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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO


ENGENHARIA CIVIL

APLICAÇÃO DA TECNOLOGIA BIM NA COMPATIBILIZAÇÃO DE


PROJETOS

Projeto Final de Curso I

Douglas Roberto Menino

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Daiane Brisotto

Erechim, junho de 2017.


UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO

ENGENHARIA CIVIL

APLICAÇÃO DA TECNOLOGIA BIM NA COMPATIBILIZAÇÃO DE


PROJETOS

Douglas Roberto Menino

Projeto Final de Curso I realizado no Departamento de Engenharias e Ciência


da Computação da URI, como parte dos requisitos para a obtenção do título de
Engenheiro Civil.

Junho, 2017.
APLICAÇÃO DA TECNOLOGIA BIM NA COMPATIBILIZAÇÃO DE
PROJETOS

Orientador: Prof.ª Dr.ª Daiane Brisotto / URI

Banca Examinadora:

Prof.° Esp. Marcos Paulo Cielo

Prof.° Esp. Darllan Fabiani da Silva Santos

___________________________________
Profa. Dr.a Daiane De Sena Brisotto
Coordenador do Projeto Final de Curso I
RESUMO

O ramo de desenvolvimento de projetos na construção civil tem enfrentado


transformações com o passar do tempo, alterando a forma de desenvolver um projeto.
Atualmente, a tecnologia BIM vem difundindo-se em todo o mundo a fim de evitar falhas
referentes à má qualidade das construções, retrabalhos e aumento nos custos de uma obra. O
conceito BIM envolve um modelo integrado em que todas as disciplinas de um projeto são
modeladas tridimensionalmente agregando informações referentes a insumos, custos, prazos
entre outros, de forma a integrar toda a equipe de desenvolvimento e execução de uma obra.
Neste contexto, o presente estudo busca aplicar a tecnologia BIM a fim de compatibilizar o
projeto de um edifício desenvolvido anteriormente por alunos na disciplina de Projeto
Interdisciplinar, no curso de graduação de Engenharia Civil da URI – Campus Erechim. A
partir da compatibilização, busca-se identificar as incompatibilidades entre os projetos,
corrigi-las e verificar o custo destas correções. De forma preliminar, verificou-se
incompatibilidades entre os projetos estruturais, arquitetônicos e de instalações,
principalmente referente à diferenças nos níveis dos pavimentos, ocasionando erros nas
alvenarias e locação das tubulações. E ainda, houveram discrepâncias referentes às dimensões
das sacadas no projeto arquitetônico e os shafts não foram previstos nos projetos estruturais,
interferindo na passagem das tubulações hidrossanitárias e elétricas. Tais incompatibilidades
podem ser evitadas ao modelar os projetos utilizando-se a tecnologia BIM, evitando erros que
só seriam identificados na fase de execução da obra, causando retrabalhos e maiores custos.

Palavras-chave: projetos, compatibilização, tecnologia BIM, incompatibilidades.

iii
ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
1.1. Objetivos ........................................................................................................................ 2
1.1.1. Objetivo geral ....................................................................................................... 2
1.1.2. Objetivos específicos ............................................................................................ 2
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 4
2.1. Projeto ............................................................................................................................ 4
2.1.1. Disciplinas de projeto .......................................................................................... 6
2.1.2. Equipes de projeto ............................................................................................. 13
2.2. Compatibilização de projetos ..................................................................................... 16
2.3. Tecnologia BIM ........................................................................................................... 18
2.3.1. Interoperabilidade ............................................................................................. 21
2.3.2. Modelagem paramétrica .................................................................................... 22
2.3.3. Ferramentas BIM .............................................................................................. 23
3. METODOLOGIA........................................................................................................ 25
3.1. Descrição do empreendimento ................................................................................... 26
3.2. Ferramentas ................................................................................................................. 28
3.3. Modelagem dos projetos ............................................................................................. 28
3.3.1. Projeto arquitetônico ......................................................................................... 28
3.3.2. Projeto estrutural ............................................................................................... 35
3.3.3. Projeto de instalações hidrossanitárias ............................................................ 39
3.3.4. Projeto de instalações elétricas ......................................................................... 42
3.4. Compatibilização dos projetos ................................................................................... 45
3.5. Correção das incompatibilidades ............................................................................... 47
3.6. Levantamento de custos .............................................................................................. 47
4. RESULTADOS PRELIMINARES ............................................................................ 48
4.1. Estrutura x Arquitetura ............................................................................................. 48
4.2. Estrutura x Hidrossanitário ....................................................................................... 51

iv
4.3. Estrutura x Elétrico .................................................................................................... 53
5. CONCLUSÕES............................................................................................................ 56
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 57
ANEXO A – PROJETOS ORIGINAIS EM CAD ............................................................... 62

v
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1 – Potencial de influência no custo final de um empreendimento de edifício e suas


fases. (Fonte: CII, 1987 apud MELHADO, 2005) ..................................................................... 5
Figura 2.2 – Nível de influência das fases do processo de produção sobre os custos. (Fonte:
BARRIE & PAULSON, 1978 apud SILVA & SOUZA, 2003) ................................................ 6
Figura 2.3 – Exemplo de projeto arquitetônico. (Fonte: Autor) ................................................. 7
Figura 2.4 - Exemplo de projeto estrutural. (Fonte: Autor)........................................................ 8
Figura 2.5 - Exemplo de projeto de instalação predial de água fria. (Fonte: Autor) ................ 10
Figura 2.6 - Exemplo de projeto de sistema de esgoto sanitário. (Fonte: Autor) ..................... 11
Figura 2.7 - Exemplo de projeto elétrico. (Fonte: Autor) ......................................................... 12
Figura 2.8 – Arranjo tradicional de equipe de projeto. (Fonte: Melhado, 2005) ..................... 13
Figura 2.9 - Arranjo de equipe multidisciplinar de projeto. (Fonte: Melhado, 2005) .............. 14
Figura 2.10 – Arranjo de equipe multidisciplinar com BIM. (Fonte: López & Rojas, 2013) . 15
Figura 2.11 – Compatibilização de projetos. (Fonte: Silva, 2004) ........................................... 17
Figura 2.12 – Esquema da utilização da plataforma BIM na cadeira produtiva da construção
civil. (Fonte: Manzione, 2014) ................................................................................................. 19
Figura 3.1 – Esquema da metodologia a ser desenvolvida. ...................................................... 25
Figura 3.2 – Fachadas: (a) lateral (b) principal. ....................................................................... 27
Figura 3.3 – Plantas baixa em CAD: (a) subsolo (b) térreo (c) tipo. ........................................ 31
Figura 3.4 – Composição da parede de alvenaria com acabamento final de pintura. .............. 32
Figura 3.5 – Composição da parede de alvenaria com acabamento final de revestimento
cerâmico.................................................................................................................................... 33
Figura 3.6 – Barra de propriedades. ......................................................................................... 33
Figura 3.7 – Modelagem da arquitetura no Revit. .................................................................... 34
Figura 3.8 – Detalhe arquitetônico: (a) modelagem 2D (b) modelagem 3D no Revit.. ............ 35
Figura 3.9 – Planta de forma do pavimento tipo, em CAD. ..................................................... 36
Figura 3.10 – Modelagem de viga com tecnologia BIM. ......................................................... 37
Figura 3.11 – Modelagem da estrutura no Tekla Structures..................................................... 38

