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Ernesto Nhaueleque Júnior

ABSTENÇÃO ELEITORAL E O PROCESSO DE GOVERNAÇÃO NA


AUTARQUIA DA CIDADE DE NAMPULA (2009 - 2014)

(Licenciatura em História Política e Gestão Publica com Habilitações em Gestão de


Unidades Territoriais)

Universidade Pedagógica
Nampula
2017
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Ernesto Nhaueleque Júnior

ABSTENÇÃO ELEITORAL E O PROCESSO DE GOVERNAÇÃO NA


AUTARQUIA DA CIDADE DE NAMPULA (2009 - 2014)

Monografia a ser apresentada à Faculdade de


Ciências Sociais e Filosóficas, Delegação de
Nampula para aquisição do título de Licenciatura
em História Política e Gestão Publica com
Habilitações em Gestão de Unidades Territoriais:

Supervisor:

MA. Jorge Muchacona.

Universidade Pedagógica
Nampula
2017
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Índice
Declaração de honra ........................................................................................................vii
Dedicatória .....................................................................................................................viii
Agradecimentos................................................................................................................ ix
LISTA DE SIGLAS, ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS ............................................. x
Resumo ............................................................................................................................. xi
Introdução ....................................................................................................................... 12
CAPITULO I: EVOLUÇÃO POLÍTICA EM MOÇAMBIQUE APÓS
INDEPENDÊNCIA ......................................................................................................... 15
1.1 Evolução política em Moçambique no período entre 1975 - 1990 ...................... 15
1.1.1 Moçambique no período de 1990 à actualidade ..................................................... 16
1.1.2 Evolução do processo das eleições ........................................................................ 18
1.2 Processo de Municipalização .................................................................................... 18
1.3 História da Cidade de Nampula ................................................................................ 20
1.3.1 Divisão Administrativa e política da cidade de Nampula ...................................... 20
1.3.2 Importância Economica da Cidade de Nampula .................................................... 22
CAPITULO II: PROCESSOS ELEITORAIS, DE GOVERNAÇÃO E ABSTENÇÕES
ELEITORAIS .................................................................................................................. 24
2.1 Sistema Eleitoral ....................................................................................................... 24
2.1.1 Tipos de Sistemas Eleitorais .................................................................................. 25
2.1.1.1 Sistema Maioritário ............................................................................................. 25
2.1.1.2 Sistema Proporcional .......................................................................................... 26
2.2 Abstenção eleitoral .................................................................................................... 26
2.2.1 Tipos de Abstenção Eleitoral – Activa e Negativa ................................................ 27
2.2.2 Níveis de Abstenções eleitorais na cidade de Nampula 2009 – 2014 .................... 29
2.2.3 Factores e Causas das Abstenções na Cidade de Nampula .................................... 30
2.3 Participação Político-Eleitoral .................................................................................. 32
2.4 Processos de Governação .......................................................................................... 33
2.4.1 Governação Local .................................................................................................. 33
2.4.2 Governação Participativa ....................................................................................... 33
2.4.3 Descentralização e Desconcentração ..................................................................... 34
2.4.4 O processo de Descentralização em Moçambique ................................................. 38
iv
4

2.4.4.1 A descentralização como parte do processo de reforma e relegitimação do Estado


......................................................................................................................................... 41
2.4.4.2 A descentralização como parte do processo de pacificação e democratização do
país .................................................................................................................................. 42
CAPITULO III: IMPACTO DAS ABSTENÇÕES ELEITORAIS NO PROCESSO DE
GOVERNAÇÃO NA CIDADE DE NAMPULA ........................................................... 43
3.1 Analise dos níveis de abstenção na cidade de Nampula no período de 2009 a 2014 43
3.2 A abstenção e o processo de Governação ................................................................. 47
3.2.1 Abstenção eleitoral e Governação participativa na Cidade de Nampula ............... 47
3.3.2 O impacto da abstenção eleitoral nos processos de governação ............................ 49
3.3 Verificação e aprovação da hipótese ......................................................................... 52
Conclusão ........................................................................................................................ 53
Sugestões ......................................................................................................................... 54
Bibliografia ..................................................................................................................... 56
Apêndices ........................................................................................................................ 62
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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Postos Administrativos da Cidade de Nampula .............................................. 22


Tabela 2: Sumario dos conceitos Descentralização e Desconcentração ......................... 40
Tabela 3:Quadro ilustrativo dos codigos usas para as citacoes dos entrevistados. ......... 43
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ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Abstenção eleitorais na Cidade de Nampula (1994 – 2014) .......................... 30


Gráfico 2: Sexo e Abstenção, Cidade de Nampula – (2013) .......................................... 44
Gráfico 3: Idade e Abstenção, na cidade de Nampula – (2013)...................................... 45
Gráfico 4: Nível de escolaridade e Abstenção, Cidade de Nampula – (2013) ................ 45
Gráfico 5: Ocupação e Abstenção, na Cidade de Nampula – (2013).............................. 46
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Declaração de honra

Declaro que esta Monografia Científica é resultado da minha investigação pessoal e das
orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas
estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.

Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para
obtenção de qualquer grau académico.

O Autor

________________________________________________

(Ernesto Nhaueleque Júnior)

Nampula aos _____ de ________________________ 2017


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Dedicatória

A memória do meu pai: Ernesto Nhaueleque que Deus o tenha em sua infinita glória;

A minha querida mãe Justina Ali Madebe, meus irmãos, esposa e filhos.
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Agradecimentos

Agradecer a Deus por estar sempre presente em todos os momentos da minha vida e da
minha família em geral.

Expresso o meu profundo e especial agradecimento ao meu Supervisor Jorge Muchacona,


pelo seu imensurável apoio nas correcções, ensinamento, pela paciência e dedicação
principalmente em momentos difíceis durante a elaboração desta monografia.

Agradeço, a todos os docentes do curso de Historia Política e Gestão Publica com


Habilitações em Gestão Territorial na Universidade Pedagógica, Delegação de Nampula
que, contribuíram com o seu saber para a minha formação.

Agradeço ainda aos meus colegas de sala, de forma especial: Armando Augusto Cabral,
Lazio Movira, Luís Jamissone, João Muchunja Lucas e Jamal Adamuge que souberam
fazer com que me sentisse em um ambiente familiar, e partilharam as dificuldades e a
forma de saber estar na sociedade e em plena sala de aulas.

Endereço um especial agradecimento a minha família: Mãe Justina Ali Madebe, pelo
apoio e carinho que sempre teve por mim; aos meus irmãos: Inês, Palmira, Alice, Lavino
e Joyce. Aos meus filhos: Teresa, Martins e Ernesto, sem esquecer dos meus enteados
Aiverson e Líria. Aos meus sobrinhos: Minoca, Dayse, Aly, Wauquiria e Oslayde.

Agradeço a todos envolvidos na elaboração desta monografia, que mesmo em momentos


de extrema ocupação, souberam dar o seu contributo de forma inestimável, com
informações relevantes ao tema durante o período de recolha de dados no campo.

Um carinhoso agradecimento vai a minha querida esposa, que directa ou indirectamente


foi uma colega de curso, nos momentos em que eu estudava ela sempre com os ouvidos
na porta esperando pelo seu marido, que por vezes dormia em uma cadeira de tanto
esperar.

À todos, o meu muito obrigado!


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LISTA DE SIGLAS, ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS

AbE Abstenção Eleitoral

AGP Acordo Geral de Paz

CEPKA Centro de Estudos e Pesquisa Konrad Adenauer

CNE Conselho Nacional de Eleições

CRPM Constituição da República Popular de Moçambique

FDU Fundo de Desenvolvimento Urbano

FRELIMO Frente de Libertação de Moçambique

GDI Instituto de Apoio a Governação e Desenvolvimento

IDASA Instituto para Alternativas Democráticas na África do Sul

LOLE Lei dos Órgãos Locais do Estado

MASC Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil

MDM Movimento Democratico de Moçambique

OMN Observatório Municipal de Nampula

ONG Organização Não-governamental

OPP Orçamento e a Planificação Participativa

PCIM Projecto de Capacitação Institucional Municipal

RENAMO Resistência Nacional de Moçambique

SMAMP Serviços Municipais de Apoio a Micro Empresa e Agro-negócio


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Resumo

A presente monografia científica tem como tema: Abstenções Eleitorais e o Processo de


Governação na Autarquia da Cidade de Nampula 2009 – 2014. A motivação do estudo
desta temática deve-se ao facto de que as abstenções eleitorais têm-se mostrado bastante
persistente no cenário político a nível nacional e a cidade de Nampula não foge a regra,
criando um desconforto a legitimação do Presidente eleito e a consolidação da
democracia participativa. Deste modo aponta-se como ponto de partida para a pesquisa a
seguinte questão: Qual o impacto das abstenções eleitorais no processo de governação na
autarquia da cidade de Nampula. Para sustentar a questão levantada formulou-se as
seguintes hipóteses: O crescente índice de abstenções eleitorais na cidade de Nampula,
possivelmente podem contribuir para a fraca participação no processo de governação
participativa, fragilizando sob medida a democracia participativa visto que parte dos
cidadãos não legitimam os membros eleitos; Os eleitores que optam por abster-se podem
sabotar as políticas de governação ao continuarem indiferentes prejudicando deste modo
o processo de desenvolvimento local. O trabalho tem como objectivo geral conhecer o
impacto das abstenções eleitorais no processo de governação na cidade de Nampula. E
apresenta os seguintes objectivos específicos: Descrever a evolução histórica da cidade de
Nampula; Caracterizar os processos eleitorais e de governação segundo o ponto de vista
de vários autores; Analisar o impacto da abstenção eleitoral no processo de governação
na cidade de Nampula. No que tange a sua metodologia foi empregue a pesquisa do tipo
explicativo com uma abordagem qualitativa de natureza aplicada, contou com o método
indutivo, suportado pela pesquisa bibliográfica e estudo de caso, usando as técnicas de
entrevista e inquérito. O universo da pesquisa foi composto por todos os munícipes da
cidade de Nampula, e destes extraiu-se uma amostragem por acessibilidade de 50 pessoas
que forneceram informações. A importância do trabalho devesse a necessidade da
compreensão do comportamento do eleitorado no período pós-eleitoral. As análises feitas
permitiram concluir que, as pessoas que se abstém do processo de eleição procuram com
essa prática, mostrar o seu descontentamento as políticas de governação, e nessa mesma
perspectiva estes de forma passiva abstêm-se ainda da participação do processo de
governação, como forma de repúdio a estas. A partir desta pesquisa chegou-se a
conclusão de que as abstenções têm impactado de forma negativa no processo de
governação uma vez, que coloca em perigo a legitimidade do governo e a consolidação
da democracia participativa.
Palavras-chaves: Abstenção eleitoral, Governação, Participação.
12

Introdução

A abstenção eleitoral é vista como uma forma de manifestação passiva ou activa do


descontentamento por parte dos eleitores em torno das políticas de governação, dos
regimes políticos e democráticos, ou seja, de um todo sistema. Este fenómeno interfere
nos processos de governação local, limitando assim a participação dos munícipes nos
processos de tomada de decisão sobre as políticas públicas, com vista o bem-comum.

Neste contexto, o presente trabalho versa sobre o tema: Abstenções eleitorais e o


Processo de Governação em Nampula (2009-2014).

O trabalho teve como lugar de referência do estudo a Cidade de Nampula, tendo


abrangido os anos de 2009 – 2014, escolheu-se este lugar por se constatar um número
elevado de abstenções nestes períodos, e pelo facto de se considerar uma cidade de
elevado número de potenciais eleitores.

