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DOMA RACIONAL

AA CONQUISTA DEFINITIVA
1
Por LEONARDO FEITOSA
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Sobre
Leonardo Feitosa.
Quando criança, nunca brinquei de carrinho. Nunca tive e nem gostava de jogos
eletrônicos. Minha diversão era brincar de fazenda. Segundo minha mãe, desde os meus 5
anos já dizia que queria “cuidar de bicho” e ser veterinário.
A partir dos 12 anos, juntamente com meu irmão, comecei a aprender a domar e casquear
nossos próprios potros. Em 1989, entrei no Colégio Agrícola na cidade de Campos dos
Goytacazes, Rio de Janeiro, me formando no final de 1991.

Do colégio Agrícola para Veterinário do Exército. Em 1993, apoiado por minha mãe, ingressei na Faculdade de

Medicina Veterinária de Itaboraí, Rio de Janeiro, tendo colado grau em 1997. Ainda na Faculdade, tive a oportunidade

de estagiar no Exército. Isso me valeu a oportunidade de realizar todo o meu estágio supervisionado no regimento da

Escola de Cavalaria do Exército - Regimento André de Neves, Rio de Janeiro. Em 1998, concluí mais essa etapa. No

ano de 1999, já era um Oficial do Exército, “Aspirante Feitosa”. Depois me tornei Tenente e fiquei no Exército até o ano

de 2000. Lá trabalhei na área Clínica, e chefiei o Setor de Ferradoria, pois gostava muito de Podologia Equina.

Chegar até aqui não foi fácil


No ano de 2001, ao fazer um estágio em São Paulo, tive a oportunidade de trabalhar como Assistente de Treinador. A
partir daí, as coisas foram acontecendo. Fiz Curso de Juiz na ABQM – Associação Brasileira de Criadores do Cavalo
Quarto de Milha, e na ANCR – Associação Nacional do Cavalo de Rédeas.

No Rancho On Top, passei a trabalhar para o Kenny. Nesse local aprendi muito e aperfeiçoei minhas técnicas de
treinamento, tambor, apartação e doma. Foi um grande aprendizado.

Em 2004, após ser convidado para ministrar uma palestra no SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural,
acabei sendo contrato como Instrutor para atuar no SENAR/SP, onde exerço a função até os dias de hoje.

Em 2005, conheci Oscar Scarpati, detentor da Técnica de Doma Índia. Acompanhei-o em alguns cursos aqui no
Brasil. Em outros, atuei como seu auxiliar e também tive a oportunidade de organizar alguns de seus cursos. Foi uma
experiência incrível. A base da doma índia que trago comigo é fruto da experiência que obtive com o Oscar.

Sempre estudei muito, mas os meus maiores professores foram os cavalos. O SENAR representou o laboratório onde
coloquei em prática tudo aquilo que aprendia em cursos. Pois toda semana tinha a oportunidade de domar 10 a 15
cavalos. Também passei a ministrar cursos de rédeas e fui me aperfeiçoando nesse segmento.

Quando se tem paixão pelo o que faz, tudo acaba dando certo. Costumo dizer que eu não trabalho, eu me divirto.