vi
Figura 3.12 – Detalhe estrutural: (a) modelagem 2D (b) modelagem 3D no Tekla Structures.
.................................................................................................................................................. 38
Figura 3.13 – Projeto em CAD: (a) água fria (b) esgoto do pavimento tipo. ........................... 40
Figura 3.14 – Modelagem projeto hidrossanitário no Revit. .................................................... 41
Figura 3.15 – Detalhe da instalação hidrossanitária em banheiro no Revit. ............................. 42
Figura 3.16 – Projeto de instalações elétricas pavimento tipo, em CAD ................................. 43
Figura 3.17 - Modelagem projeto elétrico no Revit. ................................................................. 44
Figura 3.18 - Detalhe da instalação elétrica Revit. ................................................................... 44
Figura 3.19 – Modelo final compatibilizado no Tekla BIMSight. ............................................ 45
Figura 3.20 – Detalhe do modelo compatibilizado................................................................... 46
Figura 3.21 – Ferramenta Conflict Checking............................................................................ 46
Figura 4.1 – Incompatibilidade de níveis entre estrutura e arquitetura. ................................... 49
Figura 4.2 – Incompatibilidade nas sacadas entre estrutura e arquitetura. ............................... 50
Figura 4.3 – Incompatibilidade no shaft entre estrutura e arquitetura. ..................................... 50
Figura 4.4 – Incompatibilidade de níveis entre estrutura e hidrossanitário. ............................. 51
Figura 4.5 – Incompatibilidades na passagem da tubulação hidrossanitária: (a) em viga e laje
(b) em vigas. ............................................................................................................................. 52
Figura 4.6 - Incompatibilidades na passagem das tubulações hidrossanitárias nos shafts. ...... 53
Figura 4.7 - Incompatibilidade de níveis entre estrutura e elétrica. ......................................... 54
Figura 4.8 - Incompatibilidades na passagem das tubulações elétricas nos shafts. .................. 55

vii
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2.1 – Softwares com interface BIM. (Fonte: Costa, 2013) ........................................... 23
Tabela 3.1 – Modelos a serem compatibilizados para verificação de interferências. .............. 46
Tabela 4.1 – Comparação dos níveis do projeto original em CAD. ......................................... 49

viii
ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


BIM Building Information Modeling
CAD Computer Aided Design
IFC Industry Foundation Classes
fck Resistência característica à compressão do concreto
NBR Norma Brasileira Regulamentada
SINAPI Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil
URI Universidade Regional Integrada

ix
SÍMBOLOS

MPa Mega Pascal


cm centímetro
m metro
m² metro quadrado
° graus
°C graus Celsius

x
1. INTRODUÇÃO

O procedimento de execução de um projeto enfrenta contínuas transformações


com o passar das décadas, iniciado pela representação de desenhos bidimensionais utilizando-
se canetas a nanquim, passando para o uso de computadores, com softwares CAD (Computer
Aided Design). Em consequência à constante evolução dos softwares, os projetos em CAD
estão enfrentando mudanças com o surgimento de uma tecnologia que aplica o conceito da
Modelagem da Informação da Construção, ou, conhecidamente, BIM (Building Information
Modeling) ao desenvolvimento de projetos. Os projetos passam a ser modelados
tridimensionalmente e todas as informações referentes à construção são integradas em um só
modelo, o qual pode ser utilizado desde a concepção dos projetos, durante as obras e toda a
vida útil da edificação (ASBEA, 2013).
A plataforma BIM não é apenas um modelador 3D, mas deve ser tida como uma
filosofia de trabalho a qual integra os diversos profissionais envolvidos na elaboração de um
modelo virtual, desde arquitetos, engenheiros, até os construtores, agregando-se todas as
disciplinas de projeto. As suas características de interoperabilidade e modelagem paramétrica
permitem gerar objetos editáveis que podem ser alterados automaticamente e exportados,
obtendo-se um modelo integrado (MENEZES, 2011).
O modelo gerado é uma simulação da obra, ou seja, uma imagem mais precisa do
produto final a ser construído, através do qual é possível verificar todas as interferências entre
os projetos, realizar ajustes e correções, aperfeiçoando e complementando o projeto final
(ASBEA, 2015). Evita-se, assim, problemas de incompatibilidades, que antes só eram
identificados na fase de execução da obra, devendo ser solucionados diretamente no canteiro,
gerando maiores custos e atrasos no cronograma de execução (COSTA, 2013).
Com o objetivo de aplicar o conceito da tecnologia BIM para compatibilização
das disciplinas de projeto de um edifício, já projetado por alunos do curso de graduação em
Engenharia Civil da URI – Campus Erechim, o presente estudo busca identificar, corrigir e
estimar o custo das incompatibilidades encontradas no projeto analisado. Como ferramentas,

1
serão utilizados softwares que possuam a tecnologia BIM e que já são de conhecimento do
aluno.
A estruturação do trabalho se dá em cinco capítulos. Neste primeiro capítulo
apresenta-se a introdução da temática a ser desenvolvida e os objetivos a serem alcançados. A
revisão bibliográfica é abordada no segundo capítulo, onde são abordados conceitos,
definições e demais estudos realizados sobre o tema. O terceiro capítulo expõe a metodologia
empregada para execução do estudo, iniciando pela modelagem de cada disciplina de projeto,
a compatibilização, a correção das incompatibilidades e levantamento de custos. Os resultados
preliminares obtidos são apresentados e discutidos no quarto capítulo e, em sequência, no
quinto capítulo são realizadas as conclusões finais e descritas as atividades a serem
executadas na fase II do estudo.

1.1. Objetivos

Os objetivos foram divididos em objetivo geral e objetivos específicos.

1.1.1. Objetivo geral


Utilizar o conceito da tecnologia BIM (Building Information Modeling) como
ferramenta para a compatibilização das disciplinas do projeto de um edifício, desenvolvido
anteriormente na disciplina de Projeto Interdisciplinar, no curso de graduação de Engenharia
Civil da URI – Campus Erechim.

1.1.2. Objetivos específicos


Os objetivos específicos deste trabalho foram:
a) Analisar as ferramentas BIM utilizadas na compatibilização de projetos;
b) Aplicar as ferramentas BIM na compatibilização das disciplinas de projeto de
um edifício;
c) Identificar e corrigir as incompatibilidades encontradas com a aplicação das
ferramentas BIM na compatibilização de projeto ;
d) Verificar o custo para corrigir os erros encontrados nas incompatibilidades dos
projetos.

2
e) Difundir entre o meio acadêmico a importância da compatibilização de projetos
para identificação das interferências entre as disciplinas de projeto.

3
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo de revisão bibliográfica serão abordados os conceitos, definições e


demais estudos a respeito do tema em estudo. Inicialmente, será explanado o que é um
projeto, qual a sua influência sobre um empreendimento, disciplinas que o compõem e de que
maneira as equipes trabalham a fim de obter a melhor solução construtiva. Após, a
compatibilização de projetos será abordada de forma a criar uma ligação com o conceito da
tecnologia BIM, a qual busca criar um modelo virtual englobando projetos, informações,
custos e planejamento de uma edificação.

2.1. Projeto

Segundo CONFEA (2015), projeto é definido como o conjunto de todos os


elementos conceituais, técnicos, executivos e operacionais abrangidos pelas áreas de atuação e
atribuições dos profissionais da Engenharia. A NBR 13531 (ABNT, 1995) acrescenta que a
elaboração de um projeto se dá através da determinação e representação dos objetos de
projeto, ou seja, urbanização, edificação, elementos da edificação, instalação predial,
componentes construtivos e material para construção, mediante as técnicas próprias da
arquitetura e da engenharia.
O processo de projeto de uma edificação, é composto por etapas as quais dividem-
se em: levantamento, programa de necessidades, estudo de viabilidades, estudo preliminar,
anteprojeto e/ou pré-execução, projeto legal, projeto básico e projeto para execução
(ABNT/NBR 13531, 1995). Entretanto, Costa (2013) afirma que muitas vezes essas etapas do
processo são desconsideradas, o que resulta em impasses na fase de execução da obra, devido
a atrasos nos prazos e maiores custos.
Melhado (2005) destaca que o processo de projeto é um elo fundamental da cadeia
produtiva de um empreendimento, onde as decisões tomadas nas fases iniciais, ou seja, o
estudo de viabilidade, concepção e projeto, não influenciam a eficiência e custo final da
edificação, como ilustra a Figura 2.1. Contudo, de forma equivocada, inúmeras vezes o

4
processo de projeto é compreendido como um dispêndio de recursos antes do início da
execução da obra, sendo considerado como uma despesa a qual deve ser minimizada.

Figura 2.1 – Potencial de influência no custo final de um empreendimento de edifício e suas fases.
(Fonte: CII, 1987 apud MELHADO, 2005)

Entretanto, de acordo com Silva & Souza (2003), sabe-se que o projeto possui
elevado impacto sobre os custos diretos referentes à aquisição dos insumos e ao prazo de
execução da obra, e ainda, influência nos custo ao longo da vida útil da edificação, sendo
estes definidos durante a concepção do mesmo, conforme apresenta a Figura 2.2. O
desenvolvimento do projeto é uma fase do processo com elevada influência na determinação
dos custos e as despesas ainda são baixas ao comparar-se ao custo global acumulado. Ao
avançar o processo de produção, os projetos passam a ter baixa a possibilidade de influir
sobre os custos, já as despesas de construção, elevam-se rapidamente.

