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Universidade Pedagógica
Nampula
2017
ii
2
Supervisor:
Universidade Pedagógica
Nampula
2017
iii
3
Índice
Declaração de honra ........................................................................................................vii
Dedicatória .....................................................................................................................viii
Agradecimentos................................................................................................................ ix
LISTA DE SIGLAS, ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS ............................................. x
Resumo ............................................................................................................................. xi
Introdução ....................................................................................................................... 12
CAPITULO I: EVOLUÇÃO POLÍTICA EM MOÇAMBIQUE APÓS
INDEPENDÊNCIA ......................................................................................................... 15
1.1 Evolução política em Moçambique no período entre 1975 - 1990 ...................... 15
1.1.1 Moçambique no período de 1990 à actualidade ..................................................... 16
1.1.2 Evolução do processo das eleições ........................................................................ 18
1.2 Processo de Municipalização .................................................................................... 18
1.3 História da Cidade de Nampula ................................................................................ 20
1.3.1 Divisão Administrativa e política da cidade de Nampula ...................................... 20
1.3.2 Importância Economica da Cidade de Nampula .................................................... 22
CAPITULO II: PROCESSOS ELEITORAIS, DE GOVERNAÇÃO E ABSTENÇÕES
ELEITORAIS .................................................................................................................. 24
2.1 Sistema Eleitoral ....................................................................................................... 24
2.1.1 Tipos de Sistemas Eleitorais .................................................................................. 25
2.1.1.1 Sistema Maioritário ............................................................................................. 25
2.1.1.2 Sistema Proporcional .......................................................................................... 26
2.2 Abstenção eleitoral .................................................................................................... 26
2.2.1 Tipos de Abstenção Eleitoral – Activa e Negativa ................................................ 27
2.2.2 Níveis de Abstenções eleitorais na cidade de Nampula 2009 – 2014 .................... 29
2.2.3 Factores e Causas das Abstenções na Cidade de Nampula .................................... 30
2.3 Participação Político-Eleitoral .................................................................................. 32
2.4 Processos de Governação .......................................................................................... 33
2.4.1 Governação Local .................................................................................................. 33
2.4.2 Governação Participativa ....................................................................................... 33
2.4.3 Descentralização e Desconcentração ..................................................................... 34
2.4.4 O processo de Descentralização em Moçambique ................................................. 38
iv
4
ÍNDICE DE TABELAS
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Declaração de honra
Declaro que esta Monografia Científica é resultado da minha investigação pessoal e das
orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas
estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para
obtenção de qualquer grau académico.
O Autor
________________________________________________
Dedicatória
A memória do meu pai: Ernesto Nhaueleque que Deus o tenha em sua infinita glória;
A minha querida mãe Justina Ali Madebe, meus irmãos, esposa e filhos.
ix
9
Agradecimentos
Agradecer a Deus por estar sempre presente em todos os momentos da minha vida e da
minha família em geral.
Agradeço ainda aos meus colegas de sala, de forma especial: Armando Augusto Cabral,
Lazio Movira, Luís Jamissone, João Muchunja Lucas e Jamal Adamuge que souberam
fazer com que me sentisse em um ambiente familiar, e partilharam as dificuldades e a
forma de saber estar na sociedade e em plena sala de aulas.
Endereço um especial agradecimento a minha família: Mãe Justina Ali Madebe, pelo
apoio e carinho que sempre teve por mim; aos meus irmãos: Inês, Palmira, Alice, Lavino
e Joyce. Aos meus filhos: Teresa, Martins e Ernesto, sem esquecer dos meus enteados
Aiverson e Líria. Aos meus sobrinhos: Minoca, Dayse, Aly, Wauquiria e Oslayde.
Resumo
Introdução
Aponta-se como objectivo geral do presente trabalho: Conhecer o impacto das abstenções
eleitorais no processo de governação na cidade de Nampula. Ainda sob a questão da
13
Para o alcance dos objectivos traçados usou-se o método indutivo; quanto aos
procedimentos técnicos foram usados a entrevista e o inquérito que contribuíram para a
maior recolha de dados, usou-se ainda a pesquisa bibliográfica como forma de fazer o
cruzamento dos conceitos e teorias.