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introdução
Este curso foi desenvolvido seguindo exatamente as técnicas que emprego
no meu curso presencial. É claro que nada vai substituir a prática, a
experiência vivenciada em um curso ministrado ao vivo, mas sem dúvidas,
auxiliará e muito àqueles que estão iniciando ou já possuem certa
experiência com a doma racional.
Tenho visto muitas informações dispersas na internet a respeito do assunto,
algumas delas boas e outras nem tanto, mas nenhum material demonstra de
forma sequencial a verdadeira arte que envolve a doma racional. Digo arte,
porque as técnicas que passarei a vocês foram por mim adquiridas ao longo
de muitos anos de trabalho, e buscadas inclusive com profissionais de
renome no exterior, aos quais considero verdadeiros artistas.
Acredito que através de meus conhecimentos posso transformar as
pessoas, e fazê-las mais conscientes sobre a forma correta de cuidar e
fazer um bom cavalo.
O meu método de doma não consiste no emprego de violência, mas sim no
uso da inteligência, da observação atenta a cada reação do animal que está
sendo trabalhado. Saber interpretar a linguagem animal, conhecer os seus
medos é essencial para passo a passo conquistar sua confiança e
aproximação. Esse trabalho inicial de doma, se corretamente
desempenhado, facilitará e muito as etapas seguintes, seja lá qual for à
atividade que se pretenda inserir seu cavalo.
Não medirei esforços para esclarecer todas as dúvidas dos alunos
participantes, mas advirto que não há aprendizado sem prática. Isso quer
dizer que se você realmente quer aprender as técnicas de doma, como
centenas de alunos aos quais tive o prazer de repassar meus
conhecimentos, você terá que PRATICAR. Para isso, é essencial que você
disponha de um espaço apropriado, mais precisamente um redondel; dos
equipamentos necessários, que serão citados no transcorrer do curso, e por
fim, o mais importante deles, o cavalo ou potro a ser domado.
Com relação ao animal a ser utilizado na doma, deve gozar de boa saúde,
estar forte e possuir no mínimo dois anos de idade, pois a doma prematura
pode comprometer a saúde músculo esquelética do animal, causando-lhe
lesões.
Lembrando que para iniciantes em doma, ao contrário do que muitos
pensam, deve-se dar preferência aos animais “xucros”, ou seja, aqueles que
nunca foram trabalhados, e por isso não possuem traumas. E quando já
dominante das técnicas por mim ensinadas, aí sim poderá o praticante
iniciar a doma de um animal que apresente um nível maior de dificuldade.
Costumo falar que um cavalo pode ser uma folha branca e você pode ser o
primeiro a escrever a história nessa folha. Mas se a folha já foi rabiscada,
você pode apagar e reescrever uma nova história, mas por mais que você
tente apagar, ainda ficaram marcas.
Mas acredito que tudo é possível, desde que seja feito com o coração e
energia positiva.

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Testando o conhecimento
Antes de você começar essa aula sobre a natureza e a psicologia dos cavalos, conhecer a razão de
algumas reações, a maneira em que vivem e se comportam em uma manada, eu gostaria que primeiro
você respondesse a um questionário, cujo objetivo é testar o seu conhecimento e o seu nível de
consciência. Isso será útil para você avaliar sua evolução no decorrer do curso.

Então pegue um caderno e anote as suas respostas. Não se preocupe, essa avaliação não vale
nenhuma nota, é apenas um desafio para testar seus conhecimentos.

Se por acaso você já tenha assistido a aula teórica, não tem problema, responda assim mesmo, o
reforço escrito aumenta a absorção do conhecimento.

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Teste seus conhecimentos.
1. Em uma manada de cavalos quem é o líder?

2. Qual é o pior castigo para um cavalo?

3. Qual é a melhor recompensa para um cavalo?

4. Qual é a principal defesa de um cavalo?

5. Por quê a maioria das éguas dão a luz à noite?

6. Por quê os cavalos são seres dispersos?

7. Quais são as zonas de pressão que um cavalo reage a um possível predador e como funciona?

8. Quais são os sinais de aceitação de um cavalo? E a sequência ao decorrer da aproximação?

9. Você considera comida como uma forma de recompensa para o cavalo e por quê?

10. Por que se deve iniciar uma sessão de treinamento com algo positivo?

11. Em uma fuga até quantos metros um cavalo para e analisa o perigo?

12. Por que se deve evitar o bridão no primeiro momento da iniciação?

13. O que é mais fácil de domar um leão ou um tigre? E qual a relação dessa resposta com o

cavalo?

14. O que você entende por reforço positivo e reforço negativo?

15. Até por quanto tempo se pode dar reforços positivos e negativos? E qual o tempo ideal para

isso?

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16. Qual a diferença entre hierarquia, dominância, confiança e chefia?

17. Por quê se deve saber do histórico do cavalo antes da doma?

18. Qual é o código de ética dos cavalos?

19. O que você entende por cavalo de sangue quente, morno e frio.

20. Comente um pouco sobre os sentidos do cavalo: olfato, tato, visão e audição.

21. O resultado final será acordo ou conflito? Resolva a questão abaixo.

Acordo + acordo =

Conflito + conflito =

Conflito + acordo =

22. Por quê se diz que só se deve montar um cavalo pela esquerda?

23. O que é pensamento associativo dos cavalos?

24. O que você entende pela frase: “o cavalo o julgara pelo o que você faz, não pelo o que você é”.

25. Comente a frase: “ensine com exemplo, controle sua adrenalina”.

26. Disciplina versus abuso: comente sobre isso.

27. Comente sobre a frase: “é tudo uma questão de escolha”.

28. O que você entende por síndrome de entrar na pressão?

29. É possível que uma informação passe de um hemisfério para outro no cérebro de um cavalo? E

como isso pode influenciar no modo de lidar com ele?

