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Antes da chegada do século XX, o Brasil se dividia entre Norte e Sul, não
esboçando ainda o que viria ser, a invenção da região a priori chamada Nordeste. O
antagonismo entre a divisão do trabalho dessas regiões se deu subjugando a decadência
das “Províncias do Norte” em relação a ascensão dos estados do Sul, pelo êxito cafeeiro
entre fins da monarquia e o começo da republica, estimulando para região setentrional
atividades econômicas voltadas ao ruralismo (NEVES, 2012, p.6-24).
Esse panorama geral sobre os diferentes tipos de cangaço permite que tenhamos
uma noção introdutória do que venha a ser o fenômeno em questão, apontando algumas
das suas características principais. É importante reforçar que o cangaço não foi uma
“resposta a violência dos coronéis” mas sim um fenômeno alicerçado em uma sociedade
que tem a violência amalgama ao seu sistema coletivo, consistindo em uma expressão
particular do nordeste brasileiro, o que não significa dizer que não houveram conflitos
latifundiários onde senhores de terra e pobres sertanejos eram opositores. Esses
confrontos surgem ainda nos primeiros séculos de colonização portuguesa, onde o
sedentarismo da monocultura de cana de açúcar, dá espaço ao nomadismo do ciclo do
gado. (MELLO, 2004, p. 32-33).
A partilha do território brasileiro no século XVI por D. João III e o seu plano de
colonização do Brasil, buscava direcionar uma organização feudal(?) ainda existente no
reino lusitano, todavia, de forma adaptada ao novo domínio. Os recebedores dessas terras
foram os donatários, que ainda seriam dotados de soberania civil e criminal (ALVES,
2003, p.3). Não demorou muito para que começassem os conflitos pela instalação do
homem e sua apropriação de terras. A respeito disso, Joaquim Alves (2003) informa que,
gozando de privilégios da corte, 4 donatários - João de Barros, Fernand’ Álvares, Ayres
da Cunha e Antonio Cardoso de Barros - receberam duzentas e sessenta e cinco léguas de
terra, cuja ocupação dos espaços não fora de início bem sucedida, somente apresentando
adensamento demográfico após a chegada de grupos secundários (Idem, 2003, p. 3-4).
Dentro das duzentas e sessenta e cinco léguas mencionadas anteriormente, estava a região
semiárida do Nordeste e o seu polígono das secas, castigado por longas e oscilantes
estiagens que impediam a estabilidade dos sertanistas, havendo ainda a presença de
grupos indígenas, a dificuldade com o transporte (MELLO, 2004, p.47), entre outros
fatores que retardavam ainda mais o povoamento da área, o que resultou em um afluxo
pequeno de portugueses do reino no Nordeste seco (Idem, 2003, p. 4).
Pode-se dizer que o primeiro bandido que fora associado ao cangaço atuou durante
a segunda metade do século XVIII. Trata-se de José Gomes, conhecido popularmente
pela alcunha de Cabeleira e eternizado pelo escritor cearense Franklin da Távora. José
Gomes teria entrado para o cangaço devido os maus ensinamentos do seu pai, Joaquim
Gomes, que também fazia parte do seu bando. Ambos ficaram bastante conhecidos em
Pernambuco pela prática de crimes nas redondezas da capitania, sendo pai e filho
enforcados em 1776 na praça das cinco pontas, em Recife (TÁVORA, 1876); (SOUZA,
2007); (MENEZES, 2012); (BANDEIRA, 2015). Chama ainda atenção que alguns dos
epítetos de personagens cangaceiros na narrativa de Távora, foram posteriormente
utilizados por integrantes do bando de Lampião e Antônio Silvino, como: Jararaca,
Corisco e Labareda. (DANTAS, 2012, p. 17), poderiam ter sido outros bandidos
históricos notados pelo autor? Pericás (2010) comenta que era comum o hábito entre
cangaceiros de aderirem o nome de bandidos antecessores como uma forma de os
lembrar. Isso justificaria a repetição de alcunhas como Alma de gato, Gato, Azulão,
Fiapo, Jiboião, entre tantos outros (BANDEIRA, 2015).
No início Manoel Batista, que sempre foi muito caridoso, adotara a postura de
bandido romântico, apresentando o discurso de “roubar para ajudar aos pobres e só matar
em defesa de si”, o que lhe rendia a admiração da comunidade sertaneja, que também via
no cangaço uma forma de fuga das condições de miserabilidade. As constantes estiagens
responsáveis pela destruição das plantações e pela morte do gado na época, afligia a
população nordestina provocando sua retirada da região. Segundo Facó, em 1900 a
situação de flagelo havia feito cerca de 40 mil pessoas migrarem do sertão, principalmente
em direção Amazônia, pela apresentava um desenvolvimento crescente devido a alta da
exploração da borracha (FACÓ, 1983, p. 31); (FURTADO, 2001, apud DINIZ, 2009, p.
234).
Antonio Silvino teria papel importante nessa última modalidade de cangaço, pois
seria um dos precursores dela, já que detinha certa independência dos fazendeiros e
coronéis (OLIVEIRA, 2011, p. 70). Se antes o cangaço tinha uma incidência em
momentos de seca e desestabilidade econômica, a característica marcante nessa terceira
fase, é que as atuações dos cangaceiros já não eram realizadas em prol dos períodos de
seca e pobreza, o banditismo nesse período aconteceria em tempos chuvosos e de
prosperidade (DANTAS, 2012, p.22).
Para o sociólogo Eric Hobsbawn, o processo que origina esse tipo de prática
estaria associado a fatores derivados da marginalização e do afastamento dos deveres e
poderes do Estado. Fator este aliás, que justificaria talvez o próprio fim do movimento,
já que segundo o mesmo: “ [...] a “modernização” priva qualquer banditismo, inclusive o
social, das condições nas quais floresce” (HOBSBAWN, 2009, p. 38). Isso justificaria
alias os ataque de Antônio SilvinioPericás (2010), entra em acordo com Hobsbawn (2009)
ao apontar a modernização como um fator crucial para o fim do cangaço, entretanto o
autor acrescenta que a morte de Lampião na chacina de 1938, contribuiu em muito para
o decaimento da autoestima no banditismo. Isso estaria visível no alto número de
cangaceiros que se renderam à volante após o cerco do Angico. Lampião, figura intitulada
Rei do Cangaço, representava a imagem e os valores do movimento e como não havia
outro para assumir o seu lugar, seu assassinato teria forte papel na extinção dos bandos
cangaceiros (DANTAS, 2012, p. 24).
Pernambucano de Mello,
O cangaço (ou os cangaços) foi assim um dos principais temas do nosso período
histórico, assim como possivelmente, o principal, quando se trata da região Nordeste
(MENEZES, 2010, p. 10), sendo responsável pela publicação de um considerável número
de trabalhos de pesquisa, principalmente nos campos disciplinares da história, literatura
e arqueologia. Dentre essa larga produção, chama atenção um confronto entre cangaceiros
e volantes que persiste, mesmo que sem a utilização de armas brancas ou de fogo. São as
batalhas de memória, embates de representação que se perpetuam até os dias atuais
reafirmando ou modificando percepções acerca desse fenômeno (SÁ, 2008; 2009).
No entanto, essa unificação entre a história e as ciências humanas, parece ter sido
assimilada de maneira mais eficaz na América do Norte. Pedro Paulo Funari aponta a
persistência de um problema de comunicação entre as disciplinas arqueologia e história
na América latina, ao dizer que os historiadores sul americanos prestam pouca atenção as
informações arqueológicas, que por sua vez “parecem falar uma outra língua” (FUNARI,
1998, p. 14-16). Pode-se ainda dizer que o acúmulo mais que suficiente de informações
documentadas sobre grande parte dos temas do passado recente, culmina muitas vezes,
em uma produção historiográfica independente, que não dialoga com os remanescentes
arqueológicos, diferentemente das pesquisas referentes ao período antigo, que
normalmente dependem do auxílio de artefatos, e por esta razão, da arqueologia
(FUNARI, 2014).
