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FLUIDOS

DE
PERFURAÇÃO

Pós graduação Lato sensu


Engenharia de Petróleo
Poço
PUC – 2007
Rosana Lomba

Material adaptado de Apostila - Fluidos de Perfuração de autoria de


José Carlos Vieira Machado – Petrobras/UP

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TECNOLOGIA DE FLUIDOS DE PERFURAÇÃO
Fundamentos de Fluidos
Introdução – Histórico

A origem dos fluidos de perfuração coincide com o início da perfuração rotativa, por volta
de 1900, que utilizava uma mistura de água e argila em circulação intermitente no poço,
com o objetivo principal de transportar os cascalhos até a superfície e estabilizar as
paredes do poço.

Enquanto a bomba alternativa, duplex ou triplex, funciona como o coração do sistema de


perfuração rotativo, o escoamento do fluido de perfuração se assemelha ao fluxo
sanguíneo. A bomba transmite a potência hidráulica necessária para deslocar o fluido
através do poço e auxiliar na perfuração, através da ação de jateamento na broca. O
fluido carrega os ingredientes para manter o poço “saudável”.

Os fluidos de perfuração são misturas complexas de sólidos, líquidos e, por vezes, gases,
que podem assumir aspecto de suspensão, dispersão coloidal ou emulsão, a depender da
composição química e do estado físico dos seus componentes.

Conceitos Fundamentais

Sistemas Dispersos

Entende-se por dispersão a distribuição uniforme de uma fase, constituída por uma ou
mais substâncias puras, denominada de disperso ou fase descontínua, em outra fase
conhecida por dispersante ou fase contínua, também composta por uma ou mais
substâncias. Um sistema disperso ficaria bem caracterizado se, ao tomarmos qualquer
porção aleatória, esta representasse as propriedades intrínsecas do sistema, ao menos
em termos médios.

Tabela 1- Classificação das dispersões em função do diâmetro das partículas dispersas

Tipo de dispersão Diâmetro do disperso Exemplo


Solução < 1mµ NaCl + água; sacarose +
água
Coloidal 1 mµ a 1 µ Argila + água; polímero +
água
Suspensão >1µ Sílica + água; barita+ água
1 mµ = 10 m = 10 A (Angstrom); 1 µ = 10-6 m; 1 A = 10-10 m
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A dispersão de uma massa material finita é, em última análise, uma subdivisão em


partículas menores, cujas dimensões finais e, conseqüentemente, suas propriedades,
dependem da natureza das fases (disperso e dispersante), da proporção entre elas, e
também da maneira utilizada para obter a dispersão.

Embora a classificação da tabela 1 seja amplamente aceita, existem outras classificações


que variam de acordo com a conveniência e aplicabilidade de certos sistemas dentro de

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um ramo tecnológico e industrial, em particular. Por convenção, os sistemas dispersos
são classificados em função das dimensões máximas das partículas dispersas ou do
diâmetro equivalente, ou ainda, do diâmetro de Stokes, da maneira como está ilustrada na
tabela 1.

A solução é um sistema cujas partículas dispersas se caracterizam por possuírem


dimensões de moléculas ou íons. O disperso é denominado solato e o dispersante
solvente. As leis da físico-química se aplicam a esses sistemas homogêneos e
monofásicos, principalmente em condições ideais. A separação dos componentes de uma
solução só é possível por métodos físicos seletivos, tais como destilação, extração, ou por
métodos químicos.

O sistema coloidal se caracteriza por possuir partículas de dimensões de


macromoléculas, agregados moleculares ou iônicos. A separação das fases é possível
por métodos físicos que envolvam uma superfície ou meio de baixíssima permeabilidade,
como diálise e ultra filtração. O sistema coloidal é considerado termodinamicamente
instável e, devido a sua complexidade, não pode, muitas vezes, ser tratado com a
exatidão associada a certos ramos da físico-química. Nestes casos, o estudo é conduzido
experimentalmente e correlacionado com leis e equações conhecidas.

As suspensões se caracterizam por serem sistemas heterogêneos de elevada


instabilidade física, sendo que suas fases podem ser separadas por filtração comum, ou
espontaneamente por sedimentação.

Sistemas Coloidais

Embora não haja uma separação nítida entre sistemas coloidais e sistemas não coloidais,
a ciência dos colóides se ocupa com sistemas dispersos onde a fase dispersa é composta
de partículas com dimensões dentro do intervalo coloidal, arbitrariamente definido de 1
nm (1 mµ) a 103 nm (1 µ). Se o sistema coloidal for constituído de partículas isométricas,
então a dimensão a considerar é o diâmetro equivalente. Entretanto, para sistemas
constituídos de partículas anisométricas, a menor dimensão é, na maioria das vezes, mais
importante em função da conformação e flexibilidade da partícula.

Uma dispersão coloidal é denominada de sol quando partículas dispersas de um sólido


está distribuída numa fase dispersante líquida. As dispersões de bolhas de gás numa fase
líquida pode se constituir em uma espuma, enquanto que as gotas de um líquido
dispersas em outra fase líquida são denominadas de emulsão. Os sistemas coloidais
podem ser constituídos por moléculas individuais ou macromoléculas, agregados iônicos
ou moleculares, ou ainda agregados de partículas. Um exemplo de dispersão coloidal
constituída de moléculas simples é uma pseudo-solução de macromoléculas (polímero,
proteína ou surfactante, por exemplo) em um meio líquido (água, por exemplo). Este
sistema é ainda conhecido como solução coloidal ou pseudo-solução devido a seu
aspecto homogêneo e límpido. Os sistemas coloidais têm atraído muita atenção devido,
principalmente, às suas propriedades físico-químicas incomuns. Além disso, o
comportamento químico de uma substância dispersa como colóide permanece
essencialmente o mesmo, quando comparado ao seu estado puro, embora o elevado
grau de dispersão do sistema lhe confira uma maior reatividade.

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A principal maneira de classificar as dispersões coloidais é quanto ao estado físico das
fases contínuas e descontínuas. A tabela 2 mostra os tipos de dispersões coloidais e seus
exemplos.

Os principais colóides de aplicação prática e industrial são os sóis, emulsões e espumas,


especialmente aqueles que envolvem a água como meio dispersante. A permanência do
sistema no estado coloidal é, muitas vezes, garantida através da adição de um terceiro
constituinte, denominado de agente estabilizante.

Tabela 2 - Classificação das dispersões coloidais em relação ao estado físico das fases

Fase Fase Sistema Exemplo


dispersa dispersante coloidal
Sólido Líquido Sol Tintas, polímeros ou argila em
água
Líquido Líquido Emulsão Óleo+água, leite
Gás Líquido Espuma Ar+sabão+água
Sólido Sólido Sol sólido Rubi
Líquido Sólido Emulsão sólida Pérola, opala
Gás Sólido Espuma sólida Pedra pomes
Líquido Gás Aerosol líquido Névoa, nuvem
Sólido Gás Aerosol sólido Fumaça

Emulsões

Uma emulsão é um sistema disperso, relativamente estável, na qual as fases são


constituídas por dois líquidos imiscíveis ou parcialmente miscíveis, cujo diâmetro dos
glóbulos do líquido disperso apresenta, na maioria dos casos, valores entre 102 e 104 nm.
Dessa forma, a maioria dos glóbulos das emulsões normais ou macro-emulsões são
visíveis no microscópico óptico. Uma classe de emulsões, cujo tamanho dos glóbulos é
inferior a 100 nm, são conhecidas como micro-emulsões. As micro-emulsões são
transparentes e exibem uma estabilidade altíssima. As emulsões necessitam de um
terceiro componente, conhecido como emulsificante, para conferir estabilidade ao
sistema. Existem substâncias naturais que possuem uma alta capacidade para estabilizar
emulsões. Algumas destas substâncias possuem parte de sua molécula organofílica, isto
é, com afinidade por orgânicos, e outra parte hidrofílica, isto é, com afinidade por água.
Exemplos clássicos dessas substâncias tensoativas são as proteínas, as resinas e os
carbohidratos.

Outros grupos de substâncias sintéticas, como os ácidos graxos de cadeia curta e alguns
álcoois são solúveis tanto em água quanto em óleo. Uma cadeia de átomos de carbono
da molécula dessas substâncias é responsável pela solubilidade parcial em óleo,
enquanto os grupamentos polares -COOH (ácido) e -OH (álcool) são responsáveis pela
solubilidade em água. Se as moléculas dessas substâncias se localizarem numa
superfície de separação óleo-água ou vapor-água, elas se orientarão de maneira a manter
os grupos hidrofílicos na fase aquosa e as cadeias lipofílicas ou organofílicas na fase
oleosa ou na fase vapor. Essa situação é energeticamente mais favorável que a
dissolução completa em qualquer uma das duas fases. Algumas substâncias que são
usadas industrialmente para produzir emulsões estáveis são tensoativos sintéticos, como
os sabões e detergentes que estabilizam emulsões de óleo e água.

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Tipos de Emulsões

Embora seja possível produzir uma infinidade de emulsões entre diversos líquidos
imiscíveis, os dois tipos de emulsões mais comuns nas indústrias e nos laboratórios são
de orgânicos ou óleo em água (O/A) e de água em orgânicos ou óleo (A/O). Portanto, em
quase todas as emulsões, uma das fases é aquosa e a outra fase é oleosa. Quando o
óleo é a fase dispersa, a emulsão é chamada de emulsão de óleo em água (O/A), e
quando o meio disperso é aquoso, a emulsão é dita de água em óleo (A/O).

Existem métodos que permitem distinguir, através de medidas de propriedades físicas, se


uma determinada emulsão é de óleo em água, ou vice-versa. A Tabela 3 mostra alguns
desses métodos mais simples para se identificar o tipo de emulsão formada.

Tabela 3 - Métodos para identificar o tipo de emulsão

Método Emulsão O/A Emulsão A/O


Visual Textura cremosa Textura gordurosa
Corante Inorgânicos tingem Orgânicos tingem
Condutividade Alta Baixa ou média
Miscibilidade Miscível em líquido polar Miscível em líquido apolar

Três fenômenos essencialmente distintos - floculação, coalescência e sedimentação - são


os responsáveis pela permanência do estado disperso em um sistema de dois líquidos
imiscíveis. A colisão entre as gotículas do disperso pode facilitar a floculação, que por sua
vez pode levar à coalescência e formação de gotículas maiores. A sedimentação é
conseqüência da diferença de densidades entre as duas fases. Disso resulta que a fase
dispersa pode tomar-se uma fase contínua, separada do meio de dispersão por uma
única interface - é a "quebra" completa da emulsão. O tempo necessário para que a
"quebra da emulsão" ocorra pode variar de alguns segundos até vários anos, dependendo
da formulação da emulsão e das condições de preparação da mesma (quanto maior o
tempo de separação das fases componentes de uma emulsão, mais estável ela é.

Para se conseguir uma emulsão razoavelmente metaestável é importante uma boa


agitação mecânica (energia de corte) durante o preparo da emulsão, e é necessária a
presença de um terceiro componente - o agente emulsificante. Dentre os materiais mais
importantes para promover a estabilidade de uma emulsão estão as substâncias tenso-
ativas e os sólidos finamente divididos (pulverizados). O agente emulsificante facilita a
emulsificação e provoca a estabilidade do sistema resultante. O emulsificante forma um
filme adsorvido em tomo das gotículas do líquido disperso, o que ajuda a impedir a
floculação e coalescência. O mecanismo de estabilização é via de regra complexo e pode
variar de sistema para sistema.

Espuma

Uma espuma é uma dispersão grosseira de um gás em um líquido. Alguns autores


reconhecem a existência de dois tipos de espumas. O primeiro tipo, espuma constituída
por bolhas aproximadamente esféricas separadas por filmes relativamente espessos de
um líquido viscoso, é chamada de espuma espessa. O segundo tipo, denominado de

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espuma estável, é constituído por celas gasosas poliédricas, separadas por um fino filme
de líquido.

A qualidade (Qu) de uma espuma é definida como a relação entre o volume da fase
gasosa e o volume global do sistema, sob certas condições de temperatura e pressão. A
fração volumétrica da fase líquida é determinada por 1- Qu.

Volume de fase gasosa


QuT , P =
Volume de espuma

Drenagem de uma espuma é a separação por sedimentação da fase líquida devido


principalmente à grande diferença entre as densidades das fases ou a perturbações
mecânicas do sistema. Entende-se por tempo de meia-vida de uma espuma como o
tempo necessário para que metade do volume da fase líquida se separe do sistema.

Semelhante ao que acontece para a estabilização das emulsões, as espumas também


requerem um tensoativo - agente espumante - para atingir um nível de estabilidade
razoável Embora as espumas sejam sistemas muito instáveis do ponto de vista
termodinâmico, podemos determinar o grau de estabilidade relativo através de testes que
determinam a cinética de drenagem da fase líquida.

Os fatores principais que determinam a estabilidade de uma espuma são: a drenagem da


fase-líquida e a tendência à ruptura do filme em conseqüência de perturbações (quanto
maior a taxa de drenagem da fase líquida menor é a estabilidade da espuma). A taxa de
drenagem pode ser reduzida aumentando-se a viscosidade da fase líquida e usando um
espumante adequado.

Como fluido consistente que é, e com características reológicas próprias, a espuma chega
a ter uma força de arraste 12 (doze) vezes superior à força de arraste da água, sob uma
velocidade média de fluxo de 125 pés/min. A variável independente principal que afeta as
propriedades de fluxo da espuma é a fração volumétrica da fase líquida (1,0 - Qu). A
viscosidade e capacidade de carreamento aumentam quando a fração volumétrica da
fase líquida diminui.

Fluidos do tipo mistura gás-líquido são normalmente utilizados com a finalidade primária
de redução de densidade frente a determinadas formações. A espuma é preferida em
operações que necessitem de um fluido mais viscoso e consistente.

Sedimentação

As partículas de um sistema disperso estão sob a influência de dois fenômenos opostos:


a gravidade, cuja força tende a separar as fases e o movimento Browniano, que ajuda a
manter as partículas em suspensão. Na ausência de outros efeitos, existe uma massa
crítica da partícula, acima da qual a sedimentação deve ocorrer, devido a força
gravitacional.

Algumas substâncias são consideradas inertes por que não interagem, ou interagem
muito pouco, com o meio de dispersão. Matérias como a baritina ou barita (BaS04), a
calcita ou o calcário (CaCO3), a sílica e os silicatos (SiO2, SiO4), a hematita (Fe203), a
galena (PbS), sob certas condições de temperatura, pressão e dimensão são

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praticamente inertes e se decantam quando adicionados a um meio aquoso. Outros
materiais, no entanto, interagem com o seu meio de dispersão e são chamados de ativos.
As argilas de um modo geral (bentonitas, caulinitas, atapulgitas, ilitas, etc.) formam
dispersões com certos meios aquosos e por isso são considerados ativos. Certos
polímeros, amidos e gomas naturais se hidratam quando em presença de um meio
aquoso, portanto são também considerados ativos.

Um material inerte pode, contudo, se tomar ativo pela redução do tamanho da partícula
dispersa, isto é, pelo aumento do grau de dispersão ou pela geração de carga na sua
superfície.

Tabela 4 - Exemplos de produtos ativos e inertes, quando dispersos em água

Inertes Ativos
Baritina Bentonita
Calcita Polímeros (CMC, HEC, CMHEC)
Hematita Biopolímeros (goma xantana)
Galena Amidos
Silicatos Gomas

Funções dos Fluidos de Perfuração

Algumas funções básicas são comuns aos diversos tipos de fluidos de perfuração
existentes:

• limpar o fundo do poço, transportando os cascalhos gerados pela broca até a superfície;
• exercer pressão hidrostática sobre as formações de modo a evitar o influxo de fluidos
indesejáveis;
• resfriar e lubrificar a coluna de perfuração e a broca.

Além das funções relacionadas, os fluidos de perfuração devem ser projetados de tal
forma que suas propriedades possam ser alteradas, quando necessário, a fim de garantir
uma perfuração rápida e segura e uma completação bem sucedida.

Dessa forma, o fluido deve apresentar as seguintes características:

• ser estável quimicamente;


• estabilizar as paredes do poço, mecânica e quimicamente;
• facilitar a separação dos sólidos perfurados (cascalhos) na superfície;
• manter os sólidos em suspensão quando em repouso;
• não causar danos às rochas produtoras;
• aceitar qualquer tratamento, físico ou químico;
• ser bombeável;
• apresentar baixo grau de corrosão e de abrasão em relação à coluna de perfuração e
demais equipamentos do sistema de circulação;
• não prejudicar as informações geológicas;
• possuir baixa toxicidade e alta biodegradabilidade;
• apresentar custo compatível com a operação.

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Classificação dos Fluidos de Perfuração

A definição e classificação de um fluido de perfuração consideram os componentes


dispersantes e dispersos, além dos aditivos químicos empregados na sua composição.

Devido a variedade e complexidade dos fluidos de perfuração, aparecem algumas


divergências entre autores com relação à classificação dos fluidos. Entretanto, o principal
critério se baseia no constituinte principal da fase contínua ou dispersante. Uma vez que
este pode ser a água, uma fase orgânica (ou óleo) ou o ar (ou gases), os fluidos são
classificados, primariamente, por

(I) Fluidos à base de água ou fluidos aquosos


(II) Fluidos à base de orgânicos (ou óleo) ou fluidos não aquosos
(III) Fluidos à base de gás (ou ar)

Tabela 5 — Classificação geral dos fluidos de perfuração

Fluidos à base de água


Classes Subclasses
Não Inibidos Iniciais e Naturais
Tratados (ou floculados) com soda cáustica
ou cal
Dispersos Com fosfatos complexos
Com afinantes orgânicos (tanino, lignito ou
lignosulfonato)
Com lignosulfonato/lignito
Inibidos Com cal hidratada
Com gesso
Com cloreto de cálcio
Com cloreto de sódio
Salgados saturados
Com cloreto de potássio
De baixo teor de sólidos Com água pura
Com água e polímeros
Com argila/polímeros
Emulsionados com óleo Emulsão O/A (5 a 40 % vol de fase oleosa)

Fluidos à base de orgânicos (ou óleo)


Emulsão direta propriamente dita (teor de água < 10% vol)
Emulsão inversa (teor de água: 10 a 45 % vol)
Fluidos à base de ar
Gás (ar ou nitrogênio)
Névoa
Espuma
Fluidos aerados

A natureza das fases dispersante e dispersa, bem como os componentes básicos e as


suas quantidades definem não apenas o tipo de fluido, mas também suas características

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e propriedades. A tabela 5 mostra a classificação geral dos fluidos à base de água, à base
de orgânicos e à base de ar.

Propriedades dos Fluidos de Perfuração

As propriedades de controle dos fluidos podem ser físicas ou químicas. As propriedades


físicas são mais genéricas e medidas em qualquer tipo de fluido, enquanto que as
químicas são mais específicas e determinadas para distinguir certos tipos de fluidos.

As propriedades físicas mais importantes e freqüentemente testadas nas unidades de


perfuração ou completação são a massa específica, os parâmetros reológicos, as forças
géis, os parâmetros de filtração e o teor de sólidos. Outras propriedades físicas incluem a
resistividade elétrica, índice de lubricidade e estabilidade elétrica.

As propriedades químicas determinadas com maior freqüência são o pH, os teores de


cloreto (salinidade) e as alcalinidades: Pm, Pf e Mf. Outras propriedades químicas são: o
teor de cálcio e de magnésio; a concentração de H2S; a concentração de potássio,
testada nos fluidos inibidos com potássio.

Massa Específica

A massa específica ou densidade é definida como a massa de fluido por unidade de


volume, normalmente expressa em Kg/m3 ,g/cm3 ou lb/gal. Os limites de variação da
massa específíca para perfurar uma determinada formação são definidos pela pressão de
poros (limite mínimo) e pela pressão de fratura (limite máximo) daquela formação. Para
converter o valor de massa específica em pressão equivalente (ou vice-versa) utiliza-se a
seguinte equação de pressão estática:

Ph= ρgH

Onde Ph é a pressão hidrostática, ρ a massa específica do fluido, g a aceleração da


gravidade e H a altura da coluna de fluido.

A densidade dos fluidos nos campos de petróleo é determinada manualmente, através de


uma balança densimétrica (conhecida por balança de lama), empregando um método
padronizado pelo API (American Petroleum Institute) (API RP-13B). Quando se deseja
aumentar a massa específica de certo fluido, adiciona-se geralmente baritina, sulfato de
bário (BaS04), que tem densidade média de 4,25, superior à densidade dos sólidos
perfurados (2,6). Para reduzir a densidade dos fluidos à base de água, normalmente se
utiliza água (densidade=1,0) ou, em alguns casos, uma fase orgânica, como n-parafina
(d=0,74), por exemplo.

Parâmetros Reológicos

o comportamento de fluxo de um fluido é definido pelos seus parâmetros reológicos.


Estes são determinados considerando um modelo matemático particular, o qual influencia
diretamente no cálculo das perdas de carga na tubulação e velocidade de transporte dos
cascalhos. Os modelos mais usuais são o de Newton, de Bingham ou plástico ideal, de
Ostwald de Waale ou de potência e o de Hershel-Buckley ou potência modificado.

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A figura 1 mostra as equações matemáticas dos citados modelos e as suas
representações gráficas.

Tensão de
cisalhamento τ = LE+VPγ

τ = kγ n

τ =µ γ

Taxa de deformação

Figura 1 - Curvas de fluxo dos modelos de fluido mais usuais e suas expressões
matemáticas

Para cada modelo reológico estão associados certos parâmetros. O modelo mais
empregado no tratamento dos fluidos de perfuração é o modelo Binghamiano, cujos
parâmetros são a viscosidade plástica µp, e o limite de escoamento το . A viscosidade
plástica é a medida da resistência ao fluxo devido à ação cisalhante do próprio fluido e do
atrito mecânico entre os sólidos dispersos. O limite de escoamento é a componente que
indica o grau de interação eletrostática entre as partículas, quando o fluido está escoando.

Os parâmetros de fluxo do modelo de potência são o índice de fluxo (n) e o índice de


consistência K. O índice de fluxo mede o grau de afastamento do fluido do
comportamento Newtoniano. Quando o valor deste parâmetro se aproxima da unidade o
fluido se aproxima do comportamento Newtoniano. O índice de consistência indica, como
o próprio nome sugere, o grau de consistência do fluido. Portanto, quanto maior for a
força de resistência ao fluxo maior será o índice de consistência. Este é modelo mais
usual para cálculo das perdas de carga e da capacidade de transporte do fluido.

Para medir as propriedades reológicas do fluido se emprega o viscosímetro rotativo de


cilindros coaxiais, onde o fluido é disposto entre os cilindros concêntricos. O método é
descrito em procedimento padrão RP13B do API. O cilindro externo gira a uma velocidade
constante e produz deflexões no cilindro interno. O viscosímetro usual é o Fann V. G.
Meter, mod. 35A, cujas velocidades são 3, 6, 100, 200, 300 e 600 rpm. Neste
viscosímetro, as dimensões dos cilindros foram projetadas de modo que a leitura do

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instrumento a 300 rpm corresponda diretamente à viscosidade de um fluido Newtoniano,
em cP (centipoise). Dessa forma, os parâmetros reológicos dos modelos não-
Newtonianos podem ser calculados pelas relações a seguir.

 Modelo de Bingham
VA = θ600/2 cP
VP = θ600 - θ300 cP
LE = 1,066x(θ300 –VP) lbf/100 ft2

 Modelo de Potência
n = 3,32 log (θ600/θ300) adimensional
k = 1,066 x θ600/1022n (lbfsn/100ft2)

Onde VA é a viscosidade aparente e θi é a deflexão lida no viscosímetro a uma rotação i.

Forças Géis

Alguns fluidos de perfuração são tixotrópicos, isto é, adquirem um estado semi-rígido


quando estão em repouso e voltam a adquirir um estado de fluidez quando estão em
movimento. A força gel é um parâmetro de natureza reológica que indica o grau de
interação elétrica entre as partículas dispersas. As medidas das forças géis indicam o
grau de tixotropia do fluido. A força gel inicial mede a tensão, em Ibf/100 ft2 , para colocar
o fluido em movimento, após o mesmo ter sido agitado e mantido em repouso por 10
segundos. É uma medida da resistência do fluido ao início do escoamento. A força gel @
10 minutos mede a tensão, em Ibf/100 ft2 , para colocar o fluido em movimento, após o
mesmo ter sido agitado e permanecido 10 minutos em repouso. É uma medida da
resistência do fluido para reiniciar o escoamento quando o mesmo passa certo tempo em
repouso. A diferença entre estas duas grandezas indica o grau de tixotropia, ou seja, a
capacidade do fluido se gelificar com o tempo, impedindo a sedimentação de partículas
sólidas. Atualmente, costuma-se também determinar a força gel @ 30 minutos, que
representa a tensão, em Ibf/100 ft2 , para colocar o fluido em movimento, após o mesmo
ter sido agitado e permanecido 30 minutos em repouso.

Parâmetros de Filtração

A habilidade do fluido de perfuração em formar uma camada de pequenas partículas


sólidas úmidas, denominada de reboco, sobre as formações permeáveis expostas pela
broca é de fundamental importância para o sucesso da perfuração e da completação do
poço. O influxo da fase líquida do fluido, devido ao diferencial de pressão poço-formação,
seguido do depósito do reboco sobre as paredes do poço, é conhecido por filtração.

Para se formar o reboco é essencial que o fluido tenha uma fração razoável de partículas
com dimensões ligeiramente menores do que as dimensões dos poros das rochas
expostas. Quando existem partículas sólidas com dimensões adequadas, a obstrução dos
poros é rápida e somente a fase líquida do fluido, denominada de filtrado, invade a
formação.

O volume de filtrado e a espessura do reboco são os dois parâmetros medidos


rotineiramente para definir o comportamento do fluido no tocante à filtração. No teste de
campo, o fluido é submetido a uma filtração em uma célula padrão, sob condições

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estáticas e através de um papel de filtro durante 30 minutos. Após este tempo, mede-se o
volume de filtrado acumulado e a espessura do reboco depositado sobre o papel.

Teor de Sólidos, Água e Óleo

O teor de sólidos é medido indiretamente através de uma retorta metálica, que destila as
frações líquidas do fluido (água, fase orgânica ou óleo), recolhendo-as em uma proveta
graduada com capacidade de 10 ml. Os sólidos totais, dispersos e dissolvidos, ficam
retidos em uma câmara metálica também com 10 ml de capacidade. Por diferença do
volume da câmara e do volume de líquidos recolhidos na proveta, chega-se ao teor de
sólidos, expresso geralmente em percentual volumétrico.

O teor de sólidos, cujo valor deve ser mantido no mínimo possível, é uma propriedade que
deve ser controlada com rigor porque o seu aumento implica no aumento de várias outras
propriedades, tais como densidade, viscosidade e forças géis, além de aumentar a
probabilidade da ocorrência de problemas do tipo: desgaste dos equipamentos de
circulação, fratura das formações devido à elevação das pressões de bombeio e/ou
hidrostática, prisão por pressão diferencial e redução da taxa de penetração.

O tratamento do fluido para reduzir o teor de sólidos pode ser preventivo ou corretivo. O
tratamento preventivo consiste em inibir o fluido, física e/ou quimicamente, evitando-se a
dispersão dos sólidos perfurados. No método corretivo pode-se fazer uso de
equipamentos extratores de sólidos, tais como tanques de decantação, peneiras,
hidrociclones e centrífugas, ou diluir o fluido. A diluição é um processo que deve ser
evitado porque onera bastante o custo do fluido devido à necessidade de reposição de
seus componentes.

pH - Concentração Hidrogeniônica

O termo pH é usado para expressar a concentração, em uma escala logarítmica, relativa


aos íons de hidrogênio presentes em uma solução aquosa. O valor relativo da acidez ou
alcalinidade é, portanto, definido dentro de uma escala de 0 a 14. Nesta escala, o valor
mínimo, isto é pH=0, corresponde à concentração hidrogeniônica de 1 molar. O pH é
definido pela expressão:

pH = -log[H+]

onde [H+] representa a concentração molar do íon hidrogênio (moles/litro).

Para a água pura, [H+] = [OH-] = 107 , ou seja pH = 7. Em qualquer solução aquosa o
produto [H+] x [OH-] permanece constante, isto é, pH + pOH = 14. Portanto, uma solução
cujo pH < 7 ou [H+] > [OH-] é dita ácida, enquanto que aquela cujo pH > 7 ou [H+] < [OH-],
é dita básica ou alcalina. O pH dos fluidos de perfuração é medido através de papéis
indicadores ou de potenciômetros e são, em geral, mantidos no intervalo alcalino baixo,
isto é acima de 7 e abaixo de 10, com o objetivo principal de reduzir a taxa de corrosão
dos equipamentos e evitar a dispersão das formações argilosas.

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Alcalinidades

O pH determina apenas uma alcalinidade ou acidez relativa à concentração de íons


hidrogênio (H+) no sistema, empregando métodos comparativos. A alcalinidade de um
fluido aquoso provém de uma ou mais das seguintes espécies químicas:
(i) OH- - hidróxido;
(ii) CO32- - carbonato;
(iii) HCO3 - - bicarbonato.

Portanto, a determinação das alcalinidades por métodos diretos de titulação volumétrica


de neutralização é registrada, principalmente, em relação às espécies carbonatos (CO32-)
e bicarbonatos (HCO3-) dissolvidos no fluido, além dos íons hidroxila (OH-).

A medida da alcalinidade pelo pH fornece a concentração relativa da acidez do sistema,


porém não indica a concentração de cada um dos radicais acima. Para isso, recorre-se à
titulação com o ácido sulfúrico em meio contendo um indicador apropriado. Os
indicadores comumente empregados são a fenolftaleína e o metilorange.

Nos testes de rotina são registrados três tipos de alcalinidades:


• alcalinidade parcial do filtrado (Pf), usando a fenolftaleína como indicador, como volume
de uma solução tituladora de ácido sulfúrico N/50, em cm3;
• alcalinidade parcial do fluido (Pm), usando a fenolftaleína como indicador, como volume
de uma solução tituladora de ácido sulfúrico N/50, em cm3;
• alcalinidade total do filtrado (Mf), usando o metilorange como indicador, como volume de
uma solução tituladora de ácido sulfúrico N/50, em cm3;

Se um fluido contiver somente OH-, apenas Pf é determinado, não havendo CO3 2- nem
HCO3-, a viragem ao metilorange ocorre com a primeira gota de solução de H2SO4 N/50.

À medida que o Mf cresce, tomando-se maior do que o Pf, a alcalinidade passa a ser
devida a OH- + CO32-, a C032- + CO3H- e, por fim, somente a HCO3- , quando o Pf = 0.

Entre o Pf = Mf e Pf = O, várias relações entre o Pf e o Mf podem ser deduzidas, cada


uma sendo apropriada para fornecer a concentração de cada um dos radicais. As
concentrações dessas espécies são expressas em epm (equivalentes partes por milhão),
ppm, mg/l e em g/l, conforme a conveniência. As alcalinidades geralmente são expressas
em epm, usando-se o cálcio como termo de comparação de equivalência. O peso atômico
do cálcio é 40 mol-g e o valor absoluto de sua valência é 2. Em termos valenciais, Ca2+ =
2OH-, Ca2+ = CO32- e Ca2+ = 2 HCO3 -. Por conseguinte, o equivalente de OH- em Ca2+ é
20, o equivalente de CO32- em Ca2+ é 40, etc. As combinações possíveis entre Pf e Mf
estão na tabela 6. Os cálculos podem ser efetuados utilizando as fórmulas contidas na
tabela 7.

14
Tabela 6 - Interpretação das espécies alcalinas em função dos valores de Pf e Mf

Resultados das Interpretação


-
medidas OH CO32- HCO3-
Pf = Mf Pf 0 0
Pf < ½ Mf 0 2Pf Mf – 2 Pf
Pf = ½ Mf 0 2Pf 0
Pf > ½ Mf 2Pf – Mf 2(Mf-Pf) 0
Pf = 0 0 0 Mf

As fórmulas apresentadas na tabela 3, a seguir, são baseadas nas relações:


(i) 1 epm de OH- = 17 ppm de OH- ;
(ii) 1 epm de CO32- = 30 ppm de CO32- ;
(iii) 1 epm de HCO3- = 61 ppm de HCO3- ,

e nas equivalências estequiométricas entre Ca2+ e OH- , CO32- e HCO3- anteriormente


apresentadas.

Tabela 7 — Expressões para cálculos da concentração das espécies alcalinas


Resultado Íon Alcalinidade epm ppm
-
Pf=Mf OH Pf 20Pf 340Pf
Pf< ½ Mf CO 32- 2Pf 40Pf 1200Pf
HCO3- Mf-2Pf 20(Mf-2Pf) 1220(Mf-2Pf)
Pf = ½ Mf CO 32- 2Pf 40Pf 1200Pf
-
Pf > ½ Mf OH 2Pf-Mf 20(2Pf-Mf) 340(2Pf-Mf)
2-
CO3 2(Mf-Pf) 40(Mf-Pf) 1200(Mf-Pf)
Pf = 0 HCO3- Mf 20Mf 1220Mf

Teor de Cloretos ou Salinidade

O ensaio de salinidade de um fluido é também uma análise volumétrica de precipitação


feita por titulação dos íons cloretos com solução tituladora de nitrato de prata e solução
indicadora de cromato de potássio. O método de Mohr, normalmente usado no campo,
consiste em precipitar o cloreto de prata, mediante reação entre cloretos solúveis e o
nitrato de prata, em solução neutra ou levemente alcalina e em presença de cromato de
potássio que age como indicador de viragem.

Existem alguns interferentes que precisam ser eliminados, a fim de se obter resultados
mais precisos. Algumas regras básicas para eliminar erros no método volumétrico de
Mohr são:

(i) em solução de pH menor que 7, o indicador não funciona, e em pH maior que


10,5, prata é precipitada em forma de hidróxido;
(ii) se a solução contiver cátions pesados, tais como, ferro, estanho, bismuto,
zinco, que formam sais básicos ou que podem reduzir o nitrato, é necessário
eliminá-los, previamente, por precipitação com hidróxido de amônio, hidróxido
de sódio ou carbonato de potássio. Primeiramente, trata-se a solução com
HNO3, em excesso (10 cm3 para 150 cm3 de solução). Em seguida, adiciona-se
o hidróxido de. amônio em quantidade suficiente para precipitar os metais

15
pesados. Filtrar e lavar várias vezes com água destilada. No filtrado, dosar os
cloretos, depois de ajustado o pH com HN03;
(iii) o chumbo e o boro formam, com o cromato, precipitados insolúveis;
(iv) cobre, níquel e cobalto, além de redutores, também interferem pela cor que
desenvolvem;
(v) os anions iodeto, tiocianato, fosfato, pirofosfato, arseniato, sulfeto, sulfito,
carbonato e oxalato formam sais de prata insolúveis;
(vi) substâncias orgânicas tanto podem agir como redutores, como através da cor
que possam desenvolver.