5
Figura 2.2 – Nível de influência das fases do processo de produção sobre os custos. (Fonte: BARRIE
& PAULSON, 1978 apud SILVA & SOUZA, 2003)

A otimização e o gerenciamento do processo de projetos são necessários afim de


definir com maior precisão os custos futuros, evitando-se erros e imprevistos durante a
execução. Além disso, a capacidade de prever e eliminar erros entre os projetos é possibilitada
através do processo de compatibilização, o qual visa melhorar a qualidade e aumentar a
racionalização da obra, buscando transmitir ao produto final aspecto de eficiência e controle
(COSTA, 2013).

2.1.1. Disciplinas de projeto


O projeto básico e/ou de execução, consiste nos principais conteúdos e elementos
técnicos correntes aplicáveis às obras e serviços em diversas especialidades. De acordo com
Confea (2015), as suas principais disciplinas são: projeto arquitetônico, estrutural, de
instalações hidrossanirárias, de instalações elétricas, entre outros.

2.1.1.1 Projeto Arquitetônico


Segundo a NBR 13532 (ABNT, 1995), o projeto de arquitetura deve contemplar a
concepção arquitetônica da edificação, seus elementos e componentes construtivos, a fim de
orientar e coordenar as demais atividades técnicas do projeto. É preciso abranger a
representação dos aspectos da edificação, ou seja, dos ambientes externos e internos, e
também, os aspectos arquitetônicos dos elementos de fundações, estruturas, coberturas, forros,
vedos verticais, revestimento e acabamentos, equipamentos de mobiliários, jardins e parques.

6
A Figura 2.3 apresenta um exemplo de projeto arquitetônico, sendo representada a planta
baixa do pavimento térreo de uma edificação.

Figura 2.3 – Exemplo de projeto arquitetônico. (Fonte: Autor)

2.1.1.2 Projeto Estrutural


A NBR 6118 (ABNT, 2014) determina que a solução adotada no projeto
estrutural atenda aos requisitos de qualidade estabelecidos nas normas técnicas, relativos à

7
capacidade resistente, ao desempenho em serviço e à durabilidade da estrutura, levando em
consideração as condições arquitetônicas, funcionais, construtivas e de integração com os
demais projetos (elétrico, hidráulico, ar-condicionado e outros) explicitadas pelos
responsáveis técnicos de cada especialidade. A Figura 2.4 apresenta um exemplo de projeto
estrutural.

Figura 2.4 - Exemplo de projeto estrutural. (Fonte: Autor)

8
2.1.1.3 Projeto de Instalações Hidrossanitárias
O projeto de instalações hidrossanitárias engloba o projeto hidráulico de
instalação predial de água fria e/ou quente e de esgoto sanitário.
A NBR 5626 (ANBT, 1998) define que a instalação predial de água fria é o
sistema composto por tubos, reservatórios, equipamentos e outros componentes destinados a
conduzir água fria da fonte de abastecimento aos pontos de utilização. Logo, o projeto deve
respeitar os princípios de bom desempenho da instalação, preservar a potabilidade da água,
garantir o fornecimento de água de forma contínua, evitar níveis de ruídos inadequados, além
de proporcionar conforto aos usuários. O projeto de instalação predial de água quente é
normatizado pela NBR 7198 (ABNT, 1993), a qual determina que este deve seguir as
exigências técnicas quanto à higiene, segurança, economia e conforto dos usuários,
respeitando que a temperatura máxima de água quente para uso humano é de 70°C. A Figura
2.5 apresenta um exemplo do projeto de instalação de água fria.

9
Figura 2.5 - Exemplo de projeto de instalação predial de água fria. (Fonte: Autor)

A NBR 8160 (ABNT, 1999) estabelece as exigências e recomendações quanto ao


projeto dos sistemas prediais de esgoto sanitário, determinando os conjuntos de tubulações e
dispositivos necessários à coleta e transporte dos despejos provenientes do uso da água para
fins higiênicos a um destino apropriado. O sistema deve ser projetado de modo a evitar a
contaminação da água, permitir o rápido escoamento dos despejos, impedir que os gases
gerados atinjam áreas de utilização, permitir a inspeção dos componentes do sistema, entre
outras recomendações. A Figura 2.6 exibe um exemplo de projeto de esgoto sanitário.

10
Figura 2.6 - Exemplo de projeto de sistema de esgoto sanitário. (Fonte: Autor)

2.1.1.4 Projeto Elétrico


Os projetos elétricos devem orientar-se pelas NBR’s 14039 (ANBT, 2005) e 5410
(ABNT, 2004), entre outras, as quais determinam que o projeto inicia-se pelo levantamento
das cargas dos equipamentos elétricos que serão instalados a fim de designar a potência de
alimentação e outras características como, tensão nominal e fatores de potência. Além disso,
estabelecem as condições a serem satisfeitas pelas instalações elétricas com o objetivo
garantir a segurança de pessoas e animais, o funcionamento adequado da instalação e a

11
conservação dos bens, observando as normas para fornecimento de energia estabelecidas
pelas autoridades reguladoras e pelas empresas distribuidoras de eletricidade. A Figura 2.7
apresenta um exemplo de projeto de instalações elétricas.

Figura 2.7 - Exemplo de projeto elétrico. (Fonte: Autor)

12
2.1.2. Equipes de projeto
Melhado (2005) ressalta que o setor de projetos vêm sofrendo mudanças ao passar
dos anos, agregando novas disciplinas de projeto, devido à inserção de tecnologias, métodos e
sistemas construtivos, o que tornou o processo multidisciplinar. Tal característica, trouxe
complexidade à gestão de projetos e reformulação ao tradicional arranjo aplicado às equipes
de projetos, conforme mostra a Figura 2.8.

Figura 2.8 – Arranjo tradicional de equipe de projeto. (Fonte: Melhado, 2005)

No arranjo tradicional, diversos especialistas responsabilizam-se por parcelas


menores do projeto e dependem de dados de terceiros, o que causa diversas interferências
(COSTA, 2013). Este arranjo é caracterizado como sendo fragmentado, independente e
desintegrado. Em comparação, o arranjo da equipe de projeto multidisciplinar abrange a
integração das disciplinas entre si, proporcionando um conjunto harmônico e coerente através
da compatibilização das mesmas, o que trás conformidade do produto frente aos requisitos do
cliente e a execução. Neste conceito de multidisciplinaridade, cada disciplina é orientada por
um especialista e surge a necessidade de um profissional responsável por manter a unidade do
processo (MELHADO, 2005).

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Figura 2.9 - Arranjo de equipe multidisciplinar de projeto. (Fonte: Melhado, 2005)

Conforme mostra a Figura 2.9, apresentada por Melhado (2005), a equipe


multidisciplinar trabalha de forma colaborativa, onde as decisões de projeto resultam de
análises e discussões dos diversos profissionais envolvidos, buscando as soluções mais
satisfatórias para o empreendimento. A coordenação de projetos é o centro da equipe, a qual
dá suporte ao desenvolvimento do processo através do planejamento, organização e gestão das
decisões, melhorando, assim, a qualidade dos projetos.
Atualmente, uma nova organização das equipes de trabalho começa a surgir com a
chegada da tecnologia BIM, exigindo profissionais com conhecimento de arquitetura e
engenharia, dos softwares e experiência em obras, para que as tarefas sejam desenvolvidas
com confiabilidade. A equipe passa a assumir funções de projeto e de gestão da informação,
podendo um mesmo profissional desempenhar um ou vários papéis, conforme o porte do
escritório, características e tipo de projetos (ADDOR, 2010). A Figura 2.10 apresenta o
modelo BIM como plataforma de comunicação de projeto, apresentando um novo arranjo da
equipe de trabalho.

