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MUN

tratem de diferentes tópicos de inte-


resse mútuo, nos quais os múltiplos
parc e i ros possam aprender uns com
os outros. No caso da Amazônia, os
custos desses encontros seriam ex-
t remamente elevados devido à vasta
dito que essa ação deve ser na forma
de doações monetárias para organi-
zações de conservação ativas na re-
gião e através de ações em nossos
países para diminuir as pressões so-
bre a Amazônia. Por exemplo, atra-
distância e falta de uma infra-estru- vés da compra de café que é conhe-
tura de transportes sólida na maior cido por financiar a sobrevivência de
parte da região que é subdesenvo l- p ovos locais, o chamado café fair
vida. Em função dos custos muito trade, e dando suporte a outros pro-
altos dos encontros e para se fazer dutos e planos de investimento que
qualquer outro tipo de programa de permitam a existência da floresta e
conservação regional – além da da biodiversidade.
p o b reza que muitos países enfre n-
tam – re c o r rer a fontes internacio- É poss í vel afirmar que o modelo L A N Ç A M E N TO
nais de financiamento seria crucial transfronteiriço é a tendência futura
para o sucesso. da conservação ambiental? Livro faz relato
Não diria que a conservação trans- autobiográfico de um
Uma das maiores polêmicas é a f ronteiriça re p resenta “o futuro” da
“internacionalização” da Amazônia. conserva ç ã o. Esse modelo re p re-
“assassino” econômico
Em sua opinião, a fl o resta deve se r senta uma estratégia, entre muitas, John Perkins foi por bastante
gerida e prese r vada pelos pa í ses a que tem tido algum sucesso. É tempo uma figura respeitada
que perte n ce ou, por ser um pa t r i- importante compreender os dife- dentro da iniciativa privada
mônio internacional da biodive rs i- rentes contextos em que há sucesso e estadunidense. Funcionário de
dade e clima globa i s, ela deve se r que fatores estão circunscritos nele. influente empresa de logística
administrada por meio de uma coo- O que a conservação transfronteiri- especializada em cálculos e
peração multinacional? ças faz, no entanto, é oferecer uma projeções de infra-estrutura, ele
Os programas de conservação nun- alternativa para que a humanidade viajou o mundo prestando
ca funcionam quando se impõem solucione algumas das questões am- assessoria a governos diversos,
s o b re os direitos das populações bientais de uma forma passiva e coo- vendendo as maravilhas que
locais ou sobre a soberania dos paí- p e r a t i va. Trata-se de um conceito gastos com estradas, sistemas
ses. Nenhum país irá permitir que realmente simples compre e n d i d o elétricos e barragens poderiam
uma entidade externa tire seus direi- pela maioria das pessoas e ensinado fazer para o desenvolvimento de
tos sobre recursos naturais que lhe por nossos parentes: que a melhor nações pobres. Um tipo de
p e rtencem. No entanto, considero maneira de se alcançar nossos obje- executivo que muitos veriam como
que a Amazônia é de tamanha im- t i vos é trabalhando em conjunto e comum nesse tipo de negócio.
portância biológica e cultural que respeitando um ao outro. Perkins, porém, discorda – para
somos obrigados, como cidadãos ele, sua qualificação mais exata
globais, a tomar uma atitude. Acre- Germana Barata seria “assassino econômico”.

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John Perkins é autor de
Confissões de um assassino
econômico (Cultrix, 272 páginas),
livro autobiográfico que expõe, de
maneira assustadoramente crua,
os esquemas subterrâneos
pro j e ç õ es (inflando esta t í st i ca s
de cresc i m e nto no setor elétrico
e outros), e gara ntiriam que a
empresa contra tada fosse norte-
americana. Para ba n car o
i nvest i m e nto, fa c i l i tariam linhas
Notícias
do
Mundo