Arqueologia documental
Garry Wheeler Stones em seu texto Artefatos não são suficientes (2002), sugere o
uso intensivo e crítico de fontes documentais na resolução de problemas arqueológicos.
Nesse trabalho é apresentado um argumento convincente para o uso complementar de
fontes que abranjam a totalidade de bens materiais de uma dado contexto, e não apenas
os remanescentes arqueológicos passíveis de escavação. Isso se justifica porque ao
utilizar testemunhos escritos somente associados ao registro arqueológico, se limita o
potencial interpretativo dos significados culturais desses vestígios, não alcançando
relevância no tratamento de questões históricas mais profundas (STONES, 2002, p.68).
O argumento de Stones subsidia aliás, a metodologia usada na presente monografia, de
modo que a inventariação da cultura material representada nos romances O cabeleira de
Franklin da Távora e Os cangaceiros: romance de costumes sertanejos, de Carlos D.
Fernandes, apresenta-se como uma alternativa interessante para a proposição de uma
arqueologia do cangaço e das sociedades sertanejas, cujos indícios materiais são escassos
ou de baixa visibilidade (ABREU E SOUZA, 2017).
Arqueologia e Literatura
Diante disso, a literatura aparece como uma importante fonte de pesquisa para o
estudo do fenômeno cangaceiro, inclusive para arqueologia. No entanto, é importante ter
a noção de que a arqueologia e Literatura é um tipo abordagem complementar, possuindo
limitações interpretativas, que a torna de certo modo, dependente de comparações com
dados arqueológicos, provenientes de coleções de acervos públicos e privados e relatórios
de intervenções diretamente no contexto, nesse caso, de sítios sertanejos, efêmeros ou de
transição (ABREU E SOUZA, 2017, p.41) (FERREIRA, 2016, p.297). Assim, a presente
monografia tem como proposição integrar e fomentar o desenvolvimento de projetos de
pesquisas, como: mapeamentos e classificações de acervos, estudo das táticas de
confronto do cangaço, prospecções, análises de registro documental e oral, como proposto
pelo arqueólogo Leandro Domingues Duran (DURAN, 2014, p.2).
Sertanejas e sertanejos: dos hábitos vaqueiros, dos cultos religiosos, das cantigas
populares, da insubmissão dos cangaceiros - e de outros tantos modos de vida que não os
representam em menos, adaptaram seus costumes as possibilidades da paisagem
semiárida, unindo conhecimentos notadamente entre indígenas e africanos (NOVAIS,
1997, p.33); (SILVA et al, 2017, p.3).
Essas populações que habitaram e habitam o espaço dito por Gilberto Freyre “berço da
cultura brasileira” no seu manifesto regionalista (FREYRE, 1926) ou dos traços
genuinamente brasileiros (TÁVORA, 1876, p.4), merecem, assim como outros povos
também marginalizados pelo seu tom europeu esmaecido, ou pela inclinação em se
contrapor a modernidade eurocêntrica como no episódio da revolta dos quebra-quilos na
Paraíba), uma maior visibilidade, já que sobre o chamado sertão nordestino foram fixados
estereótipos desfavoráveis aos seus, pela impossibilidade de narrativas que não fossem
de seca e miséria, e que demonstram como um colonialismo inerente se perpetua em um
discurso arqueológico de perspectiva ocidental (ABREU E SOUZA, 2017, p.59).
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Discutir como a cultura material representada nos livros abordados, atuam na constituição
de uma valoração ideológica sobre o fenômeno cangaceiro.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
I. Analisar a cultura material móvel representada nos romances de modo qualitativo, por
meio da correlação e interpretação dos dados; e quantitativo, com auxílio da confecção
de planilhas e gráficos estatísticos, avaliando o potencial arqueológico dos artefatos
representados;
Desenvolvimento
Dessa forma, esta abordagem foi uma adaptação da presente pesquisa com base
no método de Analyse du contenu de Laurence Bardin (1977), uma forma de
processamento manual de dados textuais, bastante usado nas ciências humanas para
decifrar qualquer “transporte de significação codificado” de um emissor para um receptor
(1977, p.32)
Tratamento
dos
Exploração
Pré análise resultados:
do Material
Inferência e
interpretação
Num segundo momento, passamos a exploração do material, que consiste por sua vez
na leitura intensiva e sistemática das obras, tal como na escolha de unidades de
codificação e classificação do material em formas de registro ou recorte. Para isso, deve-
se estabelecer regras de contagem e enumeração, além da
escolha das categorias de classificação, geralmente classes compostas por elementos
semelhantes do ponto de vista léxico ou sintático.
Por fim, chegamos no tratamento dos resultados, onde acontece a passagem do estado
bruto dos resultados para um estado de significado e validez das informações. São feitas
aqui relações estatísticas simples (ou complexas), representações gráficas e quadros
comparativos, que visam subsidiar possíveis hipóteses e inferências (BARDIN, 1977, p.
96).
O método difundido por Laurence Bardin tem, então, como objetivo, evitar a
generalização de ideias por meio da simples leitura, e consequentemente, enriquecer a
mesma, mediante a amostragem de conteúdos e estruturas que confirmam (ou não) o que
se deseja demonstrar, visando facilitar o surgimento de hipóteses provisórias e inferências
sobre o conteúdo (BARDIN, 1977, p.27).
De maneira prévia, é importante ter clara a noção de que esse tipo de abordagem
semiótica não significa uma formula pronta para se alcançar as estruturas de significação
que constituem o texto, pois mesmo que embasada em uma única concepção de
linguagem, a maioria dos achados interpretativos se referem apenas aos contextos onde
foram identificados (FERRAZ, 2004, p.47).
Indo um pouco além, o que se distingue por ícone pode ser ainda mais atomizado,
dividindo-se em outras três categorias da semiótica peirceana, que nada mais são do que
suas formas de representação. Essas representações são: Imagem, a reprodução mimética
das qualidades do objeto; o diagrama, que expressa uma organização indexal (em índice)
das associações ao objeto; e a metáfora, entendida com o aspecto simbólico da
representação, ou ainda no paralelismo de uma coisa com a outra (FERRAZ, 2004, p.49
apud PEIRCE, 1990, p.64).
Utilizarei como exemplo dessa projeção icônica sobre o verbal a obra abordada,
a qual irei chamar figurativamente de Sítio O Cabeleira (1775-1876), em alusão a
terminação arqueológica sítio e ao período estabelecido entre o contexto da narrativa e a
publicação do romance, entendo suas páginas como os meus níveis artificias, as quais irei
escavar mais à diante. Pois bem:
“[...] Joaquim fez de uma folha de facão velho um punhalzinho e, chamando o filho,
entregou-lhe a nova arma, mediante este discurso: — Sabes para que fim te dou este
ferro, José? [...] Toma o ferro.” (TÁVORA, 1876, p.24).
“No interior da mesma língua, todas as palavras que expressam ideias similares são
mutuamente limitadas: sinônimos como temor e receio, têm seu próprio valor apenas por
sua oposição: se o receio não existisse, todos seu conteúdo iria para os concorrentes (apud
GECKELER, 1976, p.104 apud LEONEL, 2000, 287).
