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37 / 2019

M A G A Z I N E

www.ilustrarmagazine.com
I L U S T R A Ç Ã O • A R T E • D E S I G N
Editorial Nesta edição
•EDITORIAL: ............................................. 2

Ilustrar está de volta...


• P O R T F O L I O : Rogério Pedro ............................. 3
•INTERNACIONAL: Marilena Nardi ................ 12
•MEMÓRIA: Henrique Alvim Corrêa ................ 21

Q
• E S P E C I A L : Zeppelin .................................. 2 8
• S T E P B Y S T E P : We b e r s o n S a n t i a g o . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 4
uatro anos. Desde a edição nº36 passaram incríveis quatro anos.
• OPINIÃO: Laz Muniz ................................... 40
Muita coisa aconteceu: hackers atacaram o site da Ilustrar (e também
o site da Reference Press e o meu pessoal). Perdi os 3 domínios. Criei • ENTREVISTA: Sam Hart ............................. 42
3 novos domínios e... voltamos a ser atacados por hackers. Mas dessa • CURTAS.............................................................. 51
vez o domínios continuaram.
• LINKS DE IMPORTÂNCIA ......... ............... 52
Também tive problemas pessoais, doença, calotes homéricos de clientes,
crise, e meu pai faleceu. Quatro anos de inferno astral.

Como editor devo um enorme pedido de desculpas a todos os amigos


e fãs da revista pela ausência repentina, mas a pausa forçada durante
este longo período foi justificada e necessária.

Mas... o carinho pela revista e, acima de tudo, o carinho com a grande


rede de amigos que foi criada, fez que que a volta da revista fosse
necessária. E aqui estamos, abraçando como sempre TODAS as formas
Ficha técnica
de arte e ilustração.

E para celebrar esta nova fase viemos com novo logotipo, e espero SITE OFICIAL: www.ilustrarmagazine.com
que possamos juntos desenvolver uma revista cada vez mais bonita e
Foto: arquivo Ricardo Antunes

interessante. Vamos a isso... DIREÇÃO, COORDENAÇÃO E ARTE-FINAL: Ricardo Antunes


ricardoantunesdesign@gmail.com

Grande abraço DIREÇÃO DE ARTE: Ricardo Antunes - ricardoantunesdesign@gmail.com


Weberson Santiago - webersonsantiago@gmail.com

REDAÇÃO: Ricardo Antunes - ricardoantunesdesign@gmail.com


Weberson Santiago - webersonsantiago@gmail.com

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:

Angelo Shuman (Divulgação) - shuman@uol.com.br

ILUSTRAÇÃO DE CAPA: Rogério Pedro - www.rogeriopedro.art.br

PUBLICIDADE: ilustrarmagazine@gmail.com

DIREITOS DE REPRODUÇÃO: Esta revista pode ser copiada, impressa, publicada, postada,
Ricardo Antunes distribuída e divulgada livremente, desde que seja na íntegra, gratuitamente, sem qualquer alteração,
edição, revisão ou cortes, juntamente com os créditos aos autores e co-autores, e com indicação do
São Paulo / Lisboa site oficial para download.

ricardoantunesdesign@gmail.com Os direitos de todas as imagens pertencem aos respectivos ilustradores de cada seção.
www.ricardoantunesdesign.com

2a 2b
Portfolio

ROGÉRIO

P E D R O
PEDRO

R O G É R I O
Foto: arquivo Rogério Pedro

N ascido em Campinas (interior


de São Paulo), Rogério Pedro começou

P O R T F O L I O :
a sua carreira em 1992 em uma
bem-sucedida carreira como diretor
de arte em agências de publicidade,
adquirindo uma vasta experiência ao
longo de 15 anos, se especializado
em branding e no desenvolvimento
de projetos de construção de marcas.

Chegou a ter a sua própria agência


quando, em 2010, resolveu mudar
de carreira e se dedicar totalmente
à pintura, em especial ao mural
e ao grafite. Desde então tem
feito inúmeros trabalhos no Brasil,
Estados Unidos, França, Espanha,
Colombia, entre outros.

E produzido murais em lugares


inusitados, como o poço de um
elevador.
© Rogério Pedro

O COMEÇO

Sempre admirei o grafite. Quando casa de amigos, primos até que surgiu
criança ficava olhando como os artistas o primeiro trabalho comercial para uma
faziam seus murais, quais os materiais skateshop.
utilizavam, qual técnica e como produziam
R ogério Pedro seus stencils. Trabalho com diversas mídias, pintura em
tela, ilustração editorial, editorial, mas os
Campinas - SP Em 1987 fiz o meu primeiro muro e a muros me dão mais liberdade criativa,
rogeriopedroar te@gmail.com partir daí comecei a fazer trabalhos na são geralmente desafios maiores.
www.rogeriopedro.ar t.br

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P E D R O

P E D R O
R O G É R I O

R O G É R I O
P O R T F O L I O :

P O R T F O L I O :
PRINCIPAIS
INFLUÊNCIAS

As minhas principais referências em


pintura são Picasso, João Cândido
Portinari e Di Cavalcanti, quando fui
trabalhar em agências de design e
propaganda um novo universo surgiu e
me influenciou muito.

Acho que acabo misturando isso tudo


e o resultado é o trabalho que faço
hoje. Sempre procuro referencias em
ilustração, design, escultura... e a
mistura de tudo isso é enriquecedora
para quem trabalha com artes visuais. 

