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Escola de Direito de Brasília

O problema da política na Antiguidade – justiça e


governo em Platão

Jezyel da Silva Rocha


RA: 1911781
PROFESSOR: Henrique Smidt Simon
Turma: DIR_1N Sala: 105 (Noturno)
Plano e Motivos da República

A obra de Platão, República, tem como tema principal a conduta humana, atendo se
principalmente aos problemas da vida política e moral, no entanto, não há como
compreender o homem separando o seu comportamento de suas ideias, sendo assim,
entende-se Republica a combinação entre o pensamento do homem e as leis que os
regulam.

Platão defendia a ideia do socialismo dizendo que evitaria um conflito entre a oligarquia
e a democracia que existia na Grécia em decorrência da luta entre os ricos e os pobres e
com isso traria a ideia de um tratado econômico. Aristóteles se coaduna com o
pensamento de Platão e afirma que o comércio é uma forma de roubo. A obra de Platão
já fora interpretada como uma aversão ao capitalismo do seu tempo e pela busca de uma
nova ordem social.

Por mais que exista essa discordância entre a ciência econômica e República, o objetivo
maior da obra foi de criticar o modo como os Sofistas estavam ensinando a política,
pois para Platão eram eles e não Sócrates quem estava corrompendo os jovens daquela
época. De acordo com Platão, os Sofistas traziam consigo uma nova ideia de “justiça”
voltada para o prazer e que a autoridade governamental era para garantir apenas seus
fins pessoais. Todavia para Platão justiça era sinônimo de uma qualidade espiritual em
que se pensava no bem de todos. O Estado não era objeto para proveito pessoal, mas um
órgão voltado para o bem-estar geral. O foco não deveria ser o da satisfação individual,
mas o espírito coletivo. Platão restaurou um senso consciente de harmonia entre os
interesses do Estado e do indivíduo, paralisado pelos sofistas radicais.

O individualismo excessivo tomou conta do Estado da Grécia, mas Platão toma uma
atitude radical, da mesma forma como quando tinha um tom conservador para falar com
os sofistas. Ele aponta duas falhas: a ignorância presente todo tempo, velada pela
sabedoria; e o egoísmo político. A República traz como finalidade a “especialização” e
a “unificação” como meio de substituir a incapacidade dos governantes.

A ignorância era considerada por Platão uma praga para democracia. Em Atenas, por
exemplo, todos podiam participar de reuniões e influenciar nas decisões - era um
sistema injusto. A reforma política apresentada por Platão foi motivada por conta dessas
práticas de individualismo e do egoísmo que fazia do Estado um ganho pessoal que
conduzia a uma divisão entre os ricos e os pobres, os opressores e os oprimidos. Este
era um vício da oligarquia, governo de poucos.

O problema não existia só na oligarquia, mas também da democracia (governo de


povo). As autoridades, na democracia, recebiam do Estado pelos serviços prestados,
mas faziam uso do seu poder para tirar mais dinheiro dos ricos. A política era fonte de
lucro tanto na oligarquia quanto da democracia.

Plantão recebeu a missão de reestruturar a autoridade imparcial do Estado da Grécia


diante dessa mistura de politica e economia garantindo um governo que não trouxesse
essa rachadura entre ricos e pobres. Um governo acima dessas duas classes.

Outro fator que indicava uma futura reforma na vida política grega para Platão foi o
amadorismo nos negócios públicos(eutrapelía) e a partir daí cria o princípio da
especialização em resposta aos que defendiam a eutrapelía. Os sofistas e a realidade
grega, no entanto, não mostravam relutâncias contra a especialização. Surge, então, o
soldado e orador profissional. A especialização trouxe resultados: a vitória de um
exercito de profissionais, mal armados.

Os governantes, os militares e os agricultores são três classes que Platão chamou de


Estado ideal. Eles são divididos, cada um, em funções especificas. Para Platão os
governos e os militares são entregues ao serviço público e não havia que se falar em ter
propriedade privada e quaisquer outros interesses que senão ao interesse público.

A especialização defendida por Platão era acompanhada da ideia de unificação. A


definição das competências de cada um não deixava margem para questionamentos de
quem faz o quê, quem pode o quê. A ausência de especialização era acompanhada de
conflitos de interesses, porque pessoas sem posições definidas tendiam a disputar por
cargos definidos. Com a especialização, temos o desaparecimento do egoísmo. Mas
Plantão foi mais incisivo e disse que a especialização tinha que vir acompanhada de
uma aprovação por sistema seletivo. Servia para identificar a predisposição da pessoa
em acreditar que sua sorte está vinculada à do Estado.