Conta a saga de um dos primeiros cangaceiros de que se tem notícia, José Gomes
(o Cabeleira), bandido da segunda metade do século XVIII. O enredo se passa
predominantemente na capitania de Pernambuco, sob o governo do General João Cesar
de Menezes, concentrando-se entre a zona da mata (litoral) e a porção agreste (ver mapa
I). Uma paisagem de vastas plantações de cana-de-açúcar; engenhocas produtoras de
cachaça e rapadura; senzalas e fazendas espaçadas; brejos isolados; gado solto pelos
pastos sem divisão; rotas de vaqueiros, ambientes desérticos sob o sol escaldante da
caatinga. Ainda assim, isso não quer dizer que essas paisagens sejam geograficamente
reconhecíveis (CHIAPINNI, 1995, p. 153-159). Nesse período, marcado pela terrível seca
de 1776 e a epidemia de varíola que a seguiu, o escritor paraibano relata um tempo onde
os homens eram dominados por suas “paixões canibais” e pela violência, mais pela
ignorância que o cercava, do que pela sua condição natural.
Os tiros que Cabeleira havia ouvido, eram do fazendeiro Liberato, que procurava
vingar a morte de seu irmão Gabriel, assassinado por Cabeleira e seu pai. Liberato havia
reunido um grupo formado por seus filhos e um genro (já que os vizinhos dele haviam se
recusado a fazer parte da ação), e tentava emboscar o bando que se escondia em sua
propriedade. Porém, um dos vizinhos que havia se negado a fazer parte do cerco, relata
os planos do fazendeiro aos bandidos, que fazem então uma cilada para o fazendeiro e
seu grupo, tendo os matado após um longo conflito mais uma vez encerrado pela
selvageria de Joaquim Gomes, que mata Liberato com vários golpes de facão e faca.
Luísa, amedrontada com o antigo amigo, decide carregar o corpo de sua mãe até
a fazenda mais próxima, que por acaso, era a pequena engenhoca de Liberato, onde estava
Rosalina, esposa do fazendeiro, suas filhas e uma nora. Luísa e Florinda são abrigadas
por Rosalina, que esperava fervorosa em seu oratório a chegada do esposo Liberato e de
todos os outros, que não mais voltariam.
Passada algumas horas de aflição para todos que estavam na casa, os cachorros do lado
de fora da propriedade começam a latir, Rosalina se alegra pensando que seria Liberato,
no entanto, era o bando que o havia assassinado, e que agora, pretendiam ainda sequestrar
as mulheres da fazenda. Após perceber que a casa estava cercada pelos bandidos, Rosalina
decide permanecer trancada na residência. Os facínoras ameaçam atear fogo a casa, caso
elas não saíssem. Rosalina, em um ato de fé, decide continuar rezando em seu santuário
mesmo após os bando incendiar a casa. Somente Luísa foge da casa já em chamas sendo
pega pelos cangaceiros. Cabeleira luta com seu pai Joaquim que pretendia abusar de
Luísa, o que leva o bando a se fragmentar.
Daí para frente a história narra a perseguição das milícias ao bando de Cabeleira.
E a fuga de Cabeleira com Luísa que buscavam se refugiarem na mata. Dois milicianos
chamados Alexandre e Valentim, capturam o coiteiro Timóteo e o fazem dizer onde o
grupo estava escondido. Valentim consegue efetuar em seguida a prisão de Teodósio e
Joaquim Gomes.
Enquanto isso, Cabeleira agora com a amada, planejava abandonar o crime e viver
uma vida justa. Passava o personagem por uma profunda mudança de conduta, que se
caracterizava pelo sentimento de culpa que os ensinamentos religiosos e benévolos de
Luísa haviam aflorado em sua consciência. Porém os planos de José Gomes são
interrompidos pela morte repentina de sua amada, que havia sido ferida no incêndio a
casa de Liberato. O mancebo já sem esperanças de uma vida feliz, é cercado e capturado
pelas tropas milicianas em um canavial em Pau d’alho-PE, sendo levado a Recife, onde
foi enforcado na praça das cinco pontas, tendo antes de sua morte, se arrependido de todos
os seus crimes conferindo o pesar de todos que assistiam o seu destino.
Gráfico I. Cultura Material total em O Cabeleira (1876)
Utensília, 111,
31% Bélica, 185,
52%
Indumentária,
35, 10%
Total:357
Religiosa, 26,
7%
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, a formação da crença religiosa dos sertanejos
se deu através de capuchinhos e franciscanos que desenvolveram por ali as chamadas
“missões”, constituindo a base dos princípios cristãos dos povos do sertão (TAVARES,
2013, apud, BAUERMANN, 2016, p.22). Consolidando-se tais princípios nos valores do
sertanejo, este passa a rejeitar tudo quanto fosse alheio a sua religião, considerando
satânicos os pastores protestantes da Europa e da América do Norte que visitaram o
nordeste no século seguinte. Os principais livros usados para doutrinação dessas
comunidades era o Lunário, cuja interpretação dos textos feitas pelos lunaristas
“iluminados” se dava de maneira bastante mística, com profecias e adivinhações. Além
da Missão abreviada, que contava com o registro de Beatos e profetas (PÉRICAS, 2010,
apud, BAUERMANN, 2016, p.22).
Outro aspecto religioso do imaginário dos sertanejos, era a esperança do retorno
do antigo rei de Portugal, D. Sebastião, que desapareceu em Alcacér-Quibir em 1578
durante um confronto bélico. D. Sebastião retornaria da África - conforme a crença
popular, e ajudaria os aflitos e desesperados da região. Tal crença engendrou em um
momento posterior, na fusão entre as figuras D. Sebastião (rei de Portugal) e São
Sebastião, (santo católico) (PÉRICAS, 2010, apud, BAUERMANN, 2016, p.23).
Tendo em mente que durante os séculos XVIII e XIX, as roupas dos cangaceiros
se assemelhavam a de um sertanejo comum, não surpreende a falta de detalhes observados
nos personagens de O Cabeleira. Nesse período, existem relatos de bandidos maltrapidos
e esfarrapados. Isso porque os primeiros cangaceiros eram indígenas, escravizados
fugidos ou mulatos submissos aos senhores de engenho e das grandes fazendas.
Bélica
Utensíliar
Indumentária
Religiosa
Gráfico II
Número de "tipos" de artefato por
matéria prima
N. identificado 2
Madeira 47
Metal 34
Couro 15
Fibra 8
Tecido 15
Lítico 2
Ouro 1
Ceramica 6
Prata 5
Vegetal 1
0 10 20 30 40 50
Segundo Lamartine:
“Agora eu compro o trilho, boto no fogo e quando
está vermelho vai para a safra, onde é aberto em tiras.
O forjador vai forjando as peças (Lâmina e espiga).
Depois um outro operário vai limar a peça que depois
vai para o encabador, encabar. Os cabos sou eu
mesmo que faço: Serro, furo e monto o encabo”
(LAMARTINE, 1988, p. 26).
