Você está na página 1de 2

Umas após outras as casas se levantam

e tombam; desmoronam, são ampliadas;


removidas, destruídas, restauradas; ou em seu lugar
irrompe um campo aberto, uma usina, um atalho: velhas
pedras para novas construções, velhos lenhos para novas
chamas, velhas chamas em cinzas convertidas,
e cinzas sobre a terra semeadas

T S ELIOT

A publicação de um autor desconhecido, no Brasil, passa por um processo que


reflete o país, onde se lê pouco, não há Educação e, consequentemente, o
assistencialismo ainda elege presidentes. Não por acaso há um “filho do
Brasil” nas livrarias...

Não se ignora que o mercado do livro, como outro qualquer, visa o lucro –
porém isso está longe de justificar a tamanha dificuldade da publicação do
primeiro livro, ou mesmo de um segundo ou terceiro cujo autor não possua
renome. Porque o que se publica, nesse mesmo contexto nem sempre produz
esse resultado e o que se não publica muitas vezes dá indícios que poderia ser
muito melhor sucedido se publicado fosse.

O avanço tecnológico, como em tudo, escancarou o que antes apenas se


supunha: com a possibilidade de qualquer pessoa publicar seus textos na
internet, vemos que a maior parte dos escritos inéditos em papel não tem
qualidade literária propriamente dita, nem essa virtude das entrelinhas de um
livro que é o potencial de venda, ainda que a qualidade seja questionável.

O fato é que o mercado editorial brasileiro envelhece na mesma medida que


seus autores consagrados. Quando uma editora não reconhece o potencial de
vendas de um dos maiores fenômenos de vendas de todos os tempos, entende-
se que algo está errado nessa política “do lucro” das editoras; quando você
pega o texto de um autor agraciado com o Nobel e, como teste, o envia a
várias editoras, recebendo o mesmo não que seus próprios textos receberam,
está claro que a questão não é necessariamente qualidade.

E qual é a questão? O autor estrangeiro consagrado, como qualquer outro, é


também uma aposta, o que destrói o argumento dos altos custos como
justificativa para publicá-lo e não a um inédito. Com uma parte desses custos
empregada para avaliar criteriosamente originais nacionais, os resultados
poderiam ser diferentes, porque, por exemplo, o estrangeiro exige um
investimento extra e não está próximo para a divulgação (ainda que a mídia
faz um divulgação tão eficiente num primeiro momento quanto ilusória a
médio prazo e o autor que se viu içado aos primeiros lugares de vendas por
um programa de TV, logo, cairá no esquecimento). Mas é aí, justamente em
relação ao produto-livro e não ao livro como obra-de-arte, que se torna
manifesta a visão tacanha dos editores e a absoluta falta de ousadia, que em
qualquer outro mercado é fatal.
Se nem qualidade nem potencial de venda são garantias, surge a “linha
editorial da empresa” como motivo de escolhas. Todavia essa linha é apenas
um eufemismo com que se aplaca o entusiasmo do autor, que então, embora
não publicado, fica sabendo que sua obra “tem qualidade” e a única razão de
não ter sido aprovada foi a tal da linha. Mas se um autor consagrado,
sabidamente vendável, se oferecer àquela mesma empresa, subitamente a
linha editorial o abarcará feliz, ainda que nada tivessem a princípio em
comum.

A questão não é que em outros países seja fácil a publicação, mas que, em
algum momento, existirá a avaliação séria dos originais. Como poderá um
profissional qualquer conseguir chegar a um alto cargo sem o primeiro
emprego? No Brasil, não há – exceto pelas exceções – a figura do agente
literário, o que retira dessa relação entre escritor e editor um mediador
importante. Proust e Joyce serão rejeitados num primeiro momento,
Kerouac e Grisham ao longo de anos, mas a possibilidade de publicação
sempre existirá. Aqui, rejeitado uma vez, rejeitado para sempre.

Talvez a resposta esteja não nas editoras, fadadas mais cada vez a terem de
encontrar novos caminhos para sobreviver e certamente despreparadas para
isso, mas nos leitores. Um dia descobrirão que o brasileiro lê, sim; que vale a
pena investir em livro; que os livros eletrônicos não substituíram os de papel.
Enfim, como em todo mercado, havendo demanda, haverá oferta e, havendo
oferta, haverá a sua diversificação e, um dia, porque há leitores para novos
autores, haverá editoras para lançar os seus livros.

Você também pode gostar