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DA PUBLICIDADE
PARA AS ARTES
P E D R O

P E D R O
A primeira transição foi quando deixei quando comecei a buscar oportunidade
um emprego seguro em uma agência na pintura e no desenho, a buscar as
de propaganda para montar o meu minhas raízes.
estúdio de design gráfico, a Via B. O
estúdio permaneceu bem por mais de 15 Essa “transição” é sempre difícil,
anos, o trabalho mantinha a estrutura principalmente no lado financeiro. Você
R O G É R I O

R O G É R I O
e ainda sobrava um bom dinheiro. não sabe o que vem pela frente, se vai
conseguir pagar as contas. Felizmente o
E em 2012 veio a segunda transição, sonho está dando certo!
P O R T F O L I O :

P O R T F O L I O :
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P E D R O

P E D R O
R O G É R I O

R O G É R I O
P O R T F O L I O :

P O R T F O L I O :
GRANDES
DIMENSÕES

Todo mural é um projeto que demanda com 1,60 metros de largura, e já pintei
produção prévia (planejamento, custos, um fosso com 60 metros de altura. Os
materiais, equipamentos, viagem, logística, murais feitos na rua debaixo de um
contratação de profissionais), e execução sol de 40 graus é que são difíceis. Em
(a pintura). algumas situações tem a parte pesada,
você mesmo acaba fazendo a montagem
A arte sempre começa no papel em escala, de andaimes... cada caso é um caso.
e depois é ampliada para a parede. Cada
muro é uma história, um desafio.
(Assista aqui o video com o mural em
Já fiz murais dentro de fosso de elevador, um poço de elevador de 60 metros)
e não são tão complicados, você trabalha
com a ajuda do elevador em paredes https://goo.gl/8UpVB2

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P E D R O

P E D R O
R O G É R I O

R O G É R I O
P O R T F O L I O :

P O R T F O L I O :
ONGS

Eu colaboro com diversas ONGs, como oportunidade para as pessoas. Eu sou


o Instituto Mano Down, Acesa Capuava apenas um facilitador, tento passar um
e Instituto Anelo... mas a minha relação pouco do meu conhecimento de arte
é com o ser humano, com a inclusão, para essas pessoas.
e a arte faz essa ponte, ela oferece

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P O R T F O L I O : R O G É R I O P E D R O
Internacional

N A R D I
MARILENA

M A R I L E N A
NARDI
Foto: arquivo Marilena Nardi

I N T E R N A C I O N A L :
N ascida em Chiampo, no
Norte de Itália, em 1966 numa
família com o pai combatente
antifascista e resistente à ocupação
alemã, Marilena Nardi é formada
em escultura, professora de
desenho anatômico e de ilustração
na Academia de Belas Artes de
Veneza, e é uma ilustradora e
cartunista com uma extensa lista
de prêmios, na Itália e no exterior.

Trabalha para vários jornais e


revistas, e se dedica em especial Você nasceu em uma família de mais os vinte anos de regime fascista.
ao cartoon político e à crítica social. combatentes antifascistas e de Assim ele entrou na resistência. Uma
resistentes à ocupação alemã. Essa escolha difícil e muito corajosa.
Recentemente foi a primeira origem influenciou o seu gosto pelo
mulher a vencer o World Press cartoon político?
Eu sempre admirei meu pai por sua
Cartoon, o mais importante prêmio Falando assim parece que nasci entre independência de pensamento e ação,
de cartoon jornalístico do mundo. políticos ou intelectuais. Mas a realidade e por outros aspectos de seu caráter.
da minha casa era bem diferente. Meu
pai, só ele, era partidário e antifascista. Neste sentido isso me influenciou,
© Marilena Nardi

mesmo que a sua atitude em relação


A minha mãe naquela época ainda era a mim tenha sido dupla. Por um lado ele
uma menina. Meu pai era um simples me ensinou a pensar e agir livremente,
sapateiro. por outro ele acreditava que sendo uma
mulher (e uma filha a ser protegida), eu
Em 8 de setembro de 1943 o meu pai teria que permanecer boa e quieta, ser
tinha vinte anos, mas ele era um homem esposa e mãe.
inteligente, sensível e profundamente
Marilena Nardi honesto. Ele me disse uma vez que Antes que ele pudesse perceber, pelo
odiava a guerra, e esteve nessa situação seu exemplo, ele havia criado uma
Itália sem querer. Mas meu pai odiava ainda feminista.
nardimarilena@gmail.com
www.marilenanardi.it

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N A R D I

N A R D I
Quando você percebeu que poderia
utilizar o cartoon como uma ferramenta
de crítica?
Que o desenho poderia ser uma
M A R I L E N A

M A R I L E N A
ferramenta de crítica, eu entendi muito
cedo, lendo e apreciando o trabalho de
outros autores. Que eu poderia usá-lo,
isso aconteceu muito depois.

Eu tinha lidado com o humor gráfico desde


cedo, mas a sátira é outra coisa e requer
maior atenção e tempos de reflexão
mais rápidos. Além disso, o cartoon não
é suficiente, mas é necessário um meio
adicional: os jornais ou a web.
I N T E R N A C I O N A L :

I N T E R N A C I O N A L :
Comecei a fazer sátira quando o acesso à
rede tornou rápido o compartilhamento
de imagens, por um lado, e o envio de
desenhos para os jornais, por outro.

De que forma o cartoon, e em especial o canais de compreensão diferente. Rindo,


cartoon político, pode ajudar na crítica por exemplo, esquece-se o medo. Se
social? você pode rir de uma realidade, você
pode até mudá-la.
O desenho é uma ideia com uma linha
em volta. A frase não é minha, mas Por esta razão, os desenhistas satíricos
eu a compartilho porque é importante estão muitas vezes em perigo em países
entender que, mais do que o desenho e onde a liberdade de expressão é limitada
sua estética, o conteúdo é importante. ou negada por completo.

Os desenhos são ferramentas de uma Uma boa imagem, por sua constituição,
linguagem. Eles transmitem mensagens. chega direto, sem muitas intermediações,
Através de um desenho passamos e é plantada forte como um prego no
informações, críticas, sugestões e fundo das consciências. Se alguém tiver
também, às vezes, humor, que abre consciência.

13a 13b
N A R D I

N A R D I
M A R I L E N A

M A R I L E N A
I N T E R N A C I O N A L :

I N T E R N A C I O N A L :
Uma das suas críticas mais recorrentes
de forma cruel e premeditada. Matar é
é o abuso das mulheres. Como você vê
apenas o fim, o ato mais extremo, a ponta
esta situação nos dias de hoje?
de um iceberg de uma violência que é
A emancipação feminina é um processo muito mais difundida e não mencionada.
ainda em curso. Dois mil anos de
dominação patriarcal, só para falarmos Há sempre grande resistência em falar
do Ocidente, não mudam ao longo de sobre isso. Além disso, ao nível judicial e
algumas gerações, e os retrocessos em social, há uma tendência para justificar
relação a essas conquistas que pareciam a ação criminal e culpar a vítima.
adquiridas estão na ordem do dia. Anos
de luta para reivindicar um direito pode Como posso ser cartunista e não relatar
ser eliminado durante uma legislatura. tudo isso? Desenhar este tema é o mínimo
que posso fazer!
Eu denuncio o abuso das mulheres
porque a violência ainda é muita, é demais Mas gostaria que não fossemos apenas 
e é insuportável! Na Itália, por exemplo, nós mulheres a cuidar desse assunto.
há muitos anos a média de feminicídios Porém, outra forma de discriminação tem
é constante: a cada dois ou três dias acontecido, quando esses argumentos
uma mulher é morta pelo marido ou ex, são considerados sem importância, como
namorado ou “apaixonado”, muitas vezes “problemas femininos”.

