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Resumo do Livro: Teoria do Conhecimento

Resumo do Livro: Teoria do


Conhecimento; Johannes Hessen,
Martins Fontes, São Paulo, 2003
Introdução

1. A essência da filosofia

Quando se fala em teoria do conhecimento, falamos em uma disciplina


da filosofia. Ao tentarmos definir o que vem a ser “filosofia” encontramos
uma grande dificuldade, pois cada filósofo em sua época a definiu de uma
maneira. Mas não pode negar que na busca por esta definição se encontra
as seguintes características na essência de toda filosofia: a) a atitude em
relação à totalidade dos objetos; b) o caráter racional, cognoscitivo dessa
atitude.

Tanto Sócrates como depois com seu discípulo Platão, mostram sua
filosofia como a auto reflexão do espírito sobre seus valores teóricos e
práticos, os valores do verdadeiro, do bom e do belo.
Através de sua metafísica Aristóteles vê a filosofia como uma visão de
mundo. Após Aristóteles a filosofia com os estóicos e epicureus, transforma-
se em filosofia de vida. Já no começo da Idade Moderna a filosofia torna pelo
caminho aristotélico, ou seja, aparece como teoria do conhecimento. No
século XIX a filosofia assume um caráter puramente formal, metodológico.

Enfim a filosofia é uma visão de si e uma visão de mundo. A ciência e a


filosofia possuem uma afinidade, a saber, o pensamento. A Ciência
preocupa-se com o particular e a filosofia com o universal. Na religião sua
visão filosófica é baseada em sua fé, na filosofia brota do conhecimento
racional.

2. A posição da teoria do conhecimento no sistema da filosofia

A filosofia se divide em diferentes disciplinas: teoria da ciência, teoria do


valor e teoria da visão de mundo. A teoria do conhecimento se encaixa dentro
da teoria da ciência, e pode ser definida como teoria material da ciência.
Geralmente se divide a teoria do conhecimento em geral e especial.

3. A história da teoria do conhecimento

A teoria do conhecimento veio surgir como disciplina independente,


através de John Locke. No ocidente Kant surge como o verdadeiro fundador
da teoria do conhecimento. Com Fichte, sucessor de Kant, a teoria do
conhecimento é chamada “teoria da ciência”.

PRIMEIRA PARTE
Teoria Geral do Conhecimento

Investigação fenomenológica preliminar:

O fenômeno do conhecimento e os problemas nele contidos


A teoria do conhecimento se trata de uma “teoria” e portanto é necessário
cautela ao investiga-la. Esta teoria busca apreender a essência geral no
fenômeno concreto, busca o que é essencial.

O conhecimento é uma determinação do sujeito pelo objeto, e o


conhecimento se dá com a relação do sujeito com o objeto. A essência do
conhecimento está estreitamente ligada ao conceito de verdade. Somente o
conhecimento verdadeiro é conhecimento efetivo. O conhecimento é algo
totalmente peculiar e independente. O método fenomenológico só pode
oferecer uma descrição do fenômeno do conhecimento.

I . A possibilidade do conhecimento

1. O dogmatismo

O principal erro do dogmatismo é não compreender que o


conhecimento se da com a relação entre sujeito e objeto. Dentre as
formas de dogmatismo temos o teórico, ético e religioso. O dogmatismo
esta entre o mais antigo ponto de vista, somente com os sofistas que
levantou-se o problema do conhecimento, dando fim assim com o
dogmatismo no campo da filosofia.

2. O ceticismo

O ceticismo acredita ser impossível o sujeito apreender o objeto.


Assim, devemos nos abster de qualquer formulação de juízo. Existem
diversas formas de ceticismo, ceticismo lógico, absoluto, radical,
metafísico, ético, religioso, metódico, sistemático.

Na antiguidade temos Pirro de Elis (360-270 a.C), como seu fundador.


Em tempos modernos temos Montaigne (+1592) e Hume com um
ceticismo metafísico. Temos também Bayle, e Descartes. Qualquer forma
de ceticismo é infrutífero pois anula a possibilidade de conhecimento. O
ceticismo metafísico é também conhecido como positivismo; o ceticismo
religioso de agnoscitismo.

