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Evangelização:
Parte I - Fundamentos
"Sê amigo da verdade até ao martírio; não sejas, porém, seu apóstolo até a intolerância”.
Pitágoras
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Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
Conteúdo
FUNDAMENTOS
I - Os Espíritos e a evangelização
II - Para que serve evangelizar?
III - O que precisamos saber
1 - O que é o ser humano?
2 - O ambiente fluídico e seus efeitos
3 - A verdadeira educação religiosa: Valores Humanos
3.1 - Que são valores humanos?
3.2 - Quais são os valores humanos?
4 - O que e como captamos dos fatos no contato com a realidade?
5 - Aspectos noológicos do funcionamento psíquico
5.1 - Esquemas biológicos
5.2 - Esquemas psicológicos
5.3 - Exemplo da formação de um esquema vivencial na criança: Erro-castigo,
5.4 - Exemplo de empobrecimento esquemático
6 - Síntese sobre o funcionamento psíquico
7 - O Movimento Expressivo
Ação - pesquisa - experiência
Intenção - símbolo
Organização - regra
Poética pessoal
IV - Contribuições da doutrina espírita aos esquemas: espaço, tempo e pensamento
PRÁTICA
Algo para meditar
Preparando-se
O que representa a evangelização para você?
Preparando a atividade
Sobre as necessidades do evangelizando
Sobre o conteúdo: a educação em valores humanos
-APÊNDICE
A1 - Sugestão sobre os aspectos importantes de um plano de aula
A2 - Aspectos importantes sobre a atividade de evangelização
A3 - A corrupção do ciclo cultural atual: tentativa de derrocada do Cristianismo
A4 - Reflexões sobre o que é ser espírita
A5 - Consideraçõe úteis sobre Construtivismo
-A7 - Autopercepção e Imunidade Psíquica Natural
-REFERÊNCIAS
-HISTÓRICO DE REVISÕES
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FUNDAMENTOS
I - Os Espíritos e a evangelização
4. "238 – [...] Alguns séculos antes de Jesus, o plano espiritual, pela boca dos profetas e dos
filósofos, exortava o homem do mundo ao conhecimento de si mesmo. O Evangelho é a luz
interior dessa edificação. (Emmanuel - O Consolador)
Palavras-chave: luz interior, conhecimento de si mesmo, razão que ilumina
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6. “(...) A educação (...) constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte
de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se-á
corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito
tato, muita experiência e profunda observação. (...) Faça-se com o moral o que se faz com
a inteligência e ver-se-á que, se há naturezas refratárias, muito maior do que se julga é o
número das que apenas reclamam boa cultura para produzir bons frutos.” (Allan Kardec)
Palavras-chave: progresso moral, a arte de manejar o caráter
7. "Os estudiosos do materialismo não sabem que todos os seus estudos se baseiam na transição
e na morte. Todas as realidades da vida se conservam inapreensíveis às suas faculdades
sensoriais. Suas análises objetivam somente a carne perecível. O corpo que estudam, a
célula que examinam, o corpo químico submetido à sua crítica minuciosa, são acidentais
e passageiros. Os materiais humanos postos sob os seus olhos pertencem ao domínio das
transformações, através do suposto aniquilamento. Como poderá, pois, esse movimento
de extravagância do espírito humano presidir à formação da mentalidade geral que o
futuro requer, para a consecução dos seus projetos grandiosos de fraternidade e de paz? A
intelectualidade acadêmica está fechada no círculo da opinião dos catedráticos, como a idéia
religiosa está presa no cárcere dos dogmas absurdos.
Os continuadores do Cristo, nos tempos modernos, terão de marchar contra esses gigantes,
com a liberdade dos seus atos e das suas idéias.
Por enquanto, todo o nosso trabalho objetiva a formação da mentalidade cristã, por
excelência, mentalidade purificada, livre dos preceitos e preconceitos que impedem a marcha
da Humanidade. Formadas essas correntes de pensadores esclarecidos do Evangelho,
entraremos, então, no ataque às obras. Os jornais educativos, as estações radiofônicas, os
centros de estudo, os clubes do pensamento evangélico, as assembléias da palavra, o filme
que ensina e moraliza, tudo à base do sentimento cristão, não constituem uma utopia dos
nossos corações. Essas obras que hoje surgem, vacilantes e indecisas no seio da sociedade
moderna, experimentando quase sempre um fracasso temporário, indicam que a mentalidade
evangélica não se acha ainda edificada. A andaimaria, porém, aí está, esperando o momento
final da grandiosa construção.
Toda a tarefa, no momento, é formar o espírito genuinamente cristão; terminado esse
trabalho, os homens terão atingido o dia luminoso da paz universal e da concórdia de todos
os corações." (Emmanuel: Dissertações Mediúnicas. 13. ed. FEB, Rio de Janeiro, 1987, p.
178 a 181.)
Palavras-chave: formação da mentalidade cristã, correntes de pensadores esclarecidos do
Evangelho
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reiniciantes do sublime caminho redentor, através dos quais os tornam homens voltados para
Deus, o bem e o próximo. " (Estudos Espíritas. 6. ed. FEB, Rio de Janeiro, 1995, p. 173)
Palavras-chave: ensinar a viver, conhecimento, serenidade, cultura, experiência (instrumentos)
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Para responder a esta pergunta, será importante considerar, a título de exemplo, o que acontece com
a criança na passagem para a adolescência, quando acaba por “perder” aquela ingenuidade, aquela
espontaneirdade.
O que faz com que uma criança ao entrar na fase juvenil, perca sua espontaneidade e
ingenuidade?
O jovem começa a ter uma percepção mais estruturada de si mesmo. A criança não se ocupa
disso, ela não pensa muito sobre si mesma. Ela vive, não julga. O jovem inicia uma mudança
psicológica significativa. Faz juízos contínuos, analisa, perquire. A partir desse movimento psíquico,
desenvolve uma autopercepção.
Esse juízo pessoal será mais ou menos próximo da realidade conforme a trajetória do Espírito nesses
três quesitos. É nessa fase que surgem as "deformações psicológicas". Essas deformações têm como
efeito as ilusões ou auto-ilusões, aquilo que pensamos que somos. Normalmente tais miragens da
vida psicológica nos induzem a assumir uma condição de importância pessoal ou superioridade.
São as ações do orgulho que sustentam a loucura humana de se acreditar mais valoroso do que se é.
É a partir dessa percepção equivocada de nossa condição pessoal que surgem todas as ações
complexas, seja em que campo for das atividades humanas, com o objetivo de atender aos interesses
pessoais que estiverem presentes na vida de cada pessoa. É assim que perdemos a simplicidade, isto
é, ao nos movermos para atender aos interesses ilusórios perdemos o foco essencial da vida e lutamos
por aquilo que não é prioritário. Seguimos uma carreira de buscas intermináveis por conquistas que
não correspondem à nossa intimidade profunda. Em outras palavras,
perdemos a simplicidade toda vez que nos distanciamos da própria consciência, na qual estão
escritas as Leis de Deus para nossa paz e equilíbrio.
Por isso a urgência de despertar o senso do dever para o correto aproveitamento da reencarnação,
como diz o Espírito Corina Novelino:
"O prazer que a vida nos oferece é estarmos em plena harmonia com os nossos atos e
vibrações. Quando isso passa despercebido vamos adoecendo os campos que estão vinculados
aos procedimentos causadores(sic)." (Corina Novellino, Espírito)
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responsabilidade por si mesmo, pois só assim é que poderá alinhar a sua vontade à Vontade
Divina.
Ou seja, pelo fato de não mais definir causas fora do seu controle como responsáveis pelas próprias
decisões, o que é estudado na Psicologia como mecanismos de fuga da realidade estabelecido
pelo Ego, torna-se mais cristalina a sua percepção do que de fato o impede de crescer, abrindo-
se à influência benéfica dos Bons Espíritos, interessados no seu progresso. E reparemos que isso
também deve ser ensinado às crianças: há Bons Espíritos interessados em nós, que nos ajudam,
com os quais devemos procurar cultivar uma relação de parceria, uma sintonia.
Ora, reconhecer o estado em que se encontra alguém envolve a comparação com o estado próprio
e o que seria o ideal, e isso só é possível se houver um critério absoluto para tal apreciação, pois
se tal critério fosse relativo, seria impossível assegurar tal avaliação (imagine medir algo com uma
régua que se distorce o tempo todo). Eis porque a compreensão do evangelho como diretriz que
fundamenta toda ação espiritual é a condição para esta avaliação2. É através da compreensão das
atitudes apresentadas no Evangelho de Jesus que o evangelizando poderá construir esquemas mentais
[no sentido dado por Piaget] mais eficientes no que diz respeito a tal discernimento. Mas lembremos
que a construção esquemática se dá sempre em três domínios: sensório-motor, afetivo (vivencial)
e intelectivo, de forma que não se trata apenas de conceitos literais, mas de elaborações da própria
inteligência, conforme a maturidade: esquemas do sensório-motor, inicialmente, depois esquemas
afetivos e finalmente, intelectivos.
Quando Eurípedes afirma ser necessário construir o discernimento para ativar a responsabilidade,
isso se dá porque o ser humano é um ser que faz escolhas, procurando sempre o seu bem, ou o que
ele julga ser o melhor para si. Dizemso que possui intencionalidade. A intenção deve se dirigir, então,
no sentido da busca pelo seu bem real, mas que deve ser percebido por ele mesmo4, uma vez que é
um ser inteligente e dotado de faculdades que lhe possibilita fazer projeções e aferições no sentido de
identificar esse bem. Mas, não possui o homem todas as faculdades, e mesmo as que tem não as tem
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em plenitude mas em desenvolvimento. Assim, é evidente que poderá se equivocar com relação ao
que lhe constitui o bem verdadeiro. Além disso, não lhe é possível tal desenvolvimento sem o contato
com os outros, necessitando então da vida de relação. Resumindo isso tudo. O homem deseja, busca
o seu bem, possui liberdade para fazer escolhas e, através de suas faculdades, pode criar e realizar
projeções sobre o que constituirá esse seu bem antes mesmo de vê-lo realizar-se.
Posta a situação desta forma, verificamos que pode haver alguns empecilhos nesse processo de
aferição, julgamento e escolha no sentido de interferir para que perceba erradamente algo como
o melhor sem o ser de fato. E o que seriam tais empecilhos?
O grande filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos, em seu livro Origens dos Grandes Erros
Filosóficos, nos ajuda nessa resposta afirmando que o erro pode surgir:
Assim, o erro pode surgir de defeitos da atenção devido à vontade. Mas eis que esta não peca per se,
por essência, mas por acidente. Ocorre que a vontade pode desmesurar-se, pode ir além dos limites
(paixão, no sentido dado pelos Espíritos em O Livro dos Espíritos). Não será, porém, sempre produto
de uma intencionalidade deliberada.
Concluindo, podemos errar quando deixamos nossas paixões nos dominarem em nossas
apreciações subjetivas e no julgamento da realidade.
E tal captação, do que lhe é benéfico ou maléfico, vai depender de uma gama de elementos, tanto
intrínsecos (que lhe são próprios, como suas viciações, paixões, etc, a se lhe influenciar a percepção)
quanto extrínsecos (independentes dele, como as circunstâncias que lhe favorecem certas modalidades
de percepção e ação em detrimento de outras). Observemos que já na mais tenra infância podemos
observar a ação das paixões (no sentido acima) quando a criança manifesta seus caprichos pessoais,
como que tendências que já começa a se manifestar aí. Por isso que saber observar é um dos
elementos mais importantes no processo de evangelização, e aqui devemos tomar o cuidado para
não rotular aquilo que vemos sob denominações que se constituem em verdadeiros estereótipos
a interferirem negativamente na relação com a criança (criança "problema", menino "difícil",
menina "tagarela", etc) . Aí está uma das razões, senão a principal, para nos preocuparmos em
ajudar esse homem a fim de que tenha menos chances de errar nesse seu processo de escolhas,
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particularmente nos dias atuais5. E mesmo após ter feito escolhas erradas, conseguir repará-las da
forma mais produtiva.
Então, para aprender a fazer as escolhas certas e viver bem, o ser humano passa por experiênias onde
várias oportunidades de ação surgem e que, no final, através das conseqüências, boas ou não de suas
deliberações, acabam produzindo o amadurecimento psíquico que pode ser alcançado segundo a sua
natureza espiritual, tal como retratado na figura abaixo, que resume as três modalidades de ação:
5 O atual ciclo cultural (i.e., de barbárie) caracteriza-se pela seguinte estratégia para solapar as
bases espirituais do homem: exacerbar o EGO a qualquer custo. Ou, nas palavras de Mário
Ferreira dos Santos (ver Apêndice A para detalhes),
"A primeira providência é afirmar o relativismo da moral, a segunda é que nos cabe satisfazer os
nossos desejos, a terceira é que não há, além deste mundo, nenhum prêmio, nenhum castigo,
tudo se acaba, quando nós acabamos." (MFS - A Invasão Vertical dos Bárbaros)
Para se evitar os malefícios que o "ego" exacerbado provoca é necessário a presença do TU, i.e.,
outro. Mas não deve ser confundido com a posse do objeto amado (o que seria a expressão do
amor simbolizada por EROS, um amor "adolescente"). É sim o amor ao bem da coisa amada
(ÁGAPE). Nisso o maior malefício para o homem é o seu narcisismo, comprovado na presença
deste nos piores exemplos que já apareceram na espécie humana. Cristo, por sua vez, exemplifica
o amar a própria missão. Não é um amor transitivo (para o objeto). É o amar o bem do
objeto. Não exige que se violente os sentimentos.
Assim, vemos a sabedoria da orientação cristã, na feição espírita, ao colocar na Caridade a
única possibilidade de salvação - o amor em ação. Há estudos de Psicologia que estabelecem a
necessidade do espírito servir em benefício de algo maior afim de que o Ego não se torne
exacerbado e comprovamos isso na prática ao acompanhar a história de vários líderes espirituais
que se desvirtuaram por não respeitar essa orientação máxima, tornando-se instrumentos de
escândalo ao invés de crescimento.
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Para que esse trabalho se realize, deveremos considerar três aspectos ou eixos de ação , conforme
ilustra a figura abaixo:
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6 Lembre-se que a emoção permite que façamos uma estimação daquilo que nos cerca e com o que
interrelacionamos.O quadro da vida é apreendido por nós sob a forma de construções mentais, carregadas de
significação afetiva (simbólica).
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Da cooperação desses conjuntos de coordenadas forma-se o homem como existente e não apenas
formalmente considerado. Só podemos ver o homem concretamente se o consideramos como tendo
um corpo, e um espírito, e que vive numa sociedade, numa região cósmica.
O que o diferencia dos animais é o espírito. O ter um corpo, o viver sobre a Terra e em sociedade,
encontramos nas outras espécies. Mas, o que se pode entender por espírito em relação ao estudo
que ora fazemos, isto é, do ponto de vista funcional? É a Noologia8 que nos responderá. Podemos
caracterizá-lo, do ponto de vista funcional, por estas distinções:
1. Capacidade de reflexão. Não é apenas capaz de experimentar sensações, mas delas tomar
consciência, bem como de si mesmo. Podemos, então, destacar:
a. consciência das sensações
b. consciência de si mesmo como receptor de sensações - pessoalidade.
2. Racionalidade - capacidade de perceber relações entre os dados da percepção, captar nexos,
que também surgem no nexo do funcionamento da razão. Funcionamento da intelectualidade.
3. Afetividade - capacidade afetiva, que alcança uma consciência da frônese (fusão) e da
captação simbólica do acontecer. Penetração mística, atrvés dos símbolos até a comunhão
com o simbolizado.
4. Construção de conjunturas esquemáticas - oportunamente examinaremos tal capacidade do
espírito humano de coordenar esquemas para empreender conhecimentos mais amplos.
5. A liberdade - capacidade de afastar-se dos laços que o prendem à mera materialidade, à mera
animalidade, podendo optar por valores superiores, que é, em suma a vontade, faculdade de
afirmar ou de tender aos valores intelectualmente apreendidos. Não se deve confundir com o
querer inconsciente, mero impulso, que é animal.
O funcionamento do espírito não é um funcionar apenas animal, por isso surge à Filosofia, em todos
os tempos, uma pergunta que cabe à Noologia estudar e responder: há um princípio espiritual no
homem, distinto do corpo?
8O termo noologia tem sua origem na palavra Nous, que em grego significa espírito. A
Noologia é a ciência do espírito, que examina o funcionamento psicológico, segundo suas
polarizações, e também investiga as suas raízes, origens e fins.
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1. O homem é inteligente, capaz de distinguir entre meios e fins. Estabelecemos, então, três
tipos de inteligência (Psicogênese):
inteligência terciária - a inovação. A criança revela-a quando busca o novo sem saber atualmente o
que é. Quando engatinha, busca aqui e ali uma novidade, que se revela nas primeiras manifestações da
curiosidade infantil, antes da fase propriamente social em que faz perguntas sobre o que são as coisas,
revelação de um estágio mais elevado dessa inteligência.
No universo, o homem abrange mais espaço do que um animal qualquer. Segurar um objeto é a
gênese da adição e arrancar algo dele é a da subtração. Compará-lo com outro e transformá-lo
favorecem a construção de esquemas intelectuais.
Nenhuma ideação pode ser realizada sem se revestir da forma de representações, quer auditivas,
visuais, musculares, olfativas ou gustativas.
