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L DE TU Caderno Virtual de Turismo

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RNO VIRT ISSN: 1677-6976 Vol. 5, N° 3 (2005)

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O Olhar do Turista
John Urry. Editora Studio Nobel/SESC: São Paulo. 2001.

Por José Henrique de assumindo fortes tendências


Oliveira Santos* mercantis. Em outras palavras, a
e Ivan Bursztyn** atividade turística passa a ser
subordinada as leis de mercado,
Talvez a principal em que o sucesso da
referência que se faz ao livro O empreitada está relacionado ao
Olhar do Turista, de John Urry, seu aspecto lucrativo.
seja sua abordagem crítica das
transformações dos destinos No bojo das
turísticos em espaços de transformações promovidas
celebração dos prazeres da contemplação do pelo turismo, Urry identifica uma mudança no
lugar encenado. olhar do turista que deixa de ter um certo ar
romantizado e individual para um olhar mais
São os chamados “pseudo- sóbrio e coletivo. Esse tipo de olhar coletivo
acontecimentos” de Boorstin, um termo “precisa, assim, da presença de um grande
comumente relacionado ao turismo de massa número de pessoas (...) É a presença de outros
que com suas visitas-guiadas criam um mundo turistas (...) que é necessário para o sucesso de
de ilusões com atrações “inventadas” e fora tais lugares, que dependem do olhar coletivo
da realidade local. Essas visitas “são feitas sob do turista”. (URRY: 2001, p.70)
a proteção da ‘bolha ambiental’ do hotel
www.ivt -rj.net familiar, de estilo americano, que isola o turista Urry se apóia no conceito de “pós-
da estranheza do ambiente que o cerca e o modernismo” para falar dessa mudança de
hospeda” (URRY: 2001, p.23). rumo no turismo. Para ele, a sociedade de
LTDS
consumo é uma tendência pós-modernista cuja
Urry discute a questão com base em principal característica é a valorização da
José Henrique de Oliveira Santos e Ivan Burstzyn

Laboratório de Tecnologia e
Desenvolvimento Social alguns teóricos como MacCannel que, diversão, do prazer e da imitação. Seguindo
O Olhar do Turista, de John Urry

divergindo de Boorstin, afirma que os próprios essa linha, o autor coloca que a cultura pós-
nativos têm sua parcela de culpa na criação moderna tem no imediatismo a sua principal
dos tais pseudo-acontecimentos, pois além de característica. E, nesse sentido, a mídia tem um
terem suas vidas preservadas se beneficiam das papel significativo, pois “cada vez mais vivemos
oportunidades de trabalho e renda geradas em uma cultura de três (ou cinco!) minutos. Há
pelo turismo. uma sugestão no sentido de que os
telespectadores vivem mudando de um canal
Esse debate leva o autor a concordar para o outro, incapazes de se concentrarem
que o turismo sofreu profundas mudanças, em qualquer assunto ou tema por mais de

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alguns minutos”. (URRY: 2001, p. 129). entendida não só em termos de implantação


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John Urry apresenta o caso britânico para de preparação da viagem.
mostrar que todo o anseio por parte dos
ingleses em busca de lugares históricos O livro é de suma importância para o
transformados em espaços museológicos tem entendimento da “sociologia cambiante do
fundamento em uma “cultura de museu pós- olhar do turista” e suas relações com o conceito
moderna”, pois quase tudo passa a se tornar de “pós-modernismo” e o surgimento do “pós-
“objeto de curiosidade” para os turistas. turista” que pela facilidade que possui, graças
Conforme o autor coloca: “Na realidade, o fato aos poderes da mídia, pode contemplar vários
de todo tipo de lugar ter se tornado um centro lugares sem precisar deixar o seu lar.
de espetáculo e exibição e a atração
nostálgica exercida pela ‘herança cultural’ Uma observação importante com
podem ser considerados elementos do pós- relação ao texto é o uso do conceito de “pós-
moderno”. (URRY: 2001, p. 93). modernismo”, que estabelece claras relações
com o conceito de pós-turismo, que não é
E ao falar em pós-modernismo, Urry se totalmente aceito nos dias de hoje. Porém,
apóia em Feifer (1985) para tratar do conceito como frisa o pesquisador Fredric Jameson em
de “pós-turismo”, em que a autora destaca seu texto O mal-estar no pós-modernismo:
algumas características do que se poderia teorias e práticas:
chamar de um “pós-turista” – um sujeito que
tem a noção de que “é um turista, que um (...) em algum momento posterior à
Segunda Guerra Mundial, um novo tipo
turismo é um jogo, ou melhor, uma série de
de sociedade começou a emergir (uma
jogos com múltiplos textos, e não uma
sociedade variavelmente descrita
experiência turística singular”. como sociedade pós-industrial,
capitalismo multinacional, sociedade de
Na verdade, à medida que o turismo vem consumo, sociedade da mídia etc.)

se transformando em uma grande indústria, em (JAMESON: 1993, p.43).

escala mundial, não há mais espaços para a


E um novo olhar sobre o turismo atrelado
falta de estrutura e despreparo na atividade.
à penetração maciça de propaganda, da
Tudo tem de ser bem estruturado e
televisão e dos meios de comunicação que
sistematizado. Esta organização pode ser
muitas vezes consegue transformar a realidade
em momentos instantâneos (como um apertar
de um botão de máquina de fotografia) é
perfeitamente compreensível.
José Henrique de Oliveira Santos e Ivan Burstzyn
O Olhar do Turista, de John Urry

* mestrando do Programa de Engenharia


de Produção da COPPE/ UFRJ e
pesquisador do IVT.
** Mestre em Engenharia de Produção
pela COPPE/UFRJ. É pesquisador do
Laboratório de Tecnologia e
Desenvolvimento Social (LTDS-COPPE/
UFRJ), coordenador adjunto do Instituto
Virtual de Turismo (IVT-RJ/UFRJ) e co-
editor do Caderno Virtual de Turismo (CVT,
www.ivt-rj.net/caderno).
E-mail: ivan@lb.com.br

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