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Estudo da estratificação do solo e coeficientes de engastamento

estaca-bloco na interação solo-estrutura em fundações de pontes


Soil stratification study’s and stake-blocking coefficients in soil-structure interaction on
bridge’s foundations

Alex Micael Dantas de Sousa (1) José Neres da Silva Filho (2) Yuri Daniel Jatobá Costa (3) Daniel
Nelson Maciel (4) Mariana Silva Freitas (5)

(1) Mestrando em Engenharia de Estruturas - EESC / USP


(2) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civil – UFRN
(3) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civil – UFRN
(4) Professor Doutor, Escola de Ciência e Tecnologia Civil - UFRN
(5) Mestranda em Engenharia de Estruturas - PEC / UFRN
Rua Claudionor Figueiredo, 423, Natal/RN

Resumo
Este trabalho apresenta um estudo analítico da interação solo-estrutura envolvendo o carregamento lateral
de estacas em fundações de pontes. O objetivo do trabalho é apresentar a influência de diferentes
considerações teóricas nos resultados de deslocamentos horizontais e momentos fletores em estacas
carregadas lateralmente. Para tanto foi utilizado um projeto modelo de ponte hiperestática em duas longarinas
retas e um solo estratificado de uma ponte semelhante ao projeto modelo. Foram estudados diferentes
modelos analíticos quanto ao cálculo da reação horizontal do solo e diferentes rotas de cálculo na calibração
dos parâmetros de rigidez relativa estaca-solo. Estudou-se possibilidades de variação quanto a vinculação da
estaca no bloco através da consideração de coeficientes de engastamento recomendados na literatura.
Observou-se que o modelo de cálculo considerando apenas correlações com o índice de resistência a
penetração do solo tende a ser mais conservador, enquanto que modificações da rigidez relativa inicial no
processo iterativo tende a influenciar pouco os resultados. No que diz respeito à consideração de vinculação
de estaca no bloco, verificou-se que a consideração de estacas rotuladas no topo apresenta resultados mais
compatíveis com o esperado teoricamente.

Palavra-Chave: solo; estrutura; estacas; deslocamento horizontal.

Abstract
This work presents an analytical study of the soil-structure interaction involving the lateral loading of stakes in
bridge foundations. The objective of this work is to present the influence of different theoretical considerations
on the results of horizontal displacements and bending moments in laterally loaded piles. For this purpose, a
model design of a hyperastic bridge was used in two straight struts and a stratified soil of a bridge similar to
the model design. Different analytical models were studied for the calculation of the horizontal reaction of the
soil and different routes of calculation in the calibration of the parameters of relative stiffness-pile. Possibilities
of variation regarding the attachment of the pile in the block were studied through consideration of the
recommended coefficients of beading in the literature. It was observed that the calculation model considering
only correlations with the soil penetration resistance index tends to be more conservative, while modifications
of the initial relative stiffness in the iterative process tend to influence the results little. Regarding the
consideration of stake attachment in the block, it was verified that the consideration of stakes labeled at the
top presents results more compatible with what was theoretically expected.

Keywords: soil; structure; piles; horizontal displacement

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1 Introdução

A expansão da malha viária no país, bem como o crescimento de centros urbanos e a