14
Figura 2.10 – Arranjo de equipe multidisciplinar com BIM. (Fonte: López & Rojas, 2013)

López & Rojas (2013) explicam que através do BIM a equipe trabalha
conjuntamente em um único modelo composto pelas diversas disciplinas, onde todas
informações são coordenadas e atualizadas a cada modificação realizada, permitindo assim,
unificar e interligar o modelo arquitetônico com os demais projetos (instalações, estruturas,
topografia, medições e orçamentos, planejamentos, analises de eficiência energética, entre
outros).
Campestrini (2015) complementa que:
“Com BIM é possível contratar uma única equipe de projetos e ainda ter
inúmeros projetos diferentes até a definição das melhores soluções para o
projeto a ser executado no canteiro de obras. Esta é a possibilidade oferecida
pelo BIM. Utilizando um modelo computacional, a equipe colaborativa do
projeto pode propor inúmeras soluções para as diversas necessidades do
empreendimento, e, mantendo no projeto apenas as melhores soluções
encontradas, tem-se um projeto melhor.”

Quanto à coordenação do projeto, em projetos desenvolvidos no conceito BIM, o


coordenador deve exercer atividades relacionadas às questões de colaboração da equipe, de
gestão das informações e gestão do modelo BIM. Além disso, é responsável por ordenar os
processos de desenvolvimento de projetos de cada profissional, fazendo com que cada

15
membro da equipe possua todas as informações necessárias para desenvolver seu trabalho
(CAMPESTRINI, 2015).
É necessário ainda diferenciar a coordenação de um projeto e a sua
compatibilização. Melhado (2005) distingue esses termos explicando que a coordenação
envolve a integração entre os diversos profissionais, promovendo discussões até a
viabilização da solução do projeto, podendo conter incoerências entre as informações
produzidas pelos diferentes membros da equipe de projeto. Já a compatibilização, enfatiza a
busca por interferências através da sobreposição dos projetos, e os erros são encontrados para
que a coordenação possa solucioná-los.

2.2. Compatibilização de projetos

Mikaldo & Scheer (2008) afirmam que a evolução da tecnologia e do ramo da


construção levou à segmentação das etapas de elaboração de projetos e, em consequência,
dificultou a comunicação e integração das equipes, logo, construtores distanciaram-se das
atividades de projeto, e projetistas da execução dos sistemas por eles projetados. Costa (2013)
acrescenta que os projetos passaram a apresentar incompatibilidades encontradas durante a
etapa de execução da obra, acarretando em aumento dos custos no valor final da mesma,
devido a retrabalhos e atrasos e, ainda, a perda de tempo para encontrar a melhor solução para
o problema.
Neste contexto, surge a necessidade da compatibilização dos projetos, a qual é
explicada por Callegari & Barth (2007), como uma atividade constante de gerenciamento e
integração que busca o perfeito ajuste dos projetos de uma edificação. A compatibilização
detecta falhas relacionadas às interferências e inconsistências geométricas entre os
subsistemas da edificação e, ao reduzir estes conflitos, simplifica a execução, proporcionando
maior controle de qualidade ao empreendimento, além de otimizar materiais, mão-de-obra e
tempo.
Sousa (2010) acrescenta que compatibilizar deve ir além de sobrepor
geometricamente os desenhos, pois esta ferramenta está relacionada com todo o processo de
desenvolvimento do projeto, abrangendo de forma integrada o planejamento, a concepção e a
construção da edificação. De acordo com Mikaldo & Scheer (2008), além de proporcionar
soluções eficientes e racionais para os projetos, a compatibilização minimiza a falta de

16
integração e comunicação entre as equipes envolvidas, facilitando a identificação de possíveis
falhas ocasionadas pelo distanciamento da equipe.
Silva (2004) indica que avaliar, compatibilizar e integrar os projetos de um
empreendimento são os aspectos que devem ser abordados no processo de compatibilização
durante as fases de estudo preliminar, anteprojeto e projeto executivo, conforme apresenta a
Figura 2.11.

Figura 2.11 – Compatibilização de projetos. (Fonte: Silva, 2004)

A compatibilização inicia-se na avaliação das soluções propostas durante a fase de


estudos preliminares, avaliando o partido arquitetônico adotado com as alternativas para a
composição estrutural e de instalações prediais. Nas fases do anteprojeto e projeto executivo,
busca-se compatibilizar as soluções dos diversos projetos, investigando e resolvendo as
interferências dimensionais, tecnológicas e produtivas. Por fim, a partir da compatibilidade do
projeto executivo, há a integração com as soluções e especificações adotadas nos diversos
projetos (SILVA, 2004 apud NOVAES, 1996).
Tavares (2001) salienta que as incompatibilidades, encontradas durante a
compatibilização dos projetos, devem ser solucionadas a fim de alcançar a qualidade da
edificação, tendo em vista que estas não-conformidades levam à diversos problemas e
patologias. Entretanto, apesar do avanço tecnológico no ramo da construção no Brasil, há um
grande número de empresas, principalmente as de menor porte, que ainda não aderiram ao
processo de compatibilização das disciplinas de projeto, devido a fatores econômicos e a

17
inércia às alterações no processo, gerando assim, fatores negativos como má qualidade da
edificação, maior índice de retrabalhos, acréscimo no custo da obra.

2.3. Tecnologia BIM

A Modelagem da Informação da Construção (em inglês, Building Information


Modeling – BIM) é uma tecnologia promissora no ramo da arquitetura, engenharia e
produção, através da qual é possível obter um modelo virtual preciso de uma edificação,
contendo a geometria exata e dados essenciais para a sua construção. O uso do BIM
proporciona avanços significativos no desenvolvimento de projetos, beneficiando a equipe do
empreendimento por meio de um melhor planejamento e simulação dos processos
construtivos, aumentando a qualidade do projeto por reduzir incompatibilidades e, ainda,
minimizar tempo e recursos despendidos (EASTMAN et al., 2014).
Addor (2010) destaca que ainda hoje, no Brasil, em grande parte dos
empreendimentos, o processo de execução de projetos e planejamento das atividades de uma
obra, são baseados em modelos bidimensionais, desenvolvidos separadamente conforme as
várias especialidades (arquitetura, estrutura, hidráulica, elétrica, entre outros). Sendo assim, os
documentos, desenhos 2D na tela ou impressos, são independentes entre si, e havendo
modificações em uma planta, corte ou fachada, os demais documentos devem ser alterados
por consequência.
Para Coelho & Novaes (2008) os sistemas baseados na tecnologia BIM “podem
ser considerados uma nova evolução dos sistemas CAD (Computer-Aided Design), pois
gerenciam a informação no ciclo de vida completo de um empreendimento de construção,
através de um banco de informações inerentes a um projeto, integrando a modelagem em três
dimensões”. Delatorre & Santos (2014) acrescentam que a mudança da forma tradicional de
desenvolvimento de projetos de construção civil, normalmente baseada no uso de ferramentas
CAD, para o BIM, torna a construção seja mais eficiente, pois cria uma interface que permite
a produção e gerenciamento de toda a informação, sendo todas as disciplinas compartilhadas
de maneira simples e fácil.
Segundo López & Rojas (2013), para compreender o conceito do BIM é
necessário definir cada uma das palavras que compõem a sigla:

18
- B (building = edifício): remete à todo o ciclo de vida da edificação, ou seja,
desde o estudo de zoneamento, concepção, projeto, processo construtivo, operação,
reabilitação e, até mesmo, demolição;
- I (information = informação): refere-se à toda informação gerada a partir de um
banco de dados único, contendo projetos, plantas, cortes, detalhamentos, memórias de cálculo,
quantitativos, contratos, orçamentos, cronogramas, memoriais;
- M (modeling = modelagem): compreende um modelo virtual de construção
composto por todas as disciplinas de uma edificação (arquitetura, estrutura, topografia,
fundação, instalações, paisagismo, urbanismo).
Assim sendo, um modelo gerado na plataforma BIM concentra todas as
informações de todas as disciplinas de um projeto, de modo a otimizar a manipulação dos
dados e o processo de projeto. Além do desenvolvimento do projeto, integra também toda a
cadeia produtiva da construção, de modo a promover uma relação de interdependência entre
os participantes do setor de maneira direta, iniciando no projeto, planejamento,
subcontratados de obra, obra, pós-ocupação e manutenção (ADDOR, 2010), conforme
demonstra a Figura 2.12.