O espaço exerce sobre o psiquismo uma influência inevitável, pois é ele, para nós, a reprodução
dos nossos volumes e das nossas dimensões. É nele que ativamos os nossos movimentos sensitivo-
motores. O conceito de espaço teve em nossa vida uma evolução lenta, desenvolvendo-se de acordo
com os nossos meios de apreensão. A criança não pode ter, assim, a mesma cocepção do espaço que
os adultos. Ela só toma cosnciência deste com o crescimento da sua capacidade de sensibilidade e
muscular.
Como o homem primitivo, ela "toca" para crer. São os sentidos a medida da realidade.
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anteconceito - são imagens ou esquema individuais que se generalizam até permitir que o nosso
espírito, por exclusão do heterogêneo, e considerando apenas o homogêneo, o que têm comum muitos
indivíduos, dê criação ao esquema abstrato, que é o conceito.
Como auditiva, como visual, como tátil, segundo os sentidos de quem ouve, vê e toca, é a "verdade".
Nós não apreendemos toda a realidade sensível das coisas. Há os que podem ouvir "melhor" o
universo e seus fenômenos, com o há os que possuem maior sensibilidade tátil, e outros maior
sensibilidade visual.
Nossos raciocínios obedecem às leis do universo, não fogem delas, apesar de muitas vezes termos esta
impressão.
Um dos elementos importantes da vida psíquica é o tempo. Por ele relacionamos, encadeamos os
pensamentoa e formamos a base da lei de causação universal. A noção de tempo nos é fornecida, em
primeiro lugar, por uma base apriorística, natural, muscular, sensitiva. Nasce da constatação do rítmo
interno, de todos os rítmos, circulação do sangue, respiração, sensações, e também do ambiente, noite,
dia, etc.
A certeza, que forma a base da nossa verdade, tem seu nascimento numa função muscular.
Nós, e os animais também, temos consciência da certeza depois que tocamos, ouvimos, cheiramos,
gostamos (saber vem de saborear), mordemos... São estes os elementos sensitivos que modelam
os nossos meios de averiguação da verdade. É a fórmula primária, mas que gera a base das nossas
certezas futuras, a certeza que vem posteriormente, numa fase mais avançada, e que tem como base a
certeza muscular, nervosa, primitiva.
Esta é uma das nossas maneiras de criar o mundo. E o trabalho de nossa imaginação, juntando-se ao
pouco que há de realidade, assume, depois, foros de realidade.
Daí, estarmos poucas vezes aptos para distinguir, em nossas idéias e opiniões, o que existe de
apreendido do exterior de o que acrescentamos com as nossas opiniões e a nossa imaginação, o que
evidencia a nossa pouca familiaridade com a verdade.
Não nos contentamos com o conhecido; exercitamos sobre o cognoscível a nossa fantasia, que
permite, por outro lado, a possibilidade do conhecimento; do contrário, ver-nos-íamos forçados a
acompanhar as percepções singulares pela sua série, para delas podermos chegar ao conhecimento.
A fantasia nos permite formular o conhecimento pela apreensão das percepções singulares. A fantasia
é o prelúdio da razão. É a razão ainda primária, cheia de impurezas, que ordena e compara por
analogias remotas, pelos sentimentos, pelas tendências; selgvagem, móvel, fugidia. A razão não foge
a estas influências. Mas circunscreve, analisa, focaliza melhor as percepções, liga por associações
lógicas, busca o auxílio da memória, dispensa as analogias remotas, controladas pelas sensações
objetivas.
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Tal não impede que muitos dos elementos comparativos da razão sejam sedimentações arcaicas de
fantasias, de percepções falsas, de sentimentos e afeições coaguladas, de petições de princípio que se
tornam postulados indiscutíveis.
Para essa concepção, são estes os limites da razão. E para determiná-los exige-se uma grande atenção
e análise. O pensamento inclui: associação, analogias próximas e remotas, contradições por analogias,
por associações, memória e, finalmente, a percepção psíquica das curvas altas do diagrama das
sensações armazenadas pelo subconsciente.
O que é importante considerar aqui está mostrado na figura abaixo: que há sempre uma possibilidade
de interatuação entre tais campos a partir da interação fluídica, e que o campo espiritual permeia
todas as modalidades de manifestação do Espírito. Ou seja, toda relação social se dá apoiada na
percepção subjetiva dos indivíduos envolvidos, sendo ela mesma construída em cima do conjunto
de possibilidades do mundo material (orgânico e inorgânico) através do corpo físico. Repare que o
9 LUIZ, André (Espírito) Mecanismos da Mediunidade. [psicografia de] Francisco Cândido Xavier.C ap. XVI
Fenomeno magnetico da vida humana. CENTRO INDUTOR DO LAR. 9ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1986.
p.116.
"... o Espírito reencarnado, no período infantil, recolhe dos pais os mapas de inclinação e conduta que lhe
nortearão a existência....
... transformando-se [os filhos] , por algum tempo, em instrumentos ou médiuns dos genitores, à face do
ajustamento das ondas mentais que lhe são próprias, em circuitos conjugados, pelos quais permutam entre si os
agentes mentais de que se nutrem."
10 Entenderemos por campo a região de influência de determinada ordem de fenômenos, seja de caráter físico
ou não.
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processo pelo qual o elemento espiritual se manifesta no campo físico é o mesmo que torna possível a
manifestação mediúnica (veja o que diz Herculano Pires no seu livro Mediunidade11
Então, na sua ação através desses campos, o homem vai lidar com diferentes modalidades de
limitação. Poderá fazer algumas coisas, outras não, devido ao fato de estar submetido aos campos
destacados acima. Por ter um corpo material orgânico, por exemplo, terá de se submeter ao processo
cronotópico (próprio dos fenômenos materiais onde as coisas acontecem no domíno do tempo e
do espaço). A sua própria possibilidade de compreensão dependerá , na sua origem, é verdade, dos
sentidos que são essencialmente cronotópicos. Mas não totalmente. Pode ele elevar-se acima de
tais campos à medida que participe mais conscientemente do campo espiritual que lhe é próprio -
repare que já pelo pensamento podemos "escapar" dos limites do espaço, embora estejamos sujeitos
ao tempo, uma vez que o processo de pensar se dá no tempo (exige duração). Pela imaginação
podemos abstrair da nossa própria situação corrente e até fazer projeções de estados futuros, que são
antecipações de futuros possiveis. Assim é que podemos estabelecer metas a serem cumpridas. Mas,
mesmo assim, tais realizações terão de acontecer nos quatro campos acima delineados. Mais ainda,
dado que o homem não possui todas as faculdades, surge a necessidade de solicitar colaboração dos
outros para que possa atingir seus próprios fins.
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Isso nos remete a entender como “funcionam” os fluidos sobre nós, espíritos encarnados. Vamos
destacar dois efeitos, um objetivo e outro subjetivo, recordando as lições de Allan Kardec na Gênese,
capítulo 14.
Vejamos isso pela figura abaixo: vemos o cão, mas ao vê-lo, algo desperta em nós mais alguma
coisa do que a sua imagem, i.e., a idéia “cão”. O que seria? Trata-se do efeito psicológico, subjetivo:
impressões da alma.
Tal efeito subjetivo é traduzido no corpo sob a forma de emoções, estudas na sua manifestação por
Paul Ekman em seus livros como em “Unmasking the Face”.
Outro efeito é objetivo, “material”. Nesse caso, há dois movimentos básicos: atração e repulsão.
Estes movimentos, sob a ação do Espírito resulta em dois efeitos: concentração de fluidos ou
dispersão de fluidos. Assim, vamos entender que o Espírito constitui uma vestimenta fluídica para a
sua manifestação no mundo
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A realidade é por nós captada e traduzida sob diversos aspectos. Vemos, ouvimos, sentimos, a
partir do físico e, reagimos a isso de forma a valorarmos os fatos segundo nosso campo afetivo,
até constituirmos a ideação, ou representação mental, propriamente dita. E isso somente é possível
porque possuímos “instrumentos” que nos permitem interagir nos diversos campos da realidade: o
perispírito e seus centros de força.
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Então, com tudo isso, surge uma questão de caráter econômico: como aproveitar da melhor forma
possível os recursos limitados que possuímos para alcançar nossos objetivos? Essa é a questão
do aproveitamento das próprias experiências. Aqui entra o Evagelho de Jesus, com a sua Ética,
representados pela figura do evangelizador. Duplo será o papel deste: afetivo e cognitivo.
No campo afetivo, estimular o evangelizando através das suas próprias vibrações, tornando
possível o "contágio" de um estado de espírito mais elevado (a exemplificação no bem vai além
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da simples imitação. Trata-se de um processo de indução12 - para melhor entender isso, veja esse
interessante artigo de Virgílio Vasconcelos Vilela na internet, Linguagem: Indução - o poder das
palavras ).
Nesse caso, o indivíduo por se ver envolvido em vibrações mais elevadas (i.e., do evangelizador),
tem a possibilidade de entrar em ressonância mais facilmente com a própria consciência em relação
às propostas e decisões tomadas antes de nascer13. Aqui há um genuíno processo mediúnico, onde
a mensagem a ser passada é materializada na própria vida do evangelizador. Tais situações,
intrinsecamente educativas, somente acontecem quando o evangelizador se encontra num estado
especial de satisfação existencial, aceitando ser quem é e fazer o que faz. Observemos que está fora
de propósito colocar indivíduos em estados desequilibrados na tarefa da evangelização, sob pena de
se provocar um efeito contrário ao pretendido sobre as crianças e os jovens. Ou seja, a evangelização
requer, mais do que o simples desejo, o compromisso e a prática efetiva com a própria melhoria.
Além desse processo de influenciação benéfica, possui o evangelizador o papel de auxiliar o Espírito
do evangelizando em aprendizagem nas questões que possam se tornar "pedras de tropeço" na sua
caminhada. E quais seriam elas? Todas as questões que acabem se tornando "armadilhas", em que o
evangelizando fica preso em situações de dor, impedindo-lhe a ação efetiva no bem. Seriam, então, as
situações de culpa, mágoa, remorso, ressentimento, etc. Situações típicas de Espíritos recalcitrantes
no erro (que acabaram por se tornar "viciações"). Então surge o outro papel para o evangelizador,
agora no campo cognitivo, ou seja, o papel de iluminar com a luz da razão a situação espiritual.
A razão é simbolizada como a luz, capaz de iluminar, portanto. Assim, será exatamente essa ratio,
i.e., razão, que possibilitará o evangelizando sair desses estados de "dor contraproducente". Ensinar
a usar a razão esclarecida, purificada até, pelo comportamento evangelizado, pois que, sem tal
comportamento, ela se desvirtua, mais sofrendo influências da paixão do que orientando as ações para
o bem. Esse é o sentido de ensinar a pensar. Muito longe do mero exercício repetitivo de atitudes
pretensamente filosóficas.
É importante considerar que nossa ação exige necessariamente uma ética a fim de organizar
produtivamente esse processo de aproveitamento das experiências. Isso porque nenhum homem pode
agir sem que isso interfira na vida de outros homens ou de outras criaturas. Se tal interferência é
inevitável, cabe determinar segundo que direção ela acontece. Como já vimos, o propósito da vida
humana é a humanizaçao do indivíduo, isto é, tornar-se mais humano, entendendo isso como tornar-
se mais perfectível naquilo que a natureza humana permite. Ou seja, nenhuma ação humana pode
ser desligada das implicações éticas sob pena de desumanização (mal inerente a muitas iniciativas que
buscam abstrair tais implicações éticas em nome de urgências apressadas e imaturas).
Mas de que forma tal processo acontece? Como podemos inserir ética no contexto das ações do
indivíduo?
O indivíduo, ao nascer, traz a matriz das conquistas passadas mas com a consciência adormecida.
Assim, torna-se possível recriar processos de estimulação, a funcionar de fora para dentro, buscando
12 Indução aqui tem o sentido de influenciação à semelhança do que ocorre na biologia onde indução é
entendida como "o processo no qual a presença de um tecido influencia o desenvolvimento de outros"
13 Isso está consistente com o que é exposto no livro O Que é O Espiritismo, quando Kardec ao responder à
questão "qual a origem do sentimento chamado consciência", estabelece que o Espírito antes de reencarnar já
tomou resoluções para serem efetivadas durante a futura existência.
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ambientar as atitudes éticas pertinentes para o contexto de aprendizado. Por exemplo, ao nascer
entre judeus recebo, de inicio, todo um conjunto de atitudes práticas dos meus pais que me servem
de "pontos de conexão" com a cultura. É partir disso que poderei reconstruir o mundo mental que me
é específico, mas "vestido" de tal forma a permitir o mecanismo de trocas com meus semelhantes,
a partir do que influencio e sou influenciado. Assim pensando, encontramos uma razão para o
contexto cultural em que o Espírito está inserido. Não se trata de uma combinação mais ou menos
fortuita. Há correspondências precisas entre a situação espiritual do indivíduo e o campo de
suas experiências ao encarnar. Trata-se aqui da ambientação reencarnatória. O nome já diz.
Situação familiar, geogáfica, econômica, física (orgânica), maiores ou menores possibilidades de
desenvolvimento segundo o contexto, tudo isso definindo para o Espírito um campo de experiências.
Tal campo de experiências é estabelecido, ainda no mundo espiritual, após o estudo do quadro atual
portado pelo Espírito, onde, após ter sido identificado o conjunto de aspectos passíveis de serem
modificados, planeja-se cuidadosamente as situações condizentes com:
Isso lembra o que foi estabelecido pelo apóstolo Tiago: "cada um é tentado na sua própria
concupiscência", ou seja, naquilo em que somos débeis, ou ainda o Evangelho Segundo Espiritismo
quando diz "Orai e crede! pois que a morte é a ressurreição, sendo a vida é a prova buscada e
durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro".
Tudo isso nos remete à questão da importância de se estudar, junto ao evangelizando, a sua
ambientação reencarnatória, isso principalmente porque alguns componentes dela podem
ser portadores de sofrimento que, se não for bem compreendido, trará bloqueios ao indivíduo
devido à tendência da acomodação com o menor esforço, pois será sempre mais fácil transferir
a responsabilidade sobre o que nos acontece para os outros do que estabelecer atitudes pessoais
de definição, assumindo a responsabilidade sobre as próprias escolhas. Aliás, já Santo Agostinho
estabelecia, pelo seu exemplo, que a autoconsciência somente ocorre a partir e desde o momento
em que assumimos a responsabilidade sobre nossa vida14.
Isso nos lembra novamente André Luiz, desta vez no seu Nos Domínios da Mediunidade, onde estão
estabelecidas algumas reflexões sobre a assimilação das correntes mentais15 e a capacidade de
discernir que nos é própria.
Então, novamente exemplificando, uma "vida difícil" é indício de que há graves compromissos em
jogo para o Espírito. Quanto mais cedo se lhe desperte a consciência da sua própria situação, tanto
mais intensa será a energia que poderá empregar para manter o estado de definição em torno desse(s)
compromisso(s). Veja que termos como "coitado", "que azar", etc de forma alguma podem ser
utilizados para tentar esclarecer a situação dele. Em parte isso retrata a capacidade do evangelizador
em ver o evangelizando como Espírito e, desta forma, tratá-lo como tal.
Outro aspecto relacionado à ambientação reencarnatória diz respeito aos recursos mobilizados
para servirem de auxílio ao Espírito no cumprimento das resoluções tomadas pelo mesmo antes de
nascer: possibilidades de estudar, tranquilidade financeira na fase preparatória da vida (infância e
14 Ver CONFISSÔES, de Santo Agostinho, como exemplo dessa tese apresentada por alguns filósofos, entre
os quais, Eric Voegelin e Olavo de Carvalho.
15 André Luiz (Espírito). Nos Domínios da Mediunidade. Cap 5 - Assimilaçoes de correntes mentais. 10ª ed.
Rio. FEB
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Há que se observar aqui que tal grupo de forma alguma é fixo. À medida que ocorre mudanças em
nossa personalidade, também ocorrem mudanças no grupo de afinidade ao qual pertencemos. Mais
ainda. Guardamos a possibilidade de formar deliberadamente novas afinidades, principalmente a que
se constitui nos evangelizadores que nos ajudam o caminho. Assim, repare que deve o evangelizador
considerar o que ele representa para a criança ou jovem, com relação à afinidade. Deveremos nos
preocupar com isso por se constituir de elemento didático na tarefa que nos cabe, pois cada um de nós
somente absorve aquilo a que se afeiçoa, lembrando André Luiz em Mecanismos da Mediunidade.
Isso tudo mostra a utilidade para que se tenha como tarefa a construção de um registro sobre o
evangelizando. Ao escrever sobre ele vamos exercitando a nossa capacidade de nos concentrar
sobre ele, mobilizando recursos fluídicos antecipadamente à sua presença, potencializando
nossa ação junto dele.
