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ESTUDO DE ESCOAMENTO MULTIFÁSICO DE GÁS NATURAL

EM GASODUTO UTILIZANDO FERRAMENTA CFD


THE CFD STUDY OF MULTIPHASE FLOW FOR NATURAL GAS NETWORK

Lucas Batista de Moura1

Ardson dos Santos Vianna Jr.2

Resumo: O gás natural vem aumentando significativamente sua participação na matriz


energética mundial. Um dos tópicos que devem ser avaliados é o transporte deste gás, que
ocorre em malha de gasodutos. Este trabalho tem por objetivo estudar a condensação que
ocorre no escoamento de gás natural não processado utilizando a ferramenta CFD. As
simulações em o software ANSYS Fluent geraram campos de velocidade e temperatura para
um trecho do gasoduto. A ferramenta mostrou-se adequada para observar condensação de
hidrocarbonetos pesados de um gás natural da Bacia do pré-sal de Santos, gasoduto Lula-
Mexilhão.

Palavras-chave: Rede de gases. Condensação. Fluxo multifásico. Fluidodinâmica.

Abstract: The natural gas is intensifying its participation in the world energy matrix. The gas
transportation is an issue that has to be evaluated. Thus, the goal of the present work is to
analyze the condensation process that occurs into a gas pipeline by using a CFD tool. The
ANSYS Fluent is used to calculate the distributions of velocity and temperature in a stretch of a
pipeline. The CFD tool was able to simulate the condensation of heavy hydrocarbons, which are
presented in the natural gas from the fields of pre-salt Santos Basin, Lula-Mexilhão gas
pipeline.

Keywords: Gas network, Condensation, Multiphase flow, Fluid dynamics.

1
Engenheiro Químico, Engenharia Química, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo,
lucas.mourab@hotmail.com.
2
D.Sc., Engenharia Química, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, ardson@usp.br.

Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018.