livro, fruto de mero acaso. Para o


autor, tratar-se-ia de uma
azeitada máquina, um sistema
que abrangeria universidades,
grupos econômicos, políticos,
organismos multilaterais,
através dos quais se entrelaçam de crédito com inst i tu i ç õ es militares e a comunidade de
os interesses e métodos do fi n a n ce i ras multilate rais sob fo rte espionagem/informação.
governo dos EUA, das grandes i nfluência dos EUA, como o Corporações como a MAIN,
corporações e de instituições Ba n co Mundial. garante o autor, teriam vínculos
financeiras multilaterais. Inflando as necessidades de estreitos com as agências de
investimento em infra-estrutura, e espionagem e o alto escalão do
ENDIVIDAR, MAIS E MAIS Economista condicionando sua realização a governo dos EUA, servindo, em
de formação, Perkins teve uma empresas estadunidenses, a MAIN muitos casos, como testas-de-
carreira meteórica. Ex-aspira nte ao mataria dois coelhos com uma só ferro da política estadunidense
serviço secreto dos EUA e veterano cajadada – o dinheiro nunca junto a países em
de uma temporada na Amazônia chegaria a sair dos EUA, e o país desenvolvimento – condicionando
junto ao Corpo de Paz do exército, contratante se veria enredado serviços ou projetos de infra-
ele foi contratado, em fins dos anos num débito alto demais para ser estrutura a certo alinhamento
1960, pela Chas T. Main Inc. (MAIN), pago. Uma vez que a divída político, por exemplo.
empresa especializada em logíst i ca chegasse ao insustentável o Para Perkins, sua contratação
e infra-estrutura – ramo de credor poderia, então, reclamar, pela MAIN e rápida ascensão na
co m panhias como a Halliburton ou como contrapartida, a instalação empresa – ele chegou a ser ser o
a Be c htel, que atuam hoje na de bases militares no território do mais jovem sócio da história da
reconstrução do Iraque. Seu devedor, seus recursos naturais ou companhia – seriam o resultado
trabalho, porém, ia além da simples seus votos em processos de sua experiência no exército e
busca por lucros. Perkins era o que, decisórios de organismos de seu flerte junto à comunidade
no mundo da espionagem, multilaterais. Ou ainda, mais de inteligência – seu nome teria
costuma-se designar “assassino recentemente, a aceitação de sido, ele acredita, indicado por
econômico” (AE). Seu objetivo era acordos de livre-comércio e agências governamentais. Para
garantir, através da manipulação de privatização de empresas além disso, ele garante, no livro,
dados macroeconômicos, o públicas. que seu treinamento na
endividamento deliberado de corporação foi bancado pelo
nações subdesenvolvidas. CORPORATOCRACIA Essa correlação serviço secreto estadunidense,
O jogo funcionaria assim: a MAIN de forças entre corporações, que teria designado uma
ofe re ceria a certo país um plano governo dos EUA e organismos misteriosa agente, Claudine, como
pa ra a modernização de sua financeiros internacionais – responsável por sua formação
i nf ra - est r u tura. Os técnicos da batizada “Corporatocracia” por como AE.
companhia manipulariam suas Perkins – não seria, defende o Por conta disso tudo, um AE

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funcionaria como uma espécie de
linha de frente da política externa
No tí c ia s d o Mu n d o

apesar dos AEs, Saddam nunca


foi seduzido pelas propostas das
pontas de fatos que se m p re
estiveram à vista. Não à toa, ele
estadunidense. Eles trabalham em corporações norte-americana. comenta que a obra maior dos AEs
corporações influentes, circulam Seus guarda-costa s, dos mais da velha guarda, como ele, foi
pelo mundo acadêmico, escrevem bem treinados do mundo, teriam justamente a transformação de suas
livros, têm espaço garantido na debelado não poucos ate nta d os diret r i zes econômicas macetadas
imprensa. Sua missão seria a de, contra sua vida. Restaria o em fundamentos acadêmicos.
infiltrados em círculos de exército, terceira opção. E todos
influência diversos, alinhar a sa b e m os o que aco nteceu por lá... ENTRE IDAS E VINDAS Confissões de
política e a economia dos países um assassino econômico levou
em desenvolvimento aos JUNTANDO PONTAS SOLTAS Apesar de mais de uma década para ser
interesses do governo dos EUA e narrado em primeira pessoa, cheio gestado. Perkins admite ter
de grandes grupos econômicos. de passagens amarradas apenas aceitado suborno para abandonar
pela memória do autor, com fatos o livro em meados da década de
CHACAIS E SOLDADOS Os AEs não polêmicos desfiados sem nomes 1980. Após os atentados de 11 de
estariam, porém, sozinhos em sua dados aos bois, Confissões de um setembro de 2001, resolveu
missão. Se mal-sucedidos em seu assassino econômico impressiona. terminar a obra e procurar uma
trabalho, entrariam em cena outros Afinal, ainda que o leitor possa editora. Após negativas de vários
protagonistas: os chacais. Estes ficar com a pulga atrás da orelha grupos editoriais, o livro foi
são os assassinos do serviço em uma ou outra passagem mais finalmente lançado, em 2004, pela
secreto, gente que, garante polêmica, o currículo de Perkins o independente Berrett-Koehler
Perkins, seria responsável pela gabarita como profundo Publishers.
morte de políticos como Salvador conhecedor da zona cinzenta onde
Allende (presidente do Chile), governos, corporações e Tiago Soares
Jaime Roldós (presidente do organismos financeiros se
Equador), Jacobo Arbenz Guzmán encontram. ERRATA
(presidente deposto da Guatemala), O livro não faz muito mais que
do general Omar Torrijos (ex-chefe colocar sob outra perspectiva
de estado do Panamá). eventos que, hoje, são tra ta d os
Subornando guarda-costas e como a ordem natu ral das coisa s.
promovendo atentados, os A crença no crescimento econômico
métodos dos chacais são um puro e simples como panacéia,
ta nto menos sutis que os dos AEs. prestidigitações macroeconômicas,
E, como estes, os chacais também a relação promíscua entre iniciativa
Por um erro na edição passada, a foto
falham às vezes. Neste ca so, uma privada, organismos multilaterais e que ilustra informações sobre perfume
última e trucu l e nta medida é governos, a pressão de grupos de uma espécie de orquídea (Aerangis
tomada: é hora de chamar o econômicos e governos de países confusa) nativa do Quênia foi trocada.
exército. O Iraque, velho alvo da ricos sobre nações endividadas A foto que saiu na reportagem
política externa dos EUA, aponta o pela p r i vatização de bens públicos "Aromas da natureza são capturados
autor, seria um caso clássico e a assinatura de acordos de livre- e reconstituídos pela indústria do
dessa dinâmica intervencionista: comércio – Perkins amarra as perfume" é uma Hoya Flower.

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