Figura 2.12 – Esquema da utilização da plataforma BIM na cadeira produtiva da construção civil.
(Fonte: Manzione, 2014)

19
Ao modelar o ciclo de vida de uma edificação por meio da tecnologia BIM, o
processo de projeto e construção torna-se mais integrado e proporciona grandes desafios e
oportunidades para os profissionais na área de projetos. Como resultado, obtém-se
construções de melhor qualidade com custo e prazo de execução reduzidos, sendo esta
qualidade do projeto duradoura, trazendo benefícios para toda a vida útil do edifício
(EASTMAN et al., 2014).
Salienta-se que o modelo desenvolvido pela plataforma BIM é uma construção
virtual, através da qual pode-se quantificar, planejar, coordenar, recuperar informações em
qualquer período da vida do empreendimento, verificar interferências, testar alternativas de
projeto e ensaiar o comportamento do modelo sob ação dos diversos agentes (ADDOR,
2010). Segundo Eastman et al.(2014), esta tecnologia é sintetizada como “uma simulação
inteligente da arquitetura” pela M.A. Mortenson Company, uma construtora que tem usado
extensamente ferramentas BIM em seus empreendimentos, que afirma também que essa
simulação deve apresentar seis características principais:
- Digital: ser paramétrica;
- Espacial: simular o processo em três ou mais dimensões;
- Mensurável: ser quantificável, dimensionável e consultável;
- Abrangente: conter o máximo de informações da edificação, incorporando e
comunicando a intenção de projeto, o desempenho da construção, o comportamento dos
sistemas, e incluir aspectos sequenciais e financeiros de meios e métodos;
- Acessível: ser de fácil acesso à toda a cadeia produtiva, equipes do
empreendimento e ao proprietário, por meio de uma interface interoperável de softwares;
- Durável: ser utilizada em todo o ciclo de vida do empreendimento.
Neste propósito de ter todas as informações para a gestão de um projeto, obra e
toda a vida útil de uma edificação, em uma mesma plataforma, surgem as chamadas
dimensões do BIM (MATTOS, 2014). Segundo Campestrini (2015), essas dimensões
referem-se a como a ferramenta está programada e que tipo de informação poderá ser retirada,
por consequência.
BIM 3D: é a consolidação dos projetos da obra em um ambiente virtual em três
dimensões. Contém todos os elementos necessários para sua caracterização e posicionamento
espacial, permitindo a sua visualização e compatibilização a fim de identificar possíveis
inconsistências entre os diversos projetos, como uma esquadria posicionada de forma errada,

20
uma instalação passando por um elemento estrutural, etc. É possível extrair informações sobre
especificações de materiais e acabamentos, quantitativo de materiais, soluções para
revestimento, entre outros. (ADDOR, 2010; MATTOS, 2014; CAMPESTRINI, 2015).
BIM 4D: os elementos gráficos são complementados com o cronograma da obra,
por meio de informações de prazos, número e produtividade das equipes, sequência
construtiva. Permite ao gestor acompanhar o avanço físico da execução e, no ponte de vista
mercadológico, propicia a gravação de vídeos da evolução da obra para os clientes
(MATTOS, 2014; CAMPESTRINI, 2015).
BIM 5D: acrescenta-se ao modelo a dimensão do custo, ou seja, custos dos
serviços, materiais, mão de obra, equipamentos, despesas diretas e indiretas. Possibilita retirar
informações como o custo de cada atividade e curvas ABC, e ainda, no caso de alterações de
projeto, o orçamento é atualizado (MATTOS, 2014; CAMPESTRINI, 2015).
BIM 6D: este modelo permite programar as informações sobre o uso da edificação
e o gerenciamento do seu ciclo de vida. Pode-se controlar a garantia dos equipamentos, planos
de manutenção, dados de fabricantes e fornecedores, consumos de água e energia, e até
mesmo fotos (MATTOS, 2014; CAMPESTRINI, 2015).
Em suma, quanto mais dimensões tiver o modelo, maiores serão os tipos de
informações possíveis de serem modeladas a partir deles, tornando as tomadas de decisão
mais complexas e acertadas (CAMPESTRINI, 2015). De acordo com Eastman et al. (2014)
desta maneira, a tecnologia BIM dá suporte e incrementa muitas práticas do setor da
construção, gerando inúmeros benefícios e ganhos significativos.

2.3.1. Interoperabilidade
O modelo BIM é composto por diversos modelos específicos como arquitetura,
estruturas, instalações, planejamento, custos, os quais são desenvolvidos em softwares
específicos e, após, integrados em uma única plataforma (CAMPESTRINI, 2015). Para este
fim, tornou-se necessária a criação de padrões que tornassem possível a troca de dados entre
os diferentes aplicativos, mantendo a consistência das informações (CHECCUCCI et al.,
2011). Sendo assim, a interoperabilidade trabalha com a criação de normas para que esse
processo de importação/exportação ocorra sem ocasionar a perda de dados (COSTA, 2013).
Eastman et al. (2014) explicam que a interoperabilidade representa a necessidade
de passar dados entre aplicações, de forma a permitir que diversos profissionais participem do

21
trabalho em questão, desta forma não é necessário replicar a entrada de dados, facilitando o
fluxo de trabalho. Com a finalidade de possibilitar a interoperabilidade, Campestrini (2015)
explica que instituiu-se uma linguagem padrão internacional, chamada Industry Foundation
Classes (IFC).
O IFC é o padrão neutro estabelecido para troca de dados, gerado pela
BuildingSMART International, que tem por objetivo permitir a representação de toda a
edificação em um modelo numérico, por meio de estruturas de dados chamadas classes,
através da decomposição dos objetos em componentes básicos: geometria, relações e
propriedades (CHECCUCCI et al., 2011). Portanto, independentemente do software utilizado
pelos profissionais envolvidos, a partir do IFC do modelo é possível gerar um modelo
integrado (CAMPESTRINI, 2015).
López & Rojas (2013) acrescentam que a interoperabilidade proporciona uma
grande economia de horas de trabalho e comunicação ágil e em tempo real entre os
profissionais envolvidos de maneira colaborativa em um projeto. O simples fato de poder
importar toda a geometria de um edifício, com suas instalações e estrutura, faz com que os
projetos adquiram outro nível de eficiência e qualidade para seu desenvolvimento.

2.3.2. Modelagem paramétrica


Um projeto em seu processo de desenvolvimento é frequentemente revisado e
modificado. Para tal finalidade, desenvolveu-se a modelagem paramétrica afim de auxiliar na
elaboração e alterações específicas de partes do projeto (FLORIO, 2007). Este conceito de
objetos paramétricos é primordial para a compreensão da tecnologia BIM e a sua
diferenciação dos objetos 2D tradicionais, pois os objetos são representados por parâmetros e
regras que determinam a geometria, assim como algumas propriedades e características não
geométricas (EASTMAN et al., 2014).
Os sistemas BIM utilizam modelos paramétricos dos elementos construtivos de
uma edificação e permitem o desenvolvimento de alterações dinâmicas no modelo gráfico,
que refletem em todas as pranchas de desenho associadas, bem como nas tabelas de
orçamento e especificações (COELHO & NOVAES, 2008).
Ruschel (2014) explica que através da parametrização dos objetos e informações,
como materiais, fornecedores, especificações, a modelagem BIM oferece recursos para extrair
de forma automática representações (planta, corte, vista e perspectiva) e tabelas de dados,
cronogramas, orçamentos.

22
EASTMAN et al. (2014) acrescenta que não são permitidas inconsistências nos
objetos BIM paramétricos. Portanto, uma planta e uma elevação de dado objeto devem
sempre ser consistentes. Outra facilidade da parametrização é que as regras paramétricas são
associadas, e dessa forma a geometria dos objetos modifica-se quando inserido em um
modelo de construção ou quando modificações são feitas em objetos associados.

2.3.3. Ferramentas BIM


As ferramentas BIM são baseadas em modelagem paramétrica, apresentando
conjuntos de famílias de objetos, com características e propriedades inerentes. Atualmente há
no mercado diversos softwares de geração de modelos de construção no conceito BIM, que
são voltadas para atividades de projeto de arquitetura, engenharia estrutural, instalações
elétricas, hidráulicas e áreas afins (GOES, 2011; EASTMAN et al., 2014). A Tabela 2.1
apresenta uma relação de alguns dos softwares disponíveis.