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1 INTRODUÇÃO

A indústria do gás natural vem apresentando crescimento nas matrizes


energéticas de vários países do mundo e, especificamente no Brasil, mostrou
protagonismo na matriz energética a partir dos anos 90; através de uma
indústria de rede, na qual as ofertas e demandas são conectadas por uma rede
física, denominada malha de gasodutos (ANP, 2014).
A principal diferença entre sistemas de transporte de gás natural
processado destinado à distribuição ao mercado ou aos consumidores e o gás
não natural não processado é o fato que o primeiro pode ser aproximado como
escoamento monofásico nos dutos permitindo algumas simplificações na
modelagem matemática do sistema; enquanto que o segundo ocorre
transferência de massa entre as fases.
D'Andréa (2016) estudou um sistema complexo de escoamento de gás
natural não processado sob o ponto de vista de apoio à gestão de negócios. O
trabalho abordou a aplicação da técnica de reconciliação (mássica e
volumétrica) de dados para o escoamento de gás natural, no qual elaborou um
método de cálculo rápido de inventário de um duto. Também foi avaliado uma
abordagem termodinâmica do escoamento e o impacto da condensação de
parte da fase gasosa ao longo do escoamento no qual resultou um menor
volume, massa e energia da fase gasosa na saída. Concluiu que se deve levar
em consideração as frações líquidas presentes no sistema para desenvolver
um balanço mais robusto e assim aproximar os dados do comportamento
esperado.
A condensação de hidrocarbonetos no gás natural está associada ao
ponto orvalho da mistura e outras condições operacionais. Paz (2011) estudou
diferentes métodos para determinação do condensado de hidrocarbonetos no
gás natural, fundamentados em modelos termodinâmicos de equação de
estado. Observou divergências nos resultados de temperaturas obtidos a partir
do modelo implementado com amostras de gás natural processado, sendo
estas diferenças atribuídas à formação de ponto de orvalho.
A fluidodinâmica computacional (CFD, do inglês Computational Fluid
Dynamics) vem sendo amplamente utilizada na análise e previsão do
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comportamento dinâmico de variados tipos de escoamento, por exemplo,
análise fluxo de óleo e água em tubulações (Coffani, 2015). Com o uso de
técnicas de CFD, parâmetros relevantes atinentes ao transporte dos fluidos
podem ser avaliados numericamente e alterados até que o resultado da
simulação atenda às exigências do projeto e até mesmo otimizar processos.
Changjun et al. (2011, p. 65-84) estudaram a condensação de gás
natural recuperado dos poços de petróleo e transportados através de
gasodutos. O artigo baseou-se em avaliar a temperatura de operação ao longo
do gasoduto e, caso fosse inferior ao ponto de orvalho, a condensação de
líquido ocorreria conduzindo um sistema multifásico. O modelo multifásico
utilizado foi o de dois fluidos e através de simplificações obteve-se um modelo
reduzido. Avaliaram-se os aspectos termodinâmicos dos componentes do gás
natural e foram estudados os efeitos do escoamento no estado estacionário e
transiente. Para resolver o modelo, os autores utilizaram o método da
eliminação de Gauss e o método de quarta ordem de Runge-Kutta. Os
resultados mostraram que o modelo e o método são viáveis comparados com
os dados de campo.
Osiadacz e Chaczykowski (2001, p. 41-51) estudaram diferentes
modelos (isotérmico e não isotérmico) no escoamento unidimensional de gás
natural, utilizando a equação de estado de Nikuradse para o cálculo do fator de
compressibilidade. Observou-se que não existe diferença significativa no perfil
de pressão ao longo do duto entre o modelo isotérmico e não isotérmico.
Quando a vazão de gás é elevada na tubulação, a diferença de pressão
aumenta e isto mostra que, no caso em que a temperatura do gás não se
estabilizar, a utilização de um modelo isotérmico conduz a erros significativos.
Chaczykowski (2009, p. 1596-1603) realizou um estudo semelhante ao
de Osiadacz e Chaczykowski (2001, p. 41-51), utilizando outras equações de
estado para o gás natural, apresentando os seus efeitos sobre os parâmetros
do escoamento no modelo não isotérmico. Neste artigo não se observou
influência significativa na escolha da equação de estado sobre os resultados da
simulação. O autor concluiu que a forma da equação de estado pode ser
considerada como um fator que contribui para os sistemas de detecção de
vazamentos.
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Abbaspour et al. (2010, p. 495-507) estudaram um sistema não
isotérmico, unidimensional e transiente utilizando o modelo homogêneo de
duas fases para simular o escoamento multifásico e utilizou como equação de
estado Peng-Robinson modificada. Os resultados mostraram que a fração de
líquido condensado é uma função da temperatura, pressão, vazão e
composição da mistura.
A condensação das frações pesadas de gás natural nas linhas de
transmissão e na presença de umidade podem levar perdas operacionais,
obstruções dos dutos e redução da capacidade de equipamentos. Naseer e
Brandstatter (2011, p. 261-270) estudaram os mecanismos de formação de
hidratos em tubulações de gás natural. Neste artigo, utilizaram a fluidodinâmica
computacional para obter uma visão dos mecanismos de condensação de
hidrocarboneto aglutinando com a umidade presente. O perfil de temperatura
do gasoduto, condensação de hidrocarbonetos e a formação de hidratos foram
modeladas com funções definidas pelos autores integrando no ANSYS Fluent.
Verificou-se que em seções de elevado aclive observa-se um acúmulo de
hidratos na região da entrada da seção.
O presente trabalho tem por objetivo estudar o escoamento multifásico
de gás natural não processado utilizando a ferramenta CFD com o software
ANSYS Fluent sob o ponto de vista de apoio a engenharia, agregando
conhecimentos teóricos no que tange a formação de condensado e o
comportamento da mistura (velocidade e temperatura) em um trecho do
gasoduto.

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1 Escoamento Multifásico

Segundo Paladino (2005), define-se sistemas multifásico como uma


região do espaço onde coexistem dois ou mais fluidos imiscíveis separados por
uma interface desconexa ou conexa. Entende-se por interface desconexa como
aquela em que as porções das fases separadas possuem grande desigualdade

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dimensional (por exemplo, bolhas dispersas em líquidos). Quando as
dimensões das fases separadas são semelhantes, a interface é dita conexa.
Os padrões de escoamento bifásico podem ser divididos em três grupos
definidos por Hubbard e Dukler (1966, p. 100-121) como: regime de fases
separadas, intermitentes e dispersas. No regime de fases separadas, ambas as
fases são contínuas, podendo ou não existir algumas bolhas de uma fase na
outra. Neste grupo abrange os regimes estratificado e anular. No regime
intermitente pelo menos uma das fases é descontínua, onde se encontram os
escoamentos pistonados e de transição. No regime de fase dispersa, a fase
líquida é contínua, enquanto a fase gasosa é descontínua.
Em dutos horizontais ou inclinados, os padrões de escoamento adotam
formas mais complexas devido ao campo gravitacional atuar
perpendicularmente à direção do escoamento (Joseph et al., 1997, p. 65-90).
São eles: 1- escoamento de bolhas (bubbly flow), 2- escoamento pistonado
(slug flow):, 3- escoamento estratificado (stratified flow), 4- escoamento
ondulatório (wavy flow) e 5 - anular (annular flow).