necessidade de vencer obstáculos naturais como vales e rios, tem resultado na construção
de pontes e viadutos com vãos cada vez mais extensos, sendo o Brasil detentor de vários
recordes no que concerne ao tema ao longo da história. Em virtude da ordem de grandeza
das ações que solicitam as pontes, além de outros aspectos geológicos e geotécnicos,
geralmente é lançado mão de fundações profundas do tipo estacas em concreto armado
para transmitir as cargas atuantes na superestrutura ao solo. Estas cargas englobam tanto
as solicitações verticais provenientes das combinações de ações (cargas permanentes e
cargas móveis) como ações horizontais. As solicitações horizontais podem ser oriundas do
vento, ondas marítimas, empuxos de terra, como no caso de fundações de pontes e
edifícios elevados, torres de transmissão de energia elétrica, estruturas off-shore e de
estruturas de contenção (ABREU, 2014). Nestes projetos de fundações é imprescindível
calcular os deslocamentos da estaca carregada lateralmente e obter os diagramas de
momento fletor e esforço cortante para o seu dimensionamento, seja por métodos analíticos
ou numéricos. Na infraestrutura da ponte, a interação solo-estrutura, que aborda os efeitos
das ações atuantes na estrutura de fundação através da consideração da deformabilidade
do solo, deve ser analisada com muita cautela pelos projetistas. Se a natureza dos terrenos
de fundações permitirem a ocorrência de deslocamentos que induzam efeitos apreciáveis
na estrutura, as deformações impostas decorrentes deverão ser levadas em consideração
no projeto (NBR 7187, 2003). Em suma, o projeto geotécnico de fundações com solicitações
horizontais significativas deve contemplar as possibilidades de ruptura do sistema solo-
estaca, esgotamento da capacidade resistente da estaca enquanto elemento estrutural e
deslocamentos ou rotações excessivas que comprometam a sua funcionalidade.
Oliveira (2015) apresenta um estudo de caso acerca do carregamento lateral de estacas de
pontes para o caso de estacas embutidas em rocha considerando aproximadamente 34%
do momento atuante nos blocos transferido na forma de momento fletor para as estacas,
do qual resultaram deslocamentos horizontais maiores que 83 mm em serviço e taxas de
armadura longitudinal de 7,89% para as solicitações de projeto. Araújo (2013) apresenta
um estudo experimental com estacas carregadas lateralmente em solo arenoso, cujos
resultados foram comparados aos obtidos analiticamente pelo método API (2000) e de
Reese et. al. (1974). Entretanto, ainda carece na literatura de estudos práticos envolvendo
solos estratificados, ou seja, estacas de fundação em solos com camadas de areia e argila,
além de poucos resultados experimentais acerca de blocos e estacas instrumentados in
locu para verificar a existência e/ou magnitude dos momentos fletores transmitidos do bloco
para as estacas na forma de momentos fletores nas estacas. Isto se explica pela
laboriosidade de realização de tais experimentos, motivo pelo qual têm-se estudado
largamente estes problemas através de modelos numéricos tridimensionais, como nos
trabalhos de Kim et. al. (2011) e Peng et. al. (2010). Desta forma, objetiva-se neste trabalho
estudar a influência nos resultados de deslocamentos horizontais com diferentes
abordagens com relação aos modelos analíticos para cálculo do coeficiente de reação
horizontal do solo, bem como diferentes análises acerca da vinculação do bloco nas estacas
de acordo com os coeficientes de vinculação de Davisson (1970) e Reese e Impe (2011).

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2 Modelo de Estudo
2.1 Geometria da Ponte

O modelo de ponte em concreto armado adotado foi de uma superestrutura composta por
duas longarinas retas hiperestáticas de vão livre de 20 m e dois balanços de 5 m, totalizando
um comprimento de 50 m. A ponte foi solicitado por um veículo tipo de 450 kN, com seis
rodas (P = 75 kN), com área de ocupação de 18,0 m², circundada por uma carga
uniformemente distribuída constante p = 5 kN/m², em acordo com a NBR 7188 (ABNT,
2013). A Figura 1 apresenta um esquema longitudinal da ponte, enquanto a Figura 2
apresenta a seção transversal da mesma para uma seção localizada à meio vão.

Figura 1 - Esquema longitudinal da ponte.

Figura 2 - Seção Transversal da ponte.


2.2 Ações da Ponte

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No levantamento das ações da ponte foram consideradas as ações verticais permanentes
e móveis, além das horizontais longitudinais e transversais. Depois de levantadas todas as
ações de acordo com as recomendações normativas e da literatura como a NBR 7188
(ABNT, 2013) e Pfeil (1990), obtiveram-se os valores de ações atuantes sobre os blocos
apresentadas na Tabela 1 - Ações atuantes nos blocos de estacas.