A motivação do estudo desta temática deve-se ao facto de que as abstenções eleitorais


têm-se mostrado bastante persistente no cenário político a nível nacional e a cidade de
Nampula não foge a regra, criando um desconforto a legitimação do presidente eleito e a
consolidação da democracia participativa. Torna-se imperioso o estudo deste fenómeno
como forma de compreender o comportamento do eleitorado no período pós-eleitoral, no
que respeita a sua participação ou não nos processos de desenvolvimento local, uma vez
que os níveis de abstenção são muito altos onde em 2008 dos 223.584 recenseados,
apenas 71.547 eleitores foram as urnas o que corresponde a uma participação de 38%,
sendo que 152.037 dos eleitores optaram pela abstenção correspondendo à 68%,
comparativamente as eleições de 2013 onde foram recenseados 225.152 potenciais
eleitores tendo uma participação de 57.958 eleitores o que corresponde à 25.74% sendo
que 167.194 eleitores optaram por se abster do processo correspondendo 74.26%.
Assumindo a importância da representação e participação política, assim como o
processo de governação nas democracias actuais, é de grande importância analisar o
impacto das abstenções eleitorais na democracia representativa sob a dinâmica da relação
representante e representados nos novos espaços da interacção política.

Aponta-se como objectivo geral do presente trabalho: Conhecer o impacto das abstenções
eleitorais no processo de governação na cidade de Nampula. Ainda sob a questão da
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definição dos objectivos específicos apontam-se: Descrever a evolução histórica da


cidade de Nampula; Caracterizar os processos eleitorais e de governação segundo o ponto
de vista de vários autores, e Analisar o impacto da abstenção eleitoral no processo de
governação na cidade de Nampula.

A cidade de Nampula tem um número significativo de potenciais eleitores, estes


potenciais eleitores na sua maioria são abstencionistas, perigando assim os processos de
governação local. É nesta perspectiva que surge a seguinte pergunta de partida: Qual é o
impacto das abstenções eleitorais no processo de governação na cidade de Nampula?

Atento a esta problemática surge como hipóteses: O crescente índice de abstenções


eleitorais na cidade de Nampula, possivelmente podem contribuir para a fraca
participação no processo de governação participativa, fragilizando sob medida a
democracia participativa visto que parte dos cidadãos não legitimam os membros eleitos;
Os eleitores que optam por abster-se podem sabotar as políticas de governação ao
continuarem indiferentes prejudicando deste modo o processo de desenvolvimento local.

No que respeita ao desenvolvimento do trabalho, este obedeceu aos procedimentos


metodológicos com regras de caracter científico como recomenda a Universidade
Pedagógica, neste âmbito, para a elaboração da presente monografia científica foi usada
tipo de pesquisa explicativa, com o objectivo de identificar os factores que determinam
ou contribuem para a ocorrência dos fenómenos.

No que respeita a sua abordagem usou-se a pesquisa qualitativa como forma de


compreender e classificar os processos vividos por vários grupos sociais, quanto a sua
natureza a pesquisa é aplicada que contribuiu para a criação de conhecimentos para a
solução dos problemas expostos.

Para o alcance dos objectivos traçados usou-se o método indutivo; quanto aos
procedimentos técnicos foram usados a entrevista e o inquérito que contribuíram para a
maior recolha de dados, usou-se ainda a pesquisa bibliográfica como forma de fazer o
cruzamento dos conceitos e teorias.

O trabalho teve com universo e amostra toda a população residente na cidade de


Nampula, local da pesquisa, onde foi feita a seguinte distribuição de acordo com o
método de amostragem por acessibilidade: 1 Assessor do Presidente do Município; 1
14

Delegado Provincial do MDM; 1 Chefe dos serviços Eleitorais da RENAMO; 1


Secretário da Cidade da FRELIMO; 4 Secretários de Bairros da Cidade; 2 Membros do
Governo do Distrito; e um número de 40 munícipes distribuídos em 10 para cada bairro;
num total de 50 pessoas.

No que tange a sua estrutura, a presente monografia comporta 3 capítulos distribuídos da


seguinte maneira: Capitulo I – Evolução Histórica da Cidade de Nampula: evolução
política em Moçambique; História da Cidade de Nampula; Processo de Municipalização;
Divisão Administrativa e Política da Cidade de Nampula; Importância Economica da
Cidade de Nampula. Capitulo II – Processos eleitorais, de governação e abstenções
eleitorais segundo o ponto de vista de vários autores: Sistema eleitoral; Tipos de sistemas
eleitorais; Abstenção eleitoral; Tipos de abstenção eleitoral; Factores e Causas das
abstenções na cidade de Nampula; Participação político-eleitoral; Processos de
governação; Descentralização e Desconcentração. Capitulo III – Impacto das abstenções
eleitorais no processo de governação na cidade de Nampula: Analise dos níveis de
abstenção na cidade de Nampula no período de 2009 a 2014; Níveis de abstenção
eleitorais na cidade de Nampula 2009 a 2014; Abstenção e o processo de governação;
Verificação e aprovação da hipótese.

Portanto, espera-se que o presente trabalho traga uma nova visão em relação a
importância do voto para as comunidades e para os partidos políticos assim como para os
governantes, ainda espera-se que com os resultados alcançados estes possam contribuir
para uma nova visão académica sobre o problema do elevado índice de abstencionismo
na cidade de Nampula.
15

CAPITULO I: EVOLUÇÃO POLÍTICA EM MOÇAMBIQUE APÓS


INDEPENDÊNCIA

Este capítulo aborda de forma breve sobre a evolução política em Moçambique, e vai-se
fazer uma caracterização em torno da história da cidade de Nampula, enaltecendo os
aspectos ligados a sua natureza sociocultural, actividade economica, divisão política
administrativa da cidade e o seu processo de municipalização.

1.1 Evolução política em Moçambique no período entre 1975 - 1990

Em Moçambique, a FRELIMO coloca-se como o berço da democracia pois a fundação da


Frelimo o pressuposto histórico de base foi a construção da democracia moçambicana.

Atinente a evolução política, compulsando a Primeira Constituição aprovada em 1975,


que entrou em vigor em simultâneo com a proclamação da independência, cabia ao
Comité Central da Frelimo fazer a revisão constitucional e a criação da Assembleia com
poderes constituintes, que ocorreu em 1978. Segundo JOSÉ (2005, p.5) citando o artigo 4
da CRPM, o projecto politico, económico e social que o Estado moçambicano pretendia
adoptar foi explicitado na Constituição de 1975. A constituição consagrava como
objectivos fundamentais:

A eliminação das estruturas de opressão e exploração coloniais e


tradicionais e da mentalidade que lhe está subjacente; e extensão e
reforço do poder popular democratico; a edificação de uma economia
independente e a promoção do processo cultural e social; e edificação da
democracia popular e a construção das bases material e ideológicas da
sociedade socialista1.

Segundo BASTOS (1999) o sistema político adoptado era caracterizado pela existência
de um partido único e a FRELIMO assumia o papel de dirigente. Nesse período eram
abundantes as fórmulas ideológicas proclamatórias e de apelo das massas, compressão
acentuada das liberdades públicas em moldes autoritários, recusa de separação de poderes
a nível da organização política e o primado formal da Assembleia Popular Nacional2.

Segundo ABRAHASSON & NILSSON (1994, p.44) a colectivização da terra era uma
das políticas adoptadas pelo governo de partido único, onde estavam patentes as politicas
económicas segundo as quais a eliminação da propriedade privada dos meios de
1
Art. 4 da CRPM de 1975
2
Jorge Miranda. Direito Cnstitucional, Tomo I, 6ª Edição, Coimbra Editora, 1997, P. 237
16

produção, a organização da população rural em cooperativas e propriedades colectivas e


estatais, que demandava a concentração da população em aldeias comunais, quanto a
gestão centralmente planificada da economia e assinaturas de acordos de cooperação com
a ex-Uniao das Republicas Socialistas Soviéticas e outros blocos do leste, eliminação das
autoridades comunitárias pela sua alegada ligação com o poder colonial entre outras
politicas forram adoptadas como forma de por em pratica o regime socialista.

A FRELIMO sendo o partido no poder, sob o regime de partido único-socialista e ao


abrigo da Constituição não permitia nenhum tipo de associativismo com fins políticos,
adoptando assim a política de perseguição e eliminação de qualquer dissidência que
tende-se a prejudicar o Estado, (Idem, 1994, p.44).

Para ABRAHAMSSON e NILSSON (1994, p.103) o projecto de desenvolvimento


socialista implantou-se no terceiro congresso da FRELIMO, em 1977, quando a
FRELIMO deixou formalmente de ser um movimento de libertação e assumiu a condição
de partido marxista-leninista. Devido a circunstâncias políticas regionais e globais
inviabilizaram a implantação do socialismo em Moçambique, a guerra-fria e a presença
dos governos de minoria branca na Rodésia do Sul e na Africa do Sul são apontados
como alguns graves e profundos obstáculos que impediram a construção do socialismo.
Aliadas a circunstâncias internas como: a extinção das autoridades comunitárias ligadas
ao poder colonial; a radicalização da política do partido no poder e as medidas tomadas
no terceiro congresso da Frelimo são algumas causas desse fracasso.

Com o apoio desses países e outros interessados no potencial económico em


Moçambique, e com os dissidentes da FRELIMO, em 1976 teve início a guerra civil onde
se enfrentavam a RENAMO e a FRELIMO. Em 1990, foi introduzida uma nova
Constituição com o objectivo de acomodar a democracia multipartidária e propriedade
privada.

1.1.1 Moçambique no período de 1990 à actualidade

Segundo (GDI, 2009:34) em 1990 regista-se progressivos avanços na história do jovem


processo político moçambicano. Este período vai desde 1990 à 2004 e caracteriza-se pela
revogação da Constituição de 1975 e ratificação de uma nova Constituição que
preconizava o abandono da concepção socialista do Estado, a formação de uma ordem
17

económica submetida às forças do mercado, a proclamação de um Estado democrático, a


consagração do multipartidarismo e o aumento do catálogo do direitos, deveres e
liberdades fundamentais dos cidadãos.

Ao abrigo deste novo cenário político a Constituição de 1990, acomoda vários requisitos
que dão início a uma nova era para os moçambicanos no geral, de forma resumida
aponta-se alguns aspectos mais marcantes:

 A introdução de um sistema multipartidário na arena política, deixando o partido


FRELIMO de ter um papel dirigente e passando a assumir um papel histórico na
conquista pela independência;
 Inserção de regras básicas da democracia representativa e da democracia
participativa e o reconhecimento do papel dos partidos políticos;
 A descentralização do poder, e a separação de poderes entre outras.

Segundo BASTOS (1999) seguido deste período de mudanças, no contexto político do


país em 1992 assinava-se os AGP, que proporcionou novas mudanças politicas, como as
bases do processo de democratização, os critérios de formação de partidos políticos, as
questões eleitorais e a garantia das liberdades fundamentais, em 1996 surge a necessidade
de introdução de princípios e disposições sobre o Poder Local que veio a culminar com a
descentralização do poder através da criação de órgãos locais com competências e
poderes de decisão próprios, entre outras a separação do princípio da unidade do poder.

Com vista a reforçar o sistema politico implantado em 1990, surge a necessidade de


fortificar e consolidar o regime de Estado de Direito e democratico introduzido, através
de uma melhoria nas especificações e aprofundamento em disposições já existentes e
também pela criação de novas figuras, princípios e direitos e elevação de alguns institutos
e princípios já existentes na legislação ordinária à categoria constitucional, abria-se o
espaço para a constituição de 2004.

O sistema político via-se assim fortificado com várias negociações e aprovação da


legislação adequada para a situação política em que o país está inserido, é nesta ordem
que são sucessivamente e sistematicamente revistas a lei eleitoral, a revisão da legislação
autárquica, entre outros.
18

Contudo, nota-se qua o cenário politico introduzido com a nova constituição não trás
muita novidade apenas apresenta algumas clarificações de alguns aspectos que estavam
omissos na Lei anterior, (Idem, 1990).

1.1.2 Evolução do processo das eleições

Segundo (FRELIMO, s/d) o primeiro acto político eleitoral organizado e realizado pelos
moçambicanos teve lugar a quando da génese da FRELIMO, quando os moçambicanos
organizaram um processo eleitoral no qual através do voto secreto, pessoal e directo o Dr.
Eduardo Mondlane foi sufragado primeiro Presidente da FRELIMO.