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Natureza e psicologia animal
Natureza e psicologia animal

É importante que a gente aprenda um pouco da psicologia que envolve o comportamento e a

natureza dos cavalos em geral.

Esse tipo de conhecimento vai se tornar nosso aliado para entender por exemplo, o que acontece

com um cavalo quando ele se encontra dentro de um redondel, pista, curral, etc. Eles têm uma

linguagem corporal única, que se apresenta em todo e qualquer cavalo, sendo que em alguns

mais, e em outros menos, mas esses sinais sempre estarão lá.

Para se alcançar um bom resultado na doma, eu costumo falar que precisamos conquistar os três

pilares fundamentais, que são:

Confiança Lealdade Trabalho em grupo

Nessa primeira etapa, temos como missão ganhar a


confiança do cavalo, pois sem confiança não chegaremos a
lugar nenhum.

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Natureza e psicologia animal

Líder

Normalmente, quando eu pergunto quem é um líder em uma manada, a maioria responde que é o

“garanhão”. Isso não é verdade. O garanhão é o protetor, o cavalo mais forte da manada.

O líder é sempre a matriarca, que é a égua mais velha. Por estar mais tempo na manada, é o animal

mais sábio do grupo. Ensina os mais jovens, por exemplo, onde encontrar água e alimento.

Então, quando pensarmos em agir como um cavalo para ganhar a confiança de outro animal, que seja

como a matriarca, a líder, e nunca como um “garanhão”.

Castigo e Recompensa.

O maior castigo para um cavalo é o trabalho. O cavalo é um ser preservador de energia. Na

natureza ele é uma presa e não um predador. Por ter um estômago pequeno e um intestino muito

grande esse animal passa o dia inteiro pastando. Ele não é capaz de guardar energia como o leão,

por exemplo, que come e fica um ou dois dias só deitado fazendo a digestão.

O cavalo sabe que se ele gastar energia sem necessidade, vai fazer falta em uma situação de fuga.

E o que isso está relacionado à doma?


Como o castigo para o cavalo é o trabalho, a sua recompensa será o descanso. E na doma

aplicaremos o castigo como um reforço negativo, quando ele não fizer determinada coisa certa ou

estiver se negando a obedecer. Esse castigo não está ligado a nenhum mau trato ou violência, apenas

faremos, por exemplo, esse cavalo galopar até corrigir seu erro.
Natureza e psicologia animal

ERRO COMUM

É comum e errado as pessoas darem descanso ao cavalo no momento em que ele resistiu a um

comando ou errou uma manobra. Os cavalos aprendem por repetição. Isso quer dizer que enquanto

não corrigidos irão reagir do mesmo modo acreditando que com isso terão o descanso. Um exemplo

clássico desse erro ocorre quando por um motivo ou outro um cavalo vem a empinar. E o cavaleiro

sem experiência ou por medo desistiu de dominá-lo. Pode ter certeza que esse animal vai empinar

novamente quando exposto a mesma situação que o levou a se rebelar na primeira vez. Esse cavalo

assimilou que quando empina recebe o descanso.

Mas uma vez corrigido o problema e fazendo o

animal entender que somente receberá o descanso

quando não mais reagir, é certo que o

seu comportamento mudará rapidamente.

Um cavalo manejado de forma correta logo

assimilará que ao ceder ao comando de seu

líder o descanso virá mais rápido.


Natureza e psicologia animal

Sinais
Quando você estiver domando um potro, você precisará buscar toda a atenção desse animal. Tenha
em mente que estará diante de um ser disperso por natureza, o qual se confinado pela primeira vez
em um redondel, terá ainda mais a sua atenção voltada para fora. É comum nessa ocasião o cavalo
manifestar a sua primeira defesa, que é a intenção de fuga, chegando em alguns casos a chocar-se
contra o aparato do redondel na tentativa de saltá-lo. Ele ainda não te enxerga como uma
autoridade.

Vou ensinar as técnicas necessárias para que você consiga com sucesso a atenção do seu animal
nesse estágio de contato inicial. O seu desempenho no redondel dependerá apenas da atenção que
você empregará aos sinais que o animal vai lhe transmitir durante o manejo. Os primeiros comandos
passarão a ser realizados tão logo você ingresse no redondel.

Os sinais que o cavalo demonstrará serão os seguintes:

ATENÇÃO RELAXAMENTO TENSÃO TRÉGUA


Natureza e psicologia animal

Sinal de atenção
Orelhas voltadas para você como se fossem uma
parabólica.

orelha voltada para à sua direção

Sinal de tensão
Mandíbula travada. Logo no começo o animal ficará tenso e nervoso. Você vai perceber a tensão
em sua mandíbula. Ela ficará travada, e conforme você for aplicando as técnicas, essa tensão
desaparecerá e logo o animal emitirá o próximo sinal.