Tabela 2.1 – Softwares com interface BIM. (Fonte: Costa, 2013)


Disciplina de Projeto Software BIM
Revit Architecture
ArchiCAD
ARQUITETURA Vectorwords Architect
Bentley Architecture
Digital Project
Tekla Structures
Revit Structure
CAD/TQS
Bently Structural
ESTRUTURA
Allplan
StruCAD
ProSteel 3D
CYPECAD
Revit
AutoCAD MEP
ArchiCAD MEP
ELÉTRICA / HIDRÁULICA
Bentley (Buildind Electrical Systems /
Mechanical System)
MagiCAD

O Revit Architecture é o mais conhecido software para uso do BIM em projetos


arquitetônicos, sendo introduzido ao mercado pela Autodesk no ano de 2002. Seus pontos
favoráveis são a facilidade no aprendizado e sua funcionalidade organizada em uma interface
simples e bem projetada (EASTMAN et al., 2014). Uma de suas maiores vantagens é o
mecanismo de alteração paramétrica, ou seja, ao realizar-se uma alteração em uma planta ou

23
vista, por exemplo, simultaneamente ocorrerá esta mudança nas outras vistas (SAUGO,
2013).
O Tekla Structures é um software capaz de modelar estruturas de aço, concreto
pré-moldado e armado, madeira e para engenharia estrutural. Esta versatilidade em modelar
estruturas que incorporam todos os tipos de materiais estruturais e detalhamento é um de seus
pontos fortes, juntamente à sua habilidade em dar suporte em operações simultâneas no
mesmo projeto com múltiplos usuários ao mesmo tempo (EASTMAN et al., 2014).
EASTMAN et al. (2014) acrescentam que existem muitas outras ferramentas de
projeto, análise, verificação, exibição e relatórios que podem exercer papel importante nos
procedimentos BIM.

24
3. METODOLOGIA

Para o desenvolvimento deste trabalho, adotou-se uma metodologia de estudo de


caso, em que será analisado um projeto de uma edificação por meio da compatibilização,
aplicando o conceito da tecnologia BIM. A Figura 3.1 apresenta de forma resumida os
métodos a serem aplicados.

Figura 3.1 – Esquema da metodologia a ser desenvolvida.

Inicialmente, nesta primeira etapa do trabalho, os projetos arquitetônicos,


estruturais e de instalações elétricas e hidrossanitárias, originalmente em 2D, foram
modelados em 3D através de softwares que possuem a tecnologia BIM, possibilitando assim,
a visualização tridimensional e melhor compreensão dos mesmos. Após a modelagem, os
projetos foram compatibilizados utilizando software específico, possibilitando a identificação
das incompatibilidades a serem corrigidas. Por fim, na disciplina de PCF II, serão realizadas

25
as correções das incompatibilidades, averiguado o custo estimado de material e mão de obra
para a execução das correções das interferências encontradas.
A seguir apresenta-se a descrição do empreendimento, as ferramentas utilizadas
e a metodologia adotada para a modelagem de cada disciplina, compatibilização e
levantamento de custos. Ressalta-se que não será avaliado o dimensionamento de cada
disciplina de projeto, mas sim as interferências que poderão ocorrer entre as mesmas.

3.1. Descrição do empreendimento

O projeto analisado será de um edifício comercial/residencial desenvolvido por


alunos na disciplina de Projeto Interdisciplinar do curso de Engenharia Civil da URI –
Campus Erechim. Os projetos arquitetônicos, estruturais e de instalações, assim como
memoriais descritivos e outros documentos, foram cedidos pela coordenação do curso e
encontram-se no Anexo A.
O projeto compreende uma edificação de 1.233,55 m² composta por quatro
pavimentos, sendo dividido em térreo (215,58 m²), três pavimentos-tipo (254,23 m² cada),
ático (19,03 m²) e subsolo destinado à garagem (236,25 m²). O pavimento térreo possui duas
salas comerciais (43,73m² e 50,00 m²), salão de festas (57,76 m²), hall de entrada e a área de
circulação. Cada pavimento-tipo é constituído por dois apartamentos de 132,42m² cada um,
com 03 dormitórios (01 suíte), sala de estar/jantar, circulação, cozinha, área de serviço, banho
social e 03 sacadas. O ático é destinado aos reservatórios e o subsolo possui capacidade pra 06
veículos. O edifício não possui elevadores, portanto a ligação entre os pavimentos é feita
através de escada. A Figura 3.2 apresenta as fachadas do empreendimento, conforme o projeto
recebido através da coordenação.

26
(a)

(b)
Figura 3.2 – Fachadas: (a) lateral (b) principal.

27
3.2. Ferramentas

Os softwares a serem utilizados no desenvolvimento do estudo são:


- Autodesk AutoCad: visualização e formatação dos projetos iniciais;
- Autodesk Revit: modelagem do projeto arquitetônico, de instalações elétricas e
hidrossanitárias, na tecnologia BIM;
- Tekla Structures: modelagem do projeto estrutural, na tecnologia BIM;
- Tekla BIMSight: compatibilização dos projetos, na tecnologia BIM;
- Microsoft Excel: tabelas de orçamento e custo.

3.3. Modelagem dos projetos

A partir dos projetos originais bidimensionais, em CAD, realizou-se uma


preparação nas plantas baixas, retirando informações desnecessárias que poderiam atrapalhar
as demais etapas, como por exemplo, textos, cotas, hachuras, humanizações, entre outros.
Cada planta foi salva em um arquivo separado para ser inserido, posteriormente, no software
de modelagem BIM, por meio do sistema “importar CAD”.
A modelagem dos projetos em três dimensões, por meio da tecnologia BIM,
desenvolveu-se em quatro etapas: arquitetura, estrutura, instalações hidrossanitárias e
instalações elétricas. Cada um dos projetos foi modelado com base em templates próprios de
cada disciplina, e, em seguida, agrupados em um único arquivo para a compatibilização.

3.3.1. Projeto arquitetônico


A partir do projeto original, o projeto arquitetônico foi o primeiro a ser modelado
por meio da tecnologia BIM, através do software Revit. A Figura 3.3 apresenta a planta baixa
do subsolo, pavimento térreo e tipo, em CAD, da edificação a ser estudada.

28
(a)

29
(b)

30
(c)

Figura 3.3 – Plantas baixa em CAD: (a) subsolo (b) térreo (c) tipo.

Conforme o memorial descritivo, todas as paredes de alvenaria terão função de


vedação, sendo as externas de 20 cm e as internas de 15 cm. As paredes em áreas molhadas

31
serão revestidas com revestimento cerâmico. As esquadrias compreendem portas e janelas
compostas de madeira ou alumínio com vidro. Os pisos empregados serão cerâmico e
laminado, enquanto que no subsolo, bloco de concreto intertravado permeável. O forro será de
gesso e o telhado possuirá estrutura de madeira e telha de fibrocimento.
O primeiro passo para a modelagem da arquitetura no Revit foi a criação dos
níveis de projeto para a posterior importação das plantas bidimensionais. Os níveis de projeto
representam a altura vertical dos andares da edificação, sendo que foram criados um nível
para cada pavimento. Em seguida, iniciou-se a modelagem dos elementos construtivos
(paredes, esquadrias, pisos, revestimentos, telhado e outros) no software.
A modelagem das paredes foi realizada a partir de um modelo já existente no
programa, sendo alteradas as características de materiais e espessuras, criando as camadas que
compõe cada parede. A estrutura de cada parede foi definida como sendo composta por cinco
camadas, conforme apresenta a Figura 3.4 e Figura 3.5.

Figura 3.4 – Composição da parede de alvenaria com acabamento final de pintura.

32
Figura 3.5 – Composição da parede de alvenaria com acabamento final de revestimento cerâmico.

Para as paredes de 20 cm, adotou-se tijolo cerâmico com espessura de 14 cm e,


para as paredes de 15 cm, tijolo cerâmico de 09 cm. Nas camadas de revestimento e
acabamento, simulou-se uma camada única de emboço e, como camada final, pintura ou
revestimento cerâmico. As alturas foram determinadas na barra de propriedades, a qual
também permite estipular o nível inicial (restrição da base) e final (restrição superior) da
parede, conforme a Figura 3.6.