Lembremos agora que a ação da evangelização sendo também mediúnica, estabelece uma conjugação
de duas vontades, como ilustra André Luiz: uma vontade-apelo (evangelizador) em relação a uma
vontade-resposta (evangelizando). Com isso surge a questão do conteúdo: o que constitui o
16 Pode parecer arbitrária a decisão de levar um filho à evangelização, mas ao meditar com mais cuidado nisso,
considerando principalmente os exemplos de companheiros espíritas mais velhos, veremos que tal decisão se
parece arbitrária por depender em parte dos pais, de forma alguma isenta-os da responsabilidade de impedir
que o Espírito reencarnante tome contato com seus compromissos a partir dessa modalidade de atividade. O
que pode ocorrer é, respeitado o livre-arbítrio de todos, estarem os pais tão imersos no cotidiano materialista,
que se incapacitam de ver o óbvio, preparando para si próprios situações difíceis nas quais se verão diante de
um adolescente despreparado a exigir-lhe muito mais em termos de esforços, nem sempre, então, coroados de
êxitos.
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São os princípios que fundamentam a consciência humana. Eles estão presentes em todas as religiões
e filosofias, independentemente de raça, sexo ou cultura. São inerentes à condição humana. Os
valores humanos dignificam a conduta humana e ampliam a capacidade de percepção do ser como
consciência luminosa que tem no pensamento e nos sentimentos sua manifestação palpável e aferível.
A cada valor absoluto espiritual correspondem valores relativos, que, exercitados, aprimoram a
personalidade e fortalecem o caráter.
Sentimentos a serem despertados no educando (palestra Divaldo Perira Franco, narrando sua viagem à
Índia):
17 Para compreender bem isso é preciso lembrar das palvrasde Emmanuel, apontadas no
início,
"238 – [...] Alguns séculos antes de Jesus, o plano espiritual, pela boca dos profetas e
dos filósofos, exortava o homem do mundo ao conhecimento de si mesmo. O Evangelho
é a luz interior dessa edificação. (Emmanuel - O Consolador)
satya - verdade: despertar no educando o “ser verdadeiro”, a verdade conforme nós achamos que é.
Ensinar a vivência da verdade, sem violência.
dharma - dever. Criar a consciência do dever (dever que nós temos perante a vida)
ahimsa - não-violência.
Vamos distinguir duas classes de fatos: físicos e psíquicos. Os fatos físicos caracterizam-se pela
espacialidade e corporeidade; são predominantemente extensivos, quando macroscopicamente
examinados. Os fatos psíquicos revelam incorporeidade e temporalidade, não são localizáveis,
tópicos, como os físicos, que se dão aqui ou ali.
Faremos aqui uma distinção para facilitar a abordagem do assunto. As coisas existem no mundo
(incluindo nós mesmos), isto é, têm existência. Ao colocarmos um sujeito que pode perceber as
diversas formas de existência, diremos que tais coisas existentes passam a se manifestar a esse sujeito.
Assim, quando algo passa a ser notado por alguém, este pode dizer que "captou" sua existência
denominando manifestação ao que foi efetivamente captado.
Notemos, de início, que essa tríade não é acidental. Toda vez que algo se posiciona frente a algo, fica
estabelecida uma relação entre ambos. Por exemplo, um livro sobre uma mesa, uma maçã caindo ao
solo, o ar dentro de um balão, etc. Repare que as preposições "denunciam" a relação estabelecida em
cada caso. Podemos, com os nossos conhecimentos, "arrumar" explicações sobre isso, caracterizando
ou tipificando a relação. Ou seja, o livro sobre a mesa está em relação a esta através das forças
moleculares estabelecidas entre os átomos do livro e os átomos da mesa. A maçã cai sobre a terra por
força da atração da gravidade, estabelecida pela interatuação recíproca. Reparemos que nesses casos
a mente humana parece encontrar ou criar naturalmente hierarquias em que apreende os fenômenos
percebidos sempre como totalidade, unidade19.
Parece que possuímos a habilidade de apreender um conjunto de fenômenos num todo, ao qual
atribuímos um nome, em que há uma ordem entre os elementos constituintes do que captamos, e
mesmo que aceitemos que a ordem está apenas na mente, algo há que perdura entre os componentes,
pois tem estabilidade suficiente para que a mente atribui a isso uma ordem.
Repare ainda num detalhe muito importante: Há coisas que, ao se apresentarem para nós, possuem
existência por si mesmas, isto é, não dependem de nós (claro que há os que pensam diferente, ou
seja, "só há o barulho da floresta se houver alguém lá para perceber isso", mas isso não será objeto
da nossa atenção no momento). Então, algo acontece entre nós e as coisas: passamos a caracterizá-
las, até a nomeá-las, e eis que passam a ter manifestação para nós, o que já é conhecimento:
estabelecemos uma hierarquia no que percebemos, uma ordem é apreendida do observado e a isto
dizemos que se manifestou.
"ato imanente, consciente e intencional, pelo qual adquirimos notícias de um objeto por
similitude com o mesmo ou por representação do mesmo." (MFS - Origem dos Grandes Erros
Filosóficos).
Imanente porque se dá no próprio ser, e não fora dele, consciente porque ele participa ativamente do
processo, tem ciência dele, e, intencional porque tudo isso é mobilizado pela intenção de captar algo.
O que é captado? Notícias, dados, detalhes do objeto, os quais são incorporados ao ser como imagem
semelhante ao objeto ou como representação (esquemática) do mesmo.
Em sentido lato, diz-se que a cognição é uma apreensão, é algo que a mente apreende, é o que se
capta intencionalmente, nada se afirmando ou negando dele. A intencionalidade mental se refere a
alguma coisa, que se torna o seu objeto.
Temos, então, notícia do mundo a partir dos sons, das sensações, da luz, dos odores, etc, que são
as primeiras formas de comunicação entre nós e o resto do mundo. Cooperam na formação do que
chamamos experiência humana, além de outros fatores como veremos.
A experiência é um dos meios de que dispomos para obter conhecimentos dos mais variados.
Podemos também identificar duas modalidades de experiência em relação ao ser humano: a
experiência interna e a experiência externa.
A experiência interna chama-se também consciência. Este termo, etimologicamente, vem de cum-
scientia, notícia da notícia, cognição da cognição. Quem vê, sente a si ver, quem ouve sente a si ouvir,
quando entendemos, temos notícias que entendemos. Distinguindo um pouco mais, diremos que a
consciência psicológica é o ato que consiste na notícia de nossos atos psicológicos. Essa consciência
é concomitante à própria percepção, ou seja, é a percepção da experiência da própria percepção,
simultânea com esta. Assim, na consciência psicológica há o objeto (uma casa, por exemplo), o
próprio ato (o conhecimento da casa), e o sujeito ( o ego que conhece), os quais, embora distintos,
constituem aspectos do mesmo processo.
Por outro lado, a consciência será reflexiva quando houver notícias dos próprios atos, cujas operações
são advertidas pelo sujeito, que sobre eles se reflete (se dobra, espelha-os), através de atos abstrativos
(pela atuação de esquemas21 mentais).
Em relação à experiência externa, podemos dizer que o conhecimento principia nos sentidos, ou é por
meio deles que alcançamos o saber sobre as coisas do mundo exterior, ou seja, os dados oferecidos
pelos sentidos (phantasmata) são objeto de uma atividade do intelecto, cujo conhecimento é fundando
também nas experiências internas e não apenas nas externas. Dos sensíveis o intelecto abstrai os
insensíveis, as formas, que não são objeto de estímulo dos sentidos, nem são captados por estes.
Notemos já que a consciência psicológica se dá sempre. É a fonte pela qual a mente conhece os fatos
internos, enquanto a reflexa é direta e própria da cognição daqueles fatos, por isso é a intelectual22.
Com o que foi dito, perceba que há para cada um de nós uma possibilidade de contato deliberado com
a realidade (interna e externa) através do que somos capazes de conhecer. Claro que haverá outras
21 "s. m. 1. Figura que representa, não a forma verdadeira dos objectos, mas as suas relações e funções."
(dicionário Priberam da Língua Portugues, http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx)
22 Reparemos que na evangelização vamos trabalhar com essas duas modalidades, isto é, com a consciência
psicológica e com a consciência reflexiva. 27
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formas de contato, mesmo inconscientes como a que temos com tudo o que nos cerca através dos
fluidos do ambiente ou até o que temos com Deus. Tratamos aqui da percepção deliberada, passível
de ser usada através da inteligência enquanto poder de captar a realidade.
Nela quisemos ressaltar que há uma divisão entre o ser e a realidade a que denominamos de
CONHECIMENTO, querendo dizer com isso que o que eu capto intencionalmente do mundo é
sempre através do conhecimento que dele adquiro - note bem isso. Não se trata de informação apenas.
Conhecimento aqui está sendo usado num sentido amplo, como percepção estruturada. Assim, mesmo
quando capto apenas uma sensação de medo, ou algum sentimento oriundo de um Espírito numa
relação mediúnica, isso somente é passível de ser comunicado a outro indivíduo se tal captação se
apoiar em alguma experiência comum vivenciada por nós e se já estiver de alguma forma em mim (do
contrário, como saberei que é medo ou que sinto?). Ou seja, conhecimento, mais do que informação,
será possibilidade de captação mais ampla. Assim, quando ajo sobre o mundo, é pelo conhecimento,
neste caso sob a forma de práticas conquistadas. Ao andar, por exemplo, estabeleço uma interação
com o mundo através do automatismo conquistado na infância próprio da minha espécie (ser bípede).
Mas, então, de que forma se estrutura essa captação mais ampla da realidade? O que acontece
conosco ao conhecermos alguma coisa, ou seja, como conhecemos e em que nos afeta?
Para tratarmos desta questão será necessário fazer algumas considerações sobre o funcionamento do
nosso espírito.
Algumas considerações sobre o espírito enquanto criador, o nous grego, devem ser feitas para
podermos compreender melhor o funcionamento psíquico. Esta abordagem corresponde ao que estuda
a Noologia, disciplina que tem como objeto não só os fundamentos do nosso espírito, com suas raízes
psicológicas, mas também em sua interatuação com o realizar-se cultural, o histórico-social, bem
como seus fundamentos ontológicos (enquanto ser).
O que observamos na Natureza? Seres vivos em processos de trocas com o ambiente e que possuem
uma diversidade enorme de características específicas., realizando uma grande variedade de funções.
Os organismos buscam manter-se vivos e o fazem através do aplacamento das suas necessidades
vitais estabelecidas na sua relação com o meio ambiente. Nessa relação realiza trocas onde precisa
adaptar-se ao meio ambiente, numa relação dinâmica pois o meio não é homogêneo e nem estático.
Para isso, desenvolveu uma capacidade de tornar suas funções escalares, isto é, não rígidas,
acontecendo dele pô-las de acordo com o que está presente nesse ambiente, no todo ou em parte, por
modificações internas ou externas. Tais adaptações do organismo em relação ao meio ambiente estão,
claro, condicionadas a certo limite, pois do contrário, sobrevem a morte.
Todo organismo vivo é um ser de máxima heterogeneidade, que mantém trocas com o ambiente, ora
incorporando-lhes elementos, por assimilação, ora eliminando-os quando não assimilados.
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Suas necessidades vitais são aplacadas através dessa incorporação de bens que o torna apto a vida
e que perdure. Tal aplacamento das necessidades vitais processa-se para tornar-se apto ao meio
ambiente, pelas trocas que irá ter que efetuar, isto é, por sua adaptação, caracterizado por um estado
de harmonia, de equilíbrio entre ele e o meio ambiente que o cerca. Como organismo, múltiplo em
suas funções, elas não se apresentam rígidas, mas dentro de uma escalaridade de modo a permitir que
o organismo se adapte a fim de sobreviver. Ocorre que tal adaptação é restrita às disponibilidades do
organismo.
Explica-nos a biologia que tal adaptação se desenvolve segundo um esquema funcional composto de
dois processos, a acomodação (ad commodo, dar forma ad) e a assimilação (de ad simil, semelhante
à). Acomoda-se (conforma-se) o ser vivo ao meio ambiente com o que tem, com o conjunto dos seus
esquemas biológicos, tornando-se como as coisas. E em face delas, e segundo esses esquemas que
se acomodam, e dentro do seu âmbito, retira do meio ambiente o que lhe é assimilável, realizando a
assimilação.
2) criação de novos esquemas globais, que se estruturam segundo as experiências por que
passam, que lhe dão nova ordem, os quais, enriquecidos das novas experiências, vão, por
sua vez, acomodar-se, incluindo, memorizadas, conscientemente ou não, as experiências
anteriores, o que explicaria as adaptações adquiridas, distintas das fixas.
Considerando o caso dos seres vivos superiores, entre eles o homem, observa-se que dispoem eles,
para o seu contato com o mundo exterior, além do que compõe propriamente a sua parte somática (do
grego, soma, corpo), uma parte que se diferenciou funcional e estruturalmente, que é o seu sistema
nervoso, que entra em contato com o mundo exterior através de meios, órgãos, que são chamados
órgãos dos sentidos.
Assim, notemos que os fatos do mundo exterior são sensorialmente captados por esses sentidos, mas
condicionados ao seu alcance.
Por exemplo, os nossos ouvidos captam as vibrações moleculares do ar, que vão de um limite de 16
a 20000 oscilações por segundo. Toda vibração molecular, superior ou inferior a essa faixa, escapa-
nos totalmente, embora tenhamos meios técnicos para medí-las. Vê-se logo que a assimilação de
vibrações moleculares do ar (sons) está condicionada ao alcance das nossa possbilidades quanto
aos órgão específicos para tal captação (diremos os nossos esquemas auditivos), portanto o nosso
conhecimento também é limitado. Mais ainda. Se conhecemos outras vibrações que nos escapam,
não temos delas uma sensação, mas apenas um conhecimento, distinção que é importante fazer.
Ou seja, há uma diferença importante no nosso conhecimento: há aquele que nos é dado pelos
sentidos, de modo imediato, sem outro meio que eles mesmos, e um outro conhecimento, mediato,
que obtemos por outros meios, que nos permitem conhecer e não sentir o que ultrapassa os limites
esquemáticos sensíveis23.
O que se dá com o ouvido, de modo análogo acontece com outros órgãos. A nossa luz, por exemplo,
é apenas uma ínfima porção das vibrações eletromagnéticas24, que nossos olhos são aptos a sentir,
23 Vale lembrar que até mesmo a tecnologia vai se beneficiando à medida que estuda o funcionamento desses
esquemas biológicos, como ocorre com a cóclea artificial de rádiofreqüência# que deverá revolucionar o modo
como utilizamos os aparelhos que se baseiam em ondas eletromagnéticas. São conquistas da bioeletrônica
fundadas no melhor conhecimento da esquemática do corpo humano.
24 Para aqueles que quiserem ver uma explicação do próprio inventor, o pesquisador Sarpeshkar, veja o
vídeo(em inglês)
29
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Diremos, então, que construímos esquemas25 que nos ajudam nesse processo de captação da
realidade.
Sob certo ponto de vista, podemos dizer que também a natureza “pensa” por esquemas e não por
palavras, por esquemas concretos (pensar = medir). O animal, que segue em busca de alimento,
acomoda seus esquemas sensíveis com pré-configurações sensíveis dos alimentos possíveis ou
desejados.
Nós pensamos sobre a natureza quando captamos um quid26 qualitativo ou uma relação.
Nosso pensamento, como ato de pensar, é a captação de “pensamentos”27 da natureza (ação seletiva
de nosso espírito, que funciona segundo a capacidade assimiladora de nossos esquemas).
Não é possível captar o que não se apresente já tensionalmente, o que não se apresente aos olhos e aos
sentidos do corpo ou ao espírito, sob uma ordem, uma coerência, unidade em suma.
Os esquemas naturais que possuímos permitem que realizemos uma adaptação condicionada
ao seu alcance e, para conhecermos além ou aquém, precisamos de outros esquemas, que a eles
agregamos, como aparelhos técnico-científicos. Mas, repare que tais aparelhos não nos mostram os
fatos como eles são, e sim fazem uma tradução para os nossos esquemas, de modo que tenhamos
sensações - o microscópio, ao aumentar cem mil vezes um ser minúsculo, não nos permite que o
vejamos com ele é, mas que o vejamos ampliado à nossa faixa esquemática.
Vemos assim que os nossos meios de contato com o mundo exterior são de âmbito limitado. Além
disso, sabemos que os nossos órgãos dos sentidos não cobrem todos os ângulos dos fatos, mas apenas
uma porção muito limitada e que, graças à construção de outros esquemas podemos traduzí-los aos
que nos são naturais.
Eis um ponto de importância capital, que nos diferencia dos animais: somos capazes de construir
novos esquemas e com eles conhecer mais.
Também somos capazes de construir meios, utilizar elementos do mundo exterior, ordenados sob
novos esquemas, para que sirvam de instrumentos, não só de domínio dos fatos exteriores, mas
também para conhecê-los (veremos com mais detalhes esse processo estudando um pouco do que
estabeleceu Piaget na sua Epistemologia Genética posteriormente).
Ou seja, enquanto os animais dispõem apenas de meios fisio-psicológicos para se adaptarem ao meio
exterior, o homem se diferencia dos animais porque é capaz de criar - diremos que a adaptação do
homem é já noética e não puramente psíquica (como no caso dos animais). E é noética porque
esse nous (espírito) se manifesta nessa capacidade criadora de esquemas de forma intencional.
Guardemos isso, pois muito nos ajudará no entendimento do que nos cabe realizar nas tarefas de
25 Por exemplo, se nos pusermos a analisar a mera intuição sensível que temos de alguma coisa,
digamos aquela árvore, o verde de suas folhas é reduzido ao esquema do verde,
educação.
Antes de prosseguirmos, vamos relacionar mais alguns exemplos de esquemas de diversas naturezas.