Sinal de relaxamento
Lamber e mastigar. Esse ato demostra relaxamento
da mandíbula. Também demostra que ele não é um
predador e não oferece perigo algum.
Lamber e mastigar

Baixar a cabeça. O ato dele baixar a cabeça em sua


presença, demostra que existe ali uma certa confiança,
embora não ainda de 100 %. Na natureza, um predador
normalmente ataca a jugular da presa, e por isso deixar
o pescoço baixo não é muito aconselhável. E quando
o cavalo age nesse sentido, já demonstra entender que
não vê o domador como um predador.
cabeça baixa
Natureza e psicologia animal

Sinal de trégua
Diminuir o circulo do galope. No processo de doma, em uma primeira etapa, você vai fazer o
cavalo galopar para impor sua dominância. O primeiro sinal de trégua é diminuir o tamanho do
círculo no qual você vai estar obrigando o cavalo a galopar. Ao fazer isso, o cavalo demostra
que está disposto a obedecer, pois já entende que o trabalho é um castigo e que você é o líder
daquela manada de dois .

Aproximar-se também é um sinal de trégua. É preciso ficar atento, pois esse é o momento em
que você deve demostrar também suas intensões pacificas com ele.
Natureza e psicologia animal

Defesa
A principal defesa de um cavalo é a fuga.

Sempre o animal vai considerar a fuga em uma situação de perigo. Morder, desferir coices e
“manotadas” também são defesas, porém somente serão usadas em momentos de
encurralamentos, onde não exista outra saída ou no caso de entramos em sua zona de
pressão. Falarei sobre zona de pressão mais adiante.

O cavalo em sua natureza nata não pensa em atacar ou machucar, apenas a fuga é o que lhe
vem à cabeça quando acuado.

O animal que morde diante de uma aproximação, é aquele cavalo que aprendeu ser essa a
forma mais eficiente de evitar o trabalho.
Natureza e psicologia animal

Cavalos são seres dispersos.


A falta de atenção de um cavalo está diretamente ligado à sua natureza. Eles necessitam ser
dispersos em razão da condição de presas que ocupam no mundo animal, e não de
predadores.

Um cavalo solto na natureza se tornaria uma presa

fácil, caso lhe fosse tirado esse instinto de dispersão,

que funciona como um verdadeiro mecanismo de

defesa no seu ambiente natural.

Por isso é importante você conquistar a confiança

do seu animal e tão logo assumir a função de líder

perante a ele, isso fará com que sinta mais seguro

e menos disperso.

Essa conquista garantirá a você um cavalo mais

atencioso e o seu comportamento refletirá nas

reações dele. Se por exemplo, em determinado

momento você estiver tenso, em contato com o

animal ele reagirá a esse comportamento.


Natureza e psicologia animal

Zona de pressão
A zona de pressão é a distancia que determina se um predador oferece ou não perigo para o
cavalo na natureza. Elas se distinguem em três:

Zona de percepção.
Zona de ação
Aqui o animal percebe a
Aqui o predador já
presença do predador,
demostra perigo e o melhor
porém ele ainda não o
a se fazer é fugir.
oferece perigo.

Zona de pressão
A distância compreendida entre a presa e o predador nesta zona de
pressão é tão delicada que não dá alternativa de fuga à presa, senão
atacar. A importância de você saber identificar em qual zona você está, é
a chave para fazer o cavalo correr ou te atacar.

Por isso o redondel adequado não pode ser muito grande, pois manterá o cavalo na zona de
percepção; e nem muito pequeno para não mantê-lo na zona de pressão. O redondel ideal será
aquele que mesmo mantendo o cavalo longe, o manterá na zona de ação.
Natureza e psicologia animal

Tempo de agir
Nas minhas aulas práticas, tenho sempre alertado aos meus alunos para se manterem atentos quanto
ao tempo ideal de se proceder a correção de um animal que reagiu mal a determinado comando ou até
mesmo resistiu a fazê-lo. O mesmo tipo de observação tenho feito com relação a recompensa. Já
presenciei inúmeras vezes um animal sendo punido muito tempo depois de ter cometido uma falta. Mas
vale destacar que existe sim um tempo correto para se punir ou recompensar um cavalo pela sua ação,
esse tempo não pode ultrapassar a 05 (cinco) segundos. O ideal é que a ação se dê imediatamente
após a ocorrência do evento, cerca de 3 a 8 décimos de segundo.