Tabela 1 - Ações atuantes nos blocos de estacas.


Ação Ação Ação Ação
Horizontal horizontal Horizontal Vertical
Pilar L (m) 𝑀𝑥 (𝐾𝑁. 𝑚) 𝑀𝑦 (𝐾𝑁. 𝑚)
Longitudinal Transversal Resultante (KN)
(KN) (KN) (KN)
P1 4,05 120,04 78,75 143,57 318,9546 486,16 3240,29
P2 5,7 30,52 5,03 30,93 28,6824 173,96 4007,12
P3 4,05 120,04 78,75 143,57 318,9546 486,16 3240,22

2.2 Parâmetros dos Materiais e Modelo de Fundação

No intuito de simular o estudo de caso desenvolvido neste trabalho foram utilizados dados
de sondagem da ponte sobre o Rio Jaguararibe, situado nas proximidades do Município de
Aracati, Ceará, BR 403, Km 46, e disponíveis no projeto de Adequação do Projeto Executivo
para Melhoramentos com Adequação da Capacidade de Segurança – Ponte sobre o Rio
Jaguararibe. O perfil do solo está resumido na Tabela 2- Estratigrafia do solo.
Tabela 2- Estratigrafia do solo
Profundidade Consistência / Compacidade
0 – 1,40 m Areia fofa (aterro)

1,40 m – 3,60 m Areia pouco compacta, fina e grossa com pouca argila e pouco pedregulho

3,60 m - 5,60 m Argila rija com areia fina e grossa


5,60 m – 8,60 m Argila dura com areia grossa e muito pedregulho
Areia medianamente compacta a muito compacta com pouca argila e muito
8,60 m – 16,05 m
pedregulho

A solução de fundação adotado consistiu de um bloco em concreto armado sobre 7 estacas


do tipo raiz de diâmetro 41 cm. O fck do concreto foi adotado igual a 30 MPa e o do bloco
igual a 50 MPa. A Figura 3 apresenta a configuração do bloco adotado. Observa-se que as
estacas possuem 15m de comprimento (estacas longas flexíveis), enquanto o bloco possui
1 m de altura (bloco rígido). A ação horizontal foi considerada dividida igualmente entre as
estacas, enquanto que o momento fletor atuante só gerava esforço normal nas estacas,
uma vez que estas foram consideradas rotuladas no topo.

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Figura 3 - Bloco sobre 7 estacas.

2.3 Descrição dos estudos

A Figura 4 apresenta o fluxograma de cálculo utilizado no trabalho.

Figura 4 - Fluxograma de Cálculo.

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Geralmente arbitra-se inicialmente o valor da rigidez relativa estaca-solo (𝑇𝑖 ) a partir das
características das estacas, se rígida ou flexível, ou a partir de valores do coeficiente de
reação horizontal do solo, 𝑛ℎ , obtidos experimentalmente ou de tabelas na literatura.
No estudo do carregamento lateral de estacas y é a deflexão da estaca à uma certa
profundidade, obtida através de relações com a solicitação horizontal (𝑃𝑡 e 𝑀𝑡 ), a rigidez
flexional da estaca (𝐸𝐼) e utilizando-se coeficientes adimensionais de deslocamento como
os de Matlock e Reese (1961) (𝐴𝑦 e 𝐵𝑦 ) obtidos para a solução analítica do problema.
Conhecidos os deslocamentos em cada profundidade utilizam-se curvas p-y de acordo com
o tipo de solo (areias ou argilas) para calcular a reação horizontal do solo 𝑝. A partir da
relação entre a reação horizontal do solo e do deslocamento horizontal da estaca obtêm-
se o módulo de reação horizontal do solo à certa profundidade, que plotado em gráfico
como o da Figura 5, permite a determinação do coeficiente de reação horizontal do solo
(𝑛ℎ ) pela inclinação da reta.Com o valor de 𝑛ℎ recalcula-se a rigidez relativa estaca solo,
obtendo-se 𝑇𝑗 em processo iterativo até a sua convergência. Com os valores finais de 𝑇𝑗
eram então calculados as deflexões e momentos fletores na estaca com os respectivos
coeficientes adimensionais de Matlock e Reese.
No processo simplificado de cálculo o coeficiente de reação horizontal do solo era calculado
em cada profundidade através de correlação com o 𝑁𝑆𝑃𝑇 , como discutido no trabalho de
Christian (2012), e posteriormente calculava-se o módulo de reação horizontal do solo em
cada profundidade, ou seja, sem lançar mão de curvas p-y, sendo denominado este de
método simplificado.
Em todas as fases deste estudo foi suposta a ação horizontal atuante no bloco distribuída
igualmente entre as estacas para a definição de 𝑃𝑡 , e estacas rotuladas no topo, ou seja,
𝑀𝑡 nulo.