Lembrando da figura anterior dos quatro campos das ação humana, encontramos:
“... nossas papilas gustativas não reagem senão a uma forma geral da molécula química, sem a
pormenorizar; elas retêm apenas um esquema geral”.
“... Uma melodia... seria um conjunto de notas, de sensações auditivas, reaproximadas graças ao nosso
cérebro e tornada assim capaz de ter uma ação sobre o conjunto de nosso organismo”.
Observemos a figura abaixo. Quais são os filhotes e quais os adultos? O que nos faz ser capaz de
identificar os filhotes? Ou ainda: Por que a imagem de um bebê nos encanta?
Para responder a isso, a Drª Sílvia Helena Cardoso28, autora do artigo acima, cita o prêmio nobel
austríaco K. Lorenz. Já em 1943 esse etólogo29 sugeria que a reação de encantamento e ternura
despertada em nós pela visão de filhotes e bebês, não era cultural, e sim causada pela ação do nosso
sistema nervoso, capaz de "reconhecer" automaticamente as características anatômicas típicas de
bebês e reagir de forma protetora em direção a elas. Ao conjunto dessas características ele chamou
Kinchenschemma30.
28 PhD. Psicobióloga, mestre e doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela
Universidade da Califórnia em Los Angeles. Pesquisadora associada do Núcleo de Informática Biomédica,
UNICAMP, Campinas, Brasil. Diretora e Editora-chefe da revista Cérebro & Mente e editora associada da
Intermedic e Informática Médica, revistas em Internet e Medicina.
29 Etólogo é alguém que estuda os comportamentos instintivos, como corte, acasalamento, e cuidado dos
filhotes.
Também a título de ilustração, reparemos no que uma criança aprende à medida que ela desenvolve
a sua motricidade. De início ela incorpora vários atos: o ato de atirar, chupar, puxar, girar (todos
padrões de comportamento com o que interage com o meio exterior). Com eles a criança vai
formando um repertório cada vez mais interdependente e complexo, utilizando-o para expressar-se
cada vez com mais maestria e se comunicar com o meio exterior. Todos exemplos de esquemas de
ação, na linguagem de Piaget
Antes dos 8 meses de idade, ela pode não conseguir manter os objetos com que se relaciona na
mente, isto é, eles ainda não têm um caráter de permanência para elas (os objetos parecem deixar
de existir quando saem do seu campo de visão ou audição) - ainda não desenvolveu o esquema da
permanência.
Mas, no decorrer de sua vida, pratica uma falta, que é assimilada ao esquema erro-castigo. A não
superveniência do castigo deixa este segundo esquema objetivo em contradição com o eidético
anterior erro-castigo [o já aprendido].
32
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Por outro, há algo que sofre, é assimilado ao castigo porque todo castigo deve ser desprazeroso.
Temos aqui a reversão cronológica de erro-castigo, para castigo-errro. Nesse caso deve ter feito algo
errado para merecer esse castigo. Há uma consciência de culpa sem objetivação do ato praticado.
Se há consciência de uma privação de culpa, assimila o castigo ao esquema de injustiça (que varia
segundo as condições históricas, etc.).
Outra forma de esquemas pode ser percebida em casos de dependentes químicos. Nestes casos a
limitação ou o empobrecimento esquemático fica patente e pode ser concebido como cognições
disfuncionais que tornam o indivíduo muito rígido na avaliação de situações específicas.
"(...) mais importante do que a situação real, é a avaliação que o indivíduo faz a respeito dela. Uma
mesma situação pode, portanto, desencadear diferentes emoções (tristeza, raiva, ansiedade, etc). Por
exemplo, imaginemos um indivíduo que chega à garagem do seu prédio e percebe que esqueceu as
chaves do carro no apartamento. Ele pode avaliar esta situação de várias maneiras. Exemplifiquemos
duas:
1) ao perceber que está sem as chaves, ele pode pensar que é uma pessoa "azarada" e que
seu dia começara ruim; a emoção que acompanha essa avaliação é tristeza e desânimo. Com
este sentimento, seu desempenho no trabalho tende a ser baixo.
2) ele pode, ao contrário, pensar que, se subir ao apartamento para pegar as chaves, vai se
atrasar. A emoção que ocorre neste caso é ansiedade. Ele chega ao trabalho tão ansioso que
não consegue seguir a programação do dia: seu desempenho também cai."
O que importa ressaltar aqui é o caráter dos esquemas postos em ação pelo sujeito. Nesse caso
tais esquemas se mostram como "estruturas psíquicas que contêm avaliações firmemente
estabelecidas. O Esquema, se traduzido em palavras, forma criações hipotéticas chamadas de
Crenças Básicas32. As Crenças Básicas, quando disfuncionais, caracterizam-se por serem irracionais,
supergeneralizadas e rígidas. Levam a sofrimento psíquico e comportamentos mal adaptados, além de
impedirem a realização de metas. O quadro abaixo mostra alguns exemplos de Esquemas Cognitivos
disfuncionais e suas respectivas Crenças Básicas."
31 SILVA, Cláudio Jerônimo da; SERRA, Ana Maria. Terapias Cognitiva e Cognitivo-Comportamental em
dependência química. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, 2009 . Available from <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462004000500009&lng=en&nrm=iso>. access on01 July 2009. doi:
10.1590/S1516-44462004000500009.
32 (idem ao anterior) "As Crenças Centrais Básicas são avaliações genéricas sobre si mesmo, sobre o outro
e sobre a relação com o mundo que o cerca. Na maioria das vezes, tais crenças não são conhecidas e claras
para o indivíduo (são inconsciente) mas, sob determinadas circunstâncias, influenciam a percepção sobre as
coisas e é expressa como pensamento automático, específico a uma situação. Os pensamentos automáticos
derivam de um "erro" cognitivo e têm íntima relação com as crenças. O quadro abaixo exemplifica alguns erros
cognitivos e pensamentos a eles associados. 33
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Ressaltamos, por fim, uma observação do professor Mário Ferreira dos Santos. "Nas esferas
psicológicas e sociológicas a captação e construção de esquemas nos revela uma profunda diferença
se comparado com as esferas da biologia e da físico-química. Na biosfera e na esfera físico-químico
estamos em face da natureza" [condicionando o homem]. "Mas na psicofera e na sociosfera, o
homem, que é efeito e condicionado no plano da natureza passa a ser condicionante no campo da
cultura, sem deixar de ser parte do mundo da natureza."
Como já dissemos anteriormente, é por meio dos nossos sentidos que estamos em contato com
os fatos do mundo exterior, que os intuímos33. Mas tais intuições apresentam aspectos distintos.
Vejamos.
"Tenho à minha frente vários objetos. E meus olhos, que estão acomodados nessa direção, assimilam
as formas, as cores, as posições desses objetos, etc.
Vejo, então, que uns são semelhantes ou diferentes dos outros, e sinto mais simpatia por este que por
aquele livro.
Nesse conjunto de intuições, que acabo de ter, verifico, no entanto, que há tamanhas diferenças,
que posso classificar diferentemente as intuições. Pois, quando vejo os livros, tenho uma intuição
sensível, que posso compreender apenas como funcionamento da minha sensibilidade (sensório-
motriz). Mas quando intuo semelhanças e diferenças, procedo a uma escolha, a uma separação, realizo
uma intuição intelectual. Ao sentir em mim simpatia ou antipatia capto estados afetivos.
Dessa forma, vejo que noologicamente funciono, quanto à intuição, de maneiras diversas, pois tenho
intuições intelectuais e intuições afetivas, além das intuições sensíveis.
33 Intuição: lat. intuitio, ação de ver, golpe de vista. Modo de conhecimento imediato, que apreende
diretamente, sem intermediários, um objeto de pensamento ou uma realidade. (Dicionário de Filosofia,
JAcqueline Russ. Editora Scipione. 1991.)
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Nossa intelectualidade funciona, portanto, desdobrando os fatos: quando captados pela intuição
como singularidades, os quais pela ação generalizadora da razão são universalizados.
Assim, temos uma intuição intelectual destes livros ao captar simultaneamente suas diferenças e
semelhanças. Note que a razão vai operar no sentido de dar ordem ao caos desses acontecimentos, em
classificar os fatos, segundo as notas repetidas, e construir com isso os conceitos.
Mas verifica-se aqui, nessa polarização do nosso espírito, que nós nos colocamos em face do objeto:
a separação (dicotomia) entre sujeito e objeto é flagrante para uma acentuação da objetividade, que
só é concebida por oposição a uma subjetividade. Objetividade e subjetividade são esquematizações
intelectuais e permitem que se construa a Lógica Formal, enquanto a intuição, desde que é valorizada
(atualizada), dá-nos o ponto de partida para o que se chama comumente de posição irracionalista.
Verificamos também que no campo da afetividade outra coisa acontece. Quando sentimos simpatia
ou antipatia, não as colocamos nas coisas. A simpatia e a antipatia não estão nas coisas, mas em nós.
Nós somos a simpatia e a antipatia. Ou seja, vê-se que a separação (dicotomia) entre sujeito e objeto
não mais acontece, pois o sujeito é o próprio objeto que se sente a si mesmo, que intui a si mesmo,
35
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
que em si mesmo se desdobra. Em vez de uma separação crescente do sujeito e do objeto, como se
verifica na intelectualidade, temos aqui uma fusão, pois os dois se identificam num só.
Portanto, o nosso espírito funciona dialeticamente: de um lado, por uma função desdobradora da
realidade em sujeito e objeto; do outro, por uma função identificadora de sujeito e objeto.
E não fucionam estes dois polos do nosso espírito separadamente, pois embora se distingam,
há na intelectualidade sempre afetividade, que se revela no interesse, como há na afetividade a
intelectualidade, que se revela na conceituação afetiva.
Mais um exemplo,
"... olho para a mesa e vejo algo verde. Olho com mais atenção, aproximando-me da mesa e vejo
que se trata de um livro de cor verde. Tomo o livro nas mãos e percebo a capa e o seu peso. Possui
uma capa macia, aveludada. É razoavelmente pesado. Tem um cheiro de coisa antiga. Abro o livro
e percebo o amarelado das folhas. Volto a olhar a capa e leio como título A "Evolução da Física".
Subitamente sinto um desconforto. Algo me desagrada. Não possuo familiaridade com o assunto.
Lembro-me, então, das inúmeras vezes em que me senti incapaz por não conseguir entender aquilo.
Letras, equações, leis, as minhas aulas de Física no segundo grau, as minhas notas baixas, tudo isso
parece agora eclodir na mente junto.
Decididamente larguei tudo aquilo quando fui estudar psicologia na faculdade. Afinal, "exatas"
não era bem a minha praia mesmo. E agora, veja o que eu encontro! Física, de novo! Bem, naquele
momento decido deixar o livro em cima da mesa e me afastar. Não gosto do livro.
Logo alguém começa a falar e me desperta a atenção para outras questões mais importantes."
O que aconteceu na narração acima? Há, simultaneamente, uma ação das três modalidades intuitivas
do nosso espírito. Consegue percebê-las?
Repare que os sentidos funcionam como portas de entrada iniciais. Mesmo aí já há organização ou
filtragem daquilo que existe. Ou seja, cor, tamanho, peso, são captações da nossa sensibilidade,
estruturadas a partir dos "instrumentos" que possuímos para isso, ou seja, visão, tato, etc. Também
podemos perceber que de imediato intuimos um objeto, a partir do seu tamanho e forma. Não
pensamos nisso (isto é, não elaboramos reflexões). Simplesmente algo em nós já capta isso
(intuição intelectiva). A partir do momento que lemos o título, entretanto, passamos a usar a
razão. Mas, simultaneamente, sentimos alguma antipatia ao percebermos o assunto do livro. É
que ao "entendermos" o título, algumas experiências vividas parecem retornar das profundezas da
memória. A nossa intuição pathica, afetiva, está em ação.
36
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Algumas observações podem ser feitas agora. Repare que a afetividade tem uma função integradora,
isto é, ela promove uma "identificação" (ou não) entre o sujeito (eu) e o objeto34 (o livro). A
intelecção, ao contrário, realiza uma operação diferenciadora entre sujeito e objeto. Repare que,
ao examinarmos algo racionalmente, somos forçados a separar aquilo de nós mesmos (até mesmo
quando o objeto sob exame formos nós mesmos - algum sentimento nosso, por exemplo). Então,
veremos que os nossos juízos de valor (bom/ruim, útil/inútil, conveniente/inconveniente, etc), são
realizados com fundamento no funcionamento da nossa "parte afetiva". Já os juízos de existência (há
algo), fundam-se no funcionamento da nossa sensibilidade e os juízos operatórios (é um livro azul),
no funcionamento do intelecto. Mais ainda. Em momento algum podemos de fato separar os três
aspectos no funcionamento do nosso espírito.
Bom, mas se isso tudo dá um nome a alguns comportamentos por nós executados no processo
de "experienciar o livro" como descrito acima, nada fala da substância do que se agrega a nós ou do
que passa por nós ao fazer isso. É indiscutível que ocorreram mudanças em nós nesse momento, ainda
que temporárias. Mas o que houve? Se alguém me fere com uma faca ou um arranhão, eu sinto e vejo
aquilo na mão, por exemplo. Posso , então, precisar a região alterada e até estudá-la sob o ponto de
vista estrutural (a região da ferida). Mas e na experiência acima descrita? O que podemos precisar,
separar, delimitar?
É mister, porém, observar que a imaginação criadora e a construção de esquemas novos, fundados
em anteriores, é uma característica toda especial do espírito humano, desde que consideremos que o
homem pode combinar esquemas diversos, sem que lhes corresponda um suppositum, extra mentis,
que seja o substractum do esquema, com se vê quanto aos entes de razão, as ficções, etc.
Só na esfera psicológica tal atividade é possível, e não na esfera biológica, nem na físico-química, por
faltar quem os faça35.
Aqui o nosso estudo se divide em duas frentes paralelas. Utilizaremos algumas contribuições da
Psicologia, principalmente no que se refere ao processo de ação da inteligência, estudado por Piaget,
34 Isso não é exatamente o que acontece. Repare que, de fato, tal "identificação" se dá entre 'eu', como sujeito
e 'eu mesmo' , enquanto objeto (que sente). O livro serviu apenas como elemento "disparador" dos sentimentos.
Ocorre que, de início a nossa captação é de certa forma iludida, isto é, achamos que a simpatia está no
objeto, confundindo causa com instrumento pelo qual essa causa se apresenta. O mesmo irá acontecer com a
intelecção, que, separando o objeto do sujeito, está, de fato, separando do próprio susjeito os esquemas que lhe
são próprios. Ou seja, repare que o que percebemos do objeto, intelectivamente, são os nossos esquemas do
objeto (por isso ditos noéticos)
35 Nestas duas esferas há seletividade, mas não há a capacidade de cosntruir, com esquemas,
outros esquemas, sem modificações propriamente biológicas nem fisico-químicas, porque, nestas
últimas esferas, os esquemas estão identificados37
e concrecionados com os próprios fatos.
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
entre outros na sua Epistemologia Genética36. Alguns resultados importantes já foram atingidos a
partir dos seus estudos, embora nem tudo seja aproveitável, como era de se esperar, uma vez que a
ciência também evolui. Mas recorde também que somos Espíritos e possuímos um perispírito como
mediador entre o mundo físico e o universo espiritual. Assim, poderíamos nos perguntar o que é
observado em termos de dinâmica energética (ou fluídica) num processo como o descrito acima?
De que maneira o conhecimento desse processo pode ser usado para melhorar o processo das
nossas aulas?
Vamos recorrer ao eminente pesquisador da mente, Piaget, aproveitando alguns dos conceitos por ele
estabelecidos a partir das suas pesquisas que constituíram a sua teoria do desenvolvimento cognitivo
37.
Parte Piaget da idéia de que os organismos estão profundamente relacionados ao seu meio-ambiente.
Assim, verificamos que qualquer ser vivo realiza dois processos complementares de um único
mecanismo a fim de sobreviver, ou seja,
36 "A teoria de Piaget, denominada de Epistemologia Genética ou Teoria Psicogenética é a mais conhecida
concepção construtivista da formação da inteligência. Jean Piaget, em sua teoria, explica como o indivíduo,
desde o seu nascimento, constrói o conhecimento. A construção do conhecimento ocorre quando acontecem
ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando o desequilíbrio, resultam em assimilação ou,
acomodação e assimilação dessas ações e, assim, em construção de esquemas ou conhecimento. Em outras
palavras, uma vez que a criança não consegue assimilar o estímulo, ela tenta fazer uma acomodação e após,
uma assimilação e o equilíbrio é, então, alcançado." (http://penta2.ufrgs.br/edu/construt/teopiag.htm)
37 Trata-se aqui dos conceitos de esquemas, do processo de adaptação do ser humano ao ambiente
que lhe define a circunstância, dividido em acomodação e assimilação, e do modelo de estágios de
desenvolvimento (sensório-motor, pré-operacional, operacional concreto e operacional formal). Para mais
detalhes, veja o artigo abaixo A Construção do Conhecimento segundo Piaget.
Passemos agora a examinar esses dois processos segundo a visão do eminente filósofo brasileiro
Mário Ferreira dos Santos em seu Tratado de Simbólica (os grifos em negrito são nossos). Embora o
trecho não seja de fácil entendimento, preferimos transcrevê-lo a fim de preservar a riqueza original,
onde podemos perceber a capacidade do autor de elaborar conceitos concretos, transmitindo o
essencial sem se afastar jamais da realidade geradora do conceito.
