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MARCELO BITTENCOURT NEIVA DE LIMA

FORMAÇÃO DO TREINADOR DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO NO


BRASIL
VALIDAÇÃO DO QUESTIONÁRIO DE ANÁLISE DA FORMAÇÃO INICIAL E
PERMANENTE DOS TREINADORES DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO
(QUAFIPETAR)

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

FLORIANÓPOLIS - SC
2011
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO ESPORTE – CEFID
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO
MESTRADO EM CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO

MARCELO BITTENCOURT NEIVA DE LIMA

FORMAÇÃO DO TREINADOR DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO NO


BRASIL
VALIDAÇÃO DO QUESTIONÁRIO DE ANÁLISE DA FORMAÇÃO INICIAL E
PERMANENTE DOS TREINADORES DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO
(QUAFIPETAR)

Dissertação de mestrado apresentada ao Curso de


Pós-Graduação - Mestrado em Ciências do
Movimento Humano, do Centro de Ciências da
Saúde e do Esporte (CEFID), da Universidade do
Estado de Santa Catarina (UDESC), como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em
Ciências do Movimento Humano.

Orientador: Dr. Alexandro Andrade

FLORIANÓPOLIS - SC
2011
MARCELO BITTENCOURT NEIVA DE LIMA

FORMAÇÃO DO TREINADOR DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO NO


BRASIL
VALIDAÇÃO DO QUESTIONÁRIO DE ANÁLISE DA FORMAÇÃO INICIAL E
PERMANENTE DOS TREINADORES DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO
(QUAFIPETAR)

Dissertação de mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação - Mestrado


em Ciências do Movimento Humano, do Centro de Ciências da Saúde e do
Esporte (CEFID), da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC),
como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências do
Movimento Humano.

BANCA EXAMINADORA:

Orientador: _______________________________________________
Prof. Dr. Alexandro Andrade
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

Membro 1: _______________________________________________
Prof. Dr. Marcos Amaral de Noronha
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

Membro 2: _______________________________________________
Prof. Dr. Valmor Ramos
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

Membro 3: _______________________________________________
Prof. Dr. Leonardo Alexandre Peyré Tartaruga
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Florianópolis, 31 de março de 2011


Dedico esta dissertação à minha família, minha

namorada, meus amigos, meus mestres e à família

Kuerten. Todo esforço não foi e não será em vão!


AGRADECIMENTOS

Assim como em um jogo de tênis, a parte mais difícil de uma dissertação


é a exigência mental. A parte física e a tática são fáceis, é uma questão de
lógica matemática. Mas a mental... No livro “O Jogo Interior de Tênis” o autor
W. Timothy Gallwey bem coloca que imaginariamente temos o EGO 1 (aquele
que comanda) e o EGO 2 (aquele que realiza). Quero começar agradecendo
ao meu EGO 2, que conseguiu aguentar o “tranco”; se ele tivesse sucumbido
ao cansaço das várias madrugadas em claro, o meu EGO 1 teria o seu trabalho
ainda mais dificultado. Depois, agradeço ao meu EGO 1, que suportou o
comando de uma vida multi articulada nesses 2 anos de mestrado: minha vida
pessoal, a supervisão esportiva e pedagógica do Instituto Guga Kuerten, a
diretoria do FITEF, o Conselho Consultivo da Federação Catarinense de Tênis,
membro delegado do Fórum Nacional de Esportes do Governo Federal, agora
montando o Instituto Müller e, como falam meus amigos... Ainda faço mestrado!
Mas toda essa jornada só me dá graça porque por trás de cada uma
dessas atividades existem as pessoas. De nada valeria tudo isso se não
existissem as PESSOAS! Então, para não esquecer ninguém injustamente,
quero agradecer a todos que passaram pela minha vida até aqui e me fizeram
fazer valer a vida!
Aos meus pais que me ensinaram a ser quem eu sou, mais a parte boa
que ainda não sou, muito obrigado! Os sentimentos e as lembranças mais
profundas que eu tenho da minha vida vem de vocês e dos meus irmãos,
Mauricio e Luciana. Nada vai apagar aqueles momentos, aquelas músicas que
ouvimos viajando juntos. O Cirque du Solei me fez chorar, vocês me fazem
chorar, pessoas me fazem chorar e, assim, abençôo a vida que tenho por ter
vocês comigo. Agradeço a minha família na pessoa da minha vó, que está
sempre comigo, minha querida tia Tânia por estar sempre cuidando dos meus
irmãos, tio Gil pela nobreza das atitudes e pelas balas da Formiga Atômica no
natal, meu tio Gilberto pela felicidade que sempre trazia no seu sorriso
marcante, meus tios, meus padrinhos, meus primos, meus primos-irmãos
Cacalo e Paulo a quem me emociono só em pensar na importância quem têm
pra mim. Agradeço a minha namorada Mariana, por ter me trazido mais graça
na vida, uma nova e amável família que me trata como filho, por suportar meus
momentos de ausência e ainda ajudar no possível e impossível; “não sabendo
que era impossível, ela foi lá e fez!”.
Em nome de todos os milhões de amigos que tenho nessa vida,
agradeço àqueles de mais de 20 anos, Kiko (o segundo melhor bodyboarder
que conheço) e Silvio (o terceiro melhor tenista: Guga, eu e Silvio, na ordem).
Agradeço a Alice Kuerten pela mãe que tem sido pra mim, pelo apoio à
tudo o que faço, pelo exemplo que é em cada gesto de solidariedade, respeito,
carinho, responsabilidade. O orgulho que tenho de estar no lado de uma
pessoa como você por tanto tempo me faz transbordar de alegria e de ser, a
cada dia, uma pessoa e um profissional melhor. Trabalhar com ídolos pessoais
é privilégio de poucos; ter o carinho delas é indescritível e sublime! Neste
mesmo sentido falo do Aldo, Gui, Rafa e Guga Kuerten. Milhões de pessoas
me perguntam se o Guga é assim como aparece na televisão... Aproveito pra
dizer por aqui: É! Cada um deles é muito melhor do que se vê na televisão;
eles têm um coração maior que o mundo! Agradeço ao Guga por ter me dado
a honra de coletar informações importantes para o desenvolvimento do tênis e,
com isso, ter dado o start nesta dissertação. Agradeço ao Rafa pela maturidade
que tem e pelo grande exemplo que é para mim em tudo o que faz. Muito
obrigado para a Silvana, Cris, Perseu, Suelen, Bruno, Pitoco e Juliana por
terem segurado o piano em meu nome nos momentos da minha ausência!
Agradeço às crianças e educadores do IGK e aos meus ex-alunos da
faculdade, que foram minhas molas propulsoras na busca de capacitação,
muitos deles hoje são meus amigos.
Um agradecimento especial ao meu amigo e orientador Alexandro
Andrade. Sem a sua contribuição esta dissertação não teria, nem em sombra,
essa categoria. Seus incansáveis ensinamentos ultrapassaram em muito essas
linhas do trabalho e me causaram profunda capacidade de reflexão. Acima
disso, me trouxeram admiração pessoal e profissional por um cientista que
ultrapassa os limites de uma competência tradicional, uma mente brilhante!
Muito obrigado aos colegas do LAPE, pelas constantes colaborações!
Agradeço a todos os meus mestres, meus mentores. Agradeço de
coração o professor Hélio Roesler, um verdadeiro gênio. Quero ter o prazer de
voltar para aprender com uma das mentes mais fantásticas que passaram na
minha frente. Foi com você que entrei no mestrado e, com todo o respeito e
sapiência, compreendeu os caminhos do meu tema e me redirecionou. Um dia
quero ser um gênio que nem o Hélio e o Einstein! Obrigado ao Marino Tessari
pelo crédito que sempre me deu e pela bravura do idealismo. Acompanhei
cada passo para termos a profissão regulamentada. Você é um dos heróis!
Obrigado ao Hercides por ser o primeiro professor a me fazer acreditar no meu
potencial. Obrigado ao Valmor Ramos que, quando eu era adolescente, me
ensinou o que era Educação Física e a ter grande admiração por essa
profissão e, como obra do destino, hoje está na minha banca de defesa de
mestrado.
Finalmente, agradeço aos professores doutores que fazem parte da
minha banca de mestrado. Assim como nunca nos esqueceremos da nossa
professora da primeira série, vocês não serão esquecidos por mim e terão
espaço cativo no hall de pessoas importantes na minha vida. Suas percepções
sobre este estudo são de extrema importância para mim e para o tênis
brasileiro, e ter a presença de cada um de vocês nesse rico momento do
mestrado engrandece ainda mais esse momento especial.
“Aprendizado é ação. Do contrário, é só informação.”
ALBERT EINSTEIN
RESUMO

LIMA, Marcelo Bittencourt Neiva de. Formação do treinador de tênis de alto


rendimento no Brasil - Validação do Questionário de Análise da Formação
Inicial e Permanente dos Treinadores de Tênis de Alto Rendimento
(QUAFIPETAR). 2011. Dissertação. (Mestrado em Ciências do Movimento
Humano – Área: Desempenho no Esporte) – Universidade do Estado de Santa
Catarina. Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano,
Florianópolis, 2011.