2.2 Equação Geral da Conservação

O movimento das partículas é representado por meio de equações


parciais que descrevem, matematicamente, a conservação de uma grandeza,
por exemplo: massa, energia e quantidade de movimento. Estas equações de
conservação, também conhecidas como equações de transporte, estão
genericamente representadas na sua forma diferencial conforme a Equação 1
(Rosa, 2005):


t
 
     U    J  S (1)

Onde ψ se refere à grandeza a ser transportada, podendo ser de


natureza escalar ou vetorial,  é o operador nabla, sendo que o produto
escalar  . representa o divergente, ρ a densidade da grandeza ψ e os termos
J e S estão relacionados a fluxos difusivos e fontes/sumidouros relativos ao
transporte de ψ (Rosa, 2005).
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2.3 Equação para Escoamento Multifásico

A análise de escoamentos multifásicos, assim como escoamentos


monofásicos, pode ser realizada essencialmente de três formas:
experimentalmente, através do uso de instrumentos em laboratório;
teoricamente, através de simplificações dos modelos; e computacionalmente,
através de tratamentos numéricos dos modelos teóricos.
Avanços na mecânica dos fluidos computacional forneceram uma visão
mais aprofundada na dinâmica do escoamento multifásico que podem aferir
resultados aproximados. Atualmente, existem duas abordagens que são
utilizadas para o cálculo numérico de escoamentos multifásicos: a abordagem
Euler-Lagrange e a abordagem Euler-Euler. Na abordagem Euler-Lagrange, as
partículas são acompanhadas individualmente e equações algébricas são
utilizadas para a descrição da interação entre elas. A abordagem Euler-Euler
baseia-se na conservação de massa, energia e quantidade de movimento em
volumes de controle localizados no domínio do escoamento.
Ao se tratar de escoamento multifásico, a adição de novas fases no
escoamento torna necessária a introdução do conceito de fração volumétrica,
que é estabelecido como a razão entre o volume ocupado por uma fase e o
volume ocupado pela mistura.
A Equação 2 descreve a conservação de massa para cada fase,
conhecida como equação da continuidade pode ser escrita para um volume de
controle cartesiano.


t
 
 i  i      i  i ui  mji  mij (2)

Onde αi, ρi e ui se refere a fração volumétrica, massa especifica e o vetor


velocidade da fase i e (mji-mij) é a taxa líquida de transferência de massa de
outras fases para a fase i, p é a pressão estática, mji é a transferência de
massa da fase j para a fase i e Fi são forças externas que agem sobre a
partícula i.

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2.4 Modelos de Escoamento Multifásico

As abordagens Euler-Euler e Euler-Lagrange são utilizadas na


elaboração dos principais modelos de escoamentos multifásicos encontrados
em softwares comerciais, como ANSYS Fluent. Nele são encontrados os
modelos Mixture, Volume of Fluid (VOF) e Eulerian para abordagem Euler-
Euler, escopo do presente trabalho.
No modelo de Volume of Fluid (VOF), o escoamento de diferentes fases
contínuas imiscíveis é simulado por meio da solução de uma única equação de
quantidade de movimento e das equações das frações volumétricas de cada
fase. Adicionalmente a equação de energia da mistura pode ser incluída no
sistema para fenômenos envolvendo fluxo térmico.
Lee (1979, p. 407-431) propôs um modelo que representa a
transferência de massa, líquido e vapor (ebulição e condensação) através da
Equação 2, baseado nas seguintes condições de temperatura. Se ocorrer
evaporação:

T  Tsat 
mji   . j  j
j
(3)
Tsat

Se ocorrer condensação:

Tsat  Ti 
mij   . i  i (4)
Tsat

Onde β se refere ao coeficiente que necessita ser ajustado e pode ser


interpretado como um tempo de relaxamento.
Neste trabalho é utilizado o modelo Volume of Fluid (VOF) acoplado com
o modelo de Ebulição e Condensação proposto por Lee (1979, p. 407-431)
para o estudo da corrente de gás natural em um gasoduto. A modelagem dos
parâmetros da Equação 4 podem ser encontrados no ANSYS Theory Guide
(ANSYS, 2009).