Recompensar ou punir o cavalo fora do tempo especificado fará com que não compreenda o motivo da
ação. E o aprendizado não será efetivado.

Só observando que a punição ou correção não está vinculada a atos de violência, mas sim a atitudes
firmes de se impor diretrizes.

O tempo de agir está muito presente nas atividades voltadas à doma, por isso deve o domador manter-
se focado exclusivamente nas tarefas que se passam dentro do redondel.

Temperamento
É importante que se tenha consciência que os cavalos possuem temperamentos diferentes entre si. E
essas diferenças geralmente estão atribuídas às raças dos animais.

É necessário se frisar aos iniciantes que quão mais forte o temperamento do animal, maior o grau de
dificuldade da doma.

Podemos classificar o temperamento dos animais de acordo com o seu tipo de sangue:

Sangue quente Sangue morno

Sangue frio
A aptidão de cada animal está diretamente atrelada a sua raça, isso significa que nem todos estão aptos
a desempenhar as mesmas funções (corrida, trabalho, lazer, etc). Cabe ao domador conhecer as
características dessas raças, as quais conforme já visto, possuem temperamentos diferentes que
implicam em maior ou menor dificuldade por ocasião da realização da doma. Saber o código genético
das raças ajuda na escolha do animal.
Natureza e psicologia animal

Sentidos
A importância de se conhecer os sentidos de percepção de um cavalo é fundamental para se

poder compreendê-los.

Visão
Os cavalos são seres binoculares, possuem os olhos na lateral da cabeça como todos os animais

que não são predadores. Sua amplitude de visão corresponde a 360 graus, tendo apenas dois

pontos cegos: à sua frente (próximo a testa), e na traseira (na cauda). Por essa razão, ao

aproximar-se do animal, posicione-se em pontos que possa ser visualizado, evitando com isso ser

surpreendido por uma ação negativa por parte daquele animal.

Outro aspecto importante com relação à visão equina, refere-se ao fato de que os cavalos não

têm noção de profundidade. Por isso muitas vezes eles relutam em passar por poças de água ou

pontes. Essas situações você vivenciará muito na prática quando estiver conduzindo animais em

fase inicial de doma para ambientes externos. Os cavalos também têm visão em cores, porém em

tonalidades diferentes dos seres humanos, com cores voltadas para o tom pastel.

Audição
A audição do cavalo é muito mais apurada do que a nossa, por isso tende o animal a sentir

desconforto em lugares de alta sonoridade. Suas orelhas apontam em direção do som, mas são

independentes, podendo se voltar para direções opostas.

Olfato
O olfato e tão aguçado que pode sentir o cheiro até do nervosismo. Uma dica muito importante é

não realizar nenhum trabalho de doma perfumado; se possível somente com odor natural.
Natureza e psicologia animal

Tato
Você já viu um cavalo tremer o pescoço para repelir uma simples mosca. Agora imagina a intensidade

de percepção provocada ao animal se porventura for atingido por uma chicotada.

Usaremos esse tato hipersensível para indicar os comandos nas regiões do corpo onde pretendemos

que ele saia da pressão. Para tanto usaremos as ferramentas como estique ou estribo para não

castigá-lo com violência, mas somente gerar uma determinada pressão.

Faz parte do processo de doma reduzir essa hipersensibilidade do tato em pontos vulneráveis do

animal, para habituá-lo a não reagir quando tocado de forma brusca nessas regiões. Essa etapa na

doma é conhecida como “tirar cócegas” do animal.

Pontos vulneráveis
Tocar bruscamente no pescoço de um cavalo pode resultar numa reação defensiva inesperada.
Justifica essa ação por tratar-se de um ponto vulnerável a ataques dos grandes felinos. Também
considerado um ponto vulnerável é a região da virilha. Predadores menores buscam atacar essa região
mais baixa onde a pele é mais macia e fácil de ser dilacerada.

Natureza de grupo
O cavalo é um ser gregário e a vivência em grupo representa mais segurança a manada. Indivíduos
que se desvencilham do grupo se tornam presas fáceis. Por essa razão as fêmeas dão à luz sempre à
noite, pois buscam tempo suficiente para parir e também para o potro ficar em pé e mamar o colostro.
Assim, logo pela manhã conseguem acompanhar a manada sem ficar para traz.