O objetivo deste estudo foi validar a versão brasileira do QUAFIPETAR (LIMA e


ANDRADE, 2011) – uma adaptação do questionário para análise da formação
inicial e permanente dos treinadores espanhóis de alto rendimento (GARCÍA,
2001) - e descrever o perfil da formação inicial e permanente dos treinadores
de tênis de alto rendimento no Brasil. Trata-se de um estudo descritivo de
campo dividido em duas etapas, sendo a primeira o processo de validação e a
segunda a análise quantitativa e qualitativa da formação dos treinadores. A
amostra foi constituída por quatro grupos: grupo I: formado por 5 doutores
pesquisadores da área da Educação Física e 5 mestrandos do curso de pós-
graduação em Ciências do Movimento Humano da Universidade do Estado de
Santa Catarina (UDESC), que analisou a clareza e a validade de conteúdo dos
instrumentos; grupo II: formado por 24 treinadores de tênis competitivo de nível
estadual e nacional, para análise da clareza, validade de conteúdo e para
amostra do estudo piloto; grupo III: constituído por 31 treinadores brasileiros de
tênis de alto rendimento em atividade e que tivessem treinado algum tenista
infanto-juvenil ou profissional de nível competitivo nacional ou internacional; e
grupo IV: formado pela comissão de doutores pesquisadores, que procederam
a validação de construto através da validação confirmatória do QUAFIPETAR.
Do grupo III, 3 dos treinadores mais experientes participaram da pesquisa
qualitativa. O estudo confirmou a validade dos construtos e do instrumento
completo, sendo a versão final traduzida e adaptada considerada adequada
para aplicação em treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil. O perfil do
profissional e da formação inicial e permanente dos treinadores indica que a
expertise adquirida pela prática e pelas aprendizagens informais e não-formais
(NELSON et al; 2006) fornece suporte para intervenção da grande maioria dos
treinadores, que não possuem graduação em Educação Física. As atividades
de formação permanente mais indicadas pelos treinadores são o intercâmbio, a
imersão em academias de tênis, o contato com um mentor (mentoring), cursos
presenciais e internet. A conclusão é que os resultados confirmaram a validade
do instrumento QUAFIPETAR, permitindo a descrição do perfil da formação
inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Formação de treinadores, tênis, alto rendimento,


validação.
ABSTRACT

LIMA, Marcelo Bittencourt Neiva de. Coaching of high performance tennis


coaches in Brazil - Validation of the Questionnaire for the Analysis of Initial
and Permanent Coaching of High Performance Tennis Coaches
(QUAFIPETAR). 2011. Dissertation. (Master in Human Movement Sciences -
Area: Sports Performance) – Universidade do Estado de Santa Catarina. Post
Graduate Program in Human Movement Sciences, Florianópolis, 2011.

The aim of this study was to validate the Brazilian version of QUAFIPETAR
(LIMA e ANDRADE, 2011) – an adaptation of the questionnaire for the analysis
of initial and permanent coaching of high performance spanish tennis coaches
(GARCÍA, 2001) and describe the profile of the initial and permanent formation
of high performance tennis coaches in Brazil. This is a descriptive field study
that happened in two phases, the first being the validation process and the
second a quantitative and qualitative coaches‟ formation analyses. The sample
comprised four groups: Group I: consisting of five doctors researchers in the
field of Physical Education and the 5 master students from Post Graduation in
Human Movement Sciences, University of Santa Catarina (UDESC), for
analysis of validity and clarity of the instruments, group II, consisting of 24
coaches of competitive tennis at the state and national level to review the
clarity, content validity and sample in the pilot study; group III, that consists of
31 active Brazilian top tennis coaches, that had been training some tennis
juvenile or professional competitive level nationally and internationally; and
group IV: expert committee formed by doctors researchers who had the task of
assisting the process of construct validation by confirmatory analysis validation
of QUAFIPETAR. From the group III, the three most experts coaches had been
part of the qualitative research. The study confirmed the validity of the
instrument and the levels of the constructs, being the final version translated
and adapted considered suitable for application with high performance tennis
coaches in Brazil. The description of the professional profile and initial and
permanent formation of the sample indicated that the expertise acquired
through practice and through informal and non-formal learnings (NELSON et al;
2006) seems to support the vast majority of the coaches, since most of them did
not graduate by way of formal learning in Physical Education graduation. The
most permanent formation activities indicated by the most tennis coaches were
the appropriate permanent exchange, mentoring, classroom courses and
Internet. The conclusion is that results confirmed the validity of the instrument
QUAFIPETAR and described the profile of the initial and permanent formation
of high performance Brazilian tennis coaches.

KEY WORDS: Coaching, coaches formation, tennis, high performance,


validation.
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Distribuição da idade dos treinadores de tênis de alto rendimento


no Brasil, organizadas por classes de 5 anos...................................................65

Gráfico 2. Distribuição cronológica dos anos em que os treinadores de tênis


de alto rendimento iniciaram suas carreiras profissionais.................................67

Gráfico 3. Distribuição de renda pessoal mensal obtida como treinador de


tênis no Brasil....................................................................................................69

Gráfico 4. Distribuição de renda familiar dos treinadores de tênis...............70

Gráfico 5. Nível de jogo dos treinadores de tênis investigados de acordo com


a classificação na Confederação Brasileira de Tênis........................................72

Gráfico 6. Opinião dos treinadores sobre os requisitos mínimos relacionados


com a titulação em tênis da CBT para o professor responsável pelas disciplinas
de tênis na formação inicial de treinadores.......................................................76

Gráfico 7. Titulação necessária do professor responsável pelas disciplinas


de tênis do curso de treinadores de tênis, relacionada com as Ciências do
Esporte...............................................................................................................89
LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Testes estatísticos utilizados para a validação do


QUAFIPETAR....................................................................................................53

Quadro 2. Testes estatísticos utilizados para a avaliação da formação inicial


e permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil................55

Quadro 3. Percepção dos treinadores investigados sobre nível de jogo que


deveriam apresentar os bons treinadores de tênis de alto rendimento.............73

Quadro 4. Percepção dos treinadores sobre a formação inicial ideal para os


treinadores de tênis de alto rendimento.............................................................76

Quadro 5. Percepção dos treinadores sobre instituições responsáveis pela


formação legal do treinador de tênis no Brasil...................................................81

Quadro 6. Opinião dos treinadores sobre os requisitos mínimos relacionados


com a graduação nas IES em Ciências do Esporte/Educação Física para o
professor responsável pelas disciplinas de tênis na formação inicial de
treinadores.........................................................................................................87

Quadro 7. Percepção dos treinadores investigados sobre o tipo de atividades


de formação permanente que estão relacionadas à atualização ou melhora do
nível de competência dos treinadores de tênis de alto rendimento...................94

Quadro 8. Percepção dos treinadores investigados sobre o as principais


dificuldades dos treinadores de tênis de alto rendimento na participação em
atividades de formação permanente..................................................................96

Quadro 9. Perfil da caracterização geral dos treinadores de tênis de alto


rendimento no Brasil........................................................................................101

Quadro 10. Perfil da formação inicial dos treinadores de tênis de alto


rendimento no Brasil........................................................................................102

Quadro 11. Perfil da formação permanente dos treinadores de tênis de alto


rendimento no Brasil........................................................................................102
LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Índices de “validade – clareza” do QUAFIPETAR........................58

Tabela 2. Índices de “validade – conteúdo” do QUAFIPETAR.....................60

Tabela 3. Consistência interna (α de Cronbach) dos construtos do


QUAFIPETAR....................................................................................................62

Tabela 4. Características gerais dos treinadores de tênis de alto rendimento


(idade, estatura, peso, rankings dos melhores atletas treinados, tempo de
prática de tênis e tempo como treinador de tênis).............................................64

Tabela 5. Graduação dos treinadores de tênis de alto rendimento em cursos


de Educação Física/Ciências do Esporte..........................................................74

Tabela 6. Descrição das características de formação inicial dos treinadores


de tênis de alto rendimento em áreas diferentes da graduação em Educação
Física................................................................................................................78

Tabela 7. Características de certificação dos treinadores de tênis de alto


rendimento pelo Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP) da
CBT...................................................................................................................80

Tabela 8. Participação dos treinadores em disciplinas de tênis ou disciplinas


com conteúdos de tênis em Instituição de Ensino Superior em Ciências do
Esporte/Educação Física..................................................................................82

Tabela 9. Avaliação dos treinadores investigados sobre as características


ideais dos programas de formação em tênis das Instituições de Ensino Superior
em Educação Física/Ciências do Esporte no Brasil..........................................84

Tabela 10. Avaliação dos treinadores sobre os níveis de jogo que um


professor responsável pela formação inicial de treinadores de tênis deve ter
jogado e/ou treinado alguém............................................................................90

Tabela 11. Avaliação dos treinadores sobre a qualidade das atividades de


formação permanente ofertadas atualmente aos treinadores de tênis de alto
rendimento........................................................................................................92

Tabela 12. Grau de participação dos treinadores de alto rendimento em


atividades de formação permanente..................................................................95

Tabela 13. Principais dificuldades dos treinadores de alto rendimento para


participarem de atividades de formação permanente........................................99

Tabela 14. Percepção dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil


sobre os principais problemas das atividades de formação permanente
ofertadas..........................................................................................................101
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Caracterização de treinador de tênis no Brasil, segundo a lei


9.696 de 01º de setembro de 1998, que dispõe sobre a regulamentação da
profissão de Educação Física (CONFEF, 2011)................................................25

Figura 2. Como se aprende a ser treinador, segundo o diagrama das


metáforas da aquisição e da participação de Trudel e Gilbert (2006)...............28

Figura 3. Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP)................31

Figura 4. Relação entre renda mensal familiar em reais e estratos sociais


no Brasil (ABEP, 2011)......................................................................................70
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1