Portanto, espera-se que o presente trabalho traga uma nova visão em relação a
importância do voto para as comunidades e para os partidos políticos assim como para os
governantes, ainda espera-se que com os resultados alcançados estes possam contribuir
para uma nova visão académica sobre o problema do elevado índice de abstencionismo
na cidade de Nampula.
15
Este capítulo aborda de forma breve sobre a evolução política em Moçambique, e vai-se
fazer uma caracterização em torno da história da cidade de Nampula, enaltecendo os
aspectos ligados a sua natureza sociocultural, actividade economica, divisão política
administrativa da cidade e o seu processo de municipalização.
Segundo BASTOS (1999) o sistema político adoptado era caracterizado pela existência
de um partido único e a FRELIMO assumia o papel de dirigente. Nesse período eram
abundantes as fórmulas ideológicas proclamatórias e de apelo das massas, compressão
acentuada das liberdades públicas em moldes autoritários, recusa de separação de poderes
a nível da organização política e o primado formal da Assembleia Popular Nacional2.
Segundo ABRAHASSON & NILSSON (1994, p.44) a colectivização da terra era uma
das políticas adoptadas pelo governo de partido único, onde estavam patentes as politicas
económicas segundo as quais a eliminação da propriedade privada dos meios de
1
Art. 4 da CRPM de 1975
2
Jorge Miranda. Direito Cnstitucional, Tomo I, 6ª Edição, Coimbra Editora, 1997, P. 237
16
Ao abrigo deste novo cenário político a Constituição de 1990, acomoda vários requisitos
que dão início a uma nova era para os moçambicanos no geral, de forma resumida
aponta-se alguns aspectos mais marcantes:
Contudo, nota-se qua o cenário politico introduzido com a nova constituição não trás
muita novidade apenas apresenta algumas clarificações de alguns aspectos que estavam
omissos na Lei anterior, (Idem, 1990).
Segundo (FRELIMO, s/d) o primeiro acto político eleitoral organizado e realizado pelos
moçambicanos teve lugar a quando da génese da FRELIMO, quando os moçambicanos
organizaram um processo eleitoral no qual através do voto secreto, pessoal e directo o Dr.
Eduardo Mondlane foi sufragado primeiro Presidente da FRELIMO.
dotadas de órgãos representativos que visão a prossecução dos interesses das populações
respectivas em juízo dos interesses nacionais e da participacao do Estado.
A que referir que, o primeiro mandato das autarquias ainda se deparava com vários
problemas herança dos extintos conselhos executivos, dentre os quais apontam-se infra-
estruturas obsoletas e pessoal sem formação académica, este período foi caracterizado
pela organização interna dos órgãos autárquicos. Seguindo-se então a segunda fase de
2003 à 2008, é caracterizada como explica (NGUENHA, 2009), por uma harmonização
da organização técnico-administrativo e da articulação entre os órgãos autárquico e
autoridades comunitárias.
Segundo PELISSEIER (2000, p.295) foi através do nome Wamphula ou M’phula que a
cidade ganhou o seu nome. Uma cidade com origem militar, característica que ainda se
mantem, por intermédio de uma expedição militar chefiada por Major Neutel de Abreu
teria acampado nas terras de Wamphula a 7 de Fevereiro de 1907, que teria resultado com
a construção do comando militar de Macuana. A 6 de Dezembro de 1919 criava-se uma
povoado tendo-se tornado a sede das Circunscrições Civis isto a 30 de Junho de 1921.
Este acréscimo traz consigo problemas, uma vez que a cidade vai
retirando dos distritos rurais vizinhos da cidade de Nampula territórios
que serviriam de suporte no desenvolvimento social e económico destes,
do mesmo modo subtrai-lhes impostos de actores económicos que por
alteração dos limites administrativos passam a paga-los a cidade de
Nampula.