Em geral, o tratamento prévio com ácido nítrico e a posterior correção do pH com


hidróxido de amônio ou de sódio, deixa a solução de cloreto livre de interferências.

A salinidade é geralmente expressa em mg/l de cloretos, mg/l de NaCl equiva-


lente ou em ppm de NaCl equivalente. Quando a salinidade é inferior a 40.000 mg/l de
NaCl, pode-se usar com boa aproximação, a igualdade:

mg/l de NaCl = ppm de NaCl

Entretanto, quando se deseja um maior rigor nos resultados, deve-se considerar a relação
exata:

Salinidade, mg / l
Salinidade, ppm =
Densidade da solução

Nas determinações de campo os resultados de salinidade são usados, principalmente,


para identificar o teor salino da água de preparo do fluido, controlar a salinidade de fluidos
inibidos com sal, detectar influxos de água salgada e identificar a perfuração de uma
rocha ou domo salino.

Teor de Ca2+ e Mg2+ ou Dureza

A dureza de uma água é expressa, de modo geral, pela concentração de sais solúveis de
cálcio e magnésio. Ambos podem ser determinados tanto por gravimetria como por
volumetria. Na prática de fluido de perfuração, usa-se o processo volumétrico através
complexometria com EDTA, denominado também de método do Versanate.

Em filtrados aquosos, o Ca2+ e o Mg2+ tanto podem ser agentes contaminantes como
agentes de tratamento do fluido, a depender do tipo de fluido considerado. No caso das
águas naturais, os dois íons formam os sais que conferem "dureza" às mesmas. A soma
das concentrações dos sais destes metais, que são capazes de produzir precipitados que
formam incrustações sob determinadas condições de temperatura e pressão, constitui-se
no que se convencionou denominar de Dureza Total.

O reagente do método complexométrico para se determinar a Dureza é o sal sódico do


ácido etilenodiaminotetracético dihidratado (Na2H2C10H1208N2.2H20), conhecido pela sigla
EDTA. Este sal forma com vários cátions metálicos, como Ca2+, Mg2+, Fe3+, complexos
quelatos solúveis. Condicionando-se convenientemente o meio, a reação pode se
processar de modo seletivo. Assim, se numa solução aquosa coexistir os íons Ca2+ e
Mg2+, o EDTA se combina primeiro com o íons Ca2+ e, em seguida, com o íon Mg2+,

16
desde que se mantenha o pH em torno de 10, bloqueando a ação de outros cátions
porventura presentes. Se o pH for mantido entre 12 e 13, apenas o Ca2+ será
complexado, enquanto o Mg2+ é precipitado na forma de Mg(0H)2. O ponto final da reação
é obtido através de um corante (indicador) específico, escolhido para cada caso. Alguns
íons metálicos podem se constituir em interferentes do método. Alguns deles podem
causar esmaecimento da cor ou provocar ponto final pouco diferençável. Contra este
efeito são utilizados certos inibidores na amostra, antes o início da titulação.
A literatura sobre o método complexométrico apresenta os diversos inibidores usados.
Quer seja coloidal ou não, a matéria orgânica, que confere cor ao meio, interfere no ponto
de viragem da reação de complexometria porque mascara a cor exata. Para eliminar a
matéria orgânica, pode se usar um dos procedimentos seguintes:
(i) incineração;
(ii) destruição da matéria orgânica com oxidantes, tal como H2O2.

A incineração consiste em secar completamente, em banho-maria, a amostra de solução;


colocar o resíduo seco em forno a 600°C durante o t empo necessário; dissolver o resíduo
incinerado com 20 cm3 de HCl 1N; neutralizar a solução obtida até pH 7, com solução de
NaOH 1N; completar o volume para 50 cm3 com água destilada.

A destruição da matéria orgânica com H2O2 consiste em adicionar, à amostra de solução


em análise, 1 a 2 cm3 de H2O2 concentrado ou 30 a 50 cm3 de água oxigenada 20
volumes; levar à ebulição lenta, em chapa de aquecimento, até secar completamente;
dissolver o resíduo com um pouco de água destilada (30 a 50 cm3 ); se a solução
apresentar alguma cor semelhante à original, repetir os procedimentos anteriores tantas
vezes quantas necessárias a fim de se conseguir uma solução incolor; tornar a solução
neutra (pH = 7), conforme explicado na incineração.

Teor de Bentonita ou de Sólidos Ativos

O teste do azul de metileno ou MBT é uma análise volumétrica por adsorção de uma
substância corante, de cor azul intenso. O azul de metileno, portanto, serve como
indicador da quantidade de sólidos ativos ou bentoníticos no fluido de perfuração. Este
método fornece uma indicação da Capacidade de Troca de Cátions (CTC) das argilas e
sólidos ativos presentes no fluido.

O método se baseia no poder que certos colóides tem de adsorver diversas substâncias
coloridas. Se a substância adsorvida desenvolver uma cor factível de ser medida, torna-se
possível não apenas identificar, mas quantificar o teor de colóides no sistema. É o caso
do azul de metileno ou cloreto de metiltionina.
O teste de MBT consiste em adicionar, sistematicamente, a solução do corante a uma
amostra de fluido, previamente diluída e acidificada. O corante é, então, adsorvido até um
ponto definido e reprodutível. Quando um pequeno excesso atinge o sistema, o corante
tinge a amostra, definindo o ponto final da reação. O resultado pode ser expresso em
centímetros cúbicos da solução de azul de metileno gastos na titulação ou em quantidade
equivalente de bentonita, em lb/bbl.

Teor de Sulfetos

O sulfeto está freqüentemente presente em águas subterrâneas, especialmente em fontes


quentes, sendo comum em águas residuais, como resultado da decomposição de matéria

17
orgânica, algumas vezes de despejos industriais, principalmente pela redução
bacteriológica do sulfato. Despejos aquosos contendo sulfetos contaminam a atmosfera
com gás sulfídrico, causando odores desagradáveis. O gás sulfídrico é muito tóxico, ataca
diretamente os metais porque é oxidado biologicamente a ácido sulfúrico nas paredes das
tubulações, provocando uma corrosão localizada, característica do H2S.

Na determinação de sulfetos totais determinam-se as espécies químicas HS- e S2-,


solúveis em meio ácido, presentes na matéria em suspensão. A concentração de cada
espécie é função do pH, além da temperatura e da pressão. A concentração do íon S2-,
por exemplo, é desprezível nas condições em que os fluidos de perfuração são usados,
constituindo-se em menos do que 0,5% dos sulfetos totais solúveis em pH = 12, menos
do que 0,05% em pH = 11, e assim por diante. Isto é, sua concentração tende a zero,
quando o pH tende para 8.

A presença do gás sulfídrico nos fluidos de perfuração pode ser confirmada com papel
semi-quantitativo de acetato de chumbo. Na exposição ao vapor, ou no contato da
amostra líquida, ligeiramente acidificada, o papel torna-se enegrecido, pela formação de
sulfeto de chumbo. Outro método semi-quantitativo emprega uma lâmina de prata, que é
mais sensível do que o papel de acetato de chumbo. O método recomenda limpar a
lâmina de prata, mergulhando-a em solução de cianeto de sódio, e enxaguar, antes de
proceder o teste. A prata é particularmente indicada para longo tempo de exposição na
possibilidade de presença de gás sulfídrico porque o sulfeto de prata preto é permanente,
enquanto que o de chumbo oxida-se lentamente. Existem métodos volumétricos mais
precisos. O método, empregado nos campos de petróleo, denominado Garret Gás Train
(GGT), consiste em reduzir o pH do fluido, transformando todo o sulfeto em H2S, e
provoca o arraste deste através de uma corrente de gás inerte (N2, CO2), medindo a
concentração de H2S por adsorção em meio contendo o sal acetato de chumbo.

Fluidos à Base de Água (Fluidos Aquosos)

A definição de um fluido à base de água considera principalmente a natureza da água e


os aditivos químicos empregados no preparo do fluido. A proporção entre os
componentes básicos e as interações entre eles provocam sensíveis modificações nas
propriedades físicas e químicas do fluido. Conseqüentemente, a composição é o principal
fator a considerar no controle das suas propriedades.

A água é a fase contínua e o principal componente de qualquer fluido à base de água,


podendo ser doce, dura ou salgada. A água doce, por definição, apresenta salinidade
inferior a 1.000 ppm de NaCl ou equivalente. Do ponto de vista industrial, para aplicação
em fluidos de perfuração, a água doce não necessita de pré-tratamento químico porque
praticamente não afeta o desempenho dos aditivos empregados no preparo do fluido. A
água dura tem como característica principal a presença de sais de cálcio e de magnésio
dissolvidos, em concentração suficiente para alterar o desempenho dos aditivos químicos.
Uma dureza superior a 200 ppm já é suficiente para causar problemas durante o preparo
do fluido. A água salgada é, por definição, aquela com salinidade superior a 1.000 ppm de
NaCl ou equivalente e pode ser natural, como a água do mar por exemplo, ou pode ser
salgada com a adição de cristais de sais como o NaCl, KCl ou CaCl2. A água com
salinidade entre 1.000 e 3.500 ppm é denominada de salobra.

18
Os componentes básicos de um fluido de perfuração à base de água são: viscosificante,
gelificante, alcalinizante, floculante, inibidor físico ou químico, dispersante, redutor de
filtrado e adensante (vide tabela 4). Embora este conjunto represente os componentes
mais usados, alguns deles podem estar ausentes da composição de um certo tipo de
fluido. Outros produtos químicos mais específicos, como anti-corrosivos, traçadores, anti-
espumantes não foram incluídos na tabela 8 devido ao uso esporádico, mas podem
compor o fluido em função de necessidades circunstanciais.

Tabela 8 — Componentes Básicos que aparecem na composição dos Fluidos de Perfu-


ração à base de Água

Componente Concentração Função


Água doce ou salgada QSP Meio de dispersão
Bentonita 5 – 30 lb/bbl Viscosificante e gelificante
Soda cáustica (CaO ou 0,25 – 1,0 lb/bbl Alcalinizante e/ou floculante
MgO)
Amido (ou CMC BV) 4,0 – 12,0 (1,0 – 4,0) lb/bbl Redutor de filtrado
Polímero 0 – 2,0 lb/bbl Viscosificante e/ou inibidor
físico
Eletrólitos (Ca(OH)2, NaCl, 0 – 15 lb/bbl Inibidor químico
KCl, CaCl2 )
Baritina, Hematita Função da densidade Adensante
programada

Para fins didáticos, podemos dividir os componentes dos fluidos à base de água em:
água, sólidos e aditivos químicos. A principal função da água é prover o meio de
dispersão para os materiais coloidais. Os materiais coloidais, principalmente argilas e
polímeros, controlam as propriedades reológicas, os valores de géis e filtrado em valores
adequados para conferir ao fluido uma boa capacidade de remoção dos sólidos
perfurados e de estabilização das paredes do poço. A princípio, qualquer tipo de água
pode ser empregado, entretanto a sua qualificação é de suma importância porque, como
influencia o desempenho dos aditivos químicos, as concentrações de aditivos usadas na
composição do fluido, refletirão diretamente no custo final por unidade de volume do
fluido. Os fatores a serem considerados na seleção da água de preparo são:
disponibilidade, custo com transporte e tratamento; tipos de formações geológicas a ser
perfuradas; produtos químicos a ser utilizados na formulação do fluido e equipamentos e
técnicas a ser usadas na avaliação das formações, como, por exemplo, tipos de perfis a
serem corridos no poço.

Os sólidos dispersos no meio aquoso podem ser ativos ou inertes. Os sólidos ativos são
materiais argilosos cuja função principal é aumentar a viscosidade do fluido. A argila mais
utilizada como viscosificante de fluidos de perfuração é a bentonita, usada diretamente na
fabricação dos fluidos de água doce ou pré-hidratada em água doce na preparação dos
fluidos de água salgada. Outra argila usada em menor escala é a atapulgita, que pode ser
adicionada diretamente na água salgada para aumentar sua viscosidade, sem a
necessidade de pré-hidratação.

Os sólidos inertes presentes nos fluidos de perfuração têm duas origens: aditivos
compostos por materiais industrializados e detritos finos das rochas perfuradas. O sulfato

19
de bário (baritina) é o sólido inerte mais comum dentre os produtos comercializados,
utilizado para aumentar a massa específica (peso) do fluido de perfuração. Outros
adensantes usados são a calcita e a hematita. Os sólidos inertes oriundos das rochas
perfuradas são areia, silte, e calcáreo fino.

O terceiro grupo de componentes são os produtos químicos. Neste grupo estão incluídos:

1) alcalinizantes e controladores de pH como a soda cáustica (NaOH), potassa cáustica


(KOH), cal hidratada (Ca(OH)2) e óxido de magnésio (MgO);

2) dispersantes como o lignosulfonato, tanino, lignito e fosfatos;

3) redutores de filtrado como o amido e o carboxi metil celulose (CMC);

4) floculantes como a soda cáustica (NaOH) e a cal (CaO);

5) polímeros de um modo geral como o carboxi metil celulose (CMC), GOMA XANTANA,
POLIACRILAMIDA, usados para viscosificar, deflocular ou reduzir filtrado;

6) surfactantes empregados como emulsificantes e redutores de tensão superficial;

7) removedores de cálcio e magnésio como a soda ash (Na2CO3) e o bicarbonato de


sódio (NaHCO3);

6) inibidores de formações ativas como o cloreto de potássio (KCl), cloreto de sódio


(NaCl) e cloreto de cálcio (CaCl2);

9) inibidores de corrosão como os derivados amínicos;

10) bactericidas como glutaraldeído.

Os fluidos não-inibidos são empregados na perfuração das camadas rochosas


superficiais, compostas na maioria das vezes de sedimentos inconsolidados de areia ou
de calcáreo com algumas intercalações de argila. Esta etapa da perfuração é conhecida
por Fase 1 e compreende até a descida do revestimento de superfície. Como essas
rochas superficiais são praticamente inertes ao contato com água doce, pouco tratamento
químico é dispensado ao fluido durante esta fase.

Os fluidos inibidos são programados para perfurar rochas de elevado grau de atividade na
presença de água doce. Uma rocha é dita ativa quando interage quimicamente com a
água, tomando-se plástica, expansível, dispersível ou até mesmo solúvel. Nos fluidos
inibidos são adicionados produtos químicos, tais como eletrólitos e/ou polímeros, que têm
a propriedade de retardar ou diminuir estes efeitos. Estes aditivos são conhecidos por
inibidores. Os inibidores físicos, tais como polímeros, são adsorvidos sobre a superfície
dos materiais das rochas e impedem o contato direto com a água. Outros produtos, como
a cal hidratada, o cloreto de potássio, o cloreto de sódio e o cloreto de cálcio conferem
uma inibição química porque reduzem a atividade química da água, além de poder reagir
com a rocha, alterando-lhe a composição. Um exemplo típico de inibição é usado quando
se perfura uma rocha salina que tem elevado potencial de solubilidade em água doce.
Entretanto, quando se emprega um fluido salgado saturado com cloreto de sódio (NaCl)

20
na perfuração de uma formação salina, a solubilidade da rocha no fluido reduz
sensivelmente.

Os fluidos à base de água com baixo teor de sólidos e os emulsionados com óleo são
programados para situações especiais. Os primeiros são usados com a finalidade de
aumentar a taxa de penetração da broca, reduzindo o custo total da perfuração. O fluido
emulsionado com óleo tem o objetivo principal de reduzir a densidade do sistema para
evitar que ocorram perdas de circulação em zonas de baixa pressão de poros e/ou baixo
gradiente de fratura, ou auxiliar na lubrificação da coluna e equipamentos.

Fluidos à Base de Óleo ou Orgânicos (Fluidos não aquosos)

Os fluidos de perfuração são denominados à base de óleo quando a fase contínua ou


dispersante é constituída por uma fase orgânica, geralmente composta de
hidrocarbonetos líquidos ou outro composto de natureza orgânica como ésteres, por
exemplo. Pequenas gotículas de água ou de solução aquosa, dispersas uniformemente,
constituem a fase interna ou descontínua desses fluidos. Alguns sólidos coloidais, de
natureza inorgânica e/ou orgânica, podem compor a fase dispersa.

Existem duas classes de fluidos à base de óleo:


• emulsões verdadeiras, com menos de 10% em volume do teor de água.

• emulsões inversas, cujo teor de água é igual ou superior a 10% em volume.

Na preparação dos fluidos à base de óleo com teor de água igual ou superior a 10% em
volume é fundamental fornecer uma elevada energia de mistura ao sistema e adicionar
um emulsificante químico específico para proteger as gotículas da fase aquosa, geradas
durante a agitação, evitando a coalescência.

Devido ao alto custo inicial e potencial poluidor, os fluidos à base de óleo merecem
cuidados especiais para o descarte, principalmente em áreas consideradas de
preservação ambiental. Por isso, eles são empregados com menor freqüência do que os
fluidos à base de água. Suas principais características são:

• grau de inibição elevado em relação às rochas ativas;


• proteção anti-corrosiva;
• resistência térmica (estável a temperaturas acima de 350oF até 500oF);
• grau de lubricidade elevado;
• amplo intervalo para variação de densidade: 7,0 a 20,0 Ib/gal;
• baixíssima solubilidade de sais inorgânicos;
• toxicidade e biodegradabilidade em função da fase dispersante.

Devido a estas características, os fluidos à base de óleo têm apresentado excelentes


resultados na perfuração de:

• poços profundos e/ou com elevado gradiente geotérmico;


• folhelhos (formações argilosas e plásticas);
• formações salinas de halita, silvita, carnalita;

21
• arenitos produtores que apresentem elevado potencial de dano por fluidos à base de
água;
• poços direcionais e/ou delgados;
• formações com baixa pressão de poros e/ou de fratura.

Algumas desvantagens dos fluidos à base de óleo em relação aos fluidos à base de água
são apresentadas a seguir:

• dificuldade na detecção de gás no poço, devido à sua solubilidade na fase contínua;


• menores taxas de penetração;
• maior possibilidade de contaminação e poluição;
• limitações nos tipos de perfis que podem ser corridos no poço;
• dificuldades no combate à perda de circulação;
• custo inicial mais elevado.

Mos últimos anos, muitos progressos têm sido alcançados em relação à pesquisa de
novos sistemas à base de óleo. Já são utilizados no mundo inteiro os sistemas à base de
óleos sintéticos, tais como parafinas lineares e ésteres, por exemplo, e de óleos minerais,
menos poluentes que o óleo diesel, na composição do fluido à base de óleo. Os sistemas
com baixo teor de colóides têm sido usados para aumentar a taxa de penetração. Uma
composição média típica dos fluidos à base de óleo está apresentada na tabela 9.

Tabela 9 - Composição Básica de Três Tipos de Sistemas de Fluido Base Óleo, p/ bbl
Composição
Aditivos Típica p/ Alta T (> 350 oF) p/ Alta ROP
Emulsionante, Ib 4-10 6-10 2-4
Cal viva, Ib 2-10 5-10 2
Agente óleo-molhante,lb 2-4 4-6 4-8
Controlador de filtrado, Ib 3-8 3-15 -
Argila organofílica, Ib 2-4 4-10 4-10

Fluidos à Base de Ar ou Gás

A perfuração a ar ou gás é um termo genérico aplicado quando ar ou gás é usado, como


um todo ou em parte, como fluido circulante na perfuração rotativa. A tecnologia atual
distingue quatro tipos básicos de sistemas de fluidos na perfuração a ar:

• Ar puro ou gás puro;


• Névoa;
• Espuma;
• Fluidos aerados ou nitrogenados.

Os casos mais comuns que justificam o uso de ar ou gás na perfuração são:

(1) zonas com perdas de circulação severas;


(2) formações produtoras depletadas e/ou com grande susceptibilidade a danos;
(3) formações muito duras como basalto ou diabásio, por exemplo;
(4) regiões com escassez de água;
(5) regiões glaciais com camada de gelo espessa.

22
A perfuração com ar puro ou gás utiliza apenas ar comprimido seco como fluido, tendo
aplicação limitada a formações que não produzam elevadas quantidades de água nem
contenham hidrocarbonetos. Esta técnica pode ser aplicada em formações duras,
estáveis ou que apresentem fissuras, onde o objetivo é aumentar a taxa de penetração.

A perfuração com névoa, uma mistura de água dispersa no ar, é empregada quando são
encontradas formações que produzem água em quantidade ou gás suficiente para
comprometer a perfuração com ar puro. Em geral, a perfuração com névoa é executada
em conjunto com a perfuração com ar.

A espuma é uma dispersão de gás em líquido, na qual a fase contínua é constituída por
um filme delgado de uma fase líquida, estabilizado através de um tensoativo específico,
denominado espumante. O emprego da espuma como fluido circulante é justificado
quando se necessita de uma eficiência de carreamento dos sólidos elevada, uma vez que
ela apresenta alta viscosidade.

Quando se deseja perfurar com um gradiente de pressão intermediário àqueles fornecidos


pelos fluidos convencionais e as espumas, pode-se optar pela perfuração com fluidos
aerados. Esta técnica consiste em injetar ar ou gás no fluxo contínuo do fluido de
perfuração, com a finalidade principal de diminuir a densidade do sistema. A perfuração
com fluido aerado é recomendada principalmente em regiões onde ocorrem perdas de
circulação severas.

23
Argilominerais e as Formações Argilosas
Introdução

O termo argila é empregado, de modo popular, para definir qualquer material terrígeno
que adquire certa plasticidade quando umedecido com uma quantidade limitada de água.

Plasticidade é a característica que certos materiais apresentam de se deformar sob a


ação de uma tensão, permanecendo a deformação quando a tensão é retirada. Ou, em
outros termos, plasticidade caracteriza a possibilidade ou não de moldar certo material.
Os geólogos e estudiosos dos materiais do solo definem a fração argila em função da
granulometria do material ou do tamanho limite das partículas que o compõe. Sob esta
ótica, o termo argila é usado para especificar um grupo de minerais que naturalmente se
encontra na forma de minúsculas partículas com diâmetro esférico equivalente, ou
diâmetro de Stokes, inferior a 2µm.

Nenhuma das definições anteriores é rigorosa a ponto de caracterizar de forma definitiva


o material argila. Existem alguns materiais que, embora não exibam plasticidade,
possuem as mesmas propriedades químicas das argilas. Também existem cristais
terrígenos de quartzo, feldspato e calcita que, embora possam apresentar tamanhos
inferiores a 2µm, não têm plasticidade e nem comportamento químico semelhante ao das
argilas. Essencialmente, as argilas são constituídas por minúsculas partículas cristalinas
de um número limitado de minerais denominados por argilominerais. Portanto, uma argila
é um material composto por um ou mais argilominerais. Do ponto de vista químico,
argilomineral é um composto de estrutura cristalina definida, tendo como elementos
básicos silício, oxigênio, alumínio e hidrogênio, podendo apresentar ainda teor razoável
de magnésio, cálcio, potássio, sódio, ferro e outros metais, em menor proporção. A
definição do CIPEA (Comitê International pour l’Etude dês Argiles) é a seguinte:
"Argilominerais são silicatos hidratados de reticulado cristalino em camadas (lamelar) ou
de estrutura fibrosa, constituído por folhas, planos ou camadas contínuas de tetraedros de
(SiO4), ordenados em forma hexagonal, condensados com folhas ou camadas
octaédricas; os argilominerais são essencialmente constituídos de partículas de pequenas
dimensões". Em resumo, as argilas são rochas que ocorrem na natureza, constituídas de
partículas finamente divididas, com elevado teor de argilominerais. Essas partículas
passam na peneira USS no. 325 ou 325 mesh, cuja abertura é de 44 µm, tem forma
lamelar ou fibrosa, devido à estrutura cristalina dos argilominerais. Para simplificar o
estudo das argilas, uma classificação por grupos será utilizada, enfatizando o
argilomineral mais importante do grupo, do ponto de vista da geologia e engenharia de
petróleo. Assim sendo, os argilominerais podem ser divididos nos seguintes grupos: (1) da
caulinita; (2) da esmectita; (3) da vermiculita; (4) da ilita (ou das micas); (5) da clorita; (6)
dos argilominerais de camadas mistas ou interestratificadas; e (7) dos argilominerais
fibrosos ou em cadeia, da paligorsquita e sepiolita.

O conhecimento básico de mineralogia de argilas auxilia na compreensão dos fenômenos


que ocorrem na interface argila-água e na previsão de comportamento das dispersões
coloidais argilosas. Somente o fato dos minerais argilosos representarem cerca de
quarenta por cento de todos os minerais presentes nos sedimentos e rochas
sedimentares do nosso planeta já torna relevante o seu estudo. Dentre os argilominerais,
o mais abundante na crosta terrestre é a ilita, contribuindo com cerca de cinqüenta por
cento. Outros argilominerais, encontrados com freqüência regular na crosta terrestre são:

24
esmectita, argila de camada mista ilita-esmectita, clorita, argila de camada mista clorita-
esmectita, caulinita, paligorsquita e sepiolita, em ordem decrescente de abundância
relativa.

Uma das maiores preocupações dos profissionais da área de perfuração diz respeito aos
problemas encontrados quando se perfura uma camada espessa de formação argilosa,
geralmente denominada de folhelho. O folhelho é uma rocha sedimentar, naturalmente
estratificada, composta por grãos muito finos de quartzo, feldspato, calcita e quantidades
apreciáveis de argilas. O teor de material argiloso presente nos folhelhos, em geral
ultrapassa a sessenta por cento e se apresenta sob a forma de uma mistura complexa e
variada de argilominerais, com predominância de ilita, esmectita, argila de camada mista,
clorita e caulinita, nesta ordem.

Alguns tipos de folhelhos possuem uma elevada capacidade de interagir com água.
Portanto os cascalhos perfurados dessas formações podem, por dispersão, incorporarem-
se ao fluido de perfuração, alterando de modo drástico as suas propriedades. A
estabilidade das paredes do poço durante a perfuração depende, em grande parte, das
interações entre o fluido de perfuração e a rocha exposta. Portanto, a exposição das
formações argilosas, durante um tempo muito longo, pode causar problemas sérios como:
(1) enceramento da broca; (2) formação de anéis de obstrução no espaço anular; (3)
fechamento e/ou desmoronamento do poço; (4) prisão da coluna de perfuração; (5)
alargamento do poço e (6) deposição de cascalhos no fundo do poço (fundo falso). A
utilização de um fluido apropriado para perfurar formações argilosas pode evitar os
problemas citados.

Os fluidos de perfuração à base de água têm como constituinte coloidal básico uma argila
do tipo esmectita, também conhecida por montmorilonita, e vulgarmente denominada de
bentonita. Outra argila usada, em menor escala, na composição dos fluidos à base de
água salgada pertence ao grupo de paligorsquita, cujo nome vulgar é atapulgita ou argila
magnesiana.

Os arenitos produtores de hidrocarbonetos, razão de ser da prospecção e perfuração dos


poços de petróleo, apresentam em sua composição argilominerais cujo teor pode variar
desde alguns décimos por cento, em volume, até dezenas por cento. Considera-se
argilosidade de um arenito a quantidade relativa de partículas menores que 44 µm.
Embora possa haver diminutos fragmentos de quartzo, feldspato e outros minerais, essa
fração é composta essencialmente por argilominerais. Em princípio, as argilas presentes
nos arenitos são classificadas em autigênicas e alogênicas ou detríticas. As argilas
autigênicas são formadas após o processo de deposição dos sedimentos e envolvem
transformações químicas dos materiais. Quando as argilas são geradas fora do arenito e
para lá são transportadas por meio de um agente físico qualquer, são denominadas
alogênicas. Os tipos e composição dos argilominerais autigênicos de um reservatório
arenítico é um fator fundamental para a seleção e programação do fluido de completação.

25
Estruturas Básicas dos Óxidos de Silício e Alumínio

As antigas classificações dos minerais eram baseadas na análise química destes


compostos. Porém, como um grande número de minerais não obedecem às regras usuais
da valência química e as leis das combinações químicas, somente com o advento da
difratometria dos raios X e o dos elétrons é que foi possível classificar os minerais
argilosos com base na investigação das suas estruturas cristalinas.

O silício tem número de coordenação igual a quatro e forma compostos com estruturas
tetraédricas orientadas de forma semelhante ao carbono. Os compostos do silício são
quase todos óxidos, embora recebam a denominação usual de silicatos. A difração de
raios X mostrou que o comportamento destes compostos está mais associado à
geometria do arranjo cristalino do que à composição química. Em todos os silicatos, cada
átomo de silício está localizado no centro de um tetraedro regular coordenado com quatro
átomos de oxigênio orientados para os vértices do tetraedro. O radical tetravalente assim
formado (SiO4)-4 denomina-se ortossilicato. Se as valências do oxigênio são saturadas
com hidrogênio temos o ácido ortossilício, H4SiO4, que dá origem aos ortossilicatos, como
por exemplo, o ortossilicato de zircônio ou zircão - ZrSi04.

Quando dois radicais (SiO4)-4 se ligam entre si através de um átomo de oxigênio, tem-se o
radical metassilicato - (Si2O7)-6 . Se várias unidades se ligam em cadeia infinita, a unidade
estrutural é o (SiO3)-2 que dá origem ao grupo dos minerais denominados de piroxênios.

A ligação de duas cadeias (SiO3)-2 produz uma dupla cadeia de estrutura unitária
(Si4O11)6- , que dá origem a outro grupo de minerais chamado anfibólios, entre os quais
está o amianto. As ligações Si-0 em todos esses compostos são covalentes, porém as
estruturas dos silicatos apresentam antes um caráter iônico do que covalente.

Quando três dos quatro átomos de oxigênio do (SiO4)-4 se ligam a três tetraedros vizinhos,
formando uma estrutura lamelar ou em folha, dão origem aos filosilicatos. Observe que as
ligações ocorrem nos vértices dos tetraedros e, neste caso, forma-se um reticulado
fechado de seis tetraedros, que se prolongam no plano, conhecida por folha tetraédrica
hexagonal. A unidade formada tem a fórmula (Si205)-2. Este arranjo está presente na
estrutura dos argilominerais.

O alumínio e magnésio possuem número de coordenação 4 ou 6. Portanto, podem formar


compostos com estruturas tetraédricas ou octaédricas. O alumínio encontra-se na
natureza na forma de hidratos ou óxidos hidratados. Os três hidratos de alumínio mais
conhecidos são: a gibsita, AI2O3.3H2O ou AI2 (OH)6; a bauxita, AI2 O3.2H2O ou Al2O
(OH)4; e o diásporo, AI2O3.H2O ou Al202(OH)2. O primeiro mineral, isto é a gibsita, é o
mais importante no estudo dos argilominerais. Nele, a posição do alumínio é o centro de
um octaedro regular, sendo que cada vértice do octaedro está ocupado por uma hidroxila.

Quando as estruturas octaédricas assim formadas se ligam por uma aresta em comum
para formar uma folha hexagonal octaédrica, tem-se então o mineral gibsita - AI2 (OH)6.
Nesta estrutura, somente duas em três possíveis unidades octaédricas podem estar
preenchidas com o átomo de alumínio, denominando-se de dioctaédrica. Se o átomo
central das estruturas octaédricas é o magnésio, o mineral recebe o nome de brucita,
Mg3(OH)6. Neste caso, todas as três posições estão preenchidas com o magnésio e a
estrutura é denominada trioctaédrica.

26
Estrutura e Classificação dos Argilominerais

Os grupos fundamentais que constituem a estrutura cristalina dos argilominerais são as


folhas hexagonais tetraédricas e octaédricas definidas anteriormente. Essas folhas
hexagonais podem ser empilhadas para formar camadas. O empilhamento de uma folha
tetraédrica com uma folha octaédrica forma uma camada do tipo T-O, 1:1 ou difórmica. O
empilhamento de duas folhas tetraédricas com uma folha octaédrica intercalada forma
uma camada do tipo T-O-T, 2:1 ou trifórmica. Existe ainda o empilhamento que origina
camadas do tipo T-O-T-O, 2:2 ou tetrafórmica, cuja tendência é evitar esta denominação.
A Figura 2 ilustra o empilhamento de folhas.

Figura 2 - Esquema representativo do empilhamento de folhas

O CIPEA subdivide, de forma global, os argilominerais em duas classes: (1) silicatos


cristalinos com reticulados em camadas ou lamelar e (2) silicatos cristalinos com
reticulado de estrutura fibrosa ou em cadeia. Dessa forma, os argilominerais fazem parte
dos fílosilicatos. Nos grupos tetraédricos dos argilominerais, o elemento central principal é
o Si+4. No entanto, o Al+3 pode aparecer com certa freqüência e, ocasionalmente, o Fe+3 e
Fe+2. A essa substituição do silício por alumínio e/ou ferro na posição central dos
tetraedros, chamamos de substituição isomórfica. Em volta dos cations de silício ou
alumínio estão os íons de oxigênio ou hidroxilas. Nos grupos octaédricos, a posição
central pode estar ocupada por Al+3, Mg+2 ou Fe+2. As substituições isomórfícas nestes
grupos podem ainda apresentar, em menor proporção, os elementos Fe+3 , Ti+4 , Cr+3 ,
Mn+2 e Zn+2 . O cátion central do octaedro também está coordenado com íons de oxigênio
ou hidroxilas. Tem se tentado vários métodos para classificar racionalmente os
argilominerais. No passado, as classificações tomavam por base apenas a composição
química. A partir do trabalho de identificação estrutural iniciado por Pauling em 1930,
foram obtidas informações cristaloquímicas importantes, a partir das quais se
estabeleceram critérios de classificação.

27
Com o passar dos anos, foram surgindo subdivisões com base nas características
estruturais e composições químicas. Os esquemas atuais de classificação dos
argilominerais se fundamentam na composição química, estrutura atômica e
propriedades, tais como morfologia e expansão. Entretanto, a localização de um
argilomineral num certo grupo é determinada, principalmente, pelos detalhes estruturais.

Sob o aspecto estrutural, as diferenças de empilhamento entre as folhas hexagonais


tetraédricas e octaédricas é a base para a classificação dos argilominerais. Dessa forma,
os argilominerais de estrutura lamelar estão divididos em três grupos: (1) em camadas T-
O ou 1:1, cuja distância interplanar basal é cerca de 7 Å, (2) em camada T-O-T ou 2:1,
cujo espaçamento basal na forma anidra é cerca de 10 Å, e (3) em camada T-O-T-O ou
2:2, com 14 Å de espaçamento basal (vide Tabela 10). Além do tipo de empilhamento das
folhas tetraédricas e octaédricas, as subdivisões dos argilominerais levam em
consideração ainda o grau de substituição isomórfica nas folhas tetraédricas e octaédricas
e a possibilidade de expansão entre as camadas basais, com a adição de substâncias
polares como a água e o etilenoglicol, aumentando a distância interplanar basal.