1.1 PROBLEMA ................................................................................................ 1


1.2 OBJETIVO GERAL ..................................................................................... 4

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................... 4


1.4 JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 4

1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ..................................................................... 9


1.6 DEFINIÇÃO DE TERMOS .......................................................................... 9
2 REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................... 13

2.1 CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE PESQUISA .... 13


2.1.1 Validade .................................................................................................. 14
2.1.2 Fidedignidade .......................................................................................... 16
2.1.3 Análise Fatorial ........................................................................................ 19

2.2 IMPORTÂNCIA DO TREINADOR NA FORMAÇÃO DO ATLETA ............. 21


2.3 O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO TREINADOR .................................. 22

2.4 O TREINADOR DE TÊNIS NO CONTEXTO BRASILEIRO ...................... 24


2.5 FORMAÇÃO INICIAL E PERMANENTE NO TÊNIS ................................. 25
2.5.1 Formação promovida pela Confederação Brasileira de Tênis ................ 31
2.6 ESTUDOS SOBRE A FORMAÇÃO DE TREINADORES ........................... 32

2.7 ESTUDOS SOBRE A FORMAÇÃO DE TREINADORES DE TÊNIS ......... 39


3 MÉTODO....................................................................................................... 43

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ........................................................ 43


3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA ...................................................................... 43

3.3 INSTRUMENTOS ...................................................................................... 45


3.3.1 Entrevista de “história de vida” com Gustavo Kuerten ............................ 46
3.3.2 Questionário de Caracterização Geral dos Treinadores de Tênis de Alto
Rendimento ...................................................................................................... 46
3.3.3 Instrumentos adaptados, testados e validados ....................................... 47
3.3.3.1 Questionário para Análise da Formação Inicial e Permanente dos
Treinadores de Tênis de Alto Rendimento - QUAFIPETAR (LIMA e ANDRADE,
2011) ................................................................................................................ 47
3.3.3.2 Roteiro de Entrevista Qualitativa para Análise da Formação Inicial e
Permanente dos Treinadores de Tênis de Alto Rendimento - QUALI-
QUAFIPETAR (LIMA e ANDRADE, 2011) ....................................................... 48
3.4 TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL .................................... 48

3.5 COLETA DE DADOS ................................................................................ 49


3.5.1 Primeira etapa: coleta para o estudo-piloto ............................................. 50
3.5.2 Segunda etapa: coleta quantitativa definitiva .......................................... 51
3.5.3 Terceira etapa: coleta qualitativa definitiva.............................................. 52

3.6 TRATAMENTO DOS DADOS ................................................................... 53


3.6.1 Tratamento estatístico utilizado para a validação do QUAFIPETAR ....... 53
3.6.2 Tratamento estatístico utilizado para a descrição do perfil da formação
inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento .................... 54

3.7 ANÁLISE QUALITATIVA DA ENTREVISTA.............................................. 55


4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................... 57

4.1 VALIDAÇÃO DO QUAFIPETAR (LIMA e ANDRADE, 2011) PELOS


CRITÉRIOS DE CLAREZA, DE VALIDADE DE CONTEÚDO, VALIDADE DE
CONSTRUTO E FIDEDIGNIDADE .................................................................. 57
4.1.1 Validação de clareza e de conteúdo do QUAFIPETAR ........................... 57
4.1.2 Validação confirmatória dos construtos do QUAFIPETAR ...................... 61
4.1.3 Confiabilidade da escala mediante o coeficiente de consistência interna
de cada fator e da escala como um todo. ........................................................ 61
4.2 CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS TREINADORES DE TÊNIS DE ALTO
RENDIMENTO INVESTIGADOS ..................................................................... 63
4.3 DESCRIÇÃO DO PERFIL DA FORMAÇÃO INICIAL DOS TREINADORES
DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO ............................................................... 73
4.4 DESCRIÇÃO DO PERFIL DA FORMAÇÃO PERMANENTE DOS
TREINADORES DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO ..................................... 92
5 CONCLUSÕES .......................................................................................... 104
6 SUGESTÕES ............................................................................................. 107

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 108


LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE A – Entrevista do tipo “história de vida” com Gustavo


Kuerten............................................................................................................117

APÊNDICE B – Termo de autorização para uso de nome na pesquisa -


Gustavo Kuerten..............................................................................................120

APÊNDICE C – Carta de aprovação do Comitê de Ética..........................122

APÊNDICE D – Estudo piloto....................................................................124

APÊNDICE E – Formação inicial e permanente de treinadores de tênis de


alto rendimento no Brasil: Estudo piloto - Artigo do estudo piloto...................138

APÊNDICE F – Validação do questionário “QUAFIPETAR” para análise da


formação inicial e permanente de treinadores de tênis de alto rendimento no
Brasil – Artigo de validação.............................................................................162

APÊNDICE G – Resultados de clareza e validade do QUAFIPETAR.......179


LISTA DE ANEXOS

ANEXO A – Versão original do instrumento de García (2001).......................182

ANEXO B – Questionário de caracterização geral e “Questionário de análise


da formação inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento”
(QUAFIPETAR) – com as correções em destaque, realizadas após o estudo
piloto................................................................................................................195

ANEXO C – Questionário de caracterização geral e “Questionário de análise


da formação inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento”
(QUAFIPETAR) – versão final.........................................................................201

ANEXO D – Termo de Consentimento...........................................................207

ANEXO E – Questionário de Caracterização Geral dos Treinadores de Tênis


de Alto Rendimento.........................................................................................209

ANEXO F – Questionário qualitativo original de García (2001) para análise da


formação dos treinadores espanhóis de alto nível..........................................211

ANEXO G – Versão final do Roteiro de Entrevista Qualitativa para Análise da


Formação Inicial e Permanente dos Treinadores de Tênis de Alto Rendimento
(QUALI-QUAFIPETAR)....................................................................................214

ANEXO H – Descrição da entrevista com o sujeito I.K. contendo as


informações decorrentes da entrevista com o QUALI-QUAFIPETAR sobre a
formação inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento no
Brasil................................................................................................................216

ANEXO I – Requisitos básicos e normas de funcionamento para ingressar no


sistema SNGP (CBT, 2010).............................................................................219

ANEXO J – Notícia vinculada no Jornal Diário Catarinense no dia 25 de


outubro de 2010...............................................................................................222

ANEXO K – Lei 9696/98, publicada no D.O.U de 2 de setembro de 1998


(CONFEF, 2011)..............................................................................................224
1 INTRODUÇÃO

1.1 PROBLEMA

Muitos estudos têm ratificado a importância da adequada formação

profissional de treinadores para a obtenção de bons resultados no processo de

treinamento e competição, além da importância da experiência que os

treinadores devem ter, independente da formação acadêmica realizada

(NORDMANN e SANDNER, 2009; JONES, 2006; SFARD, 1998; PIÉRON,

1993 e 1988; SIEDENTOP e ELDAR, 1989; BERLINER, 1986). A importância

da formação de treinadores é reconhecida pelos próprios treinadores como

fator fundamental para elevar a qualidade da prática profissional (VARGAS-

TONSING, 2007) e pelos pesquisadores, que sugerem que treinadores

melhores qualificados proporcionam formação esportiva mais apropriada e

enriquecida qualitativa e quantitativamente aos seus atletas (KIRK e GORELY,

2000). Neste anseio, o planejamento de um sistema de formação inicial e

permanente tem sido foco de estudo de algumas das maiores potências

mundiais do esporte, como a Alemanha e a Espanha (NORDMANN e

SANDNER, 2009; CRESPO, 2006; GARCÍA, 2001). Contrastando com a

formação de treinadores de tênis na Espanha, por exemplo, considerada uma

das maiores potências mundiais e uma das mais organizadas em capacitação

de treinadores (RODRIGUES et al; apud GARCÍA et al; 2003), está a de

treinadores de tênis no Brasil, que carece de um comprometido engajamento

dos treinadores nos sistemas nacionais de formação (KIST, 2011), seja no

Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP) da Confederação


Brasileira de Tênis (CBT) ou na graduação universitária. Em 2007, o

Departamento de Capacitação da CBT estimou que mil e quatrocentos

professores haviam passado pelos cursos de capacitação. Deste total, 700

estavam filiados ao Departamento de Capacitação. Estima-se que, no Brasil,

existam cerca de sete mil professores de tênis (KIST, 2011). Entretanto, dados

da CBT apontaram que somente 88 professores do Brasil graduaram-se no

SNGP até o segundo mês de 2011 (CBT, 2010).

Em estudo de doutorado sobre a formação técnica de jovens tenistas

brasileiros, Balbinotti (2003) analisa que os processos de ensino e treinamento

utilizados e sustentados pelos treinadores nacionais não têm sido estudados

com a devida profundidade, de forma que, segundo García (2001), a lacuna

deixada pela falta de estudos neste campo tem relação direta com a baixa

apreensão científica das atividades desenvolvidas pelos treinadores de tênis.