O primeiro acto eleitoral em Moçambique independente teve lugar em 1977, na base do


qual foram constituídas as Assembleias populares do povo, desde o nível de localidade,
até ao nível central. Eram eleições que decorriam no quadro de um sistema político de
partido único, e de uma democracia directa e participativa, ao abrigo da Lei n°1/77 de 1
de Setembro de 1977. Ainda no mesmo ano ao abrigo da resolucao n°2/77 de 1 de
Setembro de 1977 criava-se a primeira Comissão Nacional de Eleições (FRELIMO, s/d).

É de grande importância destacar que com a 25 de Setembro a 4 de Dezembro de 1977


foram organizadas as primeiras eleições gerais legislativas. As segundas eleições gerais
legislativas foram realizadas em 1986 ainda foi neste ano que sob a direcção da
FRELIMO começou o processo da revisão constitucional que culminaria com a
aprovação da constituição de 1990 que introduziu o multipartidarismo.

As primeiras eleições multipartidárias no quadro do Estado de Direito Democratico


tiveram lugar em 1994. E em 1998 realizavam-se as primeiras eleições autárquicas no
país, dando assim seguimento a vários processos eleitorais no país incluindo eleições para
as Assembleias provinciais que tiveram seu início em 2009.

1.2 Processo de Municipalização

Ao abrigo do artigo 272 a Constituição da República consagra as autarquias locais e,


segundo o disposto no n° 1, da lei n° 2/97, as autarquias são pessoas colectivas publicas
19

dotadas de órgãos representativos que visão a prossecução dos interesses das populações
respectivas em juízo dos interesses nacionais e da participacao do Estado.

É nestes moldes que a lei n° 10/97, de 31 de Maio, cria os primeiros 33 municípios de


categorias “Cidades e Vilas” e na mesma lógica a lei n° 3/2008, de 2 de Maio criou 10
novos municípios sob a categoria de “Vilas” totalizando os 43 municípios até então
existentes.

Ao abrigo da lei 2/97, realizavam-se em 1998 as primeiras eleições autárquicas nos


primeiros 33 municípios, tendo-se em seguida acontecidos as eleições de 2003, e nas
eleições de 2008 viriam a ser criados mais 10 autarquias ao abrigo da lei 3/2008 e sendo
as quartas eleições da história da criação das autarquias as realizadas em 2013.

Segundo NGUENHA (2009), o período entre os anos de 1997 a 2002 correspondem a


fase do estabelecimento e organização administrativa dos municípios. Aponta ainda que
foi nesta fase que o governo dedicou especial atenção a reorganização da máquina
administrativa herdada da anterior estrutura de administração do Estado.

A que referir que, o primeiro mandato das autarquias ainda se deparava com vários
problemas herança dos extintos conselhos executivos, dentre os quais apontam-se infra-
estruturas obsoletas e pessoal sem formação académica, este período foi caracterizado
pela organização interna dos órgãos autárquicos. Seguindo-se então a segunda fase de
2003 à 2008, é caracterizada como explica (NGUENHA, 2009), por uma harmonização
da organização técnico-administrativo e da articulação entre os órgãos autárquico e
autoridades comunitárias.

Nesta frase os municípios viam-se encorajados a desenvolver formas de organização da


sociedade civil. Contudo, encontramos a terceira fase, que teve seu início em 2009
estendendo-se até 2013, representando o período de consolidação do mecanismo de
consulta comunitária ou estabelecimento de práticas de planificação e orçamento
participativo.
20

Ao abrigo da lei 10/97 de 31 de Maio, havendo condições com forme o estabelecido na


lei 2/97 era assim constituído o Conselho Municipal da Cidade de Nampula tendo como
seu primeiro presidente Dionísio Chereua, que esteve afrente do município por um
mandato; nas eleições de 2003 o município teve um novo presidente Castro Namuaca,
que governou o município por dois mandatos; para as eleições realizadas em 2013 o
partido FRELIMO perde o município para o MDM com o seu candidato Mahamude
Amurane estando a governar actualmente.

1.3 História da Cidade de Nampula

O Município da cidade de Nampula esta localizada no interior da Província com o mesmo


nome, a cidade limita-se a norte pelo rio Monapo, que separa a cidade e o posto
administrativo de Rapale, a sul pelos postos administrativos de Namaita e Anchilo, a
Oeste encontram-se os postos administrativos de Rapale e Namaita e a Este é limitado
pelo posto administrativo de Anchilo.

Segundo PELISSEIER (2000, p.295) foi através do nome Wamphula ou M’phula que a
cidade ganhou o seu nome. Uma cidade com origem militar, característica que ainda se
mantem, por intermédio de uma expedição militar chefiada por Major Neutel de Abreu
teria acampado nas terras de Wamphula a 7 de Fevereiro de 1907, que teria resultado com
a construção do comando militar de Macuana. A 6 de Dezembro de 1919 criava-se uma
povoado tendo-se tornado a sede das Circunscrições Civis isto a 30 de Junho de 1921.

Nampula torna-se assim o quartel-general do exército português, depois da independência


este quartel passou a ser a Academia Militar Samora Machel. O desenvolvimento da
povoação é notável a quando da chegada do caminho-de-ferro, a partir de Lumbo, criava-
se assim a vila de Nampula em 19 de Dezembro de 1934, a 22 de Agosto de 1956 a vila
de Nampula é elevada a categoria de Cidade com a denominação de “Cidade de
Nampula”.

1.3.1 Divisão Administrativa e política da cidade de Nampula

Com o estatuto de Município a cidade da Nampula equivale de forma administrativa a um


distrito, com 6 postos administrativos urbanos que englobam na sua totalidade 18 Bairros.
21

O desenvolvimento e expansão dos limites geográficos da cidade de Nampula


actualmente têm estado a conhecer certos acréscimos devido a ordens administrativas e
politicas. Assim segundo ARAÚJO (2005, p.211):

Este acréscimo traz consigo problemas, uma vez que a cidade vai
retirando dos distritos rurais vizinhos da cidade de Nampula territórios
que serviriam de suporte no desenvolvimento social e económico destes,
do mesmo modo subtrai-lhes impostos de actores económicos que por
alteração dos limites administrativos passam a paga-los a cidade de
Nampula.

De acordo com os dados fornecidos pelo Conselho Municipal da Cidade de Nampula, o


município corresponde a toda extensão territorial da cidade de Nampula, que é dirigida
pela Assembleia Municipal e pelo Presidente do Município. Os chefes dos postos
Administrativos da cidade de Nampula por sua vez são indicados pelo presidente do
Conselho Municipal, ao passo que os chefes dos postos Administrativos do distrito de
Nampula são indicados pelo Governo da Província de acordo com as suas competências.

De acordo com RICARDO XAVIER3 (2015, p.24) existem cinco postos administrativos
fora do posto administrativo central actualmente em plena transformação,
desenvolvimento e expansão, os seus bairros conhecem uma mistura em termos de
classes e status socioeconómicos dos seus residentes. Alguns destes bairros e áreas rurais
como resultado das reformas administrativas que se deram em Moçambique em 1986
ficaram integrados dentro dos novos limites da cidade de Nampula.

Ainda segundo este autor é nestes bairros que se vai instalando parte da população
migrante e com menos recursos económicos e, nalguns deles, o planeamento e
urbanização são ainda incipientes ou mesmo inexistentes predominando a ocupação
espontânea dos espaços4, estes factores provocam uma escassez ou mesmo dificuldades
de instalação de infra-estruturas e serviços base para a população (Idem, p.24).

3
Docente Universitario. Universidade Pedagógica Delegação de Nampula.
4
Ricardo Acacio Xavier. As estruturas de poder local das autoridades tradicionais na cidade de Nampula,
1970-2000. Dissertção de Mestrado: 2015, p.24
22

Tabela 1: Postos Administrativos da Cidade de Nampula

Postos Administrativos Bairros da Cidade de Nampula


 Bombeiros
 25 de Setembro
Posto Administrativo Central  1° de Maio
 Limoeiros
 Liberdade
 Militar
 Muhala
Posto Administrativo de Muhala  Namutequeliua
 Muahivire
Posto Administrativa de Muatala  Muatala
 Mutaunha
Posto Administrativo de Namicopo  Namicopo
 Mutava-Rex
Posto Administrativo de Napipine  Napipine
 Carrupeia
 Natikiri
Posto Administrativo de Natikiri  Marrere
 Murrapaniua
Fonte: Conselho Municipal da Cidade de Nampula

1.3.2 Importância Economica da Cidade de Nampula

Atravessada pelo Corredor de Desenvolvimento Norte, pelos eixos ferroviário e


rodoviário que ligam a cidade ao litoral nomeadamente aos Portos de Nacala-à-Velha e
Nacala-Porto. Desde a instalação dos órgãos autárquicos no Município de Nampula
muitos são os esforços empreendidos por forma a desenvolver a economia local, tornando
a cidade cada vez mais atractiva promovendo melhores condições ambientais e de vida
dos munícipes criando investimentos públicos e privados5.

De acordo com ARAÚJO (2005, p.210), explica que a cidade de Nampula é também
cruzada pelo eixo rodoviários centro-nordeste de grande importância para o
desenvolvimento económico da região norte do Zambeze, onde se ramifica a partir deste
ponto em direcção a Província de Cabo Delgado a norte e a ocidente da Província do
Niassa e o litoral.

5
Perfil do Municipio de Nampula, 2011, p.7
23

Ainda aborda ARAÚJO (2005, p.210) que para além da cidade de Nampula ser um local
de estratégia militar, sempre foi um centro económico para a zona norte do País como via
de escoamento de produtos e bens para o vizinho Malawi, valendo-se assim o título de
“Rainha do Norte”.

Portanto, o sector informal desempenha um papel importante para a sobrevivência da


população e da economia da cidade de Nampula. Tais actividades informais incluem o
comércio informal e a produção agrícola. Os produtos agrícolas que mais se produzem
são: a mandioca, amendoim, batata-doce, milho ou hortaliças para o consumo de varias
famílias, cujos mesmos são produzidos dentro e fora da área municipal.
24

CAPITULO II: PROCESSOS ELEITORAIS, DE GOVERNAÇÃO E


ABSTENÇÕES ELEITORAIS

Neste capítulo serão abordados todos os conceitos inerentes a temática em discussão.


Deste modo com o ímpeto de facilitar o processo de compreensão dos aspectos tratados
ao longo da pesquisa, achou-se importante abordar de forma detalhada tais conceitos que
fazem parte do trabalho, segundo o ponto de vista de vários autores.

2.1 Sistema Eleitoral

Segundo aborda BASTOS (1999, p.160), o sistema eleitoral é “ a forma e o modo de


expressão da vontade eleitoral, pela qual o cidadão-eleitor decide escolher este ou aquele
candidato, este ou aquela lista, e esta vontade é traduzida num resultado global final”.

Para este autor confere um significado particular ao sufrágio universal e revela a postura
dos políticos nos três grandes momentos eleitorais, nomeadamente, o momento pré-
eleitoral, o eleitoral e o pós-eleitoral. Assim sendo, são actores-chave, o cidadão que
designado eleitor real, os concorrentes (dos partidos políticos, de grupos de cidadãos ou
independentes), a sociedade civil organizada e o Estado.

Por outro lado segundo esclarece GOMES (2014, p.121) sistema eleitoral, tem por função
a organização das eleições e a conversão de votos em mandatos políticos. Em outros
termos, visa proporcionar a captação eficiente, segura e imparcial da vontade popular
democraticamente manifestada, de sorte que os mandatos electivos sejam conferidos e
exercidos com legitimidade.

Contudo, o sistema eleitoral escolhido por cada país representa a melhor maneira de
compor a vontade dos eleitores para cada tipo de cargo político. Com base nisso, a Lei
eleitoral em Moçambique institui que as eleições moçambicanas serão regidas pelos
sistemas leitorais maioritário e proporcional.
25

2.1.1 Tipos de Sistemas Eleitorais


2.1.1.1 Sistema Maioritário

No entender de MENDES et all (2012, p.130) o sistema maioritário é a fórmula eleitoral


pela qual aquele que obter maior número de votos, no interior de um distrito eleitoral (ou
colégio ou circunscrição) será declarado vencedor. Assim visa a constituição de maiorias
partidárias, ainda que baseadas em uma minoria.

