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UFMG · ECI Museologia · 2012/2

Cultura e Informação· Prof. Rubens Alves da Silva


Carolina Vaz de Carvalho · 2012423617

Alfredo BOSI
“Cultura como tradição”
Cultura brasileira;tradição/contradição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987, p.31-58.

Nesse texto, transcrição de uma palestra, Alfredo Bosi discute conceitos de


“cultura”. Começa apontando para a aparente redundância do tema “cultura como
tradição” para, logo em seguida, contrastar com um exemplo de uso bastante diferente
do termo - a frase escutada pelo autor “O senhor tem cultura, mas é muito democrático”.
Nessa frase transparece um conceito de cultura como mercadoria ou herança, algo
diferenciante e equivalente nos tempos modernos à aristocracia em sociedades
anteriores.
Esse conceito reificado de cultura, em que ter cultura implica em ter a posse ou o
acesso a uma série de bens reificados, é fundamentalmente não democrático. Bosi
defende a necessidade de se repensar a cultura para uma sociedade democrática. Um
conceito que propõe é pensar a cultura como “fruto de um trabalho”, um processo,
fundamentando-se na própria origem etimológica do termo. Discutindo um exemplo
sobre Ecologia - opondo livros de Ecologia à luta ecológica dos morados de Cotia, S.P.
-, Bosi contrasta o conhecimento “inerte”, frequentemente aprendido na escola, à cultura
de fato, ligada à ação.
Quando pensa em cultura popular, novamente vem à tona um movimento de
reificação. Bosi menciona as ações do Estado que visam preservar manifestações do
folclore ou da cultura popular, que são “corrompidas pelas comunicações de massa”. O
autor se opõe a esse tipo de intervenção, chamando a atenção, novamente, para as
dimensões processuais da cultura - a preocupação não deveria ser em salvar essas
manifestações, mas aqueles que as realizam:
Entende-se: o importante, o fundamental aqui, são os agentes culturais. Se o sistema
social é democrático, se o povo vive em condições - digamos “razoáveis” - de
sobrevivência, ele próprio saberá gerir essas condições para que sua cultura seja
conservada. Não pela cultura em si, mas enquanto expressão de comunidade, de
grupos, de indivíduos-em-grupo. (1987:44).
A partir de relatos de algumas festas populares que presenciou, Bosi exalta a capacidade
de mudança e adaptação das manifestações de cultura popular sem que haja perda de
sentido, contrariando a impressão de homogeneidade e repetição sem alteração [há uma
dimensão criativa mesmo na repetição - cf. SAHLINS, Ilhas de História e Gabriel
TARDE, Monadologia e Sociologia]. Como salienta o autor nos comentários sobre
provérbios e festas populares, há na cultura popular uma dimensão de reversibilidade e
uma temporalidade cíclica que colaboram para uma concepção de cultura em muito
diferente da concepção reificada apresentada no começo.
O último tema tratado pelo autor é a memória. Discorre sobre o conceito de
memória em Platão - uma reflexão sobre o passado que é o caminho para um futuro
“perfeito” - e dá alguns exemplos de história e memória como um “desmascaramento”.
A memória, elemento essencial da tradição, seria um elemento empoderador. Um
elemento fundamental para um conceito e uma prática de cultura democráticos.

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