Tabela 10- Esquema de classificação dos argilominerais, denominados de silicatos em


camadas

Camada (Tipo) Grupo Carga2


1:1 (T-O) Caulinita 0
Serpentina
2:1 (T-O-T) Esmectita 0,25-0,60
Vermiculita 0,60-0,90
Mica 1
2:2 Clorita Variável
2
Carga por unidade de fórmula

A seguir é apresentada uma descrição mais detalhada dos argilominerais de interesse da


engenharia de petróleo sob o ponto de vista tecnológico.

Estrutura da Caulinita

O empilhamento regular e quase perfeito da estrutura em camada 1:1 é característico dos


argilominerais do Grupo da Caulinita. Nesta estrutura, as folhas tetraédricas e octaédricas
crescem continuadamente nas direções dos eixos cristalográficos a e b e a ligação entre
elas ao longo do eixo c é feita através de um oxigênio em comum. Os membros do Grupo
da Caulinita são: a própria caulinita, a diquita, a nacrita e a haloisita. Como a principal
diferença entre estes argilominerais, relacionada com a geometria de empilhamento, é
bastante sutil, nos referiremos a todos eles como caulinita. Praticamente não existem
substituições isomórficas na caulinita, por isso sua estrutura cristalina é considerada
eletricamente neutra. Portanto, como o centro dos octaedros é ocupado exclusivamente
por alumínio, a estrutura é dioctaédrica.

As caulinitas não se expandem na presença de água ou de substâncias polares,


entretanto, a haloisita contém alguma quantidade de água interlamelar, que pode ser
expulsa, de modo irreversível, por aquecimento do material. Daí, conhecem-se duas
formas de haloisita: a haloisita-10 Å, hidratada, e a haloisita-7Å, de-hidratada. A fórmula

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química representativa dos minerais do grupo da caulinita é Al4Si4010(OH)8, e a cela
unitária possui as seguintes dimensões, conforme determinação por difração de raios X:
ao = 5,139±0,014 Å, bo = 8,932±0,016 Å e Co = 7,371 ±0,019 Å.

Devido ao crescimento dos cristais da caulinita de modo regular e preferencial na direção


dos eixos cristalográficos a e b, as partículas da caulinita bem cristalizada são
constituídas por lâminas ou placas de perfil hexagonal. Micrografias eletrônicas obtidas do
Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) têm confirmado o caráter pseudo-hexagonal
das partículas de caulinita, mostrando inclusive que a espessura dessas partículas é
muito menor do que o diâmetro das faces hexagonais. Portanto, a caulinita tem morfologia
anisométrica, laminar e hexagonal.

A energia coesiva entre as camadas 1:1 da caulinita tem origem, principalmente, em


forças eletrostáticas, reforçadas contudo por forças atrativas de Van der Waals e pontes
de hidrogênio. Estas últimas, devido à proximidade entre os íons hidroxilas de uma
camada e os átomos de oxigênio da camada adjacente. A caulinita não possui cátions
interlamelares e somente a energia de hidratação está disponível para separar os cristais.
Sendo a energia de hidratação menor do que a energia de coesão entre os cristais, a
caulinita é um argilomineral não expansível, isto é, praticamente não admite água
intercristalina. Além disto, os planos de clivagem entre as camadas 1:1 da caulinita
apresentam uma tensão de clivagem relativamente alta quando comparada a de outros
argilominerais. Este fato é atribuído à energia coesiva adicional devido às interações
conhecidas por "pontes de hidrogênio", presentes na caulinita e ausentes nos demais
argilominerais.

Apesar das partículas de caulinita não possuírem carga residual, ou seja serem
eletricamente neutra, elas apresentam cargas negativas localizadas no plano basal (face)
e positivas na região de menor dimensão (aresta). Estas cargas localizadas e o caráter
bipolar da caulinita são facilmente constatados ao se analisar a distribuição atômica
estrutural na cela unitária do mineral. Experimentalmente, comprovou-se o caráter positivo
na "aresta" das partículas anisométricas planares da caulinita por adsorção de partículas
coloidais negativas nessa região.

Estrutura da Esmectita (Montmorilonita)

A estrutura dos argilominerais do grupo da esmectita tem por modelo os minerais pirofilita
e talco, cujas estruturas foram descritas anteriormente. A esmectita constitui-se, portanto
de duas folhas tetraédricas de silicato e uma folha octaédrica de alumina hidratada,
intercalada. Essas folhas estão ligadas por intermédio de oxigênio comum e dão origem a
camadas 2:1 ou T-O-T. Nas folhas tetraédricas pode haver alguma substituição isomórfica
parcial de silício por alumínio, enquanto que nas folhas octaédricas aparecem
regularmente substituição do alumínio por magnésio ou, com menor freqüência, por ferro,
zinco, cromo e outros elementos. Quando em certo argilomineral, um metal de menor
valência aparece no lugar de outro de maior valência, registra-se a falta de cargas
positivas e, conseqüentemente, excesso de cargas negativas. Este excesso de cargas
negativas é compensado naturalmente pela adsorção de enormes cations hidratados, os
quais se fixam na superfície externa e, principalmente, entre as camadas das partículas
cristalinas do argilomineral. Estes cátions reduzem a energia repulsiva e são as espécies
responsáveis pela ligação entre estas camadas estruturais. Na esmectita, entretanto, a
ligação intercristalina é relativamente fraca, permitindo a entrada de água ou de outras

29
substâncias polares e, por conseqüência, o acréscimo da distância interplanar ou basal.
Este fenômeno é conhecido por expansão ou inchamento.

Na presença de água, os cátions neutralizantes da esmectita, denominado de cátions


trocáveis, podem ser permutados por outros cátions disponíveis na solução, cuja reação
estequiométrica de simples troca é representada por:

[Esmectita]- An+a + mB+b  [Esmectita]- Bm+b + nA+a

A quantidade total dos cátions pode ser determinada por análise química e, quando
expressa um miliequivalentes por cem gramas de material argiloso seco, é chamada de
capacidade de troca de cátion (CTC) ou capacidade de troca de base (CTB) da argila.

Uma vez que os cátions trocáveis balanceiam a deficiência de carga positiva no interior da
estrutura cristalina do argilomineral, devido às substituições isomórficas, a capacidade de
troca de cátion (CTC) serve como medida do grau de substituição isomórfica da argila.
Devido a uma grande variedade no grau de substituição isomórfica da esmectita, este
argilomineral não pode ser representado por uma única fórmula química. Teoricamente, a
possível formulação da sua cela unitária vai de Al4Si8020(OH)4 a 0,67M+ [Si8(Al3,33Mg0,67)
O20 (OH)4], onde M+ representa um cátion trocável monovalente.

A presença dos cátions trocáveis entre as camadas da esmectita justifica o acréscimo do


seu espaçamento basal, no mínimo 9,6 Å na forma anidra, com relação ao espaçamento
basal da pirofilita, cerca de 9,2 Å. Como a diferença entre esses espaçamentos basais é
sempre menor que o diâmetro do cátion trocável, sugere-se que eles estejam
parcialmente encravados nos espaços vazios deixados pela folha tetraédrica.

Quando uma argila montmorilonítica entra em contato com vapor d’água, ou quantidade
relativamente pequena de água, o inchamento intercristalino chega a atingir valores de
espaçamento basal da ordem de 12,5 a 20 Å, a depender da sua caracterfetica estrutural
e da capacidade de hidratação do cátion interlamelar. No caso da dispersão da
montmorilonita em água, onde a fração de água é bem maior do que a de argila, as
moléculas polares de água penetram entre as camadas e podem provocar a separação
total quando as distâncias interplanares atingem valores em tomo de 40 Å. Isto esclarece
a fácil clivagem basal em meio líquido aquoso (ou polar) e a forma laminar delgada de
perfil irregular das partículas coloidais de montmorilonita.

As partículas de esmectita possuem um caráter bipolar, com cargas negativas localizadas


no plano de maior dimensão (face) e cargas positivas na região de menor dimensão
(aresta). As argilas constituídas por montmorilonita geralmente possuem elevado grau de
plasticidade. As propriedades físicas de suas dispersões coloidais apresentam grandes
variações. Essas variações dependem, principalmente, da capacidade de troca de cátion
da argila e da natureza dos cátions trocáveis que neutralizam as estruturas cristalinas,
além dos fatores relativos à composição e estrutura dos argilominerais presentes.

Estrutura da Ilita

A ilita pertence ao grupo dos argilominerais denominados por micas hidratadas. Os


minerais mica moscovita (dioctaédrica) e flogopita (trioctaédrica) podem ser tomados para
modelos estruturais. Estes, são estruturalmente semelhantes a esmectita, isto é, são

30
silicatos em camadas 2:1. A principal diferença entre eles está no tipo e grau de
substituição isomórfica. Enquanto na esmectita a substituição, em tomo de 15%,
predomina nas folhas octaédricas, nos citados modelos ela ocorre nas folhas tetraédricas
e em maior grau, pois um em cada quatro átomos de silício está substituído pelo alumínio,
conferindo uma maior carga residual negativa à estrutura. O cátion neutralizante que
predomina entre as camadas cristalinas é o potássio.

Uma distinção fundamental entre a montmorilonita e a ilita é que esta última não
apresenta o fenômeno de inchamento ou expansão interlamelar na presença de água ou
de compostos polares. O espaçamento basal da ilita é fixo, da ordem de 10 Å. Os cátions
compensadores do excesso de cargas negativas das estruturas cristalinas são, como nos
modelos, o potássio. Uma vez que não se observa inchamento da ilita em presença da
água, sugere-se que os íons potássio localizados entre as camadas cristalinas estão
fixos, deixando apenas os íons das faces externas disponíveis para a permuta. Talvez isto
justifique a baixa capacidade de troca de cátion das argilas com alto teor de ilita, a
despeito do alto grau de substituição isomórfica desse argilomineral. O caráter não-
expansível da ilita é atribuído, principalmente, às características do íon potássio. Este
possui: (1) tamanho adequado (2,66 Å) para se encaixar nas dimensões dos espaços
vazios deixados pelas folhas tetraédricas (2,80 Å); (2) grau de coordenação – 12,
favorável ao estabelecimento de interações entre si e os anéis hexagonais de oxigênio;
(3) baixa energia de hidratação; e (4) baixa capacidade de hidratar-se. Compare as
propriedades do íon potássio com outros íons comuns na tabela 11.

Tabela 11 - Comportamento em água de vários íons que aparecem nos argilominerais


como cátions trocáveis

Íon Raio (ÅÅ) Energia de hidratação (Kcal/gm.íon) No. de moléculas de água


Na+ 0,98 114 8,6
+
K 1,33 94 4,2
+
NH4 1,43 87 4,4
Mg+2 0,65 490 14,0
Ca+2 0,99 410 10-12
Ba+2 1,34 346 4,0
+3
Al 0,51 1149 -

Algum comportamento semelhante ao da ilita pode ser encontrado também nas estruturas
da montmorilonita quando o cátion trocável predominante for o potássio. Algumas
experiências têm mostrado que a montmorilonita-K incha menos do que a montmorilonita-
Na. O que não se deve admitir, por razões estruturais muito simples, são comparações
diretas entre a ilita e a montmorilonita-K. Em primeiro lugar, na ilita há um maior numero
de ligações do tipo argila-K, por unidade de área, devido ao maior grau de substituição.
Essa relação vai de uma vez a uma vez e meia a mais nas ilitas. Depois, as ligações
deste tipo nas montmorilonitas devem ser mais fracas, uma vez que as cargas negativas
estão concentradas nas folhas octaédricas, isto é, a uma distância maior dos íons
potássio do que nas ilitas, cujas cargas negativas se concentram nas folhas tetraédricas.

A ilita ocorre naturalmente em mistura com outros argilominerais e sob a forma de


diminutas partículas coloidais. Segundo vários autores é o argilomineral de ocorrência
mais freqüente nos sedimentos, principalmente nos folhelhos, e não deve ser confundida
com mica detrital transportada, nem com mica moscovita finamente dividida, de

31
ocorrência comum nas rochas metamórficas. Grim definiu a ilita como um mineral de
espaçamento basal igual a 10 Å, de origem sedimentar, para o qual não podem ser
obtidos dados precisos sobre granulometria, pureza e composição química. Micrografias
eletrônicas obtidas com o MEV têm mostrado formas as mais variadas das partículas de
ilita, contudo parece que a forma mais comum é a filamentar ou acicular.

Estrutura da Clorita

Denomina-se de clorita o grupo de argilominerais que têm por característica estrutural um


arranjo em camadas 2:1 com uma estrutura octaédrica hexagonal de hidróxido de
magnésio, chamada brucita, altemando-se entre elas. Na folha de brucita ocorre alguma
substituição de magnésio por alumínio ou ferro. Isto confere uma carga parcial positiva
que balanceia em parte a carga parcial negativa das estruturas em camadas 2:1, oriunda
principalmente das substituições de silício por alumínio nas folhas tetraédricas. A fórmula
geral da cela unitária das cloritas é (Si,Al)6(Al,Mg)6O20(0H)4,(Mg,Al,Fe)6(OH)12. Em
resumo, cloritas são silicatos em camadas 2:1 com brucita interlamelar, cujo espaçamento
basal fica em torno dos 14 Å. Normalmente, não existe água interlamelar, porém certas
cloritas degradadas, que perderam parcialmente a folha de brucita, permitem algum grau
de hidratação e expansão interlamelar. As cloritas são encontradas na natureza sob
várias formas, dependendo do tipo de empilhamento das camadas estruturais. A forma
mais comum das partículas de clorita, observadas no MEV é a laminar, de perfil irregular,
cuja espessura das lâminas é superior à das partículas de esmectita. Nos sedimentos, as
cloritas estão sempre associadas ou misturadas com outros argilominerais, dificultando o
seu estudo. De modo geral, existe mna substituição apreciável de magnésio por ferro na
estrutura da brucita, o que faz com que os cristais desses argilominerais sejam instáveis e
facilmente desagregados ao contato com ácidos.

Argilas para Fluidos de Perfuração

Os componentes dos fluidos de perfuração à base de água podem ser agrupados em três
frações básicas (1) fração líquida, composta de uma solução aquosa podendo conter
pequeno teor de óleo; (2) fração coloidal; e (3) fração de sólidos inertes, tendo como
componente principal o adensante baritina. A argila é o componente principal da fração
coloidal e tem por funções básicas viscosificar, gelificar e reduzir o filtrado (ou perda de
água) desses fluidos. As argilas de uso comum nos fluidos de perfuração são a bentonita
e a atapulgita.

Bentonita

A argila comercial mais usada nos fluidos de perfuração é a bentonita. Este nome deriva
da primeira jazida comercial dos EUA, localizada em Wyoming, Texas, cujo nome é forte
Benton, um folhelho do cretáceo. No início, geólogos definiram a bentonita como uma
argila formada pela devitrificação e alteração química de cinzas vulcânicas. Entretanto,
como esta definição excluía depósitos de bentonita de origem não-vulcânica encontrados
em vários países, inclusive nos EUA, a definição proposta por Grim e Nivens parece ser
mais ampla e adequada: "bentonita é qualquer argila composta dominantemente por
esmectita, e cujas propriedades físicas são ditadas por este argilomineral". Alguns autores
consideram ainda que para a argila ser denominada bentonita deve ter no mínimo 85% de
esmectita.

32
As bentonitas podem ser classificadas em função do tipo de cátion trocável predominante.
Assim sendo, as bentonitas podem ser líticas, sódicas, cálcicas, magnesianas, conforme
seja lítio, sódio, cálcio ou magnésio o cátion com maior teor. A bentonita sódica, em meio
aquoso, adsorve uma quantidade elevada de água, expandindo e aumentando de volume.
Essa adsorção de modo contínuo provoca uma separação individualizada das camadas
cristalinas e dispersa a argila em partículas de espessura tão pequena quanto o próprio
espaçamento basal do argilomineral. Por isso, o amplo emprego da bentonita sódica na
formulação dos fluidos de perfuração à base de água doce tem suporte nas suas
características tecnológicas peculiares: (1) dispersa facilmente e a dispersão formada é
relativamente estável; (2) apresenta viscosidade e força gel relativamente alta, em
concentrações inferiores a 8% em peso; (3) forma um reboco plástico, compressível e de
baixa permeabilidade (<1,0 mD) sobre substrato poroso e permeável; (4) tem alto valor de
CTC, entre 70 a 130 meq/100g, o que toma possível modificar as propriedades físicas da
dispersão alterando a composição do meio aquoso, sem, contudo comprometer a
estabilidade do sistema; e (5) tem área específica elevadíssima, cerca de 100-800 m2/g,
implicando em reações rápidas e modificação quase instantânea das propriedades físicas
da dispersão coloidal de bentonita-água.

Já a bentonita cálcica, adsorve uma quantidade limitada de água, a expansão é apenas


moderada e as partículas agregadas e floculadas se depositam rapidamente quando são
dispersas em água. Além disto, o reboco formado por essas dispersões tem espessura e
permeabilidade elevadas. Dessa forma, a bentonita cálcica não é usada na composição
dos fluidos de perfuração, sendo sua maior aplicação como aglomerante de areias de
fundição e de minérios (pelotização).

As jazidas naturais de bentonita sódica não são comuns. A mais conhecida é a de


Wyoming que já está se esgotando. Em países onde não existe a bentonita sódica
natural, é prática usual se fazer o beneficiamento de argilas bentoníticas cálcicas ou
magnesianas por reação com soda ash (carbonato de sódio comercial). Os EUA também
exploram jazidas de bentonita cujo cátion predominante é o cálcio, no Texas, Mississippi,
Alabama, Oklahoma e Louisiana. Essas argilas são tratadas com soda ash e poliacrilatos
para atingir as especificações API. Esse processo é denominado de ativação e a argila
que passa por ele é denominada de argila ativada. No Brasil, no Estado da Paraíba,
existem jazidas de bentonita, composta principalmente pelos argilominerais esmectita e
ilita-esmectita, cujos cátions trocáveis predominantes são o cálcio e magnésio. Estes
cátions contribuem com cerca de 50 a 85% da capacidade de troca de cátion (CTC) da
argila, enquanto que o Na+, H+, etc. são os cátions responsáveis pelos 15% restante. A
ativação das bentonitas brasileiras é feita por reação a seco ou por via úmida com soda
ash.

Para uso em fluidos de perfuração, a bentonita passa por testes de qualificação


criteriosos. Esses testes consistem na determinação de propriedades físicas da argila
seca e da sua dispersão aquosa. Quando o valor de uma dessas propriedades está fora
da especificação, o lote da argila deve ser rejeitado. Dentre as propriedades de
especificação, uma das mais importantes é o rendimento da argila, definido como o
volume de dispersão com 15 centipoises de viscosidade aparente, obtido a partir de 1
tonelada métrica do material. O rendimento de uma argila é calculado através de dados
experimentais obtidos com várias dispersões e construção gráfica de curvas de
viscosidade aparente versus concentração da argila. A interpolação na curva para 15

33
centipoise define a concentração (C), cujo valor em % peso é utilizado para o cálculo do
rendimento da bentonita em água doce, conforme expressão seguinte. Essa expressão é
deduzida considerando a massa específica média da argila seca igual a 2,4 g/cm3 e da
água igual a 1,0 g/cm3.

R = 100/ C - 0,583

onde R é o rendimento em m3/t e C é a concentração da argila em % peso.

Sob esse aspecto, as argilas podem ser classificadas como de alto, médio ou baixo
rendimento. O intervalo de rendimento para essa classificação é:

Argila R, m3/t
Baixo rendimento <16,0
Médio rendimento 16,0-21,0
Alto rendimento >21,0

Convém ressaltar que o rendimento somente não qualifica nem desqualifica o emprego da
argila. É de fundamental importância controlar também as outras propriedades da
especificação. Existem bentonitas, por exemplo, que tem um rendimento altíssimo devido
ao seu grau de floculação natural e/ou processo de beneficiamento incompleto ou
inadequado. Nesse caso, é imprescindível definir o pH das suspensões usadas para o
cálculo do rendimento e fixar a relação máxima entre o limite de escoamento (LE) e a
viscosidade plástica (VP) em LE = 3 X VP.

A bentonita seca, natural ou beneficiada, não apresenta bom rendimento quando é


misturada diretamente em água salgada ou água do mar. Além disso, essa mistura é
instável, isto é, as partículas de bentonita se separam rapidamente. Para evitar essa
instabilidade e aumentar o rendimento em meios aquosos salgados é comum pré-hidratar
a bentonita em água doce. Essa mistura muito viscosa com concentração elevada (40-
100 Ib/bbl) de bentonita pré-hidratada é depois diluída com a água salgada para atingir a
concentração desejada. Algumas vezes, é necessário adicionar um dispersante junto com
a bentonita, em água doce, para poder misturar quantidades tão elevadas de bentonita.
Essa mistura é conhecida no campo pelo nome de Q-mix. Uma formulação usual de Q-
mix é: Água doce, bentonita (40-100 Ib/bbl), lignosulfonato (1,5-6,0 Ib/bbl) e soda cáustica
(0,5-2,0 Ib/bbl).

Atapulgita

Atapulgita é o nome vulgar da argila que tem elevado teor do argilomineral paligorsquita,
cerca de 80 a 90%. O nome atapulgita vem de Attapulgus, Georgia, EUA, fonte das
primeiras amostras analisadas em 1935. O termo paligorsquita é oriundo da região
Polygorsk, nos montes Urais, onde em 1861 foi descoberta uma argila com propriedades
semelhantes à argila de Attapulgus. Essas argilas são também conhecidas como principal
membro de um grupo de argilas absorventes, denominadas de 'Terra Fuller's’,
empregadas no início para remover graxas de tecidos de lã.

Na tecnologia de fluidos de perfuração, a atapulgita é conhecida pela sua aplicação como


viscosificante em água salgada ou na água do mar. Quando misturadas com água, doce
ou salgada, as partículas de atapulgita não se expandem como as de bentonita, mas

34
podem ser dispersas por forte agitação mecânica. A dispersão formada, relativamente
estável, é resultado da associação de água nos canais estruturais e da elevada área
específica (50-300 m2/g), onde também ocorre adsorção das moléculas polares de água.
A baixa capacidade de troca de cátion (CTC) dessa argila é, talvez, a maior responsável
pela alteração pouco significativa das propriedades físicas de suas dispersões aquosas
com a mudança da concentração de eletrólitos. O elevado filtrado (em torno de 200 cm3)
das dispersões aquosas de atapulgita pode ser reduzido a valores algumas dezenas de
vezes mais baixos (5 a 15 cm3) com adição de amido e derivados celulósicos (CMC, por
ex). Devido à sua elevada perda de água, as suspensões de atapulgita são indicadas no
preparo de "tampões" para combater perda de circulação.

Sedimentos argilosos

A motivação para o estudo das rochas sedimentares com apreciável teor de argila vai
desde o indício da geração de hidrocarbonetos, objeto da exploração de petróleo, até a
própria qualidade e custo do poço, passando pela escolha do fluido apropriado para
perfurar esses sedimentos, visando minimizar os problemas relativos à instabilidade das
paredes do poço. Podemos concentrar nossa atenção em um tipo básico de sedimento
argiloso: o folhelho.

O folhelho é uma rocha de textura fina, com estrutura sedimentar plano-paralela, também
conhecida por folheação ou laminação, composta de elevadas quantidades de
argilominerais e quartzo. Apenas por motivo de simplificação, o termo folhelho (shale) é,
muitas vezes, erroneamente empregado na literatura de perfuração, quando se deseja
referir a sedimentos do tipo argilito ou marga. A elevada quantidade de água é ponto
comum, cujo teor se situa entre 15 a 70% em peso. Antes da perfuração de uma
formação rochosa, existe um estado de equilíbrio entre as forças que atuam sobre as
rochas e os fluidos nelas contidos. Durante a perfuração, este estado de equilíbrio é
alterado e as rochas podem experimentar profundas alterações. Estas podem ser de
natureza física, química ou de ambas, sendo conhecidas por instabilidade de poço, na
terminologia de perfuração.

A instabilidade física pode ter origem nas forças: 1) de arraste devido ao fluxo do fluido; 2)
de choque, entre a coluna e a parede do poço; 3) resultantes do alívio das tensões
localizadas nas adjacências do poço, e 4) resultantes das pressões de poros
anormalmente altas. A instabilidade é agravada se as formações têm ângulo de mergulho
elevado em relação a um plano horizontal imaginário. As conseqüências podem ser a
erosão e desmoronamento das paredes do poço e o aumento da dispersão e
incorporação de sólidos ao fluido, alterando rápida e drasticamente as suas propriedades.
Na ausência de fenômenos químicos, a instabilidade do poço pode ser minimizada com o
aumento da densidade do fluido de perfuração, através da adição de produtos adensantes
como barita (BaSO4), calcita (CaCO3) e hematita (Fe2O3), por exemplo.

Enquanto a instabilidade física pode ocorrer com qualquer tipo de rocha, a de natureza
química só ocorre com rochas reativas, como os evaporitos, domos salinos e os
sedimentos argilosos. Vimos anteriormente que os argilominerais são diferentes em
composição elementar e estrutura cristalina. Conseqüentemente, suas capacidades de
troca de base, hidratação e expansão (inchamento) também são diferentes. Essas
diferenças, associadas à variedade na composição mineralógica, são responsáveis pelos
diferentes graus de reatividade que os sedimentos argilosos apresentam quando em

35
contato com os fluidos aquosos. Os principais fatores que influenciam na reatividade do
sedimento são: teor de argila, tipo e teor de cada argilomineral, grau de compactação e
tempo de exposição rocha-fluido. Os argilominerais mais encontrados nos sedimentos
argilosos são: ilita, esmectita, de camada mista esmectita-ilita (E-I), clorita e caulita, em
ordem decrescente de abundância. Como regra geral, pode-se dizer que a ilita é o
argilomineral predominante dos folhelhos e a esmectita e esmectita-ilita são os
argilominerais mais freqüentes dos argilitos. Sob o ponto de vista químico, a estabilidade
das paredes do poço é função das interações que ocorrem na interface rocha-fluido. A
hidratação da formação argilosa além de causar a expansão e/ou dispersão também
altera o estado de equilíbrio das tensões nas adjacências do poço, desestabilizando-o.
Como conseqüência, os problemas de poço mais freqüentes são: enceramento,
desmoronamento, obstrução do espaço anular, deslizamento plástico, fechamento do
poço, redução de taxa de penetração e prisão da coluna de perfuração.

As experiências de campo e de laboratório têm de fato comprovado significafivas


alterações dos sedimentos argilosos em contato com fluidos aquosos. A hidratação, isto
é, a adsorção das moléculas polares de água ou de íons hidratados solubilizados no meio
altera o estado de equilíbrio das tensões e pode causar o colapso da rocha durante a
perfuração do poço. A dispersão e o inchamento são fenômenos físico-químicos
decorrentes da hidratação.

A hidratação de um material argiloso depende, entre outros fatores, da sua composição


mineralógica. Por isso, alguns folhelhos se apresentam mais reativos e instáveis do que
outros. O ponto chave para minimizar os efeitos da hidratação dos folhelhos e, por
conseqüência, a instabilidade de natureza química, é diminuir o grau de reatividade entre
o fluido aquoso e a rocha argilosa. Isto pode ser feito através do uso dos seguintes
artifícios: 1) redução da atividade química da fase aquosa e 2) redução da taxa de
hidratação.

A adição de eletrólitos reduz a atividade química da fase aquosa. As fontes mais usuais
desses eletrólitos são os produtos: NaCl, KCl e CaCl2. O cloreto de amônio (NH4Cl)
também pode ser usado. Alguns trabalhos concluíram que os íons potássio (K+) e amônio
(NH4+) conferem uma maior capacidade de inibição em relação a outros cátions, como
Na+, Ca++, Mg++ e Fe++. A concentração a ser usada vai depender do eletrólito e da
reatividade da formação argilosa.

A redução da taxa de hidratação pode ser conseguida através da adição de polímeros.


Estes produtos são adsorvidos sobre a superfície das formações argilosas, reduzindo a
taxa de invasão de água e, conseqüentemente, a hidratação. Os produtos mais
empregados são os polímeros poliacrilamida, carboximetilcetulose (CMC) e outros
derivados celulósicos. Dentre os polímeros testados, a poliacrilamida parcialmente
hidrolisada e de alto peso molecular mostrou-se mais eficiente. Disto se infere que a
erosão, a dispersão e o desmoronamento das paredes do poço podem ser reduzidos com
a adição de sais e polímeros.

36
Filtração
Introdução

Para evitar a invasão dos fluidos da formação para o interior do poço, a pressão
hidrostática relativa à coluna de fluido dentro do poço deve ser maior que a pressão dos
fluidos nos poros da formação. Conseqüentemente, existe uma tendência à invasão dos
fluidos de perfuração ou completação para as formações permeáveis. A perda de fluido
para a formação pode ser controlada pela adição de sólidos apropriados para formar um
substrato poroso e permeável, denominado reboco, de permeabilidade relativamente
baixa, através do qual somente a fase dispersante pode passar. A este processo
denominamos de filtração. Os sólidos depositados sobre a parede porosa e permeável
são denominados "reboco" e a fase líquida que invade a formação é conhecida por
"filtrado".

Define-se ainda “poder de retenção" de um fluido como a relação entre o volume total de
fase dispersante contido na unidade de volume do fluido, preparado segundo
especificações padronizadas e condições normais de pressão e temperatura, e o volume
de fase dispersante cedido (filtrado) pela mesma unidade de fluido quando sujeito a
determinadas condições de pressão e temperatura, durante o tempo necessário para que
o fluido praticamente deixe de perder a fase dispersante. Ou seja:

QL
R=
Qf

Onde R é o poder de retenção, QL é o volume da fase dispersante na unidade de fluido,


Qf é o volume da fase líquida cedida (filtrado) durante um tempo t.

Exemplo 01:

Seja duas dispersões de diferentes argilas em água a mesma concentração em volume.


Após o teste de filtração com igual volume de fluido e parâmetros de filtração constantes,
registra-se o seguinte:

Pressão Temperatura Tempo Conc. Vol. Filtrado Acumulado


Argila A 100 psi Ambiente 30 min 2% 12,3 cm3
Argila B 100 psi Ambiente 30 min 2% 8,5 cm3

O que se pode concluir a respeito do poder de retenção das duas argilas?

Solução:
Como os parâmetros do teste foram mantidos ccnstantes, os resultados podem ser
comparados. Sendo a concentração volumétrica a mesma, o volume de fase líquida por
unidade volumétrica de fluido também é igual para as duas dispersões. O poder de
retenção é dado pela relação: QL/Qf e como QL é o mesmo para os dois sistemas, aquele
que possui menor volume de filtrado acumulado (Qf) é o que apresentará maior poder de
retenção. Portanto a argila B tem maior poder em reter a fase líquida.

37
Os fluidos de perfuração e de completação devem ser tratados para manter a
permeabilidade do reboco tão baixa quanto possível de modo a estabilizar as paredes do
poço e reduzir a invasão de filtrado. Além disso, altas permeabilidades resultam em
reboco com espessura elevada, o qual reduz o diâmetro efetivo do poço causando vários
problemas durante a perfuração, como torque e drag excessivos, pistoneio durante a
retirada da coluna e prisão da coluna por diferencial de pressão. Do ponto de vista da
rocha, a invasão da fase líquida do fluido pode causar sensíveis alterações nas suas
propriedades (permeabilidade, porosidade, plasticidade, etc). Sob esse aspecto, se a
rocha é portadora de hidrocarbonetos e for danificada, com redução de sua
permeabilidade, sua capacidade produtiva será reduzida.

Dois tipos de filtração estão envolvidos na perfiuação e completação de poços de


petróleo: a filtração estática que ocorre quando o fiuido não está circulando no poço e o
reboco cresce continuamente e a filtração dinâmica que ocorre quando o fiuido está
circulando no poço e o crescimento do reboco é limitado pela ação de erosão do fluxo do
fluido. A taxa de filtração sob condições dinâmicas é maior do que sob condições
estáticas. No entanto, as características de filtração dos fluidos de perfuração e
completação são usualmente avaliadas e controladas por testes padronizados pelo
American Petroleum Institute (API).

Teoria da Filtração Estática Axial

Seja a filtração de um volume de uma suspensão estável de sólidos através de um meio


poroso e permeável, em condições estáticas e com o fluxo perpendicular, isto é axial, à
área de seção transversal (vide Figura 3).

Figura 3 - Célula de pressão e esquema para teste de uma filtração estática axial
(after Applied Drilling Engineering)

Aplicando a lei de Darcy para fluxo axial, podemos escrever

38
KA∆P
q= (1)
µε

Onde q é a vazão instantânea, em cm3/seg, K é a permeabilidade, em Darcy, A é a área


de filtração em cm2, ∆P é a pressão aplicada, em atm, µ é a viscosidade da fase líquida,
em cP, ε é a espessura do reboco, em cm.

Considerando que não ocorre sedimentação natural e que a porosidade praticamente


permanece constante em um intervalo de tempo ∆t (reboco incompressível ou pouco
compressível), o volume de reboco depositado é proporcional ao volume acumulado de
filtrado, isto é:

Qr α Q f (2)

Qr = CQ f (3)

Onde Qr é o volume de reboco, Qf é o volume de filtrado, C é uma constante de


proporcionalidade.

O volume de reboco pode ainda ser relacionado com ε e A através da expressão:

Q r = εA (4)

Igualando as expressões (3) e (4) obtemos:

Qf
ε =c (5)
A

Aplicando a equação (5) na lei de Darcy e utilizando o conceito de vazão (q = dQ/dt):

dQ f KA∆P
q= = (6)
dt Q 
µc f A 
 

dQ f KA 2 ∆P
= (7)
dt µcQ f

Separando as variáveis e integrando:

Qf
KA 2 ∆P
t

∫ Q f dQ f =
0
µc ∫0
dt (8)

Q 2f KA 2 ∆P
= t
2 µc

39
 2 A 2 ∆P 
Q 2f = K  t (9)
 µc 

A expressão (9) é conhecida como a equação fundamental que governa a filtração com
fluxo axial, sob condições estáticas, considerando um reboco já formado.

Relação entre o Volume de Filtrado e o Tempo

Consideremos que os valores dos parâmetros entre parênteses da expressão (9) possam
ser fixados e que o reboco formado seja incompressível (ou praticamente incompressível)
para pressões relativamente pequenas. Dessa forma, a expressão (9) pode ser reescrita
como:

Qf = a t (10)

Como a expressão (9) foi determinada sem considerar os "efeitos iniciais'" da filtração
estática, isto é, a obstrução do meio poroso por partículas sólidas do fluido e a variação
da espessura e características do reboco nos instantes iniciais, conclui-se que a
expressão (10) carece de um ajuste. Após determinações experimentais foi proposta uma
equação linear para a filtração estática, sob condições de pressão e temperatura
constantes semelhantes à equação (10), acrescida de um termo corretivo denominado de
"filtrado inicial" (spurt loss), cujo valor reúne o volume de filtrado acumulado durante as
etapas iniciais da filtração (vide Figura 4).

