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gua. M32. HERBERT MARCUSE “4 RoC b eet rae | RAZAO E REVOLUCAO HEGEL E © ADVENTO DA TEORIA SOCIAL | AK 4 ie ‘Tradopio de MARILIA BARROSO BIBLIOTECA : | EDITORA SAGA INTRODUCAO 1, O cenario sécio-histérico © idealismo aleméo foi considerado 2 teoria da Revo- lugdo Francesa. Isto no significa que Kant, Fichte, Schelling ¢ Hegel tenham elaborado uma interpretagio tedrica da Re- volucdo Francesa, mas que, em grande parte, escreveram suas filosofies em resposta a0 desafio vindo da Franga & reorga- nizagio do estado e da sociedade em bases racionais, de modo que as instituigdes sociais e politicas se ajustassem & liber- dade © sos interésces do individuo. Apesar de sua severa ccitica ao Terror, os idealistas alemées saudazam undnime- mente a Revolugio, considerande-a 0 despontat de uma nova 8, € sem excecdo, associaram seus principios filoséficas asicos aos ideais que ela promovera, As idéias da Revoluggo Francésa surgem, pois, no = dos sistemas idealistas, determinando, sob muitos aspecfos, sua estrutura conceltual. A Revolugéio Francesa, aos olhos ° dos idealistas alemaes, n8o 56 abolira o absolutismo feudal, substituindo-o pelo sistema econdmico ¢ politico da classe inédia, mas, 20 emancipat © individuo como senhor auto- confiante de sua vida, coimpletara o que a Reforma Alema havia comesado. A situagso do homem no mundo, seu tra- batho e lazer, deveriam, doravante, depender de sua propria atividade racional livre e ndo de qualquer autoridade externa. © homem superara 0 longo periodo de imaturidade, durante © qual fora oprimido por esmagadoras forces natucais © 50- Giais, e se tornara 0 sujeito auténomo de seu préprio desen- volvimento. Dai em diante, a Iuta contra a natureza ¢ contra 1s fa organizagdo social deveria ser orientada por seu proprio progresso no conhecimento. Q_mundo deveria tornar-se uma cordem,de razio. 8° Ge ideals da Revolugéo Francesa .encontraram suporte 1s processos do capitalismo industrial. O império de Napo- Tiquidara com as tendéncias radicats da Revolugio con- solidando, ao mesmo tempo, suas conseqiléncias econdmicas. Os filésofos franceses daquele periodo associeram a realiza- Gio da razdo & expansio da indGstria. A crescente produsgo industrial parecia capaz de fornecer todos os melos necessa- sigs para satisfazer as necessidades do homem. Assim, ao ‘tempo em que Hegel elaborava seu sistema, Saint-Simon, na Franca, exaltava a inddstria como 0 nico poder capaz de conduzi os homens a uma sociedade livre ¢ racional. O pro- cesso econdmico, aparecia como o fundamento da razao, ‘© desenvolvimento econdmico na Alemanha ficara muito atrés do da Franga e Inglaterra. A classe média alema, fraca f dispersada om numerosos territérios com interésses diver- gentes, dificilmente poderia projetar uma revolugéo, Os pou- fos empreendimentos sadustriais existentes eram como que ithas dentro de um sistema feudal que se eternizava, O indi- viduo, na sua existéncia social, ou era escravizado ou escra- vizava seus semelhantes. N&o obstante, poderia ao: menos perceber, enquanto ser pensante, o contraste entre a reali- Gade miserdvel que existia por thda parte € as potencialida- dades humanas que a nova época liberara: ¢, como pessoa moral, poderia preservar a dignidade e a autonomia humanas, pelo menos na sua vida privads, Assim, enguento# Revel fo Francesa comegava por assegurar_a realizacio da liber- Gade, 20 idealismo aleméo cabia apenas se ocupar com_@ idéia da libetdade. Os esforcos histéricos concretos para_o estabelecimento de um tipo de sociedade racional haviam side transpostos, na Alemanha, para_o plano filoséfico e trenspa- feclan nos’ esforgos para elaborar 0 conceito de Tazdo. ? ‘Tal conceito esta no cemne da filosofia de Hegel. Bste sustenta que 0 pensemento filosofico nada.-pressupse al da razdo, que a historia trats da razdo, ¢ sémente da 1 e que ovestado € a realizacio da razdo. Estas alicm no so compreensiveis, porém, se a razA0 {6r tomad 16 1 tim puro conceito metalisico, pois a idéia que Hegel fazia da razdo, preservava, lainda que sob forma idealistica, os esforgos materiais no’ sentido de uma vida livre e rational [A divinizagao da razid por Robespierre, que @ considerava ° Btre supréme * esta correlacionada como a exaltacéo da r3- zo no sistema de Hegel. © nécleo da filosofia de Hegel @ as estrutura formada por conc iberdade, sujeito, espiri ‘Ge Ge Spreende com clareza o sentido de tais conceitos, & fiia intrinseca correlagio, 0 sistema de Hegel apareceré como ¥ obscura metalisica que de fato nunca foi. "© proprio Hegel zelaciona seu conceito de razo 8 Re- Goluggo Francesa, e o faz com grande énfase, A revolucéo = jchavie exigide que “nada fésse reconhecido como valido em “ima constituigo que nfo estivesse de acordo com o dizeito Edda razdo" (1). Hegel elaborou mais precisamente esta exi- EF goncia em suas dissertagdes s6bre a filosofia da historia: “Ain- Fiida néo se havia percebido, desde que 0 sol se fixara no fie- -Cnianiento, os planétas girando a sua volta, que a existéncia BE -Anaxagores foi o primeiro a dizer que 0 Nous ** governa 0 jnundo; nunca, porém, até agora, atingira o homem a com- qual. Todos os séres (O'homem se dispés 2 organizer a reali ° EExigéncias do, seu pensamento racional livee, em lugar d iniplesmente se acomodar & ordem'-éxistente e aos valores 4 W.

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