Este modelo é historicamente o mais antigo, utilizado na Grécia e na Roma Republicana.


Está ligado ao sistema de governo presidencialista, haja vista a figura de um único
vencedor, individualizado, remeter há um governo centrado e representado pelo
Presidente da República.

Seguindo a sistemática de LIJPHART (1989), os sistemas maioritários podem ser


divididos em três subsistemas:

 O primeiro é o sistema denominado de maioria simples ou relativa em distritos


unionistas, ou sistema distrital, ou de pluralidade, ou ainda first-past-the-post, na
versão inglesa;
 O segundo é o sistema de voto de dois turnos, ou sistema de maioria relativa, que
na sistemática de LIJPHART (1989, p.204) foi adoptado na França. Não obtida a
maioria absoluta no primeiro turno, far-se-á uma segunda votação, excluindo os
candidatos que obtiveram votação abaixo de um limite pré-estabelecido, sendo
necessária apenas a obtenção de maioria simples para a eleição do vencedor.
 O terceiro é o sistema de voto alternativo, adoptado na Austrália. Trata-se de um
sistema de voto preferencial, em turno único. O eleitor estabelece uma
classificação de preferência de candidatos, e caso nenhum candidato obtenha
maioria absoluta na primeira contagem, elimina-se os menos votados e
redistribuem-se as segundas preferências do eleitor, repetindo-se esse
procedimento até a que algum candidato obtenha a maioria absoluta dos votos.

Analisando estas três sistemáticas propostas por Lijphart, comparando com o previsto no
sistema eleitoral em vigor em Moçambique, chega-se a conclusão de que o nosso sistema
maioritário para a eleição do presidente da república assemelha-se a segunda adoptada na
França.
26

2.1.1.2 Sistema Proporcional

Regra geral os sistemas proporcionais se baseiam em um esquema de quotas. De acordo


com FERREIRA apud BARROS (2010, p.278) após um escrutínio, computa-se o total de
votos validos, em seguida, procede-se a um segundo cálculo que indica o número de
votos necessários para a obtenção de uma cadeira, equivalente a uma quota (a quota
eleitoral). Cada partido obtém uma cadeira por cada quota de votos destinada à sua lista
de candidatos.

Duma forma resumida, de acordo com FERREIRA (2010) a representação proporcional é


um sistema através do qual se assegura aos diferentes partidos políticos no parlamento
uma representação correspondente à força numérica de cada um.

Configura-se assim o sistema proporcional com um instrumento de registro da


preferência popular, através do qual busca-se traduzir, com a maior precisão possível, a
verdade de grupos sociais existentes. Em Moçambique, este sistema é usado com base na
fórmula de D’Hondt.

2.2 Abstenção eleitoral

A palavra abstenção tem sua origem no latim: abstinere, que significa abster, suprimir,
privar-se de, evitar. A expressão começa a ser usada no direito privado, como renuncia ou
não exercício de um direito ou obrigação, nomeadamente a uma herança. Depois passa
para a linguagem política, querendo significar a renúncia ao exercício de direitos
políticos, nomeadamente o facto de o eleitor não comparecer para votar ni dia da eleição.

Nas pertinentes palavras de NOGUEIRA (2005) define a abstenção eleitoral, como sendo
a participacao política de facto, dado que ela não visa apenas à defesa de interesses
particulares, mas interfere directamente na governação e tem efeitos que dizem respeito a
toda a colectividade.

De acordo com BRAUDEL (2000), a abstenção eleitoral existe no meio de duas


variantes: a primeira é uma abstenção reveladora de uma medíocre inserção social e à
segunda concerne, só contrário, às pessoas interessadas pela política, informadas e
atentas.
27

Por outro lado SIBILEAU (1997) explica que a abstenção eleitoral pode ser considerada
um aviso a classe política, expressada por uma crítica ao sistema partidário, pois os
eleitores manifestam com este comportamento um desencontro entre a oferta eleitoral e
as suas expectativas como eleitores.

Ainda em outra perspectiva FRANCISCO (2008) trás uma outra abordagem em torno
desta temática, para este autor a abstenção eleitoral vem-se convertendo numa instituição
tão poderosa como a informalidade das relações económicas e sociais, representando uma
ameaça tanto para o partido no poder como para os partidos da oposição seja ela
consciente oi inconsciente, este fenómeno reflecte desilusão, fadiga e a negação ao voto
positivo, não apenas a um ou outro partido, mas a um todo sistema.

Contudo, a abstenção eleitoral é a recusa, pelos cidadãos, de escolher dentre as condições


de oferta eleitoral tal como se apresentam aos eles, isto é, o acto de negar ou se eximir de
fazer opções políticas. Assim, neste caso, os cidadãos estimam não encontrar a
possibilidade de exprimir adequadamente suas preferências no processo.

A abstenção seria o resultado de um desencanto democratico, na qual o eleitorado


entende que a política perdeu a sua credibilidade passando assi a assumir a existência de
uma crise de confiança entre o eleitorado e os seus representantes, considerando-se assim
um aviso a classe política.

2.2.1 Tipos de Abstenção Eleitoral – Activa e Negativa

Nas pertinentes palavras de PASQUINO (1986), o termo abstencionismo é utilizado


basicamente para definir a não-participação no acto de votar. Pode, no entanto,
compreender a não-participação em um conjunto de actividade politica sendo definida
como apatia, alienação. Como muitas das variáveis ligadas à participacao eleitoral, o
abstencionismo é de fácil avaliação quantitativa. É, com efeito, calculado com o
percentual daqueles que, tendo direito, não se apresentam às urnas.

Já em outra abordagem, segundo LAGUNA (s/d) por sua vez, afirma que os estudos
eleitorais identificam tradicionalmente a abstenção eleitoral com a ausência do exercício
do direito de sufrágio activo, quer dizer, com o não-votar em processo eleitoral
28

determinado. Esta abstenção eleitoral, segundo o autor, pode ter sua origem em uma
discrepância radical com o regime político (ou inclusive, com a democracia), em que
“não se deseja participar de nenhuma forma ou em um convencimento de que nada pode
mudar realmente ganhe quem ganhar as eleições, entre os principais motivos que
fundamentam a esta atitude”.

É uma abstenção voluntaria, que FREIRE e MAGALHÃES (2002) chamam de


“Abstenção política” ou seja, aquela protagonizada por indivíduos com razoáveis níveis
de recursos (matérias e educacionais) e de integração social, que assumem a abstenção
como uma opção estratégica para mostrar o seu descontentamento com o funcionamento
do sistema e/ou com os partidos. Portanto, a abstenção política é aquela que expressa um
rechaço às alternativas partidárias existentes, a determinados regimes políticos e/ou a
lideranças partidárias.

Entretanto, há outro tipo de abstenção, que é aquela forcada pelas circunstâncias:


dificuldades climáticas, indisposições ou acidentes, por viagens não previstas, enfim por
acontecimentos pessoais de índole variada. Nesse caso não é uma abstenção voluntaria,
que Laguna denomina de “abstenção técnica” (difícil de quantificar, mas certamente parte
da abstenção eleitoral).

Existem, portanto, uma abstenção voluntaria e outra que ele chama de “técnica”, que se
caracterizam pela não-participacao no processo eleitoral, ou seja, uma abstenção não
participante. A este tipo de abstenção é chamada de “Abstenção Negativa”.

Em uma outra linha de pensamento o autor lança a ideia de que abster-se eleitoralmente,
não significa tão-somente não votar ou não participar nas eleições, “também pode
significar não expressar preferências por nenhuma das opções eleitorais concorrentes”,
votando em branco ou anulando o voto. (idem)

Para este caso VITULLO (2005) diz tratar-se de um tipo de abstenção distinta da anterior,
que ele chama de “Abstenção Activa”, que “tem sido tradicionalmente discutida nos
estudos eleitorais e não tem merecido a atenção específica que requer”.

O entendimento aqui segundo a ideia do autor é que o voto em branco constitui uma
abstenção activa voluntaria e, certamente legitima.
29

Já o voto nulo é um voto irregular, que segundo LAGUNA (s/d), “supõe uma
discrepância formal com as regras estabelecidas e também uma discrepância material, no
sentido de que não permite averiguar qual seja a vontade que o eleitor pretende expressar,
ou suscita dúvidas razoáveis acerca de qual seja essa vontade”.

Dessa forma a abstenção activa, nos termos do autor, diferem da abstenção passiva, não
questiona os processos eleitorais democráticos, mas põe em relevo questionamentos em
relação aos partidos, sistemas eleitorais, etc. e, no limite, também pode se transformar em
abstenção passiva, indicando, entre outros aspectos, “os défices democráticos de uma
determinada sociedade”.

2.2.2 Níveis de Abstenções eleitorais na cidade de Nampula 2009 – 2014

Segundo DALL (1997) o comparecimento às urnas em processos eleitorais constitui um


dos elementos básicos do processo da construção democrática, na medida em que dita a
configuração e legitimação da acção governativa e cristalizando assim uma das
dimensões mais importantes da democracia representativa “o direito a participacao”.

É neste sentido, que se analisa os níveis de abstenção que tem registado subidas das taxas
de abstenção eleitoral representando, assim, um desafio para a institucionalização e
desenvolvimento dos regimes democráticos.

Relativamente aos níveis de AbE, a Cidade de Nampula apresenta assim um padrão que
segue o que se verifica à escala Provincial e Nacional, no quesito participacao
relativamente altas nas primeiras eleições multipartidárias de 1994 e um aumento
considerável da abstenção nas eleições subsequentes. Assim, a cidade de Nampula é uma
dentre vários distritos da Província com níveis altos de abstenções (61,40% em 2009,
74,26% em 2013 e 53,50% em 2014).
30

Gráfico 1: Abstenção eleitorais na Cidade de Nampula (1994 – 2014)

90% 84,90%
80% 75,00% 74,26%
68,00%
70% 61,40%
60% 53,82%
50% 42,30%
40% 32,50% Eleições Autarquicas
30%
20% Eleições Presidenciais
9,80%
10%
0%
1994 1998/1999 2003/2004 2008/2009 2013/2014

Fonte: Dados da CNE (2015) fornecidos pelo CEPKA – 2017

Importa analisar partindo deste gráfico, uma subida excessiva dos níveis de abstenção nos
pleitos eleitorais a nível da Cidade de Nampula, embora esta esteja representada de forma
oscilatória não deixa de ser níveis altos de abstenções que perigam de certa forma a
democracia e a legitimação do governo.

Os anos em estudo (2009, 2013 e 2014) sendo o primeiro ano com uma percentagem de
61,40% fui um ano de maior abstenção para as eleições gerais, o segundo com uma
percentagem de 74,26% foi o ano com maior nível de abstenções comparado ao ano de
2008 que foi de 68,00%. Nas últimas eleições registou-se uma ligeira redução tendo-se
registado 53,82%, que no entender do partido FRELIMO esta redução deveu-se ao
esforço empreendido por este partido na massificação da divulgação da sua agenda de
governação, abrangência da campanha eleitoral a todos os níveis comparados aos pleitos
anteriores, abrangência da educação cívica e acima de tudo a valorização do voto por
parte dos seus membros e simpatizantes.

