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Conteúdo:
Introdução.
Conclusão.
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Introdução.
A epístola aos efésios distingue-se entre os livros do Novo Testamento pelo
tom especialmente elevado e solene. Ela foi escrita pelo apóstolo Paulo
provavelmente durante os dois anos de sua prisão na Cesaréia da Palestina,
aproximadamente 61 anos depois do nascimento de Cristo (cf. At 23-26). As
epístolas aos colossenses e a filêmon devem também datar dessa época.
Éfeso era uma cidade litorânea ao sudeste da Ásia Menor (hoje Turquia)
famosa pelos centros comerciais, de arte e de ciência. Como a principal cidade
(metrópole) da província da Ásia ela era um importante centro pagão. Nela
encontrava-se o templo Artêmis ou Diana, à qual a cidade foi dedicada. Aí
estava o centro da magia pagã que se originou dos mistérios de Artêmis:
usava-se como amuleto palavras misteriosas colocadas em pedacinhos de
pergaminho e imagens da deusa e de seu templo, dando bons lucros aos
artífices. Em Éfeso moravam também muitos judeus que tinham lá a sua
sinagoga.
O apóstolo Paulo visitou-a no ano 54 d.C. (cf. At 18) e fundou a Igreja cristã.
Ele permaneceu lá por pouco tempo, pois tinha pressa em voltar para as
festividades em Jerusalém. Em Éfeso permaneceu o casal Priscila e Áquila,
ambos dedicados a fundamentar o cristianismo entre os recém-convertidos e
para ajudá-los foi enviado Apolo um judeu culto de Alexandria, que com sua
eloqüência e conhecimento das Escrituras muito contribuiu para a
consolidação do cristianismo nessa cidade.
Paulo voltou a visitar Éfeso na época de sua terceira viagem de boas novas
(cf. At 19). Lá ele encontrou dois discípulos que tinham recebido apenas o
batismo de João. Ele os reforçou na fé cristã e os convenceu a se batizarem no
batismo cristão, transmitindo-lhes o Espírito Santo pela imposição das mãos.
Depois disso ele se ocupou da pregação cristã em Éfeso, iniciando como de
costume pelos judeus, pregando na sinagoga. A sua pregação durou 3 meses,
mas "como alguns se endureceram e não creram, desacreditando na sua
doutrina diante da multidão," ele se apartou deles e reuniu à parte os
discípulos, ensinando-os diariamente na escola de um cidadão tirano. Esse
ensinamento durou dois anos, de tal modo, que todos os habitantes da Ásia,
judeus e gentios puderam ouvir a pregação sobre nosso Senhor Jesus Cristo. A
pregação do apóstolo era reforçada por muitos sinais e milagres, de maneira
que a Igreja de Deus lançou aí raízes profundas. Infelizmente, um tumulto
contra Paulo provocado pelo ourives de prata Demétrio, levou-o a antecipar a
sua partida de Éfeso (cf. At 19:23, 20:1). Depois de um certo tempo, o
apóstolo dirigiu-se a Jerusalém para a festividade de Pentecostes e passou
próximo a Éfeso a bordo de um navio. Parou em Mileto e convidou os
presbíteros da Igreja de Éfeso e redondezas para lhes dar as orientações finais
e se despediu deles dizendo:
Posteriormente, a cátedra de bispo de Éfeso foi ocupada até a sua morte pelo
seu fiel discípulo Timóteo, a quem ele enviou duas de suas epístolas. A
responsabilidade pela Igreja de Éfeso depois ficou a cargo do discípulo
amantíssimo de Jesus Cristo, o apóstolo João Cristófilo. No ano 431d.C.
ocorreu em Éfeso o 3º Concílio Ecumênico.
Na segunda parte sobre o ensinamento moral (Ef 4-6) ele aconselha os fiéis
a viverem com dignidade, de acordo com as suas condições elevadas de
membros da Igreja de Cristo e a almejarem mais que tudo a unidade e a
santidade. Ele desenha nessa epístola o quadro majestoso da salvação da
humanidade. Deus, antes ainda da criação do mundo, predeterminou salvar a
todos através de Seu Filho, mas somente realizou o Seu plano quando chegou
"a plenitude dos tempos," isto é, o amadurecimento do mundo para a fé cristã.
No centro do mistério da redenção está Cristo e Sua Igreja, que vem a ser o
Seu corpo místico que engloba o céu e a terra. A Igreja ainda não atingiu o seu
pleno desabrochar, mas ela ao absorver constantemente novos membros
cresce incessantemente, expande-se e se aperfeiçoa. Cada cristão
aperfeiçoando-se moralmente, contribui para o crescimento da Igreja.
1. A parte do ensinamento da fé
(Ef 1-3).
O apóstolo inicia a sua epístola com a habitual:
Saudação (Ef 1:1-2).
"Paulo, apóstolo de Jesus Cristo por vontade de Deus, a todos os
santos que estão em Éfeso e aos fiéis em Jesus Cristo. Graça e
paz vos sejam dadas da parte de Deus nosso Pai e do Senhor
Jesus Cristo."
