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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

N.º 603/2013 – MJG

HABEAS CORPUS N.º 117.088/SC


PACTE.: JARVIS CHIMENES PAVÃO
IMPTE.: GUSTAVO HENRIQUE CARVALHO ALBERINI
IMPDO.: RELATORA DO HC 219.652/SC DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
RELATOR: EXMO. SR. MININSTRO DIAS TOFFOLI

HABEAS CORPUS. ATO COATOR. INDEFERIMENTO


LIMINAR DE ORDEM NA CORTE SUPERIOR DE
JUSTIÇA - HC n.º 219.652/SC (2011/0228624-9).
CRIMES DE TRÁFICO, ASSOCIAÇÃO AO TRÁFICO E
LAVAGEM DE DINHEIRO. SENTENÇA
CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO.
ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO AO DIREITO DE
DEFESA (NULIDADES) E PEDIDO PARA QUE SEJA
GARANTIDO AO PACIENTE O DIREITO DE
CUMPRIR PENA NO PARAGUAI. TEMAS NÃO
APRECIADOS PELO COLEGIADO DA CORTE
SUPERIOR DE JUSTIÇA. NÃO CONHECIMENTO.
INOCORRÊNCIA DAS IRREGULARIDADES
SUSCITADAS. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO À
DEFESA. EXTRADIÇÃO DEFERIDA.
IMPROPRIEDADE DA VIA MANDAMENTAL PARA
DEBATE ACERCA DO PEDIDO DO APENADO, QUE
DESEJA CUMPRIR PENA NO ESTADO VIZINHO.
INEXISTÊNCIA DE FLAGRANTE ILEGALIDADE
APTA A DEFLAGRAR A CONCESSÃO, DE OFÍCIO,
DA ORDEM.
- Parecer pelo não conhecimento do mandamus; caso
dele se conheça, pela denegação.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO RELATOR


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O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, nos autos


em epígrafe, diz a V.Exa. o que segue:

Trata-se de habeas corpus, com pedido de medida


liminar, impetrado em benefício de JARVIS CHIMENES PAVÃO, em que
se aponta como autoridade coatora a Ministra do Superior Tribunal de
Justiça MARILZA MAYNARD (Desembargadora Convocada do TJ/SE),
que indeferiu liminarmente o HC n.º 219.652/SC (2011/0228624-9).

Consta dos autos que o paciente foi condenado pela


prática dos delitos tipificados nos arts. 12 e 14, ambos da Lei 6.368/76
(tráfico e associação para o tráfico), e do crime previsto no art. 1º, incisos I
e VII da Lei 9.613/98 (lavagem de dinheiro) à pena total de 17 (dezessete)
anos e 8 (oito) meses de reclusão, em regime inicial fechado.

Após o trânsito em julgado da condenação, a Defesa


interpôs a Revisão Criminal n.º 2011.014377-5, que foi indeferida pelo
Tribunal de Justiça dos Estado de Santa Catarina, em acórdão assim
ementado:

“REVISÃO CRIMINAL. PRETENDIDA A NULIDADE


DO PROCESSO-CRIME, EM FACE DA FALTA DE
NOMEAÇÃO, PELO JUÍZO DEPRECADO, DE
DEFENSOR NA AUDIÊNCIA APRAZADA PARA A
OITIVA DAS TESTEMUNHAS DE DEFESA; POR TER
O TOGADO SENTENCIANTE RECUSADO A
PROCURAÇÃO E A PEÇA DEFENSIVA
APRESENTADAS POR DEFENSORA CONSTITUÍDA
E DA CONFIANÇA DO RÉU, QUANDO DAS
ALEGAÇÕES FINAIS; E DE FALTA DE INTIMAÇÃO
DO MESMO, POR INTERMÉDIO DE CARTA
ROGATÓRIA, EM ENDEREÇO NO PARAGUAI
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FORNECIDO NOS AUTOS. PLEITO DE SUSPENSÃO