Este aparente apoio no empirismo pressupõe uma menor qualificação formal

dos técnicos brasileiros de tênis, o que pode estar relacionado ao nível de

aproveitamento do potencial competitivo do tenista brasileiro no circuito

profissional internacional. O panorama, de fato, é desfavorável para os tenistas

brasileiros no ranking mundial de tênis tanto no masculino, com 35 tenistas

entre os mil primeiros do ranking mundial de simples (ATP, 2010), como no

feminino, com 19 atletas (WTA TOUR, 2010). Em comparação com as nações

que mais se destacam nos rankings mundiais, a Espanha, Estados Unidos e

Argentina têm, respectivamente, 62, 69 e 61 tenistas na ATP; na WTA a

Espanha tem 35 tenistas, Estados Unidos 85 e Argentina 22 jogadoras. Se

considerarmos os 100 primeiros, aqueles que disputam a chance de ser o

número 1 do mundo, o Brasil tem 2 tenistas em comparação com os 19 da

2
Espanha, 13 dos Estados Unidos e 9 da Argentina no masculino (ATP, 2010) e

nenhuma entre o feminino, em comparação com as 6 da Espanha, 7 dos

Estados Unidos e 1 da Argentina (WTA, 2010). Considerando esse panorama,

observa-se que o país carece de estudo aprofundado da formação dos

treinadores de tênis que, segundo reforçam Knowles et al; (2005), poderá

determinar, no futuro, uma colaboração decisiva na determinação das

necessidades e prioridades de formação nos próprios cursos de formação.

A preocupação com a formação de treinadores tem despertado o

interesse de pesquisadores dos diversos países que são referência no esporte,

como Espanha, Estados Unidos e Alemanha. Na Espanha, por exemplo, um

estudo de doutorado foi realizado por García (2001), onde se buscou investigar

a formação inicial e permanente dos treinadores de tênis espanhóis de alto

rendimento, criando e validando instrumentos para esta análise. No Brasil,

entretanto, não há um instrumento criado ou adaptado que permita a avaliação

da formação inicial e permanente dos treinadores de tênis.

Este estudo investiga sobre o tênis de campo, buscando descrever e

analisar o perfil e as opiniões dos treinadores brasileiros de alto rendimento

sobre a sua formação inicial e permanente. Para este fim, será validado o

“Questionário de Análise da Formação Inicial e Permanente dos Treinadores de

Tênis de Alto Rendimento” (QUAFIPETAR) (LIMA e ANDRADE, 2011).

Considerando a baixa representatividade de tenistas brasileiros nos

rankings mundiais, a importância do processo de formação inicial e permanente

dos treinadores de tênis, e a necessidade de descrição da formação dos

treinadores de tênis no Brasil, o problema de pesquisa a ser investigado é:

3
- O instrumento QUAFIPETAR pode avaliar o perfil da formação inicial e

permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil? Qual é este

perfil?

1.2 OBJETIVO GERAL

Validar o Questionário de Análise da Formação Inicial e Permanente dos

Treinadores de tênis de Alto Rendimento (QUAFIPETAR) (LIMA e ANDRADE,

2011) modificado e adaptado de García (2001) e descrever o perfil da formação

inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil.

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Validar o questionário QUAFIPETAR pelos critérios de clareza, de

validade de conteúdo, validade de construto e fidedignidade;

 Descrever o perfil da formação inicial dos treinadores de tênis de alto

rendimento;

 Descrever o perfil da formação permanente dos treinadores de tênis

de alto rendimento.

1.4 JUSTIFICATIVA

Alguns estudos e pesquisas voltadas para a metodologia empregada no

treinamento de tênis vêm sendo produzidas no Brasil (KLERING, 2010;

GARBIN, 2009; MOTTA, 2009; BALBINOTTI, 2008; 2004a; 2004b e 2003;


4
COSTA e NASCIMENTO, 2004). Por outro lado, não existem estudos

brasileiros que tratem sobre a formação de treinadores de tênis de alto nível, o

que implica na relevância de se investigar este tema no campo das ciências do

esporte. Essa perspectiva, entretanto, é abordada por autores internacionais

(CRESPO, 2006, 2008; GARCÍA et al; 2003; GARCÍA, 2001; SIEDENTOP e

ELDAR, 1989), que propõe estudos de base para ratificação ou reorganização

do processo de formação de treinadores de tênis de alto rendimento. Apesar do

estudo dos programas de formação de treinadores dos diversos esportes se

encontrar em franco desenvolvimento nos últimos 30 anos (GILBERT e

TRUDEL, 1999), a investigação existente nessa área é ainda escassa.

Segundo Isidro (2009), em um estudo de Gilbert (2002) realizado durante o

período de 1970 e 2001, apenas 24 de um total de 661 estudos (3,9%)

relacionados com os treinadores foram desenvolvidos na área da formação.

Segundo a autora, a maioria dos estudos centrados na formação dos

treinadores caracterizava-se não só por uma dispersão como também pela falta

de robustez de um modelo teórico (LYLE, 2002). O reconhecimento de que a

qualidade da intervenção do treinador tem implicações importantes para a

formação esportiva de atletas e para a obtenção dos melhores desempenhos

esportivos tem estimulado alguns países a desenvolver seus próprios

programas de certificação, ou educação formal de treinadores, como

pressupõe os estudos de Nordmann e Sandner (2009), Lemyre et al; (2007),

Vargas-Tonsing (2007) e Wright et al; (2007), Côté (2006), Cushion et al;

(2003), Cushion e Jones (2001), McCallister et al; (2000), Woodman (1993) e

Gould et al; (1990), os quais apontam características comuns em sua estrutura

e são oferecidos por uma gama de instituições, como por exemplo

5
universidades, associações profissionais, institutos, conselhos e federações

esportivas (NORDMANN e SANDER, 2009; WRIGHT et al; 2007 e TRUDEL e

GILBERT, 2006). A importância do processo de formação de treinadores

observado nos estudos internacionais sugere que a investigação também seja

realizada com os treinadores brasileiros, afim de melhor compreender o

fenômeno no país. No momento em que se reconhece e admite, pela crítica

metodológica de investigação do ensino, que a conduta dos treinadores não é

o único critério de eficácia pedagógica, o pensamento deles se mostra como

um objeto de estudo relevante, com um potencial significativo, que necessita de

novas técnicas e metodologias que nos permitam seguir avançando nos

estudos sobre os processos de melhora e aperfeiçoamento dos treinadores em

seus diferentes períodos de formação (RAMOS, 1999).

Na Espanha, um estudo de doutorado foi realizado por García (2001), e

buscou investigar a formação inicial e permanente dos treinadores de tênis

espanhóis de alto rendimento, criando e validando instrumentos para esta

análise. No Brasil, entretanto, não há um instrumento que permita a avaliação

da formação inicial e permanente dos treinadores de tênis no país. Em

consideração à potência que representa a Espanha no tênis internacional e ao

grau de especificidade do estudo de García (2001), o instrumento validado,

sem denominação específica, surge como uma referência de base para a

construção de um novo questionário. Neste estudo, o novo instrumento foi

intitulado Questionário para Análise da Formação Inicial e Permanente de

Treinadores de Tênis de Alto Rendimento (QUAFIPETAR).

Essa dissertação surge de reflexões realizadas pelo autor sobre o perfil

dos técnicos brasileiros de tênis e da necessidade de uma formação mais

6
qualificada. Empiricamente, observa-se que a maioria é constituída por

profissionais não formados em faculdades de Educação Física e Esportes.

Estes questionamentos emergiram ainda mais e, especialmente, após uma

investigação qualitativa realizada por uma entrevista de “história de vida” (BONI

e QUARESMA, 2005), do tipo tópica, com Gustavo Kuerten, um tenista que

fora número um do mundo há menos de uma década, que objetivou buscar os

elementos de maior interesse e/ou vulnerabilidade do tênis do Brasil, para a

confecção de um estudo de destaque para o tênis nacional. A entrevista em

profundidade realizada segue no APÊNDICE A. A percepção de que o Brasil

carece de mais treinadores de tênis com formação adequada às necessidades

do alto rendimento provém também de outros atletas além de Gustavo Kuerten,

qual é o caso de Thomaz Bellucci, brasileiro top 100 da ATP que alcançou o

21 lugar no ranking da associação em 26 de julho de 2010. Em uma notícia

vinculada no jornal Diário Catarinense, assim que rompeu com o último técnico,

por exemplo, foi publicado o seguinte (ANEXO J): “[...] O rompimento ocorre

dois dias depois de Bellucci dizer que faltam técnicos competentes no Brasil

[...] O tenista já foi comandado por três treinadores.” (BELLUCCI, 2010, p. 8)

A amostra, formada por treinadores de tênis de alto rendimento, objetiva

considerar o segmento dos treinadores que lidam diretamente com os tenistas

brasileiros melhores ranqueados mundialmente e que, pelo nível de expertise,

conhecem e/ou experimentaram todas as categorias de ensino do tênis – do

ensino a iniciantes ao alto rendimento, ao fim de contribuir com dados que

possibilitem a utilização destes para uma reorganização das necessidades e

anseios formativos dos técnicos envolvidos com o treinamento de tênis no

Brasil.

7
Na eminência dos mega eventos esportivos que o Brasil sediará nos

próximos anos, em especial os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016,

evidencia-se o anseio popular pela produção de grandes atletas nacionais. Em

consideração às colocações de Tubino apud Resende (2009), Côté (2006),

Gilbert et al; (2006), Lyle (2002) e Kirk e Gorely (2000), de que treinadores

melhores qualificados propiciam aos seus atletas processos de construção

esportiva mais enriquecidos e qualificados, este estudo pretende servir de

suporte para uma ampla discussão nacional sobre a formação inicial e

permanente dos treinadores de tênis no Brasil, a fim de mobilizar esforços para

o alinhamento de interesse entre o governo federal (pelos Ministérios do

Esporte e da Educação), o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), os Conselhos

Federal e Regionais de Educação Física (CONFEF e CREF‟s), a Confederação

Brasileira de Tênis (CBT) e as Universidades brasileiras, na busca pelo

estabelecimento de metas de curto, médio e longo prazo para o aprimoramento

da formação do treinador no Brasil.