Essa noção de natureza de grupo deve ser empregada em nosso favor durante a doma, pois em um
redondel é possível fazer o cavalo compreender que ficar próximo do domador é a melhor decisão. Isso
fortalece a confiança e a lealdade.
Natureza e psicologia animal

Maus costumes
É preciso evitar os maus costumes, por exemplo, dar alimentos ao animal como forma de
recompensa. Na lida de cavalos essa é a pior forma de se obter resultado, pois o dia em que você
não dispuser de alimentação, o animal se tornará arredio.
Lembre-se: cavalo não é cachorro. O sistema de treinamento adotado à cães não funciona para
cavalos. Forneça alimento ao equino após o treino, sem, contudo, criar qualquer vínculo com a doma.

Reconsideração da fuga.
Estudos mostram que um cavalo na natureza reconsidera a fuga após percorrer aproximadamente
600 metros. Ao perceber que não foi pego, decide parar para verificar a situação.

Levando essas considerações para o redondel, o cavalo também tenderá a parar após ser
impulsionado a galopar por um determinado tempo pelo seu domador. Na circunstância dessa parada
voluntária do animal, deve o domador observar suas reações e concluir se ele está disposto a ceder
aos seus comandos e permitir a aproximação.

Dentição
O ideal seria que antes do início do processo de doma a dentição do animal fosse examinada, porque
em alguns cavalos é comum encontrar os chamados “dentes de lobo”. São pequenos dentes (pré-
molares) que não têm função alguma na mastigação, mas dependendo da posição que ocupam na
arcada dentária podem ferir as bochechas do animal e ainda causar desconfortos decorrentes de
choques entre o dente e a embocadura. Não sendo possível o exame da dentição antes da doma,
recomendo o uso de cabrestos e “side pull”, pois essas ferramentas por não serem inseridas na boca
do cavalo não terão contato com o dente de lobo, e consequentemente, não incomodarão o animal.
Muitas vezes, não somente no processo de doma, mas de treinamento, o animal não progride por
estar sentindo dores . Alerto para não usar bridões antes do exame dentário. Esse assunto será
melhor aprofundado na aula do Dr. Gustavo, quando se estudar odontologia equina.

Lembre-se: contate o seu veterinário para examinar a boca de seu animal, caso não o tenha feito
ainda.
Natureza e psicologia animal

É mais fácil domar um leão do que um tigre. Você sabia disso? O motivo é porque o leão é um ser que
vive em grupo, enquanto o tigre é um animal que vive isolado.

E qual a relação dessa informação com a doma?


Usei o exemplo acima para demonstrar que animais que vivem em grupo são mais propensos a aceitar
ordens em razão da existência de hierarquia no bando (manda quem pode e obedece quem tem juízo).
Em uma manada o líder determina as ordens. Na doma, tornar um líder em uma manada de dois trará
muito mais facilidade de comando e lealdade.

Reforço positivo e reforço negativo


Já falei de castigo e recompensa e isso está ligado a reforço positivo e reforço negativo. No
processo de doma é preciso estar atento para identificar a ocasião oportuna de se aplicar cada ação,
bem como entender para que serve cada tipo de reforço.

Queremos que o cavalo obedeça nossos comandos, mas para isso precisamos que ele entenda os
sinais e fazemos isso empregando os reforços.

Positivo. Dar ao cavalo uma recompensa durante ou imediatamente após o comportamento


desejado é um reforço positivo. Uma rédea frouxa no segundo da resposta correta é uma recompensa.

Negativo. O reforço negativo ocorre durante o comportamento indesejável e não após ele. Quando
mantenho a pressão de pernas ou rédeas estou fazendo um reforço negativo. Estou incomodando e
induzindo o animal a entender que a realização da tarefa lhe resultará em alívio.

Nesse sentido, em meus treinamentos uso muito a frase: “a puxada indica, o alivio ensina”.
Natureza e psicologia animal

Hierarquia dentro da manada


A manada possui leis claras e precisas, que todos respeitam naturalmente. A organização hierárquica
objetiva entre outros, preservar a vida do grupo. A égua mais velha é a líder, e sua experiência lhe dá
a incumbência de conduzir a manada às melhores pastagens, água e cuidar da educação dos mais
jovens. O macho garanhão serve as fêmeas e zela pela proteção do grupo.

Às vezes, o comportamento arredio de um cavalo dentro do redondel representa a natureza de


liderança que ele possui.

Quando alguém comentar que o animal é bravo ou muito difícil de lidar, provavelmente é um cavalo
em que a dominância é muito aflorada. Sendo assim, cabe ao domador conquistar à confiança do
animal, demonstrando sua postura de liderança.