Q f = a t + Qo (11)

Onde Qf é o volume de filtrado acumulado a um tempo t, Qo é o filtrado inicial (spurt loss)


e a é o coeficiente de filtração.

Figura 4 - Filtração estática - Filtrado acumulado vs raiz quadrada do tempo


(after Applied Drilling Engineering)

40
A filtração vista dessa maneira distingue duas fases. A primeira fase, denominada de fase
inicial, reúne dois estágios: o primeiro estágio, conhecido por “surge loss”, é definido pela
invasão de partículas sólidas no meio poroso, com a formação de um reboco interno,
sem, no entanto, ocorrer deposição de sólidos sobre a superfície porosa, isto é, a
espessura do reboco externo é nula; o segundo estágio, conhecido por “transition loss” se
inicia com o depósito de partículas sólidas sobre a superfície porosa e dura até o reboco
se tomar uniforme, isto é, a partir do momento em que a influencia do depósito de
partículas sobre o processo de filtração passa a ser negligenciável. A segunda e última
fase da filtração, denominada de filtração propriamente dita, é reconhecida a partir do
momento em que o volume acumulado de filtrado varia linearmente com a raiz quadrada
do intervalo de tempo e durante esse período o reboco se toma uniforme, isto é, o
gradiente de pressão através do reboco se toma essencialmente constante.

Uma aproximação prática e operacional consiste em aplicar a equação (11) para estimar
o volume de filtrado para um tempo t2 quando se conhece o volume acumulado durante o
tempo t1, através da relação de proporcionalidade:

Qf1 t1
= (12)
Qf 2 t2

O resultado obtido aplicando a equação (12) estará mais próximo do real se os efeitos
iniciais da filtração forem desprezíveis, isto é, se houver uma rápida formação e
uniformização do reboco, ou seja, se o spurt loss (Qo) for relativamente baixo.

Relação entre o Volume de Filtrado e a Pressão

De acordo com a equação (9), Qf deveria ser proporcional à raiz quadrada de ∆P,
considerando-se todos os demais fatores constantes, ou seja:

Q f α ∆P 0,5 (13)

Na realidade, esta condição representa uma aproximação, porque os rebocos formados


são em maior ou menor grau compressíveis, de modo que a permeabilidade não é
constante, mas decresce com o aumento da pressão. Dessa forma, a expressão (13)
pode ser escrita de uma forma mais genérica, como:

Q f α ∆P x (14)

Onde o expoente x varia de fluido para fluido, sendo, contudo sempre menor do que 0,5
para o caso dos fiuidos de perfuração contendo argilas.

O valor do expoente x depende da natureza, forma e tamanho das partículas que


compõem o reboco. Um reboco formado por sólidos laminares e plásticos, como argilas
bentoníticas, por exemplo, é bastante compressível tal que x é zero e o valor de Qf
permanece constante com relação à ∆P. A razão para este comportamento é que a
bentonita é composta essencialmente por partículas planares e plásticas de
montmorilonita que tendem a se alinhar paralelamente a superfície do meio poroso com o

41
acréscimo da pressão. Então a permeabilidade do reboco é reduzida a um grau muito
mais elevado do que o seria no caso de um reboco constituído por partículas
corpusculares e rígidas como, por exemplo, reboco composto de arenito, sílica, calcita,
barita.

Relação entre o Volume de Filtrado e a Temperatura

Analisando novamente a equação (9) podemos verificar que o volume de filtrado


acumulado varia inversamente com a raiz quadrada da viscosidade da fase líquida, sendo
todos os demais fatores mantidos constantes.

1
Qf α (15)
µ 0,5

Considerando que para líquidos T. µ = const., o volume do filtrado é diretamente


proporcional à raiz quadrada da temperatura, ou seja, prevê-se um acréscimo no volume
de filtrado com o acréscimo de temperatura devido à redução da viscosidade da fase
líquida. A tabela 12 mostra as mudanças na viscosidade da água e de uma solução salina
com a temperatura.

Tabela 12 — Viscosidade da água e de uma solução aquosa de cloreto de sódio (6 %


peso) a várias temperaturas
Temperatura Viscosidade da água (cP) Viscosidade da solução (cP)
o o
C F
0 32 1,792 -
10 50 1,308 -
20,2 68,4 1,000 1,110
30 86 0,801 0,888
40 104 0,656 0,733
60 140 0,469 0,531
80 176 0,356 0,408
100 212 0,284 -
Tabelas similares são apresentadas no Chemical Engineer's Handbook, de Perry e Chilton.

Exemplo 02:
Um fluido de perfuração, cuja fase contínua é água doce, apresentou 4,0 cm3 de filtrado
acumulado durante 30 min., a 30oC. Estimar o valor do filtrado acumulado a temperatura
de 80oC.

Solução:
Da tabela: µ da água a 30 oC = 0,801 cP e µ da água a 80 oC = 0,356 cP

Aplicando a equação (15) e sabendo que T.µ = constante, temos:

Qf 2 µ1 0,801
= =
Qf1 µ2 0,356

42
0,801
Q f 2 = 4,0
0,356

Qf2= 6,0 cm3

Mudanças na temperatura podem também afetar o filtrado através de mudanças no


equilíbrio eletroquímico que governa o grau de floculação e agregação das partículas do
reboco, alterando-lhe a permeabilidade. Como conseqüência de tais efeitos, o filtrado
pode ser maior ou menor do que o previsto pela equação (15), porém tende a ser maior.

A degradação térmica de um ou mais componentes do fluido de perfuração ou


completação é o terceiro mecanismo através do qual altas temperaturas podem afetar as
propriedades de filtração. Muitos produtos utilizados como controladores de filtrado são de
natureza orgânica e começam a se decompor significativamente a temperaturas acima de
212 oF (100 °F) e essa taxa de degradação térmica aument a com o acréscimo da
temperatura.

Determinações Padronizadas API

Dois testes de filtração estática são amplamente aplicados para se avaliar, em campo, as
propriedades de filtração de um sistema disperso.

O primeiro teste, denominado de Filtração API-BTBP (baixa temperatura, baixa pressão),


é realizado em uma célula de filtração padronizada e cujas condições recomendadas são:
tempo de filtração igual a 30 minutos; temperatura de teste ambiente; pressão aplicada
igual a 100 psi e área de filtração igual a 7 pol2 (45 cm2).

O segundo teste, denominado de Filtração API-ATAP (alta temperatura, alta pressão), é


utilizado para simular condições mais drásticas e também é realizado em células de
filtração padronizadas. As condições recomendadas são: tempo de filtração igual a 30
minutos; temperatura de teste igual a 350 oF; pressão aplicada igual a 500 psi
(alternativamente, 1000 psi) e área de filtração igual a 3,5 pol2.

Os parâmetros que podem ser medidos diretamente, ou determinados a partir dos dois
testes mencionados anteriormente são:
• Filtrado API-BTBP (ou ATAP), QAPI em cm3
• Filtrado Inicial (spurt loss), Qo em cm3
• Filtrado API corrigido, (QAPI)corr em cm3
• Espessura do reboco, em (1/32) pol ou em mm
• Permeabilidade do reboco, em mD

(QAPI)corr em cm3 onde (QAPI)corr = QAPI - Qo

Parâmetros do Reboco: espessura e permeabilidade

O conhecimento do mecanismo de crescimento de reboco e seu controle são de


fundamental importância para o processo de perfuração e completação de poços. Dois
parâmetros podem ser avaliados neste sentido: a espessura e a permeabilidade.

43
Espessura do Reboco

A espessura do reboco é considerada proporcional a perda de fase líquida (filtrado).


Portanto, somente a determinação do volume de filtrado é suficiente para a avaliação do
potencial de perda por filtração de um fluido. Na realidade, embora a espessura do reboco
esteja relacionada à perda da fase líquida, esta relação varia de fluido para fluido, porque
o valor da relação volume de filtrado/volume de reboco (Qf/Qr), depende da concentração
de sólidos no fluido e da quantidade de água retida no reboco. O volume de filtrado
decresce com o acréscimo da concentração de sólidos, enquanto o volume de reboco
aumenta.

A quantidade de água retida no reboco depende dos sólidos contidos nos fluidos, ou seja,
depende da interação sólido-água. No caso das argilas bentoníticas que podem associar
uma elevada quantidade de água, o reboco formado apresenta valores de Qf/Qr
relativamente baixos. A espessura do reboco é, portanto regida pelo tamanho e forma dos
sólidos, interação entre os sólidos e o líquido de dispersão e a própria interação sólido-
sólido. A sua determinação pode ser efetuada com um paquímetro ou com uma régua
metálica.

Permeabilidade do Reboco

A permeabilidade do reboco é um parâmetro fundamental para o controle da filtração


estática e dinâmica. Na realidade é melhor que qualquer outro parâmetro para avaliar o
comportamento filtrante de qualquer fluido. A permeabilidade apresenta a grande
vantagem sobre o volume de filtrado por ser independente da concentração de sólidos.

Vários pesquisadores determinaram as permeabilidades do reboco de vários fluidos de


perfuração de composição usual, concluindo que a taxa de filtração depende somente da
permeabilidade do reboco e independe da permeabilidade da rocha, nos casos em que a
permeabilidade do reboco formado é inferior à permeabilidade da rocha. Gates e Bowie,
através de testes, mediram várias permeabilidades de reboco e mencionaram em seus
trabalhos a dificuldade de medir a espessura do reboco com precisão. Este problema
pode ser contornado utilizando o método de Vom Enelhardt e Schindewolf para se
determinar o volume do reboco, e então calcular a permeabilidade do reboco através da
expressão (16), derivada da equação (9):

µ
K = Q f Qr (16)
2t∆PA 2

Quando Qf e Qr são expressos em cm3, t em seg, ∆P em atm, A em cm2, µ em cP e


considerando as condições impostas ao ensaio padronizado API-BTBP, a equação (16)
torna-se:

K = Q f Qr µ .1,99 x10 −5 mD (17)

O método descrito por Gates e Bowie é aplicável em estudos de filtração estática no


laboratório. No campo, é mais conveniente medir a espessura do reboco manualmente e
usar a equação (9) na forma:

44
Q f εµ
K= (18)
2t∆PA

E quando ε for expresso em mm, para as condições padronizadas no teste API-BTBP, a


equação (18) torna-se:

K = Q f εµ .8,95 x10 −5 mD (19)

Krumlein e Monk investigaram a permeabilidade de vários rebocos formados por areia de


rio, separando-as em dez frações de tamanhos diferentes e recombinando-as. Os
resultados mostraram que a permeabilidade decresce: (i) com a redução do diâmetro
médio da partícula e (ii) com o aumento do intervalo de variação dos diâmetros das
partículas, ou seja com o decréscimo da uniformidade da distribuição granulométrica.

Nos fluidos de perfuração e de completação a permeabilidade do reboco é influenciada


pela natureza das partículas coloidais existentes no sistema, tanto quanto pelo tamanho e
forma. Dessa forma, os rebocos formados cm suspensões de bentonita em água tem
permeabilidades excepcionalmente baixas devido à forma planar das partículas que
facilita a deposição normal à direção do fluxo. Já os compostos orgânicos
macromoleculares, como amidos, reduzem a permeabilidade do reboco devido à
opacidade de deformação e ao pequeno tamanho das suas moléculas hidrolizadas.
Outros polímeros orgânicos, como os poli-eletrólitos (CMC), são adsorvidos nas partículas
sólidas dispersas no fluido e obstruem parcialmente os poros do reboco.

Influência do Grau de Dispersão sobre o Filtrado

Quanto maior for o grau de dispersão de um determinado fluido, menor será o volume de
filtrado e, consequentemente, seu reboco apresentará espessura e permeabilidade
relativamente baixas.

A floculação de partículas em um sistema disperso é um tipo de associação onde


predominam forças atrativas relativamente fortes. Esta estrutura persiste no reboco até
certo grau de limitação, causando um considerável aumento na permeabilidade. Contudo,
quanto maior for a pressão aplicada mais a estrutura tende a se deformar. Dessa forma, a
porosidade e permeabilidade diminuem com a pressão. Se o grau de floculação aumenta,
as forças de interação entre as partículas também aumentam, tornando a estrutura mais
forte e mais resistente à pressão. A estrutura será mais forte ainda se os fenômenos de
floculação e agregação estiverem associados.

Assim sendo, as condições eletroquímicas devido aos fenômenos de superfície que


ocorrem nas partículas dispersas em um fluido de perfuração ou completação são fatores
primordiais na definição da permeabilidade de seu reboco. Generalizando, é comum
observar permeabilidades de rebocos de fluidos de perfuração floculados da ordem de 10
mD e superiores enquanto para fluidos dispersos, tratados com agentes dispersantes, as
permeabilidades de reboco são da ordem de 10 mD e inferiores.

45
Mecanismo de Obstrução

Quando certo fluido contendo sólidos entra em contato com uma formação porosa e
permeável ocorre uma “perda inicial" do fluido (fases líquida e sólida) antes da "filtração
propriamente dita", isto é, antes do volume do filtrado ser regido pela equação (6), se
tornando proporcional a raiz quadrada do intervalo de tempo. Durante a perfuração de
poços, a perda inicial de fiuido pode ser elevada caso a filtração ocorra em rochas de
permeabilidade elevada. Porém, se o fluido contém sólidos de tamanho apropriado para
obstruir os poros da rocha, estabelece-se a base para a formação do reboco. Apenas
partículas de certo tamanho relativo podem obstruir os poros da rocha. Partículas maiores
que a abertura do poro não conseguem penetrá-lo e permanecem no fluido, enquanto que
partículas bem menores invadem continuamente a rocha até encontrar um estreitamento.
Segundo Coberly, é necessário que o fluido contenha partículas de tamanhos iguais e
inferior a 1/3 do tamanho das aberturas dos poros para que a obstrução seja efetiva, ou
seja:

( 3) d
dc = 1 p (20)

Onde dc é o diâmetro crítico para obstrução e dp é o diâmetro do poro.

zona invadida (sólidos e líquidos)

pw = pressão zona não


exercida pelo contaminada
fluido
pf = pressão da
formação
reboco externo

Figura 5 — Invasão de uma formação permeável pelos sólidos dos fluidos de perfuração
ou completação

Uma vez que as partículas de diâmetro aproximadamente igual a 1/3 do diâmetro do poro
formam um arco de obstrução primária, denominado por “arco romano”, as partículas
menores juntamente com as partículas coloidais tendem a completar rapidamente a
obstrução. Como resultado desse processo, estabelece-se três zonas distintas durante a
filtração: (i) o reboco; (ii) a zona de obstrução; e (iii) a zona invadida pelo filtrado,
conforme ilustra a Figura 5.

De acordo com o que foi apresentado anteriormente, um fluido pode fornecer um baixo
volume de filtrado em papel de filtro, especificado no teste padronizado pelo API, porém

46
gerar um elevado volume de filtrado na filtração através de uma formação de
permeabilidade elevada no poço. A melhor maneira de determinar o tamanho ideal das
partículas para o processo de obstrução é através da realização de ensaios utilizando
amostras da rocha de interesse. Quando isto não é possível, um bom guia prático pode
ser obtido a partir de trabalhos publicados sobre o assunto, conforme exemplifica a tabela
2. Segundo um desses trabalhos, uma boa regra prática é considerar o diâmetro médio do
poro igual à raiz quadrada da permeabilidade, isto é:

_
dp = K (21)

Onde dp é o diâmetro médio dos poros, em micron, e K é a permeabilidade, em mD.

O diâmetro crítico das partículas pode ser definido por

1 _ 1
dc = d p = K (22)
3 3

Se a seleção granulométrica das partículas for bem feita, a concentração do agente


obturante deve ser bem pequena, ou seja, aproximadamente 1-5 Ib/bbl para arenitos
consolidados e 5-10 Ib/bbl para os arenitos inconsolidados.

Tabela 13 - Tamanho crítico de partículas para obstruir formações de permeabilidade


conhecida

Permeabilidade (mD) Tamanho crítico das partículas obturantes (µm)


<100 3
100 – 1.000 10
1.000 – 10.000 33
> 10.000 74

Teoria da Filtração Dinâmica

O mecanismo do processo de filtração é diferente sob condições dinâmicas, quando


comparado com o da filtração estática. A começar pelo crescimento do reboco que é
limitado pela ação erosiva do fluxo de fluido, influenciando, portanto, a taxa de filtração e
o volume acumulado de filtrado. No início do processo de filtração dinâmica, a taxa de
filtração é muito alta e o reboco aumenta rapidamente. Entretanto, a taxa de crescimento
do reboco decresce com o passar do tempo até se tornar igual à taxa de erosão do
mesmo. A partir de então, a espessura do reboco permanece constante. Sob condições
de equilíbrio dinâmico, portanto, a vazão de filtração depende da espessura do reboco,
que é governada pela equação de Darcy. Por outro lado, sob condições estáticas, em
teoria, a espessura do reboco aumenta indefinidamente. Na prática, porém, a espessura
do reboco tende a um valor constante.

47
Controle da Filtração

A taxa de filtração é geralmente controlada com dois objetivos principais: (i) controlar a
espessura e as características do reboco que se deposita sobre as formações permeáveis
e (ii) limitar o volume de filtrado que invade as formações de subsuperfície.

Como foi apresentado anteriormente, existem basicamente duas maneiras de se medir a


taxa de filtração: (i) sob condições estáticas e (ii) sob condições dinâmicas. Nas
determinações de campo se utiliza o teste padronizado API, que é realizado sob
condições estáticas. O ensaio de filtração dinâmica é mais sofisticado e requer
equipamentos mais complexos, sendo, portanto indicado somente para pesquisa e
utilização em laboratório de apoio.

Um ensaio de filtração estática é simples e tem a duração de 30 minutos. Após aplicação


da pressão estabelecida para o ensaio, o volume de filtrado é coletado em uma proveta
graduada e os volumes acumulados são registrados para os intervalos de tempo 2, 5, 10,
15 e 30 minutos. Com os resultados obtidos, um gráfico de “volume acumulado de filtrado”
(Qf em cm3) versus raiz quadrada dos “intervalos de tempo” (√t em min0,5) é construído
para a determinação das seguintes características de filtração para o fluido em teste:

(1) Filtrado API, (QAPI como o volume de fase líquida acumulada durante 30 min);

(2) Filtrado inicial, (Qo como o volume de filtrado acumulado durante a fase inicial da
filtração (interseção do prolongamento da reta com o eixo vertical (Qf), ou seja, o valor de
Qf para t = 0));

(3) Filtrado API corrigido, ((QAPI)corr como a diferença QAPI = QAPI - Qo);

(4) A espessura do reboco (e em 1/32" ) após retirar o papel de filtro da célula de filtração e
lavar o excesso de sólidos não aderentes sobre o reboco depositado;

(5) As propriedades do reboco tais como textura, dureza, plasticidade.

(6) A permeabilidade do reboco, determinada pela equação (19);

(7) Algumas propriedades químicas do filtrado como pH, alcalinidades, salinidades e


concentração de íons (Ca++ , Mg++ , por exemplo).

Aditivos para Controle da Filtração

Os aditivos utilizados para o controle da filtração denominados de controladores de


filtrado, normalmente são sólidos pulverizados e com granulometria pré-estabelecida para
desempenhar com eficiência a sua função. A habilidade desses sólidos em formar um
reboco de baixa permeabilidade e impedir a invasão da fase líquida do fluido para as
formações permeáveis os caracteriza como controlador de filtrado.

Os fluidos de perfuração e de completação utilizam um número variado de aditivos sólidos


para controlar o filtrado. Existem basicamente duas classes de aditivos usados para
reduzir a taxa de filtração: aditivos solúveis e aditivos insolúveis.

48
Os aditivos insolúveis, assim denominados por serem insolúveis ou pouco solúveis nos
ácidos inorgânicos comuns (HCl, HF, por exemplo), são amplamente usados na
composição dos fluidos de perfuração (vide tabela 14) e podem danificar
permanentemente as formações produtoras se o raio de invasão desses sólidos for
elevado.

Os controladores de filtrado solúveis, assim denominados por apresentarem elevada


solubilidade em ácidos ou em óleo, são bastante usados na composição dos fluidos de
completação e não danificam permanentemente o reservatório por invasão de sólidos
porque a própria produção do poço ou um tratamento com ácido elimina o dano.

Tabela 14 - Aditivos para controle de filtrado

Fluidos de perfuração Fluidos de completação


1. Argilas coloidais: Bentonita 1. Sólidos de granulometria apropriada e
solúveis em ácidos : calcita (CaCO3), siderita
(FeCO3)
2. Agentes dispersantes e defloculantes: 2. Sólidos solúveis em óleo: resinas, ácido
polímeros, lignosulfonatos, lignitos benzóico
3. Polímeros modificados: carboxi metil 3. Sólidos solúveis em água, cristais de sal
celulose (CMC), hidroxipropilamido com granulometria definida
(HPA)
4. Polímeros naturais: amidos de 4. Polímeros: Carboximetilcelulose (CMC),
mandioca e de milho hidroxietilcelulose (HEC), goma guar e
derivados
5. Sólidos de granulometria apropriada e -
solúveis em ácidos : calcita (CaCO3)
6. Sólidos solúveis em água, cristais de -
sal com granulometria definida

As argilas coloidais, principalmente a bentonita, reduzem a taxa de filtração devido a sua


forma e plasticidade. Esse aditivo é o componente básico dos fluidos de perfuração à
base de água e é encontrado naturalmente durante a perfuração de formação argilosa.

Os agentes dispersantes e defloculantes reduzem a taxa de filtração por que defloculam


ou diminuem o grau de floculação dos fluidos de perfuração à base de água contendo
argilas bentoníticas.

O carboximetilcelulose de sódio (CMC) e o hidroxipropilamido (HPA) reduzem a taxa de


filtração porque são adsorvidos na superfície de sólidos coloidais (argilas, por exemplo) e
reduzem bastante a permeabilidade do reboco formado. Eles têm como limitação a sua
decomposição térmica acima de 250 oF. Os amidos reduzem a taxa de filtração de modo
semelhante ao CMC e ao HPA. A fermentação do amido e sua degradação térmica acima
de 200 °F são os dois fatores limitantes no uso des se aditivo. Se o fluido de perfuração
possuir um pH inferior a 11,5 ou concentração salina inferior a 250.000 ppm, a
fermentação (degradação biológica) pode ocorrer, caso não seja adicionado um
bactericida apropriado. Os sólidos solúveis em ácidos (calcita e siderita) são largamente
usados nos fluidos de completação comercializados em diversas granulometrias (40, 100,
150, 200, 325 mesh) e reduzem a taxa de filtração por formar pontes de obstrução nos

49
canais dos poros da rocha permeável. Os demais aditivos solúveis em óleo (resinas e
ácido benzóico) e em água (sais) reduzem a taxa de filtração de modo semelhante aos
sólidos solúveis em ácidos, isto é, por obstrução.

50
Fluidos de Perfuração à Base de Água
Introdução e Classificação

São denominados “fluidos de perfuração à base de água" aqueles que têm por fase
contínua ou dispersante um meio aquoso. Este meio pode conter sólidos e óleos
dispersos e eletrólitos dissolvidos.

A definição e classificação de um fluido à base de água consideram principalmente a


natureza da água e os aditivos químicos empregados no preparo do fluido. A proporção
entre os componentes básicos e as interações entre eles provocam sensíveis
modificações nas propriedades físicas e químicas do fiuido. Conseqüentemente, a
composição é o fator principal no controle das propriedades desses fiuidos.

A água, que é a fase contínua e o principal componente de qualquer fiuido de base água,
pode ser doce, dura ou salgada. A água doce, por definição, tem salinidade igual ou
inferior a 1.000 de NaCl ou equivalente e, com esta salinidade, as suas propriedades são
próximas das propriedades da água pura. Portanto, do ponto de vista industrial para
aplicação em fluidos de perfuração, a água doce não necessita de pré-tratamento químico
porque praticamente não afeta o desempenho dos aditivos empregados no preparo do
fluido. A água dura tem como característíca principal a presença dos íons Cálcio (Ca++) e
magnésio (Mg++) em concentração suficiente para alterar o desempenho dos aditivos
químicos. A água salgada apresenta salinidade superior a 1.000 ppm de NaCl ou
equivalente e pode ser natural, como a água do mar por exemplo, ou pode ser salgada
artificialmente com a adição de sais como o NaCl, KCl ou CaCl2. A principal função do
meio aquoso é manter os materiais coloidais dispersos.

Estes materiais coloidais, principalmente argilas e polímeros, são os aditivos que


controlam a viscosidade, o limite de escoamento, as forças géis e o filtrado em valores
adequados para conferir ao fluido uma boa taxa de remoção dos sólidos perfurados e
capacidade de estabilização das paredes do poço. A viscosidade da água doce nas
condições padrões (14,7 psi e 60 oF) é igual a 1,1 cP. No entanto, a viscosidade é função
da temperatura, pressão e da concentração de sais dissolvidos. Estudos indicam que a
viscosidade da água doce varia pouco com a variação de temperatura na faixa de 50 a
500 oF. E como a água pode ser considerada incompressível sob pressões a que os
fluidos de base água são utilizados, o efeito da pressão sobre a viscosidade da água
também é desprezível. Portanto, os efeitos da pressão e da temperatura sobre as
propriedades da fase contínua dos fluidos de base água podem ser negligenciados. Por
outro lado, a temperatura pode afetar bastante as propriedades dos fluidos de base água
devido a sua influência direta no comportamento dos aditivos dispersos, bem como no
estado de associação (agregação, floculação) das partículas coloidais. Sendo a água o
meio de dispersão dos produtos químicos, suas propriedades químicas como pH,
alcalinidades, dureza e salinidade afetam o desempenho destes. Assim é que, por
exemplo, a presença de Ca2+ e Mg2+ na água de preparo (água do mar, água de rios, por
exemplo) comprometem a ação de certos produtos como carboximetilcelulose (CMC) e

51
alguns tipos de surfactantes (sabões, por exemplo). Em geral, o Ca2+ e Mg2+ formam
compostos insolúveis (ou precipitados) quando em contato com estes produtos.

A eliminação de Ca2+ e Mg2+ das águas duras pode ser conseguida, parcial ou
integralmente, através da adição de soda cáustica, soda ash ou bicarbonato de sódio,
antes da adição dos produtos químicos de composição do fluido. O carbonato e
bicarbonato de sódio são mais eficientes na eliminação do cálcio e magnésio porque os
produtos formados nas reações são praticamente insolúveis em água (carbonato de cálcio
e carbonato de magnésio). A soda cáustica é menos eficiente, ou seja, elimina apenas
parcialmente Ca2+ e Mg2+ , pois os produtos formados na reação, hidróxido de cálcio e
hidróxido de magnésio, são parcialmente solúveis, e conseqüentemente, provocam o
aumento do pH e da alcalinidade da água. Apesar do bicarbonato de sódio precipitar
integralmente o Ca2+ e o Mg2+ é necessário um ambiente alcalino para que a reação
ocorra. Em resumo, o carbonato de sódio (soda ash) é o reagente mais eficiente e
indicado para eliminar a dureza das águas naturais.

A princípio, qualquer tipo de água pode ser empregada no preparo do fluido, entretanto a
sua qualificação é de suma importância. A qualidade da água influencia o desempenho
dos aditivos químicos usados na composição do fluido, influenciando também, as
concentrações empregadas e, conseqüentemente, o custo final por unidade de volume do
fluido. Portanto, os fatores principais a serem considerados na seleção da água de
preparo são:
1) disponibilidade e custo (transporte, tratamento, etc.);
2) tipos de formações geológicas a serem perfuradas;
3) produtos químicos a serem usados na composição do fluido;
4) equipamentos e técnicas a serem empregadas para avaliar as formações, como, por
exemplo, tipos de perfis a serem corridos no poço.

Os sólidos dispersos no meio aquoso podem ser ativos e inertes. Os sólidos ativos
empregados são materiais argilosos cuja função principal é viscosificar o fluido. O material
mais usual é a bentonita que possui como componente principal o argilomineral esmectita
sódica também conhecida por montmorilonita sódica. A bentonita é usada na fabricação
de fluidos de base água doce ou, pré-hidratada em água doce, nos fluidos de base água
salgada. Outra argila empregada é a atapulgita que tem como componente principal o
argilomineral paligorsquita. A atapulgita é usada para aumentar a viscosidade de fluidos
de base água salgada por adição direta, isto é, sem a necessidade de pré-hidratação em
água doce. As argilas, de um modo geral, são materiais de dimensões coloidais, ou seja,
apresentam diâmetro equivalente de Stokes inferiores a 2 µm. A bentonita e a atapulgita,
em particular, são argilas de elevada área específica, portanto apresentam elevada
capacidade reativa em meio aquoso. Alguma argila sedimentar pode se incorporar ao
fluido durante a perfuração de camadas argilosas ou intercalações de argila. Portanto, são
duas as fontes possíveis de sólidos ativos nos fluidos de base água: as argilas
industrializadas (bentonita e/ou atapulgita) e as argilas naturais oriundas de formações
argilosas.

Os sólidos inertes existentes nos fluidos de perfuração têm duas origens:


1) adição de materiais adensantes industrializados
2) detritos finos de rochas perfiuadas.

52
O adensante mais comum é a baritina que tem como substância básica o sulfato de bário.
Entretanto, outros materiais inertes usados como adensantes são calcita e hematita. Os
sólidos inertes oriundos das rochas sedimentares podem ser areia, silte e calcáreo fino.

A terceira classe de componentes dos fluidos de base água são os produtos químicos,
adicionados com fins específicos. Nesta classe estão incluídos:
1) alcalinizantes e controladores de pH como a soda cáustica, potassa cáustica e cal
hidratada;
2) dispersantes ou defloculantes como lignosulfonatos, taninos, lignitos e fosfatos;
3) redutores de filtrado como o amido e CMC;
4) floculantes como o cloreto de sódio, a cal, o gesso e a soda cáustica;
5) polímeros de um modo geral, como o CMC (carboximetilcelulose), HEC
(hidroxietilcelulose), biopolímero XC (Xanthomonas Campestris) (goma xantana),
poliacrilamida, que são empregados para viscosificar, deflocular ou reduzir filtrado;
6) surfactantes empregados como emulsificantes e redutores da tensão interfacial;
7) removedores de cálcio como a soda ash e o bicarbonato de sódio;
8) inibidores de folhelho como o cloreto de potássio, cloreto de sódio ou cloreto de cálcio
e certos tipos de polímeros;
9) inibidores de corrosão como os sais de amina;
10) bactericidas como o glutaraldeído.

Os fluidos de perfuração de base água podem ser classificados em cinco grandes


categorias: inicial, disperso, inibido, baixo teor de sólidos e emulsionado com óleo.
Embora existam algumas diferenças entre a classificação adotada neste compêndio e no
Brasil daquela sugerida pelo American Petroleum Institute (API) e pela International
Association of Drilling Contractors (lADC), observe na tabela 15 que existe uma
estruturação comum entre elas.

Tabela 15 — Comparação entre a classificação geral adotada neste compêndio e do API


e lADC para os fluidos de perfuração de base água
Classificação Classificação API e Denominação detalhada
adotada IADC
Inicial ou não inibido Não disperso * Natural
* Água + bentonita hidratada
* Floculado com soda cáustica ou cal
hidratada

Disperso Disperso * Tratado com dispersante ou afinante


* Tratado com lignosulfonato e/ou lignito
Tratado com cálcio * Inibido com cal hidratada
* Inibido com gesso
* Inibido com cloreto de cálcio
Inibido Salgado * Inibido com cloreto de potássio
* Inibido com cloreto de sódio
* Inibido com sal e cal
* Inibido com sal e polímero
Saturado * Salgado saturado
Baixo teor de sólidos Baixo teor de sólidos * Baixo teor de sólidos
Tratado com polímeros * Tratado com polímeros
Emulsionado Emulsionado * Emulsionado com óleo

53
Fluido Inicial ou Convencional, não-inibidos

Os fluidos usados no início da perfuração, isto é, até se fixar o revestimento de superfície,


ou na perfuração de poços rasos são, em geral, compostos de água e argila. Esta pode
ser adicionada intencionalmente ou incorporada durante a perfuração das camadas
superficiais de areias inconsolidadas e/ou calcáreos, que podem conter alguma argila ou
intercalações de formações argilosas. A principal argila comercial é a bentonita, que é
adicionada à água com a função principal de aumentar a viscosidade, força gel e limite de
escoamento. Além disto, ela exerce controle sobre a taxa de filtração. A atapulgita é outra
argila comercial, de emprego muito restrito, que pode ser adicionada diretamente na água
do mar ou salgada com qualquer concentração de sal, com o objetivo de elevar a
viscosidade. Contudo, apesar dessa argila apresentar boa capacidade de viscosidade, ela
não mostra nenhum controle sobre o filtrado. A dispersão de bentonita em águas
salgadas é normalmente realizada através de ''pré-hidratação" em água doce. É comum
nas perfurações na plataforma marítima, pré-hidratar a bentonita em água doce para,
posteriormente, diluir a suspensão com água do mar.

Como a maioria das rochas superficiais são praticamente inertes em relação a água doce,
não é necessário usar aditivos específicos para reduzir a atividade da fase aquosa nem
para o controle do filtrado. No decorrer da perfuração, algum tratamento químico corretivo
pode ser efetuado. Pode-se, por exemplo, acionar lignosulfonato para controlar os
parâmetros reológicos do fluido quando uma camada espessa de formação argilosa com
alto teor de esmectita é atravessada. Neste caso, a outra alternativa seria a diluição do
fluido.

A composição básica de um fluido inicial, que na maioria dos casos se emprega do tipo
floculado ou não-disperso (veja classificação), pode ser resumida conforme a tabela 16.