Epy (KN/m²)
0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000
0
Proundidade (m)

2
z = 0,000059 Epy
4

10
Figura 5 - Variação do módulo de reação horizontal com a profundidade.

2.3.1. Estratificação do Solo

Nesta etapa do estudo foram aplicados três procedimentos para posterior análise: (1)
calcular o módulo de reação horizontal do solo considerando a estratificação do solo (areia
e argila), sendo aplicado o método simplificado para o módulo de reação da camada
arenosa, e as curvas p-y de Welsh e Reese (1972) para a camada de argila dura; (2)
desconsiderou-se a estratificação do solo a aplicou-se o método simplificado da areia para
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todo o solo, disposto no trabalho de Christian (2012); (3) desconsiderou-se a estratificação
do solo e aplicou-se o método de Welsh e Reese (1972) de argilas para todo o solo.

2.3.2. Vinculação da estaca no bloco

Na literatura, de uma maneira geral, trata-se as estacas como rotuladas no topo quando
solicitadas à carregamentos transversais, diferente de tubulões onde a consideração de
vinculação na transição pilar/fundações é muito importante (CAMPOS, 2015; REESE e
IMPE, 2011; VELLOSO E LOPES, 2012). Entretanto, este ainda é um tema pouco abordado
com maior profundidade na literatura, uma vez que os modelos de dimensionamento destes
elementos não foram calibrados por instrumentação do conjunto bloco/estacas, mas quase
sempre apenas de estacas sujeitas a carregamentos horizontais (ARAÚJO, 2013; KIM et
al., 2011). Em assim sendo, optou-se por verificar o comportamento das estacas na
situação de consideração do momento de engastamento estaca/bloco, o qual foi realizado
considerando uma parcela de momento transferido para as estacas de acordo com a rigidez
flexional e o nível de esforço transversal sobre estas, coerente com as formulações de
Davisson (1970) e Reese e Impe (2011).
Observa-se das metodologias apresentadas que o momento absorvido pelas estacas
independe do momento aplicado no bloco, estando relacionada apenas às características
da estaca em termos de rigidez relativa (T) e esforço transversal (Pt), ou seja, eventuais
acréscimos de momento no bloco não são repassados para a estaca, causando apenas
rotação do próprio bloco ou ruptura da vinculação estaca/bloco e consequente articulação
na ligação. Nesta formulação foi fixado o valor da rigidez flexional das estacas ao se
considerar a obtenção do módulo de elasticidade transversal do solo pelo método
simplificado que faz correlações com o Nspt, sendo computada parcela de momentos
fletores na geração das curvas de Matlock e Reese para os deslocamentos horizontais e
esforços de flexão sobre as estacas.
Foram feitas 3 análises nesta fase do estudo: (1) coeficiente de engastamento de Davisson
(1970) 𝐹0 = −0,4; (2) coeficiente de engastamento de Davisson (1970) 𝐹0 = −0,5; (3)
considerando o coeficiente de engastamento de Reese e Impe (2011) 𝐹𝑀𝑇 = −0,93.