Essa introdução representa pelo seu conteúdo uma espécie de símbolo de fé,
no qual estão sintetizadas as mais importantes verdades da fé. Deus tendo a
intenção de criar o mundo e dar aos homens livre-arbítrio, previu a queda
deles no pecado desde a eternidade e por isso em Seu concílio da Santíssima
Trindade delineou o caminho da salvação. Ele previu e tudo se realizou, mas
não pôs em prática imediatamente o Seu plano de salvação dos pecadores. Ele
enviou aos homens, quando chegou a hora, o Seu Filho Unigênito Jesus
Cristo, que Se encarnou e viveu entre eles, ensinando-os a crer corretamente e
a viver segundo a verdade. Cristo sofreu e morreu pelos nossos pecados,
ressuscitou dos mortos, subiu ao céu e sentou à direita de Deus Pai já como
Deus-Homem e como Cabeça da Igreja. Deus enviou depois o Espírito Santo,
Que através dos apóstolos começou a reunir os homens em uma família de
homens renovados espiritualmente ― a Santa Igreja, guardiã da verdade e da
bem-aventurança. Na Igreja, os fiéis são purificados, santificados e agraciados
pelo Espírito Santo com dons de bem-aventurança, direcionando-os para uma
vida virtuosa. Os cristãos aperfeiçoando-se em diversas virtudes passam assim
para as posições celestes, para o Reino da Glória. O apóstolo contemplando
essa infinita série de coisas da misericórdia divina, exclama em êxtase: "Deus
seja louvado"!
Entre os dois hinos de louvor há sem dúvida uma certa semelhança de estilo,
porém, o tema dos hinos do Antigo Testamento é limitado ao povo judeu e cita
apenas os bens materiais temporários, enquanto que, o tema do hino
apostólico engloba todas as nações e inclui tanto bens atuais como futuros. Os
salmos do Antigo Testamento louvam a Deus mais como um sábio Criador,
como Aquele que livra os hebreus dos povos inimigos vizinhos, agradecendo a
Ele pela colheita e fartura dos frutos da terra. Nesses salmos toda atenção está
concentrada no que é visível e temporário. Os horizontes da fé se ampliaram e
o homem obteve a capacidade de vislumbrar e valorizar os bens espirituais
dando preferência à vida eterna à temporária, somente com a vinda do
Salvador. Com Ele não só os judeus são filhos de Deus, mas também os
pagãos. Com a vinda do Pacificador as antigas disputas e divisões cedem
lugar ao processo de unificação de todos a uma só grande família ― a Igreja
de Cristo.
As palavras, "para servirmos de louvor a Sua glória" não significam que Deus
necessite de nosso louvor, mas nós conscientes de Sua misericórdia para
conosco, devemos sentir a necessidade de agradecê-Lo e amá-Lo cada vez
mais. Nós devemos amar a Deus como o filho ama o pai; esse é exatamente o
sentimento que gera tudo de bom. O apóstolo estando em êxtase ao vislumbrar
a grandiosidade das graças de Deus derramadas sobre nós através do Senhor
Jesus Cristo, mais adiante, ele deseja aos efésios que participem dessa visão.
Apesar de Paulo ter pregado durante mais de dois anos em Éfeso e ter
ensinado muito àqueles que creram, ele reconhece que para uma profunda
compreensão das verdades da fé, necessita-se de uma iluminação divina. Por
isso, ele roga a Deus que ilumine os corações dos fiéis, pois apenas os sábios e
iluminados do alto podem entender a superioridade da fé cristã e avaliar a
grandiosidade de tudo aquilo que Deus fez e faz por eles.
O apóstolo Paulo que foi antes defensor da lei, grande conhecedor das
Escrituras do Antigo Testamento e que via no cristianismo uma perigosa
heresia, sabia por experiência própria como era difícil ao homem pensar
segundo o plano terreno para compreender o mistério da redenção, pois ele
mesmo sózinho não obteve a fé pelo caminho da lógica ou do estudo
minucioso das profecias, mas a conseguiu através da revelação divina. Paulo
levando isso em consideração, rogava a Deus para iluminar a consciência dos
efésios e para que eles entendessem como é sábio e grandioso aquilo que Deus
fez para eles, através de Seu Filho Unigênito. Todo o ensinamento cristão não
pode ser visto como um sistema filosófico de lógica pura ou como um
conjunto de regras de vidas úteis reunidas por experiência durante muitos
séculos, mas deve ser visto e aceito como revelação de Deus, por isso, não só
o ato da redenção é misterioso. Nenhuma pessoa por mais culta ou inteligente
que seja é capaz por si só de avaliar a superioridade do cristianismo sobre
outras crenças, mas ao contrário é provável que a pessoa veja nele coisas
ilógicas, afirmações incompletas, exigências impossíveis de serem cumpridas
e promessas duvidosas.
A fé cristã será sempre um mistério de Deus, revelado por Ele e aceito pela fé,
assim como foi há dois mil anos, assim o é também agora. O homem
submetendo-se a essa verdade revelada por Deus não abdica ao seu bom
senso, mas ao contrário ele entra pelo caminho do entendimento de outros
mistérios de Sua sabedoria, assim como o apóstolo escreve aos
coríntios: "Não obstante, é a sabedoria que nós pregamos entre os perfeitos;
não, porém, uma sabedoria deste século, nem dos príncipes deste século, que
são destruídos, mas pregamos a sabedoria de Deus no mistério, que está
encoberta, e que Deus predestinou antes dos séculos para nossa glória, a
qual nenhum dos príncipes deste século conheceu, porque, se a tivessem
conhecido, nunca teriam crucificado o Senhor da glória" (1Cor 2:6-8).
A Igreja sendo o corpo do Cristo, graças a Ele preenche tudo e por isso pode
ser chamada de plenitude Daquele que preenche tudo. Os cristãos sendo
membros da Igreja, vêm a ser membros da grande organização mundial, à qual
pertencem os anjos e todos os justos no céu.