Tabela 16 - Composição típica de um fluido inicial floculado

Componente Concentração Função


Água (doce ou salgado) QSP Meio de dispersão
Bentonita (ou atapulgita) 0 – 30 lb/bbl Viscosificante
Soda cáustica (ou cal) 0 – 0,5 (1,5) lb/bbl Floculante
Lignosulfonatos* 0 – 3 lb/bbl Dispersante / afinante
Amidos 0 – 8 lb/bbl Controlador de filtrado

QSP—Quantidade suficiente para produzir um certo volume V de fluido


(*) - Usados eventualmente, quando necessário

Quando a fase inicial do poço tem diâmetros elevados (17 ½ a 36 pol), o que implica em
baixas velocidades de retomo no anular, a adição de um floculante das partículas de
argila é fundamental. Os floculantes mais empregados são a soda cáustica e a cal
hidratada, em concentrações pré-determinadas em teste piloto. É oportuno lembrar que
estes aditivos em concentrações elevadas podem atuar defloculando o sistema. O
parâmetro usado no campo para controlar a concentração do floculante é o pH. Como
regra geral, a concentração de cal hidratada deve ser tal que o pH se situe entre 9,0 a 9,5,
para que a dispersão de bentonita em água doce, com 30 Ib/bbl de concentração, atinja
uma floculação ótima. Por outro lado, se soda cáustica for utilizada, o pH não deve

54
ultrapassar 10,0. Se estes valores forem ultrapassados, o excesso de soda cáustica ou
cal pode reduzir bastante a força gel. Se, além do controle da reologia for intenção
também reduzir o inchamento e dispersão das formações argilosas perfuradas, a adição
de soda cáustica deve ser controlada para um pH equivalente não superior a 8,5.

Em alguns casos, a água doce ou salgada pode ser empregada na perfuração durante a
fase inicial. Os casos mais usuais são as perfurações de:
(1) formações consolidadas de baixa permeabilidade e inertes, tais como calcáreo,
basalto e diabásio;
(2) cimento que fica no interior do condutor ou revestimento após a cimentação; (3) zonas
com perda de circulação total;
(4) formações superficiais do fundo do mar. Neste caso, como a perfuração ocorre através
de formações inconsolidadas (areias, conglomerados, recifes de corais, etc.), é preciso
deslocar volumes de fluido viscoso, isto é, água mais bentonita floculada,
intermitentemente, a cada 30 metros perfurados, por exemplo, para limpar o poço,
consolidar e estabilizar suas paredes, até que o revestimento inicial ou condutor seja
fixado.

As vantagens de se empregar água doce ou do mar, sem aditivos, como fluido de


perfuração são:
(1) custo muito baixo, ou praticamente nulo;
(2) altas velocidades de retorno e baixa perda de pressão por fricção;
(3) fácil e rápida separação dos cascalhos e gases na superfície;
(4) altas taxas de penetração atingidas;
(5) melhor refrigeração da broca e dos equipamentos.

Por outro lado, a água apresenta desvantagens que podem comprometer ou dificultar a
perfuração:
(1) não mantém os sólidos em suspensão;
(2) não consolida as paredes do poço;
(3) a velocidade de retomo elevada pode erodir as paredes do poço;
(4) provoca a hidratação das argilas.

Propriedades dos Fluidos Iniciais

As principais propriedades controladas nos fluidos iniciais são a massa específica, os


parâmetros reológicos (principalmente limite de escoamento e força gel) e o teor de areia.
A massa específica dos fluidos iniciais depende da natureza da água de preparo e da
concentração de bentonita (ou atapulgita) empregada. Quando se prepara um fluido com
bentonita (d=2,60) e água doce (d=1,00), a massa específica do fluido inicial se situa
entre 8,6-9,0 Ibm/gal. Se for usada água do mar (d=1,03) ao invés de água doce, a massa
específica ficará entre 8,7 e 9,1 Ibm/gal. Algumas medidas podem ser adotadas para
reduzir a massa específica dos fluidos iniciais:
(1) substituir a bentonita (d=2,60) por polímeros (d=1,10 a 1,50). Neste caso, o teor de
sólidos ativos é reduzido de 6% v/v para menos de 1% v/v, uma vez que a concentração
do polímero é baixa, isto é, no máximo 2 Ib/bbl;
(2) substituir bentonita por atapulgita (d=2,20). Neste caso, a redução da massa
específica é pequena;
(4) perfurar com fluido aerado;
(5) perfurar com água sem retorno ou com ar.

55
A fase inicial do poço é caracterizada por grandes espaços anulares e velocidades de
retorno reduzidas. Em geral, o escoamento do fluido inicial (exceto água) ao redor dos
comandos e dos tubos é laminar. A velocidade de queda das partículas de cascalhos
pode ser calculada através de uma expressão derivada da lei de Stokes, válida para
partículas esféricas em queda muito lenta:

_
− 53,5(ρ s − ρ ) v a de p
vs = _
(1)
6,65 xτ 0 (D0 − Di ) + v a µ p

A equação (1) foi derivada considerando ainda o modelo de fluxo plástico ideal ou de
Bingham, onde: ρs é a massa específica do cascalho, Ibm/gal; ρ é a massa específica do
fluido, Ibm/gal; va é a velocidade média no anular, pé/s; dep é o diâmetro equivalente das
partículas, pol; τ0 é o limite de escoamento plástico, Ibf/100 pé2; Do é o diâmetro do poço
ou da broca, pol; Di é o diâmetro externo da tubulação, pol; µp - é a viscosidade plástica,
cP.

O segundo termo do denominador da equação (1), isto é, va x µp, representa cerca de 1%


do 1º. termo do denominador da mesma equação durante a fase inicial de perfuração de
poço com broca de 30", 26", 20" ou 17 ½ ". Em outras palavras, 6,65 . τ0 . (Do - Di) é bem
maior do que va . µp. Portanto, podemos desprezá-lo e a equação (1) se reduz a:

_
− 8,05(ρ s − ρ ) v a de p
vs = (2)
τ 0 (D0 − Di )

Fixando valores para todos os parâmetros, exceto para os parâmetros reológicos,


podemos simplificar a equação (2) para:

− C
vs = (3)
τ0

Onde C é uma constante.

De acordo com a expressão (3), a velocidade de queda dos cascalhos no espaço anular é
inversamente proporcional ao limite de escoamento. A literatura mostra que, de fato, a
velocidade de queda de partículas decresce com o aumento do limite de escoamento,
porém esta relação não é linear como preceitua a equação (3). Estes trabalhos,
associados à prática de campo, sugerem que o limite de escoamento deve ser controlado
na faixa de 25 a 45 lbf/100 pé2, na fase inicial da perfuração. Outro parâmetro reológico
que deve ser considerado na avaliação do carreamento dos sólidos no anular é a força
gel inicial. Esta deve ser mantida em torno de 10 Ibf/100 pé2 a fim de se obter uma boa
capacidade de carreamento.

Como a velocidade de transporte das partículas de cascalho, vr, pode ser avaliada pela
diferença:

56
_ _ _
vr = va − vs (4)

E a razão de transporte definida por

_
vr  vs 
Rt = _
= 1 −  (5)
va
va  

Então, é conveniente reduzir o valor da velocidade de queda (vs), isto é, aumentar a razão
de transporte (Rt). Isto se consegue floculando as partículas de argila do fluido inicial, ou
seja, aumentando a força gel inicial e/ou o limite de escoamento de Bingham. Em
princípio, tanto a força gel inicial quanto o limite de escoamento de Bingham são medidas
correspondentes às forças eletro-viscosas do sistema devido às cargas elétricas
superficiais das partículas de argilas. Outra propriedade do fluido que pode ser usada
para controlar o grau de floculação do sistema é o pH. Os valores de pH adequados para
a floculação já foram definidos anteriormente.

O valor do filtrado dos fluidos iniciais pode ser controlado em função da natureza da
formação a ser perfurada. As formações consolidadas, inertes e de baixa permeabilidade,
como basalto, calcário e alguns arenitos, podem ser perfuradas com água ou com fluidos
sem filtrado controlado. Em formações inconsolidadas, como areia grossa,
conglomerados, por exemplo, não é possível, às vezes, perfurar com água, devido à
infiltração e perda de circulação. Neste caso, pode-se usar um fluido floculado com filtrado
alto, que permite a formação de um reboco muito espesso, facilitando a consolidação das
paredes do poço. Se a perda de circulação for total e comprometer o avanço da
perfuração, pode-se adicionar ao fluido alguns materiais obturantes para o seu controle.
Em formações argilosas, é necessário algum controle do filtrado, em função do tipo de
argila predominante. Em geral, a experiência em cada área é que define o valor máximo
de filtrado permissível.

O controle da taxa de penetração é fundamental para o sucesso da perfuração,


principalmente no início do poço, cujos gradientes de fratura das formações são, em
geral, baixos. A ausência de controle da taxa de penetração pode causar perda de
circulação através de fraturas induzidas devido ao valor elevado da massa específica do
fluido no anular. A equação de balanço de material que pode auxiliar no controle de taxa
de penetração é:

Qρ + Qcρc=(Q+Qc) ρa (6)

Onde Q é a vazão da bomba, em gal/min, ρ é a massa específica do fluido na sucção,


Ibm/gal, ρc é a massa específica média dos sólidos perfurados, Ibm/gal, Qc é a vazão de
cascalhos perfurados, gal/min, ρa é a massa específica média do fluido no anular, Ibm/gal.

Na equação (6) , a vazão dos sólidos perfurados (Qc ) pode ser calculada por:

Qc=fa Cp Tx - (7)

Onde fa é um fator de alargamento volumétrico, Cp é a capacidade volumétrica do poço,


gal/pé, Tx é a taxa de penetração da broca, pé/min.

57
Substituindo a equação (7) em (6) temos:

Q(ρ a − ρ )
Tx = (8)
f a C p (ρ c − ρ a )

A expressão (8) pode ser usada no controle da taxa de penetração na perfuração da fase
inicial do poço, com o objetivo principal de evitar perda de circulação induzida.

Tabela 17 - Valores típicos das propriedades programadas para fluido inicial do tipo água
+ argila + floculante

Massa específica (lb/gal) 8,4 – 9,6


pH 8,5 – 10,0
Viscosidade Marsh (seg/1000 cm3) 60 – 100
Limite de escoamento (lbf/100pé2) 20 – 50
2
Força gel inicial (lbf/100pé ) 5 – 25
Filtrado Não controlado

Em resumo, as principais propriedades a serem controladas no fluido inicial são:


(1) massa específica
(2) viscosidade Marsh
(3) pH
(4) limite de escoamento e forca gel inicial

A massa específica é função da pressão de poros e de fratura das formações. O pH será


controlado, principalmente, em função do grau de floculação desejável. A viscosidade
Marsh é função do grau de fluidez desejável e o limite de escoamento e força gel inicial
são controlados para propiciar uma boa remoção dos cascalhos, ou seja, manter a razão
de transporte (Rt) superior a 50%. Um parâmetro de perfuração que não deve ser
esquecido na fase inicial do poço é a taxa de penetração. A tabela 17 informa sobre a
ordem de grandeza dos valores máximos e mínimos praticados em campo. Convém
lembrar que a definição desses valores é função de vários outros fatores como, por
exemplo, tipos de formações, profundidade de posicionamento da sapata do revestimento
de superfície, tipo de fluido a ser usado nessa fase e na fase seguinte, entre outros.
Portanto, os valores da tabela 3 se referem apenas a fluido inicial floculado. A tabela 18
discrimina outros tipos de fluidos iniciais que podem ser programados em função dos tipos
de formação a ser perfuradas.

Tabela 18 - Tipos de fluidos iniciais em relação aos tipos de formações a ser perfuradas

Formação Fluido
Consolidada, inerte e de baixa permeabilidade Água
(calcário, diabásico, basalto, arenito) Água + argila (ou polímero)
Argilas ou folhelhos Água + argila + amido (ou
CMC) + dispersante
Inconsolidada (areia, conglomerados) Água + argila + floculante
Formação com fraturas naturais Água + polímeros + LCM
Fluidos aerados ou ar

58
Água do Mar nos Fluidos Iniciais

É muito comum na perfuração de poços na plataforma continental (offshore), utilizar água


do mar no preparo e/ou condicionamento dos fluidos de perfuração. A água do mar
apresenta uma composição média de acordo com a tabela 19. Como se pode notar, a
dureza total da água do mar (Ca2+ ; Mg2+ ) é relativamente alta, afetando o rendimento
das argilas e de alguns polímeros. É recomendável portanto, eliminar ou reduzir bastante
a dureza da água do mar antes de se adicionar qualquer aditivo ao fluido. Além disso, a
água do mar eleva a massa específica do fluido. Em regiões onde o controle desta
propriedade é fator preponderante para se perfurar sem perda de circulação, pode-se
diminuir a concentração de eletrólitos presentes na água do mar diluindo-a com água
doce. Várias proporções volumétricas podem ser usadas em função da massa específica
desejada. Entretanto, se o suprimento de água doce não for problema é aconselhável
utilizar água doce nos fluidos iniciais.

Tabela 19 - Composição média típica da água do mar na costa brasileira

Componente Concentração, ppm


Cloreto de sódio (NaCl) 30.000
Potássio (K+) 375
2+
Cálcio (Ca ) 410
Sulfato (SO42-) 2.720
Magnésio (Mg2+) 1.270

Fluido Convencional tratado Materiais Obturantes

Trata-se de fluido de perfuração à base de água doce apresentando alta reologia, baixo
poder de inibição e constituído de argila ativada em alta concentração e material contra
perda de circulação.

As suas aplicações concentram-se em perfurar zonas sujeitas a perdas de circulação


severas, que acarretam problemas mecânicos de poço, tais como desmoronamento,
ameaça de/ou prisão de coluna, repassamentos severos, topada de revestimento. Estas
zonas são constituídas predominantemente por camadas extensas de areia inconsolidada
e intercalação de areia desagregada com calcário.

A principal característica deste sistema é a reologia elevada, devido à alta concentração


de argila ativada e a utilização de material contra perda de circulação. Suas composições
médias são:

FASE Sem retorno

Água industrial....................... Q.S.P.


Argila ativada......................... 35,0 Ib/bbl
Mica fina................................ 3,0 Ib/bbl
Mica média............................ 2,0 Ib/bbl
Mica grossa............................ 1,0 Ib/bbl

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Soda cáustica......................... 0,5 Ib/bbl
Lignossulfonato..................... 0,5 lb/bbl (opcional)

FASE Com retorno

Água industrial...................... Q.S.P.


Argila ativada....................... 25,0 Ib/bbl
Mica fina............................... 2,0 Ib/bbl
Calcário médio...................... 1,0 Ib/bbl
Calcário fino......................... 1,5 Ib/bbl
Soda cáustica........................ 0,5 Ib/bbl

As propriedades mais controladas são: massa específica de 8,6 a 9,1 Ib/gal; viscosidade
Marsh > 200 s; limite de escoamento 45 lbf/100pés2 (aprox.)

As limitações e cuidados com o sistema incluem evitar a utilização deste fluido para a
perfuração de: (a) calcário fraturado; (b) zonas de interesse ou produtora; (c) grandes
extensões de formações argilosas.

Ao perfurar zonas de alta argilosidade com este fluido, verifica-se redução da taxa de
penetração e enceramento.

Contaminação e Tratamento

Contaminante é qualquer material, natural ou industrializado, que entra na composição do


fluido sem intenção premeditada, alterando uma ou mais das suas propriedades,
drasticamente. Os fluidos iniciais são aqueles que mais sofrem os efeitos das
contaminações, pois suas composições são simples, isto é, não são adicionados produtos
químicos específicos para evitar a degeneração das suas propriedades.

Quando se espera certo contaminante durante a perfuração, a melhor solução é usar um


fluido programado para resistir à contaminação. Em geral, o custo do tratamento corretivo
é maior que o do tratamento preventivo. Na perfuração de poços pioneiros, as incertezas
associadas ao conhecimento das formações subterrâneas faz com que seja de suma
importância obter dados e informações sobre a litologia à medida que se perfura. Os
testes regulares e rotineiros do fluido de perfuração auxiliará na identificação do tipo e
grau de contaminação e possibilitará o tratamento adequado. Outro parâmetro que pode
ser usado como indicador na mudança do tipo de formação perfurada é a taxa de
penetração. Por exemplo, a taxa de penetração aumenta sempre que se começa a
perfurar um evaporito ou domo salino usando fluido de base água. A observação dos
cascalhos na peneira e a análise da descrição destes, executada pela equipe de geologia
na sonda, também podem servir de material importante na identificação das formações
perfuradas.

Conforme destacado anteriormente, é melhor prevenir-se contra os efeitos da


contaminação. Entretanto, quando esta acontece é preciso restabelecer as propriedades
originais do fluido, através de um tratamento adequado, a fim de evitar um mal maior. O
tratamento preventivo mais comum consiste em adicionar ao fluido certos sais e/ou bases
monovalentes ou polivalentes. Este tratamento é conhecido por "conversão do fluido",
pois transforma o fluido não inibido, tornando-o imune a ação de certos contaminantes.

60
O segundo tipo de tratamento consiste em adicionar produtos químicos que reajam com o
contaminante ou produzam efeitos contrários. Este tratamento, denominado de corretivo,
combate a contaminação após a sua ocorrência ter sido constatada.

Os contaminantes mais comuns encontrados durante a perfuração incluem:


(1) sólidos perfurados, ativos ou inertes;
(2) sais monovaletes (halita e silvita);
(3) sais de cálcio e magnésio;
(4) cimento;
(5) gesso e anidrita;
(6) gases: O2, CO2, e H2S;
(7) água.

Apesar da temperatura não ser um material, ela pode alterar significativamente as


propriedades do fluido. Por isso, a temperatura é considerada como um parâmetro físico à
parte no estudo das alterações das propriedades dos fluidos de perfuração. À medida que
a broca avança, a temperatura aumenta a uma razão de 1°C/33m (1,5 oF/100 pé)
considerando o gradiente geotérmico normal. O aumento de temperatura acelera as
reações químicas, sendo este fato portanto, agravante, pois as propriedades do fluido se
alteram rapidamente na presença de contaminantes.

A temperatura por si só produz os seus malefícios ao fluido. Os fosfatos, afinantes


inorgânicos, decompõem-se acima de 180 oF. Os lignosulfonatos, afinantes orgânicos,
degradam-se termicamente acima de 350°F. Os polímer os, compostos orgânicos usados
como viscosificantes e redutores de filtrado, também sofrem decomposição acima de
250°F. O acréscimo na temperatura reduz a viscosida de da fase aquosa e pode aumentar
o grau de floculação e de gelificação dos fluidos de base água. Como conseqüência,
ocorre aumento do filtrado, das forças géis e do limite de escoamento.

Na perfuração de poços com temperatura elevada, isto é, acima de 250oF, é conveniente


manter o teor de sólidos baixo, usar polímeros resistentes à temperatura e controlar a
razão D/B (sólidos perfurados/sólidos bentoníticos) abaixo de 2/1. A mudança de fluido de
base água para fluido de base óleo é uma alternativa que deve ser considerada quando a
temperatura ultrapassa 250°F.

Contaminação por Sólidos

A contaminação do fluido pelos sólidos perfurados é um fato inevitável. Quando muito,


consegue-se minimizá-la. A incorporação dos sólidos inertes, tais como areia fina e
calcita, por exemplo, provocam um pequeno aumento da viscosidade plástica, densidade,
filtrado e espessura do reboco. A areia apresenta ainda um efeito abrasivo sobre os
acessórios da coluna de perfuração e as partes hidráulicas das bombas alternativas e
centrífugas. Os sólidos ativos (predominantemente argilas) por sua vez, provocam um
acréscimo acentuado da força gel e do limite de escoamento e um pequeno aumento, na
densidade do fluido. Se o filtrado estiver sendo controlado abaixo de 15 cm3/30 min com
amido ou CMC, esta propriedade e a espessura do reboco também podem variar, uma
vez que elas dependem da natureza, tamanho, forma, distribuição granulométrica e
concentração das partículas sólidas dispersas no fluido. Com o aumento excessivo do
teor de sólidos existe ainda uma grande possibilidade de queda na taxa de penetração.

61
O tratamento básico e prático para eliminar os sólidos perfurados é a sua remoção nos
equipamentos extratores de sólidos: peneiras, tanques de decantação, conjunto de
hidrociclones (desareiador e dessiltador), associação de hidrociclones-peneira ("mud-
cleaner') e centrifugadoras. Quanto mais eficiente for o sistema de remoção de sólidos de
uma sonda, tanto menor será o teor de sólidos incorporados e recirculados para o poço.

Outros métodos empregados no combate aos efeitos da contaminação por sólidos


incluem:
(1) diluição com água;
(2) adição de floculantes para acelerar a separação dos sólidos nos tanques de
sedimentação;
(3) adição de dispersantes ou afinantes para restaurar as propriedades reológicas e de
filtração;
(4) conversão do fluido para um fluido inibido, que reduza a hidratação e dispersão dos
sólidos perfurados.

A diluição dos fluidos iniciais é o tratamento corretivo mais usual e o de mais baixo custo,
pois em geral os seus constituintes são simples e baratos. Portanto, se for necessário
repor alguns aditivos químicos, isto não irá onerar o tratamento. Entretanto, o que muitas
vezes limita a diluição é a capacidade volumétrica da sonda, seja de circulação e/ou
estocagem do fluido de perfuração.

O tratamento com floculantes é mais complexo e oneroso em relação à diluição, pois os


floculantes seletivos, polímeros em geral, custam caro e seu uso deve ser contínuo. A
adição do floculante é processada no tanque de sedimentação a uma vazão pré-
estabelecida ou então como componente do próprio fluido em uma concentração definida.

O tratamento com dispersantes é outro método corretivo muito empregado no campo. O


lignosulfonato é o dispersante mais freqüente. Apesar desse método se mostrar eficaz no
restabelecimento das propriedades do fluido, ele apresenta o inconveniente de não
reduzir o teor de sólidos. Significa dizer que as propriedades reológicas e de filtração são
controláveis quando o fluido é tratado com lignosulfonato, porém o teor de sólidos e a
massa específica fatalmente crescem, aumentando a probabilidade de fratura da
formação e reduzindo a taxa de penetração.

O quarto e último método é a conversão do fluido para um fluido inibido. Este método
pode ser classificado como preventivo ou corretivo, a depender do instante em que ele é
empregado. Se a contaminação é esperada e se converte o fluido antes da sua
ocorrência, o método é preventivo, caso contrário é corretivo. Em geral a conversão é
processada na transição entre duas fases da perfuração do poço. É muito comum
converter um fluido não inibido, ao final da fase inicial ou fase I, para um fluido inibido que
será empregado na(s) fase(s) seguinte(s).

Sempre que a contaminação por sólidos é severa, o tratamento é acompanhado do


descarte de certo volume de fluido contaminado, seguido de diluição com água doce e
adição dos produtos químicos necessários para restaurar as propriedades do fluido
remanescente.

62
Nas perfurações na plataforma continental marítima (offshore) a água do mar pode ser
usada na diluição a depender dos aditivos químicos disponíveis e da limitação de peso
específico do fluido.

Contaminação por Sal Monovalente

A dissolução de sais oriundos das formações na fase aquosa do fluido de perfuração é


denominada de ''contaminação por sal". As principais fontes de sais são os depósitos de
evaporitos e os domos de sal. Entretanto, eles podem também ser encontrados sob a
forma de cristais dispersos nas rochas terrígenas ou dissolvidos nas águas contidas nos
poros das rochas. Estes sais podem ser simples ou compostos, monovalentes ou
polivalentes. O sal mais comum é a halita, mineral com elevado teor de cloreto de sódio
(NaCl). Outro sal mo- novalente, encontrado com menor freqüência, é o cloreto de
potássio (KCl) cujo mineral recebe o nome de silvita.

A contaminação por sal, em concentrações inferiores a 1 % em peso, se manifesta


através do acréscimo da viscosidade aparente, do limite de escoamento, das forças géis,
do filtrado e do teor de cloretos ou salinidade do fluido de perfuração. As propriedades
químicas pH e alcalinidade do filtrado à fenolftaleína (Pf) reduzem. Quando se perfura
evaporitos ou domos salinos com fluido de base água a dissolução instantânea provoca
um aumento repentino na taxa de penetração, na floculação e na viscosidade do fluido:
Estes fenômenos são conhecidos por “wash-out" e 'thickening", respectivamente, isto é,
lavagem da formação e "engrossamento" do fluido. É recomendável iniciar logo o
tratamento do fluido assim que um destes fenômenos é detectado.

No caso de ocorrência de influxo de água salgada, a alteração das propriedades do fluido


dependerá da concentração de sal. Neste caso, a comparação das propriedades químicas
do fluido (salinidade, pH, Pf, Ca2+ e Mg2+ ), antes e depois da contaminação, indicará o
grau de contaminação e a natureza do contaminante. Outro indício de influxo de água é o
aumento do volume do fluido de perfuração nos tanques. A densidade do fluido também
se alterará em função da quantidade e densidade da água que entra no poço. Se a
densidade do fluido de perfuração for maior do que a densidade da água salgada,
observar-se-á uma redução na densidade, caso contrário a densidade aumentará.

Quando um fluido de perfiwação é contaminado por sal, os possíveis tratamentos são:


(1) diluição com água doce;
(2) adição de dispersantes químicos;
(3) conversão do fluido para fluido salgado ou saturado.

Se a contaminação foi pequena, de modo que a concentração de sal no fluido não


ultrapasse 3% em peso (30.000 ppm) e o fluido for de baixo custo, a diluição com água
doce pode ser viável técnica e economicamente. Contudo, nem sempre a diluição é o
melhor método a ser empregado porque sempre requer o descarte de um certo volume do
fluido contaminado e a reposição dos seus componentes.

O tratamento com dispersantes é largamente empregado no combate à contaminação por


sal. O dispersante mais usado é o lignosulfonato, que tem se mostrado eficiente em
contaminações de até 5% em peso (50.000 ppm) de NaCl. A soda cáustica deve ser
adicionada juntamente com o lignosulfonato para aumentar a ação dispersante deste. As
quantidades dos aditivos de tratamento para restaurar as propriedades devem ser

63
definidas através de um teste piloto com uma amostra do fluido contaminado, a fim de
garantir o sucesso do tratamento ao menor custo possível. A ordem de adição dos
produtos químicos também deve ser estabelecida. Outros dispersantes disponíveis no
mercado são os fosfatos, taninos e lignitos. Os fosfatos e taninos podem ser usados
quando a concentração de sal é baixa, ou seja, inferior a 2% em peso. O uso dos fosfatos
está limitado a temperaturas inferiores a 175 oF e sua eficiência está condicionada a
ambientes de baixo pH (<8,0). Como a contaminação por sal reduz o pH do fluido, o
tratamento com fosfato pode agravar ainda mais os problemas relacionados aos fluidos
de pH ácido, ou seja o desgaste por corrosão da coluna de perfuração e acessórios e
degradação das partes de borracha do sistema de circulação. O uso dos taninos está
limitado a temperatura máxima de 275 oF e em meios alcalinos com pH superior a 9. Os
lignitos podem ser usados em conjunto com os taninos ou com os lignosulfonatos, em
relações em peso de até 1:1, para combater contaminações com concentrações
superiores a 2% em peso de sal. Neste caso, é necessário adicionar também a soda
cáustica para elevar o pH e aumentar a eficiência das misturas dispersantes.

Nos casos da perfuração de domos salinos e evaporitos espessos, em que contaminação


por sal é muito severa, superando a concentração de 10% em peso e por vezes atingindo
a saturação do fluido, o tratamento químico com dispersantes é extremamente difícil e
antieconômico. Nestes casos, recomenda-se a conversão do fluido para fluido salgado ou
saturado. Esta conversão requer o conhecimento da salinidade do fluido inicial e das suas
propriedades. A prática usual de conversão é a seguinte:
1) descarte de parte do fluido inicial;
2) diluição com água doce ou salgada, em quantidade suficiente para reduzir o teor de
sólidos a um valor inferior a 10% em vol;
4) teste piloto das propriedades do fluido;
5) adição de sal até a concentração programada ou até a saturação;
6) adição de bentonita pré-hidratada, caso o teor de sólidos ativos (MBT) esteja baixo;
7) teste piloto das propriedades;
8) adição de produtos químicos (amido, CMC, soda cáustica, entre outros) a fim de ajustar
os valores das propriedades do fluido na faixa programada;
9) teste piloto final de todas as propriedades.

Contaminação por Sais de Cálcio e Magnésio

Os efeitos dos cátions divalentes sobre as propriedades dos fluidos iniciais, do tipo água-
bentonita, são semelhantes ao dos cátions monovalentes. Eles provocam aumento da
viscosidade aparente, do limite de escoamento, da força gel e do filtrado e um decréscimo
na viscosidade plástica desses sistemas. Os cátions Ca2+ e Mg2+ são os representantes
mais comuns, presentes na água do mar, nas águas de formação, nas águas de rios, em
formações de carnalita (K2CI2. 2 MgCl2).(10 H2O) e taquidrita (2MgCl2. CaCl2 . 12 H2O),
em camadas de gesso e anidrita e nas pastas de cimento.

O Ca2+ apresenta efeito bastante diferenciado do Na+ em relação à reatividade frente à


bentonita, argila rica em esmectita-Na. Pequenas concentrações de íons cálcio afetam
muito a viscosidade aparente de uma dispersão de bentonita em água. Ocorre também o
fenômeno de troca do Na+ pelo Ca2+ uma vez que o cálcio é mais reativo, transformando
a esmectita-Na, mais inchável e dispersível, em esmectita-Ca, com menor capacidade de
inchamento e dispersão.

64
Quando a contaminação por Ca2+ e Mg2+ se dá em pequena escala, a diluição pode ser
aplicada eficientemente a um baixo custo. O tratamento químico com soda cáustica,
bicarbonato de sódio, carbonato de sódio ou dispersantes orgânicos pode ser empregado
com sucesso, quando a contaminação não é oriunda da perfuração de camadas espessas
de anidrita, gesso e até mesmo de evaporitos contendo carnalita ou taquidrita. Nestes
casos, a conversão do fluido para salgado ou saturado é o método mais indicado se a
idéia é continuar perfurando com fluido de base água. A última alternativa é trocar o fluido
de base água por um fluido de base óleo.

Contaminação por Cimento

A cimentação é uma operação comum na perfuração e completação de poços. Nas várias


fases de perfuração, pastas de cimento são preparadas e deslocadas em operações
como assentamento do revestimento, recimentação, compressão (squeeze) de cimento e
sob a forma de tampões para controle de perda de circulação. Um dos principais
constituintes do cimento seco, com concentração da ordem de 70%, é a cal hidratada -
Ca(OH)2. Como esta base sofre dissociação aquosa parcial dos íons Ca2+ e OH- , estes
são os principais contaminantes das pastas de cimento.

A contaminação pelo cimento se manifesta através do aumento da viscosidade aparente,


do limite de escoamento, das forças géis, do filtrado, do pH, da alcalinidade do fluido à
fenolftaleína (Pm) e do teor de Ca2+ no sistema. O grau de contaminação dependerá de:
(1) teor de sólidos no fluido;
(2) condição da pasta de cimento, cristalizada ou úmida;
(3)quantidade de cimento incorporado;
(4) tratamento prévio executado no fluido de perfuração.

Quando a cimentação é bem executada, apenas pequenos fragmentos de cimento bem


cristalizados, cortados pela broca, entram no fluxo de fluido no espaço anular. Estes
fragmentos, duros e secos, não se dispersam facilmente. Somente um pequeno volume
do fluido é contaminado, transformando-se em fluido "grosso" e gelificado. Estes
fragmentos são facilmente eliminados na superfície, pelas telas das peneiras e no tanque
de sedimentação, enquanto que o fluido contaminado pode ser descartado ou misturado à
fração não contaminada. A pasta de cimento antes da “pega" ou cristalização completa,
fenômeno que depende da temperatura, componentes e fração aquosa da pasta, entre
outras coisas, gera uma quantidade de Ca(OH)2 muito maior do que o cimento bem
acurado ou bem cristalizado. Quando o cimento é cortado nesta condição (antes da
"pega"), se dispersa facilmente e aumenta drasticamente a viscosidade do fluido. A
remoção das partículas de cimento, finas e dispersas, na superfície, é impraticável, sendo
necessária a execução de um tratamento químico. Quando um grande volume de pasta
de cimento fica dentro do revestimento após a cimentação e "pega", por falha de projeto
ou execução, é recomendável cortar todo o cimento do revestimento com água,
eliminando-os do sistema de circulação. Quando a broca se aproxima da sapata do
revestimento, desloca-se o volume de água acima desta com fluido de perfuração não
contaminado, cortando a sapata e prosseguindo com a perfuração, tendo-se o cuidado de
descartar a água e fluido contaminado, eliminando-os do sistema de circulação.

Os métodos usuais empregados no tratamento da contaminação por cimento são:


(1) eliminação de Ca2+ através de precipitação química, com bicarbonato de sódio ou
carbonato de sódio (soda ash);

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(2) adição de dispersantes orgânicos (lignosulfonato, lignito ou tanino) ou inorgânicos
(fosfato e pirofosfato de sódio, por exemplo), para restaurar as propriedades do fluido;
(3) conversão do fluido contaminado para fluido tratado com cal hidratada ou outro fluido
resistente à contaminação por cimento.

O bicarbonato de sódio (NaHCO3) e a soda ash (Na2C03) são os aditivos químicos mais
empregados no tratamento do fluido contaminado por cimento. O bicarbonato de sódio em
quantidade estequiométrica, remove o Ca2+ sob a forma de CaC03 , de acordo com a
reação.

Ca(OH)2 + NaHCO3  CaCO3 + NaOH + H2O

Forma-se o carbonato de cálcio CaC03, inerte e insolúvel, que fica disperso no fluido de
perfiuação como sólido fino sem afetar as suas propriedades. A formação de soda
cáustica eleva bastante o pH do fluido. Se o tratamento for executado, com bicarbonato
em excesso, além da reação anterior ocorre a seguinte:

NaOH + NaHC03  Na2C03 + H2O

O tratamento excessivo com NaHCO3, deve ser evitado porque o excesso de íons Na+,
oriundo do Na2C03 e do NaOH, tende a aumentar bastante o limite de escoamento e as
forças géis do fluido. Além disto, o tratamento com bicarbonato é mais eficiente se o fluido
não foi pré-tratado com afinantes (lignosulfonato, tanino ou fosfato) e se o pH estiver
acima de 8,0, para se obter uma completa dissociação do NaHC03. Em geral, esta última
condição ocorre sempre, uma vez que o cimento eleva o pH do fluido acima deste valor.
O carbonato de sódio (Na2C03) também pode ser usado para tratar o fluido contaminado
pelo cimento. A reação do Na2C03 com a cal do cimento é direta e não apresenta
limitação relativa ao pH pois o Na2CO3 é completamente solúvel e dissociável em água.
Entretanto, para cada íon de Ca2+, precipitado sob a forma de CaC03, liberam-se dois íons
de sódio, segundo a equação:

Na2C03 + Ca(OH)2  CaC03 + 2NaOH

Os íons Na+ formados e o acréscimo do pH do fluido para valores em tomo de 11,0 ou


superiores, devido à dissociação dos íons OH- , podem aumentar muito a viscosidade, o
limite de escoamento e a força gel, tornando-se necessário o uso de afinantes para
reduzir estas propriedades. Portanto, as vantagens do Na2C03 sobre o NaHC03 é a menor
sensibilidade ao pH do fluido e aos pré tratamentos efetuados com afinantes.

