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Alex Micael Dantas de Sousa (1) José Neres da Silva Filho (2) Yuri Daniel Jatobá Costa (3) Daniel
Nelson Maciel (4) Mariana Silva Freitas (5)
Resumo
Este trabalho apresenta um estudo analítico da interação solo-estrutura envolvendo o carregamento lateral
de estacas em fundações de pontes. O objetivo do trabalho é apresentar a influência de diferentes
considerações teóricas nos resultados de deslocamentos horizontais e momentos fletores em estacas
carregadas lateralmente. Para tanto foi utilizado um projeto modelo de ponte hiperestática em duas longarinas
retas e um solo estratificado de uma ponte semelhante ao projeto modelo. Foram estudados diferentes
modelos analíticos quanto ao cálculo da reação horizontal do solo e diferentes rotas de cálculo na calibração
dos parâmetros de rigidez relativa estaca-solo. Estudou-se possibilidades de variação quanto a vinculação da
estaca no bloco através da consideração de coeficientes de engastamento recomendados na literatura.
Observou-se que o modelo de cálculo considerando apenas correlações com o índice de resistência a
penetração do solo tende a ser mais conservador, enquanto que modificações da rigidez relativa inicial no
processo iterativo tende a influenciar pouco os resultados. No que diz respeito à consideração de vinculação
de estaca no bloco, verificou-se que a consideração de estacas rotuladas no topo apresenta resultados mais
compatíveis com o esperado teoricamente.
Abstract
This work presents an analytical study of the soil-structure interaction involving the lateral loading of stakes in
bridge foundations. The objective of this work is to present the influence of different theoretical considerations
on the results of horizontal displacements and bending moments in laterally loaded piles. For this purpose, a
model design of a hyperastic bridge was used in two straight struts and a stratified soil of a bridge similar to
the model design. Different analytical models were studied for the calculation of the horizontal reaction of the
soil and different routes of calculation in the calibration of the parameters of relative stiffness-pile. Possibilities
of variation regarding the attachment of the pile in the block were studied through consideration of the
recommended coefficients of beading in the literature. It was observed that the calculation model considering
only correlations with the soil penetration resistance index tends to be more conservative, while modifications
of the initial relative stiffness in the iterative process tend to influence the results little. Regarding the
consideration of stake attachment in the block, it was verified that the consideration of stakes labeled at the
top presents results more compatible with what was theoretically expected.
O modelo de ponte em concreto armado adotado foi de uma superestrutura composta por
duas longarinas retas hiperestáticas de vão livre de 20 m e dois balanços de 5 m, totalizando
um comprimento de 50 m. A ponte foi solicitado por um veículo tipo de 450 kN, com seis
rodas (P = 75 kN), com área de ocupação de 18,0 m², circundada por uma carga
uniformemente distribuída constante p = 5 kN/m², em acordo com a NBR 7188 (ABNT,
2013). A Figura 1 apresenta um esquema longitudinal da ponte, enquanto a Figura 2
apresenta a seção transversal da mesma para uma seção localizada à meio vão.
No intuito de simular o estudo de caso desenvolvido neste trabalho foram utilizados dados
de sondagem da ponte sobre o Rio Jaguararibe, situado nas proximidades do Município de
Aracati, Ceará, BR 403, Km 46, e disponíveis no projeto de Adequação do Projeto Executivo
para Melhoramentos com Adequação da Capacidade de Segurança – Ponte sobre o Rio
Jaguararibe. O perfil do solo está resumido na Tabela 2- Estratigrafia do solo.
Tabela 2- Estratigrafia do solo
Profundidade Consistência / Compacidade
0 – 1,40 m Areia fofa (aterro)
1,40 m – 3,60 m Areia pouco compacta, fina e grossa com pouca argila e pouco pedregulho
Epy (KN/m²)
0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000
0
Proundidade (m)
2
z = 0,000059 Epy
4
10
Figura 5 - Variação do módulo de reação horizontal com a profundidade.
Nesta etapa do estudo foram aplicados três procedimentos para posterior análise: (1)
calcular o módulo de reação horizontal do solo considerando a estratificação do solo (areia
e argila), sendo aplicado o método simplificado para o módulo de reação da camada
arenosa, e as curvas p-y de Welsh e Reese (1972) para a camada de argila dura; (2)
desconsiderou-se a estratificação do solo a aplicou-se o método simplificado da areia para
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todo o solo, disposto no trabalho de Christian (2012); (3) desconsiderou-se a estratificação
do solo e aplicou-se o método de Welsh e Reese (1972) de argilas para todo o solo.
Na literatura, de uma maneira geral, trata-se as estacas como rotuladas no topo quando
solicitadas à carregamentos transversais, diferente de tubulões onde a consideração de
vinculação na transição pilar/fundações é muito importante (CAMPOS, 2015; REESE e
IMPE, 2011; VELLOSO E LOPES, 2012). Entretanto, este ainda é um tema pouco abordado
com maior profundidade na literatura, uma vez que os modelos de dimensionamento destes
elementos não foram calibrados por instrumentação do conjunto bloco/estacas, mas quase
sempre apenas de estacas sujeitas a carregamentos horizontais (ARAÚJO, 2013; KIM et
al., 2011). Em assim sendo, optou-se por verificar o comportamento das estacas na
situação de consideração do momento de engastamento estaca/bloco, o qual foi realizado
considerando uma parcela de momento transferido para as estacas de acordo com a rigidez
flexional e o nível de esforço transversal sobre estas, coerente com as formulações de
Davisson (1970) e Reese e Impe (2011).