De acordo com RICARDO XAVIER3 (2015, p.24) existem cinco postos administrativos
fora do posto administrativo central actualmente em plena transformação,
desenvolvimento e expansão, os seus bairros conhecem uma mistura em termos de
classes e status socioeconómicos dos seus residentes. Alguns destes bairros e áreas rurais
como resultado das reformas administrativas que se deram em Moçambique em 1986
ficaram integrados dentro dos novos limites da cidade de Nampula.
Ainda segundo este autor é nestes bairros que se vai instalando parte da população
migrante e com menos recursos económicos e, nalguns deles, o planeamento e
urbanização são ainda incipientes ou mesmo inexistentes predominando a ocupação
espontânea dos espaços4, estes factores provocam uma escassez ou mesmo dificuldades
de instalação de infra-estruturas e serviços base para a população (Idem, p.24).
3
Docente Universitario. Universidade Pedagógica Delegação de Nampula.
4
Ricardo Acacio Xavier. As estruturas de poder local das autoridades tradicionais na cidade de Nampula,
1970-2000. Dissertção de Mestrado: 2015, p.24
22
De acordo com ARAÚJO (2005, p.210), explica que a cidade de Nampula é também
cruzada pelo eixo rodoviários centro-nordeste de grande importância para o
desenvolvimento económico da região norte do Zambeze, onde se ramifica a partir deste
ponto em direcção a Província de Cabo Delgado a norte e a ocidente da Província do
Niassa e o litoral.
5
Perfil do Municipio de Nampula, 2011, p.7
23
Ainda aborda ARAÚJO (2005, p.210) que para além da cidade de Nampula ser um local
de estratégia militar, sempre foi um centro económico para a zona norte do País como via
de escoamento de produtos e bens para o vizinho Malawi, valendo-se assim o título de
“Rainha do Norte”.
Para este autor confere um significado particular ao sufrágio universal e revela a postura
dos políticos nos três grandes momentos eleitorais, nomeadamente, o momento pré-
eleitoral, o eleitoral e o pós-eleitoral. Assim sendo, são actores-chave, o cidadão que
designado eleitor real, os concorrentes (dos partidos políticos, de grupos de cidadãos ou
independentes), a sociedade civil organizada e o Estado.
Por outro lado segundo esclarece GOMES (2014, p.121) sistema eleitoral, tem por função
a organização das eleições e a conversão de votos em mandatos políticos. Em outros
termos, visa proporcionar a captação eficiente, segura e imparcial da vontade popular
democraticamente manifestada, de sorte que os mandatos electivos sejam conferidos e
exercidos com legitimidade.
Contudo, o sistema eleitoral escolhido por cada país representa a melhor maneira de
compor a vontade dos eleitores para cada tipo de cargo político. Com base nisso, a Lei
eleitoral em Moçambique institui que as eleições moçambicanas serão regidas pelos
sistemas leitorais maioritário e proporcional.
25
Analisando estas três sistemáticas propostas por Lijphart, comparando com o previsto no
sistema eleitoral em vigor em Moçambique, chega-se a conclusão de que o nosso sistema
maioritário para a eleição do presidente da república assemelha-se a segunda adoptada na
França.
26
A palavra abstenção tem sua origem no latim: abstinere, que significa abster, suprimir,
privar-se de, evitar. A expressão começa a ser usada no direito privado, como renuncia ou
não exercício de um direito ou obrigação, nomeadamente a uma herança. Depois passa
para a linguagem política, querendo significar a renúncia ao exercício de direitos
políticos, nomeadamente o facto de o eleitor não comparecer para votar ni dia da eleição.
Nas pertinentes palavras de NOGUEIRA (2005) define a abstenção eleitoral, como sendo
a participacao política de facto, dado que ela não visa apenas à defesa de interesses
particulares, mas interfere directamente na governação e tem efeitos que dizem respeito a
toda a colectividade.
Por outro lado SIBILEAU (1997) explica que a abstenção eleitoral pode ser considerada
um aviso a classe política, expressada por uma crítica ao sistema partidário, pois os
eleitores manifestam com este comportamento um desencontro entre a oferta eleitoral e
as suas expectativas como eleitores.
