemente pelas redes sociais digitais, redes de
imersão na narrativa, tomando par dos acontecimentos 1999, p. 120). Dessa forma, o termo “panóptico” ou proximidade física e no uso do espaço público em
de forma mais aprofundada. O mesmo acontece em “panoptismo” é utilizado por Foucault para designar manifestações e ocupações. Por isso falo de um novo
jogos ou outras soluções que utilizem a realidade uma sociedade de controle. Em outros casos, teóricos espaço, o espaço da autonomia (apud Brandalise,
virtual. Recursos imersivos, leitor imersivo, processo como Howard Rheingold (2000) utilizam esses termos 2013, on-line).
imersivo e news games são exemplos de recursos em referência a um possível controle que os novos
de narração que possibilitam graus diferenciados meios de informação teriam sobre seus usuários. Essas ocorrências no Brasil não estariam isoladas em
de imersão, assim como perspectivas distintas da Nesse contexto, é possível perceber a importância um contexto nacional. Os movimentos se conectam em
realidade, “oportunizando ao público ter novos pontos do modelo do Panóptico de Foucault nos estudos redes globais e esta é a nova forma de mudança social
de vista dos fatos e acontecimentos” (Souza, 2010, p. 8). de novas tecnologias observacionais como os drones na sociedade em rede, caracterizada, por sua vez, pelo

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funcionamento em redes informáticas telecomunicadas de mídia radicais procuram aproximar o repórter, ou


existentes em todas as esferas sociais. Nesse sentido, os indivíduo que se apropria dessa função, aos fatos,
ASSISTA AO VÍDEO
movimentos sociais se expressam dentro e fora das ruas, com atitudes diferenciadas, narrativas audiovisuais
mas principalmente em uma rede, como foi uma das inovadoras e ferramentas profissionais mais específicas
principais características das manifestações brasileiras e apropriadas para cobrir uma nova realidade. E é nesse
e da ação dos grupos independentes de mídia, os cenário que entra em cena os drones jornalísticos e as
quais organizavam as manifestações inicialmente pela narrativas comunicacionais da mídia alternativa, tais
internet (Brandalise, 2013). como a Mídia N.I.N.J.A.
A prática das mídias alternativas costuma surgir
em um contexto político e social de opressão e no O uso dos drones no jornalismo
qual há o controle da informação, em qualquer país, Drone (zangão, em inglês) ou Veículo Aéreo
sejam os que vivem em regime democrático, liberal ou Não Tripulado  (VANT) é todo e qualquer tipo
ditatorial. O modelo adotado por este tipo de mídia é de aeronave que não necessita de pilotos embarcados
o da contrainformação, quando grupos independentes para ser guiada. Esses aviões-robôs são pilotados a
promovem a revolução da informação, munindo a distância por meios eletrônicos e computacionais e
sociedade com fatos que são considerados como transportam câmeras de vídeo de alta resolução, com
ausentes ou omitidos no discurso pregado pelas mídias capacidade de gravar e transmitir imagens ao vivo a
tradicionais. Dessa forma, haveria a democratização da grandes alturas e distâncias (Brasil, 2013b).
informação, possibilitando ao público o conhecimento Nos Estados Unidos, a utilização do drone é ilegal
da “verdade” sobre os fatos (Downing, 2002). Esse tipo mesmo para jornalistas profissionais. A regulamentação
de contrainformação acaba por fortalecer o público para a utilização doméstica de drones, no entanto,
e sua confiança, em detrimento da credibilidade das tem mudado rapidamente. Instituições de segurança
mídias estabelecidas. Haveria, então, a possibilidade de já utilizam os drones para tratar de assuntos como
mudanças sociais, não só de ordem informativa. monitoramento e vigilância de queimadas e observação
Para Downing (2002) a mídia radical é compreendida do nível da água de  rios. Nos cursos de Jornalismo
como o uso e apropriação do jornalismo em plataformas nos EUA, disciplinas já são ofertadas aos alunos para
consideradas tradicionais ou inovadoras (poderíamos que aprendam a pilotar o aparelho, coletar imagens
incluir, aqui, a cobertura com transmissão em tempo e vídeos, entender como funciona a Administração
real pelo celular com acesso à internet). Também pode Federal de Aviação (FAA) e discutir as questões de
existir em outras esferas, como em atividades culturais, regulamentação, éticas e de privacidade que envolvem
por exemplo. a utilização do dispositivo9.
Tanto a prática do jornalismo imersivo quanto às Os drones possuem versões de baixo custo
atribuições informativas empreendidas por grupos que são mais fáceis de operar e podem ajudar