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N A R D I

N A R D I
Você foi a primeira mulher a vencer o vencer o Grande Prêmio. No começo isso
World Press Cartoon, o mais importante não me afetou. Então fiquei pensando,
prêmio de cartoon jornalístico do porque começaram a chegar, entre os
mundo, em sua 13ª edição. O que esse muitos sinceros parabéns, também
M A R I L E N A

M A R I L E N A
prêmio representa?
algumas observações que levantaram
Claro que foi um prazer recebê-lo. Foi dúvidas.
emocionante, embora, para ser sincera,
coincidisse com um momento muito Devido ao fato de eu ser mulher,
delicado da minha vida particular e, supunha-se que o júri quisesse dar
quando cheguei a Caldas da Rainha um sinal alinhado com os eventos
(onde ocorreu a premiação), cheguei relacionados ao #MeToo, uma hipótese
exausta e com a mente em outro lugar. que deixou indignado o seu presidente e
que ele negou firmemente durante uma
No entanto, voltando ao prêmio, eu entrevista. Em uma competição séria
I N T E R N A C I O N A L :

I N T E R N A C I O N A L :
estava ciente de que tinha apresentado como o WPC, o júri avalia os desenhos,
um bom cartoon, então fiquei feliz com não os desenhistas.
o veredito do júri.
Também houve até pseudo parabéns
Foi um desenho sobre liberdade de como “você é a melhor das mulheres
expressão, um assunto que é muito cartunistas”, que eu não gostei nada.
querido para mim, publicado em dois
jornais estrangeiros porque na Itália não Há pessoas, e infelizmente também
havia sido levado em consideração. Que alguns colegas, que continuam a colocar
ele tivesse sido notado e recompensado os homens em um categoria e mulheres
me deu uma grande satisfação. Mas eu em outro, como se talento e mérito
não sabia que fui a primeira mulher a pertenciam a gêneros e níveis diferente.

São bem poucas as mulheres que


trabalham com cartoon político. Por que relevância masculina.
você acha que isso acontece?
Para mudar mentalidades são necessários
A história nos responde. As mulheres tempo, força de vontade, política correta
há milênios têm sido relegadas ao papel e uma boa dose de humor (para suportar
de esposas e mães, com raríssimas a espera).
exceções, privando as possibilidades de
autodeterminação. Um cartunista é, mais ou menos, de acordo
com seu próprio caminho de vida, uma
Elas foram impedidas e punidas ao se pessoa com talento gráfico, inteligência,
atreverem a se rebelar, se ousassem sensibilidade, perspicácia, ironia, humor,
pensar com suas próprias cabeças. Como senso estético, cultura, paixão e muito,
podemos ser críticos se somos impedidas muito mais.
de pensar e nos expressar?
Desenhar nunca foi uma questão apenas
Dentro de alguns anos certamente de músculos, mesmo na Idade da
haverá mais mulheres também na Pedra. Mas uma mulher, para se tornar
sátira, como aconteceu em outras áreas cartunista, antes de mais nada, deve
que antes eram exclusivamente de ser uma pessoa livre.

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1º prêmio no World Press Cartoon 2018

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Memória

C O R R Ê A
HENRIQUE

A L V I M
ALVIM CORRÊA

H E N R I Q U E
Foto: arquivo Carlos Meira

E m 1897 seria lançado


na Inglaterra um dos marcos da
ficção científica mundial: o conto
“A Guerra dos Mundos”, de H.G.

M E M Ó R I A :
Wells, que narra a invasão da
Inglaterra por seres extraterrestres.

Inicialmente, o conto foi lançado


em capítulos na revista Pearson’s
Magazine, da Inglaterra, e depois
na revista Cosmopolitan, dos
Estados Unidos. Só um ano depois,
em 1898, foi lançado na Inglaterra
na forma de livro.

Oito anos depois, em 1906, seria


lançada na Bélgica uma edição
luxuosa com mais de 100 ilustrações
e apenas 500 unidades em grande
formato e que ficaria conhecida para
© Henrique Alvim Corrêa

sempre pelas ilustrações marcantes, Alvim Corrêa chegou a Paris em 1894


impressionando gerações. para estudar arte e, após se casar,
mudou-se para Bruxelas em 1900 para
O artista escolhido para esta edição de abrir seu estúdio.
Henrique Alvim Cor rêa luxo foi Henrique Alvim Corrêa, artista
brasileiro que vivia na Bélgica no final Depois de uma fase inicial difícil, foi lá
Brasil / Bélgica do séc. XIX, especialista em ilustração onde fez as ilustrações para o livro, com
militar e ficção científica. o consentimento pessoal da H.G. Wells.
1876-1910

21a 21b
C O R R Ê A

C O R R Ê A
O próprio Wells aprovou as ilustrações, de volta para o Brasil foi afundado, e com
elogiando-as antes de sua publicação, isso Alvim Corrêa ficou desconhecido do
dizendo: “Alvim Corrêa fez mais pelo grande público até recentemente.
meu trabalho com o seu pincel do que
eu com a minha caneta”. As 500 edições Noventa e nove anos depois do
A L V I M

A L V I M
de luxo foram autografadas pelo artista. lançamento da edição de luxo, Stephen
Spielberg se inspiraria naquelas
Quando foi chamado para ilustrar o livro, ilustrações para fazer, em 2005, o filme
Alvim tinha 30 anos de idade… estava baseado no livro. O design dos tripés foi
com dificuldades financeiras e fazia descrito por Spielberg como “gracioso”.
ilustrações eróticas sob pseudônimo
H E N R I Q U E