O tratamento com dispersantes também é amplamente empregado na contaminação por


cimento. Quando esta ocorre, os íons Ca2+ e OH- provocam a agregação e floculação das
partículas de bentonita dispersas no fluido. O estado de floculação predomina sobre o de
agregação, ou vice-versa, a depender do grau de contaminação. Os aditivos dispersantes
ou afinantes redispersam as partículas de argila, possibilitando o controle da viscosidade,
do limite de escoamento e da força gel.

Uma prática usual de campo, consiste em pré-tratar o fluido com afinantes químicos na
superffcie, antes de cortar a sapata do revestimento ou um tampão de cimento executado
no poço. O dispersante orgânico mais usado é o lignosulfonato, porém o lignito e o tanino
também podem ser empregados. Os dispersantes inorgânicos mais comuns pertencem à

66
classe dos fosfatos: pirofosfato ácido de sódio, tetrafosfato de sódio, hexametafosfato de
sódio e pirofosfato tetra-sódico. O uso destes aditivos requer um pH entre 8,0 e 9,5, valor
este facilmente alcançado quando da contaminação por cimento. Durante o tratamento
com fosfato monosódico, o Ca2+ pode formar o fosfato de cálcio insolúvel, segundo a
equação:

Ca(OH)2 + 2NaH2P04  Ca3(P04) + 2NaOH + 4H20

O excesso desses fosfatos, entretanto, tende a reduzir drasticamente o pH, provocando o


engrossamento do fluido. Além disto, o uso desses aditivos só e eficiente em
temperaturas inferiores a 170 oF e em fluidos com baixa concentração de sal.

O terceiro método para tratamento do fluido contaminado pelo cimento consiste em


converter o fluido contaminado para um fluido tratado por cal hidratada. Esta conversão é
inviável operacionalmente quando o fluido está com alto teor de sólidos e temperatura
elevada, isto é superior a 250 oF. Entretanto, ela pode ser executada com um risco bem
menor, após a diluição do fluido com conseqüente redução do teor de sólidos. O fluido
contaminado pode ser convertido ainda a fluido tratado com lignosulfonato ou tratado com
gesso, a depender do tipo de fluido programado para se usar na fase seguinte do poço.
Como regra geral, toda conversão deve ser precedida de um teste piloto para checar as
propriedades do fluido contaminado, verificar a viabilidade da conversão e traçar as
diretrizes para converter o fluido.

Contaminação por Gesso e Anidrita

Os sulfatos de cálcio naturais são encontrados sob duas formas cristalinas nas bacias
sedimentares, dihidratada, denominado por gesso (CaS04.2H20), ou monohidratada,
denominado de anidrita (CaS04.H20). As suas formas ocorrem como:
(1) capa de domo salino;
(2) camada espessa;
(3) íons solúveis em águas de formação;
(4) cristais depositados sobre outros sedimentos, tais como arenito e folhelho.

O gesso e a anidrita afetam as propriedades do fluido de perfuração de maneira similar ao


cimento. Os parâmetros reológicos: viscosidade aparente, limite de escoamento e força
gel aumentam. O filtrado e a espessura do reboco também aumentam. Entretanto, como o
CaS04 é um sal de reação ácida, o pH diminui, fato este contrário ao que ocorre na
contaminação por cimento. Outro teste que pode ser empregado para distinguir se a
contaminação é por cimento ou por gesso e anidrita é a determinação do teor de SO42-.
Este aumenta quando a contaminação é por gesso e anidrita e fica constante na
contaminação por cimento. Os tratamentos das contaminações por gesso e anidrita
podem ser por:
(1) precipitação química;
(2) adição de dispersantes;
(3) conversão do fluido.

A precipitação química pode ser efetuada com soda ash (Na2C03) ou carbonato de bário
(BaCO3). A primeira é menos onerosa e, portanto, mais usual. As reações de precipitação
com estes sais podem ser representadas por:

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Na2C03 +CaS04  CaC03 +Na2S04
BaC03 + CaS04  CaC03 + BaS04

Como todos os sais formados são praticamente insolúveis e inertes, não causam qualquer
tipo de alteração nas propriedades do fluido. O tratamento com dispersantes é
semelhante ao da contaminação por cimento. Quando se está perfurando uma camada de
gesso e anidrita com espessura superior a 10 m, a melhor opção é converter o fluido para
um fluido tratado por cal ou gesso, uma vez que estes são completamente indiferentes à
contaminação por gesso e anidrita.

Contaminação por Gases

Os contaminantes gasosos mais comuns são: oxigênio (O2), hidrocarbonetos (CnHm), gás
carbônico (CO2) e gás sulfídrico (H2S). A fonte principal de O2 e CO2 é o ar atmosférico,
que se incorpora por ocasião da agitação nos tanques, no preparo, tratamento ou
homogeneização do fluido. O CO2 pode também ser produzido através de reações
químicas entre fluidos ácidos e formações ou águas carbonáticas (equação seguinte) ou
por fermentação de produtos orgânicos naturais, como amidos e gomas. Alguns fluidos
conseguem "trapear” e manter o CO2 disperso.

2H+(aq)+ C032-(s,aq)  CO2 + H2O

Os hidrocarbonetos e o H2S são freqüentemente encontrados como acúmulos em


sedimentos que formam algum tipo de "trapa", aprisionando gases, conhecidos por
“formação portadora de gás”. Neste caso, a contaminação dos fluidos se agrava quando,
em algum instante, a pressão dentro do poço fica inferior à pressão dos fluidos da
formação. O H2S pode também ocorrer no fluido de perfuração através de dois outros
fenômenos:
(1) degradação térmica de compostos sulfurosos, como o lignosulfonato, por exemplo;
(2) redução do enxofre por ação de bactérias sulfo-redutoras. As bactérias sulfo-
redutoras, se nutrem de matéria orgânica e usa o sulfato para o seu metabolismo.

Quando qualquer gás, em quantidade razoável, se incorpora ao fluido de perfuração sob a


forma de macro-bolhas, o sintoma imediato é a alteração do aspecto visual. O fluido
adquire um aspecto mais viscoso e volumoso. Em linguagem popular, costuma-se dizer
que o fluido "engrossa" a fica "fofo". Se essa incorporação não for uniforme, o fluido terá
nitidamente duas fases, sendo comum se dizer que o fluido está "cortado por gás".
Quando, no entanto, o gás incorporado está dissolvido ou disperso sob a forma de micro-
bolhas, a sua presença só pode ser diagnosticada através da alteração de algumas
propriedades do fluido. A redução da densidade e o aumento da viscosidade plástica são
os indicadores básicos e imediatos da contaminação por gás, independentemente da sua
natureza. Entretanto, estas alterações podem ser temporárias e de curta duração, uma
vez que o gás pode ser eliminado por coalescência natural ou através do degaseificador,
restabelecendo os valores das propriedades, caso não haja reação química entre o fluido
e o gás.

Um caso típico de reação química é a carbonatação do gás carbônico com alguns


componentes, como a soda por exemplo. Os gases ácidos, como o H2S e o CO2, são
distinguidos dos demais através da redução do pH do fluido. Todavia, o gás contaminante
só é rigorosamente identificado e quantificado através de análises químicas específicas.

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Um método empregado na detecção de H2S no campo consiste em emergir um papel
analítico, impregnado com acetato de chumbo, no filtrado de perfuração e depois
comparar sua tonalidade de cor com uma fita padrão, cujas tonalidades estão associadas
a uma concentração equivalente de H2S. Outro método emprega o aparelho denominado
Garrett Gas Train.

A corrosão da coluna, acessórios e demais equipamentos de aço usados na perfuração


de poços é outra conseqüência grave da contaminação por oxigênio, gás carbônico e gás
sulfídrico. O oxigênio, em meio aquoso aerado, alcalino, reage com o ferro do aço,
produzindo o hidróxido de ferro III. A corrosão eletroquímica e espontânea, pelo oxigênio,
em geral provoca um desgaste uniforme nos equipamentos devido à contínua circulação
dos fluidos de perfuração.

Os gases CO2 e H2S são altamente corrosivos e apresentam mecanismos de corrosão


diferentes do oxigênio. O CO2 em água forma o ácido carbônico e o gás sulfídrico produz
íons hidrogênio em meio aquoso. De modo geral, a corrosão provocada pelo CO2,
apresenta-se como alvéolos de várias formas e tamanhos, decorrentes das reações
eletroquímicas que ocorrem na superfície do aço.

O gás sulfídrico provoca uma corrosão eletroquímica sobre o aço, característica dos
meios ácidos. O aço, enfraquecido pelo hidrogênio (hydrogen embrittlement), torna-se
menos resistente às tensões aplicadas, além de apresentar um desgaste do tipo
puntiforme, denominado de corrosão por "pit".

A maior conseqüência da corrosão de qualquer equipamento está relacionada com o


elevado custo envolvido na interrupção das operações para manutenção e/ou reposição
dos equipamentos danificados.

O gás sulfídrico, quando respirado junto com o ar, apresenta também efeitos bastante
nocivos sobre o homem. Em concentrações iguais ou superiores a 100 ppm, o gás
sulfídrico provoca efeitos que vão desde pequenas irritações nos olhos e garganta,
desmaios, até trauma cerebral irreversível e morte.

O tratamento primário empregado na contaminação por gases é sua remoção forçada


através do degaseificador. Os fluidos com forças géis e limites de escoamento altos retêm
as bolhas de gás e dificultam a degaseificação. Nestes casos, é recomendável reduzir
estas propriedades mediante a adição de um dispersante, além do uso do degaseificador.
A composição química do fluido de perfuração é outro fator determinante para a remoção
de gases “trapeados" e formação de espuma. Como exemplo, pode-se citar os fluidos
com alta salinidade e/ou alto teor de carbonato, ou seja Mf > 2 Pf . Neste caso, a adição
de alcalis (OH-) reduz a relação Mf/2Pf, facilitando a remoção no degaseificador. Os
fluidos que possuem algum tipo de componente com características tensoativas
(lignosulfonato, polímeros, detergentes, entre outros) facilitam a dispersão de gases e
formação de espuma. Neste caso, a adição de um anti-espumante auxilia na eliminação
dos gases.

Quando a contaminação por gás assume as proporções de um kick, o tratamento


imediato consiste no aumento da densidade do fluido para evitar novos influxos de gás da
formação para o poço, além do uso contínuo do degaseificador.

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Os efeitos da contaminação dos gases corrosivos são combatidos através da adição de
produtos químicos cuja ação pode ser neutralizante, sequestrante, inibidora ou protetora
da superfície metálica. Para eliminar o oxigênio do fluido de perfuração é comum
empregar compostos com baixo grau de oxidação, como o sulfito de sódio (Na2S03) e
bissulfito de amônio (NH4HSO3) que se oxidam em presença de O2 e, por isso, são
também denominados de "seqüestradores de oxigênio". O gás carbônico, por ser um gás
de reação ácida, pode ser neutralizado com a adição de soda cáustica ou de outra base
que reduza o pH do fluido. Além destes, os inibidores formadores de filme, como os sais
de amina de alto peso molecular podem ser usados para minimizar os efeitos corrosivos
do CO2.

O H2S é um gás estudado com maior rigor porque além de muito corrosivo ele pode ser
fatal à vida humana. Nas sondas de perfuração existe uma série de equipamentos
instalados para detectar a presença do H2S em concentrações inferiores a 100 ppm no ar
atmosférico. A eliminação do H2S pode ser atingida de três maneiras:
(1) neutralização;
(2) seqüestro por oxidação;
(3) seqüestro por metais.

A neutralização por alcalis se baseia na transformação do gás sulfídrico, tóxico e nocivo,


nas espécies HS- e S- , inertes.

o seqüestro do H2S por oxidação pode ser conseguido por adição de um agente oxidante.
O próprio oxigênio do ar pode oxidar o H2S, com menor intensidade. Geralmente, as
reações de oxidação desprendem alto conteúdo energético.

A última alternativa de eliminação do H2S nos fluidos de perfuração é através da


precipitação com compostos metálicos, denominados sequestrantes metálicos devido à
formação de sulfetos insolúveis. Os compostos mais usados são os carbonatos e óxidos
de zinco, cobre e ferro.

O seqüestrador ideal para o gás sulfidrico nos fluidos deve atender aos seguintes
requisitos:
(1) gerar compostos estáveis, não corrosivos e não nocivos;
(2) reagir completa e rapidamente;
(3) não alterar substancialmente as propriedades do fluido;
(4) permitir descarte do efluente sem causar desequilíbrio ao meio ambiente;
(5) ter custo competitivo.

Atualmente, os óxidos de ferro são os compostos mais usados em fluidos de perfuração


para a remoção de H2S, pois atendem aos requisitos citados. Produtos esponjosos, ricos
em Fe304, são bastante utilizados, destacando-se a esponja de magnetita (reatividade
(0,07g de S2- / g de esponja).

Os inibidores orgânicos, formadores de filme sobre a superfície do aço, podem ser usados
com o objetivo de reduzir a corrosão do H2S. Os produtos mais usuais são substâncias
orgânicas catiônicas e óleos solúveis. A substância orgânica catiônica é adsorvida na
superfície metálica e interage com o sulfeto de ferro, formando uma película protetora de
um composto complexo. Os inibidores mais utilizados são: octadecilamina, acetato de

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octadecilamina, éster de ácido sulfônico, cloreto de dimetilamina, sais de fosfonatos
orgânicos e sais de aminas.

Contaminação por Água

A água é um dos contaminantes mais freqüentes na perfuração de um poço. A origem da


contaminação, entre outras, pode ser: lavagem de tubos, chuva, vazamentos em válvulas
e conexões e formações portadoras de água. As águas das formações geralmente
contém quantidades variáveis de NaCl, CaCI2, MgCl2, MgS04 e outros sais. As
salinidades das águas de formação variam desde algumas centenas até centenas de
milhares de ppm em cloretos. Em geral, os indicadores do contaminante água no fluido de
perfuração são: redução da densidade, aumento do filtrado e do teor de líquidos.
Entretanto, esta indicação não é tão notória como possa aparentar, porque o sentido na
alteração dessas propriedades dependerá das propriedades do fluido, antes da
contaminação, e da água contaminante.

A contaminação por água doce, por exemplo, em geral reduz as propriedades reológicas,
como viscosidade aparente, limite de escoamento e forças géis, e a salinidade do fluido,
além de provocar as alterações descritas no parágrafo anterior. Contudo, a contaminação
por água salgada reduzirá a densidade do fluido se a sua densidade for inferior a dele;
aumentará a salinidade, quando a sua for superior a do fluido, provocará o aumento das
propriedades reológicas e do filtrado, quando sua concentração de eletrólitos (Na+, Ca2+,
Mg2+) for tal que proporcione a floculação do fluido. Em situações contrárias, a tendência
é a água salgada alterar essas propriedades no sentido inverso.

O tratamento básico da contaminação por água consiste em repor os componentes para


restabelecer as concentrações e propriedades originais do fluido, registradas antes da
contaminação. Se a contaminação originou de um influxo ou kick de água, deve-se
redimensionar a densidade do fluido para evitar novos influxos. Nos casos da
contaminação por água dura, deve-se eliminar a dureza, com carbonato de sódio, por
exemplo. As contaminações de
um fluido inicial por grande quantidade de água com alta salinidade, às vezes, requer a
sua conversão para fluido salgado, uma vez que fica difícil e oneroso controlar as suas
propriedades.

Fluidos Dispersos

Os fluidos de perfuração mais simples são compostos de água e argila, natural ou


comercial. Eles são empregados na perfuração de poços rasos ou da fase inicial de poços
profundos. Se a perfuração é iniciada com água e ocorre incorporação de argila nativa, o
fluido é denominado de “nativo” ou “natural”. Entretanto, quando a bentonita comercial é
usada o fluido é denominado do tipo água-bentonita. Se além da bentonita, for adicionado
um agente floculante, denomina-se de “fluido floculado”. A principal característica do fluido
floculado é o limite de escoamento (LE), em lbf/100 pé2, superior a viscosidade plástica
(VP), em cP, isto é (LE/VP) > 1. Todos esses fluidos são denominados por “fluidos
iniciais” e foram descritos anteriormente.

Geralmente, os fluidos iniciais apresentam baixa resistência aos contaminantes da


perfuração. Portanto, ao se perfurar um grande trecho de argila hidratável a viscosidade

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do fluido aumenta demasiadamente, sendo necessário executar tratamentos, como a
diluição, remoção dos sólidos ou adição de dispersantes.

O tratamento químico com dispersantes tende a converter um “fluido inicial” para um


"fluido disperso". Podemos definir um "fluido disperso", em função da sua composição,
dizendo que o mesmo possui um teor razoável de agente dispersante. Estes fluidos têm
como principal característica a viscosidade plástica (VP), em cP, bem superior ao limite de
escoamento (LE). em lbf/100 pé2, ou seja (VP/LE) >1,5.

Os primeiros agentes dispersantes empregados na perfuração de poços, entre 1930 e


1960, foram os fosfatos complexos (pirosfosfato ácido de sódio e tetrafosfato de sódio,
por exemplo) e derivados do ácido tânico como o tanato de sódio, por exemplo. A partir
da década de 60 os compostos derivados do lignosulfonato foram introduzidos e
demonstraram maior resistência às contaminações e temperatura, maior eficácia e maior
versatilidade que os polifosfatos e os tanatos. Dessa forma, os lignosulfonatos passaram
a ser os dispersantes químicos mais usados. Os derivados do lignosulfonato são mais
resistentes a contaminantes comuns, como sal, cimento, anidrita e sólidos e a
temperaturas da ordem de 300 oF. O lignosulfonato de ferro e cromo demonstrou, através
de pesquisas de laboratório e campo, ser eficaz e mais resistente que os outros
derivados, como lignosulfonato de ferro e cálcio, por exemplo. Por razões ambientais,
muitos trabalhos têm sido desenvolvidos no sentido de obter lignosulfonatos livres de
cromo com desempenho semelhante aos que contêm cromo.

Quando um dispersante químico tal como fosfato complexo, tanato de sódio ou


lignosulfonato, é adicionado a uma suspensão de argila, as moléculas com cargas
negativas destes compostos ficam adsorvidas na superfi'cie das partículas dos
argilominerais, aumentando a intensidade das forças repulsivas. Como resultado, a
distância média interpartículas aumenta. Além disso, as cargas positivas, concentradas na
região de menor área (aresta), são neutralizadas. As partículas de argila tendem a possuir
carga líquida negativa, diminuindo a possibilidade de atração face-aresta. Desse
mecanismo, resulta um decréscimo no grau de floculação, aumentando
conseqüentemente o grau de dispersão. O aumento do grau de dispersão depende da
quantidade de dispersante adicionado.

Além da bentonita e do lignosulfonato, ou tanato, os fluidos dispersos utilizam outros


produtos químicos importantes na sua composição. O principal deles é a soda cáustica
usada principalmente para aumentar a solubilização do lignosulfonato ou tanato. Além
disso, a soda cáustica é usada para manter o fluido levemente alcalino, reduzindo as
taxas de corrosão, uma vez que os meios ácidos e altamente alcalinos são mais
corrosivos.

Outro componente importante em alguns fluidos dispersos é o lignito. Este produto pode
ser encontrado sob a forma sódica precausticizado, potássica ou crômica. O lignito é um
dispersante bem menos poderoso do que os polifosfatos e o lignosulfonato, sendo mais
empregado no controle do filtrado na perfuração de poços com temperatura elevada. Os
fluidos dispersos com Íignosulfonato/lignito resistem a temperaturas da ordem de 350 oF,
principalmente quando o cromo está presente nestes compostos. Outros materiais que
podem compor os fluidos dispersos são:
(1) os controladores de filtrado, como amido e carboximetilcelulose (CMC);
(2) os estabilizadores de folhelho;

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(3) os polímeros floculantes, como a poliacrilamida e o copolímero acrilamida-acrilato.

Na perfuração de poços com temperaturas elevadas, dispõe-se ainda polímeros mais


resistentes, como o copolímero estireno sulfonatado – anidrido maleico, de baixo peso
molecular, surfactantes à base de fenol etoxilado para controle das propriedades
reológicas; e resinas, para o controle do filtrado em temperaturas altas.

A tendência atual é empregar fluidos com o menor teor de sólidos possível uma vez que o
teor excessivo de sólidos, principalmente os de dimensão coloidal, reduz bastante a taxa
de penetração. Nesse sentido, os avanços tecnológicos relativos aos equipamentos e
sistema de remoção dos sólidos têm contribuído significativamente para a eliminação dos
sólidos nos fluidos de perfuração. A pesquisa de polímeros floculantes e resistentes a
temperaturas acima de 250°F, que dificultam a incor poração de sólidos coloidais ao fluido
registrou também avanços significativos na última década.

Outras características marcantes nos fluidos dispersos com lignosulfonato são: (1) o
filtrado reduzido, isto é, abaixo de 10 cc/30 min, devido à ação dispersante;
(2) a força gel inicial inferior a 10 Ibf/100 pé2 porém uma gelificação progressiva, isto é,
força gel final superior a força gel inicial somada de cinco unidades, em Ibf/100 pé2 ;
(3) o pH entre 8,0 e10,0, controlado com soda cáustica, uma vez que o lignosulfonato
possui caráter de ácido fraco;
(4) o valor da alcalinidade à fenolftaleína do fluido (Pm) próximo da alcalinidade do filtrado
(Pf), isto é Pm = Pf.

O condicionamento e manutenção das propriedades dos fluidos dispersos é uma tarefa


simples de executar no campo. Isto ocorre, principalmente, porque esses fluidos não
apresentam “picos” de máximo de viscosidade. O aumento do limite de escoamento e das
forças géis pode ser conseguido através da adição de bentonita pré-hidratada diretamente
no fluido. Adicionando-se lignosulfonato, juntamente com soda cáustica sob a forma de
uma solução, consegue-se reduzir o limite de escoamento e as forças géis, bem como
manter o pH e as alcalinidades na faixa recomendada. O filtrado API pode ser controlado
com amido ou CMC-BV, entretanto os fluidos dispersos já apresentam filtrado reduzido e
o consumo desses produtos é relativamente baixo.

Algumas vantagens dos fluidos dispersos com lignosulfonato-lignito são:


(1) facilidade no controle das propriedades;
(2) não apresentam picos de máximo de viscosidade;
(3) resistência a temperatura da ordem de 350 a 400°F;
(4) o lignosulfonato é um bom emulsificante de óleo em água;
(5) não apresentam riscos de solidificação com a temperatura.

Como desvantagens pode-se citar a possibilidade de:


(1) incorporação de sólidos e necessidade de diluição;
(2) desestabilização mecânica e alargamento do diâmetro do poço;
(3)decomposição térmica e/ou bacteriológica do lignosulfonato com geração de H2S;
(4) geração de efluentes nocivos e poluentes;
(5) dispersão das.argilas das formações produtoras, danificando-a;
(6) a contaminação por sal está limitada à concentração de 50.000 ppm de NaCl.

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A conversão de um fluido inicial para fluido disperso também é uma tarefa relativamente
simples. A adição do dispersante pode ser processada diretamente no fluido inicial,
juntamente com a soda cáustica, de acordo com tipo de fluido disperso que se deseja
obter. Quando o teor de sólidos está muito elevado, isto é acima de 15% em volume,
obtém-se melhores resultados com a conversão, quando se reduz o teor de sólidos
através de diluição. A adição dos demais aditivos está relacionada com os valores das
propriedades a ser controladas. Assim, se após um teste piloto for verificado que o filtrado
está elevado, adiciona-se amido ou CMC para controlá-lo. Se o pH ainda estiver abaixo
do valor desejado, adiciona-se soda cáustica, se o limite de escoamento e forças géis
estiverem baixo, adiciona-se bentonita, preferencialmente pré-hidratada. Por fim,
adiciona-se baritina, ou outro adensante, para adequar a massa específica do fluido.

Fluidos Inibidos

Fluidos inibidos são aqueles programados para a perfuração de formações ativas, isto é
hidratáveis, dispersíveis e até mesmo solúveis, tais como argilas, folhelhos, margas e sal.
A inibição destes sistemas se refere à redução da atividade química da fase dispersante e
à adsorção de materiais que possam reduzir a taxa de hidratação das formações. Os
principais inibidores químicos são os sais ou eletrólitos, enquanto os principais inibidores
físicos são os polímeros.

Fluidos Salgados com NaCl e tratados com Polímeros

São fluidos cuja salinidade está entre 10.000 e 311.300 mg/l e que possuem em sua
composição polímeros viscosificantes e redutores de filtrado. São classificados como :
(1) baixa salinidade (10.000-40.000 mg/l)
(2) média salinidade (40.000-70.000 mg/l)
(3) alta salinidade (70.000-311.300 mg/I)

Suas principais características são:


(a) fluidos não dispersos, com inibição física fornecida pelos polímeros e inibição
química fornecida pelos íons Na+
(b) a agressividade ao meio ambiente depende da composição do fluido (salinidade e
teor de bactericida, principalmente) e do local onde o poço é perfurado (zonas de
proteção ambiental, como manguezais, rios, etc).

Suas princiapis aplicações são:


(a) na perfuração de formações argilosas;
(b) na perfuração marítima, onde o abastecimento de água industrial é difícil ou oneroso;
(c) para formar contraste com água da formação, visando facilitar a interpretação dos
perfis.

A sua composição básica é:

Água....................... QSP
Argila ativada........ 5,0 a 10,0 lb/bbl
Soda cáustica......... QSP para pH 8,5-9,5
CMC AV-AS......... 0,5 a 1.0 lb/bbl
CMC BV-AS......... 0,8 a 1,5 Ib/bbl

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Amido.................... 0,0 a 6,0 Ib/bbl (opcional)
Bactericida......... 0,5 a 0,7 Ib/bbl (p/preservar o amido)
Sal.......................... QSP salinidade desejada
Baritina.................. QSP peso desejado

O tratamento e a manutenção consistem em:


(a) constantes adições de soda cáustica para manter o pH entre 8,5 e 9,5;
(b) tratamento com barrilha leve, pois a presença de íons Ca2+ e Mg2+ prejudica o
rendimento dos polímeros e dificulta o controle do filtrado;
(c) uso do lignossulfonato deve ser limitado ao preparo do Q-MIX;
(d) caso a temperatura de fundo atinja 240 oF, o uso do amido deve ser suspenso e o
controle do filtrado deve ser feito apenas com CMC BV-AS;
(e) para temperaturas elevadas (> 300 oF), deve ser feita uma conversão gradual do
fluido, através da adição de lignossulfonato e lignito, sob a forma de soluções.

Os cuidados se referem ao controle do teor de sólidos, pois o fluido é sensível a este


contaminante e uso de um polímero redutor de filtrado que possa também contribuir para
a defloculação do sistema.

Fluidos Salgados tratados com KCl e Polímeros

Os fluidos à base de KCl/Polímeros são fluidos inibidos química e fisicamente. O íon


potássio, usado em concentrações adequadas, coadjuvado pelos polímeros, atua como
um eficiente inibidor do inchamento e dispersão de argilas. Sua principal aplicação é na
perfuração de folhelhos hidratáveis e compactados. A hidratação das argilas,
acompanhada de desmoronamento e alargamento das paredes do poço, pode causar
vários problemas, como:
(a) prisão de coluna, fundo falso, torque, "drag", etc.;
(b) perfilagens difíceis e demoradas;
(c) operações de cimentação dispendiosas.
Este fluido pode ser também empregado na perfuração de argilas e folhelhos não
compactados. Neste caso, a hidratação pode causar desintegração da matriz e dispersão
no meio aquoso do fluido de perfuração, alterando as propriedades reológicas e
aumentando o teor de sólidos e o filtrado. Os cascalhos perfurados podem obstruir o
espaço anular ou aderir na broca, estabilizadores e comandos. Na perfuração de arenitos
produtores contendo argila, a utilização de um fluido não inibido pode causar obstrução
das gargantas dos espaços porosos, provocando dano à formação.

Suas principais características são:


(a) fluido não-disperso, por natureza;
(b) inibição física (pelo polímero) e inibição química (pelo íon K+);
(c) durante a fabricação pode ocorrer formação de espuma superficial com adição do KCl.
Para minimizar o problema, aconselha-se adicionar anti-espumante na água de preparo;

Sua composição básica é:

Água industrial....................... QSP


KCl.............................. ......... 10,0 a 80,0 lb/bbl
KOH....................................... 0,25 a 0,5 lb/bbl
CMC AV-AS.......................... 1,0 a 1,5 Ib/bbl

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CMC BV-AS.......................... 1,5 a 2,0 lb/bbl
Amido pré-gelatinizado...........6,0 a 8,0 Ib/bbl
Bactericida............................. 0,5 a 0,7 lb/bbl

A concentração de KCl varia conforme a necessidade (depende da atividade do folhelho).


Para 50.000 mg/l, adicionar 15,0 a 17,0 Ib/bbl. Recomenda-se o uso do KOH em lugar de
NaOH para controlar o pH. Isto visa minimizar a adição de íons Na+, que poderiam influir
na troca de base e na atração seletiva das argilas pelos íons K+. A adição combinada de
amido e CMC BV-AS em proporção aproximada de 4:1 reduz volume de filtrado, gerando
reboco fino e consistente. O CMC BV-AS também auxilia na inibição física do sistema,
agindo como encapsulador de argilas e redutor de filtrado. O uso de argila ativada deve
ser evitado, para não se perder polímero e íons K+ na inibição dessa argila. Caso a adição
de argila ativada se faça necessária para melhorar a reologia, utilizá-la na forma de Q-
Mix, em concentração da ordem de 5,0 Ib/bbl (no sistema). Para melhorar a qualidade do
reboco, a argila ativada deve ser adicionada seca (sem pré-hidratação).

O tratamento e manutenção deste sistema se baseia em:


(a) adicionar CMC AV-AS para aumentar a reologia. Para reduzir, diluir com água
(adicionando, se necessário os produtos da composição básica, mantendo as
concentrações);
(b) adições de dispersantes (lignossulfonatos/lignitos) devem ser evitadas, pois o sistema
é caracteristicamente não-disperso, o que contribui para a remoção de sólidos perfurados;
(c) controlar o pH entre 8,5 e 9,5 pela adição de KOH, para minimizar a corrosão. Evitar
pH maior que 10,0, pois isso favorece a dispersão das argilas. O Pf deve ser mantido
entre 0,10 o 0,30;
(d) o filtrado deve ser controlado, para minimizar os problemas relativos a folhelhos
sensíveis à água;
(e) manter o teor de Ca2+ inferior a 200 mg/l, para evitar precipitação dos polímeros;
(f) adicionar Na2CO3 ou NaHCO3, em caso de corte de cimento, para tratamento
preventivo;
(g) utilizar centrífuga ou “mud cleaner” em lugar de dessiltador, devido ao custo elevado
da fase líquida;
(h) pode ocorrer tendência à formação de espuma durante a adição de KCl. O
antiespumante pode ser adicionado diretamente à água de preparo.

Para conversão, deve-se, primeiramente, reduzir o teor de sólidos por diluição. Em


seguida, adicionar KOH, amido e, finalmente, KCl (lentamente, devido à ocorrência de
“hump" (aumento excessivo) de viscosidade).

Os aditivos para tratamento complementar diário devem ser misturados previamente em


um tanque auxiliar de diluição e só então deslocados para o restante do sistema, durante
um tempo de circulação completo. Parte do tratamento diário é devido à reposição da
parcela dos polímeros que se ligam às partículas de argila e são descartados pelos
equipamentos extratores de sólidos.

As limitações e cuidados se referem a:

(a) baixa tolerância ao acúmulo ou incorporação de sólidos. Dessa forma, os extratores de


sólidos devem operar em perfeitas condições;

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(b) não é recomendado para densidades acima de 10,0 lb/gal, por ser um fluido de
polímeros com baixo teor de argilas, e, portanto, de baixa tixotropia;
(c) não é recomendado para áreas onde as temperaturas de fundo de poço são elevadas;
(d) não é resistente ao corte de cimento, pois o aumento do pH e do teor de Ca2+
prejudica os polímeros. Em caso de necessidade, tratar previamente com barrilha.

Fluidos Saturados com NaCl

É considerado um fluido saturado em NaCl todo aquele em que a salinidade a 20°C é


cerca de 311.300 mg/I (260.000 ppm). Suas principais características são:
(a) a inibição química da hidratação e dispersão das argilas é conferida pela salinidade do
sistema;
(b) tendência à formação superficial de espuma. Este problema pode ser contornado
mantendo-se o Pf acima de 0,2 ml ou o Pm em torno de 3,5 ml, se fluido for tratado
também com cal;
(c) o amido é o controlador de filtrado para este sistema, entretanto pode se fazer uso do
CMC BV;

Suas principais aplicações são:


(a) na perfuração de formações salinas (halita. silvita, carnalita);
(b) na perfuração de formações argilosas, por ser um fluido altamente inibido.

Sua composição básica é:


Água............................. QSP
Argila ativada............... 12,0 a 15,0 Ib/bbl
Soda cáustica............... 1,0 a 1,5 Ib/bbl
Amido........................... 8,0 a 12,0 Ih/bbl
NaCl............................. QSP para saturação
Baritina......................... Se necessário

Obs.: no caso do uso de cal, adicionar 2,0 - 3,0 Ib/bbl e reduzir a concentração de soda
cáustica.

O tratamento e manutenção consistem em:


(a) manter o pH, através da adição de solução de soda cáustica, acima de 9,0, pois,
quando da adição de sal, o pH baixa rapidamente;
(b) a elevação da viscosidade deve ser feita, através da adição de QMIX ou de bentonita
ou atapulgita;
(c) para contaminações por Ca2+ recomenda-se o uso de barrilha leve ou bicarbonato de
sódio;
(d) deve ser feita uma constante monitoração do MBT, visando auxiliar o controle do
filtrado;
(e) para manter-se o fluido saturado na temperatura de fundo de poço, são necessárias
de 4,0 - 5,0 Ib/bbl de sal, além da saturação a temperatura ambiente;
(f) para fluidos saturados não é necessário o uso de bactericida.

As limitações e cuidados são:


(a) dificuldade de adensamento, devido à baixa reologia do sistema;
(b) temperatura limitada a 250° F, em virtude do am ido ser o melhor controlador de filtrado
nos fluidos salgados saturados tratados com cal.

77
Fluidos de Baixo Teor de Sólidos

São fluidos de perfuração que apresentam um teor de sólidos inferior a 4% em volume,


quando do seu preparo. Vários tipos de fluidos podem ser classificados como Baixo Teor
de Sólidos. Nesta classe, nos referimos apenas aos fluidos com água doce, não
emulsionados e tratados com polímeros.

Suas principais características são:


(a) baixo peso;
(b) baixo poder de inibição;
(c) fluido não disperso.