Com horizontes ampliados, a pesquisa atual busca contribuir para o

Programa de Mestrado em Ciências do Movimento Humano da Universidade

do Estado de Santa Catarina - UDESC, colaborando com os estudos voltados

ao desempenho no esporte e às ciências humanas, especialmente àqueles

voltados para a formação inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto

rendimento no Brasil. Esta pesquisa conclui, ainda, os requisitos para a

obtenção do grau de mestre em Ciências do Movimento Humano.

8
1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

Este estudo de campo, com características descritivas quantitativas e

qualitativas, delimita-se a validar o instrumento de estudo QUAFIPETAR (LIMA

e ANDRADE, 2011), bem como descrever a formação inicial e permanente dos

treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil. Participaram do estudo,

durante o segundo semestre do ano de 2010 e primeiro de 2011, cinco

doutores pesquisadores da área da Educação Física e cinco mestrandos do

curso de Ciências do Movimento Humano da UDESC (para a etapa de

validação aparente dos instrumentos), 24 treinadores de tênis competitivo (para

a etapa do estudo piloto) e 31 treinadores brasileiros de tênis de alto

rendimento dos estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio

Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Ceará e Amazonas (para realizar a validação

de fidedignidade e a análise da formação inicial e permanente do treinador de

tênis de alto rendimento no Brasil). Somente participaram os treinadores que

estavam em atividade e que tivessem treinado algum tenista infanto-juvenil ou

profissional de nível competitivo nacional ou internacional.

1.6 DEFINIÇÃO DE TERMOS

Treinador de alto rendimento: Treinador é aquele que ajuda os atletas a


conseguirem os seus maiores níveis de rendimento e que, à ele, cabe a
responsabilidade da preparação física, técnica, tática e psicológica (RAMÍREZ,
2002); Ishizaki e Castro (2006) complementam ainda, aos treinadores, o
controle das variáveis extra-quadra. O treinador esportivo de alto rendimento,
em particular, é responsável pelo desenvolvimento do talento dos atletas para
conseguirem resultados exitosos em nível nacional e internacional (RAMÍREZ,
2002). No contexto brasileiro, os treinadores são profissionais em Educação
9
Física ou provisionados em tênis de campo pelo sistema Conselho Federal de
Educação Física (CONFEF) e Conselho Regional de educação Física (CREF).

Formação de treinadores: Segundo a colocação de Cassidy et al; (2009),

a mestria técnica de um profissional assenta nas competências adquiridas num

período extenso de educação, onde a aquisição de conhecimento possui uma

ênfase particular. Neste estudo, formação de treinadores refere-se ao processo

de aquisição de conhecimentos e competências dos tipos formais, não-formais

e informais (NELSON et al; 2006), onde formais são aqueles decorrentes de

um sistema de certificação institucionalizado e estruturado com um arranjo

cronológico de médio e longo prazo; não-formal refere-se a um conhecimento

organizado, transmitido fora da estrutura do sistema formal e idealizado para

fornecer alguns tipos de aprendizagem para subgrupos particulares da

população em períodos de tempos mais curtos, como por exemplo cursos,

palestras, clínicas, conferências, workshops, seminários e/ou demais eventos

de formação relacionados direta ou indiretamente ao tênis. O conhecimento

informal é aquele identificado como um processo na qual cada pessoa constrói

conhecimentos, atitudes e discernimentos próprios a partir de experiências do

cotidiano de treino. (NELSON et al; 2006).

Formação inicial: No Brasil, como a legislação referente à intervenção do

treinador está vinculada à lei 9696/98, a formação inicial de treinadores de tênis

provém dos cursos de Educação Física (em especial pelo bacharelado) ou de

sua experiência pessoal e profissional com o tênis (TRUDEL e GILBERT,

2008), desde que tenha comprovado por, pelo menos três anos antes da

promulgação da lei 9696/98, atividades profissionais com a modalidade de

tênis (CONFEF, 2011). Para este caso, em especial, a formação inicial pode
10
provir em sua maioria por aprendizagens não-formais e informais (Nelson et al;

2006).

Formação permanente: Caracteriza-se pela aquisição de conhecimento

profissional, ou “conhecimento de base” (FENSTERMACHER e MONTEIRO

apud RAMOS, 2008) por aprendizagem do tipo não formal (cursos, congressos,

palestras, mesas redondas, etc) e informal (Nelson et al; 2006), suportados

também pela metáfora de aquisição e participação de Sfard (1996). No Brasil,

boa parte das oportunidades de formação permanente não formal provém de

cursos e demais eventos outorgados pela Confederação Brasileira de Tênis,

pelas confederações de outros países ou mesmo pela International Tennis

Federation (ITF) – órgão que regula o tênis mundial.

Validade: Grau em que um teste ou instrumento mede a variável que

pretende medir (HASTAD E LACY, 1994). A validade é um critério de

significância de um instrumento de medidas com diferentes tipos de evidencias:

validade aparente, validade de conteúdo, validade de critério, e validade de

construto (MORON, 1998).

Validade aparente de conteúdo: Técnica mais simples, porém menos

satisfatória, para avaliar a validade de um instrumento. Avalia apenas

considerando a definição teórica de uma variável, se a medida parece, de fato,

medir a variável em estudo. Realizada de forma estritamente subjetiva por um

juiz, ou grupo de juízes, que examinam e decidem se ela mede o que sugere

medir. Todo instrumento deve passar pela avaliação da validade aparente

(MARTINS, 2006).

11
Validade de conteúdo: Se refere ao grau em que um instrumento

evidencia um domínio específico de conteúdo do que pretende medir

(SAMPIERI et al; 1996). É o grau em que a medição representa o conceito que

se propõe a medir.

Validade de construto: Um construto, ou uma construção, é uma

variável, ou conjunto de variáveis. A validade de construto se refere ao grau em

que um instrumento de medidas ou teste se relaciona consistentemente com

outras medições assemelhadas derivadas de uma mesma teoria e conceitos

que estão sendo medidos (THOMAS E NELSON, 2002). Segundo Sampieri et

al; (1996), dificilmente a validade de construto será definida em um único

estudo. Ela é estabelecida por vários estudos que investigam a teoria do

construto particular que está sendo medido.

Validade total: A validade total é a soma das validades de conteúdo,

critério e construto. Assim, a validade de um instrumento de medição se verifica

com base nessas três evidências. Quanto mais evidências de validade de

conteúdo, validade de critério e validade de construto de um instrumento de

medidas, maiores são as evidências que, de fato, está medindo o que se

pretende medir (MARTINS, 2006).

Fidedignidade ou confiabilidade: Refere-se ao grau em que o

instrumento, em sua repetida aplicação, ao mesmo sujeito ou objeto, produz

resultados iguais. (COZBY, 2003). De maneira ampla, uma medida fidedigna é

consistente e precisa porque fornece uma medida estável da variável. Em

outras palavras, confiabilidade refere-se à consistência interna ou estabilidade

de uma medida (MARTINS, 2006).


12
2 REVISÃO DA LITERATURA

A revisão de literatura apresentada serve de embasamento para as

diferentes etapas do presente estudo, e tem por meta fundamentar o

pesquisador com o conhecimento atual da área, do problema e com

procedimentos metodológicos adotados em outras pesquisas. Fornece a base

conceitual para a interpretação dos resultados, a fim de contribuir com a

validação do QUAFIPETAR e com a análise da formação inicial e permanente

dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil.

O material científico de base para a revisão aborda a validação de

instrumentos de pesquisa e a formação inicial e permanente de treinadores de

alto rendimento. Para tanto, emerge a necessidade de elucidarmos as duas

questões centrais deste estudo: a) a validação de um instrumento para avaliar

a formação inicial e permanente dos treinadores de alto rendimento no Brasil e;

b) o referencial teórico sobre o treinador e seu processo de formação inicial e

permanente.

2.1 CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE

PESQUISA

A construção ou adaptação de instrumentos científicos de medida não é

uma tarefa simples em razão de que necessita da apresentação de estudos de

validade e confiabilidade, pois a ausência de estudos que as evidenciem

impede o reconhecimento científico do instrumento. Um instrumento deve ser

devidamente testado em razão de que, seu uso, envolve situações nas quais
se avaliam aspectos que podem interferir na vida do avaliado; a utilização de

uma escala que não forneça parâmetros psicométricos confiáveis poderá

prejudicar o diagnóstico de pessoas em diferentes contextos (PASQUALI,

2001).

É importante ressaltar que a percepção subjetiva do pesquisado é

fundamental para a compreensão das interpretações dos resultados, pois a

realidade investigada é a realidade percebida subjetivamente pelo mesmo,

como síntese de múltiplas determinações, que influenciam diretamente seu

estilo de vida, saúde e seu desempenho desportivo e na vida em geral

(ANDRADE, 2001). Não é possível avaliar o julgamento subjetivo com métodos

estatísticos, mas somente com a avaliação do investigador em julgar se o

instrumento afere o que deveria aferir (MENEZES, 1998). Nesse sentido, para

a avaliação psicológica, faz-se necessária a utilização de métodos e medidas

quantitativas e qualitativas como ferramentas no reconhecimento de processos

psicológicos (emoções, cognições, alterações psicofisiológicas) que intervêm

no desempenho do indivíduo.

Neste, são abordados os processos de validação através da validade de

construto, validade de conteúdo e validade de clareza, além da verificação da

fidedignidade do instrumento.

