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Relacdes entre tecnologias digitais e educagao: perspectivas para a compreensio da aprendizagem escolar contemporanea Eucidio Arruda © presente trabalho tem como objetivo apresentar uma discussio sobre as inovagGes tecnoldgicas presentes na sociedade atual e suas vinculagées com a dinamica de funcionamento da escola, tanto em termos de relagdes de trabalho quanto de praticas pedagégicas. Percebe-se, empiricamente e na literatura estudada, que as transfor macées tecnolégicas vividas pelos sujeitos na contemporaneidade repre- sentam no sé intredugdo de equipamentos ¢ “técnicas” na sociedade, mas, principalmente, mudangas de ordens sociais, culturais, de trabalho @ educacionais. Tais caracteristicas so importantes neste artigo, uma vez que essa modificagées implicam o redimensionamento dos discursos educacionais - tanto em termos de organizagdes do préprio espaco escolar quanto das reestruturag6es curriculares e em aspectos cognitivos do aluno, ou seja, as formas como ele apreende, reorganiza o conhecimento escolar e extraescolar. O artigo organiza-se da seguinte forma: em primeiro lugar, analisam- se 08 conceitos de modernidade e pos-modernidade, vinculando-os as dis- euss6es no campo da sociologia da educagao em seus respectivos tempos histdricos. Em seguida, discutem-se as relagbes entre as tecnologias digitais e ‘as possiveis “novas” formas de aprendizagem do aluno-recebido pela escola atualmente. Busca-se, nessa parte, vincular diferentes formas de aprender ia ie ectmensansecanign inizaro a aeclatmeamia A modernidade e sua radicalizagéo A compreensao'da sociologia cla educacao e as relagées estabelecidas no interior da escola a partir da incorporacao das tecnologias de infermagao, e comunicagaa (TIC) incorrem em uma compreensie mais ampla domundo contemporaneo e de suas especificidades. A modernidade parte de pressupostos rigidos para a explicagaio das coisas. A ideia de que a racionalidade e o progresso trariam a resposta para todos os dilemas sociais cria um sistema no qual as respostas sio dadas com base em grandes narrativas e estruturas mais ou menos rigidas que organizam e problematizam a sociedade, A sociologia da educagdo, estando inserida nesses contextos, jA refletiu também essa organizacao de pensamento na sua forma estruturalista, conforme apresentado por Silva (1993), Salienta-se a necessidade de acompanhar esse movimento como histérico; portanto, nao se pode criticar tais formas de pensamento, e sim compreendé-las na sua temporalidade: Harvey (1999), ao desenyolver os processes historicos que nos levam A situagdo “pds-moderna”, estabelece relagées entre 0 fordismo-e o modelo de acumulagao flexivel, Apesar de ambos serem modelos de producio, sendo, portanto, vinculados diretamente a aspectos econémicos, percebe- se que suas implicagdes imbricam-se de maneira profunda nos Ambitos culturais, sociais, polfticas, entre outras, Importante destacar que o modelo fordista nada possui de inovador, visto que a divisao de tarefas eo modelo de organizago do trabalho estavam presentes na obra de Adam Smith, no clissico “A riqueza das nacdes” Aescola, uma vez que é local da formacéo das novas geragées, reflete também as caracterfsticas da propria sociedade (pelo menos isso era mais claro no modelo fordista). A chamada “acumulagéo flextvel” inicia outros: processos de relacdes de trabalho, vinculados principalmente ao desenvol- vimento tecnoldgice. Uma vez que a escola é também local de formagao de novos trabalha- dores, é de se esperar que os discursos acerca da organizagao do ensino € da aprendizagem escolares reflitam essas “demandas” socials, No entanto, vive-se um grande dilema: por um lado, modelos estruturantes como 0 for dismo e 0 marxismo nao dao conta dos problemas advindos principalmente das relagdes dos sujeitos, das singularidades e elimensdes culturais, Por outro lado, a “flexibilizagio” & o relativisme “exaverbado” so peri visto que poclem, literalmente, “pulverizar” as interpretagces Silva (1993) também chama a atengao para os perigos do pensamet modemona definicgao da conseiéncia e da subjetividade. Autores marxistal por exemplo, ao discorrerem sobre esse assunto, acabaram por levar-nos a um caminho em que a consciéncia é compreendida por alguns poucos “ils minaclos”, ao passo que a grande massa “inconsciente” deve ser conduz por esses, A retirada da autonomia do pensamento do sujeito prejudica asi compreensao como alguém que possui consciéncia de si, do outro eda reall dade em que vive, consciéncia esta que nao pode ser comparada a nenhu outro sujeito, visto ser uma construgao de sua relagao com o mundo: Ei dificil pensar na primeira opgaa de consciéncia; no-entanto, o d que temas 6a construgao-de teorias que no caiam na ingenuidade do relatly ‘mo total. Conforme cita o autor: “Faz mais sentido falar num confront de ferentes subjetividades, o que concederia uma importincia maior 8 constr de espagos ptiblicos de discussdo e debate onde essas diferentes subjetivida tivessem a oportuniciade de se defrontarem” (Siva, 1993, p. 131). Por outro lado, os tedricos que decretaram o fim da modernidade afire mam estarmos em um contexto pés-moderno, em que toda légica