DO PEDIDO DE EXTRADIÇÃO.
AUDIÊNCIA DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS
DE DEFESA NO JUÍZO DEPRECADO. ATO
REALIZADO SEM A PRESENÇA DO DEFENSOR
CONSTITUÍDO, EMBORA INTIMADO DA
EXPEDIÇÃO DA CARTA PRECATÓRIA. NÃO
NOMEAÇÃO DE DEFENSOR AD HOC. NULIDADE
RELATIVA. TESTEMUNHAS DE DEFESA
MERAMENTE ABONATÓRIAS, NADA SABENDO
SOBRE OS FATOS IMPUTADOS AO REQUERENTE,
CUJOS DEPOIMENTOS NÃO TIVERAM QUALQUER
INFLUÊNCIA NA DECISÃO CONDENATÓRIA.
PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. APLICAÇÃO DO
PRINCÍPIO PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF. EXEGESE
DO ART. 563 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
NULIDADE INOCORRENTE.
NULIDADES PROCESSUAIS RELACIONADAS À
RECUSA DE PROCURAÇÃO E DE PEÇA DE DEFESA
APRESENTADAS POR DEFENSORA CONSTITUÍDA
E À FALTA DE INTIMAÇÃO, POR INTERMÉDIO DE
CARTA ROGATÓRIA, EM ENDEREÇO NO
PARAGUAI FORNECIDO NOS AUTOS AO JUÍZO A
QUO. NULIDADES INOCORRENTES. REJEIÇÃO.
SUSPENSÃO DO PEDIDO DE EXTRADIÇÃO. PEDIDO
PREJUDICADO EM VIRTUDE DA REJEIÇÃO DAS
NULIDADES INVOCADAS. MANUTENÇÃO.
PEDIDO REVISIONAL INDEFERIDO.”
(DOCUMENTO COMPROBATÓRIO X – fl. 30)

Em seguida, foi impetrado o HC n.º 219.652/SC


(2011/0228624-9) perante o Superior Tribunal de Justiça, em que se buscou
a desconstituição do édito condenatório, sob o argumento de inobservância
dos princípios do contraditório e da ampla defesa.

O HC n.º 219.652/SC (2011/0228624-9) teve


seguimento negado por decisão de lavra da Ministra do Superior Tribunal
de Justiça MARILZA MAYNARD (Desembargadora Convocada do TJ/SE),
onde se consignou a impropriedade da via eleita e a ausência de flagrante
ilegalidade.
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Nesta via, reitera-se a tese de violação aos princípios


do contraditório e da ampla defesa. A Defesa alega, mais uma vez, a
ocorrência das seguintes nulidades: 1) ausência da nomeação de advogado
ad hoc na inquirição das testemunhas perante o juízo deprecado; 2)
recebimento de alegações finais por defensor dativo destituído pelo réu e 3)
citação do réu revel por edital para que constituísse novo defensor. Sobre o
tema, estas são suas palavras:

“Não bastasse ter imposto ao Paciente a sua defesa por


Defensor dativo em detrimento do advogado de confiança
por ele regularmente constituído, o processo se ressente
ainda de outro gravíssimo vício que confronta a garantia
constitucional do contraditório e da ampla defesa.
É que, no caso, as testemunhas de acusação foram
ouvidas por carta precatória expedida ao Juízo de Direito
da Comarca de Ponta Porã – MS.
Com efeito, nessa Comarca, não tendo sido localizado
o Paciente, foi intimado por edital da designação da
audiência para oitiva das testemunhas de acusação, o que
foi feito, sem a necessária nomeação de defensor ad-hoc.”
(PETIÇÃO INICIAL – fl. 20)

Insurge-se, outrossim, contra o pedido de extradição


do ora paciente, que se encontra recluso no Paraguai.

Por conta do Tratado sobre Transferência de Pessoas


Condenadas e de Menores sob Tratamento Especial entre o Governo da
República Federativa do Brasil e o Governo da República do Paraguai,
ratificado e promulgado pelo Decreto n.º 4.443, de 28 de outubro de 2002,
informa que o cidadão paraguaio, condenado pela prática de crimes no
Brasil, pode cumprir, desde que assim queira, pena em seu país natal.
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Afirma que o diploma normativo atende à Resolução


n.º 45/119, de 14 de dezembro de 1990, aprovada pela Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas, que “recomenda aos Estados-membros a
adoção de acordos bilaterais ou multilaterais que implemente a
transferência dos presos estrangeiros a seus países de origem para o
cumprimento de suas penas” (PETIÇÃO INICIAL - fl. 23).

