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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA - Campus Grande Florianópolis

Curso: Psicologia
Unidade de Aprendizagem: Fenomenologia
Prof.: Zuleica Pretto
Acadêmico: Carlitos Strapazoli
Palhoça, 30 de dezembro 2014.

FICHAMENTO DE RESUMO

CERBONE, David R. Fenomenologia. Editora Vozes Limitada, 2013.

A Fenomenologia trata do estudo da experiência, não com foco no objeto


experienciado, mas nas estruturas essenciais da experiência. Cerbone aborda os quatro
principais autores da escola, a saber: Husserl (fundador), Heidegger, Sartre e Merleau-Ponty e
alguns de seus críticos: Lévinas, Derrida e Dennett.

HUSSERL

Husserl considera as ciências naturais inadequadas para explicar a idealidade. Para


este, as ciências naturais tentam explicar a lógica em termos psicológicos, tornando-se assim,
normativa. O resultado é o relativismo.
As relações entre conteúdos ideais no processo de pensar revelam que há aspectos não
psicológicos na psicologia. Não podemos captar todas as possibilidades, a essência dos
objetos, pois os objetos transcendem nossa experiência.
A redução fenomenológica é apenas o primeiro passo; a partir daí pode-se começar a
responder questões ideais à fenomenologia. Tais como:
Que estrutura deve ter uma experiência a fim de ser uma experiência?
Como é possível a experiência alcançar um objeto?
Como é possível a intencionalidade?

Aspectos da estrutura da experiência:

a) Sucessividade;
b) Retenção;
c) Protensão (junto com a protensão e a presente formam o horizonte da experiência);
Noema
d) Adumbrações (os vários aspectos de um objeto); Noesis
e) Noesis: processo sintetizador dos vários momentos da experiência;
f) Noema: aquilo em virtude do qual o processo é dirigido.

O ego transcendental

O ego transcendental não é um “segundo eu” ou um sujeito além de minha


subjetividade mundana. O ego também é o que fica manifesto na experiência, assim como
objetos são constituídos no fluxo da experiência, o mesmo se dá com o ego.

Segunda Redução (redução eidética)

- Variações infinitas nas características dos objetos;


- Variações na constituição particular do investigador.

HEIDEGGER

Heidegger leva a fenomenologia para o estudo do ser, para ele devemos investigar a
pré-ontologia do ente humano (ou Da-sein).
Segundo o filósofo é a totalidade que torna um utensílio o que é, ou seja, é pelas suas
funções que os objetos são significados. Mesmo que os objetos tenham funções diferentes
para cada pessoa existem valores medianos comuns a todos (Das Man).

Ser e Tempo

Para Heidegger o Da-sein é diferente dos objetos ordinários, pois está sempre adiante-
de-si-mesmo, projetando-se em suas possibilidades. Há também o aspecto determinado do
Da-sein (Befindlichkeit), que diz respeito à sua história. E a “queda” que descreve o momento
presente do Da-sein.

Befindlichkeit | Queda | Projeção


Ser e Tempo II

Ao nos deixarmos levar pelas normas do Das Man negligenciamos nossa capacidade
de autodeterminação, somos nivelados pela compreensão média. Para Heidegger devemos ter
propriedade sobre nosso discurso senão ele torna-se apenas um falatório. Sair da
inautenticidade requer passar por angústia, ser um ser-para-morte (consciente da
inevitabilidade da morte e fora da tranquilidade do Das Man), entendendo a morte como sua
possibilidade mais própria, não relacional e insuperável.

SARTRE

Sartre acredita estar errada a concepção de Husserl:


Ego – Cogito – Cogitatum
Eu – Noesis – Noema
Para o pensador francês o ego não pode existir como fundamental na consciência, pois
só chegamos até ele através da reflexão, o que quebra a redução fenomenológica de “aceitar o
que é oferecido como se apresenta e somente nos limites em que se apresenta”. Em nossa
experiência automática não há ego, mas quando refletimos este aparece.
Um exemplo seriam nossas sensações que aparecem de forma não adumbrativa (pois
são completas) e nossos sentimentos (que seriam adumbrativos, pois se mostram apenas em
parte); pensar odiar algo pode ser um engano, pode ser apenas a conclusão leviana tirada de
sucessivos momentos de repulsa. O ego então seria um conector de estados, ações e
qualidades. A percepção que tenho de meu ego seria menos precisa do que os outros têm.