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o jornalista a produzir reportagens. Porém, essa


tecnologia também pode ser mais uma forma de
ameaça às liberdades individuais. Os drones podem
produzir imagens na forma de fotos ou vídeos para
os jornalistas, mas também podem ser os “espiões”
da polícia ou agências de inteligência do governo.
Assim como as “câmeras ocultas”, também podem
criar problemas, suscitar dúvidas éticas e oferecer
perigos incomuns para os manifestantes.
Os norte-americanos têm utilizado sofisticados
drones para espionagem e para eliminar terroristas ou
pessoas indesejáveis, tornando-se uma arma poderosa
(Setti, 2012). No entanto, também trouxeram questões
éticas e legais para serem discutidas pela sociedade.
Críticos falam em “assassinatos sem julgamento”, “guerra
suja” e “violação das leis internacionais”. Outra utilização
do recurso se refere à organização urbana. As forças de
segurança nacionais – como a polícia – também utilizam
os drones para monitorar o trânsito urbano, controlar
áreas consideradas perigosas, fronteiras internacionais
e investigar criminosos.
É necessário enfatizar que, apesar dos riscos e
ameaças, os drones também podem ser úteis para
coberturas jornalísticas consideradas perigosas para os
profissionais da imprensa como correspondentes de Mídia N.I.N.J.A.: Narrativas O modelo de transmissão adotado é livre, sem
guerra e repórteres que atuam em operações policiais Independentes, Jornalismo e Ação edição das imagens. Ou seja, as imagens transmitidas
ou, ainda, para a captação de imagens em desastres Nesse mesmo contexto de expansão na utilização são brutas, sem cortes, feitas direto do acontecimento
naturais como enchentes, incêndios ou terremotos. de imagens videográficas na internet e em recorrência e transmitidas em tempo real, atraindo milhares de
Também podem substituir com mais eficiência os de grandes manifestações populares no Brasil, surge pessoas que participavam das manifestações ou que as
helicópteros, mais caros, quando comparados ambos uma proposta midiática: o coletivo  Mídia N.I.N.J.A10: acompanhavam pelas redes sociais.
os recursos. Contudo, o manejamento de um drone Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação, que tem O grupo transmite sua cobertura jornalística por
requer habilidade, uma vez que também pode pôr sido responsável pela cobertura alternativa das recentes meio de aplicativos de streaming, que consistem em uma
em risco à vida de quem o manipula, assim como dos manifestações ocorridas no Brasil nos meses de junho, forma gratuita de distribuição de conteúdo multimídia
espectadores que estejam abaixo da área sobrevoada julho e agosto de 2013, enfatizando o debate sobre o por meio de pacotes que seguem em fluxo contínuo
(Martinelli, 2011; 2012). jornalismo e ativismo. na internet (Silva, 2008). A transmissão é interrompida