Isso, porque “(...) o melhor modo de assegurar o


objetivo da reinserção social dos delinquentes é o de dar aos reclusos
estrangeiros a oportunidade de cumprirem a pena no país de sua
nacionalidade ou residência” (PETIÇÃO INICIAL – fl. 22).

Afinal, são várias “as dificuldades dos detidos em


estabelecimentos penitenciários devido a fatores como as diferenças de
língua, cultura, costumes e religião” (PETIÇÃO INICIAL – fl. 22).

Acostou aos presentes autos manifestação por escrito


do paciente, que informa querer cumprir a pena atinente à Ação Penal n.º
005.00.013052-9 em seu país de origem, o Paraguai.

Com esses argumentos, a Defesa, que entende ser


direito líquido e certo do paciente o cumprimento da reprimenda em terras
paraguaias, taxa de ilegal o pedido de extradição formulado pelo Governo
Brasileiro e noticia, ainda, que se encontra em trâmite no Tribunal de
Justiça de Santa Catarina a Revisão Criminal n.º 2012.002624-5, onde
pleiteia novamente a desconstituição do édito condenatório.

Ao final, pugna, liminarmente, pela suspensão do


pedido de extradição de JAVIER CHIMENES PAVÃO, bem como seja
suspenso o mandado de prisão expedido contra o paciente em razão da
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condenação imposta na Ação Penal n.º 005.00.013052-9; no mérito, a


declaração de nulidade no mencionado processo ou que lhe seja garantido o
direito de cumprir a sua pena no país de origem e domicílio, o Paraguai.
(PETIÇÃO INICIAL)

A medida liminar foi indeferida. (DECISÃO


MONOCRÁTICA)

Devidamente instruídos, vieram os autos a esta


Procuradoria Geral da República para emissão de parecer.

É o breve relatório.

Nada a reparar na decisão monocrática hostilizada.

A matéria em questão sequer passou pelo crivo do


colegiado do Superior Tribunal de Justiça, o que impede essa Suprema
Corte de fazê-lo, sob pena de supressão de instância e afronta à repartição
constitucional de competências. Além disso, este habeas não encontra
respaldo em nenhuma das hipóteses previstas no Texto Magno.

Assim, o pleito não comporta conhecimento. Caso


seja, deve ser indeferido.

O pedido de nulidade decorrente da falta de defesa


técnica quando da oitiva das testemunhas de acusação no Juízo deprecado é
descabido, na medida em que os testigos sequer tinham conhecimento da
matéria atinente à Ação Penal n.º 005.00.013052-9 e, por óbvio, teceram
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considerações sem qualquer relevância para o deslinde da persecução


criminal.

Também se deve levar em conta a inércia da própria


Defesa constituída pelo paciente que, mesmo intimada da expedição das
precatórias, não esteve presente ao ato processual nem se deu o trabalho de
formular perguntas de seu próprio interesse.

A propósito, confiram-se os fundamentos suscitados


pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina ao indeferir a Revisão Criminal
n.º 2011.014377-5:

“Com efeito, consoante se infere das peças integrantes


dos presentes autos, o defensor constituído pelo réu
apresentou defesa prévia indicando o rol das testemunhas a
serem inquiridas (fls. 519/522 da cópia dos autos, em
anexo).
Recebida esta peça processual (fl. 523), o juízo a quo
determinou a intimação do defensor para indicar, no prazo
de 10 dias, de forma legível, as testemunhas por ele
arroladas na petição enviada via fac-símile, porque, em
relação a algumas delas, não havia sido indicada a cidade
na qual a intimação deveria ser promovida.
Transcorrido in albis o prazo assinalado, o togado
entendeu que a defesa havia desistido tacitamente da
inquirição das testemunhas por ela arroladas, motivo pelo
qual deu andamento à ação penal, com a designação de dia
e hora para inquirição dos testigos constantes no rol da
peça acusatória.
No entanto, em despacho posterior (fl. 575v.), em
homenagem ao princípio da ampla defesa, o juízo a quo
deprecou a oitiva, no prazo de 30 dias, daquelas
testemunhas arroladas pela defesa, sendo esta intimada da
expedição da carta precatória, conforme certidão acostada à
fl. 598.
(...)
Pois bem. Embora se possa inferir do termo acima
transcrito, que para a audiência de oitiva das testemunhas
arroladas pela defesa não foi nomeado defensor para
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acompanhar o ato, verifica-se, pela leitura dos depoimentos