2.2.3 Factores e Causas das Abstenções na Cidade de Nampula

Vários são os factores que estão por detrás do crescente nível do abstencionismo na
cidade de Nampula e a nível nacional, tomando como ponto de partida os tipos de
abstenção e as formas como estas se manifestam em vários pleitos eleitorais, são
apontadas alguns factores e as respectivas causas.
31

Segundo os relatórios de participação eleitoral6 de 2013 feitas pelos partidos FRELIMO e


MDM apontam os seguintes factores da Abstenção eleitoral:

 Factores de ordem institucional:


 A falta de credibilidade nas instituições do Estado;
 Factores de ordem administrativa:
 Perca de confiança nos processos eleitorais;
 A fraude eleitoral;
 Factores de ordem política:
 A clivagem político-partidária;
 Factores de ordem economica:
 A exigência de um presente melhor (como forma de exigir mais sobre o
Slogan da Frelimo “Futuro Melhor”);
 Programas de desenvolvimento sem inovação;
 A exclusão social, um Estado pouco redistribuidor, individual e
regionalmente dos benefícios da riqueza social;
 Factores de ordem individual (comportamental):
 Descontentamento

Atinente a estes factores em conjunto com a abstenção pode-se de forma mais extensa
apresentar as seguintes causas:

 Desproporcionalidade na distribuição geográfica das urnas/mesas de voto;


 Incapacidade de resposta dos postos de votação face ao número de eleitores
inscritos;
 Perda ou troca de cadernos eleitorais (ou ate mesmo ausência dos nomes dos
eleitores inscritos nos cadernos) e consequentemente impossibilidade de exercício
de voto por parte do eleitor;
 Desconfiança para com o processo eleitoral, devido a denúncia de fraude
recorrentes; descredito face a política, aos políticos, aos partidos políticos e aos
governantes;

6
Relatorios de Participação eleitoral. MDM – FRELIMO, Relatorio de Participação das eleicoes
Autarquicas de 2013.
32

 Privilégios de afazeres pessoais, sobretudo na população que comercializa


diariamente bens de consumo, agricultores entre outros;
 Longas filas de espera, agravadas pela insuficiência e ruptura temporária de
material de trabalho nos postos de votação;
 Fraca campanha de educação cívica associada a desinformação;
 Longas distâncias de localização dos locais de votação;
 Discursos bélicos em momentos eleitorais;
 Adversidades climatéricas durante o momento do recenseamento ou da votação:
 Dificuldades no processo de registo de potenciais eleitores;
 Contradição crescente entre o enriquecimento das elites politica e os discursos
populistas ou desenvolvimentistas.

Portanto, dado a esses factores e causas os níveis de abstenção são cada vez mais
alarmantes, mostrando assim uma forma de revolta por parte dos eleitores em torno das
políticas eleitorais, económicas. Tal situação em grande medida cria um ambiente de
desconforto por parte do governo municipal, sendo que este é o maior alvo a nível local
dessa manifestação pacífica mas de grande perigo.

2.3 Participação Político-Eleitoral

Segundo MARTINS (2004), no sentido etimológico, o termo participação (lat,


participatio) significa, “fazer parte de”, “tomar parte de em qualquer coisa”. De acordo
com esta acepção poder-se-á afirmar que a noção de participação política remete a ideia
de alguém tomar parte da vida política.

Na ciência política o conceito de participação política é utilizado para designar um com


junto de actividades como por exemplo: votar, filiar a um partido politico, participar em
manifestações, comícios, exercer cargos políticos, entre outras acções pelíticas.

Segundo aborda BOBBIO (1994) a participação eleitoral é o mecanismo de participacao


política mais convencional das sociedades democráticas e, em muitos casos, a única
forma utilizada para a participacao nos assuntos públicos.
33

Contudo, sendo muitas as dificuldades em delimitar a sua natureza, modos, formas,


determinantes e graus, não é possível encontrar uma posição consensual quanto a
conceptualização operacional desta expressão. Mas a participacao politico-eleitoral é de
grande importância uma vez que se resume ao exercício da cidadania como tal.

2.4 Processos de Governação


2.4.1 Governação Local

Nas pertinentes palavras de OLOWU WUNSCH (2004), a governação local é um


processo de governação através do qual os residentes de uma determinada área
participam na resolucao de seus problemas locais. Eles são actores-chave de decisão na
escolha de prioridades de projectos locais, sua implementação e de forma como os
recursos são alocados para o secesso desses mesmos projectos.

Para FORQUILHA (2011), a governação local é a forma pela qual vários actores estatais
e extra-estatais, singulares e colectivos participam na provisão de bens e serviços.

Contudo considera-se assim, governação local como sendo o modelo descentralizado de


governação cujos vários actores estatais e não-estatais participam de forma activa na
resolucao de seus problemas, bem como na provisão de bens e serviços para o bem de
todos.

2.4.2 Governação Participativa

Nas abordagens de MASC7, o seu guião sobre a Participação Comunitária e da Sociedade


Civil e Promoção da Boa Governação publicado em (2011), a governação participativa
refere-se a articulação e cooperação entre o governo municipal, actores sociais e políticos
(que inclui não apenas redes sociais formais, mais também redes sociais informais que
compreende a sociedade civil local, religiosa, lideres tradicionais, organizações
comunitárias, associações de varia ordem), na gestão dos interesses económicos, sociais,
políticos e culturais do âmbito municipal e da governação local.

7
Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil, Guiao de Consulta para a Participacao Comunitaria e da
Sociedade Civil na Promocao da Boa Governacao-Âmbito Municipal, revista sobre Como Compreender a
Governacao Participativa, Participacao e Sociedade Civil.
34

O conceito de participacao segundo aborda BABCOCKETAL (2008) é utilizado para


designar variadas formas de desenvolvimento dos cidadãos nos processos de governação,
independentemente do grau de profundidade com que os cidadãos são envolvidos em tais
processos. Assim, os níveis de envolvimento dos cidadãos nos processos de governação
vão desde a partilha de informações que os governos detêm, passando pela consulta até à
partilha do poder decisório.

A governação participativa é indispensável porque promove:

 Prestação de contas e responsabilização quer das autoridades locais assim como


da sociedade civil;
 Eficácia e eficiência no fornecimento de bens e serviços públicos e melhoria na
qualidade dos serviços prestados aos cidadãos;
 Transparência na gestão dos bens públicos e comunitários;
 Aumento do controlo social das decisões colectivas;
 Apropriação das comunidades locais dos processos públicos local.

2.4.3 Descentralização e Desconcentração

Segundo DI PIETRO (2004, p.349), este define a descentralização como sendo “a


distribuição de competências de uma pessoa para outra pessoa física ou jurídica”.

A descentralização implica portanto a transferência efectiva de poder decisório para os


agentes locais da Administração. Isto significa que os órgãos regionais têm autonomia,
dentro dos seus limites estabelecidos, para formular politicas locais, estabelecer
prioridades e planear o atendimento das demandas. Pode abranger, além da execução de
actividades, as decisões referentes a formulação de políticas e a definição de prioridades,
ao planeamento operacional a normalização e ao controlo. Assim, quanto maior for o
nível de transferências dessas atribuições, maior será o nível de descentralização
implantado, (DI PIETRO, 2004, p.349).

Ainda em outra abordagem SOUSA (2011) explica que a literatura trata a


descentralização como uma política concedida do centro para as esferas sob nacionais.
Descentralização implica a redistribuição do poder, uma transferência na colocação das
35

decisões. Enquanto a desconcentração é a delegação de competências sem a alteração do


poder decisório.

No contraste de ambos os termos é preciso ter clara que, embora ambos sejam
ferramentas legítimas para transformar a acção governamental, há umas notórias
diferença nas consequências de implementação de uma ou da outra. É por isso que deve
se dar enfase à distinção conceptual de ambos os conceitos, longe de representar uma
“confusão”, é a articulação consciente de um determinado uso da palavra como meio de
atingir fins precisos e manifestos.

Assim, para LOBO (2011) a descentralização envolve necessariamente alteração dos


núcleos do poder decisório até então centralizado em poucas mãos. Sob esse ponto de
vista, há, em verdade, três possíveis vertentes nas quais a descentralização se expressa:

 Da administração directa para in directa;


 Entre níveis de governo;
 Do Estado para a Sociedade Civil.
 A primeira trata-se da proliferação de empresas públicas, sociedades de
economia mista, autarquias, funções que, sob a justificativa da
necessidade de agilização das acções governativas, compõem hoje um
corpo poderoso à margem do controlo central.
 A segunda vertente refere-se às relações intergovernamentais. Num país
federetivo, tais relacoes são definitivas para a caracterização do maior ou
menos grau de centralização do sistema. A grande demanda por
descentralização passa principalmente por esta vertente.
 A terceira vertente refere-se à transferência de funções, hoje executadas
pelo sector publico, que poderia ser melhor executadas exclusivamente ou
em cooperação com o sector privado. Entenda-se aqui o sector privado
não apenas de ponto de vista de instituições económicas (empresas), mas
também incluindo organizações civis, sejam de classe ou comunitárias.

Segundo ROCHA (2009) citado por ZAVALE (2011), a descentralização trata-se de um


conceito popular e que significa em termos genéricos a difusão da autoridade dum
pequeno para um maior número de actores. Para este autor, do ponto de vista
36

organizacional, consiste na descentralização de autoridade do topo para os gestores


intermédios, e que podem ser difundidos sob a forma administrativa, política e territorial.

A descentralização administrativa de acordo com ZAVALE (2011) pressupõe a


existência de duas pessoas jurídicas: o titular originário das funções e a pessoas jurídica
que é incumbida de as exercer e acarreta uma especialização na prestação do serviço
descentralizado, o que é desejável em termos de técnica administrativa. Para este autor, se
essa incumbência se consubstanciar numa outorga, será criada por lei, ou em decorrência
de autorização legal, uma pessoa jurídica que receberá a titularidade de serviço
outorgado.

Por seu torno, a descentralização política, refere-se à disseminação do poder politico por
diferentes instituições ou organismos regionais ou locais, pois está ligada à autonomia das
autarquias locais, nos termos do disposto no artigo 7 do Decreto-Lei 2/97 de 18 de
Fevereiro. No entanto, e como refere ZAVALE (2011) para entender o alcance total da
descentralização é necessário ter em atenção o disposto no artigo 272 no seu n° 1 da
referida lei (Boletim da República, I Serie, n° 7 de 18 de Fevereiro, 1997).

Para ROCHA (2009) admite a possibilidade de a descentralização administrativa


coexistir com a política, não se podendo confundir uma da outra, uma vez que têm
diferentes implicações em termos de accountability e de estruturas no processo de
decisão. A descentralização tem de resultar de uma combinação daquilo que é feito de
cima para baixo, que também é resultado de baixo para cima, processo que deve ser
sempre executado de forma sustentável.

A delimitação de fronteiras entre a descentralização e a desconcentração é ainda para


muitos, algo um tanto quanto difícil. Embora muitos autores concordem com a distinção
“formal” destes termos, alguns os aplicam “operacionalmente” como sinónimos.

Na teoria de RIVEIRO citado por CISTAC (2001) a desconcentração é uma modalidade


da centralização. Centralização concentra o conjunto das tarefas administrativas que se
propõem sobre o território nacional nas mãos do Estado. Esta assume-se através de uma
administração hierárquica e unificada.

Nessa perspectiva segundo CISTAC (2001) chama-se desconcentração a esta


transferência, para um agente local do Estado, de um poder de decisão até aqui exercido
37

pelo chefe supremo da hierarquia. É um processo de ordenamento interno do Estado, isto


é, é sempre o Estado que decide, mas no local e não na capital. Actuando como
mecanismo de delegação de competências no âmbito de uma mesma pessoa colectiva de
direito público, a desconcentração é fundamentalmente uma modalidade organizada
interna do Estado.

Assim segundo esclarece CISTAC (2001):

Na desconcentração, a decisão é sempre tomada em nome do Estado por


um dos seus agentes; só há substituição do chefe da hierarquia,
normalmente o Ministro, por um agente local, como por exemplo um
Governador, ou o Administrador do Distrito, o que não acontece co a
descentralização, onde a decisão já não é tomada em nome e por conta
do Estado por um dos seus agentes, mas em nome e por conta de uma
autarquia local por um órgão que emana dela.

Para ZAVALE (2011) a desconcentração é uma simples técnica administrativa, sendo


utilizada, tanto na administração directa, quanto na indirecta. A desconcentração segundo
este autor ocorre quando a administração, encarrega de executar um ou mais serviços,
distribui competências, no âmbito de sua própria estrutura, a fim de tornar mais ágil e
eficiente a prestação de serviços. Pressupõe, obrigatoriamente, a existência de uma só
pessoa jurídica, isto é, opera-se sempre no âmbito de uma mesma pessoa jurídica,
constituindo uma simples distribuição de competências dessa pessoa.