2.1.1 Validade

A validade é considerada a característica mais importante na avaliação

de uma escala. É realizada por meio do acúmulo de evidências que suportam

as inferências feitas de acordo com resultados obtidos pelas mesmas. Um

14
importante passo para estabelecer a validade de uma escala é mostrar que ela

realmente mede o construto que tenciona medir (TERRY, LANE e FOGARTY,

2003).

A validade de um instrumento pode ser verificada sob diferentes

perspectivas, enfocando-se o construto, o conteúdo e/ou o critério. Pasquali

(1999) considera a validade de construto como primordial, já que confirma ou

rejeita os pressupostos teóricos eleitos para a construção do instrumento e

aponta que a teoria deve fundamentar qualquer empreendimento científico e,

com isso, deve ser clara a explicitação da teoria sobre a qual o teste foi

construído. Anastasi e Urbina apud Noronha et al; (2003, p. 95), acrescentam

que a validade relacionada ao construto envolve também a de conteúdo e

critério, pois estes últimos são necessários para validar o construto, não

correspondendo a categorias distintas ou logicamente coordenadas.

A análise da validade de conteúdo visa verificar o que o teste pretende

medir. Para a validação do conteúdo não existem métodos estatísticos

apurados, normalmente recorre-se à análise de juízes experientes na área,

para avaliarem adequadamente as propriedades do instrumento. Menezes

(1998) destaca a necessidade de se fazer um “mapa” dos diversos aspectos do

objeto e compará-lo com os itens do instrumento.

No que se refere à validade de critério, os resultados obtidos são

expressos em graus de concordância – identidade entre o teste e a outra forma

– denominada de relação entre eles. Ela avalia o grau com que o instrumento

discrimina pessoas que se diferem em determinada(s) característica(s) de

acordo com um critério padrão (MENEZES, 1998) e é concebida como o grau

de eficácia para predizer um determinado desempenho do sujeito, que deve ser

15
medido por meio de técnicas independentes do próprio teste (NORONHA et al;

2003). Testes de validade de critério ajudam a esclarecer o significado do

construto medido avaliando relações com outras medidas contra prognósticos

teóricos (ROHLFS et al; 2004; TERRY, LANE e FORGATY, 2003).

2.1.2 Fidedignidade

Outro aspecto importante na validação de um instrumento é a

fidedignidade de um teste, que se refere a quanto o resultado obtido pelo

indivíduo se aproxima do resultado verdadeiro do sujeito num traço qualquer

(PASQUALI, 2001). Ela tem sido analisada à luz da quantidade de erros

presentes nos resultados do teste, de forma que, quando ele apresenta uma

pequena quantidade de erros, considera-se a medida confiável (ADÁNEZ,

1999). A informação sobre o erro de medida é indispensável para a própria

avaliação e para o uso do instrumento. (NORONHA et al; 2003).

É necessário e primordial obter os coeficientes de confiabilidade de um

referido instrumento para se atestar o grau de confiabilidade da medida. A

precisão indica a constância dos resultados dos sujeitos em situações distintas.

O problema que se enquadra sob o conceito de

fidedignidade vem relatado sob uma série de outras

expressões, como: precisão, fidedignidade,

constância, consistência interna, confiabilidade,

estabilidade, confiança, homogeneidade

(PASQUALI, 2001, p. 127).

16
Segundo este autor, outros nomes deste parâmetro resultam mais

diretamente do tipo de técnica utilizada na coleta empírica da informação ou da

técnica estatística utilizada para a análise dos dados obtidos. Entre estes,

pode-se relacionar os seguintes: estabilidade, constância, equivalência e

consistência interna.

Segundo Anastasi e Urbina (2000), a fidedignidade, em seu sentido mais

amplo, indica se as diferenças encontradas entre indivíduos são realmente

diferenças individuais ou se são atribuídas a erros casuais. As autoras

recomendam ainda que todos os instrumentos devam vir acompanhados de

uma declaração de confiabilidade a fim de que se estime o grau de precisão da

medida em questão.

A fidedignidade de um teste diz respeito à característica que ele deve

possuir, de medir sem erros, de onde vem então os nomes confiabilidade ou

fidedignidade. Medir sem erros significa que o mesmo teste, medindo os

mesmos sujeitos em ocasiões diferentes, ou testes equivalentes, medindo os

mesmos sujeitos na mesma ocasião, produzem resultados muito semelhantes,

isto é, a correlação entre estas duas medidas deve ser de 1, ou o mais próximo

possível disso. Entretanto, como o erro está sempre presente em qualquer

medida, esta correlação se afasta tanto do 1 quanto maior for o erro cometido

na medida. A análise da fidedignidade de um instrumento psicológico quer

mostrar precisamente o quanto ele se afasta do ideal da correlação 1,

determinando um coeficiente que, quanto mais próximo de 1, menos erro o

teste comete ao ser utilizado (PASQUALI, 2003).

Há uma série de técnicas de estimativa de coeficientes de fidedignidade

que resultam da análise estatística dos dados de uma única aplicação de um

17
teste a uma amostra representativa de sujeitos. Elas visam verificar a

confiabilidade do teste por meio da análise da consistência interna dos itens,

isto é, verificando a congruência que cada item do teste tem com o restante

dos itens do mesmo teste. O caso mais geral deste tipo de análise é o

coeficiente alpha de Cronbach.

Silveira (1993) destaca que o coeficiente de fidedignidade é afetado pela

heterogeneidade entre indivíduos na variável medida pelo instrumento; quanto

mais heterogêneo for o grupo de respondentes, maior será o coeficiente de

fidedignidade. Desta forma, o coeficiente de fidedignidade não é uma

propriedade exclusiva do instrumento, mas uma propriedade do instrumento

para um determinado grupo, para uma determinada situação; expressa a

fração da variabilidade observada entre os indivíduos (variância observada)

que é verdadeira (variância verdadeira), isto é, não é atribuível a erros de

medida. Quando o coeficiente é próximo da unidade, significa que o

instrumento está sendo capaz de detectar muito bem as diferenças

interindividuais no grupo investigado. O valor mínimo aceitável para um

coeficiente de fidedignidade dependerá da utilização que se fará com os

escores gerados pelo instrumento. Quando se deseja discriminar

acuradamente entre os diferentes indivíduos, é necessário um coeficiente alto

(em torno de 0,9). Quando se deseja utilizar os escores gerados pelo

instrumento para comparar grupos em médias, pode-se tolerar coeficientes

mais baixos (da ordem de 0,7) (SILVEIRA, 1993).

18
2.1.3 Análise Fatorial

A análise fatorial é uma das técnicas mais usuais do que se

convencionou chamar de análise multivariada. Quando empregamos este tipo

de análise estamos freqüentemente interessados no comportamento de uma

variável ou grupos de variáveis em covariação com outras (PASQUALI, 2003).

Esta técnica tem por objetivo descrever a covariância entre as variáveis

em termos de um número menor de variáveis, chamadas fatores. Em outras

palavras serve para verificar os inter-relacionamentos entre variáveis a fim de

encontrar padrões de relações que definam grupos ou categorias - os fatores

(DANCEY e REIDY, 2006).

A análise fatorial não se refere a uma única técnica estatística, mas a

uma variedade de técnicas relacionadas para tornar os dados observados mais

facilmente e diretamente interpretados. Isto é feito analisando-se os inter-

relacionamentos entre as variáveis de tal modo que estas possam ser descritas

convenientemente por um grupo de categorias básicas, em número menor que

as variáveis originais, chamado fatores. Assim, o objetivo da análise fatorial é a

parcimônia, procurando definir o relacionamento entre as variáveis de modo

simples e usando um número de fatores menor que o número original de

variáveis (PASQUALI, 1998).

Mais precisamente, um fator é um construto, uma entidade hipotética,

uma variável não observada que se supõe estar subjacente a testes, escalas,

itens e, de fato, medidas de qualquer espécie. Como construtos, os fatores

apenas possuem realidade no fato de explicarem a variância de variáveis

observadas, tal como se revelam pelas correlações entre as variáveis sendo

19
analisadas, ou seja, a única realidade científica que os fatores possuem vem

das correlações entre testes ou variáveis sendo pesquisadas. Se os resultados

de indivíduos em itens ou testes caminham juntos, então, na medida em que

existam correlações substanciais entre eles, está definido um fator (PASQUALI,

1998).

As cargas fatoriais obtidas são, com efeito, reduções de dados muito

mais complexos a tamanho manuseável para que o pesquisador possa

interpretar melhor os resultados (KERLINGER, 1980). Uma matriz de cargas

fatoriais é um dos produtos finais da análise fatorial. Uma carga fatorial é um

coeficiente - um número decimal, positivo ou negativo, geralmente menor do

que 1 que expressa o quanto um teste ou variável observada está carregado

ou saturado em um fator. Por outras palavras, quanto maior for a carga em

cima de um fator, mais a variável se identifica com o que quer que seja o fator.

Existem vários métodos de extração ou redução de fatores, sendo a

análise dos componentes principais (ACP) uma das mais conhecidas e

utilizadas. De acordo com Dancey e Reidy (2006), a principal diferença da ACP

para a as demais está no modo de tratamento da variância, já que neste caso,

toda a variância dos dados é analisada, tanto a compartilhada quanto a

exclusiva. Na fatoração pelos eixos principais – outra forma de análise de

fatores, por exemplo, somente a variância compartilhada é analisada, a

variância exclusiva é excluída, e admite-se alguma variância de erro.

Em síntese, a análise fatorial é essencialmente um método para

determinar o número de fatores existentes em um conjunto de dados, para

determinar quais testes ou variáveis pertencem a quais fatores, e em que

20
extensão os testes ou variáveis pertencem a eles ou estão saturados com o

que quer que seja o fator.