por elas prestados (fls. 636/645 da cópia dos autos, em
anexo), que nada sabiam sobre os fatos narrados na peça
acusatória, prestando apenas testemunhos abonatórios, não
havendo em suas declarações qualquer influência na
decisão condenatória.
Sem embargo disso, a defesa, ao ser intimada da
expedição da carta precatória, teve oportunidade de
formular as perguntas que gostaria que fossem feitas
àquelas testemunhas, por intermédio de quesitos. No
entanto, permaneceu inerte.
Assim, no juízo deprecado, o defensor que deveria ter
sido nomeado para o ato, por não conhecer e tampouco ter
acesso aos autos, não faria perguntas diferentes aos testigos
das que foram efetuadas pelo togado deprecado e pelo
promotor de justiça presente à audiência, até mesmo
porque, conforme acima afirmado, eram apenas
abonatórias e nada sabiam sobre os fatos narrados na
denúncia.
O Código de Processo Penal, no art. 563, adota o
princípio pas de nullité sans grief, ou seja, nenhuma
nulidade será declarada se não ficar demonstrado o
prejuízo para a acusação ou para a defesa.
(...)
Ora, se as testemunhas inquiridas nada puderam
esclarecer por desconhecerem os fatos delituosos
imputados ao requerente, tendo, apenas, abonado sua
conduta, por serem conhecidas dele, não se há falar em
prejuízo à defesa. Ademais, como se pode perceber, suas
declarações não influíram na apuração da verdade
substancial ou na decisão da causa, não sendo demasiado
ressaltar que, tratando-se de nulidade relativa, cabia à
defesa demonstrar eventual prejuízo, o que não foi feito no
momento oportuno e nem mesmo nesta revisional.
(...)
Portanto, não havendo a demonstração de prejuízo ao
requerente, e, tampouco, que os depoimentos das
testemunhas tiveram qualquer influência na decisão da
ação penal – tanto que a condenação foi mantida no v.
acórdão, por restarem devidamente comprovadas a
materialidade e a autoria delitivas -, deve ser rechaçada a
aventada nulidade.” DOCUMENTO
COMPROBATÓRIO X – fls. 33/35)
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Como se vê, a decisão proferida pelo Sodalício


estadual encontra-se em sintonia com a jurisprudência dessa Suprema
Corte, conforme se observa do seguinte julgado:

“EMENTA: PENAL. PROCESSUAL PENAL.


AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO. AUSÊNCIA DO RÉU
NA ASSENTADA. NULIDADE ABSOLUTA.
INEXISTÊNCIA. PRECEDENTES. RECURSO
ORDINÁRIO DESPROVIDO. 1. A declaração de nulidade
no direito penal não prescinde da demonstração do efetivo
prejuízo para à defesa, consoante dispõe o artigo 563 do
Código de Processo Penal, o que importa dizer que a
desobediência às formalidades estabelecidas na legislação
processual somente poderá implicar o reconhecimento da
invalidade do ato quando a sua finalidade estiver
comprometida em virtude do vício verificado. Precedentes:
Habeas Corpus nº 68.436, rel. Ministro Celso de Mello, DJ
de 27.03.92; Habeas Corpus nº 95.654, rel. Min. Gilmar
Mendes, DJe de 15.10.2010; Habeas Corpus nº 84.442, rel.
Min. Carlos Britto, DJe de 25.02.2005; Habeas Corpus nº
75.225, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 19.12.1997. 2.
A ausência do acusado na audiência de instrução não
constitui vício insanável apto a ensejar a nulidade absoluta
do processo, posto tratar-se de nulidade relativa, exigindo-
se, para o seu reconhecimento, a demonstração de prejuízo
à defesa. 3. In casu, no ato do interrogatório foram
intimados o réu e seu defensor para comparecerem à
audiência de instrução e esses, reiteradamente, deixaram de
comparecer às sessões sucessivamente designadas para a
oitiva das testemunhas de acusação, fazendo-se presente o
defensor na derradeira assentada, quando participou
ativamente, inclusive fazendo reperguntas aos inquiridos.
Inexistência de prejuízo para a defesa (“pas de nullités sans
grief”). Ademais, não é dado parte arguir vício a que haja
dado causa, ou para que tenha concorrido (CPP, artigo
565). 4. Recurso ordinário a que se nega provimento.”1