Mais adiante, Paulo explica aos efésios que com a vinda de Cristo começou
uma nova era para a humanidade. Eles e outras nações estavam antes
moralmente mortos, incapazes de viver segundo os interesses espirituais e de
almejar os bens celestes, pois eles estando algemados pelo nó do pecado,
estavam prisioneiros do demônio.
"E vós estáveis mortos pelos vossos delitos e pecados, nos quais
andastes outrora, segundo o costume deste mundo, segundo o
príncipe que exerce o poder sobre este ar, espírito que agora
domina sobre os filhos da incredulidade, entre os quais também
todos nós vivemos outrora, segundo os desejos da nossa carne,
fazendo a vontade da carne e dos apetites, e éramos por natureza
filhos da ira, como todos os outros. Mas Deus, que é rico em
misericórdia, pela Sua extrema caridade, com que nos amou,
estando nós mortos pelos pecados, convivificou-nos em Cristo,
(por cuja graça fostes salvos), e com Ele nos ressuscitou e nos
fez sentar nos céus com Jesus Cristo, a fim de mostrar aos
séculos futuros as abundantes riquezas da Sua graça, por meio da
Sua bondade para conosco em Jesus Cristo. Porque é pela graça
que fostes salvos, mediante a fé, e isto não (vem) de vós, porque
é um dom de Deus, não pelas vossas obras, para que ninguém se
glorie. Realmente somos obra Sua, criados em Jesus Cristo para
(fazer) boas obras, que Deus preparou para caminharmos nelas"
(Ef 2:1-10).
"Porque é pela graça que fostes salvos, mediante a fé, e isto não (vem) de vós,
porque é um dom de Deus" (Ef 2:8). A nossa salvação é obra da infinita
misericórdia de Deus e devemos agradecê-Lo incessantemente por isso. Nós
não podemos falar em mérito aos homens perante Deus. No entanto, não
devemos entender essas palavras do apóstolo como entendem os sectários que
negam a necessidade de boas ações. Na realidade, ao lermos essas palavras no
contexto das proposições que as precedem e que as seguem, torna-se claro que
a salvação veio ao homem não por parte de qualquer mérito recebido por ele,
mas como dom da graça, isto é, da misericórdia divina. A fé é a condição
mínima, mas absolutamente necessária, que faz o ser humano receptivo à
revelação divina e a sua força regeneradora. Enquanto o homem não crê ele é
espiritualmente cego, incapaz de entender as coisas espirituais e de viver
segundo os interesses espirituais. É como se ele estivesse morto. Deus vendo a
incapacidade do homem, tem piedade dele e o auxilia a crer com a Sua graça,
manifestando-se na sua consciência. É como se Deus batesse no coração de
cada um e oferecesse a Sua ajuda: "Eis que estou à porta e bato. Se alguém
ouvir a Minha voz e Me abrir a porta, entrarei até ele, e cearei com ele, e ele
Comigo" (Apoc 3:20).
Quando alguém atende ao chamado de Deus e recebe a Sua luz ele é tido
como "salvo," porém, isso não significa que ele já tenha o paraíso garantido e
nem que ele não precise mais se aperfeiçoar espiritualmente, mas significa que
ele entrou para o caminho da salvação. A fé em Cristo abre o acesso ao
homem para todos os dons da graça. Toda vida, seja ela vegetal, animal ou
espiritual é natural que se manisfeste na atividade correspondente e no
crescimento. A fé cristã, caso ela realmente penetre no coração e modifique a
visão do mundo no homem, manifesta-se naturalmente em atos de amor e de
crescimento espiritual. Paulo acrescenta as palavras ao lembrar da
fé: "Realmente somos obra Sua, criados em Jesus Cristo para (fazer) boas
obras, que Deus preparou para caminharmos nelas" (Ef 2:10).
Ou seja, nós eramos antes incapazes de praticar boas ações, pois estavamos
mortos espiritualmente, mas agora é como se Cristo tivesse criado-nos
novamente dando-nos a capacidade de fazer o bem. A palavra "ações" não
deve ser entendida como os judeus entendem, no sentido de atos da lei, que
consiste na execução mecânica de regras externas e cerimoniais, mas devemos
entendê-la no sentido de atividade virtuosa e cheia de amor. No tempo dos
apóstolos a fé cristã era chamada de "caminho" (cf. At 18:25, 19:23), porque a
fé não é um estado imóvel em sua convicção autosuficiente, mas ela é uma
aspiração ativa ao aperfeiçoamento. Com a existência da fé, uma vida virtuosa
é tão natural quanto aos bons frutos em uma árvore com vida. Por outro lado,
quando o cristão tem a ausência do entusiasmo, a apatia quanto às questões da
fé e a indiferença em relação à vida espiritual, isso testemunha que a luz da fé
está apagando-se nele e que ele está morrendo espiritualmente.
O apóstolo lembra aos antigos gentios, o estado religioso lamentável que eles
se encontravam antes da sua conversão ao cristianismo para revelar a eles com
maior evidência a grandiosidade da misericórdia de Deus. Os judeus pelo
menos acreditavam em Deus e tinham uma certa idéia a respeito da vida
virtuosa, mas os pagãos estavam totalmente envolvidos pelas trevas da
superstição e atolados nos vícios. Por isso, os pagãos tendo acreditado em
Cristo,
O Senhor Jesus Cristo eliminou tudo que era sem importância na lei de
Moisés, ou seja, tudo que tinha caráter temporal, tudo que se referia às
cerimônias e aos hábitos nacionais, tudo que alimentava o nacionalismo
exagerado e o isolamento, enaltecendo e enobrecendo tudo que havia de
verdadeiramente valioso. Segundo as palavras do apóstolo Paulo,
Cristo: "Abolindo a lei dos mandamentos com as suas prescrições, para
formar em si mesmo dos dois um só homem novo, fazendo a paz" (Ef 2:15).
