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P524f
Fi l osof i a par a cor aj osos / Lui z Fel i pe Pondé. - 1. ed. - São Paul o :
Pl anet a, 2016.
1. Fi l osof i a. I. T í tul o.
CDD
16- 100
32902 CDU
1
2016
Apenas na per sonal i dade há v i da; e t oda a per sonal i dade se assent a
num f undam ento som br i o, que, não obstante, t em t am bém de ser v i r
de fundam ent o ao conheci m ent o.
APRESENTAÇÃO. UMAFILOSOFIAPARACORAJOSOS
Um a f i l osofi a em pr i m ei r a pessoa
CAPÍTULO 1
Alguns reparos int rodut órios ant es de ir para o que int eressa
Quero ser livre quando penso: filosofia em primeira pessoa como liberdade de
pensamento e ação
Metafísica
O sobrenat ural
Deus existe?
Mat erialismo
Moral ou ét ica
Hedonismo
Cer t a f ei ta, dur ant e um a f est a de f i m de ano num a das i nsti t ui ções em
que sou pr of essor , um a col ega, um tant o chocada com o que eu di zi a
sobr e a educação, m e per guntou: “ Com o assi m , v ocê não acr edi t a na
educação? Ent ão por que dá aul a?” .
Respondi à m i nh a assust ada col ega que dav a aul as por
v í ci o: m e di v i r t o dando aul a (o que em f i l osof i a si gni f i ca que dou
aul as por r azões est éti cas, ou sej a, por que m e si nt o bem f azendo
i sso, l ogo, por que gost o). O choque na m esa foi ger al . Vou ex pl i car
m el hor essa passagem par a v ocê ent ender , por que acho que v ocê
dev i a t om ar m ui to cui dado com os pr of essor es e coor denador es das
escol as de seus f i l hos.
O pr oj eto de ed ucação m ai s ant i go conheci do é o de
Pl at ão, aut or de A repúbli ca (em gr ego Poli t ei a). Nessa ci dade i deal ,
nessa m ãe de todas as ut opi as, j ov ens nobr es er am educados em
m úsi ca, gi násti ca e f i l osofi a. Os m el hor es m eni nos er am escol hi dos
par a cr uzar com as m el hor es m eni nas, a fi m de ger ar um a bel a
ger ação, bi ol ogi cam ente f al ando. Em gr ego anti go se di zi a “ eu (bel o)
geni a (ger ação)” . O nom e que Pl at ão dá ao pr ocesso educaci onal é
pai dei a, que par a os gr egos quer i a di zer f or m ação.
Essa i dei a de f or m ação gr ega v i ngou ao l ongo dos sécul os.
Sem ent r ar em por m enor es hi st ór i cos obsessi v os, por que m eu nom e
não é Googl e, chegam os, v i a uni v er sal i zação da educação, a par ti r do
f i m do sécul o XVI II i l um i ni sta, ao nosso t em po e às escol as por aí .
Um a f unção que as escol as têm , m as de que ni nguém
pr eci sa f al ar m ui t o, é ocupar as cr i anças. Com o m undo
contem por âneo e a at om i zação das f am í l i as (ni nguém est á nem aí
par a pai s, i r m ãos, pr i m os, t i os, av ós, e v i ce- v er sa) – em al guns
casos chegando à fam í l i a m ononucl ear , um geni t or r esponsáv el e
um a cr i ança ou duas – , ocup ar o fi l ho se t or nou essenci al , j á que nem
a m ul her quer f i car t om ando conta do r ebent o (cl ar o que ex i stem
ex ceções, que ser v em só par a r efor çar a r egr a). O r esul t ado é que, por
ex em pl o, gr ev es de pr ofesso r es de escol as públ i cas só são senti das
depoi s de m ui t o tem po e qu ando as al t er nat i v as par a as m ães i r em
t r abal har j á se esgotar am . L ogo, escol as são, t am bém , depósi t os de
cr i anças par a que os pai s v i v am . Fei o? É, si m , f ei o, m as não escr ev i
est e l i v r o par a f azer m ar k et i ng de com por t am ento par a v ocê.
Ex i st e um a ex ceção i m por t ante à atom i zação das f am í l i as:
al ém dos pobr es, por f al t a de opção (m el hor a de v i da i m pl i ca
i ndi v i dual i sm o e atom i zação), as m ul her es r el i gi osas de adesão
est r i t a f ogem bast ant e do per f i l da m ul her cont em por ânea, cuj a t ax a
de f er ti l i dade em paí ses r i cos chega a 1, 2 f i l ho por m ul her contr a
cer ca de 8, 1f i l hos por m ul her m uçul m ana na Eur opa.
M as v ol t ando ao nosso f oco: por que a educação, e sua
“ ci ênci a” , a pedagogi a, est á sem r um o? Quando eu r el at av a m i nha
conv er sa com m i nha col ega, o que eu quer i a di zer er a que um cer t o
cet i ci sm o com pr of essor es que j ur am am or à f é na educação dev e ser
cul t i v ado. Você poder á ouv i - l o j ur ar am or à educação e f al ar m al de
seus al unos. Com o di zi a Edm und Bur k e acer ca de gent e com o
Rousseau (v am os t er de f al ar del e aqui de nov o) e os j acobi nos:
“ Gent e que am a a hum ani dade m as detest a seu sem el hant e” .