A aparição de metais de alto valor como ouro e prata possuem, apesar do baixo
número de peças, uma relação quase restrita a figura do Marchante, o que pode ser um
ponto de partida para alguns questionamentos referentes aos motivos dessa representação
material. Por que o marchante é o personagem mais bem representado pela categoria
indumentária no romance? Qual a razão para encontrarmos nele vestes ornadas com
botões de ouro, botas com espora de prata, além de um punhal de prata,
Gráfico III
Distribuição dos artefatos por gênero ou CN
122, 34%
210, 59%
25, 7%
Masculino Feminino CN
0 50 100 0 5 10 15
CM - indumentária / CM - utensilia /
personagem personagem
CN 66
CN 10
P12 2
P12 5
P11 1
P11 8
P8 3
P8 2 P7 1
P5 1 P5 1
P4 1 P4 8
P3 1 P3 5
P2 1 P2 5
P1 7 P1 19
0 5 10
0 50 100
1.Recife-PE
2.Esconderijo de Teodósio
3.Cutelaria -Facas do Pasmado(1781)
4.Rio Capibaribe
5.Engenhoca de Liberato
6.Rio Tapacurá
7.Sítio da família do cabeleira
8.Goiânia-PE
9.Cidade natal de Cabeleira
10.Cidade onde Cabeleira foi preso
Caminho de Cabeleira
Rota dos vaqueiros
Perímetro de O Cabeleira
BASE:
TÍTULO:
Data: 10/01/2018
Responsável:
José Luciano da C. Júnior
Projeto: TCC II
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
27
Arma
1
Arapuca
21
Bacamarte
Bala
Bala de Botoque
Botoque
Cacete
Clavinote
Chicote
Chuço
2 1 1 2 1 1 2 1
Chumbo
4
Espingarda
9
Espada
3
Espada de ponta direita
Espeto
1 1
Espetinho de cabuatão
41
Faca
Faca nua
2 1
Faca de arrasto
13
Facão
10
Ferro
Folha de aço
1 1
Fuzil
Forca
5 4
Fojo
Graveto
Gráfico V. Itens da cultura material bélica
Lamina
1 2 2
Mundéu
3
Cultura Material Bélica - O Cabeleira (1876)
Pau
6
Parnaíba
Pedra
1 2
Peia
Pistola
3 3
Punhal
Punhal de prata
Punhalzinho
Quixó
Raiz de Gameleira
1 1 1 2 1
Bainha
Gráfico VI. Itens da cultura material religiosa
7
7
4 4
4
3 3
3
2
2
1 1 1
1
0
Rosário Conta Conta de Cruz Cruz de pau Oratório Santuário Terço Castiçais de
Rosário prata
Gráfico III Commented [L2]: Qual indumentária está associada a
qual personagem? Como isso indica seu status social, sua
função social?
0
Cabeção de Renda
Chapéu
Capote
Gibão
Calça
Camisa
Lenço
Relógio
Ceroula
Botões de Ouro
Chapéu de couro
Vestido Azul
Espora
Véstia de Couro
Lenço Branco
Lençol
Cinta
Cinto de couro
Bota
Esporas de Prata
Chapéu de palha
10
12
14
0
2
4
6
8
1
Perfumaria
2
Embira
Anéis (algemas)
1 1
Casca De Sapucaia
Cama
2 2
Machado
3
Facho
11
Corda
Jangada
Grilhões
Pacote
1 1 1 1
Latada
3
Corneta
1
Cocho
3
Forno
2
Alguidar
Rodo
1 1
Roda
2
Prensa
Quicé
1 1
Cepo
5
Caçuá
Enxada
Batuque
Algema
Gráfico IV
Dicionário
1 1 1 1 1
Tambor
2
Foice
1
Relógio
3
Lençol
Maço de patacões 1
2
Vasilha
Pote
Botija
1 1 1
Colher de prata
4
Cultura Material Utensília - O Cabeleira
Copo
Panela de Barro
Gadanho
Ancoreta
1 1 1 1
Gaveta
12
Canoa
3
Cabresto
1
Cachimbo
2
Gamela
1
Tripeça
4
Cangalha
Ratoeria
Rede
Surrão
Saco
1 1 1 1 1
Peça de Pano
6
Viola
P1 - Cabeleira:
Características:
- Bandido – Violeiro – Assassino – Ladrão -
percentual/categorias (P1)
19, 18%
77, 73%
7, 6%
3, 3%
Fojo 4
Joaquim era um sujeito descrito pela prática dos mais violentos crimes, “feroz por
natureza e sanguinário por longo hábito ... obcecado desde a mais tenra idade na prática
das torpezas e dos crimes.”. Dentro do bando Joaquim assemelha-se a figura do líder,
temido pela sua ignorância e violência desembestada.
Características:
- Bandido – Assassino - Ladrão
percentual/categoria (P2)
5, 14%
1, 3%
30, 83%
0, 0%
Características:
percentual/categoria (P3)
5, 31%
10, 63%
1, 6%
0, 0%
Timóteo era o proprietário da taverna dos Afogados, local as margens do Rio Capibaribe
onde os bandidos costumavam se esconder sobre a tutela do taverneiro, que além de
conhecer José Gomes desde que este era adolescente, comprava dos bandidos os objetos
de seus furtos. Era ex-marido de Chica, mulher que o Cabeleira matou espancada com
um raiz de gameleira, primeiro assassinato atribuído ao protagonista da história.
Estereótipo:
- Taverneiro – Coitero - Colono
percentual/categoria (P4)
0, 0%
1, 11%
0, 0%
8, 89%
P4 Indumentário N° Utensílios N°
01
Gibão 1 Botija 1
02
Colher de prata 1
03
Copo 4
04
Panela de barro 1
05
Gadanho 1
TOTAL 1 TOTAL 8
P5 - Joana:
Joana era a mãe infeliz de José Gomes, e durante a infância deste, tentou inutilmente
livrá-lo do mal caminho, até ser separada do garoto por medida de Joaquim, seu marido.
“Joana, exemplo vivo e edificante pela ternura, pela bondade, pelo espírito de religião
que a caracterizava” (TÁVORA, 1876, p.20).
Características:
- Mulher – Religiosa
percentual/categoria (P5)
0, 0%
1, 25%
2, 50%
1, 25%
Gabriel é um sujeito que por medo de ser maltratado por Cabeleira e seu pai, decide ajudá-
los avisando que as milícias estavam indo a região para apreendê-los. No tempo em que
os bandidos estavam a fugir, Gabriel e Cabeleira tem um duro combate de facas. Gabriel
que não queria ter o cavalo roubado pelo mancebo, por ser o animal seu único bem e
considerar injustiça que lhe roubassem logo após ter lhes ajudado, lutou então com
cabeleira até que Joaquim aparecesse e o matasse com uma arma de fogo.
Características:
Informante – Jagunço – Negro
percentual/categoria (P6)
0, 0%
0, 0%
10, 100%
0, 0%
P6 Bélico N°
01
Faca nua 1
02
Faca 5
03
Lamina 1
04
Ferro 2
05
Espada 1
06
TOTAL 10
P7 – Florinda:
Florinda era descrita como “a mulher mais forte de toda aquela ribeira.” Era boa nas
atividades domesticas, assim como de ótima aptidão para as tarefas do campo e da roça.
Tentando salvar Luísa das mãos de José, que queria deflora-la, lutou inutilmente contra
o malfeitor, o qual com um único golpe de coronha a matou.
Estereótipo:
- Curiboca - Mulher – Lavradora -
percentual/categoria (P7)
1, 14%
0, 0%
0, 0%
6, 86%
P7 Bélico N° Utensílios N°
01
Cacete 2 Machado 1
02
Facão 3
03
Arma 1
04
TOTAL 6 TOTAL 1
P8 – Luísa:
Luísa foi a dona do coração de Cabeleira. Ela o conhecia desde pequeno, e os dois haviam
se prometido em casamento antes de Joaquim desprover o menino da tutela da mãe.
Porém se encontram quando mais velhos.
Estereótipo:
Mulher - Jovem – Religiosa -
percentual/categoria (P8)
0, 0%
2, 28%
3, 43%
2, 29%
Estereótipo:
- Lavrador – Proprietário de engenhoca – Jagunço – Negro –
percentual/categoria (P9)
0, 0%
0, 0%
0, 0%
7, 100%
P9 Bélico N°
01
Faca 3
02
Chuço 2
03
Espingarda 1
04
Facão 1
05
TOTAL 7
P10 – Rosalina:
Era a esposa de Liberato. A tônica desta situa-se, assim como na maioria dos personagens,
na forma perversa de como morreu. Preferindo rezar em seu santuário junto as enteadas
do que sair para fora da casa, onde estavam os malfeitores. Morreram queimadas sob a
ordem de Joaquim ao seus, de incendiar a casa com fachos.
