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As águas encantadas

A Galuchinha
de Almofala
Desde remotos tempos que a água tece
Trago a bilha no regaço
uma entranhada relação com a
Inclinada junto ao seio
história de Almofala. Desde fontes
Os rapazes quando passo milagrosas, que curam os males do
Dizem sempre um galanteio corpo e do coração, até fontes
Canta la Rana traiçoeiras que fazem crescer barba às
mulheres, todas têm um pequeno
Foi no rescaldo da derrota da Salgadela que os castelhanos, Quem me dera além dos montes
papel na construção de uma história
mortos de sede, medo e cansaço passaram por Almofala. E no Com os pastores, com os seus gados
desespero de uma noite quente de verão e de guerra, vivida e imaginada.
clamavam os seus corpos por água como por descanso. Mas o E na aldeia os despeitados
descanso não o suportavam porque por ele pagariam com as
suas vidas. A sede teriam eles que a saciar… Já chamam à minha fonte

A fonte dos namorados


E foi com grande alegria que ouviram ao longe o coaxar de
rãs, anunciando a presença de água. “Mira, que canta la Cantada nas récitas, em Almofala
rana!”, exclamaram e na clandestinidade da fuga saciaram a
sede onde hoje é o chafariz de Canta la Rana ou, como
melhor se pronuncia em Almofala, Cantlarrana!

A fonte dos Canos

Diz-se que rapaz forasteiro que dela bebesse


certamente casaria em Almofala
Elaborado em Almofala para o Carnaval de
2019

Apoios:
Histórias de fontes
A fonte Finados A Cipriana
A fonte Santa A fonte Finados fica no Monte, com vista so- A Cipriana é uma modesta fonte de mergulho,
A fonte Santa fica em Vale de Laxara. bre Santo André. É uma pequenina fonte que com água fresca o ano inteiro. Mas não se enga-
já não corre, mas onde antigamente também nem que a sua fama já navegou para outros
Reza a lenda que, havendo uma cidade
se lavava. continentes, arrancando suspiros aos jovens
de mouros em Almofala, era filha do
soldados no Ultramar.
chefe desses mouros a bela Salúquia, a O Casarão da Torre era na altura domínio de
quem todos amavam e respeitavam. um poderoso e amado senhor cristão, que Durante a Guerra Colonial, os jovens de Almofa-
Sendo a terra conquistada pelos cris- governava as suas terras e os seus súbditos la foram, como a grande maioria dos portugue-
tãos, a Bela Salúquia foi então raptada, com muita justiça e compaixão. Vivia feliz ses, mobilizados para o conflito nas antigas co-
não só como forma de enfraquecer o lónias portuguesas. Para entreter o tempo e
com a sua mulher, sem filhos, que Nosso
coração do pobre pai mouro, mas tam- distrair da realidade de uma guerra que não
Senhor ainda o não tinha concedido…
entendiam, contavam-se histórias. E uma das
bém motivado pelo desejo que a sua
Andando certo dia à caça, foi para os lados histórias que se contava era a da bela Cipriana,
beleza causava em todos os homens, de
do monte com o seu criado e o seu fiel cão. sempre irmã ou prima de alguém, prendada,
todas as religiões. Durante a fuga,
De repente, vindos de Santo André, vieram habilidosa, casta e reservada. Solteira ainda,
amaldiçoou ela o seu raptor, mas sa-
os mouros e mataram o Senhor, que bebia a pasme-se!, com tais atributos. Um partidão, por
bendo já que também ela estava perdi-
fresca água da fonte finados. O criado, que assim dizer.
da de amor por ele. Inevitavelmente, os
estava um pouco distanciado, conseguiu fu- E começou a Cipriana, a modesta Cipriana, a
mouros alcançaram os cristãos e o con-
gir para casa, para alertar a todos o que se receber apaixonadas e fogosas cartas de amor
fronto foi inevitável. Foi ferido o jovem
passara com o senhor e que os mouros esta- desses rapazes, inocentes, apaixonados pelo
comandante, que a custo chegou com
vam a caminho. Mas tarde demais – mesmo calor de uma mulher que na verdade ostentava
Salúquia a uma pequenina fonte, onde
atrás vinham já os guerreiros muçulmanos, a frescura de uma fonte.
desmontou do seu cavalo e quase tom-
prontos a tomar aquelas terras como suas.
bou para a terra fria. Salúquia, vendo o Para além da Cipriana, também a Sentinela e a
sofrimento do seu amado, chegou-se a A pobre viúva, não aguentando com o des- Pateira recebiam cartas de amor, escritas na
ele e com a meiguice dos gestos que as gosto, subiu à mais alta janela da torre e dali escuridão de uma guerra. Mas fosse pela prefe-
palavras nunca traduzem, foi-lhe lavan- se atirou, para acabar com a sua vida. rência do narrador, fosse pela doçura do nome,
do as feridas que iam sarando. E assim, era a Cipriana a favorita entre os jovens solda-
Mas não quis a providência divina que a sua dos.
uma por uma, todas as mazelas, inclu-
história acabasse no pó frio do chão. Vindo
indo as de um coração sem amor, foram ninguém sabe de onde, apareceu um cavalo E era toda uma gargalhada em Almofala quando
curadas e nasceu o amor entre uma alado que interceptou a dama na queda e a o correio anunciava a plenos pulmões entre o
bela moira e um feroz conquistador. levou pelos ares, libertando-a do destino povo que esperava novas dos seus – Carta para
cristão. cruel da morte. a Cipriana!

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