H E N R I Q U E
para ganhar um dinheiro extra. Spielberg também queria um design
que fosse icônico mas ao mesmo tempo
O livro trouxe prestígio a Alvim Corrêa, em que poderia fazer uma homenagem
mas em 1910, apenas 4 anos após o aos tripés originais das ilustrações de
lançamento do livro, veio a falecer de Henrique Alvim Corrêa.
tuberculose, aos 34 anos. Em 1914 sua
oficina foi saqueada e destruída durante
a invasão alemã de Bruxelas, e em 1942 Fonte: www.wikipedia.org,
o navio que levava os originais restantes www.laboiteverte.fr
M E M Ó R I A :

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22a 22b
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23b

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Especial

ZEPPELIN
E m 2017 o ilustrador,

Z E P P E L I N
Foto: arquivo Ricardo Antunes

designer gráfico e editor Ricardo


Antunes lança a história em
quadrinhos “Zeppelin”, baseada
na música “Geni e o Zepelim”,
de Chico Buarque de Holanda,
de 1978. A adaptação para os
quadrinhos foi um desafio, já
que no album a história toda
não contém texto, e em vários

S P E C I A L :
momentos um único quadro
ocupa uma página inteira.

Nas palavras do jornalista


Rodrigo Casarin, “uma HQ
delicada, ironicamente silenciosa
e bastante dramática”, onde o
trabalho todo a preto e branco
reforça toda a dramaticidade da
história.

Vencedor do prêmio Proac


em 2016 dado pelo Governo
do Estado de São Paulo, a
© Ricardo Antunes

história fala de preconceito, hipocrisia Na época eu tinha 13 anos e foi um impacto


e ingratidão: uma prostituta hostilizada enorme, porque a música era diferente em
Ricardo Antunes pela cidade onde vive um dia será aquela todos os sentidos: tem um final trágico, é
que poderá salvar a cidade da destruição. melancólica, mas, acima de tudo, é uma
São Paulo / Lisboa narrativa completamente visual.
ricardoantunesdesign@gmail.com “Esse é um projeto antigo, que ficou em
minha cabeça por 39 anos, desde que a Sempre achei um roteiro de cinema pronto,
www.ricardoantunesdesign.com música ‘Geni e o Zepelin’ foi lançada. e por anos fiquei visualizando a história.

28a 28b
Z E P P E L I N

Z E P P E L I N
S P E C I A L :

S P E C I A L :
“Mas o livro não é uma transcrição literal
da música, apenas tomei a história por
base, e fiz com um final diferente”

“A música é uma das mais belas e


tristes da MPB. Ela fala de preconceito,
hipocrisia e ingratidão na sociedade, em
especial contra a mulher. “

“Com certeza a mulher conquistou


muitos direitos desde aquela época,
mas infelizmente pouca coisa mudou
em outras questões, basta notar as
expressões de ódio, extremismo e
racismo que temos visto todos os dias”.

PARA ADQUIRIR O ÁLBUM ZEPPELIN

Consulte o site da Reference Press ou


veja no final da revista a nossa promoção

http://referencepress.blogspot.com

29a 29b
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S P E C I A L : Z E P P E L I N
Step by Step

S A N T I A G O
INTRODUÇÃO
Esta ilustração foi criada para a caixa dos Foi uma imagem que gostei muito de
dois volumes do livro Os Miseráveis, de produzir porque gosto muito desse livro.

WEBERSON
Victor Hugo, e no final mostro também as Tecnicamente o trabalho todo foi feito no
capas que fiz para os dois volumes. iPad Pro e no aplicativo Procreate.

W E B E R S O N
PROCESSO

SANTIAGO
Foto: arquivo Weberson Santiago

S T E P :
m dos ilustradores que
mais produzem na atualidade,
Weberson Santiago nasceu em
Mogi das Cruzes mas vive há
muitos anos em São Paulo.

B Y
Dono de uma técnica rápida,
graficamente moderna e muito
flexível, podendo se adaptar
aos mais diferentes temas e

S T E P
plataformas, Weberson tem uma 1 Começo a pensar na ilustração sempre em cima do formato.
Sempre faço os estudos proporcionais ao formato final. Faço alguns
produção imensa, chegando a rabiscos iniciais para marcar minha idéia, pensando no conceito e
produzir dezenas de ilustrações na composição. O foco principal desses estudos é a composição.
por semana.

Trabalha para editoras nacionais


e internacionais e empresas de
games, e neste passo a passo
irá mostrar como foi produzida a
caixa do livro Os Miseráveis.
© Weberson Santiago

Weberson Santiago
2 Definida a composição, eu começo a trabalhar na expressão corporal
dos personagens e a pensar também nas roupas e acessórios.
São Paulo - SP
webersonsantiago@gmail.com
www.webersonsantiago.com

34a 34b
S A N T I A G O

S A N T I A G O
W E B E R S O N

W E B E R S O N
S T E P :

S T E P :
3 Na sequência, trabalho um pouco mais no cenário e começo a dar um
pouco de posicionamento aos objetos de cena em relação aos prédios.
5 Com o esboço pronto e aprovado pelo editor de arte, eu começo o
processo de finalização. Primeiro, definindo o traço externo dos
B Y

B Y
E aos poucos vou planejando o peso dos traços para definir os planos. personagens que ficam em primeiro plano.
S T E P

S T E P
4 Para fechar o estudo eu sempre faço alguns testes com cores para
reforçar os planos.
6 Continuo trabalhando no traço, tudo em camadas separadas para
facilitar qualquer alteração que venha a ser necessária durante o
processo.

35a 35b
S A N T I A G O

S A N T I A G O
W E B E R S O N

W E B E R S O N
S T E P :

S T E P :
7 Ainda trabalhando no traço, e dando detalhes em todos os elementos.
9 Defino cada um dos planos com cores bem definidas, e vou criando o
ambiente da cena.
B Y

B Y
S T E P

S T E P
8 Com o traço quase pronto, a próxima etapa é começar a definir as
cores. Separo de forma definitiva os planos mas mantendo o clima
10 Nessa fase começo a trabalhar nas cores do fundo e nas texturas.

geral da imagem.