Estereótipo:
- Mulher – Negra - Religiosa
percentual/categoria (P10)
0, 0%
0, 0% 0, 0%
7, 100%
P10 Religioso N°
01
Oratório 3
02
Terço 3
03
Santuário 1
04
TOTAL 7
P11 – Marchante:
Estereótipo:
- Marchante
percentual/categoria (P11)
1, 9% 2, 18%
0, 0%
8, 73%
Valentim foi um miliciano responsável pela prisão do taverneiro Timóteo e dos bandidos
Joaquim e Teodósio.
Estereótipo:
- Miliciano - Espadachim
percentual/categoria (P12)
2, 12%
5, 29%
10, 59%
0, 0%
33, 27%
66, 55%
12, 10%
9, 8%
O romance inicia com a descrição de uma vida pacata na fazenda de Zuza, com
seu filho Minervino, a esposa Dona Catarina, e alguns vaqueiros que por lá trabalhavam.
É um momento de descrição extensa sobre o trato do sertanejo com os animais na prática
da vaquejada, sobre o convívio harmônico entre o fazendeiro e os demais habitantes
daquelas cercanias e a celebrações vaqueiras entre estes. É também nesses capítulos
iniciais que surge a personagem Nazinha Pombo, por quem Minervino se casaria.
O enredo segue com a descrição cotidiana típica dos romances de costume e das
etnografias sertanejas, mostrando a produção artesanal dos famosos beijus do Catolé,
feitos por Dona Catarina e seus empregados, a vida na lavoura, no pastoreio, o habito da
caça em Minervino. Na sequência a narrativa passa a representar a venda dos produtos da
fazenda de Zuza na feira comercial da cidade de Floresta-PE. Essa parte é marcada pela
descrição de vários produtos diferentes expostos nas malas de feira, contendo desde
armas brancas exóticas como as Cimitarras largas encabadas em chifre até alguidares
vidrados ou de argila branca; frutas, queijos e artefatos para montaria.
Total:282
76, 27%
180, 64%
26, 9%
CM - Indumentária / CM - Utensília /
personagem personagem
CN* 13 CN* 108
Nazinha Pombo 8 Trajano Bento 6
D. Catarina Nazinha Pombo 8
3
D. Catarina 3
Minervino 4 Minervino 15
Zuza 8 Zuza 24
0 10 20 0 100 200
LEGENDA:
B1.Floresta-PE – Feira
B2.S. José Bel Monte –PE – Zuza
B3.Campo Grande-PB – Ildefonso A.
B4.Ingá-PB – Fazenda de Ildefonso
B5.Itabaiana-PB
Caminho de Minervino
Rota dos vaqueiros
Perímetro de O Cabeleira
BASE:
TÍTULO:
Responsável:
José Luciano da C. Júnior
Projeto: TCC II
10
12
0
2
6
8
1
Cimitarras largas encabadas…
10
Faca
1
Trinchante
2
Punhais
1
Laminas
1
Aço
4
Arma
1
Flecha
1
Moringue
3
Sabre
Flandres 1
2
Rebenque
8
Bala
2
Espingarda
4
Bacamarte
6
Gráfico I
Rifle
2
Gatilho
3
Carabina
3
Projétil
1
Espada
1
Revolver
Cultura Material Bélica - Os Cangaceiros
Mosquetões
1
Facões
1
Fuzis
1
Clavina
1
Cartucheira
flandres não é menção a um tipo de metal?
Commented [L9]: O que são moringue e rebenque?
Gráfico I
1.5
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1
0.5
0
0
1
2
3
4
0.5
1.5
2.5
4.5
3.5
Chapéu
Manto
Espora
Perneira
Véstia
Cinto
Tunica de burel
Espora de aço
Touca
Alpercatas
Sapatinho de criança
Touca cor de rosa
chapéu jalne de couro
Chapelão
Gráfico I
Traje de caçador
Esporas de prata
Anéis de ouro
Casaco de chita preta
Casaca
Saia
Roupão
Chapéu de palha
Bogari crestado
Cultura Material Indumentária - Os Cangaceiros
Vestido de noiva
Botões
Saia de cós estreiro
Saia justa
Camisa
0
1
2
3
4
5
6
8
1
Relho
4
Lombilho
Cilha
1 1
Terrina
2
Travessa
6
Mesa
2
Corda
Ferro (de ferrar)
1 1
Relho chato 7
Rédeas
1
Harmonia
4
Viola
Roldana
Polia
Vara para cerca de faxina
Palma de catolé
Prensa
Fuso
Gamela
Cocho
Forno de tijolos vermelhos
Gráfico I
Rodo
Sacos de algodão
Couro seco de boi
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Algodão
2
Sementes
1
Grão
1
Bornais de couro
5
Cultura Material Utensilia - Os Cangaceiros
Sacos
Garrafa de Le Roy
Récua
Louça de barro vermelho
Alguidares vidrados
1 1 1 1 1
Balaio
Malas de feira
Ganchos de ferro
Bridas
1 1 1 1
Picadeiras
0
1
2
4
5
6
2
Estribo
Níquel
Sacos brancos
Potes
Jarros
Louça
Rede atada num cabo
Freios
1 1 1 1 1 1 1 1
Cachimbo curto
2
Loro
5
Arreio
Cortina
1 1
Gaiola
2
Prato
Bule de café
Chavena
Tamborete
Livro
Ouro
Latão
Carretilha
continuação
Forno
Martelo
Esteio
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Ramo decoativo
3
Enxada
Ancinho
Soleira
Mesa redonda
1 1 1 1
Colcha bordado
3
Travesseiros
Docel de chita cor rosa
1 1
Sofá
4
Berço
Escritura
Papeis
Procuração
Cigarro de palha
1 1 1 1 1
Cabaço
0
1
2
3
0.5
1.5
2.5
3.5
2
Corneta
Cacos de louça
1 1
Botijas
2
Foices desencabadas
Borralho
Viveres
1 1 1
Tabaco
óculos
2 2
Garrafa de agua ardente
Rede
Facão Mateiro
1 1 1
Panacu
3
Carta
Sela
Badana
Sobrecincha
Rédeas de sedenho
Relho de barbicacho
Corda de coro
Corda de coro cru
Bola de cebo
continuação
Cachimbo de barro
Cordas de tabaco fresco
Pau
Guardanapo
Fogueira
Chapa
Urna
Tição
Fogão
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Lençol
2
Bilro
3
Almofada
Esteira
Baralho
Rei de paus
1 1 1 1
Valete
P13. Zuza / Pedro Rufino Batista
É um fazendeiro, pai de Minervino, que ao perder sua propriedade para a justiça, resolveu
contrapô-la. O que originou o boato na cidade de Floresta-PE de que “o velho fazendeiro
havia resistido a justiça com um bando de cem homens”. Querendo coibi-lo, a justiça
enviou soldados para mata-lo.
percentual/categoria (P13)
1, 3%
0, 0%
Protagonista na história, o vaqueiro entra para o cangaço após a injustiça cometida contra
sua família, passando a roubar não para si, mas para os necessitados e o seu bando.
Características: Sertanejo – Vaqueiro – Lavrador -“Justiceiro” – Caçador – Jovem - De
família abastada - Bandido
percentual/categoria (P14)
0, 0%
4, 11%
Mãe de Minervino, fugiu de São José do Belmonte-PE após o assassinato do seu marido,
junto com o filho e um vaqueiro, que os guiou até o refúgio na fazenda do Tio de
Minervino, Ildefonso Alves;
percentual/categoria (P15)
3, 33%
2, 22%
1, 11%
3, 34%
Esposa de Minervino que mata a si e ao filho após a família do marido descobrir de que
o filho não era dele.
Características: Mulher – Bela – Costureira - Jovem
percentual/categoria (P16)
1, 6%
0, 0%
8, 47%
8, 47%
Senhor com fama de trapaceiro, que engana Minervino e Nazinha Pombo fazendo com
que eles se casem.