Figura 3.6 – Barra de propriedades.

33
Em sequência, foram inseridas as esquadrias, sendo as portas e janelas
configuradas quanto ao seu material e dimensões. Por fim, foi inserido o telhado, adotando-se
telha de fibrocimento e definindo suas inclinações, bem como, os pisos.
A Figura 3.7 apresenta a modelagem final do projeto arquitetônico, composta por
paredes, esquadrias, pisos, revestimentos e elementos de fachada. A Figura 3.8 mostra um
detalhe da modelagem bi e tridimensional, no software Revit.

Figura 3.7 – Modelagem da arquitetura no Revit.

34
(a) (b)
Figura 3.8 – Detalhe arquitetônico: (a) modelagem 2D (b) modelagem 3D no Revit..

3.3.2. Projeto estrutural


Após o projeto arquitetônico, passou-se para a modelagem do projeto estrutural
com a tecnologia BIM, através do software Tekla Structures. A documentação do projeto
estrutural recebida continha as plantas de locação e detalhamento dos elementos estruturais de
todos os pavimentos. A Figura 3.9 exibe a planta de forma do pavimento tipo, em CAD.

35
Figura 3.9 – Planta de forma do pavimento tipo, em CAD.

Conforme os projetos originais, a edificação possui estrutura em concreto armado


(fck 25,0 MPa) com fundação, tipo sapata, pilares, vigas e lajes maciças. É importante
salientar que não havia indicações de furos nos elementos estruturais, prevendo a passagem
das instalações.
A partir do projeto original, realizou-se a modelagem da estrutura no software
Tekla Structures, seguindo as dimensões dos elementos estruturais que constavam nas plantas

36
de forma, sem efetuar alterações. A volumetria dos elementos foi lançada, iniciando-se pelas
sapatas, seguido pelos pilares, vigas e lajes de todos os pavimentos. Para cada elemento
estrutural, informou-se dados referentes às suas dimensões, seção e comprimento. A Figura
3.10 apresenta a modelagem de uma viga no software Tekla Structures, com a tecnologia BIM

Figura 3.10 – Modelagem de viga com tecnologia BIM.

A Figura 3.11 apresenta a modelagem final do projeto estrutural, composta por


todos os elementos estruturais. A Figura 3.12 mostra um detalhe da modelagem bi e
tridimensional, no software Tekla Structures.

37
Figura 3.11 – Modelagem da estrutura no Tekla Structures.

Figura 3.12 – Detalhe estrutural: (a) modelagem 2D (b) modelagem 3D no Tekla Structures.

38
3.3.3. Projeto de instalações hidrossanitárias
O projeto de instalações hidrossanitárias é composto pelos projetos de água fria e
esgoto. Cada um destes inclui componentes específicos como tubulações, conexões,
reservatórios, hidrômetros, registros, ralos, caixas de passagem, bombas, entre outros. A
Figura 3.13 apresenta os projetos de instalações do pavimento tipo em CAD

39
(a)

(b)
Figura 3.13 – Projeto em CAD: (a) água fria (b) esgoto do pavimento tipo.

Conforme os projetos recebidos, as instalações de água fria e esgoto serão em


tubulação de PVC. A tubulação de água fria será embutida na alvenaria, passando embaixo da
laje. O edifício contará com shafts para a passagem de todas as tubulações.

40
Para a modelagem do projeto hidrossanitário, empregou-se o software Revit,
seguindo as dimensões do projeto original. Destaca-se que no projeto não havia indicações
referentes às inclinações das tubulações e, portanto, foi necessário consultar a NBR 8160
(ABNT, 1999) a fim de adequar as inclinações.
Primeiramente, configurou-se os diâmetros para os sistemas de tubulação e tipos
de conexão entre as tubulações. A partir destas configurações, pode-se iniciar a instalação dos
equipamentos hidrossanitários das cozinhas, lavanderias e banheiros. Posteriormente,
instalou-se os reservatórios e as entradas de água de descida das prumadas. Tendo todos os
equipamentos instalados e os diâmetros de entrada e saída de cada um destes, pode-se inserir
as tubulações. Seguindo procedimento semelhante, as tubulações de água fria foram
modeladas, onde para cada uma das instalações, adotou-se uma cor para o sistema (marrom
para esgoto e azul para água fria).
A Figura 3.14Figura 3.7 apresenta a modelagem final do projeto hidrossanitário,
composto pelo projeto de água fria e esgoto, no software Revit. A Figura 3.15 mostra um
detalhe da modelagem bi e tridimensional, também software Revit.

Figura 3.14 – Modelagem projeto hidrossanitário no Revit.

41
Figura 3.15 – Detalhe da instalação hidrossanitária em banheiro no Revit.

3.3.4. Projeto de instalações elétricas


A modelagem do projeto de instalações elétricas também utilizou o software
Revit, seguindo o projeto original disponibilizado. A Figura 3.16 apresenta os elementos
como pontos de tomada e iluminação em CAD.

42
Figura 3.16 – Projeto de instalações elétricas pavimento tipo, em CAD

A modelagem iniciou pelos conduítes, caixas de passagem, pontos de tomadas,


interruptores e luminárias. Adotou-se uma metodologia em que as caixas de passagem foram
posicionadas embaixo da laje, nos pontos onde foram previstas as luminárias. Já as caixas de
tomadas e interruptores, foram dispostas nas paredes. Todas as caixas foram ligadas por
eletrodutos corrugados flexíveis. Em seguida, locou-se os quadros de distribuição.

43
A Figura 3.17Figura 3.7 apresenta a modelagem final do projeto elétrico no
software Revit. A Figura 3.18 mostra um detalhe da modelagem bi e tridimensional, também
software Revit.

Figura 3.17 - Modelagem projeto elétrico no Revit.

Figura 3.18 - Detalhe da instalação elétrica Revit.

44
3.4. Compatibilização dos projetos

Concluída a modelagem dos projetos, iniciou-se a fase de compatibilização, a fim


de detectar as interferências entre os modelos. A ferramenta utilizada foi o software Tekla
BIMSight, onde os quatro arquivos de projeto com tecnologia BIM, foram exportados em
formato IFC e, então, compilados em um único modelo. Por meio dos arquivos IFC, mantém-
se um link entre os modelos criados com a tecnologia BIM, os quais podem ser alterados a
qualquer momento e, então, atualizados no modelo de compatibilização, evitando o retrabalho
de locar o modelo novamente. O modelo completo composto por todas as disciplinas
compatibilizadas é observado na Figura 3.19. A Figura 3.20 apresenta um corte do modelo
compatibilizado, onde observa-se a arquitetura, a estrutura e as instalações elétricas e
hidrossanitárias.

Figura 3.19 – Modelo final compatibilizado no Tekla BIMSight.

45
Figura 3.20 – Detalhe do modelo compatibilizado.

Após a compilação dos modelos, executou-se a ferramenta de compatibilização no


software, através da ferramenta Conflict Checking, apresentada na Figura 3.21, onde é
possível escolher as disciplinas a serem comparadas e definir limites de tolerâncias das
interferências. As disciplinas a serem verificadas foram determinadas conforme a Tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Modelos a serem compatibilizados para verificação de interferências.


Estrutural x Arquitetura
Estrutural x Hidrossanitário
Estrutural x Elétrico

Figura 3.21 – Ferramenta Conflict Checking.

46
Por último, após serem identificadas as interferências, o software gerou um
relatório com a quantidade de conflitos, sendo possível selecionar e visualizar cada um dos
elementos incompatíveis.

3.5. Correção das incompatibilidades

A partir do relatório gerado pelo software Tekla BIMSight, o qual identifica os


conflitos de incompatibilidades encontradas nos projetos, será possível realizar a correção das
interferências. Este procedimento será realizado no modelo de cada disciplina e, então, será
atualizado o modelo de compatibilização a fim de identificar que não há mais nenhuma
incompatibilidade entre os projetos.