As Teorias da Justiça Prima Facie

1.Teoria de Cefalo: Tradicionalismo


Justiça, para Cefalo, é dizer a verdade e pagar as dívidas. Para seu filho Polemarco, é
dar a cada um o que lhe é próprio. O termo “próprio” trouxe a ideia de justiça como
uma arte ou faculdade. A arte de fazer bem aos amigos, e o mal aos inimigos. Mas
Polemarco é obrigado a abandonar sua definição pois é antagônica, passível de erro do
que é amizade e que a justiça não pode comportar o “fazer o mal”.

2.Teoria de Trasímaco: Radicalismo

Duas posições de Trasímico:

Para Trasímico, Justiça pode ser considerado o interesse do mais forte. Cada indivíduo
tem sua força que é limitada pelo poder do Estado que é o mais forte da relação e que
impõe sua força nos seus próprios interesses. A conduta dos membros da comunidade é
a vontade do próprio governante.

Justiça é aquilo que traz vantagem para o governante. Para a população é entendida
como “o bem de outrem”. O homem sábio será justo, para satisfazer a vontade egoísta
do governante, mas, se puder, será injusto para satisfazer sua própria vontade. O homem
deveria inverter os papeis éticos, para encaixa-os à “realidade”.

Platão opõe a ideia de Trasimico dizendo que a o objetivo de toda arte é o bem do seu
material e que o homem justo é mais sábio, mais forte e feliz do que o injusto, pois
reconhece a necessidade de limite para a sua conduta.

2.Teoria de Glauco: Pragmatismo

Para Glauco, a justiça é uma criatura do medo em que pessoas se unem e fazem um
“contrato social”, pode ser explicito ou não, determinando a conduta que consideram
apropriada. Essas pessoas sofrem injustiças livremente, sem qualquer restrição.

Mas Platão responde Glauco dizendo que justiça não depende de um poder exterior, mas
ela se internaliza. Que o sentido de justiça está intrinsicamente ligado a entender o
homem interior.

A Construção do Estado Ideal

Platão buscou fazer analogia entre Estado e o indivíduo porque acreditava que não
existia em separado a consciência individual e a consciência do Estado. A vontade do
Estado era a vontade dos cidadãos agindo como membros do Estado. O Estado é um
produto da alma humana.

Para explicar a o Estado como produto da alma humana, Platão usa a concepção ternária
da alma: o desejo(prazer), a razão(sabedoria) e o espírito (senso de honra). Ele diz que a
composição equilibrada da alma corresponde a um Estado autêntico e que desvio nesta
composição corresponderia a uma corrupção do Estado.

Fator Econômico

Aqui Platão tem como ponto de partida o apetite(desejo) que envolve uma certa forma
de união. Platão justifica a especialização do ponto de vista econômico dizendo que ele
assegura maior facilidade e volume de produção.

Fator Militar

O Estado aqui é visto como uma estrutura militar ligado no “espírito” e não mais numa
organização econômica fundada no apetite. A especialização leva a eficiência e a
soldados bem treinados.

Fator Filosófico

Aqui temos a razão. E ao lado da razão temos o elemento espírito que auxilia a
organização militar do Estado. É a razão que guia o soldado nas suas ações
diferenciando, por exemplo, um cidadão e o seu inimigo. Mas a razão aparece também
na sua forma pura quando ligamos ao Estado.

Nota-se que cada elemento da alma simplifica a ideia de Platão. O apetite une os
homens pelo fator econômicas, o espírito pela organização dos militares e a razão
mantém a unidade entre eles.

As Classes do Estado Platônico

O Estado Platônico é construído em divisão de trabalhos entre três classes


especializadas: os governantes, os militares e a classe produtora. Essas classes
correspondem aos três elementos: apetite, espírito e razão.

Essa analise do Estado como produto da alma humana leva Platão a atribuir o direito de
governar a uma destas classes. Para separar os vários elementos da mente, Platão usa a
“contradição”. A razão que impedi que os demais elementos interfiram uns com os
outros. Temos, então, a noção de “separação” da mente.
Para Platão a divisão das classes não será sacrificada, ao contrário, a divisão abre
oportunidades para o desenvolvimento de todas as faculdades do indivíduo.

A Justiça Platônica

O ponto central de Platão é a da separação e especialização. A especialização é a


vontade de não se envolver nos deveres de outras classes. A justiça para Platão não via
o individuo como uma unidade isolada, mas como parte do todo acompanhado de um
autocontrole que forneceria harmonia ou ajustamento das diversas funções caso se
tornasse deficiente a justiça.

A justiça para ele não se pretende ser “legal” ou “jurídica”, mas uma concepção da
moralidade social.

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