Estereótipo: Trapaceiro – Apostador -
percentual/categoria (P17)
0, 0% 0, 0%
0, 0%
6, 100%
UTENSÍLIOS N°
Carta 2
Mesa 1
Baralho 1
Rei de paus 1
Valete 1
TOTAL 6
P18. Ildefonso Alves - Ayres
percentual/categoria (P18)
0, 0%
0, 0%
0, 0%
2, 100%
P18 BÉLICO N°
01
Bala 1
02
Faca 1
03
TOTAL 2
percentual/categoria (CN*)
42, 23%
108, 60%
17, 10%
13, 7%
Por sua vez a baixa quantidade de elementos utensiliares, inclusive de facas para
usos não belicosos, refletem a falta de disposição dos cangaceiros às atividades
domésticas e laborais. Desse modo, o cangaceiro não sabe, ou pelo menos não pratica ou
praticou a agricultura, a pecuária, a vida doméstica, sendo sua cultura material
predominantemente associada ao belicismo. No tocante à propensão dos bandidos às
atividades laborais, a narrativa de Franklin da Távora apresenta fragmentos textuais
contraditórios. Essa incongruência de informações sugere que o autor ao desassociar o
caráter vaqueiro e lavrador dos cangaceiros, deprecia-os, colocando os bandidos na
condição de sujeitos naturalmente malfeitores:
Imagem retirada do livro Arquitetura dos Índios da Amazônia, Johan Van Legen. 2013.
Vemos também a presença da rede, outro item indígena utilizado pelo bando.
Sobre esse elemento, é interessante notar que entre os séculos XVI e XIX a rede era vista
como sinônimo de preguiça, um objeto associado ao pecado, o berço indígena
(CASCUDO, 1983); (FREYRE, p. 204-207, apud BRANDÃO, 2010, p. 50). Mescla-se ao
cenário do arraial cangaceiro o tom amarronzado do couro dos gibões e chapéus,
ressaltando a indumentária sertaneja comum entre os vaqueiros.
Nota-se ainda uma outra diferença, dessa vez funcional entre Távora e Dias.
Objetos perfuro-cortantes são representados, enquanto arma / ferramenta, no caso: Faca
e punhal / Facão mateiro. Essa diferença reforça a origem sertaneja e rural do cangaceiro,
que provem não somente das classes exploradas e marginalizadas da sociedade, mas
também de família abastada e conhecida na região, sendo inclusive patrão de
funcionários. Esse discurso ganha mais peso se pensarmos na principal diferença entre as
representações artefatuais do cangaço para os dois autores analisados: A hegemonia de
objetos utensiliares na narrativa de Carlos Dias. E a hegemonia dos objetos bélicos em
Távora.
As descrições não fogem do que representou o rifle de ouro para muitos de seus
contemporâneos, que o viam de forma bastante respeitosa, como expressa a seguinte
notícia do Jornal A Imprensa:
“Antonio Silvino sempre creu em Deus e respeitava muito, em sua rude ignorância, a S.
S. Virgem. Tinha também, ás vêses, sentimentos bem manifestos de alguma humanidade:
commovia-se, não raro, diante da indigência, de velhos e mulheres fracas. Não era uma
fera, inteiramente deshumana e selvagem. Temia a morte, fugindo sempre da imminencia
de ser tragado por Ella em algum combate singular. Vemos nisto não somente um natural
instincto de conservação, sinão também o temor das penas sobrenaturaes que elle
comprehendia reservadas aos seus crimes” (A Imprensa, 08 de Dezembro de 1914)
Finalizando, é pertinente observar que as limitações estéticas e literárias que recaem nas
obras de Franklin da Távora e Carlos Dias, segundo críticos como Wagner de Souza
(2007) e Ernani Sátyro (1975), não representam limitação aparente no que tange a
abordagem arqueológica, tendo em conta que os resultados obtidos na pesquisa foram
considerados satisfatórios. O que demonstra o potencial interpretativo das obras
independentemente dos parâmetros mencionados. Semelhantemente, acredito que a
pesquisa apresentou discussões independentes ou pelo menos distintas a produção
historiográfica, não resultando em um conhecimento histórico tautológico como apontado
por Beaudry (2002) como uma das dificuldades do arqueólogo que lida com contextos
subsidiados por documentos. Essa abordagem inovadora, do ponto de vista dos estudos
do cangaço, constituí uma proposta agregativa e válida a luz do pensamento arqueológico.
Franklin da Távora (1842-1888) Carlos Dias Fernandes (1874-1942)
Bandidos - Cangaceiros
Belicismos
As armas tiveram papel muito significativo na evolução das sociedades, pois com
o cada vez maior domínio de determinados recursos e bens, nasceu a necessidade defesa.
O excesso de produção devia ser mantido e por conseguinte, protegido. Desta necessidade
surgem as primeiras muralhas, assim como conflitos mais complexos e violentos.
Começam então a aparecer indivíduos que se destacam em determinadas situações de
confronto e ganham papel de maior relevo, dentro das comunidades, pois a capacidade de
proteger aquelas e os seus bens, foi valorizada e enaltecida. A este sucesso está também
ligada a eficácia do armamento que tais sociedades possuíam (TRISTÃO, 2012, p. 42).
ARMAS DE FOGO
O Cabeleira (1876):
A arma acima, apresenta características dos modelos franceses, em pelo menos dois
aspectos, o sistema de pederneira e a morfologia da coronha (FERREIRA, 2017, p.55).
Já o modelo abaixo, é de origem portuguesa, notadamente pela forma vasada da coronha.
No entanto a pederneira se assemelha a de origem, podendo ser uma adaptação ou
modificação (Idem, 2017, p.56).
ii. Bacamarte com fecho de pederneira. Fins do séc. XVII ao começo do XIX.
(Figura:X. Bacamarte, provavelmente português. 1670-1800. Fonte: FERREIRA, 2017).
Clavinote: “pequena clavina (WIESEBRON, 1994, p.136).
Obs: Nos acervos utilizados na pesquisa, não foram encontrados equipamentos com esta
designação. Ver Clavina na seção abaixo de Os cangaceiros (1914).
(Figura:X. Pistolas de uso Civil e Militar. Séc. XVII-XIX. Fonte: FERREIRA, 2017).
Fuzil:
A presença desse item indica um anacronismo de Franklin da Távora, pois este
tipo armamento só foi produzido no século seguinte ao de Cabeleira (FERREIRA, 2017).
Consiste em um “arma portátil de repetição, de cano longo, cujo carregador se coloca e
retira facilmente” (WIESEBRON, 1994, p.136).
Bala e chumbo:
Referentes a munição. Segundo o manual de caça de Varnhagen, 1860:
O chumbo, desde a bala a escumilha, deve ser bem redondo e de tamanho igual [...] O
chumbo leva-se de ordinário em uma bolsa couro. Tendo varias divisões parallelas para
os diferentes tamanhos da munição, cruzada a tiracol do lado opposto, e cujo bocal é a
medida da carga” (VARNHAGEN, 1860, p.34).
Os cangaceiros (1914):
Armas do exército brasileiro, 1830-1860. Fonte: História da polícia Militar. 1938, p. 106.
ii. Bacamarte com fecho de percussão (convertido). Fins do séc. XVIII a XIX.
De funcionamento similar ao Fuzil Mauser 1895, porém com um cano mais curto (17
polegadas), mira traseira menor e bolt curvo para baixo (MASTERTON, 2015, apud
CAYO, 2018).
Adquirido no Brasil em pequenas quantidades (REYNOLD & OLIVEIRA, s.d. apud, CAYO,
2018).
Mosquetão: “fuzil pequeno usado pelos soldados de cavalaria e de artilharia” (Idem,
1994, p.136).