36a 36b
S A N T I A G O

S A N T I A G O
W E B E R S O N

W E B E R S O N
S T E P :

S T E P :
11 Na etapa final vou acrescentando mais traços na medida que vou
identificando a necessidade de definir planos, reforçando a expressão
B Y

B Y
corporal e a ambientação.

As capas dos livros


S T E P

S T E P
12 Para finalizar faço alguns ajustes de cores.

Para verem um pouco mais sobre o processo desta ilustração, assistam


o VIDEO no link a seguir:  https://tinyurl.com/yxlj2d9y

37a 37b
S T E P B Y S T E P : W E B E R S O N S A N T I A G O

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38b

S T E P B Y S T E P : W E B E R S O N S A N T I A G O
S T E P B Y S T E P : W E B E R S O N S A N T I A G O

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39b

© Weberson Santiago

S T E P B Y S T E P : W E B E R S O N S A N T I A G O
Opinião
Ele é livre para que possa criar, produzir,
rabiscar e publicar à vontade. Ele tem
todo o direito, mas... ilustração do quê?
DESENHO X Para que? O que se ilustrou no exato
sentido da palavra?

ILUSTRAÇÃO Atribuo o fato de chamar toda e qualquer


interpretação artística de ilustração - o

M A R T I N E Z
que vem acontecendo com frequência -
por Laz Muniz a um “erro de percurso” e uma grande
contribuição por parte das redes sociais,
que tudo socializa como convém.
O texto a seguir é apenas uma proposta
para refletirmos em termos éticos e abrir Talvez por uma falta de atenção ou de
uma discussão sobre alguns fatos que preocupação com o uso de um termo
vêm me chamando a atenção já há algum que é título de uma profissão, e por isso
tempo em relação ao uso da palavra mesmo tal uso indiscriminado preocupa.
“ilustração”, e como esse termo tem sido
Foto: Laz Muniz

usado em redes sociais, no jornalismo e Portanto, acredito ter virado “moda” Mas isso poderia afetar o mercado

M A R C E L O
na publicidade, dentre outras mídias de chamar qualquer desenho, qualquer profissional - mais do que os seus
comunicação, de forma desfavorável para rascunho, qualquer tipo de arte gráfica valores prostituídos já vêm afetando -
os profissionais que as fazem, por quem de ilustração. Qualquer, em sua dentre outras mazelas aditivas? Seria
é engajado no ramo ou apenas carrega abrangência. desvalorizar toda uma classe e acabar
uma vasta experiência artística. não fazendo o mínimo sentido usar um
O desenhista faz um estudo a lápis, título profissional que virou goiaba no
A origem etimológica da palavra algo do qual ele não tem a intenção de quintal do vizinho?
ilustração significa “ação de esclarecer’”, publicar ou veicular por não haver a
“descrição viva e enérgica, brilho”, e a necessidade de mostrar seu processo Existem certos vislumbres no termo:

O P I N I Ã O :
seguir os seus significados: criativo, e apenas a vontade de fazer o jovem aspirante se espelha em seu
um desenho por puro prazer ou para – artista preferido e acaba encontrando
1- ato ou efeito de ilustrar(-se): conjunto como todo e qualquer estudo – agregar ali, naquele ídolo, o seu eu ilustrador,
de conhecimentos (científicos, artísticos conhecimento e experiência. sem entender o real sentido da profissão
etc.); instrução, saber; e sua atuação no mercado.
Um processo normal, até postá-lo Porém a sua paixão pela arte de ilustrar,
Ilustrações: Leandro Lassmar

2- ato de esclarecer, de ilustrar por em sua página pessoal da rede social, É óbvio que quem está iniciando nessa mesmo não o sendo ou entendendo,
meio de explicações; esclarecimento, site ou página profissional e intitulá-lo área quer imitar quem admira. É o seu estaria diminuindo a classe?
comentário. “Sempre usa um desenho “ilustração tal”, seguido da hashtag de momento de aprendizado e ele só quer
como recurso de ilustração”; mesmo cunho: #ilustracao. repetir o que almeja ser. Mas muitas Em relação ao título desse texto, suas
vezes pode não ter informação à sua explicações no início e o seu conceito
3- adorno ou elucidação de texto por mão ou não sabe onde buscá-la. dentro da profissão, não se ilustra
meio de estampa, figura etc.; algo que não necessite de tal arte
A expressão que brota do papel daquele complementar. Se um artista em questão
4- desenho, gravura, imagem que indivíduo tem sua importância, mas fez um desenho, é só um desenho; se
acompanha um texto. “Um livro com em seu conceito infundado torna-se ele pintou, ele fez uma pintura; se ele
belas ilustrações”. “ilustração”. E ele não está errado, afinal rascunhou, ele fez um rascunho. Mas,
foi assim que ele aprendeu e não quer se ele leu um livro, pegou tudo aquilo,
denegrir a imagem da profissão. Ele quer mastigou, deglutiu e recontou a história
se inserir, fazer parte, mesmo sem saber através de sua arte, nos deu uma visão
Laz Muniz
como, e começa pelo lado contrário do paralela, uma forma de releitura para
grau de instrução, o da maioria, essa reviver aquele texto através de uma
Belo Horizonte - MG
mesma maioria que propaga o conceito segunda visão, e fez de sua arte um
aquarelazmuniz@gmail.com errado de ilustração. pretexto para nos levar para dentro do
www.behance.net/lazmuniz

40a 40b
imaginário daquela história, aí sim ele sintomas, os remédios, onde eles vão
fez uma ilustração. agir, o porque do seu mal estar e, além de
tudo, você só deseja que ele, o médico,
Seja no lápis, na tablet, na tinta, na confirme o seu auto-diagnóstico?
caneta, no recorte, seja como for; se
ele leu o briefing da agência sobre a Então, ele olha por cima dos óculos,
nova campanha e artefinalizou de forma com aquele ar de indiferença, pergunta
didática, ele ilustrou; se ele leu o artigo qual a sua área de atuação na medicina,
M A R T I N E Z