3. O subjetivismo e o relativismo

Para o subjetivismo e o relativismo a verdade existe, mas é


limitada em sua validade. Para o relativismo não existe verdade absoluta,
toda verdade é relativa. Os sofistas já empregavam o subjetivismo
através de Protágoras com sua famosa frase “o homem é a medida de
todas as coisas”. Resumindo, o que o subjetivismo e o relativismo é que
não existe verdade universalmente válida. Com isso se mostram céticos,
pois negam a verdade, de maneira indireta contestando sua validade
universal.

4. O pragmatismo

A verdade segundo o pragmatismo significa o que é útil, valioso,


promotor da vida. William James (+ 1910) é tido como o fundador do
pragmatismo. Na Alemanha seu maior defensor foi Friedrich Nietzsche (+
1900).

5. O criticismo

O criticismo se encontra entre o dogmatismo e o ceticismo. Crê


que o conhecimento é possível e a verdade existe, mas põe a prova todo
afirmação da razão humana e nada aceita inconscientemente. Kant é tido
como o verdadeiro fundador do criticismo

II. A origem do conhecimento

1. O racionalismo
O racionalismo entende que o conhecimento deve ter validade universal, e a
razão humana é quem julga a validade de algo. Assim todo conhecimento
genuíno depende do pensamento. Em Platão vemos algumas raízes do
racionalismo, pois ele esta convencido da necessidade lógica e da validade
universal para o verdadeiro saber.

Com Agostinho o conhecimento se dá quando o espírito humano é


iluminado por Deus. Descartes e Leibniz acreditam que existem em nós
idéias inatas que seriam fundamentadoras de nosso conhecimento.

2. O empirismo

Contrariando o racionalismo que tem na razão a fonte do conhecimento,


o empirismo tem a experiência como fonte de conhecimento. Desde
tempos antigos vemos concepções empiristas, como nos sofistas,
estóicos e epicuristas. Mas somente com John Locke (1632-1704) filósofo
inglês que o empirismo se sistematiza e se desenvolve. Locke nega as
idéias inatas, pois acredita que a alma é um papel em branco que a
experiência vai aos poucos cobrindo com marcas escritas.

O empirismo acaba levando ao ceticismo, pois se todo conhecimento


esta estabelecido nos limites do mundo da experiência, um
conhecimento metafísico é absolutamente impossível.

3. O intelectualismo

O intelectualismo é uma forma de mediação entre racionalismo e


empirismo que são antagônicos, pois acredita que tanto a razão como a
experiência participam na formação do conhecimento. Para Aristóteles
racionalismo e empirismo seriam uma síntese.

4. O apriorismo
O apriorismo também aceita o racionalismo e o empirismo como formas de
conhecimento. Kant é o fundador desta teoria, ele buscou mediar entre o
racionalismo de Leibniz e Wolff e o empirismo de Locke e Hume. Para ele o
material do conhecimento provém da experiência, e a forma provém do
pensamento.

5. Posicionamento crítico

A moderna psicologia do pensamento tem refutado o empirismo que


alega que todo conhecimento vem da experiência. A psicologia desconhece
conceitos inatos ou nascidos de fontes transcendentes. Devemos buscar uma
atuação conjunta de fatores racionais e empíricos no conhecimento humano.

III. A essência do conhecimento

1. Soluções pré-metafísicas do problema

a) O objetivismo

Para o objetivismo o elemento decisivo na relação de conhecimento é o


objeto e este determina o sujeito.

b) O subjetivismo

Ao contrário do objetivismo que procura ancorar o conhecimento no


objeto o subjetivismo ancora o conhecimento no sujeito. Este sujeito é
puramente lógico e não metafísico.

2. Soluções metafísicas do problema

a) O realismo

Para o realismo existem coisas reais, independentes da consciência.


Dentre as formas de realismo existe o realismo ingênuo, o realismo natural, e o
realismo crítico. Na Grécia antiga Demócrito enfatizava o realismo crítico, mas
Aristóteles sustentava um realismo natural, que predominou até a Idade
Moderna quando reviveu o realismo crítico de Demócrito.

b) O idealismo

Dentre as formas de idealismo o metafísico e o epistemológico,


trataremos do epistemológico. E este acredita não haver coisas reais,
independentes da consciência. Existe o idealismo subjetivo ou psicológico e o
idealismo objetivo ou lógico.