Da mesma forma, quando o Senhor Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os
pecadores, Ele não veio para julgar as questões de um lado ou de outro entre
aqueles que brigavam e nem veio para dar vantagens a um povo sobre o outro,
mas Ele veio para se apiedar de todos, integrá-los na nova vida e reuní-los em
um único povo de Deus, porque: "Se algum, pois, está em Cristo é uma nova
criatura; passaram as coisas velhas; eis que tudo se fez novo" (2Cor 5:17).
Jesus Cristo tendo reconciliado os homens com Deus e entre si, reconciliou-os
também com o mundo dos anjos. O apóstolo Paulo contemplando todas essas
grandes obras da misericórdia de Deus, conclama a todos em êxtase espiritual
para agradecê-Lo.
Paulo ao falar da Igreja como sendo a sociedade dos que crêem, recorre a duas
analogias: o corpo e o edifício. Ao utilizar a semelhança da Igreja com o corpo
ele desenvolve o seguinte pensamento: na Igreja, assim como em um
organismo vivo, não há membros supérfluos e inúteis, ao contrário, os
membros todos se completam e são necessários para o bem do todo. Na
semelhança da Igreja com o edifício (ou templo) o apóstolo revela a sua
majestade e a sua coerência, o seu poder, a sua firmeza, a sua beleza espiritual
e a sua harmonia. A Igreja é como um edifício altíssimo que começa na terra e
o seu topo alcança o céu, porém, esse edifício não está terminado.
O mistério da conversão (à fé) dos povos pagãos: "O qual não foi conhecido
nas outras gerações pelos filhos dos homens" (Ef 3:5). "Porque não o recebi
nem aprendi de homem, mas por revelação de Jesus Cristo" (Gal 1:12). A
verdade é que alguns profetas previram, que um dia os povos pagãos se
converteriam à verdadeira fé e glorificariam a Deus (Sl 21:28, 71:10-17; Is
2:2, 11:1-10, 42:1-12, 49:6, 54:12-14, 55:5, 65:1-3; Dan 7:13-14; Ag 2:6-7).
Porém, o fato de que eles juntamente com os judeus compartilhariam todas
as bênçãos do Reino de Deus e junto com eles constituiriam um único povo
de Deus ― estava oculto aos homens. O apσstolo Paulo, assim como outros
judeus daquele tempo, entendia as profecias sobre a conversão dos pagãos no
sentido que alguns pagãos seriam perdoados e mereceriam uma posição
secundária no Reino do Messias, já os judeus sendo o povo eleito receberiam
uma posição privilegiada nesse Reino.
Porém, Paulo tendo recebido a revelação entendeu que o Messias veio para
salvar todos os povos. Deus dá às pessoas a cidadania no Seu Reino não por
direito, mas por Sua misericórdia. Diante disso, não se pode falar sobre
privilégio ou mérito perante Deus, pois a diferenciação das nacionalidades
perde todo e qualquer significado no Novo Testamento. Até a vinda de Cristo,
o plano de Deus sobre a salvação de todos os povos era um mistério que nem
os anjos entendiam. Apesar dos anjos conhecerem muito mais que os homens,
já que eles podem contemplar diretamente a majestade de Deus, não sabem de
tudo, mas apenas o que Deus quer revelar-lhes. Deus revela os Seus planos
aos anjos na medida necessária para o cumprimento da Sua vontade. Os
motivos ocultos, porque Deus determinou dessa forma ou daquela, outras
metas, e como os acontecimentos desenvolver-se-ão após a execução dos
planos continuam encobertos para eles, que ficam sabendo sobre isso mais
tarde já a partir dos próprios acontecimentos. À medida que esses
acontecimentos vão desenvolvendo-se, os anjos têm a possibilidade de
entender os mistérios que estão em suas bases. A Terra, os homens e
principalmente a Igreja de Deus são o palco principal das grandiosas e
maravilhosas obras de Deus. O centro da luta entre o bem e o mal concentra-
se em nosso mundo, após a expulsão do demônio dos céus juntamente com os
anjos decaídos. Os anjos contemplando os caminhos da Providência de Deus
na vida das pessoas, tomam parte nos eventos do nosso mundo obedecendo as
instruções de Deus. O apóstolo Paulo tendo em vista essa observação no
desenvolvimento dos fatos do Novo Testamento escreveu: "Em verdade,
entendo que Deus nos expôs a nós apóstolos como os últimos (dos homens),
como destinados à morte, porque somos dados em espetáculo ao mundo, aos
anjos e aos homens" (1Cor 4:9).
E ele vendo a grandiosa força e abundância da graça divina que atuava através
dele, reconhece a sua fraqueza e insignificância na obra da divulgação do
cristianismo e escreve: "A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta
graça de anunciar entre os gentios as riquezas incompreensíveis de
Cristo" (Ef 3:8). Em outras palavras, tudo é realizado por Deus, o apóstolo
considera-se apenas um instrumento da Sua vontade. Deus criou tudo em
Jesus Cristo:
Os efésios podiam estar confusos pelo fato de Deus permitir que Seus
servidores estivessem sujeitos a tantas tribulações e dificuldades, porém, o
apóstolo não responde às hesitações deles, ele somente roga a Deus para que
Ele os ajude a amadurecerem espiritualmente e a entenderem por si só, porque
é necessário para todos passar pela fornalha purificadora dos sofrimentos.