2.3.3. Influência do T inicial

Foram calculados deslocamentos horizontais e esforços de flexão em 5 casos. No casos


(1), (2) e (3) arbitrou-se T inicial igual a 5D e posteriormente aplicaram-se os métodos de
Reese et al (1974) e API (2000) e Nspt de calibração das curvas em areia. Nos casos (4) e
(5) foram aplicados valores de 𝑛ℎ representativos de areia apresentados no trabalho de
Araújo (2013) e posteriormente utilizados os métodos de Reese et. al. (1974) e API (200)
para calibrar o módulo de reação horizontal da camada arenosa.
Via de regra, assume-se que o procedimento interativo elimina as interferências do valor de
T inicial, principalmente ao se lançar mão das curvas p-y na sua calibração (Reese e Impe,
2011). Entretanto, faz-se importante este tipo de verificação quando as condições de
contorno são modificadas, como no presente estudo de solo estratificado e sob solicitações
de pontes.

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3 Resultados
3.1 Estratificação do Solo

Os cálculos apresentados fazem referência à consideração da estratificação do solo, ou


seja, calculou-se a argila considerando as curvas p-y para argila rija, enquanto que para
areias aplicou-se o método Nspt para determinar o módulo de elasticidade do solo. Em
seguida, recalculou-se tudo em duas hipóteses distintas, primeiramente com o método Nspt
para todo o solo, sem distinção de camadas de areias e argilas, e a segunda considerando
o método de argilas para todo o solo. Os resultados em termos de deslocamentos
horizontais da estaca e de esforços de flexão estão apresentados na Figura 6 e Tabela 3.
Os valores de deslocamentos horizontais máximos, na Figura 6, estão coerentes quanto ao
esperado para estas obras de arte como pontes do ponto de vista da sua utilização, mas
destoam de trabalhos como o de Oliveira (2015), o que pode ser justificado pela
consideração deste último de engaste perfeito entre estacas e blocos e absorção de uma
parcela muito grande de momento pelas estacas, resultando em deslocamentos horizontais
da ordem de 50 mm, o que na prática representaria deslocamentos excessivos da
infraestrutura.
Vale salientar ainda que não se dispõem nas normas nacionais e internacionais de valores
normativos a serem obedecidos para estes deslocamentos em serviço, o que corrobora a
necessidade de mais estudos e instrumentação para definir o desempenho satisfatório
destas estruturas sob as cargas de serviço.

y (m) M (KNm)
-0,001 0,000 0,001 0,002 0,003 -5 0 5 10 15 20
0,000 0,000
1,000 1,000
2,000 2,000
Profundidade (m)

Profundidade (m)

3,000 3,000
4,000 4,000
5,000 5,000
6,000 6,000
7,000 7,000
8,000 8,000
9,000 9,000
10,000 10,000

Areia-Argila- Nspt-MR Areia - Arigla - Nspt-MR


Areia - Nspt Areia - Nspt
Argilal - MR Argila - MR

a) b)
Figura 6 - a) Deslocamentos horizontais b) Momentos fletores.

Assumindo a estratificação do solo como uma situação de cálculo mais rigorosa e tomando
esta como referencial, pode-se observar as seguintes variações de deslocamento e
momentos fletores máximos na Tabela 3. Constata-se desta análise que considerar o solo
sem estratificação com métodos homogêneos de cálculo tendem a apresentar resultados
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mais conservadores de deslocamentos ao majorá-los em relação a situação estratificada.
Entretanto, ao aplicar-se o método de argilas duras para todo o solo, o comportamento
tende a ser contra a segurança ao fornecer menores valores de deslocamentos horizontais.
Este comportamento em argila pode ser considerado coerente uma vez que as curvas p-y
para argilas tendem a produzir menores deslocamentos que solos arenosos ao englobar a
coesão do solo como fator redutor de deslocamentos.
Tabela 3 - Variação de deslocamentos, esforços e reações do solo máximos.
Modelo de Cálculo 𝑦 (𝑚) 𝑀 (𝐾𝑁𝑚)
Areia – Simplificado 74% 20%
Argila – Welsh e Reese (1972) -42% -17%
Areia-Argila – (Simp. / Welsh et al) Referência