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a cada meia hora e reposta no ar. Ultimamente o grupo novas narrativas se fortaleçam” (apud Mazotte, 2013, [o] principal objetivo [do Mídia N.I.N.J.A.] é retomar
faz uso do TwitCasting11, disponível na internet de forma on-line). Em uma das transmissões, alcançaram a marca para a causa do jornalismo e da comunicação seu pa-
livre, não sendo necessário nenhum tipo de cadastro dos 100 mil espectadores. No Facebook, com pouco pel ativista de servir como olho público e fornecer in-
para sua visualização, apenas o link, disseminado mais de quatro meses de existência, já possuem cerca formações cada vez mais qualificadas para defender a
rapidamente pelas redes sociais ou disponibilizado na de 230 mil curtidas14 de usuários que optam por receber democracia (apud Mazotte, 2013, on-line).
página da Pós.TV12. A cobertura é feita por meio de um suas atualizações.
celular com acesso à internet 3G ou 4G e um laptop, na Assim como pautam a mídia tradicional,
Os ninjas acreditam que a chave para a
base do improviso, quando surgem os eventos a serem principalmente quando suas coberturas alcançam
sustentabilidade do grupo está no apoio recebido nas
monitorados de perto (Lorenzotti, 2013). grande repercussão entre os internautas e espectadores
redes e nas ruas e planejam a atuação do grupo no futuro,
A visibilidade alcançada pelo grupo foi notada na web, o grupo também se torna pauta não só da
lançando uma campanha online para angariar fundos e,
principalmente durante a cobertura dos protestos imprensa como de profissionais da área. As críticas
desse modo, gerir financeiramente a plataforma para
realizados por todo o Brasil no mês de junho. A história sobre as coberturas se referem, especialmente à
disponibilizar o conteúdo produzido pelo grupo na web.
do grupo, porém, começou durante a cobertura ao vivo qualidade técnica da transmissão, referente à imagem
Entre outras ações futuras está também a transmissão de
da Marcha da Liberdade de São Paulo, em 28 de maio e som, assim como são questionados pela credibilidade
aulas públicas e a adaptação de formatos consagrados
de 2011, resultando no lançamento do Pós.TV, canal de do jornalismo praticado por eles. Um exemplo recente
na mídia tradicional, como os programas de auditório,
transmissão por streaming de debates e outros eventos foi o da entrevista conduzida por eles com o prefeito do
porém, feitos inteiramente nas ruas, com a proposta de
alternativos (Mazotte, 2013). Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que concedeu a entrevista
debater, abertamente, as pautas que sejam de interesse
O grupo Mídia N.I.N.J.A. ganhou força motivado exclusivamente para os ninjas15, como são chamados
da coletividade (Mazotte, 2013).
por demissões de jornalistas nas redações de alguns entre si e nas redes sociais. A entrevista foi criticada
veículos jornalísticos paulistanos durante o mês de por alguns profissionais, pesquisadores e veículos
junho. Bruno Torturra, um dos integrantes do grupo, de imprensa, que os consideraram despreparados. Considerações finais
era repórter de uma revista antes de se dedicar à As críticas, contudo, foram rebatidas pelo grupo Diante de crescentes e recorrentes manifestações
iniciativa (‘N.I.N.J.A. TV’, 2013). em sua página no Facebook: “[...] é no processo, na populares, novas tecnologias como os drones e o
O canal também é mantido por integrantes do experiência, na transparência, no teste real, ao vivo e conceito de jornalismo imersivo representado pelo
circuito  Fora do Eixo13. A organização nasceu em sem cortes, que estamos avançando” (Mídia N.I.N.J.A. grupo Mídia N.I.N.J.A. e grupos similares podem
2005, inicialmente como uma rede responsável por apud Mazotte, 2013). acrescentar uma nova perspectiva para a produção
organizar circuitos de música e impulsionar artistas Diferente do jornalismo tradicional, que tem como jornalística e merecem ser investigados pelos estudos
independentes. Atualmente mais de 270 coletivos principais preceitos buscar um olhar distanciado e de Jornalismo e de Comunicação.
fazem parte do circuito, em várias cidades brasileiras isento dos fatos, o mesmo não ocorre com o jornalismo Em relação às coberturas jornalísticas tradicionais
(Mazotte, 2013). praticado pelas mídias alternativas, que não possuem com ênfase na TV, constata-se que, além da questão
Para um dos fundadores do Fora do Eixo e um plano fixo de orientação. Mas a função desse tipo ética, a estratégia de afastar a equipe de reportagem
integrante do N.I.N.J.A., Pablo Capilé, a iniciativa inova o de cobertura praticada pelas mídias alternativas é dos acontecimentos de risco e a retirada das
jornalismo: “Nos protestos vemos os grandes veículos de justamente romper com os paradigmas considerados identificações das empresas jornalísticas implica um
comunicação colocados em xeque. Esse contexto é bom clássicos para a profissão, como objetividade e possível “ocultamento” do destino final da cobertura
para que iniciativas independentes que estão pensando imparcialidade. Para Bruno Torturra, jornalística. Com a justificativa da necessidade em