"O ser humano, como todo ser vivo, surge, perdura e depende de um meio ambiente, que lhe é
favorável sob certos aspectos e também suficientemente hostil para, por condicionamentos, ativá-lo
a ações e modificações que o tornam apto a sobreviver nele, como nos mostra o mundo biológico em
geral. E essa atividade toma o nome genérico de Adaptação - a qual pode ser, não só biológica, como
psicológica e até social.
39
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
A adaptação processa-se pela acomodação, isto é, pela disposição dos esquemas à circunstância
ambiental, e por uma assimilação (“assemelhação”), em que é captado do ambiente o que é
assimilável aos e pelos esquemas.
Biológicamente, o ser vivo dispõe de esquemas39, e é em função deles que realiza uma ação de
acomodação ao meio ambiente (psicologicamente seria ao mundo do objeto), e capta, do objeto, as
formas que se assemelham às constitutivas dos esquemas intentionaliter (i.e., intencionalmente).
Para o idealismo absoluto, o conhecimento do homem está totalmente condicionado aos esquemas,
pois aquele não poderia assimilar senão na proporção dos esquemas que já têm.
O esquema não é algo estático, como pensam os idealistas. O esquema é histórico, e como tal é
influído pelos fatos do mundo exterior.
O nosso espírito caracteriza-se sobretudo pela sua imensa capacidade de criar esquemas. E
os "elementos" componentes de um conjunto esquemático podem servir de "elementos" para
estruturarem uma nova ordem, num novo esquema.
39 "s. m. 1. Figura que representa, não a forma verdadeira dos objectos, mas as suas relações e funções."
(dicionário Priberam da Língua Portugues, http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx)
40
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
conceito, até à formação dos esquemas abstratos noéticos40 de segundo e terceiro graus41, realizados
pela razão.
Vê-se assim que na sua adaptação psicológica, o ser humano penetra com o seu soma, que é a
organização - conjunto dos esquemas do sensório-motriz, enriquecidos pelos novos esquemas, cuja
gestação a experiência predispõe - a qual atua com anterioridade cronológica (tese dos idealistas)
apenas sob este ângulo, mas que sofre a influência objetiva, que auxilia a modelar novos esquemas
por ação do espírito estimulado, e a fortalecer anteriores (ação modeladora predisponente do objeto,
tese dos realistas).
b) assimilação: incorpora o que lhe é afim e o de que necessita para a sua economia, o
semelhante, o que pode e convém assemelhar.
Dessa ação múltipla, surge a atividade dos esquemas que, por sua vez, ante os diferentes, assimila-
os em esquemas diferentes ou constrói, com esses, novos esquemas, para outras acomodações e
assimilações.
40 dizemos noéticos porque elaborados pelo espírito e com uma uma intencionalidade
41 Ensina-nos o autor que as abstrações (conceitos) podem ser divididos segundo Aristóteles e os esoclásticos
em três grupos. As abstrações de primeiro grau seriam as referentes aos objetos da nossa poercepção
sensível, tais como cachorro, cavalo, mesa, homem, etc. Onde vemos os seres particulares despojados de
suas diferenças e agrupados segundo o que têm em comum, numa classe. As abstrações de segundo
grau, por sua vez, seriam as usadas na matemática, onde as coisas são desprovidas de todas as suas notas
com exceção da quantidade. Ao se tratar das quantidades contínuas teríamos a geometria. Ao se cuidar das
quantidades discretas, teríamos a aritmética. Finalmente, temos aquelas abstrações para as quais não há um
indivíduo singular que possa ser tomado como exemplar da classe, como por exemplo, o conceito (abstração)
de forma, de antecendente, de essência, de existência, etc. Repare que não temos um exemplar para forma,
podemos ter uma gota de água exemplificando a forma de uma gota de água, mas não a forma em si. São as
abstrações de terceiro grau e aqui estamos no território da metafísica.
41
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
A assimilação realiza uma incorporação segundo os esquemas, portanto nunca é pura. nem total,
mas apenas esquemática. Conseqüentemente, não há um conhecimento totaliter (total), mas do totum
(todo) da coisa, uma estrutura noética44 que se refere à coisa como um todo, mas como ela é em si,
tomada totalmente, não é assimilada. Eis a razão por que o conhecimento não pode dar a captação
da coisa exaustivamente, por mais que nos acomodemos a ela.
Aumentamos o conhecimento pela acomodação de esquemas técnicos que nos traduzem suas
captações em esquemas assimiláveis a nós. (exemplos dos aparelhos de rádio que captam vibrações
eletromagnéticas e nós traduzem em vibrações moleculares, para as quais temos esquemas somáticos.
Não conhecemos diretamente, em si, as vibrações eletromagnéticas, mas seus símbolos).
(...)
Resulta daí uma coordenação dos esquemas entre si, e entre esses e as coisas, funcionamento duplo,
que gera:
Dos fatos, capta a nossa organização psíquica um esquema fáctico da haecceitas, da eceidade (i.e.,
essência) do objeto: O esquema fáctico deste objeto, aqui e agora, é condicionado pelos esquemas
acomodados. "É um livro vermelho, que está sobre a mesa". O que a intuição sensível capta é um
esquema fáctico do livro, que está aqui e agora, mas este esquema está condicionado pelos esquemas
acomodados da organização psíquica. A imagem, que temos dele, é, assim, o produto de uma
42 'fáctico´, porque envolve um dado exterior ao ser, colocado na realidade e independente dele; ´noético´, por
se dar segundo uma intencionalidade, típica do espírito, criador por excelência
43 isto é, a semelhança do que ocorre na incorporação de substâncias pelos seres vivos, que teria o caráter
do 'fato' (i.e., a substância) realmente ser incorporada ao organismo. Na incorporação aludida o fato permanece
fora da mente após a gênese dos esquemas correspondentes.
44
42
noética: criado pelo Espírito
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
emergência da organização psíquica e da predisponência do objeto, das suas notas, que foram por
aquela assimilados, mas intencionalmente (intentionaliter).
A comparação, que dele fazemos com os esquemas generalizados, que são os noético-eidéticos,
permite saber, através da sua acomodação e da assimilação, que ele é um livro, que é vermelho, etc.
Mas esse esquema fáctico, que é imagem, é estruturado numa ordem intuitiva, para a qual já há a
cooperação dos esquemas generalizados, isto é, dos abstratos noético-eidéticos, que permitem ordená-
lo no pensamento.
E como toda essa atividade é contemporânea na nossa intuição, no estado em que nos encontramos,
neste lanço do caminho, não há uma intuição pura do fato, pois o decoramos, realizamos decorações,
dando-lhe nexos, formando-o dentro de uma estrutura esquemática, como já o havia exposto Kant,
quando se referia às formas puras (a priori), que actuam na estruturação da nossa experiência.
1) a acomodação, por mais excessiva que seja, não oferece uma assimilação
correspondente, pois- o fato não é fàcilmente captável, por não poderem os esquemas
realizar a ação de ad como, isto é, acomodarem-se, serem como o objeto, por mais que o
procurem, não permitindo boa assimilação correspondente.
Neste caso, os esquemas, de qualquer espécie que forem, tendem a ser como (função ficcional, função
do como si, isto é, os esquemas procuram actuar como se fossem o objecto), realizam uma mimesis,
(psico-somática ou apenas eidética), uma cópia, e temos a imitação. Na imitação, os esquemas
procuram ser como se fossem o objeto ao qual buscam adaptar-se. É uma bola, e fazemos o gesto
que corresponde à sua figura estereométrica. É alguém que sofre, e fazemos os gestos de sofrimento,
realizamos uma acomodação dos esquemas como se fôssem daquela dor.
(...)
43
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
Um exemplo do segundo caso logo nos clareará o funcionamento da simbolização. Estamos numa
praia. Olhamos o mar, e vemos uma mancha branca no horizonte. "Um barco", diz um. "Não,
responde outro, uma nuvem". "Qual, afirma um terceiro, deve ser a fumaça de um návio". "É uma
onda muito alta", propõe um quarto. Em tal caso dá-se uma fraca acomodação devido à distância e
à dificuldade dos esquemas se acomodarem ao fato. Conseqüentemente é máxima a assimilação. Há
apenas uma nota que pode ser de barco, de vela, de onda, de fumaça, de nuvem, mas que por si só
não é suficiente para dar uma certeza, uma inteligência do fato. Os quatro assimilaram mais do que
acomodaram, pois assimilaram a esquemas vários. Portanto, os quatro realizaram uma ação simbólica.
Não há separação entre a acomodação e a assimilação. Não há uma acomodação pura, nem uma
assimilação pura.
A atividade adaptativa do nosso espírito funciona dialécticamente por dois vectores inversos, o de
exteriorização dos esquemas, e o de interiorização nos mesmos pelas ações de acomodação e de
assimilação.
No sonho, por exemplo, nossos sentidos estão adormecidos, e fraca é a atividade de acomodação, por
conseguinte a assimilação é máxima, razão por que os sonhos tomam a forma simbólica, segundo os
esquemas que constituem o psiquismo, na sua ação de captar objetivamente o próprio funcionamento,
e também o do nosso corpo.
As coisas fazem de conta que são outras. O "faz de conta" infantil mostra-nos bem a gênese do
símbolo. O símbolo repousa sobre uma simples semelhança entre o objeto presente (na realidade ou
no espirito), que faz o papel de significante, e o objeto ausente, o de significado, que é por aquele
simbòlicamente referido.
45 "Símbolo é tudo quanto está em lugar de outro, sem acomodação atual á presença desse outro, com o qual
tem, ou julgamos ter, qualquer semelhança (intrínseca por analogia), e, por meio do qual, queremos transmitir ou
expressar essa presença não atual.", Mário Ferreira dos Santos, Tratado de Simbólica. É Realizações, 2007.
46Veja aqui essa interessante apresentação de Pedro Vitoria: Jean Piaget e a inteligência, (http://
www.scribd.com/doc/2910172/Jean-Piaget-e-a-inteligencia)
44
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
Resumidamente, teríamos:
Assimilação --> registrar as notas do objeto de percepção, a partir dos esquemas existentes
Acomodação --> alterar a estrutura esquemática existente para conseguir captar as novas
notas do objeto de percepção.
Tudo isso define para o indivíduo diferentes maneiras de interagir com a realidade, ou seja, maneiras
de organizar seus conhecimentos visando a sua adaptação. Mais ainda, tais processos acabam
constituindo estágios de desenvolvimento com especificidades próprias, desenvolvendo-se no tempo
como uma espiral onde cada estágio engloba o anterior e o amplia. Vamos a uma descrição breve
deles.
Mas antes, consideremos que há duas possibilidades de serem estudados. Piaget descreve a
manifestação externa deles. Tal sequencia vai se repetir na vida adulta em todas as situações comuns
de aprendizagem. É como se observássemos em câmara lenta o processo de um indivíduo adulto.
Paralelamente será útil observar como os desenhos da criança evoluem com a idade. Segundo o
educador Viktor Lowenfeld47, o desenho passa pelas seguintes fases:
47 Ref.: http://infancia12b.webnode.com/news/arte-infantil/
45
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
Os estágios de desenvolvimento identificados por Piaget emergem do nascimento até a idade de 14-16
anos, mas não há como estabelecer idades rígidas. Apenas a sequência se mostra como uma aspecto
invariante.
Desenho de uma criança de 2 anos e 5 meses48 (o objetivo não era de representar algo, mas sim de explorar as diversas
cores de giz-de-cera, de ver o efeito que passaria para o papel).
"a atividade intelectual da criança é de natureza sensorial e motora. A principal característica desse período
é a ausência da função semiótica, isto é, a criança não representa mentalmente os objetos. Sua ação é direta
sobre eles. Essas atividades serão o fundamento da atividade intelectual futura. A estimulação ambiental
interferirá na passagem de um estágio para o outro. "
48Para saber mais sobre o desenho infantil, acesse o artigo Descoberta de um Universo: A Evolução do
Desenho Infantil , de Thereza Bordoni.
Desenho de uma criança de 4 anos e 3 meses. (o objetivo aqui foi o de representar algo: o primo, a avó, o sol. Repare as
bolinhas na cabeça da avó indicando o "cabelo" ) Ref.: Fernanda Fusco Blog
No segundo estágio, o estágio pré-operacional ou estágio simbólico - intuitivo (2-6 anos), a criança
mantém sua orientação concreta de aprendizagem mas inicia a desenvolver uma orientação mais
reflexiva, internalizando ações e convertendo-as em imagens, símbolos.
" a criança desenvolve a capacidade simbólica50; "já não depende unicamente de suas sensações, de seus
movimentos, mas já distingue um significador (imagem, palavra ou símbolo) daquilo que ele significa(o objeto
ausente), o significado". Para a educação é importante ressaltar o caráter lúdico do pensamento simbólico.
Este período caracteriza-se: pelo egocentrismo: isto é, a criança ainda não se mostra capaz de colocar-se na
perspectiva do outro, o pensamento pré-operacional é estático e rígido, a criança capta estados momentâneos,
sem juntá-los em um todo; pelo desequilíbrio: há uma predominância de acomodações e não das assimilações;
pela irreversibilidade: a criança parece incapaz de compreender a existência de fenômenos reversíveis, isto é,
que se fizermos certas transformações, somos capazes de restaurá-las, fazendo voltar ao estágio original, como
por exemplo, a água que se transforma em gelo e aquecendo-se volta à forma original."
47
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
Desenho de uma criança de 5 anos e 6 meses. ( também procurou representar algo - algo que não precisava ver para
desenhar, mas que já conhecia. Desenhou animais e personagens de animações, temas clássicos do desenho infantil: o
passarinho com asas, o coelho com orelhas compridas, etc - geralmente, uma criança desenvolve o esquema corporal até por
volta de 7 anos de idade
No terceiro estágio (7-11 anos), estágio operacional concreto, a criança inicia um grande poder de
abstração. Aprendizagem, neste estágio, é conduzida pelas relações causais, lógica; ela se baseia em
teorias e conceitos para dar forma final às suas experiência.
"a criança já possui uma organização mental integrada, os sistemas de ação reúnem-se em todos integrados.
Piaget fala em operações de pensamento ao invés de ações. É capaz de ver a totalidade de diferentes ângulos.
Conclui e consolida as conservações do número, da substância e do peso. Apesar de ainda trabalhar com
objetos, agora representados, sua flexibilidade de pensamento permite um sem número de aprendizagens."
48
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
No quarto e último estágio, estágio operatório abstrato ou formal (12-16 anos), o adolescente
move-se dos processos simbólicos baseados em operações concretas ao processo simbólico baseada
na representação lógica (processo hipotético-dedutivo). O adolescente retorna à uma postura mais
ativa, de experiência, mas é uma experiência modificada pela reflexão e abstração que a precedeu .
"A criança se liberta inteiramente do objeto, inclusive o representado, operando agora com a forma (em
contraposição a conteúdo), situando o real em um conjunto de transformações. A grande novidade do nível das
operações formais é que o sujeito torna-se capaz de raciocinar corretamente sobre proposições em que não
acredita, ou que ainda não acredita, que ainda considera puras hipóteses. É capaz de inferir as conseqüências.
Tem início os processos de pensamento hipotético-dedutivos."
Ressaltamos aqui que a evolução desses estágios não ocorre de forma linear, ou seja, atingido um
estágio segue-se outro de maneira independente. Ocorre que cada um deles é construído sobre os
anteriores. Podemos "visualizar" isso considerando que a curva do crescimento cognitivo é uma
espiral, onde cada estágio retorna como estapa de apoio no desenvolvimento de um novo estágio.
Parece mesmo que a curva de crescimento do seres vivos51 também estabelece o crescimento
cognitivo.
51Para maiores informações veja o interessante artigo de Abaza Husssein New Approach for Understanding the
Golden Section: http://www.mi.sanu.ac.yu/vismath/abaza2008/abaza.pdf
49
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
7 - O Movimento Expressivo
50
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
A criança olha, cheira, toca, ouve, se move, experimenta, sente, pensa... Desenha com o corpo, canta
com o corpo, sorri com todo o corpo. O corpo é ação/pensamento.
Seu pensamento se dá na ação, na sensação, na percepção, sempre regado pelo sentimento. Convive,
sente, reconhece e repete os símbolos do seu entorno, mas não é, ainda, um criador intencional de
símbolos. Sua criação focaliza a própria ação, o exercício, a repetição.
A criança está atenta e aberta às experiências e ao mundo, sem medo dos riscos, por isso arrisca-
se... Vive intensamente. E vai construindo assim, frente aos objetos, às pessoas e ao mundo, suas
percepções iniciais que influenciarão toda a sua subsequente compreensão de mundo.