2.2 IMPORTÂNCIA DO TREINADOR NA FORMAÇÃO DO ATLETA

Em um estudo de revisão, Ramírez (2002) extraiu que existe um

consenso geral de que o treinador é aquele que ajuda os atletas a conseguirem

os seus maiores níveis de rendimento e que, à ele, cabe a responsabilidade da

preparação física, técnica, tática e psicológica, além do controle das variáveis

extra-quadra (ISHIZAKI e CASTRO, 2006). Complementando a

responsabilidade da função de treinador, Ramírez (2002) finaliza sua

caracterização ressaltando que o treinador esportivo de alto rendimento, em

particular, é responsável pelo desenvolvimento do talento dos atletas para

conseguirem resultados exitosos em nível nacional e internacional. Em

Portugal, a Lei de Bases da Atividade e do Desporto (Lei nº 248-A/2008, de 31

de dezembro) destaca que treinadores devidamente qualificados são

fundamentais para garantir que a prática seja efetuada com qualidade e

quantidade, bem como que as atividades propostas sejam conduzidas pela

ética desportiva, sempre priorizando a saúde e a segurança do praticante.

Observação semelhante é levantada por Kirk e Gorely (2000), que ressaltam

que treinadores melhores qualificados propiciam aos seus atletas processos de

construção desportiva mais enriquecidos e qualificados, fazendo com que se

desenvolvam mais rapidamente nas diferentes áreas tais como pessoal, social

e desportiva.

21
Atualmente, treinar significa adquirir conhecimentos multidimensionais e

não só os exigidos pela própria modalidade (LYLE, 2002), tornando constante

também a exigência de um treinador com domínio dos conhecimentos das

ciências do esporte (GILBERT et al; 2006). O processo de treino exige que o

treinador tenha um extenso domínio de competências em função das inúmeras

funções que irão lhe caber (RESENDE, 2009). Essas funções vão além do

simples fato de transmitir a técnica, passando pelo papel de líder, psicólogo,

amigo, professor, administrador e modelo a seguir (CÔTÉ, 2006).

2.3 O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO TREINADOR

Na maioria dos países, hoje em dia, o cargo de treinador exige a

realização de um curso de formação de treinadores em que haja um processo

de certificação (CAMPBELL, 1993; KOZEL, 1998). Embora existam alguns

aspectos semelhantes nos diferentes países em relação às propostas de

certificação, ainda existem algumas discrepâncias a nível mundial

(CAMPBELL, 1993).

A AEHESIS é um projeto europeu de alinhamento de formação superior

que tem como objetivo analisar e comparar os programas de formação

existentes procurando uniformizá-los a nível europeu no que diz respeito às

seguintes áreas de intervenção: treino desportivo, educação física, fitness e

gestão do esporte. Buscando organizar o processo de formação qualificada dos

treinadores, a AEHESIS (DUFFY, 2006) designou que todas as autoridades

nacionais competentes no processo de formação de treinadores podem

certificar os próprios treinadores entre as federações desportivas, as

22
instituições de ensino superior, e ainda todas as entidades oficialmente

reconhecidas para proceder certificação. Conforme o relatório do English Sport

Council de 1997 da AEHESIS (2006), neste âmbito as universidades

representam um elevado potencial para proceder a certificação profissional do

treinador desportivo.

A importância da formação de treinadores, segundo Vargas-Tonsing

(2007), é reconhecida pelos próprios treinadores como fator imprescindível

para elevar a qualidade das práticas profissionais, mas a definição da

instituição que deve certificar os treinadores ainda não é um consenso entre

eles. Em um estudo realizado com treinadores de voleibol relacionando-os com

a sua formação, constataram que 58,4% dos treinadores apontam que a

formação deve ser realizada tanto pelo sistema desportivo, quanto pelo sistema

educativo de nível superior, enquanto 40,3% afirmam que esta formação

deveria ser efetivada somente pelo sistema desportivo (RESENDE, 2009).

Os cursos de formação de treinadores são relativamente recentes

(Campbell, 1993) e segundo os estudos já realizados não correspondem às

reais necessidades dos treinadores. Demers et al; (2006) enumera algumas

das dificuldades intrínsecas do processo de formação, tais como: a) os cursos

apresentam poucas oportunidades para a participação prática dos treinadores;

b) não são realizadas em consideração às expectativas e necessidades dos

treinadores; c) o conteúdo não reflete as necessidades do trabalho diário dos

treinadores; d) a estrutura dos cursos não é flexível às necessidades e

expectativas dos participantes; e) os cursos devem promover oportunidades

práticas de desenvolvimento profissional durante as formações, sendo estas

ajustadas em cada nível; f) os programas de formação precisam ser articulados

23
de uma forma mais objetiva. No que diz respeito ao acesso à formação, ter sido

ex-atleta não foi considerado um fator fundamental nesta decisão, segundo

uma pesquisa realizada por Resende et al; (2009) sobre a percepção dos

treinadores face à formação dos treinadores em Portugal.

A certificação dos treinadores não é, entretanto, uma realidade em todos

os países e a formação inicial baseada em aprendizagem do tipo informal

(NELSON et al; 2006) pode ser considerada um importante eixo na formação

de treinadores. Ter bastante conhecimento sobre o esporte por ter sido ex-

atleta parece ser um fator determinante para entrar na carreira de treinador, o

que contribui também para se alcançar o sucesso profissional (LYLE, 2002;

SALMELA, 1996; SCHINKE et al; 1995).

2.4 O TREINADOR DE TÊNIS NO CONTEXTO BRASILEIRO

Considerando a recente legislação que incorre sobre a regulamentação

do profissional de Educação Física (CONFEF, 2011) no contexto brasileiro,

através da promulgação da lei 9.696 de 01º de setembro de 1998, que dispõe

sobre a regulamentação da profissão de Educação Física e cria os respectivos

Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física, ficou instituído

legalmente que os treinadores de tênis serão aqueles profissionais em

Educação Física ou provisionados em tênis de campo pelo sistema Conselho

Federal de Educação Física (CONFEF) e Conselho Regional de educação

Física (CREF). Em especial, as diretrizes curriculares para a formação inicial,

estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação, estabelece que a

formação em Bacharelado tem a incumbência de auxiliar na prática profissional

24
como treinador (HUNGER et al; 2006). Considerando o pouco tempo de

vigência da lei e o processo de transição para a estruturação de uma nova

classe legal, existe a possibilidade de existirem no mercado treinadores que

ainda não estão vinculados ao sistema CONFEF/CREF o que, pela ilegalidade

(CONFEF, 2011) e para efeito metodológico, não foram considerados neste

estudo como pertencentes à população de treinadores. Isto define o marco

teórico inicial e fundamental para o entendimento de “treinador de tênis” (figura

1).

Figura 1: Caracterização de treinador de tênis no Brasil, segundo a lei 9.696 de 01º de


setembro de 1998, que dispõe sobre a regulamentação da profissão de Educação
Física (CONFEF, 2011).

2.5 FORMAÇÃO INICIAL E PERMANENTE NO TÊNIS

A preparação para intervenção do profissional como treinador de tênis

está diretamente relacionada com a formação inicial e permanente que realiza.

25
Muito tem se investigado sobre quais os conhecimentos que o professor

necessita dominar para poder ensinar (GRAÇA, 1997; GROSSMAN, 1990;

SHULMAN, 1987), o que Fenstermacher e Monteiro apud Ramos (2008)

conceituam como “conhecimento de base”. As metas e finalidades da formação

inicial de professores, por exemplo, segundo García (1999), incluem as

dimensões de conhecimentos, destrezas, habilidades ou competências e

atitudes ou disposições. A busca por essas aquisições é o que permite o

processo de formação dos treinadores, e o fazem por alguns tipos de

aprendizagens, segundo Nelson et al; (2006).

As aprendizagens capazes de formar o arsenal de conhecimento de um

treinador, ou conhecimento de base, tem sido definida por Nelson et al; (2006)

como aprendizagens dos tipos formal, não formal e informal. A aprendizagem

do tipo formal decorre de um sistema de certificação, institucionalizado e

estruturado hierarquicamente, com algum arranjo cronológico de médio e longo

prazo, oferecido por entidades governamentais, federações esportivas, entre

outras. O tipo de aprendizagem informal, por outro lado, é identificado como um

processo na qual cada pessoa constrói conhecimentos, atitudes e

discernimentos próprios a partir de experiências do cotidiano de treino. Por

último, o autor acrescenta a definição de aprendizagem do tipo não formal,

referindo-se a um conhecimento organizado, transmitido fora da estrutura do

sistema formal e idealizado para fornecer alguns tipos de aprendizagens para

grupos particulares da população em períodos de tempos mais curtos. As

conferências, os seminários, os workshops e as clínicas são alguns exemplos

mais comuns de aprendizagem não formal (NELSON et al; 2006).

26
A preocupação e o interesse sobre a formação de treinadores têm

estimulado estudos em alguns países como Austrália, Canadá, Espanha,

Estados Unidos, França, Nova Zelândia e Inglaterra, com treinadores de

sucesso na categoria principal, ressaltando um importante fenômeno da

aprendizagem informal. Os resultados vêm mostrando que a construção do

conhecimento profissional, ou “conhecimento de base” (FENSTERMACHER e

MONTEIRO apud RAMOS, 2008), é fortemente influenciado pela experiência

de prática cotidiana no esporte e decorre de um processo contínuo que se

inicia ainda na etapa de jogador em formação (JIMÉNEZ e LORENZO, 2007;

TRUDEL e GILBERT, 2006; JONES et al; 2004; IRWIN et al; 2004; JONES, et

al; 2003; CUSHION et al; 2003; GILBERT e TRUDEL, 2001; FLEURENCE e

COTTEAUX, 1999; SALMELA, 1996; SCHINKE et al; 1995 e GOULD et al;

1990).