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3 MÉTODO

A exploração marítima de petróleo e gás natural tem como característica


a utilização de sistemas de dutos de grandes extensões para escoamento de
gás natural não processado, oriundo de Unidades Estacionárias de Produção
para processamento em Unidades de Processamento de Gás Natural.
Por se tratar do escoamento de gás natural não processado, pode
ocorrer a condensação de hidrocarbonetos pesados ao longo do transporte,
constituindo desta forma um sistema multifásico. Esse transporte requer alguns
cuidados e manutenção para evitar corrosões, e formação de hidrato quando
na presença de água provocando obstrução dos dutos e consequentemente
uma redução da vazão de gás natural.

Tabela 1 – Composições típicas de gás natural (dados em porcentagem)


1 2 3
Componentes Associado Não associado Processado

Metano (CH4) 78,74 87,12 88,56

Etano (C2H6) 5,66 6,35 9,17

Propano (C3H8) 3,97 2,91 0,42

i-Butano(i-C4H10) 1,44 0,52 -

n-Butano (n-C4H10) 3,06 0,87 -

i-Pentano(i-C5H12) 1,09 0,25 -

n-Pentano(n-C5H12) 1,84 0,23 -

Hexano (C6H14) 1,80 0,18 -

Superiores (C7+) 1,70 0,20 -

Nitrogênio (N2) 0,28 1,13 1,20

Dióxido de carbono
0,43 0,24 0,65
(CO2)
1
Gás do campo de Marlin, bacia de Campos (RJ)
2
Gás do campo de Merluza, bacia de Santos (SP)
3
Saída de UPGN, Candeias (BA)

Fonte: (CONPET, 2016)

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O estudo do presente trabalho visa observar a transferência de massa
(condensação) entre as fases no escoamento de gás natural no gasoduto Lula-
Mexilhão e suas implicações no campo de velocidade, temperatura e pressão.
O gás natural é composto por uma mistura de hidrocarbonetos, inertes e
alguns gases não combustíveis predominando metano para gases não
associados e processados (fração molar superior a 0,70) como apresentado na
Tabela 1. Outros componentes fazem parte de sua composição como etano,
propano, butano e alcanos de maior peso molecular (pentano, hexano entre
outros), já o dióxido de carbono e nitrogênio são compostos considerados não
combustíveis que varia em função do gás de campo (Whitman, 2001, p. 2).

4 RESULTADOS

O objetivo deste trabalho é estudar o escoamento multifásico de gás


natural considerando o efeito da condensação de hidrocarbonetos pesados ao
longo do gasoduto que podem acarretar, quando na presença de umidade, a
formação de hidratos (estruturas cristalinas) ocasionando a obstrução do duto,
queda de pressão e alguns casos, acidentes industriais. Do aspecto de
inovação, é importante destacar que relatórios referentes às atividades de
transporte de gás natural são simulados considerando escoamentos
monofásicos.

4.1 Configuração Geométrica do Duto Simulado

Apesar dos esforços para simular a região do gasoduto Lula-Mexilhão,


objeto de análise deste trabalho, um elevado valor de elementos é gerado para
malha no qual acarreta um grande esforço computacional e até mesmo a não
convergência das propriedades (temperatura e pressão), já que a refinação
desta malha aumentaria ainda mais o número de elementos.
Visando observar os efeitos da condensação dos hidrocarbonetos
pesados, adotou-se um trecho no duto horizontal seguido de uma curva.
Usualmente em reduções de produção de gás natural (queda de velocidade no
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duto) costuma-se aglomerar a fase líquida condensada nesta região, o qual é
interessante simular, tendo em vista o objetivo do presente trabalho.
A Fig. 1 apresenta a configuração geométrica do duto simulado no
presente trabalho. Vale destacar que pesquisas com diâmetro elevado não são
comuns na área de fluidodinâmica computacional.

Figura 1 – (a) seção transversal da região de estudo (b) seção longitudinal da região
de estudo.

4.2 Malhas

Os estudos das simulações do sistema do presente trabalho utilizaram


malhas estruturadas hexaédricas. Conforme o avanço nas simulações,
observou-se a necessidade de mudanças no formato e disposição dos
elementos com o objetivo de melhorar a convergência, redução dos resíduos e
esforço computacional. A Fig. 2 apresenta a malha utilizada no presente
trabalho e criada pelo software ICEM CFD utilizando o método de blocagem
manual por meio de “O-grid” com o intuito de gerar uma malha menos densa e
com melhor qualidade.

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Figura 2 – Malha criada pelo ICEM CFD e utilizada no presente trabalho.