"Pelo que vos rogo que não desanimeis por causa das tribulações
que tenho por vós: elas são vossa glória. Por esta causa dobro os
meus joelhos diante do Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, do
Qual toda a família, quer nos céus, quer na terra, toma o nome,
para que, segundo as riquezas da Sua glória, vos conceda que
sejais corroborados em virtude, segundo o homem interior, pelo
Seu Espírito, e que Cristo habite pela fé nos vossos corações, de
sorte que, arraigados e fundados na caridade, possais
compreender, com todos os santos, qual seja a largura e o
comprimento, a altura e a profundidade; e conhecer também o
amor de Cristo, que excede toda a ciência, para que sejais cheios
de toda a plenitude de Deus. Àquele que é poderoso para fazer
todas as coisas mais abundantemente do que pedimos ou
entendemos, segundo a virtude que opera em nós, a esse glória
na Igreja e em Jesus Cristo, por todas as gerações de todos os
séculos. Assim seja" (Ef 3:13-21).
"E que Cristo habite pela fé nos vossos corações, de sorte que, arraigados e
fundados na caridade, possais compreender, com todos os santos, qual seja a
largura e o comprimento, a altura e a profundidade; e conhecer também o
amor de Cristo, que excede toda a ciência, para que sejais cheios de toda a
plenitude de Deus" (Ef 3:17-19). O desenvolvimento das capacidades
cerebrais ou o aperfeiçoamento das diversas qualidades não é o que dá ao
homem a sabedoria espiritual, através da qual ele pode penetrar nos mistérios
espirituais, mas é sim o prosperar no amor. O mais maravilhoso e inspirador
de todos os mistérios da fé e ao mesmo tempo inatingível vem a ser o amor de
Cristo, que é tão imenso quanto ao espaço que nos rodeia. As
palavras "largura e comprimento" "altura e profundidade" usadas pelo
apóstolo Paulo é como se ele desenhasse a cruz perante os olhos dos fiéis,
lembrando-nos que Cristo manifestou Seu infinito amor a nós exatamente nos
Seus sofrimentos sobre a cruz.
Portanto, tudo vem de Deus. Ele nos criou, nós caímos e Ele nos levantou,
purificou os pecadores e os santificou, iluminou os insensatos e fortaleceu os
vacilantes. A contemplação dessa infinita seqüência das graças de Deus leva o
apóstolo a sentir a necessidade de glorificá-Lo incessantemente. O seu
ensinamento sobre a Igreja de Cristo, como uma sociedade universal que tudo
preenche com o corpo místico de Cristo, é muito importante para o
fortalecimento da nossa fé. Nós como membros de uma determinada paróquia,
freqüentemente, perdemos de vista a real grandiosidade e a força espiritual da
Igreja à qual pertencemos. Nos tornamos propensos a ver o nosso templo-
paróquia como uma ilhota perdida no oceano sem limites da sociedade, na
qual a maioria das pessoas vive de acordo com os entendimentos e os
interesses pagãos. As ondas espumantes das inúmeras heresias e a decadência
moral cada vez maior do ser humano fazem-nos parecer às vezes, que
finalmente estão afundando a nossa pequena paróquia e aos poucos o
cristianismo como um todo, de tal forma, que só nos restará lembranças da
Igreja de Cristo.
A seguir, nós veremos a segunda parte da Epístola aos Efésios que contém
o ensinamento moral incluído nos três últimos capítulos de 4 a 6.
O apóstolo Paulo após ter revelado o entendimento sobre a Igreja como sendo
uma sociedade grande e coesa que unifica os fiéis, conclama a todos a almejar
a paz e o entendimento:
Paulo usa a palavra "tradição" para denominar tudo que ele ensinou. A Igreja
na pessoa de seus arquipastores, seguindo o preceito da tradição dos
apóstolos, procurou sempre protejer a fé dos diversos modernismos,
ensinando que é importante não apenas crer com sinceridade, mas da maneira
como os apóstolos ensinaram, pois qualquer arbitrariedade em questões da fé
ou qualquer fé "particular" afasta inevitavelmente o homem da Igreja.
É importante lembrar que ninguém pode pela sua própria resolução assumir
alguma atividade de liderança na Igreja, seja um profeta, um evangelista, um
pastor ou um doutor, mas sim pela indicação daquele que Deus autorizou
nomear. Nos tempos dos apóstolos, as atividades na Igreja eram
desempenhadas por pessoas nomeadas pelos próprios apóstolos, mais tarde
eles passaram esse direito para os seus sucessores, os bispos (cf. Tit 1:5).
Paulo fala claramente sobre a hierarquia eclesiástica instituída por Deus em
sua epístola aos efésios assim como em outras epístolas, por isso, aqueles que
rejeitam ao clero vão contra aquilo que os apóstolos estabeleceram. O objetivo
dessa hierarquia é ajudar os fiéis no aperfeiçoamento moral (para o
aperfeiçoamento dos santos cf. Ef 4:12) e criar o Corpo de Cristo (a Igreja),
isto é, ajudar a difundí-la e a consolidá-la. Os pastores da Igreja devem
trabalhar nesse sentido "Até que cheguemos todos à unidade da fé e do
conhecimento do Filho de Deus, ao estado do homem perfeito, segundo a
medida da idade completa de Cristo" (Ef 4:13), isto é, que com a segunda
vinda de Cristo todos atinjam o nível espiritual máximo.