Memória seletiva
Os cavalos possuem uma memória seletiva. Isso faz parte da sua natureza de preservação. Um potro,
por exemplo, que quando jovem vivenciou situações de riscos, na idade adulta trará em sua memória
o sentido de alerta para circunstâncias de riscos semelhantes.

Na doma, é muito importante saber do histórico do animal que vai ser trabalhado. Um animal que não
teve nenhuma experiência com a doma é uma folha em branco. Estará livre de “bardas” e traumas
que possam resultar em estratégias de defesa.

É muito mais fácil escrever em uma folha branca sem nenhuma marca.

É possível domar um cavalo que já tenha sido mexido, ou pior, que já tenha sofrido algum tipo de
violência. Esse processo é conhecido por “redoma”, mas já adianto, não deve ser praticado por
inexperientes.

Convenhamos, uma vez rabiscado o papel, por mais que apagados os riscos, sempre existirão
marcas.
Natureza e psicologia animal

Hierarquia, dominância, liderança e chefia

Dentro de uma manada, existem vários graus de hierarquia, que são praticamente determinados
pela idade e força.
O garanhão de uma manada é o mais forte, por isso possui uma hierarquia maior e dominância.

Mas isso não quer dizer que ele seja líder.

Nesse caso, a liderança é da égua mais velha, a mais sábia, a matriarca.

A dominância está intimamente ligada à vontade do cavalo em ser líder. E geralmente os animais
que possuem traços de dominantes são arredios.

A conquista da hierarquia dentro do redondel se dá por meio de atitudes firmes, que consolidam a
postura de um chefe.

Histórico
Conhecer o histórico do animal antes de começar um serviço é muito importante. É comum os
proprietários desses animais omitirem aos domadores às reais circunstâncias envolvendo o
passado de determinados cavalos. Muitos deles envolvendo tentativas mal sucedidas de domas
inadequadas, que resultaram em sérios traumas. Essa omissão visa normalmente encobertar o grau
de dificuldade que o animal apresentará no processo de doma, a qual na verdade será uma
“redoma”.
Desconhecer esses fatores negativos e não chegar a um resultado satisfatório podem, inclusive, pôr
em dúvida a reputação do profissional.
Uso sempre uma frase em meus treinamentos:

A Doma Racional é incrível mas não faz milagres.


Acordo e conflito
O processo de doma pode envolver várias situações de conflitos. E para superá-las é necessário ter
pulso firme e persistência para conquistar o tão esperado acordo.

Parte da incidência desses conflitos é reflexo do manejo inadequado do animal ainda jovem. Nesse
sentido é comum um potro não receber à repreensão necessária em razão da sua idade precoce e da
aparência inofensiva. É como se comparando a uma criança que mesmo agindo em desacordo com os
padrões normais de educação, não recebe correção alguma simplesmente por ser criança.

A doma acontece muito antes do redondel, e os piores cavalos que deparei em processo de
domesticação, traziam vícios adquiridos quando ainda potros jovens.

Por isso recomendo: “cavalo deve ser tratado como cavalo”, independente da idade.

Tenho uma fórmula que não é nenhuma regra matemática, mas serve para apontar resultados possíveis,
caso adotemos uma postura ou outra no manejo de nossos animais.

Acordo + acordo = conflito


Quando tudo pode em uma relação e não havendo imposição de limites entre as partes,
consequentemente não haverá conflitos. Levando esse conceito para a doma, cujo animal a ser
domesticado não conheceu limites quando jovem, é bem provável que agora, na fase adulta, não venha
a reconhecer com naturalidade a superioridade hierárquica do homem, gerando assim o conflito..
Lembre-se que em manada faz parte da natureza do cavalo reconhecer a hierarquia.

Conflito + conflito = conflito


Criando uma situação em um redondel, por exemplo, onde o domador somente executa seus comandos
com emprego de violência. A reação esperada do animal também será violenta. Logo não existirá
acordo, tão somente conflito.
É preciso estabelecer um equilíbrio nesse elo entre domador e animal, agindo com firmeza quando
necessário for, e amigável quando a situação assim o permitir.

Conflito + acordo = acordo


A fórmula acima aponta a melhor maneira de se estabelecer à dominância e chegar ao acordo.
Exemplificando, retrato novamente o cenário do redondel. Dessa vez, o animal que relutou inicialmente
à aproximação, gerando o conflito, acabou cedendo diante da atitude firme, porém não violenta do
domador. E chegou-se ao acordo.
Natureza e psicologia animal

Curiosidade

Você já deve ter ouvido os peões mais antigos comentarem que só podemos montar o cavalo

pelo lado esquerdo. Mas a ideia que tentavam repassar era a de que o animal não aceitaria

nunca ser montado pelo lado direito, e por isso seria um risco tentar.