Observa-se das metodologias apresentadas que o momento absorvido pelas estacas
independe do momento aplicado no bloco, estando relacionada apenas às características
da estaca em termos de rigidez relativa (T) e esforço transversal (Pt), ou seja, eventuais
acréscimos de momento no bloco não são repassados para a estaca, causando apenas
rotação do próprio bloco ou ruptura da vinculação estaca/bloco e consequente articulação
na ligação. Nesta formulação foi fixado o valor da rigidez flexional das estacas ao se
considerar a obtenção do módulo de elasticidade transversal do solo pelo método
simplificado que faz correlações com o Nspt, sendo computada parcela de momentos
fletores na geração das curvas de Matlock e Reese para os deslocamentos horizontais e
esforços de flexão sobre as estacas.
Foram feitas 3 análises nesta fase do estudo: (1) coeficiente de engastamento de Davisson
(1970) 𝐹0 = −0,4; (2) coeficiente de engastamento de Davisson (1970) 𝐹0 = −0,5; (3)
considerando o coeficiente de engastamento de Reese e Impe (2011) 𝐹𝑀𝑇 = −0,93.
y (m) M (KNm)
-0,001 0,000 0,001 0,002 0,003 -5 0 5 10 15 20
0,000 0,000
1,000 1,000
2,000 2,000
Profundidade (m)
Profundidade (m)
3,000 3,000
4,000 4,000
5,000 5,000
6,000 6,000
7,000 7,000
8,000 8,000
9,000 9,000
10,000 10,000
a) b)
Figura 6 - a) Deslocamentos horizontais b) Momentos fletores.
Assumindo a estratificação do solo como uma situação de cálculo mais rigorosa e tomando
esta como referencial, pode-se observar as seguintes variações de deslocamento e
momentos fletores máximos na Tabela 3. Constata-se desta análise que considerar o solo
sem estratificação com métodos homogêneos de cálculo tendem a apresentar resultados
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mais conservadores de deslocamentos ao majorá-los em relação a situação estratificada.
Entretanto, ao aplicar-se o método de argilas duras para todo o solo, o comportamento
tende a ser contra a segurança ao fornecer menores valores de deslocamentos horizontais.
Este comportamento em argila pode ser considerado coerente uma vez que as curvas p-y
para argilas tendem a produzir menores deslocamentos que solos arenosos ao englobar a
coesão do solo como fator redutor de deslocamentos.
Tabela 3 - Variação de deslocamentos, esforços e reações do solo máximos.
Modelo de Cálculo 𝑦 (𝑚) 𝑀 (𝐾𝑁𝑚)
Areia – Simplificado 74% 20%
Argila – Welsh e Reese (1972) -42% -17%
Areia-Argila – (Simp. / Welsh et al) Referência
3,000
Profundidade (m)
4,000
4,000
5,000
5,000
6,000 6,000
7,000 7,000
8,000 8,000
9,000 9,000
10,000 10,000
Rotulado - M=0
Rotulado - M=0
a) b)
Figura 7 - a) Deslocamentos horizontais b) Momentos fletores.
Entretanto, merece ser destacado que estes resultados devem ser analisados sempre com
ressalvas sobre o modo como as curvas p-y foram calibradas, uma vez que a estratificação
e grande diferença de rigidez entre camadas do solo influenciam de forma complexa na
convergência dos resultados. Como exemplo, a geração de valores de modulo de reação
muito elevados, fora da realidade, devem ser eliminados do processo iterativo para
continuidade do procedimento, o que é feito analiticamente e sempre sujeito a erros.
Outro elemento que deve ser avaliado nestes resultados é quanto a ausência de
procedimentos normativos ou consagrados na literatura no que tange à representatividade
do método. Logo, os métodos aqui descritos devem ser comparados aos resultados de
instrumentação (pouco usuais) ou modelos numéricos que permitam a representação
tridimensional do problema.
y (m) M (KNm)
-0,001 0,001 0,002 0,003 -10 0 10 20 30
0,000 0,000
1,000 1,000
2,000 2,000
Profundidade (m)
Profundidade (m)
3,000 3,000
4,000 4,000
5,000 5,000
6,000 6,000
7,000 7,000
a) b)
4 Conclusões
5 Referências
PENG, J.-R.; ROUAINIA, M.; CLARKE, B. G. Finite element analysis of laterally loaded
fin piles. Computers & structures, v. 88, n. 21, p. 1239-1247, 2010.
KIM, Youngho; JEONG, Sangseom. Analysis of soil resistance on laterally loaded piles
based on 3D soil–pile interaction. Computers and Geotechnics, v. 38, n. 2, p. 248-257,
2011.
DAVISSON, M.T. (1970). Lateral Load Capacity of Piles. Higway Research Record. n° 33,
Pile Foundations, National Research – Council, Washington, D.C., p. 104-112.
REESE, L.C.; COX, W.R.; KOOP, F.D. Analysis of Laterally Loaded Piles in Sand,
Proceedings of the Sixth Annual Ofshore Technology Conference Houston, Texas, n° 2.
OTC 2080, 1974.
WELCH, R.C. & REESE, L.C. (1972). Laterally loaded behavior of drilled shafts.
Research Report 3-5-65-89. Center for Highway Research. University of Texas, Austin.