Por outro lado, conforme aborda BUARQUE (1999), a desconcentração representa


apenas a distribuição de responsabilidades executivas de actividades, programas e
projectos sem a transferência da autonomia decisória.

Ainda segundo MEDICI e MACIEL (1996), a desconcentração representa a distribuição


de responsabilidades pela implantação de acções dos órgãos centrais para suas agências e
representações em subespaços territoriais, processo este interno a instância centralizadora
sem o envolvimento das instâncias descentralizadas autónomas.

Segundo CISTAC (2001) citando Delcamp a descentralização e a desconcentração não se


opõem necessariamente. A primeira pode constituir uma preparação útil para a segunda
se desse o princípio o objectivo da administração descentralizada for claramente
colocado. A desconcentração pode aparecer, e, particular, como uma fase de transição útil
para os países preocupados em reconstruir um sistema democrático.
38

Por outra MAZULA (1998) apresenta um conceito breve da descentralização entendida


por este como sendo a criação de entidades autónomas destintas do Estado, paralelas a
ele. Este autor analisa a descentralização sob a ideia do desaparecimento da hierarquia
administrativa, surgindo um relacionamento entre as pessoas jurídicas diferentes, com a
atribuição e responsabilidades juridicamente definidas por lei.

2.4.4 O processo de Descentralização em Moçambique

Segundo MAZULA (1998) em Moçambique antes da independência em 1975, vigorava


um sistema estatal colonial centralizado e autoritário. A organização do sistema reflectia
esse forte grau de centralização. Em praticamente quase todos os escalões os órgãos
dirigentes eram nomeados. Apos a independência, a característica centralizadora
manteve-se não obstante a introdução da chamada democracia popular. No entanto, cedo
se revelaram as fragilidades e ambiguidades do processo.

No decurso da década 80 segundo aborda MAZULA (1998), inicia-se um processo de


mudanças profundas aos níveis político, económico e social, pois a Frelimo abandona a
orientação marxista-leninista, iniciando um processo de abertura política e o país aderiu
às instituições financeiras internacionais nomeadamente o FMI e o Banco Mundial,
abandonando o modelo de economia centralmente planificada para a economia de
mercado.

Assim, a implementação dos processos de descentralização política (devolução) e


desconcentração administrativa foi acelerada pela democratização do País, iniciada
efectivamente com as eleições legislativas e presidenciais de 1994.

Foram criados órgãos representativos e executivos a nível local. Surgem deste modo as
autarquias locais que marcaram o inicio da descentralização entendida, não como mera
transferência de competências dos órgãos centrais para os órgãos locais do Estado, mas
como verdadeira partilha de competências entre o Estado e de seus entes, as autarquias
locais, dotadas de autonomia administrativa, financeira, jurídica e patrimonial, cuja
consolidação reclama a dotação de mais recursos materiais, humanos e financeiros,
(idem).
39

São normalmente considerados três tipos de descentralização segundo esclarece


MAZULA (1998):

 Descentralização administrativa ou desconcentração: nos casos em que a


descentralização é feita sem implicar uma transferência definitiva de autoridade,
poder de decisão e implementação, da administração central para outros agentes
fora dos órgãos centrais;
 Descentralização política ou devolução: quando a descentralização implica uma
transferência final do poder de decisão e implementação da administração central
para os órgãos locais eleitos;
 Conjunto de técnicas de descentralização: delegação, privatização e desregulação.
Quando a descentralização implica uma transferência limitada de poderes de
decisão e implementação da administração central para uma empresa ou agência
do Estado, ou uma transferência parcial de tais poderes para uma companhia
privada ou comunitária.

Alguns autores consideram a que descentralização ideal é um misto de descentralização


administrativa, fiscal e política.

A constituição de Moçambique (2004) dedicou um, de seus capítulos ao “Poder Local”


(Artigos 271/281) e outro a administração desconcentrada (Artigos 262/264), reforçando
o lastro constitucional para a série de medidas legislativas que precedem o texto
constitucional e para aquelas que se seguiram a ele.

O n° 1 do artigo 264 da Lei mãe estabelece que a organização, funcionamento e


competências dos órgãos locais do Estado são regulados por lei. Isso significa que o
legislador constitucional remete ao legislador ordinário a competência de legislar sobre o
órgão locais do Estado. A lei n° 8/2003, de 19 de Maio, vulgarmente conhecida por Lei
dos Órgãos Locais do Estado (LOLE), estabelece princípios e normas de organização e
funcionamento dos órgãos locais do Estado nos escalões de Província, Distrito, Posto
Administrativo e de Localidade.

Os órgãos locais do Estado tem como função à representação do Estado


ao nível local para a administração e o desenvolvimento de respectivo
território, ao mesmo tempo, eles contribuem para a integração e unidade
nacional (art. 262 da Constituição da República de Moçambique). A
organização e funcionamento dos órgãos locais do estado obedecem aos
40

princípios da descentralização e desconcentração (art. 263, n° 2 da


Constituição da República de Moçambique).

Para uma melhor compreensão, a tabela a baixo sumariza o entendimento de um e do


outro conceito, nomeadamente descentralização e desconcentração.

Tabela 2: Sumário dos conceitos Descentralização e Desconcentração.

Indicadores Descentralização Desconcentração


Os órgãos locais são eleitos e Os órgãos locais são nomeados e
Relação com o
representativos, directamente representam o governo central em
poder central
pelo eleitorado. determinado território.
Envolve a distribuição de
Evolve a devolução do poder de
competências, no âmbito da própria
decisão e responsabilidades às
estrutura administrativa, com a
subunidades do governo, ao nível
Ligação com o finalidade de tornar mais ágil e
local. É uma relação de
cidadão eficiente a prestação dos serviços.
cooperação e necessária. Não
Há uma relação de subordinação,
dependem hierarquicamente do
isto é, dependem hierarquicamente
poder central.
do poder central.
Promove a simplificação dos
procedimentos administrativos e Há distanciamento na medida em
a aproximação dos serviços aos que opera-se sempre no âmbito
Ligação com o cidadãos. No entanto, a interno de uma mesma pessoa
cidadão descentralização se inscreve jurídica, constituindo uma simples
como condição necessária mas distribuição interna de
não suficiente para desenvolver a competências dessa pessoa.
participacao.
Há maior probabilidade de Por se tratar de órgãos nomeados, a
prestação de contas dos sua legitimidade e o seu poder, do
dirigentes aos eleitores, visto que ponto de vista democratico, são
Accountability
os dirigentes são eleitos e uma limitados. E como não têm uma
vez eleitos, quererão renovar os relação directa com o eleitorado, é
mandatos, o que passa óbvio que tendem a prestar contas a
41

necessariamente por prestar quem os nomeou, pois sabem que é


contas, pois os resultados das dele que dependem para a sua
políticas públicas são mais continuidade no cargo que ocupa,
facilmente avaliadas ao nível ao invés do cidadão eleitor.
local.
Fonte: Adaptado pelo Autor com base nos autores Wunsch (2001); Boone (2003); Tobar
(1991); e Souza (2011).

No entanto, segundo BELARMINO (1990) importa referir que tanto a descentralização


assim como a desconcentração não são tão perfeitas quanto parecem, cada uma apresenta
as suas deficiências, os seus “pecados”. Eleições por si só, não garantem que o poder seja
efectivamente local e por assim dizer, a subdivisão do Estado em subunidades territoriais
não significa muito em termos de funcionamento e accountability. “Em órgãos
descentralizados, a participacao pode ser obstaculizada pela permanência de práticas
autoritárias ou clientelistas, ou pela distância que dispõe o domínio de um saber baseado
em pressupostos técnico-científicos”. (idem)

2.4.4.1 A descentralização como parte do processo de reforma e relegitimação do


Estado

Segundo MAZULA (1998) a descentralização é tida por alguns como parte de uma
necessária reforma e reposicionamento do Estado, muito centralizador mas incapaz de
potenciar o desenvolvimento e reconstrução do país, substituído muitas vezes pelos
chefes tradicionais, ONGs, instituições religiosas, e outros em actividades e funções que
caberiam tradicionalmente ao Estado. Como a prestação de serviços básicos.

A perde da credibilidade e legitimidade do Estado, decorre da ausência ou incapacidade


da administração, segundo alguns autores, isto tem algumas implicações muito negativas
ao nível da manutenção e reforço da unidade nacional. No presente contexto de
Moçambique, muitos consideram que é preciso fazer mais e melhor, devido também aos
problemas de natureza conjuntural e estrutural que afectam o país (o desemprego, a falta
de competitividade da industria nacional, a insuficiente dimensão do mercado), que pode
ser potenciado por uma descentralização gradual que tenha em conta a especificidade do
contexto moçambicano. Defendem ainda que o governo deve ser o elemento mobilizador
42

e dinamizador de todas as forças e inteligências nacionais para o desenvolvimento do país


(Idem).

2.4.4.2 A descentralização como parte do processo de pacificação e democratização


do país

A esta questão MAZULA (1998) afirma que “num contexto de reforma economica e de
resolucao de conflito interno que opunha a Frelimo e a Renamo, a descentralização em
Moçambique é prioritariamente vista por outros como parte do processo de pacificação e
democratização do país, e uma necessidade absoluta para poder dar resposta à diversidade
de Moçambique”.

Na medida em que pretende criar estruturas económicas e administrativas capazes de


fazer prestação de serviços e potenciar o desenvolvimento local, na medida em que
potência também o dialogo entre as estruturas do Estado e a comunidade assim como a
sociedade civil nas suas varias formas de organização, e descentralização contribui para a
reconstrução do Estado, a minimização de conflitos e a consolidação da paz.

Segundo o relatório de METIER (2004), realça que por se tratar de um poder mais
próximo do cidadão a descentralização potencia uma maior participacao e
responsabilização dos cidadãos na resolucao dos problemas e no desenvolvimento local,
reforçando a democracia ou pelo menos aproximando os cidadãos do centro da decisão
político-administrativa. Alguns dadores partilham desta visão e objectivo da
descentralização, enquanto processo potenciador de uma contínua democratização do
país, de uma partilha de poder com a oposição interna e de maior participacao e
envolvimento da sociedade civil na gestão pública local.
43

CAPITULO III: IMPACTO DAS ABSTENÇÕES ELEITORAIS NO PROCESSO


DE GOVERNAÇÃO NA CIDADE DE NAMPULA

Tendo como base um estudo desenvolvido em uma pesquisa exploratória com abordagens
do tipo qualitativas como procedimentos metodológicos, pretende-se assim neste capítulo
fazer a análise e interpretação dos dados colhidos durante o trabalho de campo de modo a
responder os objectivos traçados neste estudo, assim como pretende-se ainda discutir
esses dados fundamentalmente para responder de forma valida e conclusiva a hipótese do
presente estudo.

Com vista a percepção das citações usadas torna-se importante a apresentação de um


quadro ilustrativo.

Tabela 3: Quadro ilustrativo dos códigos usados para as citações dos entrevistados

Nome Código usado para citação


Alfredo Artur Matata D-2017
Albino Manuel Mucuna E-2017
Cândido Paulino H-2017
Cardoso Pascual Murrula G-2017
Karim Hermind I-2017
Luciano Cândido B-2017
Maurício Calavete Paulino C-2017
Marcelo Benedito João B1-2017
Silvério Abudo Omar Canate F-2017
Vasco Saíde Luís Napaua A-2017
Fonte: Autor – 2017

3.1 Analise dos níveis de abstenção na cidade de Nampula no período de 2009 a 2014

O voto traduz-se num dos fundamentos primeiros da legitimidade política dos


governantes nos estados atuais. A abstenção eleitoral (AbE) a essa ordem, não pode
deixar de ser vista como uma ameaça a essa legitimidade de governação.
44

A AbE sendo uma manifestação do descontentamento dos cidadãos em relação ao


sistema politico, as políticas de governação assim como a figura dos dirigentes, aparece
como um sintoma de crise do processo democratico numa razão proporcional da sua
importância. Nesta concepção a abstenção pode ser considerada “um aviso a classe
política” a expressão de “uma crítica do sistema político” e a manifestação do
“desencontro entre a oferta eleitoral e as expectativas dos eleitores” que em muitos casos
tem sido um total desencontro mesmo8.

