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A ciência possui explicação total para todas as coisas?

Normalmente é dito que a ausência de explicação científica das coisas favorece as


explicações mitológicas. Isso é verdade quando se entende o mito, conforme Marcelo
Perine, em seu significado primordial, isto é, como palavra, uma das formas do discurso
humano.

Na era Arcaica da Grécia o mito era entendido como uma narrativa sagrada, assim como
o conceito de logos era compreendido da mesma forma. Isso mostra que mithos e logos
estiveram unidos indicando o mesmo significado de discurso. Sua oposição ou
apartação ocorreu tempos mais tarde a partir da era Clássica.

Explicar uma coisa mitologicamente, e não cientificamente, não necessariamente quer


dizer que se parta de pressupostos equivocados levando a conclusões erradas. Por
exemplo: muitos entendem a narrativa da criação em Gênesis como mitológica. A partir
da explicação acima – de que o mito é uma forma de discurso humano na tentativa de
explicação de um aspecto ou da totalidade da realidade criada – pode se entender a
narrativa de Gênesis como mitológica. Isso quer dizer que essa narrativa bíblica é falsa
ou dotada de equívocos? De forma alguma. O que deve ficar claro, neste caso, é que o
livro de Gênesis possui um gênero literário que não é de caráter científico, apesar de a
ciência já ter demonstrado a exequibilidade daquilo que consta nas narrativas bíblicas da
criação.

O que se pretende demonstrar é que quando algum aspecto da realidade não possui
explicação científica, isso não quer dizer que o mesmo seja inexplicável sob forma
alguma. Ciência e fé, ou ciência e religião cristã não são antípodas. Na verdade, são
complementares. A fé ou a religião cristã pode nortear positivamente o cientista em suas
escolhas, uma vez que nem o cientista escapa do caráter religioso que constitui o ser
humano em suas escolhas determinadas por crenças sobre as questões de significado
último ou primordial. Do mesmo modo, a ciência em suas descobertas sempre apontam
para a glória do Deus criador e soberano sobre todas as coisas. Descobertas recentes têm
apontado para a beleza e fidelidade dos escritos bíblicos sobre as civilizações antigas,
seus feitos e suas mais variadas relações. Os campos de domínio entre fé e ciência são
diferentes, porém, não opostos.

Uma última questão, mas não menos importante acerca da explicação das coisas reside
na veracidade e autoridade bíblicas. A validade e a autoridade da Bíblia Sagrada não
dependem da ciência ou da lógica para serem firmadas. É óbvio que, como dito
anteriormente, a ciência e a lógica apontam para a assertividade da narrativa bíblica.
Isto posto, o que se quer dizer é que: se a Bíblia Sagrada é a Palavra do próprio Deus,
soberano sobre tudo e todos, revelada à humanidade em sua própria linguagem, a
validade e autoridade requerida por ela (a Palavra) não pode vir de qualquer aspecto da
criação, seja a ciência, seja a lógica, seja a história. É o próprio Deus, em sua
Onisciência, o único capaz de conferir validade e autoridade à sua Palavra. A Bíblia
valida a si mesma.
Portanto, é razoável dizer que a sentença: “se algo não é explicado pela ciência, não
pode ser explicado por mais nada”, está equivocada em sua concepção. Enquanto a
ciência trata do “como” a religião cristã trata do “por que”. Uma coisa não aula a outra,
além de serem necessariamente complementares para uma explicação mais abrangente
da realidade criada.

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