M A R T I N E Z
de jornal ou da revista e deu-lhe vida diz que você está errado e muda toda a
com seu traço ou fotografia de forma a sua auto-receita, pedindo que faça mil
explicar melhor, fazendo-nos entender exames. E serão estes que dirão o que
através de toda uma técnica, aplicado o você realmente tem e ele, o profissional,
texto, ele ilustrou. dirá quais medicamentos você deverá
tomar. Porque ele estudou e trabalhou
Para a literatura, o jornalismo, a anos para chegar até ali e defenderá a
publicidade, os livros didáticos, livros sua profissão de forma profissional, não
científicos, placas indicativas, rótulos, permitindo que ninguém faça pouco
embalagens, etc., geralmente são caso de seu status de médico, querendo
M A R C E L O

M A R C E L O
necessárias ilustrações, e cada uma delas atropelar o seu conhecimento.
é feita de uma forma bem particular,
usando um caminho muito distinto a Defender a nossa profissão, há muito
cada tipo de arte para ilustrar cada tempo, parece ser algo inapropriado
tipo de mídia ou produto. E ilustração para os dias de hoje, com tanta gente
não é só uma técnica e muito menos trabalhando como bem entende e
uma tendência, vai muito além disso. É reduzindo o trabalho a ofertas de leilões
conceitual, mas também é um produto. do menor preço.

Mas por que as redes sociais contribuem Eu não posso me achar aquilo que não
O P I N I Ã O :

O P I N I Ã O :
para o uso errado do termo ilustração? sou e passar o carro na frente dos bois,
Porque elas democratizam de forma dentro de um mercado que eu ainda não
exacerbada e espalham a ideia de contribuí, não tenho experiência, não me
forma errônea, e uma vez usado e orientei, não faço parte... e me propor
compartilhado, se torna viral. Essa é a ser um profissional da ilustração é
uma situação que provavelmente será muito positivo quando já começo por
impossível reverter, porque se percebe fazer a coisa certa. Se sou um aspirante
essa prática mundialmente. a algo futuro, vou aguardar minha vez
de me auto-intitular. “Eu posso e sou
Isso tem incomodado um pouco os capaz, mas ainda sou um amador ou
profissionais. Afinal, se for para ser estudante”, devo admitir.
assim, vamos ser irônicos e citar alguns
exemplos: eu também sou banqueiro E mesmo que não o seja, devo ter um
porque eu sei contar dinheiro. Eu também pouquinho de ética e buscar me informar * A Revista Ilustrar agradece a participação especial do ilustrador
sou chef porque já sei fritar ovos, e mais e melhor, ou apenas não contribuir LEANDRO LASSMAR nas ilustrações dessa matéria
também sou dentista porque sei passar com a informação errada, antes de www.behance.net/lassmar e instagram.com/lassmar
o fio dental. sair por aí chamando meu rabisco no Contato: leandrolassmar@gmail.com
guardanapo, que vou fotografar e depois
Ironias à parte, sabe aquela situação em postar no Instagram, de ilustração, assim
que você vai ao médico, e antes que ele como marcá-lo com a tag: #ilustracao. Laz Muniz é ilustrador editorial há 27 anos, com 21 livros de literatura infantil
lhe pergunte o que se passa, você relata e juvenil ilustrados além de publicar em vários jornais e revistas. Lançou o seu
tudo, detalhadamente, como se fosse Ilustração é o resultado do trabalho de um primeiro livro de literatura juvenil, como autor e ilustrador, O Lobo da Caverna.
um entendido da área, especificando os ilustrador. E ilustrador é o profissional.

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Entrevista

SAM HART
C

H A R T
om uma carreira dedicada
à ilustração mas principalmente
Fotos do evento: Sam Hart

aos quadrinhos, o inglês Sam Hart


passou boa parte da vida no Brasil,

S A M
mas com trabalhos publicados em
vários países.

Em seu currículo contam diversos


trabalhos bem conhecidos, como

E N T R E V I S T A :
Starship Troopers, Juiz Dredd,
Golem, 2000AD, Front, Revista Kaos!
Mundo Paralelo, O Guarani, A Flauta
Mágica, Hamlet, Projeto Mega-Ultra
Super Secreto, Rei Arthur, Robin
Hood, Joana d’Arc entre muitos
outros.

É também dele o recente sucesso


The Coldest City, a história em
quadrinhos que inspirou o filme
Atomic Blonde e que teve roteiro
escrito pelo quadrinista americano Você nasceu na Inglaterra, cresceu no Projeto Mega-Ultra Super Secreto e 10
Antony Johnston.  Brasil, voltou para a Inglaterra para Dias Perdidos.
trabalhar e depois regressou ao Brasil.
Como foi esse processo todo?
© ilustrações: Sam Hart

Na Inglaterra, minha carreira começou


Tem sido interessante, gratificante e às em 1995 trabalhando com John Higgins,
vezes um pouco decepcionante, às vezes colorista de Watchmen, e fazendo algumas
tudo ao mesmo tempo. Ter dois países e publicações autorais. A partir de 2004, com
duas culturas é complicado de um jeito a ajuda da internet, Tropas Estelares, Robin
bacana, às vezes parece que tenho duas Hood, Rei Arthur, Juiz Dredd, The Coldest
carreiras paralelas. City, Joana d’Arc e mais recentemente
Grace O’Malley.
Aqui no Brasil trabalho com HQ desde
1990, quando fiz parte do fanzine Matrix É ótimo poder trabalhar com personagens,
e depois Rhino e Panacéia, e publiquei lendas e histórias da minha infância,
Sam Har t em alguns jornais e revistas. Depois Front, ao mesmo tempo explorar as fábulas
revista Kaos!, A Flauta Mágica, O Guarani, e paisagens desse lado do Âtlantico - e
São Paulo - SP Mundo Paralelo, Hamlet, ilustrações para agora tendo a oportunidade de explorar
sam@samhar tg raphics.com revistas e agências e agora os quadrinhos minhas próprias criações narrativas.
www.samhar tg raphics.com

42a 42b
Você desenhou vários álbuns históricos, como muitos dos elementos que eram
tais como Robin Hood, Rei Arthur, Joana atrativos para mim nas histórias de
D’Arc, Pirate Queen, entre outros. A super-herói estão presentes na nossa
pesquisa histórica costuma ser tão própria História – heróismo, união,
exigente quanto o desenho?
empatia e também perigos, traição e
Essa foi uma das surpresas agradáveis vilania.
para mim, de como a pesquisa é
importante e faz parte do processo Por sinal, essas HQs publicadas na AH
criativo, e fui desenvolvendo o gosto pela recentemente foram reunidas na coletânea
pesquisa ao fazer ilustrações e HQs para WAR- Uma Eternidade de Guerra.
a revista Aventuras na História, graças
H A R T