3.2 Vinculação Estaca-Bloco

Os resultados de deslocamentos horizontais e momentos fletores considerando o método


Nspt de calibração das curvas estão apresentados na Figura 7.a. Observa-se que em geral
o nível de deslocamentos calculados está coerente com as hipóteses de cálculo
consideradas e dentro de uma certa margem de valores coerentes com a realidade, na qual
se esperaria para o nível de carregamento considerado deslocamentos menores que 10
mm, como no trabalho de Araújo (2013), que possui algumas características do estudo
semelhantes. Da Figura 7.b observa-se grande aumento dos momentos fletores na estaca
ao se considerar a vinculação desta com o bloco. Entretanto, ao se calcular a armadura
longitudinal da estaca pela NBR 6118 (ABNT,2014) considerando estes momentos fletores
observa-se que as taxas de armadura mínima preconizadas pela mesma continuam
cobrindo com segurança estes níveis de solicitação.
Os resultados da variação dos parâmetros estudados podem ser observados na Tabela 4
e referem-se à variação dos valores máximos de cada parâmetro tomando-se a situação
rotulada como referencial para comparação. Da Tabela 4 observa-se que existe um grande
aumento nos valores de deslocamentos horizontais e de momentos fletores, o que era
esperado pela própria formulação e método utilizado. Portanto, atenção especial deve ser
dada a este aspecto executivo e de projeto na definição da vinculação entre estes
elementos.
O comportamento verificado de sobre-elevação dos parâmetros avaliados no método de
Matlock e Reese ocorreu em virtude do momento fletor inicial participar no processo
iterativo, que provocou aumento no valor de T final e consequentemente dos parâmetros
analisados nas curvas. Ou seja, como no processo Nspt o momento participa apenas na
geração das curvas de resultados, sem modificar o valor da rigidez relativa iterativamente,
pode-se afirmar que os resultados de Matlock e Reese resultam em valores mais
conservadores em termos dos parâmetros avaliados.

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y (m)
0,000 0,001 0,002 0,003 0,004 0,005 M (KNm)
0,000 -10 0 10 20 30 40 50
0,000
1,000
1,000
2,000
2,000
3,000
Profundidade (m)

3,000

Profundidade (m)
4,000
4,000
5,000
5,000
6,000 6,000
7,000 7,000
8,000 8,000
9,000 9,000

10,000 10,000

Rotulado - M=0
Rotulado - M=0

Engastado - Davisson - Fh=-0,4 - Me=-11,74 KNm


Engastado - Davisson - Fh=-0,4 - Me=-11,74 KNm

Engastado - Davisson (1970) - Fh = -0,5 - Me = -


14,68 KNm Engastado - Davisson (1970) - Fh = -0,5 - Me = -14,68
KNm
Engastado - Reese e Impe (2011) - Fmt = -0,93 -
Me=-27KNm Engastado - Reese e Impe (2011) - Fmt = -0,93 -
Me=-27KNm

a) b)
Figura 7 - a) Deslocamentos horizontais b) Momentos fletores.

Tabela 4 - Variação de deslocamentos e esforços de flexão.


Nspt MR
Modelo de Cálculo
𝑦 (𝑚) 𝑀 (𝐾𝑁𝑚) 𝑦 (𝑚) 𝑀 (𝐾𝑁𝑚)
Rotulado - M=0 Referência Referência
Engastado - Davisson (1970) - Fe=-0,4 26,7% 39,5% 165,51% 78,51%
Engastado - Davisson (1970) - Fe=-0,5 33,3% 49,5% 185,02% 92,28%
Engastado - Reese e Impe (2011) =Fmt=-0,93 62,0% 96,8% 279,34% 157,00%

Entretanto, merece ser destacado que estes resultados devem ser analisados sempre com
ressalvas sobre o modo como as curvas p-y foram calibradas, uma vez que a estratificação
e grande diferença de rigidez entre camadas do solo influenciam de forma complexa na
convergência dos resultados. Como exemplo, a geração de valores de modulo de reação
muito elevados, fora da realidade, devem ser eliminados do processo iterativo para
continuidade do procedimento, o que é feito analiticamente e sempre sujeito a erros.
Outro elemento que deve ser avaliado nestes resultados é quanto a ausência de
procedimentos normativos ou consagrados na literatura no que tange à representatividade
do método. Logo, os métodos aqui descritos devem ser comparados aos resultados de
instrumentação (pouco usuais) ou modelos numéricos que permitam a representação
tridimensional do problema.

