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assim, renova o debate teórico acerca do em-


prego no país.
Durante a leitura, emerge de forma clara a
intenção do sociólogo em revelar ao leitor as
disparidades de idade, sexo, cor, classe social e
escolaridade que se escondem por trás das aná-
lises frias, baseadas em estatísticas de renda e
consumo, sobre a expansão do setor formal no
país. Em cinco ensaios comprometidos com o
rigor metodológico exigido daqueles que se
aventuram em trabalhar com os temidos dados
quantitativos, a imaginação sociológica se faz
presente em todos os momentos. O autor iden-
tifica nas trajetórias ocupacionais, posições e
Ensaios de sociologia do mercado de trabalho possibilidades dos indivíduos no mercado de
brasileiro. Adalberto Cardoso. (2013). Rio de trabalho as evidências de uma inércia social,
Janeiro: FGV, 2013, 264p. econômica e demográfica não facilmente solu-
cionável. São as cicatrizes de uma história mar-
Roberta Corôa cada por longos períodos de crise econômica e
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, social no país.
Brasil No capítulo 1, Cardoso constrói uma teoria
<roberta.coroa@gmail.com>
da informalidade. Para apresentá-la, ele utiliza
http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sip00047 uma metáfora na qual a ordem capitalista con-
temporânea surge como uma galáxia. Do centro
emanam os principais mecanismos de coorde-
Autor renomado na área da sociologia do trabalho nação: o mercado, o Estado, a informação. Próxi-
e conhecido por sua experiência em pesquisas mos a ele, estão as zonas mais densas e reguladas,
sobre sindicalismo, trajetórias profissionais e por analogia, o ambiente formal, enquanto nas
mercado de trabalho no Brasil, Adalberto Car- regiões periféricas encontram-se as zonas de
doso se destaca em seu campo de estudos pela regulação rarefeita, nas quais os mecanismos
capacidade de oferecer sofisticadas análises, uti- estão presentes em menor densidade, sem no
lizando sobretudo dados quantitativos, sem se entanto se encontrarem ausentes. Esses são os
furtar à contribuição de outras disciplinas e de espaços informais que têm a sociabilidade como
outros enfoques metodológicos. E é isso que o principal meio de coordenação.
podemos encontrar em seu mais novo livro. Ao elaborar o sistema, o autor defende os dois
Aqueles que chegam ao livro de Cardoso, principais argumentos da sua teoria: a afirmação
em busca de se inteirar de informações relativas da existência de continuidades entre os espaços
à atual estruturação do mercado de trabalho formais e informais – na galáxia financeira da
no Brasil, se deparam com a boa e velha teoria economia capitalista, o centro se alimenta da cir-
sociológica. O autor vai buscar nas relações so- culação de mercadorias da periferia, ao mesmo
ciais contemporâneas a formulação dos concei- tempo em que a periferia sofre as influências
tos e os modelos explicativos para a dinâmica vindas do centro. Aponta ainda a presença nos
do nosso mercado de trabalho, considerando as ambientes informais de mecanismos coordena-
repercussões das mudanças em curso no capita- dores apoiados na sociabilidade – sustentada nas
lismo em escala global que se corporificam nos relações sociais de confiança, ancoradas nas re-
trabalhadores. No caminho de construir argu- des sociais e familiares e ligadas a outros fatores
mentos contestadores, ou ao menos necessá- que não econômicos. O resultado é a descons-
rios, do otimismo que tomou conta das análises trução do conceito hegemô-nico de informali-
a partir do crescimento do emprego regulado dade, que ignora as conexões existentes entre
no início dos anos 2000, Cardoso sociologiza os vários elementos do sistema e confere status
variáveis, transforma números em indivíduos inferior ao que não é exclusivamente regulado
imersos em suas escolhas e contextos sociais e, segundo a lógica das normas e leis do Estado.

Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 13 n. 1, p. 215-218, jan./abr. 2015

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