H A R T
em parte ao jornalista Roberto Navarro. Mesmo sendo intensa, a pesquisa não
leva tanto tempo quanto o desenho.
Até então, basicamente, eu só queria fazer Hoje em dia costumo pesquisar bastante
HQ de super-herói, mas ao aprofundar as antes de começar o projeto e depois
pesquisas para ilustrar e escrever HQs deixar de lado quando estou criando
baseados em momentos históricos, vi as páginas.
S A M

S A M
E N T R E V I S T A :

E N T R E V I S T A :
No caso de Robin Hood, você chegou cobria uma area gigantesca, unindo as três
a ir até a Floresta de Sherwood para principais cidades da região; hoje ocupa o
conhecer… era como você imaginava? equivalente talvez ao Parque Villa-Lobos.
Fiquei muito contente de que ainda
exista a floresta - assim como as cidades Dá para andar pela “floresta” inteira em
das histórias do Robin, como Loxley e duas horas. Sinto que foi importante ir,
Nottingham - e de estar aberta para para me conectar ao local e à narrativa,
visitação, mas se encontra em tamanho na medida do possível. Tirei fotos das
bem reduzido. Na época de Robin Hood árvores e usei várias na HQ.

43a 43b
Você estudou arquitetura, trabalha de vista, um resumo rápido de prós e
com agências de publicidade fazendo contras nas outras áreas: publicidade
storyboards e ilustração, dá aulas de paga bem mas vende infelicidade; aulas
desenho na Axis e faz quadrinhos. Quais catalisam o aprendizado, inclusive do
os prós e contras em cada uma dessas professor, mas são exaustivas; HQ paga
áreas?
pouco mas tem alma.
Encaro todo trabalho de desenho, seja
ilustração, storyboard ou HQ, como um Ter esse espectro variado de mercados
problema, uma questão a ser resolvida. às vezes é divertido, você conhece
o dobro ou triplo de profissionais,
Alguém – eu ou a pessoa que me colegas, editores, e tem uma variedade
H A R T

H A R T
passou o trabalho - precisa comunicar maior de projetos que pode produzir.
uma idéia: qual será o estilo que vou
usar, os elementos, o enquadramento, a Por outro lado, as vezes você “some” de
narrativa mais efetiva para resolver essa um mercado enquanto está produzindo
missão? Muda a cada trabalho. para outro, e isso afeta o contato com
editores e leitores. No fim das contas,
S A M

S A M
Com arquitetura nunca trabalhei pois desde que esteja desenhando, estou
não me formei, mas segue, do meu ponto feliz.
E N T R E V I S T A :

E N T R E V I S T A :
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E N T R E V I S T A :
O momento editorial parece viver uma pois cada geração de profissionais se
contradição: cada vez mais existem inspira no que lia e assistia quando jovem.
artistas querendo publicar quadrinhos,
mas as editoras têm vendido cada vez
menos. Por outro lado, eventos como Com a situação atual do mercado
a ComicCon são verdadeiros sucessos. editorial, como você vê a produção
Como você vê essa questão? independente de quadrinhos?

Alguns autores, como Grant Morrison e Publicar seu próprio trabalho sempre vale
Mark Millar, dizem que o mercado tem a pena. Ver suas histórias ganharem vida
ciclos de alta e baixa a cada 12 ou 15 anos. no papel e poder se abrir para elogios e
criticas (os dois sempre andam juntos)
Acho que é uma teoria válida, e assim é o que, ao meu ver, possibilita o avanço
um mercado em alta inspira jovens a profissional e pessoal.
fazerem suas próprias HQs, mesmo se
eles começarem a publicar numa época É muito bacana, apesar de todas
em baixa, o que por sua vez esquenta dificuldades de financiamento, trabalho
o mercado, muitas vezes gerando uma duro, desavenças entre amigos, colegas,
alta… etc, tanto no Brasil quanto na Inglaterra
ou EUA.
Temos então um ciclo de produção
e investimento que se renova e Mas as recompensas também são várias:
retroalimenta de tempos em tempos – treino, aperfeiçoamento, amizades para
e isso também explica porque reboots, a vida toda, contatos profissionais e,
continuações e novas versões tem tanta com alguma sorte, uma carreira, seja
força no mercado de entretenimento, autoral ou contratado.

45a
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Provavelmente “The Coldest City” foi Ele já tinha escrito a história e descrito Tirando o fato de “The Coldest City” ilustração ou jogos, ou dão aula, para
o seu maior sucesso. Como correu o os personagens. Eu fiz alguns rascunhos ter sido um grande sucesso e ido parar pagar as contas. Viver exclusivamente
projeto junto com Antony Johnston? dos personagens principais, baseados no cinema, no geral é possível viver de HQ é para poucos, aqui ou lá fora.
exclusivamente de quadrinhos?
Conheci o Antony Johnston em 2004, em em pessoas da família e alguns amigos,
uma convenção de HQ na Inglaterra. Em e logo comecei a desenhar a HQ. Dei muita sorte do graphic novel ter O seu avô trabalhou no MI5, divisão da
2010 me fez o convite para desenhar virado filme. Digo que foi o pior preço por inteligência britânica. Isso contribuiu
Coldest City (inicialmente Cold City) pois Mesmo sendo a primeira vez trabalhando página que já recebi (a Oni Press é uma de alguma forma no desenvolvimento
juntos, ilustrar a HQ foi tranquilo, pois o editora de tamanho pequeno para médio) de “The Coldest City”?
achou que eu poderia fazer jus ao estilo
noir que ele queria na arte. roteiro do Antony é claro e eficiente. e ao mesmo tempo o melhor. A personalidade da Lorraine me lembrou
minha avó: durona, fria, independente.
Com isso, pude fazer alguns projetos Visualmente, o Antony só tinha pedido
autorais que estavam me coçando para que ela tivesse uma beleza mediana,
H A R T

H A R T
produzir – Projeto Mega-Ultra Super cabelo escuro (irônico, considerando a
Secreto, 10 Dias Perdidos - e duas mudança no visual e nome para o filme)
cartilhas, sobre Guarda Compartilhada e e usasse sobretudo. Já que eu estava
Alienação Parental. fazendo essa homenagem a minha avó,
resolvi também colocar meu avô e alguns
Acho que no Brasil, no momento, só dá familiares, todos falecidos, como base
S A M

S A M
para viver exclusivamente de quadrinhos para outros personagens.
se trabalhar para Maurício de Sousa ou
desenhar para DC ou Marvel. Essa inspiração visual não influenciou
a HQ, que já estava escrita, nem na
E N T R E V I S T A :

E N T R E V I S T A :
Mas isso não é só aqui: nos EUA e narrativa visual, mas foi uma boa razão
na Inglaterra 80% dos desenhistas e para remexer em antigas fotos e histórias
roteiristas de HQ fazem trabalhos para da família. Me senti mais próximo deles
outras mercados, como publicidade, por algum tempo.