O estudo sobre a AbE mostrou que esta não se distribui de maneira aleatória no sei do
eleitorado, dependendo no entanto de existência de determinados grupos sociais cujos
membros podem apresentar uma maior probabilidade de não exercer o seu direito de voto
por vários motivos. Nesta perspectiva, há que em primeiro lugar como forma primária
para a compreensão mais profunda da abstenção, há que definir o perfil dos
abstencionistas.

Assim, apresenta-se deste modo nos gráficos a seguir a análise feita para o perfil dos
abstencionistas na cidade de Nampula, o Gráfico 2 apresenta os níveis percentuais em
sexo e o Gráfico 3 em níveis de idade.

Gráfico 2: Sexo e Abstenção, Cidade de Nampula – (2013)

70% 65%
60%
50%
40% 35%
30%
20%
10%
0%
Homens Mulheres

Fonte: Autor, 2017.

Analisando os dados tendo como base os resultados do inquérito feito, chega-se a


conclusão de que segundo o gráfico 1, há uma maior percentagem de abstenções entre as
mulheres rondando em (65%) do que entre os homens (35%).

8
Françoise Subileau, “L’abstencionnisme: apolitisme ou strategie?”, in Nonna MAYER (dir.), Les Modèles
explicatifs du vote, p. 258.
45

Apresenta-se assim, uma situação em que, embora se observe um padrão de abstenção


maior no seio feminino, deve-se ter presente que o efeito da dominação que as mulheres
estão sujeitas na sociedade pode apresentar direcções diferentes no que diz respeito à
abstenção.

Gráfico 3: Idade e Abstenção, na cidade de Nampula – (2013)

35% 30%
30%
25% 23%
20%
20% 18%
15%
15%
10%
4%
5%
0%
18-24 25-34 35-44 45-54 55-64 65+

Fonte: Autor, 2017.

Analisados as idades de acordo com os índices de abstenção, nota-se uma maior


abstenção entre (18-24) e de (25-34), o que deixa a ideia de que os jovens são os mais
abstencionistas. Estes resultados mostram que a participacao dos jovens é a mais
preocupante uma vez que estes são o garante do desenvolvimento local.

Ainda a esta temática, torna-se imperioso a análise do perfil da população abstencionista


em relação ao status social, nomeadamente o nível de escolaridade e de actividade ou
ocupação profissional. Assim, o gráfico 4 e 5 mostram esse resultado.

Gráfico 4: Nível de escolaridade e Abstenção, Cidade de Nampula – (2013)

60%
50%
50%
40% 35%
30%
20% 15%
10%
0%
Sem Educação Formal Educação Primária Educação Secundária e
Superior

Fonte: Autor, 2017.


46

Gráfico 5: Ocupação e Abstenção, na Cidade de Nampula – (2013)

Assalariados 17%

Estudantes 40%

Trabalhadores informais e
23%
Desempregados

Camponeses 20%

0% 10% 20% 30% 40% 50%

Fonte: Autor, 2017.

A diversificação dos resultados, nada mais é que uma clara demostração dos resultados
obtidos num total de 50 inqueridos. Os estudantes para o nível ocupacional foram os que
mais se absterão do processo eleitoral, tendo em seguida os que não tem nenhum nível de
formação educacional. Os camponeses por motivos aparentemente de época de colheita e
preparação dos solos são a terceira classe que mais se abstém deixando o quarto lugar
para os assalariados.

Em 2013 os níveis de abstenção foram assustadores chagando a atingir aos 74,26%,


resultado este que segundo alguns munícipes deveu-se primeiramente a não participação
da RENAMO ao processo e a falta de confiança pelo candidato da FRELIMO.

Ainda a FRELIMO segundo (F-2017) acredita que o nível de abstenção nas eleições de
2013, poderá ter origem ao factor fadiga, isto é, devido ao dia em que foi marcado para a
realização da votação (domingo), acredita este partido que o dia escolhido influenciou
bastante para a não participação massiva dos seus membros e simpatizantes, ainda
acredita que o factor étnico-cultural, poderá ter influenciado gerando um comportamento
tribalista por parte do eleitorado cidade de Nampula.

Por outro lado a RENAMO (C-2017) e o MDM (A-2017), analisam este fenómeno como
sendo uma questão inerente ao fracasso de governação por parte do partido no poder
(FRELIMO), que segundo estes pouco tem feito para o bem-estar da população a nível da
cidade de Nampula. Ainda, na mesma perspectiva o MDM (A-2017) aponta como
47

principal causador deste crescente nível de abstenções a bipolarização notável da cena


política no país. E a RENAMO (C-2017) vai mais longe dizendo não acreditar em níveis
tão altos uma vez que em seus comícios tem tido uma enorme moldura humana
prometendo seu voto ao partido e ao seu candidato.

Atento a essa questão o governo coloca como pano de fundo para esta situação, o elevado
índice de analfabetismo, falta de conhecimento por parte dos eleitores do verdadeiro
sentido do voto, assim como o desinteresse na participação política do país em geral.

Contudo, importa analisar que para as eleições de 2013 foram recenseados um universo
de 225.152 eleitores, dentre estes o nível de participação para as eleições autárquicas foi
de 57.958 equivalente a 25,74% esta percentagem compreende a um quarto da população
recenseada, varias foram a justificações em torno dessa fraca participação mas fica claro
o comportamento do eleitorado mostrando o seu descontentamento e esta situação
culminou com a actual fraca participação colocando assim um enorme défice da
cidadania no seio da sociedade da autarquia da cidade de Nampula.

3.2 A abstenção e o processo de Governação


3.2.1 Abstenção eleitoral e Governação participativa na Cidade de Nampula

Num processo de democracia participativa, todos são chamados a participar na vida


política do país como forma de inclusão democrática.

BATTMORE et al (1996) destacam que a participação deve ser compreendida como


sendo o processo através do qual pessoas especialmente as mais desfavorecidas têm a
oportunidade de influenciar as decisões que lhes afectam. Uma das dimensões
importantes da participação, onde se destaca, é a participação política. A teoria mais
simples sempre foi de que o bom governo depende de altos níveis de participação.

Com efeito, no cenário actual, a participação reflecte profundamente a ideia de


envolvimento e inclusão de pessoas ou grupos de pessoas sobre as quais recai uma
determinada actividade, projecto ou ainda programas a serem implantados. A
48

participação consiste na integração da população alvo nos processos decisórios, na


avaliação de programas que foram implementados cujos benefícios revertem por ela9.

É imperioso colocar em evidência que dados aos processos de desconcentração, os


governos locais devido a sua natureza de constituição dos mesmos, estes não prestam
contas sobre a sua governação a população local mas, ao governo central que o nomeou.
Por outro lado os governos locais criados por intermédio do processo de descentralização,
isto é, os governos locais eleitos, estes prestam contas ao povo que lhes elegeu, e como
forma de inclusão das populações no processo de governação participativa estes criam
políticas de participação na governação.

Estas políticas pouco têm surtido efeitos desejados, uma vez que a população segundo
informações colhidas com alguns chefes comunitários pouco tem aderido a elas.

Na opinião dos secretários (B e B1 – 2017) e compartilhando da mesma ideia o secretario


G, afirmam o seguinte:

“Os dirigentes municipais, do governo distrital e provincial, fazem-se presente no seio


das comunidades com intuito de colher informações inerentes aos problemas da
comunidade, prometendo ressorve-los. Mas estes, nada têm feito, apenas ficando
somente no esquecimento das promessas. É nessa atitude de promessas enganosas, que a
população opta por não participar de forma activa na governação local e abstendo-se
assim aos pleitos eleitorais”.

Confrontados com esta situação os governantes são unanimes em esclarecer que tal
“situação não é de interesse pessoal, existem por detrás das decisões tomadas interesses
políticos, que em muitas ocasiões colocam em causa a efectivação dos programas de
desenvolvimento local” afirmou o nosso entrevistado (J-2017).

Como forma de proporcionar mais participação dos cidadãos as políticas de governação


local, o Município da Cidade de Nampula em parceria a ONG – IDASA10, criaram um
“Projecto de Capacitação Institucional Municipal” (PCIM), com vista a capacitação
institucional da governação participativa. Este projecto tem como objectivo a criação de
condições para a abertura de espaços para a participação da sociedade civil e da

9
Chichava (1999) apud Duarte (1996).
10
IDASA – Organização não-governamental que actua na área de Governação e Democracia.
49

comunidade em geral no processo de tomada de decisão na criação de políticas públicas,


como forma de melhorar a relação governo/população.

No que se refere as massas que participam ou sabotam os processos de governação, como


forma de inviabilizar o desenvolvimento local os nossos entrevistados esclarecem a
existência de pelo menos dois grupos com esse comportamento característico segundo (B
e B1 – 2017):

 “É preciso notar que várias pessoas não foram votar por vários factores, como a
questão da época da colheita e preparação dos solos, grandes bichas, o
descontentamento por parte dos apoiantes do partido FRELIMO na escolha do
candidato, para as eleições de 2013. No entanto, mesmo estas pessoas não tendo
votado, participam de forma activa visto que as políticas de desenvolvimento
local em grande parte têm-lhes beneficiado, facilitando assim as suas vidas”.
 “Por outro lado, estão os simpatizantes dos partidos ‘Vencidos’ que mesmo se
beneficiando dos programas de desenvolvimento local optam em sabotar os
programas como forma de prejudicar os processos de governação a nível das
comunidades. Estes têm semeado desordem em momentos de encontros com os
conselhos consultivos locais, alegando insatisfação, não abrangência,
insustentabilidade dos programas entre outros motivos que fazem da governação
da autarquia um fracasso”.

Contudo, o comportamento inadequado dos dirigentes locais, contribuem de forma


negativa para o elevado índice de abstenções uma vez que estes ao se dirigiram as
comunidades fazem promessas, anunciando criação de mecanismos adoptados para a
resolução dos problemas da comunidade, e ao fim a cabo, nada é feito em prol do
desenvolvimento da comunidades. Neste sentido, há que se mudar de atitude por parte
dos governantes como forma de garantir a participação do munícipe nas políticas de
desenvolvimento para uma melhor tomada de decisão.

3.3.2 O impacto da abstenção eleitoral nos processos de governação

A AbE é vista como uma reacção ao fracasso das políticas de governação até um certo
ponto, desacreditando assim a democracia e a legitimação do poder eleito. É uma questão
de fadiga, desilusão e, negação ao voto positivo não apenas a um ou outro partido mas, ao
50

sistema todo. A abstenção representa actualmente uma ameaça, tanto para o partido
FRELIMO assim como para a RENAMO e o MDM e os demais.

De acordo com o nosso entrevistado (D-2017) várias são as políticas traçadas pelos
governos locais com vista ao desenvolvimento das comunidades, o distrito e município da
cidade de Nampula não fogem a essa regra. Após a realização das eleições surgem vários
impasses que perturbam o desenvolvimento local, dentre eles: o divisionismo político,
conflitos pós-eleitorais, clientelismo político aliados a corrupção.

O nível de participação no processo de tomada de decisão tendo como base o diálogo,


não tem surtido efeitos positivos, aliado ao abstencionismo e ao descontentamento da
população, segundo alguns inqueridos “em nada vale para nos em participar em
projectos que o governo municipal tem anunciado, uma vez que tais projectos apenas
abrangem aos membros do partido actualmente no poder. Tal acontecimento não é
exclusivamente novo, mesmo com a antiga governação municipal, os mesmos problemas
existiam, aliás, estes tiveram sua origem nesse período, estando apenas a seguir o seu
curso normal” no dizer do nosso entrevistado (H-2017).