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3.3 Influência do 𝑇𝑖

Os resultados da variação de deslocamentos horizontais ao longo da profundidade, bem


como dos esforços de flexão, estão expressos na Figura 8, enquanto que na Pode-se
afirmar da Tabela 5, ainda, que o método de calibração do módulo de reação horizontal na
camada arenosa pouco influenciou Tabela 5, aindanos resultados, podendo-se lançar mão
do método mais simplificado (Nspt) quando da ocorrência de pequenas faixas de areia
superficial como ocorreu neste trabalho.
Na Tabela 5 apresenta-se a variação em termos de percentual utilizando o método Nspt
como referência. Da Pode-se afirmar da Tabela 5, ainda, que o método de calibração do
módulo de reação horizontal na camada arenosa pouco influenciou nos resultados,
podendo-se lançar mão do método mais simplificado (Nspt) quando da ocorrência de
pequenas faixas de areia superficial como ocorreu neste trabalho.
Na Tabela 5 observa-se que a diferença entre estimar o valor de T inicial igual a 5D e
utilizar valores de referência têm pouco impacto no resultado final, o que é compatível com
o realizado em alguns trabalhos na literatura (Reese e Impe, 2011; Araújo, 2013; Oliveira,
2015).

y (m) M (KNm)
-0,001 0,001 0,002 0,003 -10 0 10 20 30
0,000 0,000

1,000 1,000

2,000 2,000
Profundidade (m)

Profundidade (m)

3,000 3,000

4,000 4,000

5,000 5,000

6,000 6,000

7,000 7,000

T=5D-API (2000) T=5D-API (2000)


T=5D-Reese et al (1974) T=5D-Reese et al (1974)
T=f(nh)-API (2000) T=f(nh)-API (2000)
T=f(nh)-Reese et al (1974) T=f(nh)-Reese et al (1974)
T-f(Nspt)
T-f(Nspt)

a) b)

Figura 8 - a) Deslocamentos horizontais b) Momentos fletores.

Pode-se afirmar da , que o método de calibração do módulo de reação horizontal na camada


arenosa pouco influenciou nos resultados, podendo-se lançar mão do método mais

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simplificado (Nspt) quando da ocorrência de pequenas faixas de areia superficial como
ocorreu neste trabalho.

Tabela 5 - Variação dos resultados


Modelo de Cálculo 𝑦 (𝑚) 𝑀 (𝐾𝑁𝑚)
T=5d-API -33,4% -12,7%
T=5d-MR -32,6% -12,3%
T-nh-API -34,9% -13,3%
T-nh-MR -29,2% -10,9%
T-Nspt Referência

4 Conclusões

O uso de métodos simplificados de cálculo que desconsideram as curvas p-y, como a


determinação do módulo de elasticidade transversal do solo a partir de correlações
envolvendo o Nspt, tendem a apresentar resultados mais conservadores em termos de
deslocamentos horizontais em serviço e momento fletor. Portanto, estes métodos podem
ser utilizados com propriedade para estudos preliminares de desempenho em serviço.
Quanto ao estudo da vinculação estaca-bloco, este ainda carece de maiores dados
experimentais e simulações numéricas tridimensionais representativas da realidade física
do problema para melhor avaliar os resultados analíticos encontrados com os diferentes
coeficientes de vinculações estudados. No que diz respeito a a arbitração inicial utilizada
para a rigidez relativa estaca-solo de estacas flexíveis no procedimento iterativo, pode-se
afirmar que este pouco inluência na magnitude final dos resultados.

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