Da mesma forma, não existe irregularidade quanto à


nomeação de defensor dativo pelo Juízo Singular, pois:

1
RHC 110056, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 10/04/2012,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-090 DIVULG 08-05-2012 PUBLIC 09-05-2012.
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“(...) tendo o réu destituído o defensor dativo, o


Magistrado de primeiro grau intimou o mesmo por edital
para constituição de novo defensor, em razão de ser revel.
Escoado o prazo, foi-lhe novamente nomeado defensor
dativo, que apresentou as alegações finais recebidas.
Dessa forma, não se verifica, no ponto, a ocorrência de
qualquer nulidade, tendo em vista que a decretação da
revelia induz a dispensa da intimação pessoal do réu para
qualquer ato do processo, exceto da sentença de pronúncia,
o que não é o caso dos autos.” (ATO COATOR – fls.
09/10)

Ainda sobre o tema em questão, pertinentes as


considerações feitas pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina no
julgamento do HC n.º 2004.022074-0, que denunciam o manejo, por parte
da Defesa, de pedidos manifestamente infundados e procrastinatórias com o
único escopo de tumultuar e retardar a instrução processual. Vejam-se:

“Trata-se de ação penal de n. 005.00.013052-9,


distribuída em 14/9/2000, sendo que os demais
denunciados foram presos em flagrante, à exceção do
paciente e sua companheira Adriana Nascimento Azevedo,
que restou presa tempos depois. O paciente continua
foragido desde então, mas embora tenha sido declarado
revel, constituiu defensor, que atuou no feito até as
alegações finais.
De registrar-se que o processo teve a instrução sempre
tumultuada por expedientes das mais diferentes formas, a
começar pelas testemunhas, todas dependentes de
precatória e por quase 2 (duas) dezenas de habeas corpus
impetrados nesta Corte e em Cortes Superiores, o que
contribuiu para a injustificável demora em sua instrução,
senão pelos expedientes de defesa, que buscam, sem
sombra de dúvidas, a prescrição da pena.
O Defensor constituído foi intimado pessoalmente
para apresentar defesa e silenciou. Com todo acerto o
Magistrado determinou sua citação por edital, e uma vez
expirado o prazo, nomeou-lhe defensor dativo para
apresentar a defesa.
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Perceba-se que o processo foi iniciado em setembro de


2000 e até agora, em sendo o réu revel, não se conseguiu
levá-lo a bom termo.
Neste ínterim, o paciente veio aos autos com petição
desconstituindo seu defensor e requerendo a reabertura de
prazo para apresentação de defesa e prazo para constituir
novo defensor, requerendo, para tanto, sua intimação em
endereço que forneceu no vizinho Paraguai. Não se pode
olvidar que na procuração que outorgou para a advogada
impetrante, registrou como endereço a Rua Mané
Garrincha s/n na cidade de Ponta Porã, no Estado de Mato
Grosso do Sul, o que por certo dificultará sua devida
intimação, não esquecendo que o paciente é revel, que até
agora não foi citado, nem interrogado.
Ora, sabido que tratando-se de réu revel, a revelia traz
como conseqüência a não obrigatoriedade de sua intimação
para os atos do processo (art. 366, C.P.P.), por isso,
desnecessária nova intimação quando da renúncia e da
desconstituição do defensor constituído, bastando a
nomeação de defensor dativo para aqueles atos .
(...)
O que não se pode admitir é que o poder judiciário seja
transformado em cartório de benefícios para interesses
outros, que não sejam os processuais em busca da verdade
real. Já é hora de permitir-se que os Juízes trabalhem em
paz e possam presidir os procedimentos que lhe são afetos.
Bem verdade, que o poder econômico do ilícito é forte,
mas não justifica manobras escusas e protelatórias na
tentativa de esquivar o grande infrator de responder por
seus atos, lançando calúnias e insinuações, próprias da
incompetência, para denegrir o trabalho hercúleo e isento
dos Magistrados. Impróprias e inoportunas as afirmações
espalhadas pela inaugural do presente pedido.
(...)
Outra não é a situação do presente processo,
tumultuado desde seu início, tumultuado pela defesa
anterior em todas as audiências, conforme registrado pelo
Juiz e tumultuado para chegar a seu fim, quando os demais
denunciados já foram sentenciados e a grande maioria já
teve o recurso julgado.
Embora não se desconheça o disposto no artigo 367 do
C.P.P., o paciente encontra-se foragido, com mandado de
prisão expedido e, portanto, o processo correu à revelia não
impondo ao Juiz a obrigação de aguardar a boa vontade do
réu em apresentar-se, ou conceder-lhe benefícios que a lei
processual não faz previsão, mesmo se tratando de réu com
alto poder econômico. Aliás, falando em mandado de
prisão, em outro procedimento viu-se o paciente com
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procuração passada em cartório na cidade de Ponta Porã,