O idealismo sustenta que é contraditório pensar num objeto


independente da consciência, pois na medida em que penso num objeto, faço
dele um conteúdo de minha consciência. Toda realidade esta na consciência.

c) O fenomenalismo

O fenomenalismo é uma tentativa de reconciliar o realismo e o


idealismo, e Kant teve uma papel importante nesta tentativa. A teoria do
fenomenalismo advoga que conhecemos as coisas como nos aparecem. E
lidamos sempre com o mundo das aparências, e nunca com as coisas em si
mesmas.

IV. Os tipos de conhecimento

1. O problema da intuição e sua história

Para se adquirir o conhecimento é necessário buscar de varias maneiras


apreender e compreender o objeto. A forma de conhecimento intuitiva se da
pelo olhar. Temos a intuição racional, uma emocional e uma volitiva.

Em Descartes temos a intuição como forma autônoma de conhecimento,


pois a proposição cartesiana não envolve nenhuma inferência, mas uma
intuição imediata de si. Para Espinosa, Leibniz, e Kant a intuição não representa
um papel especial na teoria do conhecimento.

No século XIX, Fichte sucessor de Kant entendia haver uma intuição


racional-metafísica. Para Fries o pressentimento é o órgão religioso do
conhecimento, e para Schleiermacher a religião não é nem um saber, nem um
fazer. Seu lugar não é nem o entendimento nem a vontade, mas sim o
sentimento, para ele a religião é “sentimento e intuição do universo”.

O neokantismo nega a intuição como forma de conhecimento. O


realismo crítico da mesma forma também nega

2. O correto e o incorreto no intuicionismo

Conforme se pensa a respeito da essência do homem se tem uma visão


de conhecimento ou racional, ou intuitivo. No campo teórico o meio de
conhecimento é o racional-discursivo, e no meio prático o conhecimento se dá
pelo intuicionismo. Desta forma a razão esta ao lado do intuicionismo.

V. O critério da verdade

1. O conceito de verdade

Eis a grande questão. Como sabemos se um juízo é verdadeiro?

Quando o conteúdo do pensamento entra em concordância com o


objeto, temos um conceito de verdade transcendente. O conceito imanente diz
que o conceito de verdade reside no interior do próprio pensamento. A verdade
é a concordância do pensamento consigo mesmo.

O conceito de verdade imanente segue os princípios do fenomenalismo,


e só faz sentido caso não haja qualquer objeto real, exterior à consciência.

2. O critério da verdade
Para o idealismo lógico verdade significa concordância, assim, onde não
existe contradição está à verdade. Mas este critério de verdade não é universal.
No conceito imanente de verdade, um juízo é verdadeiro se construído segundo
as normas do pensamento.

SEGUNDA PARTE

Teoria especial do conhecimento

1. Sua tarefa

A teoria especial do conhecimento busca através de um relacionamento


com os objetos chegar ao conhecimento. Ela investiga os conceitos (categorias)
gerais com que tentamos definir os objetos. Assim, se relaciona com a
metafísica geral ou ontologia. Pretende, partindo dos fatos da experiência,
obter uma visão da estrutura essencial do mundo, dos princípios de toda a
realidade.

2. A essência das categorias

Para Aristóteles as categorias são formas do ser, determinações dos


objetos; e para Kant são formas do pensamento, determinações do
pensamento.

Em uma concepção moderna da teoria dos objetos, as categorias


aparecem como propriedades do objeto.

3. O sistema das categorias

Aristóteles foi o pioneiro em tentar sistematizar as categorias. Kant


buscou ao contrário de Aristóteles que derivou dos tipos de palavras sua
sistematização, enquadrar a sistematização nos tipos de juízo. Após Kant a única
busca relevante da sistematização das categorias foi feita por Eduard von
Hartmann, que entendia que as categorias pertencessem á esfera do
inconsciente. Hartmann dividiu as categorias em categorias da sensibilidade e
categorias do pensamento.

As categorias, não podem si dar por vias psicológicas e metafísicas, mas


somente por vias lógicas.

4. A substancialidade

Os acidentes necessariamente dependem das substâncias, os primeiros


não existem por si só, já as substâncias sim. Esta relação das substâncias com os
acidentes é chamada de inerência. Os acidentes mudam, já as substâncias
permanecem sempre as mesmas, assim, possui o atributo de permanência.