As aplicações se concentram na:


(a) perfuração de certas áreas com baixa pressão e/ou com formações frágeis ou pouco
consolidadas. Nestes casos, toma-se necessário perfurar com um fluido leve, com baixo
teor de sólidos, pois estes fluidos de baixa densidade reduzem os riscos de perda de
circulação;
(b) também são usados na perfuração de fases iniciais e nas formações duras e inertes,
já que possibilitam um incremento na taxa de penetração.
Sua composição básica é:

Água industrial.................... QSP


Argila ativada...................... 5,0 a 12,0 lb/bbI
Soda cáustica....................... 0,3 a 0,5 Ib/bbl
CMC AV-AD...................... 0,5 a 1,5 Ib/bbl
CMC BV.............................. QSP para filtrado desejado

O tratamento e manutenção consistem em:


(a) tratar a água de fabricação com barrilha e soda cáustica para eliminar os íons Ca2+ e
Mg2+;
(b) repor periodicamente os polímeros;
(c) evitar a adição de bentonita.

Sua principal limitação é a ineficiência na perfuração de formações ativas e/ou com


elevado gradiente de pressão. O fluido também é sensível à contaminação por Ca2+ e/ou
Mg2+. Os extratores de sólidos devem estar em bom funcionamento.

Fluidos à Base de Água Emulsionados

A mistura mecânica de dois líquidos miscíveis ou parcialmente imiscíveis gera a formação


de um sistema disperso denominado emulsão. Nestes sistemas, com frequência uma das
fases é aquosa e a outra é oleosa. Se o óleo é a fase dispersa, tem-se a emulsão de óleo
em água (O/A). Se a água for fase dispersa, a emulsão será de água em óleo (A/O).

A estabilidade de uma emulsão em relação à separação de fases é uma das suas


propriedades mais importantes. Consegue-se uma emulsão estável adicionando-se uma
substância tensoativa que atue reduzindo a tensão interfacial entre os componentes
líquidos. Esta substância estabilizadora de emulsão é conhecida por emulsificante e forma
uma camada orientada na interface dos líquidos.

78
As emulsões de óleo em água são também conhecidas por emulsões diretas, na
terminologia técnica dos fluidos de perfuração. Os detergentes comerciais, a argila
ativada e o lignosulfonato são bons emulsificantes do óleo na água. Entretanto, existem
surfactantes específicos, do tipo nonilfenol etoxilado, que conferem excelente
estabilização a este tipo de emulsão, os quais são empregados na concentração de 1,0 a
2,0 % vol da fase óleo.

As principais características destes sistemas são:


(a) baixa densidade (8,0 a 9,5 Ib/gal);
(b) elevado índice de lubricidade, devido à presença de fase óleo;
(c) alta viscosidade plástica;
(d) baixo limite de escoamento e baixas forças géis;
(e) reologia e estabilidade afetadas, principalmente, pelas quantidades relativas das fases
líquidas.

As principais aplicações são na perfuração de:


(a) calcário;
(b) formações de baixa pressão e/ou com baixo gradiente de fratura;
(c) reservatórios depletados;
(d) formações com grandes possibilidades de perda de circulação;
(e) poços direcionais.

O preparo de qualquer fluido emulsionado necessita de uma agitação vigorosa. O uso de


agitadores de fundo (pistolas) auxiliam na obtenção de uma emulsão com elevada
estabilidade. Se o fluido for preparado a partir de água salgada, deve-se empregar argila
ativada pré-hidratada ou um polímero específico para viscosificar o fluido. Tanto a argila
ativada como o polímero ou o amido conferem estabilidade à emulsão O/A. Nos fluidos à
base de água, uma fase oleosa é utilizada como lubrificante até a concentração de 10%
vol. Neste caso, dispensa-se o surfactante e usam opcionalmente detergentes comuns,
nâo iônicos. A partir desta concentração até cerca de 50% vol, a fase óleo é adicionada
com a finalidade principal de reduzir densidade. Para aumentar a viscosidade pode-se
adicionar óleo, polímero ou argila ativada pré-hidratada. O surfactante aumenta a
estabilidade do sistema, sendo que o seu melhor desempenho ocorre em pH da ordem de
8,5 a 9,5. A redução da viscosidade é conseguida com diluição do sistema. Para reduzir o
filtrado, deve-se adicionar amido, polímero, argila ativada ou óleo.

Suas limitações são:


(a) baixa tolerância a sólidos argilosos;
(b) baixa resistência a temperaturas elevadas;
(c) baixa tolerância à contaminação por cálcio e magnésio;
(d) elevado custo de tratamento.

Fluidos Drill in

São fluidos especialmente formulados para a perfuração da zona de interesse, gerando


rebocos de fácil remoção e baixo potencial de dano. A crescente popularidade da
perfuração horizontal e das completações de poço aberto têm intensificado o uso de
fluidos drill-in.

79
Os sistemas de fluidos drill-in são projetados para proteger a zona de interesse durante a
construção do poço, prevenindo a ocorrência de dano e melhorando os índices de
produtividade de um poço. Apresentam alto poder de carreamento de cascalhos, boa
lubricidade, bom poder de inibição de argilas e baixo potencial de dano às formações
produtoras. Devido à sua capacidade de tamponamento das gargantas de poros, a
invasão de fluido para formação é reduzida, mediante a formação de um reboco
consistente e de baixa permeabilidade que pode ser facilmente removido pela produção
de hidrocarbonetos.

Uma composição típica de fluido drill-in é apresentada a seguir.

COMPONENTE FUNÇÃO CONCENTRAÇÃO


Água industrial Fase contínua QSP
NaCl Inibidor de inchamento de argilas 30 a 110 lb/bbl
Anti-espumante com silicone Anti-espumante 0,05 gal/bbl
Goma xantana Viscosificante 1,2 lb/bbl
Amido hidroxi-propilado Redutor de filtrado 8 lb/bbl
Óxido de magnésio Controlador de pH 1,0 - 1,5 lb/bbl
Calcário * Obturante 40 - 50 lb/bbl
Lubrificante Lubrificante 2 a 3% v/v
Bactericida Bactericida 0 a 0,5 lb/bbl
Peróxido de magnésio Oxidante 1,0 lb/bbl
*O mais freqüente é usar o calcário 2 - 44 µ, mas pode ser usada também uma mistura de calcário de
granulometrias diversas, definida pela permeabilidade da formação perfurada

80
Fluido de perfuração à Base de Orgânicos
Conceituação

Os fluidos são ditos de base óleo quando a fase contínua ou dispersante é constituída por
uma fase óleo, composta de uma mistura de hidrocarbonetos líquidos. Os materiais
usuais na composição da fase contínua são: óleo sintético, óleo mineral, óleo diesel ou
óleo cru. É comum o uso de misturas destes e outros materiais para se obter a fase
contínua destes fluidos. Os exemplos mais usuais são a mistura de óleo diesel com óleo
ou resinas asfálticas e a mistura de óleo mineral com querosene.

O outro constituinte básico dos fluidos de base óleo é a fase aquosa, dispersa sob a
forma de minúsculas gotículas, emulsionada pela ação tensoativa superficial de um
surfactante específico. Sob esta ótica, eles são defínidos como emulsão do tipo de água
em óleo. Distinguem-se duas classes de fluidos de base óleo, em função do teor da fase
aquosa: as emulsões verdadeiras ou fiuidos de base óleo propriamente ditos, cujo teor é
inferior 10% vol, e as emulsões inversas, com 10% vol ou mais de fase aquosa. As
seguintes classes de produtos químicos, por função, completam a composição básica dos
fluidos de base óleo: emulsionantes, saponificantes, redutores de filtração, gelificantes,
agentes óleo-molhantes, dispersantes, alcalinizantes e adensantes.

Características Principais

o comportamento químico das dispersões e, por conseqüência, das emulsões, é regido


fundamentalmente pela natureza da fase dispersante. Sendo esta uma mistura de
hidrocarbonetos líquidos nos fluidos de base óleo e considerando que a fase aquosa
dispersa contribui parcialmente para a definição deste comportamento, suas
características principais são:

(a) baixíssima solubilidade das formações de sal, como halita, silvita, taquidrita,
carnalita e anidrita;
(b) atividade química controlada pela natureza e concentração do eletrólito dissolvido
na fase aquosa;
(c) alta capacidade de inibição em relação às formações argilosas hidratáveis;
(d) resistência a temperaturas elevadas, apresentando propriedades reológicas e de
filtração controláveis até 500 oF;
(e) alto índice de lubricidade ou baixo coeficiente de atrito;
(f) baixa taxa de corrosão, sem empregar inibidores químicos específicos;
(g) intervalo amplo para variação da massa específica, isto é, desde 7,0 Ib/gal, até
cerca de 20,0 lb/gal, nos sistemas adensados com baritina.

Aplicação

Como conseqüência das características citadas anteriormente, os fiuidos de base óleo


têm sido aplicados com sucesso na perfuração de:

(a) poços profundos e/ou com elevados gradientes geotérmicos, cujas tempaturas
superem a 350°F;
(b) rochas solúveis em água, como os evaporitos e domos salinos;

81
(c) poços direcionais e/ou de diâmetro reduzido ou delgado;
(d) rochas hidratáveis e plásticas, como os folhelhos e argilitos por exemplo;
(e) formações produtoras danificáveis por fluidos de base água;
(f) poços com baixa pressão de poros, baixo gradiente de fratura ou através de
reservatórios depletados;
(g) poços que gerem ambientes corrosivos.

Os fluidos de base óleo podem ainda ser aplicados para liberar coluna de perfuração
presa por diferencial de pressão e na completação de poços.

Limitações

A tecnologia dos fluidos de base óleo evoluiu bastante nas duas últimas décadas, a ponto
de quase eliminar o número de restrições antes atribuídas a estes sistemas. O
desenvolvimento de novos aditivos e novos equipamentos foi fundamental para se atingir
este estágio. Algumas considerações em relação à aplicação destes fluidos são:
(a) evitá-los em região de interesse ecológico;
(b) usá-los em sondas com excelente sistema de separação de sólidos e lavagem dos
cascalhos;
(c) evitá-los em regiões com registros de perdas de circulação severas;
(d) não executar a perfilagem com perfis que necessitem de meios condutivos, como o
potencial espontâneo (SP) e o de resistividade normal;
(e) somente efetuar seu descarte em ambientes projetados especificamente para tal fim.

Composição Básica

Os componentes básicos dos fluidos de base óleo estão listados a seguir, por classe
funcional e componente químico predominante.

Classe por função Possível componente químico predominante

Emulsificante Primário Mistura de ácidos graxos


Emulsificante Secundário Mistura de ácidos graxos
Agente óleo-molhante Derivados Amínicos
Redutor de filtrado Mistura de compostos graxos ou lignito amínico
Viscosificante e gelificante Argila Organofílica
Dispersante Óleos Sulfonatados

A saponificação dos ácidos graxos é processada com a adição de cal viva (CaO) ou cal
hidratada (Ca(OH)2), formando-se os respectivos sabões de cálcio.

A composição de cada sistema de fluido à base de óleo varia em função dos produtos
químicos empregados, da razão óleo/água, densidade e atividade química da fase aquosa
do fluido. A concentração de cada produto químico dependerá do tipo e da natureza das
formações geológicas a ser perfuradas, bem como de condições operacionais como
temperatura e pressão. Os intervalos de concentrações praticadas estão registrados na
tabela 20.

82
Tabela 20 - Composição Básica de Três Tipos de Sistemas de Fluido Base Óleo
Composição
Aditivos Típica p/ Alta T (> 350 oF) p/ Alta taxa
de penetração
Emulsionante, Ib 4-10 6-10 2-4
Cal viva, Ib 2-10 5-10 2
Agente óleo-molhante,lb 2-4 4-6 4-8
Controlador de filtrado, Ib 3-8 3-15 -
Argila organofílica, Ib 2-4 4-10 4-10

As quantidades da fase oleosa e da fase aquosa dependem da razão óleo-água do


sistema. A fase aquosa pode ser água doce ou água salgada. A concentração de sal
dependerá da atividade química da fase aquosa necessária para equilibrar-se à atividade
química das formações argilosas que serão perfuradas. Os sais empregados no controle
da atividade química da fase aquosa são cloreto de sódio (NaCl) e cloreto de cálcio
(CaCl2). Por último, a quantidade de baritina será função da densidade programada para
o fluido. No cálculo das quantidades é necessário um conhecimento de balanço de
materiais.

Contaminação e Tratamento

Os fluidos de base óleo são mais resistentes aos contaminantes encontrados durante a
perfuração, como sal, cimento, anidrita, sólidos, água e gases, que os fluidos de base
água. Destes, a água, os sólidos e os gases são os que mais afetam as propriedades dos
fluidos de base óleo. A contaminação por água requer maior atenção, pois pode provocar
desde a alteração drástica das propriedades do fluido até a quebra completa da emulsão.

Cálculo da Razão Óleo-Água

Um dos parâmetros mais importantes no controle dos fluidos de base óleo é a relação
volumétrica entre a fase óleo e a fase aquosa, contida na fração líquida. O volume de fase
óleo em cem partes volumétrica da fase líquida, isto é, exceto o volume de sólidos, é
definido por razão de óleo (RO) e pode ser determinado a partir dos resultados corrigidos
do teste de retorta pela relação:

(%óleo) corr
RO = x100
(%óleo) corr + (%água) corr

A razão de fase aquosa (RA) conseqüentemente será:

RA=100-RO
E a razão óleo-água (ROA) é, portanto definida por:

ROA = RO/RA

83
A percentagem de fase água ou de fase óleo corrigida é obtida multiplicando a
percentagem de água ou de óleo, determinada diretamente com o teste da retorta, pelo
fator de correção volumétrica (Cv) adequado para cada caso. Equacionando, teremos:

(% água) corr = Cv x (% água) retorta


(% óleo) corr = Cv x (%óleo) retorta

Os fatores de correção volumétrica para as fases aquosas são tabelados em função da


salinidade do sistema (tipo e concentração de sal). Os fatores de correção referentes à
fase óleo podem ser desprezados, estimados ou levantados a partir de soluções oleosas
conhecidas.

84
Testes de Laboratório
Métodos Físicos

(I) "Viscosidade" Marsh


Equipamento: Funil marsh
Descrição
O funil Marsh é um recipiente cônico com as seguintes dimensões: 15,24 cm (6") de
diâmetro na parte superior, 30,48 cm (12") de altura. A metade da abertura superior está
coberta por uma peneira de malha no.10. O orifício inferior tem 4,76 mm (3/16”) de
diâmetro interno e 5,08 cm (2") de comprimento. A capacidade do funil até a marca
superior é de 1500 cm3 . Veja figura 1.

Figura 1 - Funil Marsh e recipiente.

Procedimento
* Segure o funil em posição vertical, obstruindo o orifício de descarga com o dedo
indicador;
* Verta através da peneira a amostra de fluido, previamente agitada e homogeneizada até
que o nível da mesma fique rente à parte inferior da tela da peneira;

* Imediatamente, retire o dedo do tubo de descarga e, com o auxílio de um cronômetro,


meça o tempo em segundos, necessário para que escoe um (01) litro de fluido, para um
becher graduado;

* A operação deve ser rápida para minimizar erros relativos à gelificação.

Resultados

*Registre a "Viscosidade" Marsh como o tempo de escoamento, em segundos/1000 cm3


de fluido.

Calibração

85
* Verifique a precisão do funil Marsh com 1500 cm3 de água doce a 21 oC. O tempo de
escoamento de 1.000 cm3 de água deve ser de 28 ± 0,5 segundos. Caso este valor não
seja observado, desobstrua o tubo ou troque o equipamento.

Cuidados
* Lave e seque todo o equipamento após cada operação.

(2) Teor de Areia


Equipamento: Medidor de areia
Descrição
Conjunto composto por um tubo de vidro cônico, graduado em percentual volu-
métrico (0-20% vol), um cilindro cônico e um copo cilíndrico com uma tela de peneira de
malha 200 mesh, ambos confeccionados de material plástico. Veja figura 2.

Figura 2 -Conjunto padronizado pela API para medir teor de areia

Procedimento
* Verta o fluido, previamente passado através da peneira do funil Marsh, no tubo de vidro
graduado até a marca indicada e depois adicione água até a referência superior;

* Obstrua a saída superior do tubo com o dedo e agite-o vigorosamente; esvazie a


amostra de fluido diluído através da peneira, lavando todo o resíduo no tubo com água.
Lave a areia retida na peneira até eliminar os traços de fluido;

* Coloque o funil sobre a peneira e inverta o conjunto lentamente. Faça retomar a areia da
peneira para o interior do tubo, através de jatos d’água;

* Espere até a deposição total da areia;

*Leia diretamente a percentagem em volume de areia no tubo graduado.

Resultados
* Registre o conteúdo de areia em percentagem volumétrica.

Cuidado
* Lave e seque o equipamento após cada operação.

86
(3) Massa Específica
Equipamento: Balança densimétrica
Descrição
O equipamento consiste de uma base e braço graduado com copo para amostra, tampa,
fiel, cursor e medidor de nível (veja figura 3). Possui quatro escalas de leituras com os
seguintes intervalos de medida:
Densidade 0,72-2,88
Massa Específica 6-24 lbm/gal
Massa Específica 45-180 lbm/pé3
Gradiente Hidrostático 310-1250 psi/1000 pé

Figura 3 - Balança densimétrica

Procedimento

* Posicione a base da balança em uma superfície lisa e nivelada;

* Encha totalmente o copo da balança com o fluido a ser testado. Se o copo inicialmente
estiver molhado, despeje a primeira porção de fluido e volte a enchê-lo. Deve-se eliminar
bolhas de ar trapeadas no fluido. Para tanto, aplicar alguns golpes no copo, até que as
bolhas desapareçam;

* Coloque a tampa e faça um ligeiro movimento de rotação, até que fique firmemente
assentada no copo, certificando-se que uma pequena quantidade de fluido escape pelo
orifício de purgação;

*Lave e seque o exterior da balança;

* Coloque a balança sobre a base e mova o cursor até que a bolha do nível fique
centralizada;

*Leia a massa específica e/ou densidade no lado do cursor que estiver mais próximo do
copo coletor.

Resultados

87
* Registre a leitura da massa específica em Ibm/gal ou de densidade com precisão de
0,05 ou 0,005, respectivamente.

Calibração
* A balança deve ser calibrada freqüentemente com água doce a 21 oC, correspondendo
a uma leitura de densidade igual a 1,00. A aferição se faz retirando ou colocando esferas
ou limalhas de chumbo no depósito especial que existe na extremidade do braço da
balança.

Cuidado
*Lave e seque a balança após cada determinação.

(4) Filtração Baixa Temperatura e Baixa Pressão-BTBP


Equipamento: Filtro-prensa BTBP
Descrição
O equipamento consiste de um reservatório de fluido, com capacidade aproximada de
400cm3 , um meio filtrante (papel de filtro whatman n° 50 de 9 cm ou similar), um coletor
de filtrado (proveta graduada) e uma fonte de pressão (cilindro contendo N2 ou CO2).

O reservatório é constituído por uma célula cilíndrica com tampa superior, móvel, fixada
através de parafuso tipo prensa, vedada com gaxeta de borracha, e uma base com tela,
também móveis, fixadas e apoiadas na estrutura metálica, vedadas com gaxeta de
borracha (veja figura 4). A área exposta a filtração é de 7 pol2 . O controle de pressão é
efetuado por uma válvula com registro (manômetro). A despressurização é feita através
de uma válvula de escape ou dreno.

Procedimento
* Assegure-se que todas as partes do filtro estejam limpas e secas e que as gaxetas não
estejam gastas ou deformadas;

*Arme todas as peças da célula: a base, uma gaxeta, a tela, o papel-filtro, outra gaxeta e
o corpo da célula;

* Encha com fluido até um centímetro da borda superior da célula. Coloque o conjunto
sobre o suporte central. Assegure-se que a tampa superior da célula tenha sua gaxeta e
tampe a célula, apertando-a com o parafuso;

* Coloque a proveta graduada, limpa e seca, sob o tubo de saída da célula, a fim de
receber o filtrado;

* Feche a válvula de escape e ajuste o regulador de pressão até obter 100 psi em 30
segundos no máximo. Comece a contar o tempo;

* Após 30 minutos, meça o volume de filtrado na proveta. Feche a fonte de pressão.


Elimine o gás confinado na célula através da válvula de escape, cuidadosamente;

* Retire a célula do suporte. Despeje o fluido. Desarme a célula e obtenha o papel de filtro
com o reboco. Lave este com um leve jato de água. Meça a sua espessura em 1/32".

88
Figura 4 - Filtro Prensa Baixa Temperatura e Baixa Pressão

Resultados

* Registre o volume do filtrado em cm3 , com aproximação de 0,1 cm3 ;


* Registre a espessura do reboco em 1/32” com aproximação de 1/64".

Calibração
* Verifique com freqüência a exatidão dos manômetros.

Cuidados
* Não use oxigênio como fonte de pressão;
* Lave e seque imediatamente todas as partes do equipamento após cada teste.

(5) Teor de Líquidos e Sólidos


Equipamento: Retorta Metálica
Descrição
Destina-se à determinação dos teores de sólidos e líquidos existentes em um fluido,
através da destilação de uma amostra do mesmo. É constituída de um corpo ou célula
para amostra, com capacidade de 10 cm3 (ou 50 cm3) uma câmara de aquecimento, um
forno e um condensador. O destilado é coletado em uma proveta graduada (veja figura 5).
A retorta é regulada por um termostato que permite manter, com segurança, a
temperatura necessária para

89
completa destilação da amostra de fluido.

Figura 5 — Retorta para determinação dos teores de óleo, água e sólidos.

Procedimento

* Retire a retorta do bloco isolante. Usando a espátula como desarmador, desenrosque o


depósito de fluido da retorta;

*Introduza uma palha de aço na câmara de evaporação;

*Encha o depósito com o fluido a testar e coloque a tampa no depósito de fluido, fazendo
um movimento giratório para ajuste do volume;

*Limpe bem a tampa, a rosca e corpo externo do depósito, sem derramar o fluido;

*Enrosque o depósito na parte inferior da câmara de evaporação;

*Coloque a retorta na câmara isolante e feche a tampa da câmara isolante;

*Coloque a proveta graduada sob a descarga do condensador;

* Ligue o aparelho a uma tomada de 115 v CA (ou 220v) e feche o circuito elétrico. Ao
fazer isto a lâmpada piloto deverá acender;

*O tempo de destilação será cerca de 35 minutos;

90
*Abra o circuito elétrico. Ao fazer isto, a lâmpada-piloto deverá apagar;

* Deixe a retorta esfriar durante 10 minutos. A seguir, retire a proveta e faça as leituras
correspondentes aos volumes de água e óleo recuperados na proveta graduada.

Resultados
% água = Volume de água x 10
% óleo = Volume de óleo x 10
% sólidos = 100 -(% água + % óleo)

Cuidados
* A retorta só deverá ser operada com voltagens para as quais foi projetada;
* Deve-se evitar que a retorta se esquente ao rubro e que seja posta em contato com
líquidos frios após ter sido aquecida;
* A amostra de fluido deve ser medida com a máxima exatidão;
* Durante a destilação não devem aparecer gotas de umidade em nenhuma das partes
externas da retorta e do condensador, o que indicaria fugas e conseqüentemente erros;
* Utilize palha de aço nova em cada operação a fim de evitar arraste de sólidos para o
condensador;
* Limpe e seque perfeitamente as partes da retorta e dos condutos após cada teste.

(6) Parâmetros Reológicos e Gelificantes


Equipamento: Viscosímetro rotativo de cilindros co-axiais FANN mod. 35A
Descrição
O viscosímetro rotativo Fann 35A é um aparelho que foi projetado para medir
propriedades reológicas e gelificantes dos fluidos de perfuração. Ele possui 6 (seis)
velocidades e tem sido usado tanto em laboratório como em unidades de perfuração e
completação de poços. Regularmente, possui um motor de 50 HZ e 115 volts e uma
combinação rotor-bob-mola de torção R1-B1-F1, cuja especiflcação do fabricante permite
medidas de taxa de cisalhamento da ordem de 5,11 a 1.022 s-1 e tensão de cisalhamento
da ordem de zero a 1.533 dynas/cm2 (veja figura 6). Outras combinações dos sensores de
medida (conjunto de cilindros co-axiais) e molas de torção permitem determinações em
intervalos da ordem de 0,707 a 3.252 s-1 e de zero a 131.520 dynas/cm2 de taxa de
deformação e tensão de cisalhamento, respectivamente.

Procedimento
* Agite o fiuido a ser testado no misturador Hamilton Beach durante 5 minutos em
velocidade alta (18.000 rpm);
* Verta o fluido no copo do viscosímetro até a sua marca e coloque este na base do
equipamento. Eleve o copo até que o nível do fluido coincida com a marca no rotor e fixe-
o com o parafuso;
* Ligue o motor acionando o interruptor para a posição HIGH e certifique-se que o seletor
de engrenagens esteja na posição inferior;

* Faça a leitura que corresponde a 600 rpm, após 1 minuto de agitação;

* Proceda conforme diagrama na parte superior do equipamento para seleção de


velocidades e registre os valores de deflexão após 1 minuto de agitação para 300, 200,
100, 6 e 3 rpm;

91
*Coloque o equipamento a 600 rpm por 2 minutos. Imediatamente mude a velocidade
para 3 rpm;

*Desligue o motor e após dez segundos de repouso ligue o aparelho a 3 rpm, ao mesmo
tempo em que observa o ponto máximo atingido pela escala, valor este denominado força
gel inicial;

* Repita os dois últimos itens, primeiro para um tempo de repouso de 10 minutos, a seguir
para um tempo de repouso de 30 minutos. As deflexões máximas obtidas em cada nova
condição são denominadas força gel @ 10 minutos e força gel @ 30 minutos,
respectivamente.

Figura 6 - Viscosímetro Rotativo FANN mod.35A

Resultados

* Registre os valores das deflexões, em graus, para cada velocidade;


* Calcule a viscosidade plástica, em cP, e o limite de escoamento, em lbf/100 pe2

* Registre os valores das forças géis, em aproximadamente lbf/100 pe2 , seguindo o


procedimento anteriormente descrito.

Calibração

92
*O aparelho deverá ser calibrado periodicamente, empregando-se uma mistura de
glicerina e água pura na temperatura ambiente ou através do calibrador mecânico
padronizado (kit DW3).

Cuidados

* Não se deve levantar o copo acima da marca exterior no rotor;

* Limpe o aparelho com o rotor trabalhando a 600 rpm e submerso em água ou solvente
apropriado;

* Não toque o rotor com o motor ligado;

* Limpe e seque perfeitamente o aparelho após cada determinação;

* Não movimente o pino de seleção das engrenagens com o motor em repouso.

(7) Filtração Alta Temperatura e Alta Pressão-ATAP


Equipamento: Filtro-prensa ATAP

Procedimento
A) Para temperaturas até 200 oF
a - Uma hora ou mais, antes de iniciar o ensaio, ligar a resistência da jaqueta térmica,
ligar o termostato à meia escala e colocar um termômetro metálico no orifício existente na
parte superior. A lâmpada intermitente do termostato acenderá quando for alcançada a
temperatura ajustada no termostato;

b - Encher a célula com a amostra do fluido de perfuração, até 5 mm do topo; tomar


cuidado para manter limpo o anel de vedação e a parte selante da tampa;

c - Assentar, cuidadosamente, o papel de filtro sobre o anel de vedação, introduzir a


tampa e apertar os parafusos;

d -Assentar a célula dentro da jaqueta térmica e introduzir a haste do termômetro no


orifício existente na célula. Aguardar até que o termômetro acuse a temperatura de
ensaio;

e -Colocar, sob a descarga, o cilindro graduado;

f - Encaixar o sistema de pressurização e regular a pressão através da válvula de


diafragma;

g -Abrir a válvula de entrada, existente no tubo de entrada da célula, dando-lhe meia


volta;

h -Dar meia volta na válvula de saída, existente no tubo de descarga da célula e marcar o
tempo de 30 minutos;

i - Ao completar 30 minutos, fechar as duas válvulas dos tubos extremos da célula;

93
j - Descomprimir o diafragma e abrir a válvula de descarga do sistema de pressurização;

k -Retirar a célula do recipiente e deixá-la esfriar;

l - Abrir a válvula do tubo inferior de admissão da célula, a fim de reduzir a pressão interna
até equalizar com a pressão externa;

m -Folgar os parafusos da tampa e retirá-la;

n - Anotar o volume do filtrado e medir a espessura do reboco;

B) Para temperaturas acima de 200oF (Veja figura 7)

Figura 7 - Filtro-Prensa ATAP para Temperaturas acima de 200 oF

É necessário introduzir a unidade de contra-pressão, a partir da etapa g do item (A)


anterior, continuando o ensaio:

a - Inserir o tubo de descarga do coletor do filtrado na unidade de contra-pressão;

b - Fechar a válvula de descarga do coletor de filtrado; a válvula do tubo de descarga da


célula deverá estar fechada;

c - Aplicar, na unidade, 100 psi de contra-pressão, na saída do filtrado;

d -Iniciar o ensaio, abrindo com meia volta a válvula de saída;

94
e - Ao completar 30 minutos, fechar as válvulas de entrada e saída; folgar, em seguida, os
parafusos das duas unidades de despressurização e abrir as válvulas de escape;
desconectar as duas unidades;

f - Retirar a célula e deixá-la esfriar;

g -Abrir a válvula de entrada, folgar os parafusos e retirar a tampa;

h - Anotar o volume do filtrado e registrar o resultado, multiplicando por 2 o volume obtido,


quando se usa papel de filtro com área de 3,5 polegadas quadradas;

i - Medir a espessura do reboco em frações de polegadas ou milímetros.

Cuidados

*Os cuidados são os mesmos do filtro-prensa de baixa temperatura e baixa pressão;

*Observar cuidadosamente as recomendações do fabricante do aparelho, no que se


refere às limitações do volume da amostra e pressão a aplicar, para a temperatura de
ensaio escolhida.

(8) Estabilidade Elétrica das Emulsões


Equipamento: Medidor de estabilidade elétrica (VB - METER)
Descrição
Equipamento projetado para avaliar a diferença de potencial necessária para condução da
corrente elétrica num líquido. E constituído de um eletrodo e um conjunto que contém o
sistema elétrico do equipamento, que se constitui na fonte de alimentação e conversão da
corrente. Possui um seletor manual de voltagem, acoplado a uma escala que varia de 0-
1000 V (veja figura 8).

Figura 8 — Medidor de Estabilidade Elétrica

Procedimento

* Usar um becher de vidro de 250-500 ml para colocar a amostra;

* Submergir o eletrodo até uma profundidade de 2,5 cm na amostra e agitar lentamente


com o próprio eletrodo;

* Não agitar a amostra durante a leitura;

95
* Pressionar o botão durante 5 a 10 segundos antes de girar o dial. Girar o dial lentamente
até que a luz vermelha acenda.

Resultados

*Fazer a leitura. Este valor multiplicado pelo fator de escala do equipamento (específico
para cada aparelho) fornece a medida da estabilidade elétrica, em volts.

Cuidados

* A medida da estabilidade elétrica deve ser efetuada a temperatura constante;

*Limpar e secar o equipamento após cada determinação.

(9) Atividade Química


(Método da Umidade Relativa)
Equipamento: Eletrohigrômetro
Descrição
O eletrohigrômetro é um instrumento usado para medir a umidade relativa da atmosfera
de vapor gerada por um líquido ou sólido colocado em um recipiente fechado. O eletrodo
do eletrohigrômetro é colocado sobre esta atmosfera de vapor, espera-se que o equilíbrio
seja atingido, após o qual faz-se a leitura na escala do instrumento. A resistência elétrica
do sensor é sensível à variação da quantidade de vapor d'água presente no ambiente.
Como o ensaio é conduzido a pressão atmosférica, a pressão do vapor d'água é
diretamente proporcional a fração volumétrica de água na mistura gasosa ar/água. Deve-
se construir uma curva de calibração do eletrohigrômetro antes de efetuar qualquer teste.
Isto pode ser feito utilizando-se soluções saturadas de diversos sais de atividade
conhecida.

Procedimento

* Colocar aproximadamente 100 cm3 de fluido em um frasco limpo e seco;

*Colocar e ajustar o eletrodo firmemente dentro do frasco;

* Esperar 10 minutos para que o equilíbrio da fase vapor seja estabelecido;

* Girar o botão do centro até a posição CHECK. Com o botão à direita do instrumento
ajuste o ponteiro até a leitura de 100%;

* Girar o botão do centro a posição READ e ler a umidade relativa do fluido;

Para determinação com amostra sólida, repetir o mesmo procedimento, utilizando


aproximadamente 2,5 cm do material no frasco e esperando 20 minutos para atingir o
equilíbrio.

Resultados

* Registre a umidade relativa, em %, da amostra testada;

96
* Com base na curva de calibração do equipamento utilizando o valor da umidade relativa
obtida, determine a atividade química do sistema testado.

Calibração

*Repetir o procedimento anterior, utilizando soluções de atividades conhecidas;

* Testar, sempre, primeiramente a solução de mais baixa atividade e prosseguir com as


outras em ordem crescente de atividade;

*Traçar a curva de calibração: Umidade Relativa versus Atividade.

Cuidados

* Não tocar no eletrodo;


* Não permitir que o eletrodo entre em contato com a solução ou as paredes do frasco.

Equipamentos Auxiliares

Equipamento 1: Estufa rotativa


Descrição
A estufa rotativa é um equipamento empregado na investigação do efeito do tempo ou
"envelhecimento" nas propriedades do fluido, com simulação de temperatura, pressão e
agitação ou repouso. Consiste em uma estufa (forno) com temperatura controlada e rolos
cilíndricos metálicos, giratórios, sobre os quais colocam-se células cilíndricas metálicas
(aço inox ou bronze-alumínio) com capacidade de 500 ml, em geral, contendo amostras
dos fluidos a ser testados. Estas células possuem válvulas apropriadas para
pressurização.

Equipamento 2: Misturador Hamilton Beach


Descrição
O misturador Hamilton Beach é um equipamento empregado, em laboratório, no preparo
e homogeneização de dispersões utilizadas como fluidos de perfuração e de
completação. Possui três velocidades de trabalho: 13.000 rpm (L); 16.000 rpm (M) e
18.000 rpm (H). Os recipientes de mistura são copos metálicos em aço inox com
capacidades de 500 cm3 e 2.000 cm3.

Apêndice B - Testes de Laboratório


Métodos Químicos

(1) pH com papel indicador

Jogo de papel indicador com escala de cores variadas para comparação.

O papel indicador é posicionado na superfície do fluido ou umedecido com uma gota de


filtrado; após um minuto, aproximadamente, a tira de papel terá mudado de cor, afetada
pela alcalinidade do fluido ou do filtrado. A cor do papel indicador é comparada com a
carta colorimétrica correspondente.