Ainda em outra perspectiva FRANCISCO (2008) trás uma outra abordagem em torno
desta temática, para este autor a abstenção eleitoral vem-se convertendo numa instituição
tão poderosa como a informalidade das relações económicas e sociais, representando uma
ameaça tanto para o partido no poder como para os partidos da oposição seja ela
consciente oi inconsciente, este fenómeno reflecte desilusão, fadiga e a negação ao voto
positivo, não apenas a um ou outro partido, mas a um todo sistema.
Já em outra abordagem, segundo LAGUNA (s/d) por sua vez, afirma que os estudos
eleitorais identificam tradicionalmente a abstenção eleitoral com a ausência do exercício
do direito de sufrágio activo, quer dizer, com o não-votar em processo eleitoral
28
determinado. Esta abstenção eleitoral, segundo o autor, pode ter sua origem em uma
discrepância radical com o regime político (ou inclusive, com a democracia), em que
“não se deseja participar de nenhuma forma ou em um convencimento de que nada pode
mudar realmente ganhe quem ganhar as eleições, entre os principais motivos que
fundamentam a esta atitude”.
Existem, portanto, uma abstenção voluntaria e outra que ele chama de “técnica”, que se
caracterizam pela não-participacao no processo eleitoral, ou seja, uma abstenção não
participante. A este tipo de abstenção é chamada de “Abstenção Negativa”.
Em uma outra linha de pensamento o autor lança a ideia de que abster-se eleitoralmente,
não significa tão-somente não votar ou não participar nas eleições, “também pode
significar não expressar preferências por nenhuma das opções eleitorais concorrentes”,
votando em branco ou anulando o voto. (idem)
Para este caso VITULLO (2005) diz tratar-se de um tipo de abstenção distinta da anterior,
que ele chama de “Abstenção Activa”, que “tem sido tradicionalmente discutida nos
estudos eleitorais e não tem merecido a atenção específica que requer”.
O entendimento aqui segundo a ideia do autor é que o voto em branco constitui uma
abstenção activa voluntaria e, certamente legitima.
29
Já o voto nulo é um voto irregular, que segundo LAGUNA (s/d), “supõe uma
discrepância formal com as regras estabelecidas e também uma discrepância material, no
sentido de que não permite averiguar qual seja a vontade que o eleitor pretende expressar,
ou suscita dúvidas razoáveis acerca de qual seja essa vontade”.
Dessa forma a abstenção activa, nos termos do autor, diferem da abstenção passiva, não
questiona os processos eleitorais democráticos, mas põe em relevo questionamentos em
relação aos partidos, sistemas eleitorais, etc. e, no limite, também pode se transformar em
abstenção passiva, indicando, entre outros aspectos, “os défices democráticos de uma
determinada sociedade”.
É neste sentido, que se analisa os níveis de abstenção que tem registado subidas das taxas
de abstenção eleitoral representando, assim, um desafio para a institucionalização e
desenvolvimento dos regimes democráticos.
Relativamente aos níveis de AbE, a Cidade de Nampula apresenta assim um padrão que
segue o que se verifica à escala Provincial e Nacional, no quesito participacao
relativamente altas nas primeiras eleições multipartidárias de 1994 e um aumento
considerável da abstenção nas eleições subsequentes. Assim, a cidade de Nampula é uma
dentre vários distritos da Província com níveis altos de abstenções (61,40% em 2009,
74,26% em 2013 e 53,50% em 2014).
30
90% 84,90%
80% 75,00% 74,26%
68,00%
70% 61,40%
60% 53,82%
50% 42,30%
40% 32,50% Eleições Autarquicas
30%
20% Eleições Presidenciais
9,80%
10%
0%
1994 1998/1999 2003/2004 2008/2009 2013/2014
Importa analisar partindo deste gráfico, uma subida excessiva dos níveis de abstenção nos
pleitos eleitorais a nível da Cidade de Nampula, embora esta esteja representada de forma
oscilatória não deixa de ser níveis altos de abstenções que perigam de certa forma a
democracia e a legitimação do governo.