Dessa maneira segundo o apóstolo, a Igreja não é uma pedra imobilizada, mas
é sim um corpo vivo cuja vocação é crescer e aperfeiçoar-se. Um grande
carvalho difere muito no seu aspecto externo de um pequeno broto, do qual
ele cresceu, no entanto, a sua essência é a mesma. Da mesma forma, a Igreja
no seu estado atual parece ser diferente da Igreja dos tempos dos apóstolos,
mas a sua essência permanece a mesma: ela contem a mesma fé, a mesma
bem-aventurança, os sacramentos e a estrutura hierárquica que continha
naquela época. Em seu longo caminho histórico, a Igreja enriqueceu-se e
amadureceu em muitos aspectos. A luta contra as heresias ajudou no
entendimento de muitas verdades cristãs e a propagação do monastério ajudou
na consolidação de regras da vida espiritual. O magnífico canto litúrgico, as
ricas imagens e arquiteturas, tudo isso é resultado do crescimento interior e
exterior da Igreja.
"Para que não mais sejamos meninos flutuantes..." (Ef 4:14). O ideal do
cristão é atingir a bondade, a espontaneidade e a sinceridade da criança. "Na
verdade vos digo que, se vos não converterdes e vos não tornardes como
meninos, não entrareis no Reino dos Céus" (Mt 18:3). Isso é dito em relação
ao coração.
b) Regras gerais.
Despojai-vos do homem velho (Ef 4:17-24).
"Isto, pois, digo e vos rogo no Senhor: que não andeis mais
como os gentios, que andam na vaidade dos seus pensamentos,
os quais têm o entendimento obscurecido, (e estão) afastados da
vida de Deus pela ignorância que há neles, por causa da cequeira
do seu coração, os quais desesperando, se entregaram à
dissolução, à prática de toda a impureza, à avareza. Mas vós não
aprendestes assim (a conhecer) Cristo, se é que ouvistes (pregar
Dele), e fostes ensinados Nele, segundo a verdade que está em
Jesus, a vos despojardes, pelo que diz respeito ao vosso passado,
do homem velho, o qual se corrompe pelas paixões enganadoras.
Renovai-vos, pois, no espírito do vosso entendimento, e revesti-
vos do homem novo, criado segundo Deus na justiça e na
santidade verdadeira."
Nós devemos imitar a Deus no amor, tal como os filhos imitam a seus pais.
Imitar a Deus significa seguir o exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo. As
perfeições do Deus invisível tornaram-se visíveis a todos nos atos de Jesus
Cristo. Por isso o Salvador disse: "Quem Me vê, vê também o Pai" (Jo 14:9).
O apóstolo João aconselha-nos a imitar o maior ato de amor de Cristo, que foi
o Seu sacrifício redentor, sacrificando-nos pelo bem do próximo. "Nisto
conhecemos o amor de Deus: em ter dado a Sua vida por nós; igualmente nós
devemos também dar a vida pelos nossos irmãos" (1Jo 3:16).
O apóstolo Paulo recomenda novamente aos efésios para evitarem tudo aquilo
a que antes se submetiam, para eles evidenciarem com mais brilho o alto nível
da vocação cristã.
Palavras vãs ― são conversas do tipo: "pecado não é algo tão grave, porque
pecar é algo natural a nossa natureza imperfeita; Deus é misericordioso, Ele
perdoa a todos" e outras conversas desse gênero. Paulo explica que todas as
tentativas de justificar de alguma forma os próprios atos pecaminosos, atraem
a justiça de Deus.
Nós devemos não apenas evitar os pecados, mas antes condená-los (cf. Ef
5:11), porém, para isso a pessoa tem que ter muita sabedoria espiritual e
experiência. Ser pacificador, ou seja, reconciliar os pecadores com Deus, é a
sétima virtude que se dá àqueles que são puros de coração (cf. Mt 5:9). O
apóstolo Paulo em sua epístola aos Gálatas encarrega alguns espirituais para
corrigir aqueles que cometem pecados: "Irmãos, se algum homem for
surpreendido em algum delito, vós, que sois espirituais, admoestai-o com
espírito de mansidão; refletindo cada um sobre si mesmo, não caia também
em tentação" (Gal 6:1). O homem espiritual deve ser prudente e refrear-se em
sua tentativa de corrigir o outro para que ele mesmo não caia em
tentação: "Aquele, pois, que crê estar de pé, veja não caia" (1Cor 10:12).
A tarefa de repreender os que pecam, deve-se deixar àqueles que têm essa
obrigação direta. Paulo orienta seu discípulo, o bispo Timóteo, como ele
deveria proceder perante a acusação contra um presbítero: "Aos que pecarem
repreende-os diante de todos, para que também os outros tenham
medo" (1Tim 5:20). "Levai os fardos uns dos outros e, desta maneira,
cumprireis a lei de Cristo" (Gál 6:2). "Confessai, pois, os vossos pecados uns
aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes salvos" (Tg 5:16).
O estado de um pecador arraigado é semelhante a um sono profundo, mas com
a ajuda de Deus até mesmo ele pode despertar. As palavras: "Desperta, tu que
dormes; levanta-te dentre os mortos e Cristo te alumiará" (Ef 5:14) pelo que
parece são extraídas de algum hino cristão no tempo dos apóstolos ou são
inspiradas no texto do livro do profeta Isaías, que profetizou sobre a glória
vindoura da Igreja de Cristo: "Levanta-te, recebe a luz, Jerusalém, porque
chegou a tua luz, e a glória do Senhor nasceu sobre ti. Porque eis que as
trevas cobrirão a terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti nascerá o
Senhor, e a Sua glória se verá em ti" (Is 60:1-2).
