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AULA Nº 12

1.5. Aços inoxidáveis


Os aços inoxidáveis são essencialmente ligas ferro - carbono - crómio, podendo
conter outras adições importantes, em particular de níquel e molibdénio; são usados
em aplicações que exigem elevada resistência à corrosão. O elevado custo relativo
dos aços inoxidáveis prejudica-os por vezes nas decisões de selecção de materiais;
se fôr tida em conta a vida total do produto fabricado, o aço inoxidável é à partida
um sério concorrente a muitas aplicações correntes de aços de construção e de
ferramentas.
Embora pequenas adições de crómio, da ordem dos 5%p, sejam já responsáveis por
uma melhoria da resistência à corrosão do ferro, para que um aço seja considerado
inoxidável deve apresentar uma matriz metálica com um teor mínimo de 12%p em
crómio dissolvido. O crómio passiva a superfície do aço formando uma camada de
óxido de pequena espessura, invisível a olho nu, muito aderente, que protege o
metal subjacente. Para que se forme esse óxido o ambiente em que o aço é
solicitado deve ser oxidante. A danificação mecânica ou química da camada de
óxido é seguida da sua regeneração, mantendo-se a resistência à corrosão
assegurada.
Os aços inoxidáveis agrupam-se nas seguintes cinco grandes classes:
- aços inoxidáveis ferríticos, classificados na série AISI 400; têm baixo teor em
carbono (inferior a 0,20%p), teores em crómio entre 12 e 25%p, são ferro-
magnéticos e não são susceptíveis de endurecimento por têmpera e revenido;
- aços inoxidáveis martensíticos, classificados também na série AISI 400; têm teores
carbono entre 0,1 e 1,0%p, em crómio entre 12 e 18%p, são ferromagnéticos e
susceptíveis de endurecimento por têmpera e revenido;
- aços inoxidáveis austeníticos, classificados na série AISI 300; têm baixo teor em
carbono (inferior a 0,15%p), teores em crómio entre 12 e 25%p e em níquel entre 8
e 20%p; são paramagnéticos e não são susceptíveis de endurecimento por têmpera
e revenido; podem apresentar adições de molibdénio até 7%p para melhoria da
resistência à corrosão; na série AISI 200 o níquel é parcialmente substituído pelo
manganês;
- aços inoxidáveis endurecíveis por precipitação; têm baixos teores em carbono
(inferior a 0,1%p), apresentando adições de crómio entre 12 e 18%p e de níquel
entre 4 e 8%p; a matriz metálica pode ser martensítica ou semi-austenítica
(composta por austenite e martensite); apresentam valores de R0.2 e Rm muito
elevados após processamento térmico, na gama da ultra alta resistência;

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- aços inoxidáveis duplex, com teores em crómio entre 18 e 30%p e em níquel entre
3 e 9%p; têm em geral adições de molibdénio; a sua matriz é composta por ferrite δ
e austenite; estes aços são mais resistentes à corrosão sob tensão que os aços
inoxidáveis austeníticos mas menos que os aços inoxidáveis ferríticos; por outro
lado apresentam uma tenacidade superior à dos aços inoxidáveis ferríticos mas
inferior à dos aços inoxidáveis austeníticos; estas propriedades representam uma
situação de compromisso útil em algumas aplicações.
A presença do níquel nos aços inoxidáveis visa aumentar a resistência à corrosão
em meios neutros ou pouco oxidantes; o níquel apresenta no entanto a
desvantagem de aumentar o custo do aço, dado o seu elevado preço; também
melhora a ductilidade e aptidão à deformação do aço, em consequência de
estabilizar o domínio austenítico à temperatura ambiente, para teores a partir de
cerca de 8%p. O molibdénio melhora a resistência à corrosão na presença de
cloretos.
A tabela seguinte resume os diferentes grupos de aços inoxidáveis:

Tabela 1 / 12
Classificação e composição dos aços inoxidáveis

Grupo de aços inoxidáveis %C %Cr %Ni Outros


Ferríticos < 0,2 12 a 25
Martensíticos 0,1 a 1 12 a 18
Austeníticos < 0,15 12 a 25 8 a 20 Mn
Endurecíveis por precipitação < 0,1 12 a 18 4 a 8 Mo Cu Al Ti Nb
Duplex < 0,1 18 a 30 3a9 Mo N Cu

A compreensão do comportamento dos aços inoxidáveis exige um estudo do efeito


de crómio e do níquel no diagrama de equilíbrio ferro-carbono, o qual será realizado
em seguida.
1.5.1. Diagrama Fe-Cr
O diagrama de equilíbrio ferro - crómio, apresentado na figura 1 / 12, mostra que o
domínio de estabilidade da fase CFC do ferro é progressivamente diminuído pelo
crómio, deixando de existir para valores do teor em crómio superiores a 12,7%p.
Era previsível este efeito, dado o crómio ser um elemento alfagéneo. Em
consequência do desaparecimento do domínio γ as ligas com teor em crómio

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superior a 12,7%p não são austenitisáveis, mantendo-se no domínio ferrítico até à
fusão.