5. Causalidade

b) O princípio de causalidade

O princípio de causalidade pressupõe que toda as vezes que nos


deparamos com uma mudança devemos pressupor uma causa. Assim, toda
mudança, todo acontecimento tem uma causa. Tudo que surge, surge pela força
de uma causa.

Conclusão

Fé e saber

O conhecimento humano dentre as áreas abordadas, temos também a


metafísica, e suas relações com a filosofia. Nisto alguns vêem que a filosofia é
religião, outros que a religião é filosofia; alguns já dizem que é uma só coisa.

Ocorre que a metafísica se preocupa com representações concretas, e


não abstratas, o que a torna inferior. Então, a religião se baseia na filosofia, a fé
baseia-se no saber.

Para Kant enquanto ciência a metafísica é impossível, e esta forma de


pensar dominou a teologia protestante no século XIX.

O dualismo moderno acredita ser possível a metafísica como ciência, pois


elas tem um ponto de contato: a idéia de absoluto. As tentativas de se misturar
religião e filosofia, deve saber que a religião é um domínio de valores
completamente autônomo.
Os fundamentos filosóficos utilizados pela religião abalaram os
fundamentos tradicionais. Mas a pedra fundamental pode virar pedra de
moinho levando alguns ao ceticismo, pois não soube lidar com o intelectualismo
resultante do conflito entre filosofia e religião.

Por Danilo Moraes

Mestre em Teologia pela FTBSP

O realismo volitivo enfatiza que o homem é, antes de mais nada, um ser que quer e
que age. Já, o idealismo pretende fazer do homem um ser puramente intelectual.

b) O idealismo

Concepção de que a realidade está baseada em forças espirituais, em poderes


ideais. Aqui naturalmente, trataremos apenas do idealismo epistemológico. Este
equivale à concepção de que não há coisas reais, independentes da consciência. Como,
após a supressão das coisas reais, só restam dois tipos de objeto, a saber, os existentes
na consciência (representações, sentimentos) e os ideais (objetos da lógica e da
matemática), o idealismo deve necessariamente considerar os pretensos objetos reais
quer como objetos existentes na consciência, quer como objetos ideais. Daí resultam em
dois tipos de idealismo: subjetivo ou psicológico e o objetivo ou lógico.

c) O fenomenalismo

Assim como o racionalismo e empirismo estão flagrantemente contrapostos


quanto à origem do conhecimento, o realismo contrapõe-se ao idealismo na questão
sobre a essência do conhecimento. Nesta, também foram feitas tentativas de reconciliar
os dois oponentes. A mais importante teve novamente em Kant seu autor. Da mesma
forma como havia feito com relação ao realismo e o idealismo. Sua filosofia, que do
ponto de vista da primeira oposição se apresenta como apriorismo ou
transcendentalismo, na perspectiva da segunda aparece como fenomenalismo. É a teoria
segundo qual não conhecemos as coisas como são, mas como nos aparecem.
Certamente, existem coisas reais, mas não somos capazes de conhecer sua essência. Só
podemos conhecer o “quê” das coisas, mas não o seu “o quê”. O fenomenalismo,
portanto, acompanha o realismo na suposição de coisas reais, mas acompanha o
idealismo na limitação do conhecimento à realidade dada na consciência, ao mundo das
aparências, do que resulta a incognoscibilidade das coisas.

Posicionamento crítico

Analisadas as categorias, se tem agora condição de um posicionamento crítico no debate


entre realismo e idealismo. O realismo volitivo enfatiza que o homem é, antes de mais
nada, um ser que quer e que age. Já, o idealismo pretende fazer do homem um ser
puramente intelectual. E, como mostram as soluções antagônicas dadas, de ambos os
lados, por pensadores profundos, trata-se de um problema firmemente postado nos
limites da capacidade humana de conhecer e que escapa a uma solução categórica e
absolutamente segura por parte do nosso limtado pensamento. Essa intuição pode ser
ainda mais profundamente justificada. Como seres que querem e agem, estamos presos
à

oposição entre eu e não-eu, entre sujeito e objeto; é impossível, por isso, superar
teoricamente esse dualismo, vale dizer, é impossível solucionar definitivamente o
problema sujeito objeto. Ao contrário, devemos nos resignar,

considerando como limite superior da sabedoria aquilo a que Lotze referiu-se,


certa vez, como um “desabrochar da realidade em nosso espírito”.

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