Mais adiante, o apóstolo explica que tudo aquilo que ele conclama, deve ser
aceito por nós não como plano geral para um futuro incerto, mas ao contrário,
cada crente deve esforçar-se o máximo possível para aproveitar o tempo
precioso que Deus deu a ele, a fim de se preparar para a eternidade.
Paulo denomina aqui de "maus" (Ef 5:16) os dias de nossa vida terrena no
sentido de sua precariedade. Nós sempre pensamos que a nossa vida ainda
está por vir, que nós iremos conseguir regenerar-nos e fazer algo de bom. De
repente, de surpresa a morte espreita-nos e aí está o fim de todos os nossos
planos: não há como fazer o tempo retroceder. Por isso, o apóstolo roga para
não sermos insensatos, mas para nos esforçarmos a compreender a vontade de
Deus, isto é, entender o que devemos fazer e o que almejar. Deus indicará,
sem dúvida, algo de útil através das circunstâncias externas e através da
inspiração interna àquele que O procura para guiá-lo. O que devemos fazer é
somente aprender a ouvir a Sua voz.
Um noviço faz uma pergunta: "Quantas vezes se deve orar para receber a
mensagem como se deve agir"? O ancião Varsanof responde: "Quando não
há um ancião experiente para se perguntar, deve-se rezar três vezes sobre o
caso e depois observar para onde o coração inclina-se, nem que seja um
cabelo e assim agir. O coração pode perceber e compreender tal mensagem."
Noviço: "Deve-se rezar as três vezes tudo de uma vez ou em momentos
diferentes"?
Ancião: "Às vezes não há como protelar. Se houver tempo reze três vezes no
intervalo de três dias, caso houver necessidade premente como foi no tempo
da traição do Salvador, tome-O como exemplo. Ele se afastou por três vezes
para orar e as três vezes Ele pronunciava sempre as mesmas palavras (cf. Mt
26:44)."
Assim como numa corrente um elo puxa o outro, assim também ocorre com os
vícios. O exagero ao beber-se vinho, por exemplo, leva o homem a uma vida
libertina (cf. Ef 5:18). O cristão deve procurar o consolo espiritual, ele
deve encher-se do Espírito Santo recitando salmos, hinos e cânticos
espirituais ao invés de procurar os prazeres da carne (cf. Ef 5:19). Ele deve
esforçar-se para que tanto a língua quanto o coração louvem a Deus, pois se
sabe que durante o tempo dos apóstolos já haviam hinos cristãos (cf. 1Cor
14:26). Um governante pagão chamado Plínio escreveu no início do século II
ao imperador troiano, que os cristãos reuniam-se antes do raiar do sol e juntos
louvavam Cristo como Deus.
Após a explicação das regras gerais da vida cristã, o apóstolo passa a explicar
as regras particulares, começando pela exposição das obrigações dos
conjuges. Ele representa aqui a união dos conjuges como sendo a imagem da
união mística de Jesus Cristo com a Igreja.
c) Regras particulares.
Cristo e a Igreja ― exemplo para maridos e esposas (Ef 5:22-33).
O apóstolo cita as seguintes palavras: "no batismo da água" (cf. Ef 5:26) que
subentende o mistério do batismo, com o qual Cristo purifica as pessoas que
ingressam na Igreja de todas as suas impurezas morais. De forma semelhante,
os maridos também devem cuidar da pureza moral e da salvação das almas de
suas esposas. Eles devem manifestar o seu amor nos cuidados com elas, assim
como eles cuidam de seu próprio corpo. Eles devem alimentá-las e aquecê-las
como o Senhor faz com a Igreja. Paulo lembra-nos sobre o embasamento
bíblico desse amor do marido para com a esposa: "Por isso deixará o homem
seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa só carne" (Gên
2:24).
Com essas palavras, o apóstolo deseja alertar os conjuges para uma união
sólida e demonstrar como as brigas conjugais são anti-naturais. A expressão "a
mulher reverencie o seu marido" (Ef 5:33) é evidentemente figurativa, isso
não significa que a mulher precise temer o marido como uma escrava, porque
tal temor não pode ter lugar no cristianismo. Esse temor nada mais é que
o respeito da mulher para com o marido. Ela deve respeitá-lo como cabeça da
família e ele deve ser responsável perante a Deus pelo bem estar dessa família.
Através desses e de outros ensinamentos apostólicos nós podemos ver como
era o relacionamento dos primeiros cristãos com o casamento. O marido e a
mulher são absolutamente iguais como colaboradores de Deus, do Reino de
Deus e herdeiros da vida eterna, porém, a diferença estabelecida entre eles
pela sua natureza, permanece. A esposa foi criada para ajudar o marido e foi
criada do marido (da costela dele) e não o marido para ajudar a esposa, apesar
dele ter nascido "da mulher." A esposa, pelo seu significado humano e pelo
desígnio de Deus, é igual ao marido em tudo, mas no aspecto prático ela vem
a ser a sua ajudante e dependente e o marido vem a ser a cabeça da família,
portanto, cabeça da esposa "e que vivam segundo a vontade de Deus" como
está escrito nas orações do sacramento do matrimônio.
"Aos outros, sou eu que lhes digo, não o Senhor: se algum irmão
tem uma mulher sem fé, e esta consente em habitar com ele, não
a repudie. E, se uma mulher crente tem um marido sem fé, e este
consente em habitar com ela, não deixe esta o seu marido;
porque o marido sem fé é santificado pela mulher fiel, e a mulher
sem fé é santificada pelo marido fiel; doutra sorte os vossos
filhos seriam impuros, enquanto que agora são santos" (1Cor
7:12-14).