4.3 Distribuições de Velocidades e Temperaturas

A simulação do sistema ocorreu utilizando o modelo VOF para as


condições de escoamento multifásico, em regime transiente, k-ε como modelo
de turbulência e para observar os efeitos da condensação dos hidrocarbonetos
pesados no gás natural utilizou o modelo de Lee (1979, p. 407-431) acoplado
com a equação de Antoine para cálculo da temperatura de saturação ao longo
do duto. Adotou-se a vazão média para o mês de referência para a simulação.
A Fig. 3 apresenta a fração volumétrica de hidrocarboneto pesado em
uma seção do tubo. Observou-se que logo na entrada formou-se condensado
com uma elevada predominância de hexano e heptano. Devido à diferença de
massa especifica e a ação da gravidade, o condensado se concentrou na
região inferior do duto.

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Figura 3 – fração volumétrica do hidrocarboneto pesado no trecho horizontal do duto

O padrão de escoamento segue o escoamento de bolhas, no qual a


fração de líquido aumenta e começa a molhar a parede superior do duto devido
a ação da gravidade com pequenas bolhas no topo (Figs. 4 e 5). Na parte
inclinada (Fig. 5) do duto, observou-se que devido ao alto valor da velocidade
de escoamento, uma parte é arrastada com a fase gasosa, porém com a queda
de produção observa-se um acúmulo da fração líquida na região da curva.
As Figs. 6 e 7 apresentam a temperatura na extensão do duto.
Observou-se que não há grandes variações ao longo do duto, mas suficientes
para promover a condensação dos hidrocarbonetos pesados do gás natural.

Figura 4 – Perfil de velocidade no trecho horizontal do duto


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Figura 5 – Perfil de velocidade na seção transversal do trecho horizontal do
duto.

As Figs. 6 e 7 também mostram que o hidrocarboneto é formado


preferencialmente na interface do duto com o ambiente externo que está em
uma temperatura baixa. De fato, a simulação mostrou que esse fenômeno da
condensação não ocorreu imediatamente, sendo que durante um período
observou um aumento da fração liquido e depois atinge um regime
estacionário.

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Figura 6 – Perfil de temperatura na extensão do duto

Figura 7 – Perfil de temperatura na seção transversal do duto


5 CONCLUSÕES

O gás natural é um recurso importante e estratégico para o


desenvolvimento do Brasil. Nesse contexto e frente a perspectiva de
crescimento na produção de gás natural, devido às descobertas do pré-sal e às

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expectativas de descobertas de gás em bacias terrestres, o Governo Brasileiro
foi levado a estudar a expansão da malha de gasodutos. O incentivo do uso da
ferramenta CFD nas pesquisas científicas possibilitan uma análise mais
criteriosa da previsão do comportamento dinâmico de escoamento de fluidos,
que no presente trabalho trata de gás natural com observação do efeito da
condensação dos hidrocarbonetos pesados.
O transporte de gás natural com condensado nas linhas de transmissão
pode provocar perda de capacidade operacional, que quando na presença de
umidade resulta na formação de hidratos e prejudicam o rendimento do
tratamento do gás, bloqueio nas válvulas, linhas e equipamentos e ainda, levar
a acidentes industriais.
O objetivo do presente trabalho concentrou-se em simular as condições
operacionais de escoamento de gás natural em um determinado mês para
avaliar o efeito da condensação dos hidrocarbonetos pesados nos campos de
pressão, velocidade e temperatura.

REFERÊNCIAS

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Paulo, USP, São Paulo, 2015.

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CONPET, P. N. (06 de 12 de 2016). CONPET. Fonte: Site da CONPET:
http://www.conpet.gov.br/

D'Andréa, T. Z. Reconciliação de dados de uma malha de gasodutos,


Dissertação de Mestrado, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
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processado. Natal: Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal, 2011.

Rosa, E. Forma diferencial das equações de conservação e transporte. 2005,


Notas de aula: Disponível em:
http:/www.fem.unicamp.br/~im450/Textos&Transparencias/aula-1/.

Whitman, S. Fundamentals of natural gas chemistry. Proceedings: American


School of Gas Measurement Technology, 2001, 2 p.

Edição especial - XX ENMC (Encontro Nacional de Modelagem


Computacional) e VIII ECTM (Encontro de Ciência e Tecnologia dos Materiais),
realizado entre 16 e 19 de outubro de 2017 na cidade de Nova Friburgo – RJ.
Editor – Mateus das Neves Gomes

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