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Curtas H E AV Y M E T A L O N L I N E

B E M M A I S Q U E U M A TAT U A G E M O Internet Archive é uma biblioteca


virtual sem fins lucrativos onde
Semicolon” (Projeto Ponto e Vírgula) acumula milhões de livros, filmes,
começou na primavera de 2013, quando musicas, softwares, websites e muito
a fundadora do projeto, a americana Amy mais, tudo de graça e legalizado.
Bleuel, quis honrar o seu pai, que sofria de
depressão e se suicidou em 2003. Recentemente o arquivo teve um
acrécimo importante: a coleção da
A ideia virou uma campanha de apoio revista Heavy Metal, uma das mais

C U R T A S
à saúde mental e prevenção ao marcantes revistas de quadrinhos da
suicídio, e depois virou uma organização história e que fez a cabeça de gerações
sem fins lucrativos para tentar ajudar com as suas histórias de ficção
todos aqueles que necessitam de ajuda, científica, surrealismo e fantasia, com
onde pessoas com os mesmos problemas a participação de várias estrelas dos
partilham experiências - e esperanças... e quadrinhos como Moebius, Corben,
Muito mais do que uma simples moda, a a tatuagem. Bilal, Liberatore, etc.
tatuagem do sinal gráfico ponto e vírgula
(;) tem um significado importante. O sinal tatuado passou a representar um O arquivo disponível vai desde a
símbolo de união e apoio entre aqueles edição nº1 de abril 1977 até metade
Tem sido usado por pessoas que sofrem que o possuem. E muitos tatuadores dos anos 90... ou seja, o período
ou sofreram de depressão profunda. E oferecem de graça essa tatuagem. mais fértil da revista:
nos casos extremos, onde pessoas com
depressão podem tentar o suicídio, o sinal Segundo o site, o projeto já ajudou 5.2 https://goo.gl/5xyZss
ponto e vírgula existe para lembrar que milhões de pessoas pelo mundo:
aquele momento NÃO é um ponto final...
apenas uma pausa para decidir seguir em
frente e começar uma nova fase na vida. https://projectsemicolon.com/

A ideia original recebeu o nome “Project https://goo.gl/qtJec7


N O R M A N B AT E S PA R A M O N TA R

O site Haunted Dimensions


MAIOR MURAL DO MUNDO disponibiliza de graça uma série de
modelos de casas (e túmulos!) para
O mural do artista brasileiro Kobra montar em papel, mas sem dúvida a
acaba de ser reconhecido como o maior grande estrela é a casa de Norman
grafite do mundo pelo “Guiness world Bates, do filme Psicose, de Alfred
records”, o livro dos recordes. Hitchcock.

O mural foi realizado para as olimpíadas Com uma qualidade caprichada nos
Rio 2016 e tem 15 metros de altura e acabamentos e muitos detalhes, a
170 metros de comprimento. diversão é garantida, basta fazer o
download do PDF e imprimir. Para
A obra chamada “Etnias” retrata os fãs dos filmes de terror, também
retrata cinco rostos indígenas de cinco tem a casa de Amityville:
continentes diferentes: os huli, da Nova
Guiné (Oceania), os mursi, da Etiópia https://goo.gl/nX7WnU
(África), os kayin, da Tailândia (Ásia), os
supi, (Europa), e os tapajós (Américas).

51a 51b
Links de Importância Espaço Aberto
Como participar:
• GUIA DO ILUSTRADOR - Guia de Orientação Profissional
www.guiadoilustrador.com.br

• ILUSTRAGRUPO - Fórum de Ilustradores do Brasil A Revista Ilustrar abriu espaço para


os leitores, fãs e amigos que queiram ter
http://br.groups.yahoo.com/group/ilustragrupo
seus trabalhos divulgados na mais importante
Facebook: Ilustragrupo
revista de ilustração do Brasil, por meio da sessão
Espaço Aberto.
• SIB - Sociedade dos Ilustradores do Brasil
www.sib.org.br Para participar é simples: envie um e-mail com o título
“ESPAÇO ABERTO” para ilustrarmagazine@gmail.com com o
• ACB / HQMIX - Associação dos Cartunistas do Brasil / Troféu HQMIX nome, cidade onde mora, e-mail e site que pretenda ver publicados,
www.hqmix.com.br uma autorização simples de publicação dos trabalhos na revista, e
no mínimo 7 ilustrações a 200 dpi (nem todas poderão ser usadas).
• UNIC - União Nacional dos Ilustradores Científicos
Facebook: UNIC A Ilustrar vai disponibilizar para cada artista selecionado 4 páginas
inteiras. Por isso escolham seus melhores trabalhos. Esta pode ser a
oportunidade de terem seus trabalhos publicados ao lado dos maiores
• AEILIJ - Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil profissionais do mercado.
www.aeilij.org.br
ESPAÇO ABERTO, o seu espaço na Ilustrar Magazine.
• ADG / Brasil - Associação dos Designers Gráficos / Brasil
www.adg.org.br

• ABRAWEB - Associação Brasileira de Web Designers


www.abraweb.com.br

• CCSP - Clube de Criação de São Paulo


Aqui encontrará o contato da maior parte das agências de publicidade
de São Paulo, além de muita notícia sobre publicidade:
www.ccsp.com.br
Ilustração: Leandro Lassmar

52a
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de apoio, ajuda ou subsídio, mas feita por um grupo de ilustradores
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