Exemplo:pintura a dedo
“Segundo Rhoda Kellogg, há quatro estágios no trato com a pintura a dedo. A criança passa de um
primeiro interesse inicial - quando mexer com a tinta é mais importante do que deixar seu registro
no papel - para o espalhamento, trabalhando prazeirosamente no cobrir a folha, misturando as
cores, às vezes primeiro com um único dedo, depois utilizando as duas mãos. Variar as cores,
a temperatura da tinta e oferecer instrumentos como palitos, pentes, escovas podem incentivar
explorações não só táteis, mas também visuais. Das várias experimentações exercitadas, a criança
iniciará o estágio do propósito, quando busca as marcas, e quando possibilitar a mudança frequente
de suporte pode incentivar as formas e as cores mais límpidas. O último estágio é o pictórico,
quando as formas são representativas, pertencendo ao segundo movimento. As crianças maiores,
mesmo adolescentes ou adutos, podem passar por esses uatro movimentos na mesma sessão de
trabalho. Provavelmente, partirão da experimentação desse primeiro movimento para criações mais
intencionais e simbólicas.”
O psicólogo Howard Gardner, autor da teoria das inteligências múltiplas, vê no primeiro movimento
uma forma de conhecimento intuitivo, construída a partir das interações com objetos f´sicos e
com outras pessoas, adquirido através de sistemas de percepções sensoriais e interações motoras,
estimuladas pelo mundo externo. Relações de causa-efeito, compreensões da natureza e da
constituição de objetos e do mundo, também dos números, formarão a base de teorias que surgirão
depois.
Piaget chama essa fase de sensório-motora, pela ênfase no movimento corporal, pela exploração
sensorial, pela inteligência essencialmente prática.
A criança não é uma produtora de signos, de forma consciente. Mas, como está no mundo da
cultura, em um mundo essencialmente simbólico, já é leitora de índices e imitadora de símbolos. É
assim que aprende a dar “até logo”, a assoprar a velhinha de mentira, a bater palmas. Atos que são
aprendidos na relação sociocultural e recriados diante das visitas, para o orgulho dos pais.
A imitação é uma forma importante de aprendizagem. Assim com oimita o gesto e o som, a
criança imita a ação adulta de riscar no papel. Seu interesse está no gesto, que imita com muito prazer,
e não na intenção daquilo que o adulto está fazendo. Imita a ação: o agir, escrever, desenhar, cantar,
dançar, tocar... A importância está na própria ação, e é isso que imita.
Para além da imitação, contudo, há uma reação estética. É importante lhe oferecer oportunidades de
contatos sensoriais e perceptivos com o mundo da natureza e da cultura humana.
51
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
Levamos deste primeiro movimento o modo intuitivo de estar-no-mundo que continuará nos
alimentando nas etapas posteriores. O que acontece quando você experimenta pela primeira evz
uma caneta? Não são garatujas?
Intenção - símbolo
São representações sobre representações. Fingir beber numa xícara vazia, por exemplo, representa
um significado e tem uma função lúdica e comunicativa, implicando uma conversa interna, tornada
possível pela interiorização da ação expressada pelas representações verbais, visuais, gestuais,
sonoras.
A linguagem verbal é um sistema simbólico fundamental, mas já sabemos que não é o único. Outros
são igualmente importantes:
O início do movimento simbólico nas artes plásticas se dá por meio do tridimensional. As bolinhas e
cobrinhas vão virando objetos. Um lápis pode se transformar numa injeção ou num avião. O jogo do
faz-de-conta entra de vez na vida da criança.
No desenho a passagem se dá lentamente. Dos rabiscos e das pesquisas de forma, nascem as primeiras
52
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
Para Rhoda Kellogg, elas nascem dos sóis, dos mandalas. Pequenos círculos sugerem faces,
completadas com outras linhas. A primeira figura humana consiste, algumas vezes, em um círculo
com olhos, nariz e boca. Estão ali presentes a busca de compreensão do homem como um todo.
A grande cabeça/corpo de onde saem os braços e as pernas parece mesmo ser gerado do sol. É fácil
ver como nos primeiros desenhos de figura humana os cabelos se parecem muito com os raios, estão
quase sempre espetados, e as pernas e os braços são prolongamentos maiores desses raios.
A criança reinventa a figura humana e nela enfatiza a sua forma mais geral, a sua gestalt53. Uma
grande massa de onde saem braços e pernas. Exclui o que não é importante para ela naquele
momento. Mas se, por algum motivo, as sobrancelhas adquirem um sentido especial, dá a elas ênfase
através de linhas mais fortes.
No exercício de ênfases a criança também pode sobrepor formas, com se as de baixo não existissem
mais.
Há uma diferença muito grande entre a produção de desenhos e a de pinturas. Enquanto no desenho
as representações mostram-se cada vez com mais detalhes, as pinturas frequentemente encontram-se
no primeiro movimento expressivo. As cores, as massas, incentivam a exploração, o espalhamento.
As cores podem se tornar mais limpas, as misturas mais conscientes podendo haver também uma
preocupação com a textura.
53 Gestalt, palavra alemã sem tradução exata em português, refere-se a um processo de dar
forma, de configurar "o que é colocado diante dos olhos, exposto ao olhar": a palavra gestalt tem o
significado "(...)de uma entidade concreta, individual e característica, que existe como algo destacado
e que tem uma forma ou configuração como um de seus atributos."
53
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
A percepção das formas, cores e linhas traz agora mais recursos também linguísticos para ser expressa
e compartilhada.
Há noções que podem ser iniciadas, tais como o que é pintura, desenho, escultura, cores claras,
escuras, traçad forte e fraco, além de relações de tamanho (grande, pequeno, enorme) e de posição
(em cima, embaixo, no meio). Ao mesmo tempo, noções simples, como a de pintor, músico, maestro
e ator, podem também ser enfocadas de modo significativo desde que inseridas no contexto das
experiências expressivas da criança.
A intenção simbólica, no jogo simbólico, confere aos jogos espontâneos de improvisação uma
organização na qual a gênese da construção das linguagens artísticas se manifesta. As crianças
improvisam num ir e vir, começando de novo, numa espécie de moto-perpétuo. Uma situação
inventada, uma história tornam-se o meio de ordenação material sonoro, cênico, e é assim que
vivenciam a essência do seu fazer artístico.
Há uma ótica pessoal de ver/pensar/sentir o mundo. Os símbolos construídos pela criança são
pautados nas suas referências pessoais e culturais, no registro de suas preferências e prioridades, nas
características estruturais globais que enfatiza ou exclui.
O que o aprendizado de arte, já vivido por você, fez com suas possibilidades de criação?
Organização - regra
Na continuidade da conquista da forma, a criança viveu o que Gardner chama de idade de ouro
do desenho, pois aos 4, 5, 6 anos a criança elabora soluções criativas para expressar o espaço, a
sobreposição, o que tem por baixo ou por trás das coisas, criando uma lógica e uma coerência
perfeitamente adequadas aos seus intentos.
Agora a criança tem a intenção de buscar verossimilhança em sua representação, procurando
convenções e regras com uma certa exigência.
54
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
O desenho abaixo mostra o registro de um visita a uma feira de livro e em seguida, ao zoológico (este
último pleno de sensibilidade e pensamento estético). Há uma realidade que está presente no próprio
desenho, que ganha uma vida interna, reflexos de percepções, sentimentos e pensamentos.
As soluções gráficas que encontra, a invenção de novas relações, são algumas das peripécias criativas
que a criança vai produzindo para registrar o que vê, sabe, intui e imagina.
Depois da descoberta e das invenções de seus próprios símbolos, a produção da criança é dominada
pelo desejo de registrar tudo. Por essa característica, Gardner denomina esse movimento de
notacional.
O segundo movimento expressivo corresponde para Piaget ao estágio das operações concretas.
Apresenta avanços consideráveis na compreensão de conceitos em profunda relação com a concretude
de suas interações com o mundo, pessoas e os objetos. Essa concretude é fortemente indicada pelo
aparecimento do “chão” - a linha de base - , onde se apóiam todos os objetos, a paisagem, as pessoas.
55
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
A linha de base é o “chão” da cena e pode ser uma ou várias. Com frequência, essa linha é desenhada
no meio da folha ou a criança utiliza a própria bordado papel com a mesma função. Muitas outras
soluções são criadas, pois as relações espaciais são uma das conquistas mais importantes desse
movimento.
A busca pela representação mais realista muitas vezes traz medo, a preocupação com o fazer bem-
feito, levando a criança a usar frequentemente a borracha, ou a se refugiar no uso da régua. A linha de
contorno, como forma de assegurar essa representação, pode prevalecer, refletindo-se na pintura que
se restringe ao preenchimento dessas formas fechadas.
A linha se modifica porque a criança não desenha mais parte por parte de uma figura, com formas
geometrizadas. Sua linha flui gerando o todo, ou quase todo o perímetro, fundindo todas as partes.
A escolha da cor também obedece à regra e à organização. As coisas devem ter a cor da realidade,
e as convenções ditam essas regras. A copa da árvore é sempre verde, independentemente da sua
possível floração. Todos os telhados são vermelhos. E as nuvens são azuis sobre um fundo de papel
branco.
Neste terceiro momento expressivo há mais autocrítica na comparação entre o real , sua imaginação e
sua produção, expectativas que muitas vezes levam a criança a abandonar a produção ou amassá-las e
jogar no lixo. Isso pode continuar a acontecer se no ensino da arte a criança não for sensibilizada para
outras possibilidades de representação, seja através da ampliação de referências, de rodas de conversa
sobre a produção ou mesmo da observação direta.
A criação de espaços pela criança também é buscada com seus brinquedos e objetos. Está presente o
jogo de construção. É hora de montar cabanas, de habitar espaços imaginários, de inventar e viver
aventuras, expedições. A realidade é o ponto de partida para o imaginário.
A narrativa dos acontecimentos também aparece como tema de suas produções em desenho, pintura e
teatro. Cenas de guerra e paisagens contam fatos, expõem idéias e leituras sobre o mundo.
A prática musical se enriquece, agora, com informações e conceitos que se integram à intuição e
espontaneidade: regras de grafia, noções técnicas, análise formal. Torna-se muito importante a criança
aprender uma música de que gosta, porque ela está muito sintonizada com a produção musical de sua
cultura.
As ações coletivas, a interação grupal, seja na linguagem cênica, seja na musical ou plástica, ganham
um novo interesse, que será reafirmado e ampliado no movimento posterior.
Nesse terceiro movimento, há um grande desejo de fazer coisas, concretizar empreendimentos com
perseverança, compartilhando obrigações e projetos com empenho.
Como sempre, ávida pelo fazer e compreender, a criança busca o sentido de tudo. Quando não
encontra, perde o interesse e se distancia. É o trabalho e a busca de competência que movem esse
aprendiz.
56
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
A produção expressiva da criança de 9 e 10 anos ganha em complexidade, mas pode ser subjugada
pelo sentimento de inferioridade. É comum nessa idade a frase: “Não sei desenhar”. Isso pode
emperrar sua intenção estética, se o educador não oferecer desafios para a conquista de sua poética
pessoal.
O gosto pela regra e pela organização reflete-se também nas suas preferências estéticas. A
criança procura na obra de arte a representação realista, construída com recursos da perspectiva,
com proporção, detalhamento, claro-escuro. Percebe o confronto entre a realidade, as idéias e as
representações possíveis e pode ser sensibilizada para perceber os meios de expressão utilizados -
linhas, formas, texturas. Admira a habilidade, o trabalho meticuloso, a beleza e o tema interessante.
Um quadro é belo se o tema é belo. Mas já não pensa apenas no que é belo para si, importando-se em
saber se outras pessoas também gostam da obra.
Levamos desse terceiro movimento expressivo a invenção de relações e regras que geram critérios
próprios, na busca de soluções criativas que vão alimentando um pensamento criador com maior
autonomia.
Quem não produz e inventa idéias dificilmente consegue encontrar soluções criativas para resolver as
dificuldades do cotidiano.
Poética pessoal
Esses são comportamentos vividos pelo jovem, fruto de sua própria história, com implicações na
construção de sua identidade problematizada também como produtor.
O jovem começa a explorar o pensamento sobre o mundo do pensamento, da emoção, com novos
níveis de elaboração. O “perceber idéias com se fossem coisas”, como diz Feldman (1970), abre
57
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
O caráter experimental instiga o adolescente a procurar seu estilo pessoal, como também o leva a
outras formas livres de expressão, como a experimentação de formas abstratas. muitas vezes resultado
de uma exploração estética.
Segundo Gardner, a preocupação nascente com as formas abstratas pode também ser vista no curioso
fenômeno que ele chamou de doodles, rabiscos sem sentido, que estão nas carteiras, nos banheiros,
nas agendas, na rua.
Nesse momento, se o ensino de arte não for instigante e voltado para o aprendiz, ele procurará por
seus próprios meios maneiras de investigar mais a linguagem artísticapreferida. Ou ficará distanciado
da experiência estética mais formalizada, até que algo novamente possa trazê-lo a esse encontro.
A percepção não é simplesmente a coleta de dados sensoriais, pois o corpo perceptivo entrelaça-
se com o sensível no mundo, em significações do ser-no-mundo. Para isso, utiliza-se também das
referências anteriores, construídas em tantas outras percepções.
A percepção é a fusão entre pensamento e sentimento que nos possibilita significar o mundo. Assim,
o ser humano é a soma de suas percepções singulares, únicas. O estar atento ao mundo é um constante
despertar. O homem percebe quando se torna consciente de suas impressões.
58
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
A partir desse ponto necessitamos empreender um salto. Trata-se de ir além do que os psicólogos e
estudiosos do desenvolvimento cognitivo entendem por esquemas (construtos teóricos, sem realidade
física). Talvez não seja simples de perceber a inconsistência nessa formulação, isto é, a de que os
esquemas seriam apenas construtos teóricos. A questão aqui é:
Insistem os estudiosos do ramo que tais estruturas mentais estão apenas na mente, i.e., não têm
realidade física, sendo de caráter interno aos indivíduos. Daí ser somente possível estudá-las a
partir dos seus efeitos. Daí idealizarem experiências com o intuito de perceber os esquemas em
funcionamento. Para nós, espíritas, no entanto, a realidade das estruturas mentais como aglomerações
de fluidos tornam a questão dos esquemas muito mais concreta, pois é consistente com o que videntes
e médiuns em geral sempre conseguiram captar desde os primeiros registros de suas atividades. É
assim que iniciamos algumas breves reflexões sobre a relação entre os esquemas e a realidade fluídica
de cada ser vivo.
Para começar, observemos que as sensações e movimentos são o ponto de partida de todas
as demais construções da esfera mental - isso é ponto pacífico. Mesmo a mais alta abstração
vai utilizar termos que, de uma forma ou de outra, têm relação com algo oriundo das sensações e
movimentos. Vejamos, a título de exemplo, a seguinte definição de "forma",
"Al suponer que un objeto tiene no sólo una figura patente y visible, sino también una figura latente e invisible,
se forjó la noción de forma en tanto que figura interna captable sólo por la mente. Esta figura interna es
llamada a veces idea y a veces forma. El vocablo más usualmente empleado por Platón a tal efecto es "eidoi"
— vertido al latín, según los casos, por forma, species, notio y genu." (Dicionario de Fílosofia , José Ferrater
Mora. Montecasino)
Observe quanto apelo há aos nossos sentidos: ´figura´, 'visível', 'invisível', 'objeto', 'interna', etc.
Mas, como isso foi parar em nós? Como ocorre a passagem da sensação no mundo físico para algo
que atribuímos a qualidade de ser "mental" ? Uma pista para entender isso podemos encontrar
observando que nós entramos em contato com o mundo exterior através dos sentidos, aparelhos
e órgãos da sensibilidade. Diz-se que é sensível tudo quanto pode impressionar um sentido, e
59
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
inteligível, tudo quanto pode ser conhecido por uma inteligência. A intuição sensível54 é produto
da interatuação da emergência sensível (da esquemática sensório-motriz) e da predisponência
sensível (os estímulos exteriores). A esquemática sensório-motriz, que é hereditária, atua, pois, como
emergência.
Agora, reparemos que todas a nossas experiências são vividas no espaço e ao longo do tempo, ao o
que seria melhor dizer, através de mudanças. Ou seja, a própria sensação exige necessariamente
a simultaneidade e a sucessão, pois a primeira deve dar-se entre o ser que conhece e o objeto
conhecido, para que se dê o produto disso (conhecimento), e esse processo exige sucessão (deve haver
perduração).
"Se me perguntais onde termina o espaço, eu vos respondo: num ponto em que o "onde" se
torna "quando", ou seja, em que a dimensão espaço, própria de gama [matéria], transforma-se na
dimensão tempo, própria de beta " [energia].
Quando, então, tratamos dos esquemas como estruturas elaboradas pela mente, diferentemente do que
afirmam os psicólogos especializados em Piaget, isto é, que tais esquemas não têm realidade física,
54Diz Mário Ferreira dos Santo em seu Tratado de Esquematologia: A esquemática sensório-motriz da
sensibilidade assimila os estímulos sem incorporação material destes.
"A assimilação, que se processa pela intuição sensível, na sensação, dá-se pela assimilação do esquema
do estímulo sem incorporação material deste, pois o que apenas se verifica é uma mudança de potencial
do sensório-motriz, cujo processo é esquemático, e é assimilado aos seus esquemas acomodados, na
proporção destes e segundo o momento histórico da acomodação. Daí a assimilação poder caracterizar-se em
adequada ou em simbólica, dependendo esta última da fraca acomodação, incapaz de permitir uma assimilação
adequada. É o que caracteriza o parece que é isto ou aquilo. Os sentidos, como instrumentos, acomodam-se
organicamente e sofrem as mutações de potencial que são proporcionadas à sua gama sensível. O estímulo
recebido do objeto é esquemático em relação a este e as modificações potenciais do instrumento sensitivo
terminam por constituir uma unidade esquemática. Esta, levada como estímulo aos esquemas acomodados,
permite uma assimilação proporcionada a estes. Em todo esse processo não há assimilação material, não há
incorporação da matéria bruta nem das suas manifestações, como se verifica fisiologicamente. Os sentidos,
ao sofrerem tais mutações de potencial, recebem esquemas dos objetos sem perder os que já possuem.