com firma reconhecida, transitando normalmente e
comparecendo a cartório, quando cópia do mandado foi
remetido à Justiça daquele Estado da federação. Mesmo
que inafiançável um dos crimes que lhe é atribuído, não se
tem certeza de seu endereço correto no Brasil e no exterior,
e o Juiz requereu a extradição do mesmo junto aos órgãos
competentes.
Repita-se que o paciente é revel e, como tal, ao
proceder a desconstituição de seu patrono, deveria no
mesmo expediente indicar outro defensor, e não o fazendo,
correta a intimação por edital, com a nomeação de defensor
dativo. Por outro lado, inadmissível a pretensão do mesmo
de reabertura do prazo para apresentação de defesa e, mais
ainda, sua pretensão de ver-se citado, via rogatória, em
outro Pais, cujo endereço, afirmo, declinou no pedido.
O princípio da ampla defesa não tem esta amplitude
que se pretende dar-lhe, a legislação processual impõe seus
limites em nome da garantia da instrução do processo e da
aplicação da lei penal. O que se pretende não é exercício de
ampla defesa, mas excesso de função.” (DOCUMENTO
COMPROBATÓRIO X – fls. 35/37)

Descabida, pois, a alegação de cerceamento ao direito


de defesa. As teses veiculadas na impetração vão literalmente contra a boa
doutrina e a jurisprudência consolidada.

Do mesmo modo, não deve vingar o pedido do


paciente para que lhe seja assegurado o direito de cumprir a reprimenda
imposta na Ação Penal n.º 005.00.013052-9 em seu país de origem, o
Paraguai.

Conforme noticiado pelo Ministério da Justiça:

“(...) não é expressão da verdade que eventual


cumprimento da pena no país de nacionalidade constitui-se
direito do jurisdicionado, na medida em que se trata de ato
administrativo, consubstanciado em Acordo específico, e
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que depende do juízo de oportunidade e conveniência de


ambos os países, além do que não guarda qualquer relação
com o Instituto da extradição, até porque, no primeiro caso,
destina-se a crime cometido no Brasil, e no segundo,
pressupõe-se fato ocorrido no exterior.” (PETIÇÃO I – fl.
05)

Das próprias disposições do Tratado sobre


Transferência de Pessoas Condenadas e de Menores sob Tratamento
Especial entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da
República do Paraguai, verifica-se que, de fato, não se trata de direito
líquido e certo do paciente cumprir pena no país vizinho.

Nesse sentido, consta o disposto no Artigo 5 do r.


diploma normativo, onde se observa que o desiderato do preso passará,
inicialmente, pelo crivo das autoridades competentes, tanto do “Estado
Remetente” como do “Estado Recebedor” - no Brasil, o Ministério da
Justiça; no Paraguai, o Ministério da Justiça e do Trabalho -, sobretudo para
fins de verificação se o cumprimento da pena no país de que é nacional
realmente atende ao objetivo de sua reabilitação social.