O verdadeiro motivo de se obedecer essa ordem na montaria está relacionado a uma disciplina

imposta nesse sentido pelos militares, quando se iniciou a equitação mundial.

Nos dias de hoje, ainda existe a crença do perigo da monta pelo lado direito.

Quando questionado a esse respeito, esclareço que o animal pode ser montado tanto pelo lado

esquerdo quanto pelo lado direito. Basta que seja condicionado a isso. É lógico que um animal

que sempre fora montado pela esquerda pode reagir a uma monta pela direita.

Como os humanos, os animais também podem desenvolver melhor a execução das tarefas por

um determinado lado do corpo. Nesse sentido,

deixo a dica de que seja trabalhado mais o lado

que apresenta dificuldade.


Natureza e psicologia animal

Considerações finais na aula teórica.


Finalizamos a etapa teórica. Em seguida falaremos dos equipamentos empregados na

prática da doma racional e sobre o trabalho a ser desenvolvido dentro do redondel.

Espero que essas informações tenham sido válidas e que você as aplique

conscientemente, isto é, sabendo exatamente o que está fazendo. Na dúvida, não

improvise, procure auxílio. Tenha consciência que podem existir situações de risco e

para prevenir-se, siga corretamente às instruções, não pulando etapas ou pecando pelo

excesso de confiança. Existem escolhas, faça a certa.

Há aqueles que se intitulam domadores, mas não conseguem trabalhar senão mediante

o emprego de abusos. Conseguem algum resultado? Pode ser que sim, mas não

dignos e completos.

Lembre-se, a verdadeira liderança é aquela adquirida pela confiança no trato dos

animais, consolide-a.
Equipamentos
Equipamentos

1. Cabresto (o mesmo que o chico ensinou a fazer)

O cabresto exerce uma pressão quando você o puxa o

suficiente para conter reações negativas. Esse equipamento

deve ser preso a uma corda de mais ou menos três metros de


comprimento. Deve ser resistente para que não arrebente,
caso precise puxar com força.

2. Estique. É normalmente usado para tocar o cavalo dentro

do redondel, ou até mesmo serve como uma extensão do


meu braço, caso o cavalo não se deixe tocá-lo de inicio.

3. Corda Chata. Essa corda é usada muito na doma dos

muares. Esse modelo de corda não causa assaduras, caso


seja necessário amarrá-la ao animal.

4. Fechador de Boca. É um acessório usado para animais que

mordem muito. Ao colocar o fechador, impedimos essa ação.

E se o cavalo não consegue morder, com o tempo ele desiste.


Equipamentos

5. Gancho. Pedaço de metal de mais

ou menos um metro e trinta, usado para

tirar a corda chata que amarro na cernelha

do cavalo ou muar, quando quero evitar

reações bruscas.

6. Luvas. Usadas para que se evite

queimar as mãos ao segurar a corda.

7. Sela. Você pode usar uma de sua


preferencia. Eu uso uma exclusiva que
mandei fazer para doma. No vídeo eu explico
melhor.
Equipamentos

8. Sidepull (quer dizer puxe para o lado)

É uma ferramenta usada antes do bridão. Não é


embocadura, sua ação é externa e semelhante ao
cabresto, porém, bem mais eficaz para o comando.
Ideal para uso em potros que ainda não tenham feito o
dente de lobo. (aula do Dr. Gustavo explica melhor esse
ponto).

Sidepull de uma corda - exerce mais pressão, por isso


é usado com cavalos que negam mais o comando.

Sidepull de duas cordas – exerce menos pressão. É


usado em cavalos que já respondem mais fácil os
comandos.

9. Bridão (D ou de argola). De espessura


intermediária, nem muito grosso e nem muito fino.

Preferência aos feitos de ferro, pois o material ajuda na


salivação, facilitando a lubrificação. Isso evita
assaduras na boca do animal.

10. Clôches, caneleiras e ligas. São equipamentos


que uso muito no momento que começo a pedir uma
movimentação maior do animal. Evitam que o cavalo se
machuque pisando na própria pata e criando uma
experiência negativa.
Parabéns! Você concluiu o 1° módulo. Espero
que esse conteúdo tenho sido útil para o seu
aprendizado. Faça agora mesmo o pedido do 2°
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