Os anos em estudo (2009, 2013 e 2014) sendo o primeiro ano com uma percentagem de
61,40% fui um ano de maior abstenção para as eleições gerais, o segundo com uma
percentagem de 74,26% foi o ano com maior nível de abstenções comparado ao ano de
2008 que foi de 68,00%. Nas últimas eleições registou-se uma ligeira redução tendo-se
registado 53,82%, que no entender do partido FRELIMO esta redução deveu-se ao
esforço empreendido por este partido na massificação da divulgação da sua agenda de
governação, abrangência da campanha eleitoral a todos os níveis comparados aos pleitos
anteriores, abrangência da educação cívica e acima de tudo a valorização do voto por
parte dos seus membros e simpatizantes.
Vários são os factores que estão por detrás do crescente nível do abstencionismo na
cidade de Nampula e a nível nacional, tomando como ponto de partida os tipos de
abstenção e as formas como estas se manifestam em vários pleitos eleitorais, são
apontadas alguns factores e as respectivas causas.
31
Atinente a estes factores em conjunto com a abstenção pode-se de forma mais extensa
apresentar as seguintes causas:
6
Relatorios de Participação eleitoral. MDM – FRELIMO, Relatorio de Participação das eleicoes
Autarquicas de 2013.
32
Portanto, dado a esses factores e causas os níveis de abstenção são cada vez mais
alarmantes, mostrando assim uma forma de revolta por parte dos eleitores em torno das
políticas eleitorais, económicas. Tal situação em grande medida cria um ambiente de
desconforto por parte do governo municipal, sendo que este é o maior alvo a nível local
dessa manifestação pacífica mas de grande perigo.
Para FORQUILHA (2011), a governação local é a forma pela qual vários actores estatais
e extra-estatais, singulares e colectivos participam na provisão de bens e serviços.
7
Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil, Guiao de Consulta para a Participacao Comunitaria e da
Sociedade Civil na Promocao da Boa Governacao-Âmbito Municipal, revista sobre Como Compreender a
Governacao Participativa, Participacao e Sociedade Civil.
34
No contraste de ambos os termos é preciso ter clara que, embora ambos sejam
ferramentas legítimas para transformar a acção governamental, há umas notórias
diferença nas consequências de implementação de uma ou da outra. É por isso que deve
se dar enfase à distinção conceptual de ambos os conceitos, longe de representar uma
“confusão”, é a articulação consciente de um determinado uso da palavra como meio de
atingir fins precisos e manifestos.
Por seu torno, a descentralização política, refere-se à disseminação do poder politico por
diferentes instituições ou organismos regionais ou locais, pois está ligada à autonomia das
autarquias locais, nos termos do disposto no artigo 7 do Decreto-Lei 2/97 de 18 de
Fevereiro. No entanto, e como refere ZAVALE (2011) para entender o alcance total da
descentralização é necessário ter em atenção o disposto no artigo 272 no seu n° 1 da
referida lei (Boletim da República, I Serie, n° 7 de 18 de Fevereiro, 1997).
Foram criados órgãos representativos e executivos a nível local. Surgem deste modo as
autarquias locais que marcaram o inicio da descentralização entendida, não como mera
transferência de competências dos órgãos centrais para os órgãos locais do Estado, mas
como verdadeira partilha de competências entre o Estado e de seus entes, as autarquias
locais, dotadas de autonomia administrativa, financeira, jurídica e patrimonial, cuja
consolidação reclama a dotação de mais recursos materiais, humanos e financeiros,
(idem).
39
Segundo MAZULA (1998) a descentralização é tida por alguns como parte de uma
necessária reforma e reposicionamento do Estado, muito centralizador mas incapaz de
potenciar o desenvolvimento e reconstrução do país, substituído muitas vezes pelos
chefes tradicionais, ONGs, instituições religiosas, e outros em actividades e funções que
caberiam tradicionalmente ao Estado. Como a prestação de serviços básicos.