(Figura:X, Mosquete Enfield Pattern 1853. Fonte: Neto, 2012, apud Cayo?2018)
Assim como o revolver Colt, essa arma foi conhecida por muito tempo pelo jargão "The
Gun That Won The West" (NETO, 2012, apud CAYO, 2018). De calibres 40-44 mm.ou
44 W.C.F.44, os mosquetões winchester 1873 possuem um sistema de trava de disparos
que a torna um equipamento seguro. A caixa de culatra compõe-se de duas tampas laterais
móveis possibilitando uma fácil limpeza (NETO, 2013, apud CAYO, 2018).
Rifle:
Rifle Winchester 1873
Considerada uma arma precisa, forte e leve, essa arma foi uma das mais utilizadas
armas de fins do século XIX ao começo do século XX. Possui um Sistema de trava que a
torna um equipamento seguro. A caixa de culatra compõe-se de duas tampas laterais
móveis possibilitando uma fácil limpeza (NETO, 2013, apud CAYO, 2018).
Essa arma, igualmente ao Mosquetão Winchester 1873, tornou-se bastante
conhecida como a “papo amarelo”, devido a presença de uma superfície lisa feita de metal
latão, que serve para evitar que poeira ou outras impurezas penetrem no interior da arma
(Idem, 2013, apud CAYO, 2018).
i. Fuzil Comblain
(Figura:X. Fuzil Comblain. Séc. XIX. Fonte: MORAES JUNIOR, 2008, apud Cayo?2018)
Esse fuzil, retrorecarregável, de tiro unico e sistema drop block action, que
permite abrir a culatra puxando-a para baixo, carrega-la ou trava-la puxando para cima,
era alimentada por cartuchos metálicos de pólvora negra comum e chumbo de 31,5 g em
calibre 11x50mmR (ou 11x42 em relação as carabinas) (MELLO, 2014; REYNOLDS &
OLIVEIRA, s.d. apud CAYO? 2018).
Teve uso regular na infantaria do exército brasileiro, sendo abandonada após o
fim da Guerra de Canudos. Todavia, o seu uso persistiu em grupos militares (polícia
militar da Paraíba) e paramilitares (força publica do Rio de Janeiro) até a década de 30
do século passado. Foram elas as principais armas antes da chegada dos fuzis Mauser
1908 no nordeste (CARVALHO, 2008, apud CAYO?, 2018).
(Figura:X. Fuzil Minié, fabricação Belga. Fonte: Neto, 2012, apud Cayo?2018)
(Figura:X. Fuzil Mauser 1908. Fonte: REYNOLDS & OLIVEIRA, s.d., apud Cayo?2018)
ii. Revólver Smith & Wesson .44 Double Action produzido de 1881 e 1913.
(Figura:X. Revólver Smith & Wesson .44 Double Action produzido de 1881 e 1913. Fonte: DANIEL?2018).
Arma curta de calibre 44 com tambor giratório de 6 camaras. Feita em aço carbono
com sistema de ação duplo e percussão intrínseca. utilizada pelas forças volantes no
combate contra o cangaço (DANIEL?2018).
(Figura 24: Colt Police Positive. Fonte: CARVALHO, 2008, apud CAYO?, 2018).
No Brasil, o primeiro registro do ofício de ferreiro que tive notícia, data de 1554,
e é atribuída ao colono Mateus Nogueira, que forjava facas, anzóis, cunhas e machados
em Piratininga, São Paulo (LAMARTINE, 1988, p.12).
Esboço de forno típico do século XVI – Figura de Fernando José Gomes Landgraf
Ao que tudo indica diferentes tipos de laminas foram difundidas pelo vasto
território brasileiro desde lá, como as facas gaúchas que se aproximam bastante das facas
produzidas na Argentina, Uruguai e Paraguai. Ou ainda como as adagas sulinas que
seguiam o padrão das pontas de lança farroupilha (CAMPELLO, 2015, p.24).
Atendo-se as facas nordestinas, estas parecem ter sua origem no formato das
adagas por apresentaram um gume duplo. Em contrapartida, suas laminas são mais
estreitas, assemelhando-se mais a geometria dos punhais (CAMPELLO, 2015, p.28).
As facas de ponta do Pasmado, por terem no período dos personagens José Gomes
e Antonio Silvino, considerável popularidade, proximidade cronológica e geográfica com
o espaço-tempo dos romances O Cabeleira (1876) e Os Cangaceiros (1914), é um ponto
chave para se pensar uma correlação entre a cultura material representada e a sua
correspondência material, já que os seus escritores eram por necessidade, “estudiosos”
das peculiaridades locais (ver mapa I). Henri Koster em sua viagem a Pernambuco em
1816, relata que era possível ouvir a certa distância da aldeia dos Pasmado, o som dos
golpes de martelo bigorna que se chocavam nas tendas de ferreiro de lá.
Segue abaixo algumas aproximações com a representação das armas brancas nos
romances supracitados:
O Cabeleira (1876):
i. Faca do Pasmado
Faca do pasmado Fonte: Livro Os Punhais do Cangaço, Denis Arthur Carvalho 2016.
“Quis Timóteo acudir à companheira na apertada conjuntora que se lhe desenhou aos
olhos com as negras cores de um desastre, ou vergonha para o lar e bodega onde nunca
sofrera afronta igual ou que com esta se parecesse. Mas quando apercebia o ânimo para
dar o arriscado passo, descobriu na mão de José uma faca de Pasmado que o reteve à
respeitosa distância” (TÁVORA, 1876, p.11)
Faca Parnaíba ou de Arrasto Fonte: Livro Os Punhais do Cangaço, Denis Arthur Carvalho 2016.
iii. Faca Jardineira
Faca Jardineira. Fonte: Livro Os Punhais do Cangaço, Denis Arthur Carvalho 2016.
iv. Faca Lambedeira
Faca do Lambedeira. Fonte: Livro Os Punhais do Cangaço, Denis Arthur Carvalho 2016.
“— Bem estou vendo, disse Timóteo. Mas sempre lhes quero dizer: o crioulo Gabriel
sabia muito bem jogar a espada, e melhor a faca, mas o Cabeleira o lambeu (TÁVORA,
1876, p.54).
No entanto, tal correspondência é uma ideia vaga e subjetiva, que não se trata de
uma verdade, mas de suposição.
Faca Baixa verde
Faca Baixa verde. Fonte: Livro Os Punhais do Cangaço, Denis Arthur Carvalho 2016.
“a espada sempre foi associada aos guerreiros mais abastados e 63 prestigiados, sendo o
símbolo da coragem e do poder de quem a possuísse. Passou também a estar ligada à
soberania porque as espadas mais ricas encontradas em achados arqueológicos eram
quase sempre propriedade de reis ou chefes de tribos. Deste modo, a espada surge aqui
como símbolo da soberania do território inglês, reservada somente a quem a merecesse”
(MARQUES, 2013, p. 63-64).
Armas do brancas das tropas coloniais e do exército brasileiro, séculos XVI-XVIII. Fonte: História da
polícia Militar. 1938, p. 112.
Bainha
As bainhas também eram caprichosamente elaboradas, quase sempre por
terceiros, podendo ser de couro ou metal.
Folha de aço/ Lamina
Os Cangaceiros (1914):
i. Pajeuzeira
Faca Jardineira. Fonte: Livro Os Punhais do Cangaço, Denis Arthur Carvalho 2016.
ii. Faca Caroca
O Cabeleira (1876):
Bodoque
ARMAS DE CHOQUE
Os Cangaceiros (1914): Moringa, rebenque.