Pr ofessor que di z cr er na educação cr ê na hum ani dade, m as não nos
al unos.
Não é f áci l cr er nos al unos; é m ai s fáci l cr er na
hum ani dade por que essa é um a abstr ação que cabe em qual quer
t eor i a f ei t a pel os ungi dos, cl asse de i nt el ect uai s e acadêm i cos
def i ni da pel o econom i st a am er i cano T hom as Sow el l com o “ aquel es
que acham que sabem m ai s do que t odo m undo em t odos os tem pos” .
Por i sso, o m ar k et i ng de com por t am ent o é hum ani sta: t udo é
apar ênci a e oco. A r eal i dade é que al unos enchem o saco m ui t as v ezes,
ai nda m ai s hoj e que a escol a de ní v el m édi o é um a por car i a chei a de
aut oaj uda (o al uno dev e apr ender a se am ar , aci m a de tudo) e bl á-
bl á- bl á de ci dadani a. Nada sabem sobr e geogr af i a, m as cul t uam
m andi oca i ndígena e t r ansex uai s. Os al unos chegam à uni v er si dade
sabendo nada, l endo nada, t endo um a opi ni ão sobr e t udo. T odos v ão
m udar o m undo par a m el hor , e os outr os não quer em saber de m ui ta
coi sa. Cl ar o, ex i stem as ex ceções. E aí está o gosto de quem se di v er t e
v endo nos ol hos de um al uno a descober t a de que Shak espear e sabe
m ai s acer ca do hom em do q ue el e ou seu pr of essor de hi st ór i a que
ensi nou que o Br asi l f oi “ r oubado” dos sant os Nat i ve Ameri cans.
A cada hor a se descobr e um a t eor i a nov a sobr e f aci l i tação,
negação da hi er ar qui a ou sal v ação da l av our a gr aças a essa “ i nv enção
nov a” , o com put ador . O que m ov e a educação, hoj e, al ém do f at o de
ser um busi ness, é r eduzi r a at i v i dade quase a zer o e f azer com que o
pr ofessor dei x e de ex i st i r (em al guns casos nem acho que ser i a t ão
m au assi m !). Di zer par a um pr of essor que el e dev e “ constr ui r ” a aul a
j unt o com o al uno é dar a el e aut or i zação par a não t er de pr epar ar
aul a nenhum a.
Al ém de t udo, pr o fessor , em gr ande m ai or i a, é gent e que
ganha m al e per de o tesão, com o tem po, pel o que faz, m as a pose é
essenci al nesse r am o. E cr er na educação é ex cel ent e par a m anter a
i m agem . Fal ar m al dos al unos, ao m esm o t em po que pr egar par a el es
bobagens, aj uda a passar o t em po. No f i nal , a v i da é, em m ui t o, com o
passar o t em po sem se desesper ar .
M ui t a gent e f al a q ue educação é um a questão de v al or es.
Eu acho que educação é aj udar os m ai s j ov ens a enf r ent ar essa
hum ani dade desor i ent ada que habi t a em cada um de nós.
I nf el i zm ent e, o que ocor r e é que pi car et as escr ev em l i v r os
de com o o m undo é l i ndo e de com o os hom ens são l i ndos, t odo
m undo fi ca f el i z, o pr of essor esquece a chati ce da sal a de aul a, e m ai s
um ano se passa.
E o que Rousseau t em a v er com i sso? Assi m com o el e
cr i ou a pol ít i ca com o r eden ção, el e cr i ou a i dei a de que o hom em é
bom em si e a educação é o l ugar em que essa bondade pode af l or ar se
não at r apal har m os m ui t o (l ei a o l i v r o Emí li o, ou da educação escr i t o
por el e). I ncr ív el com o gen te que l i da com gent e t odo di a pode
r epet i r um a bobagem dessa. Cr i anças são com o todo m undo:
gener osas às v ezes, i nv ej osas m ui t as v ezes, v i ol ent as se t i v er em
r azão par a i sso, am or osas sel et i v am ente. Se v ocê dei x ar , o caos t om a
conta. Esse caos que car r egam os dent r o de nós e que com bat em os di a
a di a.
A úni ca sal v ação da educação é que as bobagens que seus
t eór i cos e coor denador es i nv ent am t êm pouco efei t o sobr e os al unos
– al i ás, com o t udo o m ai s na educação. As coi sas acont ecem sem que
sai bam os m ui to bem com o acont ecem , nem conhecem os suas causas
ef i ci ent es (com o se di z em f i l osof i a par a se r efer i r ao que f az al go
acont ecer de fat o). M as cont i nuo achando que el a é i m por tante, no
m í ni m o com o espaço i nst i t uci onal , em que os j ov ens se batem com
el es m esm os e com seus sem el hant es. Aquel es m esm os que são
di f í cei s de am ar , com o di zi a Bur k e.
CAPÍTULO 20
O narcisismo
Exist e um eu verdadeiro?
O silêncio do mundo