A esta questão MAZULA (1998) afirma que “num contexto de reforma economica e de
resolucao de conflito interno que opunha a Frelimo e a Renamo, a descentralização em
Moçambique é prioritariamente vista por outros como parte do processo de pacificação e
democratização do país, e uma necessidade absoluta para poder dar resposta à diversidade
de Moçambique”.
Segundo o relatório de METIER (2004), realça que por se tratar de um poder mais
próximo do cidadão a descentralização potencia uma maior participacao e
responsabilização dos cidadãos na resolucao dos problemas e no desenvolvimento local,
reforçando a democracia ou pelo menos aproximando os cidadãos do centro da decisão
político-administrativa. Alguns dadores partilham desta visão e objectivo da
descentralização, enquanto processo potenciador de uma contínua democratização do
país, de uma partilha de poder com a oposição interna e de maior participacao e
envolvimento da sociedade civil na gestão pública local.
43
Tendo como base um estudo desenvolvido em uma pesquisa exploratória com abordagens
do tipo qualitativas como procedimentos metodológicos, pretende-se assim neste capítulo
fazer a análise e interpretação dos dados colhidos durante o trabalho de campo de modo a
responder os objectivos traçados neste estudo, assim como pretende-se ainda discutir
esses dados fundamentalmente para responder de forma valida e conclusiva a hipótese do
presente estudo.
Tabela 3: Quadro ilustrativo dos códigos usados para as citações dos entrevistados
3.1 Analise dos níveis de abstenção na cidade de Nampula no período de 2009 a 2014
O estudo sobre a AbE mostrou que esta não se distribui de maneira aleatória no sei do
eleitorado, dependendo no entanto de existência de determinados grupos sociais cujos
membros podem apresentar uma maior probabilidade de não exercer o seu direito de voto
por vários motivos. Nesta perspectiva, há que em primeiro lugar como forma primária
para a compreensão mais profunda da abstenção, há que definir o perfil dos
abstencionistas.
Assim, apresenta-se deste modo nos gráficos a seguir a análise feita para o perfil dos
abstencionistas na cidade de Nampula, o Gráfico 2 apresenta os níveis percentuais em
sexo e o Gráfico 3 em níveis de idade.
70% 65%
60%
50%
40% 35%
30%
20%
10%
0%
Homens Mulheres
8
Françoise Subileau, “L’abstencionnisme: apolitisme ou strategie?”, in Nonna MAYER (dir.), Les Modèles
explicatifs du vote, p. 258.
45
35% 30%
30%
25% 23%
20%
20% 18%
15%
15%
10%
4%
5%
0%
18-24 25-34 35-44 45-54 55-64 65+
60%
50%
50%
40% 35%
30%
20% 15%
10%
0%
Sem Educação Formal Educação Primária Educação Secundária e
Superior
Assalariados 17%
Estudantes 40%
Trabalhadores informais e
23%
Desempregados
Camponeses 20%
A diversificação dos resultados, nada mais é que uma clara demostração dos resultados
obtidos num total de 50 inqueridos. Os estudantes para o nível ocupacional foram os que
mais se absterão do processo eleitoral, tendo em seguida os que não tem nenhum nível de
formação educacional. Os camponeses por motivos aparentemente de época de colheita e
preparação dos solos são a terceira classe que mais se abstém deixando o quarto lugar
para os assalariados.
Ainda a FRELIMO segundo (F-2017) acredita que o nível de abstenção nas eleições de
2013, poderá ter origem ao factor fadiga, isto é, devido ao dia em que foi marcado para a
realização da votação (domingo), acredita este partido que o dia escolhido influenciou
bastante para a não participação massiva dos seus membros e simpatizantes, ainda
acredita que o factor étnico-cultural, poderá ter influenciado gerando um comportamento
tribalista por parte do eleitorado cidade de Nampula.