Os filhos devem obedecer os pais, pois assim exige a lei natural da justiça. Os
pais devem evitar severidade com os filhos e educá-los segundo as leis do
Senhor. Todo relacionamento familiar deve ser no Senhor, isto é, deve estar de
acordo com o ensinamento cristão em relação à liberdade e pureza moral;
deve estar baseado no princípio da justiça, respeito mútuo e amor, e não deve
transgredir os limites permitido pela lei de Cristo.
"A fim de que sejas feliz e tenhas larga vida sobre a terra" (Ef 6:3). Esse é o
único mandamento acompanhado de uma promessa. O quinto mandamento ―
honrar os pais ― entre os dez mandamentos do Antigo Testamento ι o único
que promete uma recompensa: "Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas
uma vida dilatada sobre a terra que o Senhor teu Deus te dará" (Êx 20:12).
A nossa vida toda é uma luta incessante contra as tentações que vêm de todos
os lados. Essas tentações nascem em nós freqüentemente sem um motivo
externo aparente ou provem às vezes de pessoas ou circunstâncias externas.
No entanto, cada um deve saber que o maior perigo que nos ameaça vem
exatamente dos demônios. O satã e os espíritos decaídos não são produtos de
fantasia supersticiosa, mas são seres reais apesar de serem invisíveis. Eles
direcionam conscientemente e segundo um plano todas as suas atividades,
artimanhas e experiência de milhares de anos, a fim de estimular paixões nas
pessoas e as empurrarem para todo o tipo de transgressão. A maioria dos
homens, pela sua ingenuidade, são inclinados a ver os seus concorrentes e
seus desafetos como inimigos e não levam em consideração a presença dos
espíritos malignos. Na realidade, como explica o apóstolo, a nossa luta não
deve ser dirigida contra a carne e o sangue, ou seja, ela não deve ser contra os
homens que se encontram em perigo como nós, mas ela deve ser contra esses
espíritos do mal. Nós não gostamos de sofrer perdas materiais, porém, esse
não é o maior perigo, o verdadeiro perigo é perdermos o Reino de Deus e a
vida eterna, isso é o que devemos temer, pois essa perda será uma tragédia
irreparável.
Maiores detalhes sobre essas virtudes cristãs podem ser vistos no Sermão da
Montanha do Salvador (Mt 5-7). Dessa maneira, o modo de vida cristã correto
é a melhor defesa contra os espíritos decaídos, por outro lado, eles têm livre
acesso às pessoas que se encontram longe de Cristo, influenciando-as em seus
pensamentos e sentimentos, provocando nelas paixões e as empurrando para
todo o tipo de maldade. O pior de tudo é que o infeliz pecador nem desconfia
da tremenda desgraça, na qual ele se encontra.
O apóstolo pede para orarem por ele na conclusão de sua epístola aos efésios.
Ele faz isso em cada uma delas, ensinando dessa maneira que a oração
coletiva tem uma grande força, pois até mesmo os mais importantes servidores
da Igreja têm necessidade dela.
"E para que vós saibais também o estado das minhas coisas e o
que eu faço, de tudo vos informará Tíquico, nosso irmão muito
amado e ministro fiel no Senhor, o qual vos enviei para isto
mesmo, para que saibas o que é feito de nós e para que console
os vossos corações. Paz aos irmãos e caridade e fé, da parte de
Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo. A graça seja com todos os
que amam a nosso Senhor Jesus Cristo de um modo inalterável.
Assim seja" (Ef 6:21-24).
Conclusão.
Assim, em sua epístola aos efésios, o apóstolo Paulo compartilha aqueles
pensamentos e sentimentos elevados, com os quais Deus iluminou-o durante o
período de reclusão. Ele revela aqueles caminhos elevados, pelos quais Deus
leva a humanidade à salvação e revela também o significado da Igreja de
Cristo que envolve o mundo humano e o angelical.
No centro do mistério da redenção encontra-se Cristo e Sua Igreja, a qual vem
a ser o Seu corpo místico que envolve o céu e a terra. A Igreja não alcançou
ainda a plenitude de seu desabrochar, mas ela cresce e se aperfeiçoa com a
absorção constante de novos membros. Cada cristão, aperfeiçoando-se
moralmente, contribui para o crescimento dela.
A Igreja não é uma rocha imóvel em sua estagnação, mas sim o corpo de
Cristo vivo e em constante aperfeiçoamento. Uma árvore de muitos séculos
difere na aparência da pequena sementinha, da qual ela germinou, no entanto,
a sua essência genética permanece a mesma. Igualmente, é a Igreja de Cristo
hoje com toda a sua aparente diferença daquela Igreja dos primórdios do
cristianismo, mas que contem a mesma fé, a mesma graça, os mesmos
sacramentos e a mesma estrutura hierárquica que os apóstolos colocaram
como base.
A nossa vida é uma luta incessante contra os espíritos malignos que tentam
destruir as nossas almas, atacando-nos insistentemente com tentações. Um
modo de vida cristão e a graça de Deus são os meios mais seguros, isto é, as
"armas" para nos defendermos deles. A virtude mais importante é
o amor puro e desinteressado em primeiro lugar a Deus e depois ao próximo.
Aquele que se esforça a amar a todos com toda a sua força, encontra-se no
caminho da perfeição e os espíritos malignos não têm acesso a ele.
(ephesians_p.doc, 05-18-2002)