Fig. 1 / 4 - Diagrama de equilíbrio ferro - crómio (cf. W.F. Smith,


"Structure and properties of engineering alloys", 2nd edition, 1993, Mc
Graw Hill International Editions, fig. 7-1, pág. 289).

O diagrama da figura 1 / 12 permite ainda observar que a temperaturas entre 475 e


821°C o ferro e o crómio formam uma solução sólida intermediária, designada por
fase σ, com um teor em crómio médio de 46%p; esta fase tem estrutura tetragonal e
é dura e frágil, sendo por isso prejudicial nos aços; pode formar-se para teores em
crómio relativamente baixos, consumindo o crómio do aço dado o seu elevado teor
neste elemento.
1.5.2. Diagrama Fe-Cr-C
Sendo o carbono um elemento gamagéneo, ele vai contrariar o efeito alfagéneo do
crómio, ampliando o domínio austenítico. A figura 2 / 12 mostra alguns cortes do
diagrama Fe-Cr-C para teores em carbono entre 0,05 e 0,4%p, verificando-se que a
presença de 0,4% de carbono expande o limite do domínio austenítico de 12,7%
para cerca de 18%.
Teores em crómio superiores ao limite de solubilidade originam a precipitação de
carbonetos de crómio, estando esta precipitação referenciada na figura 2 / 12 pela
designação Ki; a natureza dos carbonetos vai depender do teor em crómio,
conforme já foi referido anteriormente. Ligas com teor em crómio inferior a 10%
precipitam (Fe,Cr)3C (Kc na figura 2 / 12) o qual pode apresentar teores em crómio
até 15%. Ligas com teor em crómio superior a 10% poderão precipitar (Cr,Fe)7C3
(K2 na figura 2 / 12) ou (Cr,Fe)23C6 (K1 na figura 2 / 12) podendo estes carbonetos
apresentar teores em crómio até 36 e 70% respectivamente. Os carbonetos com
estequiometria (Cr,Fe)23C6 precipitam em geral nas fronteiras de grão, enquanto os
que apresentam estequiometria (Cr,Fe)7C3 se encontram mais vulgarmente
dispersos no interior dos grãos.

Fig. 2 / 12 – Secções do diagrama Fe-Cr para diferentes teores em


carbono. (a) 0,05%C; (b) 0,1%C; (c) 0,2%C; (d) 0,4%C (cf. W.F. Smith,
"Structure and properties of engineering alloys", 2nd edition, 1993, Mc
Graw Hill International Editions, fig. 7-2, pág. 290).

1.5.3. Diagrama Fe-Cr-Ni-C


Ao contrário do crómio, o níquel é um elemento gamagéneo, tornando o aço
integralmente austenítico se estiver presente em quantidade suficiente (teores

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mínimos de 8%) - vide secções dos diagramas de equilíbrio Fe-18%Cr-C com 4 e
8% de níquel, apresentados na figura 3 / 12.
É de reter destes diagramas que o aumento do teor em níquel de 4 para 8%
aumenta substancialmente o domínio de estabilidade da austenite, permitindo que
ligas com 8% de níquel apresentem austenite estável à temperatura ambiente,
enquanto a austenite presente nas ligas com 4% de níquel é instável, decompondo-
se sob efeito de tensões mecânicas ou do calor.
Outro aspecto importante a ter em conta é o da diminuição da solubilidade do
carbono na austenite com o abaixamento da temperatura, o que implica que os
arrefecimentos lentos destas ligas desde temperaturas de cerca de 1100°C originem
uma precipitação de carbonetos grosseiros nas juntas de grão que fragilizam a liga e
essencialmente degradam a sua resistência à corrosão, dado os carbonetos
precipitados serem ricos em crómio; a manutenção do carbono em solução exige um
arrefecimento rápido desde o campo austenítico, tratamento vulgarmente designado
por hipertêmpera.

Fig. 3 / 12 - Diagramas Fe-18%Cr-C (a) 4%Ni; (b) 8%Ni (cf. W.F.


Smith, "Structure and properties of engineering alloys", 2nd edition,
1993, Mc Graw Hill International Editions, fig. 7-3, pág. 291).

A fórmula empírica indicada a seguir permite calcular o teor em níquel necessário à


obtenção de microestruturas integralmente austeníticas, em função da restante
composição química do aço:
Ni = (Cr + 1,5 . Mo - 20)2 / 12 - Mn / 2 - 35 . C + 15.

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