Por outro lado a RENAMO (C-2017) e o MDM (A-2017), analisam este fenómeno como
sendo uma questão inerente ao fracasso de governação por parte do partido no poder
(FRELIMO), que segundo estes pouco tem feito para o bem-estar da população a nível da
cidade de Nampula. Ainda, na mesma perspectiva o MDM (A-2017) aponta como
47
Atento a essa questão o governo coloca como pano de fundo para esta situação, o elevado
índice de analfabetismo, falta de conhecimento por parte dos eleitores do verdadeiro
sentido do voto, assim como o desinteresse na participação política do país em geral.
Contudo, importa analisar que para as eleições de 2013 foram recenseados um universo
de 225.152 eleitores, dentre estes o nível de participação para as eleições autárquicas foi
de 57.958 equivalente a 25,74% esta percentagem compreende a um quarto da população
recenseada, varias foram a justificações em torno dessa fraca participação mas fica claro
o comportamento do eleitorado mostrando o seu descontentamento e esta situação
culminou com a actual fraca participação colocando assim um enorme défice da
cidadania no seio da sociedade da autarquia da cidade de Nampula.
Estas políticas pouco têm surtido efeitos desejados, uma vez que a população segundo
informações colhidas com alguns chefes comunitários pouco tem aderido a elas.
Confrontados com esta situação os governantes são unanimes em esclarecer que tal
“situação não é de interesse pessoal, existem por detrás das decisões tomadas interesses
políticos, que em muitas ocasiões colocam em causa a efectivação dos programas de
desenvolvimento local” afirmou o nosso entrevistado (J-2017).
9
Chichava (1999) apud Duarte (1996).
10
IDASA – Organização não-governamental que actua na área de Governação e Democracia.
49
“É preciso notar que várias pessoas não foram votar por vários factores, como a
questão da época da colheita e preparação dos solos, grandes bichas, o
descontentamento por parte dos apoiantes do partido FRELIMO na escolha do
candidato, para as eleições de 2013. No entanto, mesmo estas pessoas não tendo
votado, participam de forma activa visto que as políticas de desenvolvimento
local em grande parte têm-lhes beneficiado, facilitando assim as suas vidas”.
“Por outro lado, estão os simpatizantes dos partidos ‘Vencidos’ que mesmo se
beneficiando dos programas de desenvolvimento local optam em sabotar os
programas como forma de prejudicar os processos de governação a nível das
comunidades. Estes têm semeado desordem em momentos de encontros com os
conselhos consultivos locais, alegando insatisfação, não abrangência,
insustentabilidade dos programas entre outros motivos que fazem da governação
da autarquia um fracasso”.
A AbE é vista como uma reacção ao fracasso das políticas de governação até um certo
ponto, desacreditando assim a democracia e a legitimação do poder eleito. É uma questão
de fadiga, desilusão e, negação ao voto positivo não apenas a um ou outro partido mas, ao
50
sistema todo. A abstenção representa actualmente uma ameaça, tanto para o partido
FRELIMO assim como para a RENAMO e o MDM e os demais.
De acordo com o nosso entrevistado (D-2017) várias são as políticas traçadas pelos
governos locais com vista ao desenvolvimento das comunidades, o distrito e município da
cidade de Nampula não fogem a essa regra. Após a realização das eleições surgem vários
impasses que perturbam o desenvolvimento local, dentre eles: o divisionismo político,
conflitos pós-eleitorais, clientelismo político aliados a corrupção.
“Este fundo é uma grande dor de cabeça para as nossas comunidades, o município dá
privilégio aos seus secretários dos bairros e das unidades comunais, com uma idade
superior a 35 anos, caso que acontece também com o actual executivo municipal.
Deixando de fora os jovens, que de forma arbitrária são excluídos do processo, não
obstante ao discurso de apostar nos jovens para o alcance do desenvolvimento local”.