Este, o teor do dispositivo em comento:

“ARTIGO 5
1. As autoridades competentes das Partes informarão a
todo preso nacional da outra Parte sobre a possibilidade
oferecida por este Tratado e sobre as conseqüências
jurídicas que derivam de sua transferência.
2. As transferências dos presos no âmbito do presente
Tratado, efetuar-se-ão por iniciativa do Estado remetente
ou do Estado recebedor e, nos dois casos, a solicitação de
transferência deverá ser feita pela via diplomática.
Nenhuma disposição do presente Tratado deverá ser
interpretada como impedimento para que um preso
apresente pedido de transferência ao Estado remetente.
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3. Se um preso solicitar a transferência e o Estado


remetente aprová-la, o Estado remetente deverá
transmitir o pedido ao Estado recebedor, por via
diplomática.
4. O Estado recebedor terá absoluta discrição para
autorizar ou denegar a transferência solicitada pelo
Estado remetente.
5. Para decidir sobre a transferência, o Estado
recebedor avaliará o delito pelo qual o preso tenha sido
condenado, os antecedentes penais, seu estado de saúde,
os vínculos que o preso mantém com a sociedade do
Estado recebedor e todas as circunstâncias que possam
ser consideradas fatores positivos para promover a
reabilitação social do preso.
6. Se o Estado recebedor aprovar o pedido, deverá
notificar o Estado remetente de sua decisão e tomar as
medidas necessárias para efetuar a transferência; em caso
contrário, deverá informar sem demora, por via
diplomática, o Estado remetente de sua recusa.
7. A vontade do preso de ser transferido deverá ser
manifestada expressamente por escrito. Se o Estado
recebedor aprovar a transferência, o Estado remetente
deverá dar ao Estado recebedor a oportunidade, se este
último assim o desejar, de comprovar, antes da
transferência, o consentimento voluntário do preso e se o
mesmo conhece as conseqüências legais que decorrem de
tal transferência.
8. Se o preso o solicitar, poderá comunicar-se com o
Cônsul de seu país, que por sua vez poderá contatar a
autoridade competente do Estado remetente para solicitar
sejam preparados os documentos relativos ao preso.
9. O Estado remetente deverá apresentar uma
declaração ao Estado recebedor na qual se indique o delito
pelo qual foi condenado o preso, a duração da pena e o
tempo já cumprido, assinalando, inclusive, todo o período
de detenção prévia. A declaração conterá, ainda, uma
exposição detalhada do comportamento do preso durante a
sua detenção, para fins de determinar se o mesmo pode
gozar dos benefícios previstos na legislação do Estado
recebedor. O Estado remetente deverá apresentar também
ao Estado recebedor uma cópia autenticada da sentença
proferida pela Autoridade Judicial competente, certificando
que é autêntica, junto com quaisquer modificações
introduzidas na mesma. Também deverá fornecer qualquer
outra informação que possa ajudar o Estado recebedor a
determinar o tratamento mais conveniente ao preso com o
intuito de promover a sua reabilitação social. Os
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documentos anteriormente citados deverão ser redigidos ou


traduzidos no idioma do Estado recebedor.
10. O Estado recebedor poderá solicitar
informações complementares se considerar que os
documentos fornecidos pelo Estado remetente não lhe
permitem cumprir o disposto no presente Tratado e
informará o Estado remetente do procedimento da
execução que seguirá.” (grifos acrescentados)

Acrescente-se, por fim, que a solicitação de


transferência deve ocorrer via diplomática, de modo ser o habeas corpus
meio absolutamente inapropriado para garantir ao paciente o cumprimento
de sua pena no país vizinho ou mesmo obstar o curso de extradição
formulada pelo Governo Brasileiro, que, aliás, consoante informado pelo
Juízo da Primeira Vara Criminal de Balneário de Camboriú, já foi deferida;
aferindo-se daí, por conseguinte, a própria prejudicialidade do pleito, uma
vez ser do interesse de ambos os países o cumprimento da reprimenda aqui,
no Brasil.

Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO


FEDERAL opina pelo não conhecimento da ordem; caso dela se conheça,
pela denegação.

Brasília, 23 de maio de 2013.

MARIO JOSÉ GISI


Subprocurador-Geral da República.

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