p} sista, do carater “infal{vel” do conhecimento cientifico, e © fim da ’ reivindicacGes heterogéneas de conhecimento, na qual a ciéncia nao fh lugar privilegiado” (GiopeNs, 1991, p. 12). ‘7 Silva (1993) considera que-esse “fim” gera, no lugarde uma perspectivil etnocéntrica do pensamento, uma afirmativa de que todas as culturas #0 necessariamente etnacéntricas, ¢ sio esses etnocentrismos, juntamente COM. as relacdes de poder entre eles, que se devem confrontar. De maneira a vincular essa afirmativa as condigdes escolares, se que o professor, no mundo contemporaneo, vivencia situagdes com para o seu trabalho. Quando discute condigées para a aprendizagem, dugGes de avaliagdes e necessidade de valorizacao das culturas dife! de seus alunos, ole corre um sério risco de extinguit o aparecimento gularidades sociais, religiosos, de poder, econémicos, ete. ‘Uma perspect que considera cada referencial cultural numa arena piiblica de conf apresenta-se como mais apropriada para essas situagées, a ‘Ao mesmo tempo, Silva (1993) levanta também o problema de ad de que existam est de criar “homogeneidades” mundiais, abre as portas para as diferengas olver utenstlios, aparelhos e ferramentas, coma também diferentes todos os conflitos gerados por elas. Aimbélicas: linguagem, escritura, sistemas de representagdes ic6- Acredita-se, cada vez mais, que o perfodo vivido haj itui mento e também tecnologias organizadoras: gestao da atividade transigées diversas no pensamento humano. O desenvolvimento tecnolégle #), telagdes humanas e de trabalho co, a dinamica veloz de transformagao do concreto, das dimensdées afeti Seiedade contemporanea, hd estreita vinculagao-entre tecnologia e religiosas, politicas e econ6micas tém criado dificuldades de andlise para | principalmente porque na modernidade a tecnologia esta ligada intelectuais das Ciéncias Humanas, sobretude os socidlogos. @ (PAwa, 1999), O modelo de producao atual é earacterizado pela dace de produtos e segmentagao de mercado, o que leva as Usearem constantemente o desenvolvimento tecnoldgice visan= jag” em um mercado amplamente competitivo.’ Educagao, novas tecnologias e conhecimento A mulher entra no quarto do filo decidida a ter sina conversa seria novo, a3 respostas dele & interpretagi mensio de transformacao teenoldgica pode ser analisada 4 luz wages de Giddens (1991) sobre o desenvolvimento capitalista, a0 grande dificuldnde de ler, / deapltalismo desenvolveu-se em uma perspectiva globalizante, Dispersdo pode ser uma resposta para partedo problema, Alexie aleangar hoje regides distantes do globo, precisamente por ser do texto pode seroutra, masnesta ela ndo vai tocar porque tambamh ipecnidmica ¢ nao politica. Hle alcangou.até mesmo espagas em professora endo vai Ihe dardesculpas para irmal na escola, Pregui ie Bataslo nfo havia alcancado. de ler parece ser outra forma de lidar com a extensado do texto estd, de nova, no computador, jogando, Levanta os olhos com aq ardequem pode jogar e conversa aa mesmo tempo. A mae lhe que interrompa 0 jogo e ele pede A mae “sé. um instante para salt Curiosa, ela olha para a tela ¢ se espanta com o jogo em faj Pergunta-lhe como consegue entender o texto para jogar, de alguma coisa parecida com uma “Idgica do jogo” e sobre al tentativas eom os feones. Diz ainda que conhece a base da fo de" Jo” € congh aise, iecns om epocks, ht Es ne en ieee comumente chamada hoje de “globalizagao” ¢ consi- acabou sendo adiada. A mée-professora nao se sentia pronta ort (2001, p. 12) como um conceito comunicacional, 0 que momento. (Barreto, 2002, p. 72 apd Porto, 2006, p. 43) Waneata ¢ transyuite sigrtificados culturais ou econdmicos. Esse . Manos que o conceito aparentemente comunicacional da A citagao acima reflete algumas das discussGes ja realizadas all a] ormou-se em uma visio do mercado mundial com sua mento neste texto e também aquilo que se pretende aprofundar com banat feotm-descoberta, uma diviséo global do trabalho em uma discussao sobre a incorporagao das tecnalogias digitais no cotid r fi com novas rotas de comércio eletrOnico incansavel- pessoas no mundo contemporanee e, especificamente, no interior dil GW as tanto pee comércio uate pelas finangas. Do ponto de vista da sociclogia da educagdo, essa eltagilo # baal prodiuz owas situagbiew pertinente c faz o pesquisador e professor pensar sobre aspecios coil com tempo 0 esa, Vi (196) ciscoree sobre de pensamento das geracdes “dipitais” e a organizagio da escola parm 1 mundo Pe Em uma wociedade digitalizada, preender a tarefa de ensinar essas novas geragdes. oy virtualments, de tal maneina que perdemon — Apesar cle recursos como a informatics @ a internet serem rece Hie pelt etsy 3g fo " ie emia esaiore esti porachutive copstalinta arvalisam nl coe Fearn oman seca ks do texto na prova sugerem Wil teriatien pode ser explicaca pelo desenvolvimento tecnold- saniheo que, ao possibilitarmudangas constantes e r4pidas dos ‘rganizagées e simbolos, além dos meios comunicacionais, forma influenciar grandes espacos até entao inalcangdveis. ologias de informagdo e comunicagdo tém papel de extrema so diminuir sensivelmente o espaco fisico para transmissaa de §) produgio do conhecimento.

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