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proteger as equipes de reportagem de TV, tenta-se nova legislação. E essa é a grande questão tanto em não testemunha os fatos sem a sua presença física para
excluir uma informação importante para o público que relação aos drones quanto ao jornalismo em tempo real, descrever e compartilhar as notícias pode ter problemas
participa das manifestações. via internet e pelas mídias alternativas. de acuidade e credibilidade.
É importante que o público possa identificar para Mas, nenhuma tecnologia ou narrativa inovadora É necessário estudar as transformações não só das
quem o jornalista presta seus serviços profissionais, da exclui riscos. As aeronaves não tripuladas que portam tecnologias e das mídias, mas, igualmente, investigar o
mesma forma que os policiais, que também trabalham câmeras de vídeo para cobrir grandes eventos, mas surgimento de novas narrativas informacionais, fluxos
durante as manifestações, devem ser identificados com precisam ser operadas por profissionais qualificados, comunicacionais e relações cada vez mais híbridas
nome e unidade militar para que os manifestantes podem apresentar problemas técnicos e causar vítimas, entre emissor e receptor. Em meio aos protestos
tenham o direito de saber para quem eles estão assim como podem cercear a liberdade de quem populares, podemos estar diante do surgimento de
falando. Deve ser assim também, portanto, para quem poderia estar visando informar a coletividade. novos dispositivos de poder.
está captando as imagens dos manifestantes e como A imprensa especializada descreve a “revolução
essas imagens serão utilizada nos telejornais. Ocultar dos drones” e projeta milhares de aparelhos nos céus,
a canopla ou qualquer outra identificação visual que em breve, seja a serviço do governo ou de empresas Referências
denote a identidade profissional do jornalista e sua civis. Isso pode ser considerado uma boa notícia BRANDALISE, Vitor Hugo. Manuel Castells: “Os protestos
relação com a emissora em que trabalha pode criar um com grandes benefícios para todos. Aviões-robôs mostram o amadurecimento da sociedade brasileira”.
distanciamento ou desconfiança do público em relação com câmeras ocultas podem mostrar os fatos, mas, Blog GQ – Brasil, 26 de jul. 2013. Disponível em:
ao seu trabalho. é necessário refletir que, na mesma medida, podem <http://gq.globo.com/Blogs/Vitor-Hugo-Brandalise/
Prover segurança adequada para o trabalho de espionar e denunciar aqueles que ousaram sair às ruas noticia/2013/07/manuel- castells- os-protestos-
seus profissionais ou fazer uma cobertura melhor, mais para mudar o país. mostram-o-amadurecimento-da-sociedade-brasileira.
equilibrada e menos sensacionalista talvez seja uma solução Por outro lado, a transmissão de grandes html>. Acesso em: 04 ago. 2013.
melhor para as emissoras do que buscar tecnologias manifestações ao vivo via internet pela mídia
perigosas, condenar as coberturas ao vivo pela mídia alternativa também enfrenta desafios. Não se trata de BRASIL, Antonio. Cobertura na TV ‘subiu no telhado’.
alternativa, colocar os repórteres no alto dos telhados, simplesmente criticar ou condenar as novas tecnologias Observatório da Imprensa, 25 jun. 2013a. Disponível
longe das hostilidades, porém, distantes dos fatos. e os novos atores sociais que atuam nos processos em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/
O novo modelo de cobertura jornalística televisiva informacionais e midiáticos. Entre os extremos de news/view/_ed752_cobertura_na_tv_subiu_no_
de grandes eventos aponta a importância da estratégias diferenciadas de cobertura jornalística, telhado>. Acesso em: 03 ago. 2013.
participação de novos atores sociais, os manifestantes, temos o espaço para o conceito de jornalismo imersivo.
com novas ferramentas digitais poderosas, os celulares As consequências dessas novas estratégias de BRASIL, Antonio. Drones espionam protestos no Brasil.
e a internet, apoiados pela nova cultura informacional cobertura jornalísticas de grandes eventos ainda Observatório da Imprensa, 02 jul. 2013b. Disponível
das redes sociais. Até porque, parece inevitável que, em são desconhecidas e merecem ser investigadas. Elas em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/
pouco tempo, em tempo real, alguém possa contestar podem caracterizar um “jornalismo de afastamento” news/view/_ed753_drones_espionam_protestos_no_
uma notícia divulgada como verdade absoluta nos das notícias e das expectativas informacionais dos brasil>. Acesso em: 03 jul. 2013.
nossos telejornais. telespectadores. O afastamento das notícias e dos
As novas tecnologias e narrativas também eventos considerados arriscados abre um precedente CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede (Vol. I). São
demandam novas posturas éticas e, principalmente, perigoso para o jornalismo tradicional. O jornalista que Paulo: Paz e Terra, 1999.

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Drones no ar e ninjas nas ruas: os desafios do jornalismo imersivo nas mídias radicais

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