Essa recepção era chamada pelos escolásticos de imutação do sentido, porque há realmente a recepção de
uma nova espécie (ou esquema em nossa linguagem), eidola (formazinhas das coisas). Era chamada essa
imutação de intencional, que hoje chamamos cognoscitiva, porque apenas consiste numa imutação tensional
dos esquemas acomodados”.
55 "Tempo é o espaço interior, a manifestação do espaço interior que se apresenta como tempo. A potência
do tempo é levada ao exterior (espaço) e nos faz compreender o espaço-tempo, forma já configurada das duas
formas universais. Não há tempo sem espaço nem espaço sem tempo para nós (isto é, impõe-se algo que é
tempo e espaço) O pensamento tem tempo, por isso nele não se “encontra” a espacialidade, argumento que
pouco favorece aos espiritualistas. Mas, por ser tempo, é espaço também, porque o pensamento é algo, um
proceder de algo. Todo fenômeno exibe espaço e tempo; 60não o em si (como o afirmava Kant). O pensamento
não é um em si, mas um determinado exibir do tempo, um espaço fenomenizado (interior)." (idem ao anterior)
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
material, veremos que os esquemas podem ser analogados às estruturas de energia ou FORMAS-
PENSAMENTO que "habitam" ou até formam o nosso perispírito, segundo relatos de Espíritos como
André Luiz em suas obras.
Assim, todos os mecanismos de aprendizagem envolvem assimilação. Mas tal assimilação, se não
é incorporação material, é, de certa forma, assimilação fluídica. Veja, por exemplo, no livro de
André Luiz, Nos Domínios da Mediunidade, o capítulo 5, Assimilação de Correntes Mentais. Há
no capítulo uma alusão ao processo de sintonia entre o Espírito orientador e o dirigente encarnado,
durante a prece. Isso é bastante significativo, pois ao observarmos o procedimento de ambos,
verificamos que há a intermediação dos centros de força no processo. Assim, todo o aprender
envolve uma adaptação do indivíduo à onda mental proposta, que entra em contato com o indivíduo
através de um esforço de sintonia, processo de acomodação, nos termos piagetianos, e, também,
uma correspondente assimilação daquilo que é assimilável à sua estrutura mental (esquemática)- a
construção pessoal da forma-pensamento correspondente.
A título de ilustração, vejamos, a seguir, a descrição oferecida por Barbara Ann Brennan sobre a ação
dos centros de força num momento de experiência de um bebê (grifos nossos):
"O campo geral de um bebê, amorfo e informe, ostenta uma coloração azulada ou acinzentada.
Quando o bebê fixa a atenção num objeto do plano físico, a aura se torna tensa e brilhante, sobretudo ao
redor da cabeça. Depois, à proporção que essa atenção se dissipa, a cor da aura desaparece gradualmente;
entretanto, preserva parte da experiência em forma de cor da aura. Cada experiência acrescenta um pouco
de cor à aura e lhe realça a individualidade. Dessarte o trabalho de construção da aura também prossegue e
continua dessa maneira por toda a vida, de modo que todas as experiências de vida de uma pessoa podem ali
ser encontradas.
(..)
O campo da criança, inteiramente aberto, é vulnerável à atmosfera em que vive. Estejam as coisas "em
aberto", ou não, a criança sente o que se passa entre os pais. Reage constantemente a esse ambiente
energético de maneira compatível com seu temperamento.
(...)
`A medida que a criança cresce e o segundo chacra principia a desenvolver-se, sua vida emocional se
enriquece. A criança cria mundos de fantasia em que pode viver, começa a sentir-se uma pessoa separada
da mãe, e esses mundos ajudam a criar a separação. Dentro dos mundos de fantasia estão as propriedades
61
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
da criança. Ela enviará do seu campo etérico projeções56 semelhantes a amebas, circundando com elas
os objetos. Quanto mais importante for o objeto na construção do mundo de fantasia, tanto maior será a
consciência da energia do seu campo com que ela o circundará. O objeto passa a ser parte do eu. E quando
lhe é arrebatado à força das mãos, dilacera-lhe o campo e causa-lhe dor, física e emocional.
(...)
Os objetos pessoais tornam-se modos de definir a individuação. O espaço da energia particular ajuda a
definição."
Mas, que tipo de estrutura geométrica deve ter o perispírito para possuir tal propriedade de
realizar projeções quais fios, cordas e também irradiar como luz? Certamente será algo além do
que estamos habituados a considerar, embora também deva ser encontrado na natureza material em
que vivemos com o corpo físico. A resposta a isso, ou uma "pista", pois a resposta definitiva ainda
aguarda o trabalho do homem com a evolução da ciência do espírito, vamos encontrar em algumas
recentes conjecturas sobre o funcionamento das estruturas astronômicas denominadas buracos-
negros, na formulação teórica do físico Nassin Haramein sobre a estrutura do espaço ao se introduzir
considerações sobre o torque nas equações de campo de Einstein57.
Sem entrar em detalhes (o que não cabe aqui evidentemente), vamos nos apropriar do resultado da
sua teoria que estabelece ser o fractal58 a geometria capaz de melhor descrever o espaço e o vórtice a
macro estrutura visível ou perceptível, descrevendo os fenômenos nesse espaço. Vale também lembrar
as explicações encontradas em A Grande Sintese59 que nos indica estarmos entrando no domínio
da dimensão conceptual - estruturada a partir da energia (que se manifesta no tempo, pelas forças
causadoras do movimento), consciência (que se manifesta pela capacidade analítica da razão) e da
intuição (percepção imediata dos conceitos). Ou seja, teríamos a seqüência:
56 Tais projeções poderiam ser "trabalhadas" por profissionais que realizam curas através da bionenergia, ao
estilo da escola de Ann Brennan, autora do livro Mãos de Luz. Um desses energy healers é Dean Ramsden,
que desenvolve um trabalho terapêutico denominado por ele Relational Energy Healing. Ao que tudo indica, tais
projeções dos chacras são vistas como "cordas dos chacras" (chakra cords), sendo agrupadas em cinco tipos :
Junk cords, Transitional Cords, Attachement Cords, Heritage Cords, Self Cords.
Já André Luiz relata em vários de seus livros essa modalildade de interação fluídica entre Espíritos encarnados
e desencarnados. Veja, por exemplo em Nos Domínios da Mediunidade, quando escreve "Fios de luz brilhante
ligavam os componentes da mesa, dando-nos a perceber que a prece os reunia mais fortemente entre si. "
(capítulo 5, Assimilação de Correntes Mentais, grifos nossos).
57Ver "The Origin of Spin: A Consideration of Torque and Coriolis Forces in Einstein's Field Equations and
Grand Unification Theory por Nassim Haramein e E.A. Rauscher.
58 "From observational data and our theoretical analysis, we demonstrate that a scaling law can be written for
all organized matter utilizing the Schwarzschild condition of a black hole, describing cosmological to sub-atomic
structures. Of interest are solutions involving torque and Coriolis effects in the field equations.
Significant observations have led to theoretical and experimental advancement describing systems undergoing
gravitational collapse, including vacuum interactions. The universality of this scaling law suggests an underlying
polarizable structured vacuum of mini white holes / black holes.
As the atomic and subatomic data points levels obey the scaling law, a computation is given demonstrating
that the proton can be defined in terms of a Schwarzschild condition, when the vacuum structure is considered.
Further, we briefly discuss the manner in which this polarizable structured vacuum can be described in terms
of resolutions analogous to a fractal-like scaling as a means of renormalization at the Planck distance. Finally,
we describe a new horizon we term the “spin horizon” which
62 is defined as a result of a spacetime torque
producing boundary conditions in the magnetohydrodynamic structures of galactic center black holes, which we
demonstrate obeys similar dynamics as the interior of our sun."
Ver Scale Unification – A Universal Scaling Law For Organized Matter (PDF), Nassim Haramein, Michael Hyson,
e E.A. Rauscher.
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
individualizado) -->
--> razão (observa e julga os fenômenos, inclusive a si próprio) -->
--> intuição (contato imediato com a essência das coisa, dos fenômenos)
Vemos acima que há, então, a conversão da experiência sensível em energia, a fim de que a
consciência (racional) possa captá-la em sua estrutura típica, ainda que parcialmente. Ou, dito de outra
forma, as nossas experiências são convertidas em fluidos (como também os fluidos constituintes do
nosso pensamento "materializam-se" como ação no mundo físico).
Portanto, todo ato mental, e a aprendizagem envolve atos mentais, tem correlação com mudanças
energéticas no perispírito.
Mas para que isso ocorra de fato, isto é, para que as nossas experiências possam ser covertidas em
estruturas energéticas (esquemas, formas-pensamento) de modo a influenciar nosso perispírito, é
preciso que:
PRÁTICA
Lembremos, antes de tudo, que a evangelização é principalmente um processo. Ou seja, importa
tanto quanto o conteúdo que é tratado, o modo como é feito, a forma como você evangelizador
lida com o que acontece na sala. Evidentemente que as crianças deverão aprender novos conteúdos,
principalmente para que possam expressar seus pensamentos e sentimentos de forma mais realista.
Mas isso não é tudo. Importa considerar que o homem não é um ser gregário por acaso, ou seja,
precisamos uns dos outros. Isso porque "Saber que algo é assim" é uma coisa. Sentir que é assim
representa um amadurecimento sobre a questão. Saber que a reencarnação propicia uma nova
60"A memória é a capacidade do espírito que consiste na função conservadora de imagens sentidas ou não dos
esquemas já estruturados". (Mário Ferreira dos Santo, Tratado de Esquematologia)
61 "A imaginação é a função conservadora e combinadora de imagens. As imagens são representações que
repetem os conjuntos esquemáticos, esquematicamente, elaboradas pelo sentido comum. Imaginação é o nome
que se dá a essa função psíquica, que apresenta os seguintes aspectos: conservação das imagens estruturadas
pelo sentido comum; conhecimento da quantidade; combinação das imagens na formação de um conjunto
esquemático e real, o que é verificado no homem.Esta última função toma o nome de imaginação criadora
porque se dá a construção de novos esquemas formados pela estruturação dos esquemas captados pelo
sentido comum. Assim, uma montanha de ouro, que surja num sonho ou seja imaginada pelo homem, revela
essa função específica da imaginação, que constrói um esquema irreal pela aglutinação de esquemas de origem
real." (Mário Ferreira dos Santo, Tratado de Esquematologia).
63
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
oportunidade de aprender é uma coisa. Sentir isso em relação a sua vida é outra bem diferente. Muitos
já sabem. Poucos sentem que sabem. Mais raro ainda os que se comprometem com o que sentem que
sabem. Nisso tudo, o outro será sempre alguém a nos propiciar movimentos de conscientização, caso
permitamos que isso aconteça.
O fato é que um cuidado muito grande deve ser posto no seu próprio proceder junto às crianças.
Você deve ser sempre como um modelo para elas. Mais do que falar e mostrar, exemplificar como
pode ser feito. Isso é um compromisso que surge em você de modo espontâneo, à medida que você
se perceber na sala, isto é, à medida que for ganhando maior consciência de si mesmo durante
sua ação na sala. Cuidar de como conseguir isso ou tornar isso mais efetivo é uma tarefa que
discutiremos oportunamente. Mas, recordando, é um hábito a ser cultivado através de exercícios
ativos como a atenção sobre si mesmo, além de exercícios mais "interiores" como de respiração e
meditação.
Preparando-se
Considere que você está preparando um ambiente (espiritual e material) para facilitar a sintonia
com os Espíritos Amigos afim de que possam auxiliá-lo na tarefa64. Isso inclui tanto uma preparação
64 Você poderá achar o fundamento disso no Apêndice A.4 , item Estratégias para desidentificação com a
64
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
pessoal, o que requer mudanças de hábitos fisiológicos e psicológicos, como a preparação da sua
forma de trabalhar. Assim:
● Estude (entenda) e medite65 (reflita) sobre o primeiro Capítulo do livro Mereça Ser Feliz
durante alguns meses.
● Estabeleça uma "rotina" pessoal para aprimorar sua capacidade de afinização com os
Benfeitores Espirituais, considerando:
○ Aquisição de hábitos fisiológicos adequados - Meditando - primeiro com a atenção na
sua respiração
○ Disciplinar a atenção - Exercícios diários de focalização sobre você
○ Disciplinação da memória e imaginação - Exercícios de visualização edificante,
mantendo bons pensamentos na mente
○ Predisposição emocional para harmonização - Prática sistemática de atitudes nobres
● Construa uma rotina de trabalho de forma a facilitar o auxílio dos Benfeitores Espirituais,
considerando:
○ Ler sobre o assunto que será o tema da aula
○ Planejar a aula com antecedência
○ Marcar dia e horário na semana para o preparo das aulas
○ Iniciar e encerrar com uma prece e momentos de meditação
○ Estabelecer vínculo com outros grupos de estudo além da evangelização na Casa
Espírita, a fim de ampliar a sua própria visão da Doutrina Espírita. Lembre-se que "água
parada apodrece" e a participação em grupos de estudo é a oportunidade de reciclar não
apenas conceitos mas também formas de convivência .
● Não esqueça que o devotamento e a abnegação serão as formas por excelência de você
apazigüar o espírito, porque, sem paz, nenhum clima será adequado ao aprendizado. ISSO É
ESSENCIAL.
Preparando a atividade
Invariavelmente a atividade de evangelização deve se nortear por algumas fases de tal forma que
o evangelizador possa corrigir aquilo que não está bom. A título de sugestão, podemos identificar as
seguintes fases:
65
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
Além disso, observamos a necessidade de você manter um caderno de registro da sua atividade.
Ele lhe será útil para que suas avaliações posteriores ganhem em abrangência ao mesmo tempo que o
foco seja mantido. Não se esqueça nunca:
Com exceção da primeira pergunta, as demais perguntas dividem o nosso problema (a preparação
da atividade) em três grupos independentes, ou seja, você necessita considerar cada um deles e depois
integrá-los na realização da atividade. Portanto, você deve sempre se perguntar se todos os três
aspectos estão atendidos ANTES de iniciar qualquer atividade, sob pena de colher grandes decepções
caso não cuide disso.
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Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
A atividade da evangelização tem o aluno como foco. Devemos perguntar então os valores que
queremos adicionar a esse ser humano como resultado da nossa atividade conjunta. Valor aqui é
entendido como aquilo que contribui para que o ser humano realize seus sonhos, suas metas,
dentro de um comportamento ético norteado pelo evangelho de Jesus. Essa deve ser a preocupação
constante do evangelizador. Como não estamos lidando com máquinas, os sonhos, as aspirações,
etc, de cada indivíduo, podem mudar continuamente. Claro que, como Espíritos, todos possuímos
metas comuns como a do crescimento espiritual, a melhoria de si mesmo, etc. Mas, repare que tais
metas não são para as crianças e jovens (e mesmo para nós) perceptíveis como algo a ser feito de
imediato. Dizer a uma criança que estamos aqui (na sala de aula) para melhorarmos não traz nenhuma
motivação intrínseca, não agrega energia de mudança em ninguém. E um dos desafios das aulas é
esse: manter um nível de "tensão psíquica" que permite o aprender, ou, em outras palavras,
manter a vibração do ambiente de tal forma que estejamos todos receptivos para aprender.
Realmente isso não é fácil. Por isso não desanime enquanto estiver aprendendo. Todos nos sentimos
um pouco perdidos no começo. Então, voltando ao assunto, precisamos delimitar melhor o que vamos
fazer junto à criança. Para isso precisamos saber melhor sobre elas.
O que disso tudo (do que você sabe sobre eles) é concreto e o que é resultado de impressões suas
apenas? Como você faz para conhecê-los melhor? É hora de organizar a atividade com o objetivo
de conhecer um ao outro. Isso mesmo. Não apenas você conhecer melhor suas crianças. Elas
também necessitam conhecê-lo melhor, senão como poderão confiar em você? Assim, os primeiros
meses da evangelização devem ser dirigidos para esse fim. Organizar tarefas tendo por objetivo
observar e registrar o comportamento e as atitudes dos seus evangelizandos, suas palavras, seu
universo conceitual, suas habilidades e seus medos, isto é, os obstáculos que impedem-no de ser ele
mesmo. Tudo isso deve ser feito com calma e seguindo alguma orientação (que proporcione critérios)
que lhe permita conversar sobre isso com alguém depois (seus colegas). Por isso que essa fase é
bastante trabalhosa.
67
Evangelização: Fundamentos... ultima rev 20 jan 2012 vlm
Você já se perguntou alguma vez sobre o que é observar e como pode ser feito? Será
apenas olhar? Olhe para algum dos seus evangelizandos. O que você vê? Uma das dificuldades
que antevemos é essa: observamos nossas crianças para conhecê-las melhor. Mas o resultado da
nossa observação costuma estar aquém do que gostaríamos. Como será que desenvolvemos essa
habilidade em nós? Isso demanda meses de exercício... A fim de não nos perdermos nesse processo
de observação, é útil que recordemos as etapas do conhecimento e das atitudes exercitadas quando
aprendemos.