Segundo (I-2017) foi criada recentemente um serviço municipal de apoio aos operadores
económicos emergentes, em técnicas de gestão de negócios, que segundo a edilidade a
“janela” de oportunidade, os empreendedores interessados poderão, ter a oportunidade de
receber apoios gratuitos e directos em matérias de formação e desenho dos seus projectos
e negócios. “Os serviços municipais de apoio a micro empresas e agro-negócios
51
(SMAMPE) tem tido pouco ou quase nada em termos de aderência, os tais operadores
económicos emergentes não aderem a essa janela estando a apresentar um certo fracasso.
enfraquecidos uma vez que, mesmo depois de recolherem tais informações dos problemas
que apoquentam os munícipes nada se tem feito, muito menos somos solicitados para
fiscalizar as obras uma vez que estas não chegam a existir. Nessas circunstancias qual
seria o nosso ganho participando de forma activa nos processos de governação se em
nada nos beneficiam? É por esse motivos que muita gente prefere não votar e ir a
machamba capinar”11. Disse com um tom de descontentamento, em uma análise de que
seu voto no final em nada lhes beneficiou.
Assim, fica claro de que embora a edilidade adopte políticas com vista a estimular a
participação do munícipe nos processos de tomada de decisão, nas políticas de
desenvolvimento local, caso o diálogo não seja aberto e clarificado, com promessas
cumpridas e sem desvaneios, alguma coisa poderá melhorar no que diz respeito a
confiança dos eleitores as instituições governamentais e os seus governos eleitos. Por
outro lado, uma vez estas acções não tomem outro rumo sempre haverá um conflito de
interesses entre ao eleitores e as elites politicas, tal conflito pacifico refira-se, é
manifestado com a fraca participação politico-eleitoral (criando uma crise da cidadania),
e colocando em perigo a legitimação do governo eleito na autarquia.
De acordo com os resultados do presente trabalho pode-se concluir que as hipóteses são
validas segundo as quais: o crescente índice de abstenções eleitorais na cidade de
Nampula, possivelmente podem contribuir para a fraca participação no processo de
governação participativa, fragilizando sob medida a democracia participativa visto que
parte dos cidadãos podem não legitimar os membros eleitos; notou-se que o fracasso da
efectivação das políticas de governação local depende da participação dos munícipes, e as
abstenções eleitorais são um grande obstáculo uma vez que as pessoas que se abstêm as
eleições, optam em não participar em programas de governação e os que votaram sentem-
se traídos.
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Luciano Cândido e Marcos Benedito João. Chefes da comunidade de Muatala, em um desabafo em torno
da relação Município/Comunidade. Sábado (18 de Fevereiro de 2017).
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No que se refere a segunda hipótese: os eleitores que optam por abster-se podem sabotar
as políticas de governação ou continuarem indiferentes prejudicando deste modo o
processo de desenvolvimento local; constatou-se a existência de dois grupos distintos,
sendo que os que sabotam as políticas são os membros e simpatizantes do partido vencido
numa tentativa de desacreditar as políticas de desenvolvimento local. Por outro lado,
encontram-se os abstencionistas que aderem as políticas de desenvolvimento uma vez que
tais políticas beneficiam a todos independentemente da sua participacao política-eleitoral
ou não.
Conclusão
A abstenção eleitoral é um tema que tem suscitado vários debates na actualidade, pois,
este fenómeno representa uma ameaça ao sistema político. Nos estados democráticos,
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Sugestões
O jogo político é susceptível de sofrer mudanças a esse turno importa deixar ficar
algumas recomendações como forma de possivelmente melhorar os níveis de participacao
politico-eleitoral, participacao nos processos de governação como um garante de boa
governação.
As rádios locais podem e devem ser aproveitadas não apenas na difusão das realizações e
dos planos do governo municipal, mas também na aproximação entre os vários actores
que actuam no município, através da promoção de debates abertos regulares. Como um
mecanismo de massificar o diálogo.
As políticas para o apoio ao combate a pobre urbana, devem ser mais abrangentes e
eficazes, garantindo que os jovens possam se beneficiar de forma transparente e
democrática, não recorrendo às práticas do clientelismo.
A massificação das políticas de educação cívica, como uma forma de inverter o crescente
nível de abstenções eleitorais na cidade de Nampula.
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Bibliografia
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2004.
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Legislação
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