Ser e Nada

 Ser é também não ser (ser algo é negar uma série de outros algos);
 Os juízos negativos são fundados no nada;
 O ente humano é o ente por meio do qual o nada chega ao mundo.

Má-fé

O ser é constituído em parte por sua facticidade e em parte por sua transcendência, ao
tentar se identificar com apenas um destes aspectos estaria agindo de má-fé.
MERLEAU-PONTY

Husserl em Ideias II postula:

a) O corpo é algo que aparece na experiência como um tipo de coisa categoricamente


distinto.
b) O corpo e a autoexperiência corporal desempenham um papel essencial com
respeito à possibilidade de formas diferentes de intencionalidade.

Quando experiencio uma rede elaborada de condicionais registra “experiências


possíveis”.

Merleau-Ponty opõe-se às principais ideias do empirismo:

 A percepção é a recepção e tradução de estímulos independentes;


 Cada modalidade sensível é independente (o que vejo é diferente do que toco);
 A percepção dos objetos é a soma dos estímulos;
 Emoções são provocadas pela experiência perceptual, não são parte dela.

Sua crítica:

a) As unidades sensíveis não são independentes, percebo “algo” contra um fundo;


b) Proximidade, similaridade, não importa: não se podem explicar relações internas a partir
das externas;
c) Há sempre muita subjetividade ou muita objetividade;
d) Hipótese da constância (mesmos estímulos, mesmas experiências);
e) Ignoram a significação particular dos objetos para o sujeito.

Crítica ao intelectualismo:

a) Os juízos são formados sobre a experiência perceptual:

Mesmo depois de informados da ilusão ainda percebemos as


flechas em tamanhos diferentes.

Membro Fantasma

A ausência de uma representação versos a representação de uma ausência. É assim que


Merleau-Ponty enxerga as explicações empiristas e intelectualistas ao membro fantasma.
Para os intelectualistas o caso de Schneider é que ele apenas consiga executar ações
concretas (greifen), mas nunca abstratas (zeingen). Esse dualismo pode até explicar o caso,
mas e quanto às pessoas normais? Para o autor, o que falta a Schneider é projeção
(intencionalidade motora), e que ter consciência, ser corporificado e estar em posse de um
mundo são aspectos sobrepostos de nossa existência.

CRÍTICOS DA FENOMENOLOGIA

LÉVINAS

Lévinas afirma que o outro não é completamente manifesto na experiência. Olhando


para a posição dos outros autores temos:

Husserl: “a possibilidade do ser para mim de outro é desconcertante”


Heidegger: Afirma que o problema do outro é um pseudoproblema, que o outro, assim como
eu é um ser-aí-também.

Sartre: O outros tem lados que me “escapam”.

Para Lévinas o encontro com o outro é marcado pelo que ele chama de face. A face
pode se referir à recusa ou à imprevisibilidade do outro. Quando olho um determinado objeto
ordinário posso “prever” sua essência, algo que não posso fazer no contato com o outro, até
porque existem aspectos que ele pode se recusar a revelar como também aspectos que o
próprio desconheça. A face envolve então uma apresentação ética em vez de ontológica, pois
tentar resumir o outro é anular as diferenças existentes entre nós (violar o infinito da
transcendência), diferença essa que se apresenta no discurso.

DERRIDA

Para Husserl a linguagem se daria em dois níveis: indicação e expressão (significante e


significado, usando termos saussureanos). Ele acredita que é possível eliminar a indicação,
por estar ligada ao caráter empírico da linguagem, deixando apenas a “pura expressão”.
Derrida argumenta que isto é impossível, pois o signo não é um evento, mas possuidor de
iterabilidade. Como a vida mental é também permeada por indicações, ela busca significados
que estão ausentes, tornando a busca por algo essencial na consciência inexequível.

Segundo Derrida:

O signo é sempre parte empírico, parte transcendente, o que Derrida chamou de


differance.
DENNETT

Dennett considera a introspecção um método falho, pois é muito passível de erro,


propondo então sua heterofenomenologia como método adequado.
Na heterofenomenologia, uma terceira pessoa observa o comportamento do sujeito da
introspecção adotando o que ele chama de “postura intencional”, que significa observar os
padrões e desvendar a intenção por detrás destes. Ele ainda alega que se deve tomar cuidado
para não confundir padrões “como-se” com intenções genuínas.
Seu modelo de “Rascunhos Múltiplos” afirma que existe a todo tempo uma série de
“esboços” ocorrendo em vários lugares do cérebro, mas que nunca há um produto final.

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