3.6. Levantamento de custos

A última fase do estudo será o levantamento de custos para a correção das


interferências encontradas na compatibilização dos projetos. O orçamento compreenderá os
gastos entre material e mão de obra para a execução dos serviços, e possui por objetivo
demonstrar o ganho real na execução de uma edificação utilizando-se a tecnologia BIM.
Uma das ferramentas disponibilizadas por meio da plataforma BIM, é o
quantitativo de materiais empregados na edificação modelada. Portanto, ao finalizar a
modelagem das disciplinas e as correções do modelo, o software Revit disponibiliza uma
planilha de quantitativos para realizar o orçamento. Após exportá-la para o Microsoft Excel,
os serviços serão precificados tendo como referência os custos unitários de insumos e
composições da Tabela SINAPI (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da
Construção Civil), disponibilizada pela Caixa Econômica Federal, com data-base do mês
imediatamente anterior à realização do orçamento.

47
4. RESULTADOS PRELIMINARES

Neste capítulo serão discutidos os resultados preliminares obtidos no PFC I, onde


buscou-se identificar as interferências entre os projetos modelados e compatibilizados por
meio da tecnologia BIM. Optou-se por dividir os resultados conforme a escolha das
disciplinas analisadas de forma comparativa, conforme previsto anteriormente na
metodologia, localizando-se as incompatibilidades.

4.1. Estrutura x Arquitetura

Ao compatibilizar as disciplinas de estrutura com a arquitetura, o software


identificou 1698 incompatibilidades entre os projetos. Entretanto, grande parte destes erros
encontrados automaticamente pelo programa refere-se a erros no momento da modelagem,
pois ao modelar a arquitetura foram consideradas paredes em toda a altura entre os níveis de
pavimento, sem descontar a volumetria ocupada pelos elementos estruturais de pilares e vigas.
Na próxima fase do estudo, este erro de modelagem será corrigido, buscando modelar a
alvenaria entre os vãos da estrutura.
As principais incompatibilidades encontradas relacionam-se a erros de níveis e a
não consideração da espessura da camada de revestimento argamassado nas fachadas da
edificação. Na Figura 4.1 observam-se os erros de níveis em todos os pavimentos a partir do
térreo.

48
Figura 4.1 – Incompatibilidade de níveis entre estrutura e arquitetura.

Conforme os projetos originais em CAD, o nível do subsolo, tanto da arquitetura


quanto da estrutura, indicava -3,00 m e o nível do pavimento térreo 0,00 m. Entretanto, a
partir do tipo 1, observou-se discrepâncias entre os níveis, segundo a Tabela 4.1. Tendo em
vista a diferença entre os níveis, consequentemente houve incompatibilidades entre a estrutura
e a alvenaria.

Tabela 4.1 – Comparação dos níveis do projeto original em CAD.


Projeto Original Projeto Original
Pavimento
Arquitetônico Estrutural
Tipo 1 3,20 m 3,80 m
Tipo 2 6,40 m 6,80 m
Tipo 3 8,60 m 9,80 m
Cobertura 11,80m * 12,80 m
* não havia indicação de nível, portanto, cotou-se o pavimento em 3,20 m e somou-
se ao nível anterior

Outra incompatibilidade verificada, observada na Figura 4.2, refere-se às sacadas


da edificação. Além da questão do erro dos níveis, o projeto arquitetônico não obedeceu as
dimensões das sacadas do projeto estrutural, o qual considerou a laje e as vigas engastadas de
um pilar ao outro. Já a arquitetura, projetou as sacadas com comprimento inferior.

49
Figura 4.2 – Incompatibilidade nas sacadas entre estrutura e arquitetura.

Verificou-se também que, no projeto estrutural não foram previstos os locais onde
o projeto arquitetônico locou os shafts, observado na Figura 4.3. Esta incompatibilidade irá
gerar problemas para a passagem das tubulações das instalações hidrossanitárias e elétricas.

Figura 4.3 – Incompatibilidade no shaft entre estrutura e arquitetura.

Quanto ao revestimento argamassado das fachadas, a espessura deste não foi


considerada no projeto estrutural. Os elementos estruturais de pilares e vigas no perímetro da
edificação foram projetados sem considerar o recuo do revestimento, portanto, a estrutura sem
o revestimento está alinhada com a parede acabada (tijolo + chapisco + emboço + reboco).

50
4.2. Estrutura x Hidrossanitário

Ao compatibilizar as disciplinas de estrutura com o hidrossanitário, o software


identificou 369 incompatibilidades entre os projetos. Grande parte dos erros está
condicionado ao lançamento errado nos níveis do projeto hidrossanitário original, pois este
seguiu os níveis indicados pelo projeto arquitetônico, o qual, verificou-se anteriormente, estar
errado, segundo a Figura 4.4.

Figura 4.4 – Incompatibilidade de níveis entre estrutura e hidrossanitário.

Além disso, outra incompatibilidade encontrada refere-se à passagem das


tubulações por elementos estruturais, conforme a Figura 4.5. Tal fato pode ser considerado
executável, entretanto, deve-se indicar no projeto estrutural a previsão da passagem das
tubulações, o que não ocorre nos projetos originais.

51
(a)

(b)
Figura 4.5 – Incompatibilidades na passagem da tubulação hidrossanitária: (a) em viga e laje (b) em
vigas.

E ainda, devido ao erro no projeto estrutural que não previu a abertura dos shafts,
gerou-se incompatibilidades com a passagem das tubulações, necessitando-se executar
diversos furos na laje para poder passar a tubulação, conforme observado na Figura 4.6.

52
Figura 4.6 - Incompatibilidades na passagem das tubulações hidrossanitárias nos shafts.

4.3. Estrutura x Elétrico

Ao compatibilizar as disciplinas de estrutura com o elétrico, o software identificou


245 incompatibilidades entre os projetos. Semelhantemente aos casos anteriores, grande parte
dos erros está condicionado ao erro de lançamento nos níveis, pois o projeto elétrico também
seguiu os níveis indicados pelo projeto arquitetônico. Frente à isso, observa-se na Figura 4.7,
que interruptores e tomadas ficariam posicionados em elementos estruturais e os eletrodutos
atravessando a estrutura também.

53
(a)

(b)
Figura 4.7 - Incompatibilidade de níveis entre estrutura e elétrica.

Acrescenta-se também, as interferências devido ao erro no projeto estrutural de


não prever a abertura dos shafts, logo, as instalações deveriam atravessar a laje, conforme
observado na Figura 4.8.

54
Figura 4.8 - Incompatibilidades na passagem das tubulações elétricas nos shafts.

55
5. CONCLUSÕES

Através do desenvolvimento do estudo da primeira fase do PFC, pode-se atingir


os objetivos analisar e aplicar as ferramentas da tecnologia BIM na compatibilização das
disciplinas de projeto de um edifício, originalmente projetado por alunos do curso de
graduação em Engenharia Civil da URI – Campus Erechim. E ainda, por meio da
compatibilização, pode-se identificar inúmeras incompatibilidades entre os projetos, de forma
a comprovar os benefícios do uso da tecnologia BIM.
As principais interferências encontradas nas disciplinas compatibilizadas,
referem-se às diferenças dos níveis dos pavimentos, entre os projetos estruturais e
arquitetônicos. Além dos erros no posicionamento das alvenarias e pisos, este erro gerou
incompatibilidades entre os projetos de instalações prediais, fazendo com que as tubulações,
equipamentos sanitários e elétricos ficassem locados nos elementos estruturais, ou
atravessando-os.
Ressalta-se também que o projeto estrutural não considerou os vazios dos shafts
previstos nos demais projetos, em consequência, diversas incompatibilidades foram
identificadas, principalmente no caso das instalações. Ao dimensionar lajes nestes locais, as
tubulações hidrossanitárias e elétricas ocasionariam diversos furos a fim de permitir a sua
passagem.
Por fim, salienta-se a importância da aplicação da tecnologia BIM para a
modelagem das disciplinas que compõem o projeto de uma edificação. Ao se fazer uso desta,
incompatibilidades podem ser facilmente corrigidas na fase de concepção dos projetos,
prevenindo erros e retrabalhos na fase de execução da obra, gerando maiores custos e atrasos.
Em continuação ao trabalho, as incompatibilidades encontradas serão corrigidas e,
a partir do modelo corrigido, será estimado o custo destas correções.

56
REFERÊNCIAS

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60
ANEXOS

61
ANEXO A – PROJETOS ORIGINAIS EM CAD

62

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