ARMADILHAS
O Cabeleira (1876):
Arapuca: arapuca ~ rapuca – s.f. (< Tupi ara'puka; f.hist. 1776 guira puca, 1865 arapuca
>)H. ‘Armadilha para caçar pequenos pássaros; ger. Uma pirâmide feita com pauzinhos
ou talas de bambu; urupuca’. “Usa é armadia, bota o cachorro na ispera. Cum arco e
frecha tamém, fica, ispera até vê a caça. Bota arapuca; a arataca, pá pegá viado” (CUNHA
E SOUZA, 2011, p. 3).
Quixó e Mundéu: quixó – s.m. (< Segundo Nascentes etim. prov. tapuio, por causa da
terminação >)H. ‘Espécie de mundéu (‘armadilha’) para pegar preás, mocós etc’. “E
aquele que a gente num consegue pegá, a gente pranta o jiqui na boca do buraco, o quixó,
e no otro dia pode i que ele ta lá. Pode dexá a panela pronta”.
Fojo:
Religioso
Estruturas
Objetos
Adornos
Chapeis
Roupas e calçados
Utensiliar
“Felisberto não estava em casa à chegada dos dois matutos. Havia ido à vila a negócio e
ninguém sabia quando ele estaria de volta.
Eles tiraram para a casa de farinha, que ficava a um lado da casa de morada, e apresentava
nesse momento um aspecto que não era o usual. Estava-se fazendo farinha para ser a toda
pressa mandada ao Recife, onde a grande falta que havia deste gênero, assegurava pingue
lucro ao vendedor.
[...]
Era quase noite, e ainda chegavam animais com caçuás cheios de mandiocas que eram
despejados nas tulhas já formadas destas raízes. Mulheres sentadas pelo chão ou em
cepos, ao pé dessas tulhas, tiravam as mandiocas uma a uma, e as iam raspando a quicé,
e atirando depois dentro de cestos que eram conduzidos para junto das rodas a fim de
serem elas passadas pelos ralos que circulam estas.
A casa de farinha não era mais do que um vasto alpendre aberto por todos os lados e
coberto de palhas de pindoba. No centro via-se o forno onde tinha de ser cozida a massa
já apertada pela prensa e livre da manipueira. Parte dela porém, tanto que saía do pé das
rodas, era lavada em gamelas e alguidares onde deixava o resíduo ou goma para os beijus
e tapiocas. A prensa estava armada a um dos lados do alpendre; no outro viam-se as duas
rodas que não cessavam de girar. Quando cansavam os matutos ou escravos que as
moviam, eram logo substituídos por gente fresca” (TÁVORA, 1876, p. 71).
O pátio da fazenda era um longo estendal de varges crepitantes e à noite, o velho Zuza
entregava-se pachorrrentamente a sua tarefa de entretecer as cordas do tabaco fresco que
ia enrolando no pau.
Começou-se em princípios de agosto o desmanchamento da farinha. Raspavam-se as
mandiocas e empilhavam num grande monte, entre o banco do rodete e cepo inclinado da
roldana. Essa tarefa de raspagem era comum a todos e até mesmo as crianças dos
rendeiros que recebiam depois do adjutório um grande beiju de massa da privativa
indústria de D. Catarina.
Dois sertanejos hercúleos impeliam a roldana que tinha um eixo com dois mainés. A polia
cilíndrica do relho cru punha o ralo em movimento e de encontro a este desmanchavam-
se em polme branco os grossos tubérculos seivosos, que a feiosa Rufina, uma serva
durázia opunha jeitosamente ao rotativo aparelho.
Rafael de Abreu e Souza, em sua tese de doutorado, reflete sobre a espacialidade das
habitações sertanejas, discorrendo sobre como as ações incorporadas a ela:
“Adentrar no terreiro de uma casa sertaneja de barro é estar próximo, mas não dentro, do
convívio efetivamente privado e cuja simbologia é pouco notada pelos que são de fora. É
no terreiro que ocorrem diversas atividades diárias e de socialização, e onde pessoas,
plantas, animais e elementos abióticos são convidados a participar, em distintas escalas,
da esfera particular. Pode-se ou não entrar, estar e conviver neste espaço e, para isso, a
ordenação espacial e a escolha do que especializar são elementos importantes” (ABREU
E SOUZA, 2015, p.143).
Mobília
Ferramentas de trabalho
O termo quicé parece ter origem diversa do: caxerenga; (e respectivas variantes) um seria
de origem africana o outro de origem tupi. A discussão, também neste caso, está aberta.
De resto o que se encontra são referências específicas a: ”uma quicé”. Parece-me que aqui
se tem um tipo definido de lâmina.
O que seria diferente de uma caxerenga que, pode ser um objeto em fim de vida útil, teria
esta denominação. Como seria descrita uma quicé? Arriscando: lâmina de formato
triangular, estreita, fina, um gume, lâmina com 8 a 10 centímetros de comprimento, fora
o cabo. (CAMPELO, p.34)
Instrumentos musicais
REFERENCIAS:
QUINTELA, H. F. A Segunda Pele: A linguagem das roupas, seus signos e a configuração da
identidade social através do vestuário. In: Seminário Nacional da Pós-Graduação em Ciências
Sociais - UFES, 2011, Vitória. Imagens do outro e imagens de si, 2011.
“nós possuímos um ser dual: estruturalmente somos bipolares, essa incerteza, esse ter e
não ter, o desejo de possuir algo que não se pode possuir em sua totalidade é a engrenagem
do homem. Nesse sentido, dentre outras coisas, o vestuário também tem uma natureza
bipolar, contraditória, e cumpre o duplo papel de aproximar e afastar, de agrupar e
separar, de assemelhar e distinguir” (SIMMEL, 2000, apud QUINTELA, 2011, p. 2).
Hines, John. Literary Sources and Archaeology. The Oxford handbook of Anglo-Saxon
archaeology. 2011. p. 968-985.
“[...] o grande Gall, em 1825, propunha uma classificação em dois grupos — 1. por paixão
e 2. por instintos inatos; logo Lombroso aumentou o número para 4, as suas bem
conhecidas classes de criminosos — 1. natos, 2.loucos, 3. por paixão, e 4. de ocasião;
sucede-lhe Ferri, e, de 4, passa para 5, acrescentando o grupo dos criminosos que ele
chama de hábito; vem depois Colajanni, e já não bastam 5, havendo necessidade de mais
um, e lá vem o grupo dos criminosos políticos; e assim ir-se-ia somando a lista com
criminosos religiosos, econômico-sociais, com repugnância ao trabalho metódico,
"normais", e — que sei eu mais — tudo quanto a mente humana possa forjar, inventar,
induzir, deduzir e por ai além” (CARVALHO, 1952, p. 299) 293-304).
As cabanas são pequenas e são construídas de barro, mas oferecem abrigo bastante
suficiente em um ambiente tão fino; elas são cobertas com telhas [...] ou como é mais
geral, por folhas da Carnaúba. Normalmente, as redes suprem o lugar das camas e são de
longe mais confortáveis, e estas são igualmente frequentadas. A maioria dos melhores
tipos de cabanas contém uma mesa, mas a prática usual é a de se agachar sobre um tapete,
em círculo, com as tigelas, pratos ou cabaças no centro. Comam as suas refeições no chão.
Facas e garfos não são muito conhecidos, e não são de todo usados pelas classes mais
baixas. (Tradução: HENRY KOSTER, 1816, p. 144)
Ainda segundo Henry Koster, era costume naquele tempo, a presença de cuias, bacias ou
louças preenchidas com água e acompanhadas de um pano de algodão grosseiro, que
serviriam para se lavar e secar as mãos após as refeições (KOSTER, 1816, p. 144).
Muitos destes eram conhecidos por seus nomes e pessoas, e uma vez por outra faziam
sortidas sobre os povoados, saqueavam as vendas, perpetravam mil desatinos, e
escapavam sempre à ação da justiça, ineficaz naquele tempo, como ainda o é hoje a nossa
polícia nos povoados longínquos, para não dizermos nas próprias capitais segundo
sabemos.