97
Nota: O papel indicador fornece resultados falsos em fluidos com alta concentração de
sal. Neste caso, deve-se utilizar o método potenciométrico, quando o fluido contiver mais
de 10.000 ppm Cl-.

(2) Alcalinidades: Pm, Pf e Mf (Fluidos à Base de Água)

Titulação com solução de H2SO4 N/50 e solução indicadora de fenolftaleína.

Ao volume gasto da solução de ácido sulfúrico N/50, em cm3, na titulação de 1 cm3 de


fluido, se chama alcalinidade do fluido (Pm). A alcalinidade do filtrado (Pf) se determina
seguindo-se o mesmo procedimento, porém utilizando-se 1 cm3 de filtrado. A
determinação de Mf (alcalinidade do filtrado) é realizada com solução indicadora de
metilorange, após a viragem da fenolftaleína.

Notas:
1. Se o filtrado se apresentar corado devido, por exemplo, a aditivo corante, a viragem
em ambas as determinações pode ser afetada, particularmente no caso do metilorange.
Neste caso, a determinação do ponto final poderá ser efetuada com um potenciômetro. O
ponto final, para a determinação da alcalinidade Pf é tomado quando o potenciômetro
registrar o valor de pH 8,3;
para o valor de Mf quando registrar 4,3 para o pH.

(3) Cloretos ou Salinidade de Fluidos à Base de Água

Titulação com solução de nitrato de prata e cromato de potássio como indicador.

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Exercícios Propostos

01. Mostre que a pressão hidrostática para um fluido qualquer pode ser determinada pela
equação:

Ph = 0,052.ρ.h

quando a pressão hidrostática, Ph, é dada em psi, a massa específica, ρ, em Ibm/gal e a


altura da coluna de fluido, h, em pés.

02. Uma formação (arenito) a 1.715 m de profundidade foi testada e apresentou uma
pressão de poros de 3.550 psi. O fluido que se encontra no poço exerce um diferencial de
pressão de 350 psi sobre a formação. Determine o gradiente de pressão, em psi/pé e a
massa específica do fluido, em Ibm/gal.

Resposta: 0,69 psi/pé e 13,3 Ibm/gal

03. Um arenito produtor a 1.620 m de profundidade, cuja pressão estática do


reservatório esperada é de 2.500 psi será perfurado. Determine a massa específica
mínima do fluido em Ibm/gal, considerando um diferencial de pressão máximo de 300 psi.

Resposta: 10,13 Ibm/gal

04. Um poço de petróleo apresenta dois horizontes produtores com espessuras


pequenas, desprezíveis e com o mesmo gradiente de pressão. O fluido que está no poço
confere um diferencial da pressão de 150 psi em um horizonte e 200 psi no outro. A
distância vertical entre os dois horizontes é 330 m. O gradiente de pressão do fluido é
10% maior do que o dos horizontes. Determine:
a) a profundidade de cada horizonte, em m;
b) o gradiente de pressão de cada horizonte em psi/m;
c) a massa específica de fluido, em Ibm/gal.

Resposta: a) 990 e 1.320 m; b) 1,515 psi/m; e c) 9,79 Ibm/gal.

05. Um fluido de perfuração foi preparado com a seguinte composição média.


Aditivo Concentração, Ibm/bbl Densidade
Água do mar QSP 1,027
Bentonita 30 2,6
Soda cáustica 0,25 2,15
Determine a quantidade de cada aditivo a ser adicionada para preparar 100 bbl deste
fluido. Determine também a massa específica resultante, em Ibm/gal.

Resposta: 60 sc de 50 Ib de bentonita; 1 sc de 25 Ib de NaOH e 9,0 Ibm/gal

06. Um tanque com capacidade de 250 bbl está cheio com um fluido de perfuração de
densidade 1,44. Deseja-se aumentar a massa específica deste fluido para 14,0 Ibm/gal,
com adição de baritina (d=4,20) e só se dispõe deste tanque. Determine o volume de
fluido (bbl) a ser descartado.

Resposta: 21,0 bbl

108
07. Deseja-se aumentar de 100 para 150 psi o diferencial de pressão atuante sobre uma
formação a 1.000 m de profundidade. Calcule a quantidade de baritina (d=4,20)
necessária para elevar a massa específica de todo o volume de fluido (2000 bbl).

Resposta: 307 sacos de 50 kg

08. Determine a massa específica de um fluido, em Ibm/gal, obtido pela adição de 30 Ibm
de bentonita (d=2,60) e 200 Ibm de baritina (d=4,25) a 1,0 bbl de água.

Resposta: 11,8 Ibm/gal

09. Um teste de retorta de um fluido com 11,4 Ibm/gal de densidade registrou um teor de
sólidos de 16,2%, em volume. Considerando o fluido à base de água doce:
a) Estime a percentagem, em volume, de sólidos leves e pesados, equivalentes a
bentonita (d= 2,60) e baritina (d = 4,25);
b) Estime a percentagem em peso;
c) Estime a concentração em Ibm/bbl.

Resposta: a) 9,4 e 6,8% v/v; b) 17,9 e 20,9% p/p; c) 85,5 e 100,0 Ibm/bbl.

10. Determine a massa específica (lbm/gal) de uma emulsão inversa, sabendo-se que a
razão óleo/água é 75/25 em volume.
Obs.: Despreze o efeito dos tensoativos sobre o volume de emulsão.
Dados:
Densidade da fase aquosa: 1,117
Densidade da fase oleosa: 0,740

Resposta: 6,95 Ibm/gal

11. Durante um teste de filtração API-BTBP, obteve-se um volume de filtrado acumulado


de 4,1 cm3 no 5° minuto de filtração. Determine o valor aproximado do filtrado acumulado
API (para 30 min).
Resposta: 10,0 cm3

12. Em um teste padronizado API-BTBP de filtração estática foram obtidos os seguintes


resultados:
* volume de filtrado acumulado, cc 4,2 10,0
* tempo, min 4,0 30,0
a) Qual a “perda de água" inicial da filtração estática?; b) Qual a equação da filtração
estática?; c) Qual o volume de filtrado que se acumula no tempo de 1 hora?
Obs.: Resolva o problema analítica e graficamente.
Resposta: a)Qo = 0,9 cm3 b)Qf = 0,9 + 1,7√t ; c) Q60 = 16,3 cm3 (solução aprox.) e Q60 =
13,8 cm3 (solução exata)

13. (a) Deduzir uma expressão para a espessura do reboco (ε) formado durante filtração
estática axial, em função de: Φ - porosidade do reboco, em um instante t; v - % vol de
sólidos no fluido; Qf - volume de filtrado total acumulado em um intervalo de tempo ∆t; A –
área exposta à filtração

109
(b) Empregue a expressão obtida no item (a) e determine a espessura de um
reboco cuja porosidade é de 40%, o volume de filtrado API acumulado foi de 12 cm3 e o
fluido testado possui 8% de sólidos em volume

Resposta: b) ε = 0,4 mm

14. Representar em coordenadas cartesianas a variação do filtrado acumulado em


função da raiz quadrada do tempo, para os seguintes valores obtidos em um ensaio de
filtração estática API-BTBP.
Tempo, min 2 4 6 9 12 16 25
Vol de filtração acumulado, cm3 2,6 3,9 4,5 6,0 6,8 7,8 10,2

a) Estabeleça a equação de filtração estática para o fluido testado; b) determine o volume


de “filtrado inicial"; c) determine o filtrado API-BTBP; d) determine o filtrado API-BTBP
corrigido.

Resposta: a) Qf =2,0 √t-0,2; b) Qo = -0,2cm3; c) QAPI=11,0cm3; d) Q'API=11,2cm3

15. Determinar a permeabilidade de um reboco para as seguintes condições de teste de


filtração estática:
* diferencial de pressão (∆P) = 100 psi
* área transversal da célula (A) = 7 pol2
* temperatura (T) = 28 oC
o
* viscosidade do filtrado a 28 C (µ) = 1 cp
Os parâmetros determinados após o teste foram:
* volume acumulado de filtrado API (Qf) = 15,0 cc
* espessura do reboco (ε) = 2,5 mm

Resposta: K = 3,38 x 10-3 mD

16. Em um teste de filtração padronizado, segundo as especificações API – BTBP com


∆P = 100 psi e temperatura 78°F (ambiente), foram re gistrados os seguintes resultados:
t ~ tempo (seg) Qf = vol. de filtrado acumulado (cc)
3,5 3,0
6,0 3,5
12,0 4,0
18,0 4,5
46,0 5,5
65,0 6,0
92,0 6,5
125,0 7,0
206,0 8,0
317,0 9,0
436,0 10,0
737,0 12,0
932,0 13,0
1150,0 14,0
1392,0 15,0
1668,0 16,0
1800,0 16,5

110
Determinar por procedimento gráfico:
a) A perda de líquido (filtrado) no período inicial, antes de iniciar a formação do reboco,
em cm3 (Qs - Surge Loss).
- Sugestão: plotar t/Qf vs Qf; quando t/Qf -> O ; então Qf -> Qs

b) A perda de líquido (filtrado) no período inicial do processo de filtração a pressão


constante, em cm3 (Qo - Spurt Loss).
- Sugestão: plotar Qf vs t ; quando t -> O ; então Qf -> Qo

c) A perda de líquidos (filtrado) no período inicial de transição (desde os primeiros


depósitos de sólidos sobre o papel de filtrado até a uniformização do reboco), em cm3 (QT
- Excess Loss); *Observar que: Qo = Qs + QT

d) O filtrado API (QAPI), em cm3, e o filtrado API corrigido (Q'API), em cm3;

e) As equações de filtração estática a pressão constante, supondo:


1) Qf=f(√t); 2) t/Qf = f(Qf)

Respostas: a) Qs (Surge Loss) = 2,2 cc; b) Qo (Spurt Loss) = 3,5 cc; c) QT (Transition
Loss) = Qo - Qs = 3,5 - 2,2 = 1,3 cc; d) QAPI = 16,5 cc, Q'API = QAPI - Qo = 13,0 cc; e) 1º.
método: Qf = 0,3 √t + 3,5; 2º. método: t/Qf = 10 Qf - 57,5.

17. Foram tomadas duas amostras de dois fluidos para completação, no filtro-prensa
API-BTBP, cuja capacidade volumétrica é de 400 cc, aproximadamente.
Uma das amostras (A) continha calcita 325-mesh U.S. com uma concentração de 50
Ib/bbl de fluido base e resultou em um filtrado API de 6,5 cc. Enquanto isso, a amostra (B)
contendo calcita 40 mesh U.S. com uma concentração de 30 Ib/bbl de fluido base resultou
em um filtrado API de 8,2 cc.

a) Determine o poder de retenção de cada um dos sistemas; R = Vol. Fase liq./Vol. Filt.

b) Compare os resultados do item A e conclua sobre a eficiência de cada um em reter a


fase dispersante.
Dados: Densidade de água: 1,00; Densidade do fluido base: 1,175; Densidade da calcita:
2,700

Respostas: a) RA = 58,5 cm3/cm3 em 30 min; RB = 47,3 cm3/cm3 em 30 min

b) Do enunciado do problema e dos resultados obtidos dos dois sistemas


concluímos que sólidos de menor granulometria possibilitam uma maior retenção
de fase líquida do que sólidos de maior granulometria, ou seja, a calcita 325 mesh
U.S. tem maior poder de retenção.

18. Em um teste de filtração estática usando um fluido de completação com sólidos


(ácido benzóico) foram registrados os valores abaixo. Determinar:
a) O coeficiente de filtração; b) O filtrado inicial; c) O filtrado API e API corrigido
Vol de Filtrado Acumulado, cm3 Tempo, min
3,5 1

111
3,9 2
4,5 4
5,0 6
5,3 8
5,7 10

19. Em um teste de filtração, segundo a padronização API-BTBP, obteve-se o resultado:


Tempo, min 1 4 16 25
Filtrado acumulado, cc 3,1 4,9 8,4 10,2
Determine: a) o volume do filtrado inicial (Spurt Loss) e a equação da filtração estática
para o fluido em questão, b) o volume real do filtrado API e o filtrado API corrigido, c) o
volume do filtrado API quando se usa o método aproximado dos dois pontos, admitindo-se
o tempo de 7,5 min como ponto de referência. Qual o valor do erro cometido?

Resposta: a) Qf = 1,8.(t)1/2 + 1,3; b) 11,2 e 9,9 ml; c) 12,4 ml e 11 %

20. Os valores a seguir representam o volume acumulado de filtrado, durante 25 minutos,


em um teste de filtração com a finalidade de avaliar a eficiência de dois controladores de
filtrado.
Controlador A...............................8,7 ml
Controlador B...............................9,1 ml
Considerando que a aproximação do filtrado inicial como sendo o volume acumulado no
tempo de 5 segundos, implique em um erro de 10%, calcular para cada sistema:
a) A equação de filtração estática; b) Os valores do filtrado API e filtrado API corrigido; c)
Qual o controlador do filtrado mais eficiente?

Resposta: QA = 1,64.(t)1/2 + 0,52 e QB = 1,71.(t)1/2 + 0,55

21. Um fluido de perfuração apresentou a seguinte equação de filtração estática: Qf = 2,8


√t + 2,0
a) Qual é a equação da taxa de filtração (vazão)?
b) Mostre que a partir do 16° minuto até o 30° a ta xa de filtração (vazão de filtrado) fica
praticamente constante, se considerarmos uma precisão experimental da ordem de 0,05
cm3. Qual a taxa de filtração neste intervalo, com essa precisão?

Resposta: a) q = 1,4√(t); 0,30 ± 0,05 cm3/min

22. Em um teste de filtração padronizado API foram registrados os seguintes resultados:


tempo, min 3 12
Vol. de filtrado, cc 4 8

a) Qual o valor dos "spurt loss" (filtrado inicial), em cm3; b) Qual o coeficiente de filtração,
em cm3/(min1/2 .pol2); c) Qual o valor do filtrado API real, em cm3?; d) Qual o valor do
filtrado API aproximado, quando se usa o método aproximado dos dois pontos, admitindo-
se 7,5 min como ponto de referência? Qual o erro cometido?

Resposta: a) 0,0; b) 0,33; c) 12,7 ml; d) 12,7 ml e 0,0%

23. Dois sistemas foram testados em um filtro prensa API-BTBP, para avaliação da
capacidade de retenção.

112
Sistema A:
30 lb/bbl de calcita (d=2,77)
tempo de filtração = 20 min
volume de filtrado acumulado = 8,0 ml
filtrado inicial = 2,77 ml

Sistema B:
66 lb/bbl de bentonita (d=2,38)
tempo de filtração = 25 min
volume de filtrado acumulado = 7,6 ml
filtrado inicial = 1,09 ml

a) Calcular para cada sistema: o poder de retenção;


b) O valor do filtrado API e API corrigido;
c) Qual o sistema mais eficiente em relação ao controle de filtrado.

Resposta: a) RA = 53 e RB = 45; b) A: 9,2 e 6,4 ml, B: 8,2 e 7,2 ml; c) sistema A

24. Um fluido de perfuração apresentou filtrado acumulado de acordo com a equação: Q =


3,5 √t + 1,5
Onde Q é o filtrado acumulado, em ml e t é o tempo, em min.
Deseja-se uma redução de 6 ml no filtrado acumulado a 30 min. Dispõe-se de dois
produtos no mercado, cujas eficiências podem ser expressas por:

Produto A: ∆Q/Q= CA/1,5 – 2,0


Produto B: ∆Q/Q= CB/2,5 – 1,5

Onde CA e CB são as concentrações dos produtos A e B no fluido testado, em g/l. Os


preços dos produtos são: A- 50,0/kg; B - 33,0/kg
Pergunta-se: Qual o melhor produto, do ponto de vista de custo, exclusivamente?

Resposta: Custo de A = 0,174/l e custo de B = 0,150/l

25. O filtrado acumulado de um fluido (em ml) em função do tempo de filtração (em min.)
é dado por Q = 3,2 √t +1,0. Deseja-se reduzir o filtrado acumulado a 36 min de 5 ml e
dispõe-se de 2 produtos no mercado: "A" e “B", cujas eficiências podem ser estimadas
por:

Produto A: ∆Q/Q= C/1,3 – 1,8


Produto B: ∆Q/Q= C/2,0 – 1,4

Onde C é a concentração do produto em "g/l".


Os produtos custam: Prodmo "A": 60,00/kg; Produto "B": 40,00/kg
Do ponto de vista de custo, qual é o melhor produto?

Resposta: CA = 2,66 g/l e CB = 3,30 g/l; CustoA = 0,16/l e CustoB = 0,13/l

26. Um fluido testado em filtro prensa API-BTBP apresentou uma vazão de filtrado, "q",
em função do tempo, “t", conforme a seguinte expressão:

113
q = 1,14/√t
Onde "q" está expressa em cm3/s e o tempo em segundos. Sabendo-se que o volume
inicial de filtrado foi de 1,5 cm3, determinar a equação de filtração estática e o volume de
filtrado API corrigido.

27. Um fluido de perfuração apresentou os seguintes resultados de vazão em relação ao


tempo:
tempo (t) min 4,0 9,0 16,0 25,0
vazão (q) cm3/s 0,0160 0,0100 0,0068 0,0061
Determine a equação da filtração e o filtrado API considerando o filtrado inicial
praticamente igual a zero.

Resposta: Qf = 3,6 (t)1/2; QAPI = 19,7 cm3

28. Em um teste de filtração, segundo padronização API, obtiveram-se os seguintes


resultados:

Tempo, min 1,0 4,0 16,0 20,0


3
Filtrado acumulado, cm 3,5 5,0 8,0 8,7
Determine: (a) o volume de filtrado inicial e a equação de filtração; (b) o volume real e
corrigido do filtrado API; (c) o volume de filtrado API, quando se emprega o método
aproximado dos dois pontos, admitindo-se o tempo de 7,5 min como ponto de referência.
E o valor do erro.

Resposta: (a) Qf = 1,5 (t)1/2 + 2,0; (b) 10,1 e 8,2 cm3 (c) 12,2 cm3 e 20,0%.

29. Preparou-se em laboratório uma suspensão com 6% em peso de argila (bentonita)


em água:
a) Qual o percentual volumétrico da argila na mistura?
b) Qual a provável densidade da mistura e sua massa específica em Ib/gal?
c) Qual a concentração de argila na mistura, em Ib/bbl?
d) Qual a massa de baritina, em gramas, a ser adicionada por litro da mistura para elevar
sua massa específica para 9,0 Ib/gal?

30. Um fluido de perfuração à base de água doce foi preparado com 50g de bentonita por
kg de fluido.
a) Qual o teor de sólidos em peso e em volume desse fluido?
b) Qual o teor de líquidos em peso e em volume desse fluido?
c) Qual a concentração de argila em Ib/bbl?

31. Um fluido de perfuração foi preparado no laboratório com a seguinte composição:


Água doce 800 cc
Óleo 450 cc
Bentonita 40 g
Baritina 120 g
Determine:
a) Qual o teor volumétrico de sólidos, água e óleo na amostra?
b) Qual a massa específica da amostra, em Ib/gal?

114
32. 100 bbl de um fluido de perfuração à base de água foi preparado no campo
utilizando-se os seguintes aditivos e quantidades:
Água doce QSP
Bentonita 36 sc de 25 kg
Soda cáustica 1 sc de 50 kg
Óleo 1272 litros
Baritina 45 SC de 50 kg
Determinar:
a) O teor de sólidos, em peso e em volume, desse fluido;
b) O teor de líquido (de água e de óleo) em volume;
c) As concentrações de cada aditivo: em Ib/bbl quando sólidos e em % volume quando
líquidos.

33. Mistura-se 40g de argila em 600 ml de água do mar obtendo-se uma amostra de
fluido.
a) Qual o teor de líquidos, em peso e volume, supondo:
a.1) O sal da água do mar como fase líquida;
a.2) O sal da água do mar como fase sólida.

34. Uma amostra contém 50g de argila (bentonita) e 60g de baritina por litro de fluido
preparado com água doce. Determine:
a) A massa específica do fluido (densidade absoluta) em g/cm3 e Ibm/gal;
b) A densidade relativa do fluido (Specific gravity);
c) O peso específico do fluido (Specific weight) em gf/cm3 e Ibf/gal.

35. Um fluido de densidade 1,2 g/cm3 está sendo utilizado em um poço. À profundidade
de 1.500 m encontra-se uma formação porosa — permeável, portadora de
hidrocarbonetos, com um gradiente de pressão de 0,47 psi/pé.
Determine:
a) O gradiente de pressão do fluido em psi/pé;
b) O diferencial de pressão a 1.500m, em psi;

Qual deveria ser a massa específica do fluido, em Ib/gal, para que, em condições
estáticas o diferencial de pressão fosse nulo?

36. Uma amostra de fluido (base água doce), de densidade 1,68 g/cm3 testado na
retorta, apresentou o seguinte resultado:
Água 65% vol
Óleo 5% vol
Sólidos 30% vol
Calcule a densidade média dos sólidos contidos no fluido.

37. Deseja-se reduzir a massa específica de um fluido de perfuração de 10,5 Ib/gal para
10,0 Ib/gal. Qual o volume de água de diluição a ser utilizado por 100 bbl de fluido:
I - sem alterar o volume do sistema
II - alterando o volume do sistema

38. Em um teste de retorta, um fluido de perfuração à base de óleo apresentou o seguinte


resultado:
% óleo - 52% em vol

115
% água -24,5% em vol
% sólidos - 23,5% em vol

Considerando que o fluido de perfuração em questão foi preparado com água saturada
em NaCl, determine a razão óleo/água deste fluido.

39. Defina o que você entende por 'fluido tixotrópico"- Cite exemplo. Quais as
propriedades que podem ser usadas para quantificar este fenômeno nos fluidos de
perfuração?

40. Conceitue “fluido inibido”. Cite um exemplo e aplicação.

41. Dê um significado para cada uma das propriedades químicas simbolizadas abaixo.
pH
Pm
Pf
Mf

41. Assinale o tipo de fluido mais adequado à perfuração de formações superficiais de


arenito inconsolidado durante a Fase I, isto é, até a descida do revestimento de superfície.
( ) Fluido de Perf. à de base óleo - emulsão inversa
( ) FIuido de Perf. à base de água inibido com cal
( ) Fluido de Perf à base de óleo - emulsão verdadeira
( ) Fluido de Perf à base de água floculado com NaOH
( ) Fluido de Perf à base de água salgada saturada
( ) Fluido de Perf. à base de água inibido com KCl
Justifique.

42. Coloque a relação dos fluidos abaixo em ordem decrescente de grau de inibição
quanto à hidratação e expansão de formações argilosas.
a) Fluido à base de água com KCl
b) Fluido à base de água com KCl/Polímero
c) Fluido à base de óleo - emulsão inversa
d) Fluido à base de água doce - emulsionado com óleo
e) Fluido com baixo teor de sólidos - do tipo água/polímero

43. Assinale com um ou mais "x" os tipos de sedimentos, dentre os relacionados a seguir,
que necessitam de um controle mais rigoroso do "Filtrado" cedido pelo fluido de
perfuração base água. Justifique.
( ) Folhelho litificado (duro)
( ) Arenito produtor
( ) Calcáreo
( ) Basalto
( ) Arenito bem cimentado, não produtor
( ) Folhelho argiloso, hidratável
( ) Folhelho fraturado, pouco hidratável
( ) Evaporito (sal)
( ) Anidrita

116
44. Cite quatro motivos que justifiquem o controle da "massa específica" dos fluidos de
perfuração. E número igual de motivos que justifiquem o controle (ou redução) de
“filtrado”.

45. A litologia prevista para a Fase II de um poço, que se inicia a 600 metros de
profundidade é a seguinte:
Espessura da Formação, m Cota,m
Folhelho argiloso (280m) -880
Arenito portador de água (56m) -936
Argilito (130m) -1066
Anidrita (Ca SO4) (5m) -1071
Halita (Na Cl) (230m) -1301
Folhelho litificado (duro) (350m) -1651
Arenito portador de óleo (36m) -1687
Folhelho (120m) -1807
Arenito (40m) -1847
Sabe-se ainda que o arenito portador de óleo tem gradiente de pressão de poros iguais a
0,496 psi/pé.

Considerando estas informações, sugira um tipo de fluido adequado para perfurar tal fase.
Justifique. Cite os componentes básicos desse fluido e indique a função principal de cada
componente.

46. Assinale F ao lado da afirmativa falsa e V ao lado da verdadeira:

( ) O decréscimo na taxa de penetração com o aumento do diferencial de pressão (PH -Pp)


é função do tipo da rocha perfurada. Quanto maior a força de coesão dos grãos da rocha,
maior é este decréscimo.

( ) O acréscimo da viscosidade efetiva aumenta a taxa de penetração sempre que o fluido


apresentar características autoafinantes (shear-thinning).

( ) Um aumento do coeficiente angular da filtração estática (Qf = a√t + Qo), induz um


acréscimo na taxa de penetração.

( ) A incorporação de sólidos ativos ao fluido de perfuração reduz a taxa de penetração


devido, principalmente, ao aumento da viscosidade efetiva.

( ) O aumento do teor de óleo, acima de valores da ordem de 15% vol, diminui a taxa de
penetração porque provoca um decréscimo elevado na densidade do fluido.

47. Dentre as propriedades abaixo, relativas ao fluido de perfuração, assinale aquela que
mais reduz a taxa de penetração. Comente e justifique sua resposta.
(A) Salinidade
(B) Massa específica
(C) Filtrado
(D) Alcalinidade
(E)Teor de sólidos
(F) Teor de óleo

117
48. Faça uma associação das colunas da esquerda e da direita, visando classificar os
sólidos normalmente encontrados nos fluidos de perfuração.
(A) sólido leve ( ) densidade superior a 2,7
(B) silte ( ) tamanho inferior a 2 µ
(C) sólido pesado ( ) tamanho entre 2 – 74 µ
(D) areia ( ) tamanho entre 74 – 500 µ
(E) sólido ativo ( ) tamanho superior a 500 µ
(F) cascalho ( ) densidade inferior a 2,7
(G) sólido inerte ( ) bentonita
(H) sólido coloidal ( ) barita
( ) folhelho

49. Correlacione o equipamento extrator de sólido com a sua finalidade básica.


(A) peneira vibratória com tela 30x30 mesh
(B) conjunto de hidrociclone de 1"
(C) conjunto de hidrociclone de 4"
(D) associação hidrociclones de 4" com telas de 200 mesh
(E) depurador centrífugo

( ) eliminação de sólidos na faixa de74 a ± 500 µ


( ) eliminação ou recuperação de sólidos coloidais
( ) eliminação de silte e recuperação de baritina
( ) eliminação de sólidos superiores a ± 500 µ
( ) eliminação de sólidos na faixa de 2 a 74 µ

50. Deseja-se aumentar de 100 para 150 psi o diferencial de pressão atuando sobre uma
formação a 1.000 m de profundidade. Calcule a quantidade de baritina necessária para
elevar a massa específica de todo o fluido existente na sonda, isto é 2000 bbl.
Nota: Todos tanques da sonda estão cheios de fluidos e não há tanque de reserva.
Dados:
Gradiente estático de formação : 0,51 psi/pé
Densidade de baritina : 4,2

51. Um poço de petróleo apresenta dois horizontes produtores, com espessuras


pequenas (desprezíveis) e com o mesmo gradiente de pressão. O fluido que está no poço
confere um diferencial de pressão de 150 psi em um dos horizontes e 200 psi no outro. A
distância vertical entre os dois horizontes é de 330m. O gradiente de pressão do fluido é
10% maior que o dos horizontes. Determine:
a) A profundidade de cada horizonte, em metros;
b) O gradiente de pressão dos fluidos contidos em cada horizonte, em psi/m;
c) A massa específica do fluido, em Ib/gal.

52. Ao se perfurar a fase I de um poço com um fluido inicial (Spud mud), de densidade
9,0 Ib/gal, ocorreu uma perda de circulação em formação arenosa na profundidade de 650
m. Verificou-se que o nível estático do fluido estava 50 m abaixo da mesa rotativa.
Pergunta-se:
a) Qual a pressão estática dessa formação e qual o gradiente equivalente em psi/pé?
b) É possível perfurar sem perda de circulação com fluidos à base de água? Caso
positivo, determine a massa específica do fluido acima da qual ocorre perda, sob
condições estáticas;

118
Determine o fator de diluição, em bbl/bbl do fluido, caso responda afirmativamente ao item
b.

53. Um fluido de perfuração de baixa densidade, usado no campo, é composto dos


seguintes aditivos:
Concentração Densidade
Água doce QSP 1,00
Polímero (CMC) 2,0 lb/bbl 1,50
Soda cáustica 0,5 lb/bbl 2,13
Surfactante (tensoativo) 1,5% vol 0,98
Óleo 20,0% vol 0,85

Deseja-se fazer um teste piloto no laboratório com o citado fluido, sem alterar sua
composição. Qual a quantidade, em gramas ou mililitros, a ser usada de cada
componente para preparar 1.000 ml do fluido? Qual a massa específica, em Ib/gal, desse
fluido?

54. Na tentativa de se formular um fluido "mais leve" do que a água, com massa
específica igual a 7,90, utilizando a água do mar para o preparo, optou-se pela seguinte
composição básica:

Água do mar QSP 1,03


Polímero (CMC) 1 Ib/bbl 1,50
Emulsificante 2%vol 0,94
Óleo ? 0,82

a) Classifique este fluido e defina as funções de cada componente;


b) Determine qual a percentagem volumétrica de óleo necessária para atender tal
formulação.

55. 1.000 ml de um fluido de perfuração foi preparado no laboratório com a seguinte


composição básica:

Água doce: QSP


n-parafina: 60 ml
Bentonita: 52 g
Baritina: 147 g

Pergunta-se:
a) Qual o teor de água, óleo e sólidos, em peso e em volume?
b) Qual a concentração (em Ib/bbl) de bentonita e baritina no fluido?
c) Qual a massa específica, em Ib/gal, do fluido formulado?

56. Coloque ao lado de cada produto químico (ou componente), empregados usualmente
no fluido de perfuração de base óleo a função principal. Quando cabível, sugira uma
função secundária.

Produto Função Principal Função Secundária

Ácidos Graxos _____________________ ______________________

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Argila Organofílica _____________________ ______________________
Cal Viva _____________________ ______________________
Cloreto de Sódio _____________________ ______________________
Derivados Amínicos _____________________ ______________________
Água _____________________ ______________________
Lignito Amínico _____________________ ______________________
CompostosSulfonatados_____________________ ______________________
Baritina _______________________ ______________________

57. Cite 5 aplicações mais comuns dos Fluidos à Base de Óleo.

58. Cite três vantagens e três desvantagens dos fluidos à base de óleo com relação aos
fluidos à base de água.

59. Cite duas propriedades específicas dos fluidos à base de óleo.

60. Um fluido de perfuração à base de óleo apresentou o seguinte resultado de retorta:


Óleo - 50% vol
Água - 25% vol
Sólidos - 25% vol

As percentagens anteriores já se encontram corrigidas. O valor da razão óleo/água (ROA)


a ser mantida é 70/30.
a) Qual a razão O/A do fluido em circulação?
b) Qual o componente que se deve adicionar ao sistema para obter a razão O/A
desejada?
c) Qual a quantidade do componente a adicionar, em bbl/100 bbl de fluido?

61. Um fluido de perfuração tipo emulsão-inversa foi submetido a um teste de retorta,


obtendo-se os seguintes resultados:
% sólidos = 9%vol
% óleo = 61%vol
% água = 30% vol

Sabe-se que a fase aquosa continha 180.000 ppm de NaCl. Determinar a razão O/A do
fluido em questão.

62. Determine a massa específica, em Ib/gal, de uma emulsão inversa, sabendo-se que a
razão óleo/água é 75/25, em volume.
Obs.: Despreze o efeito dos tensoativos sobre a massa e o volume desse fluido. Foi
usada água salgada saturada com NaCl para o preparo desse fluido.

63. Um fluido de perfuração à base de óleo, após um teste piloto, apresentou os


seguintes resultados:
- Teste de retorta:
teor de água - 23% vol
teor de óleo - 54% vol
- Massa específica: 11,0 Ib/gal
- Viscosidade Marsh: 128 seg/1000 cc

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- Estabilidade elétrica 360 volts
- Filtrado API - ATAP 9,8 cc/30 min
- Salinidade da fase aquosa: 220.000 ppm/NaCl

(a) Determine qual a fase que deve ser adicionada para manter a razão óleo/água (ROA)
em 60/40. E quanto desta fase deve ser adicionada por 100 bbl de fluido.
(b) Determine as quantidades de fase óleo e fase aquosa a serem adicionadas no sistema
gerado no item A (ROA = 60/40) em bbl/100 bbl, para reduzir a densidade do fluido para
10,5 Ib/gal, sem alterar a sua ROA. (Densidade da fase óleo = 0,82).

64. Determinar a razão óleo-água de um fluido de base óleo, sabendo-se que as leituras
na proveta da retorta forneceu o seguinte resultado: volume de água = 3,6 cm3 e volume
de óleo = 5,0 cm3 . A salinidade da fase aquosa registrada foi de 260.000 ppm de NaCl.

65. Em um sistema de 100 bbl de fluido de base óleo, a razão óleo-água a ser mantida é
de 70/30. Definir a fase a ser adicionada e determinar a sua quantidade. Os percentuais já
corrigidos do teste de retorta resultaram: fase óleo = 50% e fase aquosa = 25%.

66. Determinar as quantidades dos componentes básicos para preparar 1.000 bbl de um
sistema de base óleo com atividade química de 0,800 controlada com NaCl. O sistema
deve ter razão óleo-água de 75/25, massa específica de 9,7 Ib/gal e será usado em um
poço com temperatura máxima inferior a 300°F. Espec ificar as quantidades das fases e
de cada componente nas unidades usuais de campo e ordená-los conforme a seqüência
de adição.

67. Um fluido de perfuração à base de óleo apresentou o seguinte resultado de Retorta:


%óleo : 50%
%água : 25%
% sólidos : 25%

As percentagens em volume acima já se encontram corrigidas. O valor da razão O/A a ser


mantido é 70/30.
Pergunta-se:
a) Qual o componente que se deve adicionar ao sistema para o valor de O/A desejado?
b) Qual a quantidade do componente a adicionar em bbl/100 bbl?

121
Dados Gerais

I - Densidade:

- da água doce 1,00


- da n- parafina - 0,74
- do óleo - 0,82
- da água do mar -1,03
- da bentonita - 2,60
-da baritina - 4,25
- da soda cáustica - 2,13
- do cloreto de sódio (NaCl) – 2,16
- de polímeros - 1,50

II - Fatores de conversão:

1 g/cm3 – 8,34 lb/gal - 62,4 Ib/pé3 - 350 Ib/bbl


1 bbl - 42gal -159 l
1 kg - 2,205 lb
1 m - 3,281 pé
1 kg/cm2 -14,22 psi

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