Em entrevista com líderes comunitários e alguns munícipes, parte integrante do inquérito


obteve-se uma resposta bastante interessante, em torno do fundo de desenvolvimento
urbano (FDU) alocado ao município:

Como caracterizam os nossos entrevistados (G e H-2017):

“Este fundo é uma grande dor de cabeça para as nossas comunidades, o município dá
privilégio aos seus secretários dos bairros e das unidades comunais, com uma idade
superior a 35 anos, caso que acontece também com o actual executivo municipal.
Deixando de fora os jovens, que de forma arbitrária são excluídos do processo, não
obstante ao discurso de apostar nos jovens para o alcance do desenvolvimento local”.

Segundo (I-2017) foi criada recentemente um serviço municipal de apoio aos operadores
económicos emergentes, em técnicas de gestão de negócios, que segundo a edilidade a
“janela” de oportunidade, os empreendedores interessados poderão, ter a oportunidade de
receber apoios gratuitos e directos em matérias de formação e desenho dos seus projectos
e negócios. “Os serviços municipais de apoio a micro empresas e agro-negócios
51

(SMAMPE) tem tido pouco ou quase nada em termos de aderência, os tais operadores
económicos emergentes não aderem a essa janela estando a apresentar um certo fracasso.

No início da nova governação dos gestores municipais haviam mostrado mudanças


consideráveis, mesmo com o fraco envolvimento dos munícipes nos processos de
governação. Há dado momento, várias acções negativas foram acontecendo que os
inqueridos foram apontando: a destruição de casa, supostas aberturas de novas vias que
nunca mais arrancam as obras, nomeação de novos secretários dos bairros sem consulta
popular, escândalos de corrupção, dentre outros, que de certa maneira foram criando
desencanto a participação na governação municipal por parte dos munícipes.

Na tentativa de ouvir os tais empreendedores emergentes estes mostram-se pouco


confiantes nesse projecto de apoio em termos da SMAMPE, olhando este serviço como
um mecanismo de tapar o “sol com a peneira” uma vez que a edilidade tem mostrado
acções pouco louváveis para esta camada.

Os comerciantes informais “ambulantes” são os que mais se queixam da ma fé dos órgãos


municipais, alegando que os mercados ora construídos para que estes abandonem as ruas
da cidade em nada lhes beneficia: “como vou vender meu produto em um mercado onde
ninguém vai? Onde posso ficar todo o dia sem conseguir vender. Já aqui na rua se entro
as 7h até as 12h qualquer coisa terei no bolso, mas no mercado por mais que seja bonito
não nos ajuda em nada. É por esse motivo que da próxima não votarei em ninguém
porque só eles se beneficiam e nos nem tão pouco” dizia um vendedor ambulante.

Nas recém-criadas políticas de Orçamento e a Planificação Participativa (OPP),


Observatório Municipal de Nampula (OMN) que envolve a comunidade, que
primeiramente foram ideias revolucionárias, mas numa outra realidade tem igualmente
tido resultados negativos actualmente, devido a vários motivos afirmam os munícipes (I-
2017).

Conforme os secretários (B e B1-2017) estes afirmam o seguinte:

“O município tem feito uma auscultação com as comunidades como um mecanismo de


recolha de informações inerentes a nossas dificuldades. Dificuldades que a cada dia
tendem a aumentar, reconhecemos o esforço da edilidade, mas também nos mostramos
52

enfraquecidos uma vez que, mesmo depois de recolherem tais informações dos problemas
que apoquentam os munícipes nada se tem feito, muito menos somos solicitados para
fiscalizar as obras uma vez que estas não chegam a existir. Nessas circunstancias qual
seria o nosso ganho participando de forma activa nos processos de governação se em
nada nos beneficiam? É por esse motivos que muita gente prefere não votar e ir a
machamba capinar”11. Disse com um tom de descontentamento, em uma análise de que
seu voto no final em nada lhes beneficiou.

Assim, fica claro de que embora a edilidade adopte políticas com vista a estimular a
participação do munícipe nos processos de tomada de decisão, nas políticas de
desenvolvimento local, caso o diálogo não seja aberto e clarificado, com promessas
cumpridas e sem desvaneios, alguma coisa poderá melhorar no que diz respeito a
confiança dos eleitores as instituições governamentais e os seus governos eleitos. Por
outro lado, uma vez estas acções não tomem outro rumo sempre haverá um conflito de
interesses entre ao eleitores e as elites politicas, tal conflito pacifico refira-se, é
manifestado com a fraca participação politico-eleitoral (criando uma crise da cidadania),
e colocando em perigo a legitimação do governo eleito na autarquia.

3.3 Verificação e aprovação da hipótese

De acordo com os resultados do presente trabalho pode-se concluir que as hipóteses são
validas segundo as quais: o crescente índice de abstenções eleitorais na cidade de
Nampula, possivelmente podem contribuir para a fraca participação no processo de
governação participativa, fragilizando sob medida a democracia participativa visto que
parte dos cidadãos podem não legitimar os membros eleitos; notou-se que o fracasso da
efectivação das políticas de governação local depende da participação dos munícipes, e as
abstenções eleitorais são um grande obstáculo uma vez que as pessoas que se abstêm as
eleições, optam em não participar em programas de governação e os que votaram sentem-
se traídos.

11
Luciano Cândido e Marcos Benedito João. Chefes da comunidade de Muatala, em um desabafo em torno
da relação Município/Comunidade. Sábado (18 de Fevereiro de 2017).
53

No que se refere a segunda hipótese: os eleitores que optam por abster-se podem sabotar
as políticas de governação ou continuarem indiferentes prejudicando deste modo o
processo de desenvolvimento local; constatou-se a existência de dois grupos distintos,
sendo que os que sabotam as políticas são os membros e simpatizantes do partido vencido
numa tentativa de desacreditar as políticas de desenvolvimento local. Por outro lado,
encontram-se os abstencionistas que aderem as políticas de desenvolvimento uma vez que
tais políticas beneficiam a todos independentemente da sua participacao política-eleitoral
ou não.

Contudo, há que notar um grande desencanto das comunidades da cidade de Nampula,


em torno das políticas de governação que no início pareciam uma luz no fundo do túnel,
mas que num estalar de dedos passou a ser uma grande dor de cabeça para as
comunidades do município de Nampula, associada a uma série de escândalos.

Conclusão

A abstenção eleitoral é um tema que tem suscitado vários debates na actualidade, pois,
este fenómeno representa uma ameaça ao sistema político. Nos estados democráticos,
54

quanto maior for os níveis de abstenção eleitoral, mais a legitimidade democrática é


colocada em causa. Os níveis altos de abstenção eleitoral demostram a crescente
desconfiança por parte dos cidadãos em relação as instituições políticas.

A abstenção expressa o descontentamento dos cidadãos em relação ao sistema politico e


ou ao sistema democratico aparecendo como um sinal de descredibilidade a esses
processos na razão proporcional da sua importância.

Partindo dos resultados de pesquisa, à luz do referencial, baseado em entrevistas e


inquéritos que permitiu chegar as seguintes conclusões:

Os processos de governação são o garante da boa governação. A governação participativa


quando bem estruturada, pode surtir grandes feitos positivos criando um desenvolvimento
sustentável para as comunidades. A abstenção tem uma forte influência sobre esses
processos uma vez que, sendo esta uma demostração do descontentamento pelos sistemas
de governação e político tem tido um impacto negativo na efectivação dos processos de
governação.

Quanto maior for o número de população abstencionista, maior são as chances de


existência de fracasso nos processos de participação activa as políticas governativas, sob
pretexto de que tais políticas em nada irão beneficiar a comunidade se não apenas o
favorecimento das elites políticas.

Contudo, chega-se a ideia que a abstenção proporciona um impacto negativo no processo


de governação da cidade de Nampula, na medida em que coloca em perigo a
consolidação da democracia e a legitimidade do governo.

Sugestões

Olhando a temática das abstenções eleitorais, como um perigo a legitimação do governo e


a consolidação da democracia representativa, é crucial para o país adoptar políticas
eleitorais capazes de dar confiança ao eleitorado como um garante da validade do seu
55

voto e não apenas como mais um para o garante do enriquecimento de um grupo de


pessoas.

O jogo político é susceptível de sofrer mudanças a esse turno importa deixar ficar
algumas recomendações como forma de possivelmente melhorar os níveis de participacao
politico-eleitoral, participacao nos processos de governação como um garante de boa
governação.

Assim, ao governo municipal sugere-se o seguinte:

Os secretários dos bairros, actualmente substituem o cidadão na governação municipal,


por esse motivo devera existir um bom relacionamento entre estes e os órgãos
municipais. São eles a definirem as prioridades dos bairros e por vezes a decidirem quem
deve participar nos encontros que se realizam nos bairros. Desta forma, é recomendável a
capacitação dos secretários dos bairros de modo a melhorar o seu papel na governação
municipal, garantindo a participação dos residentes do seu bairro nas políticas públicas.

Planos colectivos devem ser desenhados de modo a garantir um maior fluxo de


informação, tanto a partir das estruturas do poder para a comunidade, bem como da
comunidade para o centro de tomada de decisão. Em simultâneo, os membros do governo
local devem auscultar a população e mobiliza-la a participar na identificação e discussão
dos seus problemas.

As rádios locais podem e devem ser aproveitadas não apenas na difusão das realizações e
dos planos do governo municipal, mas também na aproximação entre os vários actores
que actuam no município, através da promoção de debates abertos regulares. Como um
mecanismo de massificar o diálogo.

As políticas para o apoio ao combate a pobre urbana, devem ser mais abrangentes e
eficazes, garantindo que os jovens possam se beneficiar de forma transparente e
democrática, não recorrendo às práticas do clientelismo.

Aos partidos políticos sugere-se o seguinte:

A massificação das políticas de educação cívica, como uma forma de inverter o crescente
nível de abstenções eleitorais na cidade de Nampula.
56

A criação de plataformas de consulta directa das suas políticas de governação, aumento


de rede de informação sobre o valor do voto.

A eliminação de conflitos em momentos eleitorais, o boicote, como uma forma de dar


mais confiança aos eleitores para que estes possam ter mais interesse na participacao
politico-eleitoral.

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Entrevista

CANATE, Silvério Abudo Omar. Primeiro Secretario do Partido Frelimo a nível da


Cidade de Nampula, Entrevistado em 21 de Fevereiro de 2017.

CANDIDO, Luciano e JOAO, Marcelo Benedito. Chefes da Comunidade do Posto


Administrativo de Muatala. Bairros de Cossore e Matadouro, Entrevistados no dia 18 de
Fevereiro de 2017.
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HERMIND, Karim. Assessor do Programa para o Desenvolvimento Autárquico. CMCN.


Entristado no CMCM: em 15 de Fevereiro de 2017.

HERMIND, Karim. Assessor para o Programa de Desenvolvimento Autárquico.


Entrevistado no dia 8 de Março de 2017.

MATATA, Alfredo Artur. Administrador do Governo do Distrito de Nampula,


Entrevistado em 21 de Fevereiro de 2017.

MUCUNA, Albino Manuel. Secretario Permanente do Governo do Distrito de Nampula,


Entrevistado 23 de Fevereiro de 2017.

MURRULA, Cardoso Pascual. Secretário do Bairro de Muhala, Entrevistado no dia 18 de


Fevereiro de 2017.

NAPAUA, Vasco Saíde Luís. Delegado provincial do Partido Movimento Democratico


de Moçambique, Entrevistado na Sede Provincial do Partido MDM. Bairro de
Namutequeliua, Nampula: 2017.

PAULINO, Cândido. Munícipe residente na Cidade de Nampula, Bairro Muahivire


Expansão. Entrevistado no dia 15 de Fevereiro de 2017.

PAULINO, Maurício Cavalete. Responsável Pelos Assuntos Eleitorais e Propaganda do


Partido RENAMO, Entrevistado na Sede Provincial da RENAMO. Bairro dos
Bombeiros, Nampula: em 13 de Fevereiro de 2017.
62

Apêndices

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