Podemos encontrar algumas histórias interessantes no site: Projeto Valores Humanos e também em
Cinco Minutos de Valores Humanos para a escola
A intuição dá-se pela acomodação dos esquemas ao fato que é singular, com a assimiliação
proporcional.
Devemos distinguir a tendência como emergência. O que herdamos são estruturas intencionais ou
vivenciais, esvaziadas de conteúdo fático.
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APÊNDICE
A1 - Sugestão sobre os aspectos importantes de um plano de aula
Deve conter os seguintes elementos:
Objetivos específicos
Vocabulário/conceitos
Plano da mediação
Generalizações/Princípios
● Devemos sempre prestar muita atenção à
formulação das questões a fim de identificar
claramente o que está sendo solicitado.
● Devemos sempre considerar se a informação
dada numa questão é suficiente para poder
respondê-la.
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Para entendermos tais "erros de origem humana" aludidos acima, vejamos as sábias palavras de Mário Ferreira
dos Santos, no seu livro 'A Invasão Vertical dos Bárbaros", sobre o Cristianismo:
"Quanto à valorização em nós da parte animal foi-nos dito que isto representava uma conseqüência inevitável
dos excessos praticados pelo Cristianismo, que desvalorizou exageradamente o corpo, o sentido do corpo, as
exigentes práticas ascéticas, o excesso de condenação às coisas deste mundo que o Cristianismo fomentou, o
que provocou uma revolta em relação a estas idéias, porque tudo quanto é carne em nós, tudo quanto é vida,
tudo quanto é humano protestou contra essas afirmações exageradas e é natural que hoje se observe uma marcha
constante para o que em nós é humano e animal.
Devemos reconhecer que nessas objeções, há certo fundamento pelas seguintes razões: verdadeiramente
somos cidadãos de duas pátrias, da pátria terrestre e de uma pátria celestial; ao mesmo tempo que o ser humano
deseja viver plenamente a sua vida, gozar dos frutos terrestres ao máximo, ele também, aspira a gozar dos frutos
de uma vida ideal, de uma vida superior e perfeitíssima, porque o nosso anelo não se aquieta, sente-se não se
aquietar a não ser na posse plena e integral da felicidade suprema. Há em nós um ímpeto à suprema perfeição.
Não nos satisfazemos com as nossas limitações, mas também não queremos abandoná-las; quer dizer, queremos
ser homens, mas também ser deuses.
Ora, na verdade, o Cristianismo, no seu verdadeiro sentido, é isto. Se houve cristãos que não o
compreenderam, que levaram o Cristianismo para outro lado, a culpa não é de Cristo, nem tão pouco das idéias
cristãs, mas destes cristãos que julgaram que nos aproximávamos cada vez mais de Cristo à proporção que
nos afastávamos das coisas da terra, o que provocou, como conseqüência, excessos viciosos, que deixaram de
ser virtudes para se tornarem verdadeiros vícios, porque a virtude em excesso é um vício. Neste ponto se dá,
realmente, uma profunda razão"
Poderíamos dizer que existem duas espécies de "erros" envolvidos aqui: um deles fruto do orgulho, aquele
desejo, não o de julgar-se superior e aproximar-se da divindade, mas aquele orgulho de julgar-se como já
tendo alcançado a divindade, a ponto de Nietzsche dizer com profunda razão que se não fossem as operações
fisiológicas e inferiores, o homem se proclamaria deus. Esta falta de humildade, esta falta de reconhecimento
dos nossos verdadeiros valores, e nos julgarmos já profundamente acabados e plenos, já tendo atingido a
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superioridade divina, esse erro, provoca um outro, só que inverso, que consiste em desprezar totalmente esta
parte superior e de nos afundarmos na plena animalidade, e até nos demitirmos desta participação, que temos
com as duas pátrias.
Analisando o capítulo 10, Reflexo-Matriz, do livro Reforma Íntima Sem Martírio, destacamos a frase "a
idéia do mal não faz parte de sua bagagem mental" como indicador de transformação moral efetivada.
Disso tudo, resta considerar a importância da mente em nossas análises, levando-nos a alterar o conceito
religioso de espírita para uma designação daquele indivíduo que viaja nos escaninhos da alma, através do
autoconhecimento e da conduta. Mas, o que traria esta viagem de benefício real ao ser? E por que o mal faria
parte da bagagem mental de um indivíduo ainda não moralizado? Como foi parar esse mal lá? Ou teria nascido
com ele? E com livrar-se dele? Quanto tempo isso demanda?
Vale uma observação aqui. Para Kardec, consciência é utilizada como termo da filosofia e não da psicologia,
ou seja, é consciência moral e não psicológica. Fica claro isto quando no livro O Que é o Espiritismo ele escreve
na pergunta "qual a origem do sentimento chamado consciência", respondendo "recordação intuitiva
do progresso realizado em encarnações anteriores... e das resoluções tomadas pelo espírito antes de
encarnar".
Novamente percebemos a referência a processos mentais em termos como recordação intuitiva, sentimento,
etc. Neste aspecto, o Espírito Ermance Dufaux nos auxilia ao destacar, como também o fez André Luiz, o
papel do consciente, do subconsciente e superconsciente, como níveis [de vida] que interagem em perfeita
sinergia, com funções específicas: reflexo e emoção (vida subconsciencial) induzindo o projeto das idéias
(vida consciencial) que vão consubstancializar atitudes e palavras conforme orientação prévia (vida
superconsciencial) nos rumos da perfeição ou no cativeiro das expiações dolorosas. A este mecanismo vai
chamar o Espírito de fisiologia da alma: a cadeia reflexo-emotividade-idéia-ação-palavra.
Reflexos são como "personalidades indutoras" estabelecendo o automatismo dos sentimentos externados em
atitudes e palavras. Dentro desta perspectiva, a própria personalidade seria definida como "núcleos dinâmicos
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e gestores de sentimentos" funcionando sob o automatismo mental contínuo (rotina mental). Tal cadeia seria
o próprio mecanismo de formação da personalidade, como sendo uma "identidade temporária do Espírito"
nas sendas evolutivas. Em uma palavra, os alicerces das inclinações humanas - tendências, impulsos, desejos,
intenções e hábitos, seriam as muitas personalidades construídas nas múltiplas vivências da alma.
O pensamento (como o ato de pensar, atributo particular da vida consciencial) exerceria a função de
supervisão ininterrupta da rotina mental, sob a gerência da vontade, expedindo ordens de aprovação ou censura
pela utilização da inteligência, cuja tarefa específica é a de decidir e avaliar os estímulos recebidos da vida. Ou
seja, através do uso da inteligência, faz-se um processo de filtragem dos estímulos que recebemos (de dentro
ou de fora de nós mesmos). Quando tal mecanismo não funciona bem, ou se tem um problema de uso, não-
gerência, e, no caso, envolve algo que denominamos de vontade, ou se trata de uma corrupção dos próprios
critérios utilizados para avaliar e decidir, falta ou defeito no conteúdo possuído como conhecimento, como
se este ou fosse insuficiente ou errado mesmo para o cenário em questão (a vida da alma). Destaca ainda o
Espírito que "somente depois dessas intrincadas operações é que são acionados os sentimentos, que esculpirão
a natureza afetiva de toda essa seqüência, conduzindo a alma a perceber os ditames da consciencia nesse
caleidoscópio de "movimentos sublimes da alma". E ainda o alvitre: "por isso os pensamentos precisam ser
muito vigiados para não induzirem as velhas emoções, as quais associamos às experiências da atitude, conforme
os roteiros que escolhemos ao longo dos milênios". Aqui já há pistas para o que deve ser feito. Perguntamos,
então, quem é que vigia, o que deve vigiar e com o que o faz?
Para responder a isso,notemos inicialmente que a cadeia acima, separada, o é apenas em termos lógicos isto
é, de forma alguma corresponde ao que acontece na realidade, onde tudo acontece junto. Assim, para perceber
precisamos sentir e sentimos a partir do conteúdo que carregamos na intimidade, i.e., na memória. Lembremos
que ao usarmos as operações da mente só percebemos por comparação (similaridades e contrastes), mas sempre
entre duas coisas pelo menos. Isso tudo dá a impressão, no fim das contas, de ser uma espécie de círculo vicioso
e de fato o é, do ponto de vista da explicação racional e não poderia ser de outra forma pois a razão está sempre
circunscrita pelos limites da percepção de que o indivíduo é capaz. Aliás, André Luiz já mencionava isso no
livro Mecanismos da Mediunidade ao tratar do que um espírito "recolhe" daquilo com que interage no campo
das vibrações. Mas se é um círculo vicioso como fazer? Ora, isso significa que não está nele, ou nos seus
elementos constitutivos, a solução que buscamos. Teremos que sair do círculo e isso será feito a partir da
resposta à questão "qual a origem da rotina das operações psíquicas e emocionais, as quais convergem para o
que nomeamos como personalismo - a parcela patológica do ego"? Será um tipo de reflexo básico denominado
reflexo-matriz do interesse pessoal, segundo o Espírito, cujo excesso gera a fixação prolongada da alma no
narcisismo - a paixão pelo que imaginamos ser. Uma forma de ilusão, portanto.
O interesse pessoal passa a ser, então, nosso objeto de análise. Mas, seria imaginável a alma desprovida
de interesse pessoal? O que seria o "verdadeiro desinteresse" mencionado pelos Espíritos Orientadores da
Codificação? Ora, se á um desinteresse verdadeiro é porque também há o falso. O interesse individual é em si
uma necessidade para o progresso. Mas há a corrupção dele, pelo excesso de fixação em algo que não somos, ou
antes na imagem que imaginamos ser, dando origem ao personalismo, onde
"vivemos, preponderantemente, em torno daquilo que imaginamos que somos, sustentados por convicções e
hábitos que irrigam todo o "cosmo pensante" do ser com idéias e sentimentos irreais ou deturpados sobre nós
mesmos. São as ilusões. Sua manifestação mais saliente é a criação de uma auto-imagem superdimensionada em
valores e consquistas que supomos possuir."
Tal reflexo-matriz dirige a maioria de nossas escolhas e isto é fato. Explica isso a situação de nos
magoarmos, quando nosso interesse pessoal é contrariado; melindrarmo-nos, quando feridos; tombarmos na
insegurança, quando ameaçados; cairmos na revolta, quando traídos; inclinarmo-nos para o revide, quando
lesados. Como mudar isso tudo? Diz Ermance Dufaux, lembrando Kardec,
"O desenvolvimento de novos hábitos constitui a terapêutica para nossos impulsos egoístas. A caridade,
entendida como criação de relações educativas, será medida libertadora dessa escravidão dolorosa nos
costumes humanos." (grifos nossos)
Em suma, desenvolver um novo reflexo, o do "interesse universal", a partir de ensaios, experiências das
qualidades superiores (destacadas no Evangelho, pois há que se ter critérios confiáveis). A título de exemplo,
tais ensaios consistiriam em
● treinar a empatia
● aprender o "saber ouvir"
● cultivar o respeito à vida alheia
● a cautela no uso das palavras dirigidas ao próximo
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Texto original:
"Constructivism has been said to be post-epistemological, meaning that it is not another epistemology, or a
way of knowing. It can not replace objectivism. Rather, constructivism is a way of thinking about knowing, a
referent for building models of teaching, learning and curriculum (Tobin and Tippin, 1993). In this sense it is a
philosophy.
Constructivism also can be used to indicate a theory of communication. When you send a message by saying
something or providing information, and you have no knowledge of the receiver, then you have no idea as to
what message was received, and you can not unambiguously interpret the response.
Viewed in this way, teaching becomes the establishment and maintenance of a language and a means of
communication between the teacher and students, as well as between students. Simply presenting material,
giving out problems, and accepting answers back is not a refined enough process of communication for efficient
learning.
Some of the tenets of constructivism in pedagogical terms:
● Students come to class with an established world-view, formed by years of prior experience and
learning.
● Even as it evolves, a student's world-view filters all experiences and affects their interpretation of
observations.
● For students to change their world-view requires work.
● Students learn from each other as well as the teacher.
● Students learn better by doing.
● Allowing and creating opportunities for all to have a voice promotes the construction of new ideas.
A constructivist perspective views learners as actively engaged in making meaning, and teaching with that
approach looks for what students can analyse, investigate, collaborate, share, build and generate based on what
they already know, rather than what facts, skills, and processes they can parrot. To do this effectively, a teacher
needs to be a learner and a researcher, to strive for greater awareness of the environments and the participants
in a given teaching situation in order to continually adjust their actions to engage students in learning, using
constructivism as a referent".
Tradução livre:
"O Construtivismo tem sido considerado como pos-epistemológico, significando que não se trata de mais
uma epistemologia ou de um modo de conhecer. Não pode substituir o objetivismo. construtivismo é um
modo de pensar sobre o conhecer, um referente para a construção de modelos de ensino, de aprendizado e de
currículo (Tobin and Tippin, 1993). Neste sentido é uma filosofia.
O construtivismo também pode ser usado para mostrar uma teoria de comunicação. Quando você envia uma
mensagem dizendo algo ou fornecendo informação, e você não conhece o receptor da mensagem, então não tem
idéia sobre que mensagem foi recebida, e não pode assim interpretar a resposta sem ambiguidade.
Visto deste modo, ensinar se torna estabelecer e manter uma linguagem e um meio de comunicação entre o
professor e os alunos, bem como entre os alunos. Simplesmente apresentar material, distribuindo problemas,
e aceitando as respostas de volta não é um processo de comunicação suficientemente refinado para permitir o
aprendizado eficiente.
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● Os alunos chegam na sala com um visão de mundo já estabelecida, formada por anos de experiência e
aprendizado anteriores.
● Mesmo quando evolui, a visão de mundo filtra todas as experiências e afeta a interpretação das
observações que os alunos fazem.
● Para que os alunos alterem suas visões de mundo é necessário trabalho (atividade)
● Os alunos aprendem uns com os outros, assim como o professor (que também aprende com os alunos).
● Os alunos aprendem melhor fazendo (pela atividade interessada).
● Permitir e criar oportunidades para que todos tenham voz promove a construção de novas idéias.
Uma perspectiva construtivista vê o aluno como alguém ativamente engajado na construção de significado,
e ensinar segundo essa abordagem busca pelo que os alunos conseguem analisar, investigar, colaborar,
compartilhar, construir e gerar, com base no que já conhecem, ao invés dos fatos, habilidades e processos
que eles conseguem "papagaiar". Para fazer isso com eficiência, um professor precisa ser um aprendiz e um
investigador, batalhar por maior consciência dos ambientes e dos participantes numa dada situação de ensino,
de forma a continuamente ajustar sua ação para engajar os alunos no aprendizado, usando o construtivismo
como um referente.
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O que faz com que uma criança ao entrar na fase juvenil, perca sua espontaneidade e ingenuidade?
O jovem começa a ter uma percepção mais estruturada de si mesmo. A criança não se ocupa disso, ela não
pensa muito sobre si mesma. Ela vive, não julga. O jovem inicia uma mudança psicológica significativa. Faz
juízos contínuos, analisa, perquire. A partir desse movimento psíquico, desenvolve uma autopercepção.
Esse juízo pessoal será mais ou menos próximo da realidade conforme a trajetória do Espírito nesses três
quesitos. É nessa fase que surgem as "deformações psicológicas". Essas deformações têm como efeito as
ilusões ou auto-ilusões, aquilo que pensamos que somos. Normalmente tais miragens da vida psicológica
nos induzem a assumir uma condição de importância pessoal ou superioridade. São as ações do orgulho
que sustentam a loucura humana de se acreditar mais valoroso do que se é. É a partir dessa percepção
equivocada de nossa condição pessoal que surgem todas as ações complexas, seja em que campo for das
atividades humanas, com o objetivo de atender aos interesses pessoais que estiverem presentes na vida de cada
pessoa. É assim que perdemos a simplicidade, isto é, ao nos movermos para atender aos interesses ilusórios
perdemos o foco essencial da vida e lutamos por aquilo que não é prioritário. Seguimos uma carreira de buscas
intermináveis por conquistas que não correspondem à nossa intimidade profunda. Em outras palavras, perdemos
a simplicidade toda vez que nos distanciamos da própria consciência, na qual estão escritas as Leis de Deus para
nossa paz e equilíbrio.
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REFERÊNCIAS
1. VIII Seminário de Evangelização RP - Propedêutica
2. VII Seminário de Evangelização RP
3. Raciocinar com consistência - Ensaio não publicado
4. Espiritismo como religião - Estudo não publicado
5. Invasao dos bárbaros - Mário Ferreira dos Santos
6. Reforma Íntima sem Martírio - Ermance Dufaux/Wanderlei S. de Oliveira
7. Mereça Ser Feliz - Ermance Dufaux/Wanderlei S. de Oliveira
8. Understanding Moodle
9. A Grande Síntese, Cap I- Ciência e Razão. Cap II - Intuição
10. Vinha de Luz. Cap 120 - Herdeiros
11. ZUBIRI, Xavier. Inteligência e Realidade. Realizações Editora, SP, 2012.
12. SANTOS, Mário Ferreira dos, Noologia Geral. Livraria e Editora LOGOS. 3ª ed., São Paulo, 1961.
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HISTÓRICO DE REVISÕES
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