Teorizando sobre os processos de aprendizagem, Trudel e Gilbert

(2006), utilizando as metáforas de aprendizagem de Sfard (1996),

conceituaram a metáfora da participação e a metáfora da aquisição.

Reforçando a importância da experiência da prática cotidiana, os autores

conceituam a metáfora da participação, onde a aprendizagem do treinador

decorre de um processo de reflexão da sua prática pessoal e também por um

processo particular de observação que realiza ao longo da sua vida e que o faz

tornar-se treinador. Já com referência à aprendizagem formal e não formal,

nesta perspectiva de Sfard (2008), os autores conceituaram a metáfora da

aquisição, a qual compreende a aprendizagem passiva provinda da

assimilação de conteúdos pré-estabelecidos, geralmente administrados em

27
instituições formais de ensino (NELSON et al; 2006), conforme mostra a Figura

2.

Figura 2: Como se aprende a ser treinador, segundo o diagrama das metáforas da


aquisição e da participação de Trudel e Gilbert (2006). Diagrama adaptado de Trudel e
Gilbert (2006).

Essencialmente a diferença entre as duas metáforas é que no modelo da

aquisição a aprendizagem é marcada pela transferência direta do que os

treinadores “devem saber” e “devem fazer” da mente de um indivíduo

conhecedor para outro e, na metáfora da participação a aprendizagem se

evidencia em um esforço voluntário do indivíduo para interagir com outras

pessoas, convertendo o processo de aprendizagem em uma atividade de

proporções sociais (TRUDEL e GILBERT, 2006 e SFARD, 1998).

García (2001) em seu estudo de doutorado contextualizou a formação

inicial de treinadores na Espanha que, pelos estudos anteriores de Medina e

Ibañes (2000), provém de cursos para “Professorado”, para técnicos (Técnico

Desportivo e Técnico Desportivo Superior), e para Licenciados em Ciências da

28
Atividade Física e do Esporte, tal qual se estabelece pela promulgação do Real

Decreto de 1913/1997. Esta estrutura foi àquela adotada como base para os

estudos de García (2003; 2001) e Crespo (2008 e 1996) sobre formação inicial

e permanente de treinadores. Entretanto, considerando a realidade legal

brasileira (CONFEF, 2011), esta estrutura não pode ser adotada exatamente

como foi nos estudos anteriormente citados sendo, para tanto, necessária uma

adaptação.

A adaptação para a realidade brasileira da definição de formação inicial

seguiu a legislação nacional, definida pela promulgação da lei nacional n

9696/98 (ANEXO K), que define como treinadores de tênis aqueles

profissionais em Educação Física ou provisionados em tênis de campo pelo

sistema Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) e Conselho Regional

de educação Física (CREF). Esta definição completa a teoria de formação

inicial no Brasil, que além dela, pressupõe a aquisição de conhecimento

profissional, ou “conhecimento de base” (FENSTERMACHER e MONTEIRO

apud RAMOS, 2008) por aprendizagem do tipo formal (NELSON et al; 2006),

que decorre de um sistema de certificação, institucionalizado e estruturado

hierarquicamente, com algum arranjo cronológico de médio e longo prazo,

oferecido por entidades governamentais, federações esportivas, entre outras.

Portanto, formação inicial de treinadores de tênis provém dos cursos de

Educação Física (em especial pelo bacharelado) ou de sua experiência pessoal

e profissional com o tênis (TRUDEL e GILBERT, 2008), desde que tenha

comprovado por, pelo menos três anos antes da promulgação da lei 9696/98,

atividades profissionais com a modalidade de tênis (CONFEF, 2011). Observa-

se, para tanto, a possibilidade de um técnico de tênis no Brasil estar legalmente

29
em atividade e, simultaneamente, não possuir formação inicial do tipo formal

(NELSON et al; 2006) para a intervenção no tênis. Estes são os denominados

provisionados em tênis, que conduzem a sua prática pela formação baseada

em aprendizagem do tipo não formal e/ou informal (NELSON et al; 2006) e pela

metáfora de participação ou aquisição de Trudel e Gilbert (2008).

Considerando os perfis possíveis dos treinadores de tênis no Brasil com

relação às suas formações iniciais temos, segundo a regulamentação da

profissão de Educação Física - lei 9696/98, os profissionais em Educação

Física e os profissionais provisionados (ANEXO K). Os profissionais com nível

superior naturalmente passaram por todas as etapas prévias do ensino formal.

Para estes, a formação pode ter sido realizada na área da Educação Física e

Esportes, para outras áreas afins e/ou para áreas não afins, independente da

intervenção como treinador de tênis. Os provisionados, entretanto, podem

caracterizar-se por terem ou não cursado qualquer nível do ensino formal

regular, de forma que suas formações iniciais podem ter sido oriundas somente

pelas aprendizagens não formais ou informais (CONFEF, 2011).

A formação permanente segue a orientação de estudos anteriores

(CRESPO, 2008 e 1996; GARCÍA, 2003 e 2001; MEDINA e IBAÑES, 2000) e a

teoria dos tipos de aprendizagens de Nelson et al; (2006) e Trudel e Gilbert

(2008) pelas metáforas de aprendizagem de Sfard (1996); assim adapta-se

para a realidade brasileira definindo-se pela aquisição de conhecimento

profissional, ou “conhecimento de base” (FENSTERMACHER e MONTEIRO

apud RAMOS, 2008) por aprendizagem do tipo não formal e informal,

suportados também pela metáfora de aquisição e participação. No Brasil, boa

parte das oportunidades de formação permanente não formal provém de

30
cursos e demais eventos outorgados pela Confederação Brasileira de Tênis,

pelas confederações de outros países ou mesmo pela International Tennis

Federation (ITF) – órgão que regula o tênis mundial.

2.5.1 Formação promovida pela Confederação Brasileira de Tênis

A Confederação Brasileira de Tênis (CBT), com a meta de valorizar os

profissionais capacitados e incentivar a todos os treinadores do Brasil a buscar

formação e atualização constante, criou o Sistema Nacional de Graduação

Profissional (SNGP). A confederação expede, atualmente, os títulos de

Instrutor, Treinador, Treinador Nacional, Técnico Nacional e Técnico Master

(CBT, 2010), respectivamente da menor para a maior graduação, conforme

pode ser observado na Figura 3.

Figura 3: Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP) (CBT, 2010)

31
A CBT considera que alguns aspectos são importantes e diferenciais na

formação de um profissional bem preparado e atualizado. Para tanto, não só os

cursos realizados pelos profissionais na CBT são contabilizados pelo SNGP,

mas também a história do treinador como jogador e técnico, além da

experiência de trabalho e formação escolar e universitária. A entendimento da

Confederação é de que, com a ampla divulgação deste sistema, os

profissionais que atingirem graduações superiores serão naturalmente

selecionados pelo mercado do tênis (CBT, 2010).

Os requisitos básicos e normas de funcionamento para ingressar no

sistema podem ser observados no ANEXO I.

2.6 ESTUDOS SOBRE A FORMAÇÃO DE TREINADORES

Devido ao significativo aumento de importância que o esporte vem

adquirindo na sociedade atual, a formação de treinadores desportivos tem sido

recentemente alvo crescente de pesquisas (ABRAHAM e COLLINS, 1998;

CASSIDY, JONES e POTRAC, 2004; CÔTÉ, 1998; GILBERT, 2002). Estas

investigações têm ocorrido com frequência na busca de verificar e perceber se

a evolução natural dos esportes em geral está ligada com a maior qualificação

dos profissionais envolvidos na área (RESENDE et al; 2007).

Em um estudo de revisão sistemática, Gilbert (2002) verificou que de

1970 a 2001, dos 661 estudos que foram realizados com treinadores, somente

24 (3,6%) eram relacionadas com a formação profissional dos mesmos. Isto

mostra que as investigações nesta área ainda são escassas apesar dos

estudos na área de formação dos treinadores estarem em um crescente

32
desenvolvimento nos últimos 30 anos (GILBERT e TRUDEL, 1999). Os estudos

centrados na formação dos treinadores apresentam na grande maioria uma

dispersão, bem como um modelo teórico ainda não sedimentado (LYLE, 2002).

Em uma pesquisa que objetivou explorar as preferências dos técnicos

quanto ao processo de formação permanente, Vargas-Tonsing (2007) aplicou

com 366 jovens treinadores (38,89 anos ± 8,06) de clínicas introdutórias para

treinadores um questionário com 45 questões de escala likert de 5 pontos (de

nada útil a extremamente útil), sobre o interesse a certos tópicos de

aprendizado, razões e/ou barreiras para o processo de educação como técnico

e percepções sobre o aprendizado do técnico. Os resultados mostraram que os

técnicos voluntários querem aprender mais sobre a comunicação com os pais

dos atletas e atletas, assim como exercícios técnicos avançados. Quanto às

decisões de continuarem se formando (formação permanente), os técnicos

manifestaram que as maiores razões de impacto são, respectivamente, as

exigências legais, os assuntos relevantes, a disponibilidade da internet como

meio de formação, o desejo de serem treinadores de níveis mais elevados, a

conveniência, a segurança, o tempo requerido, o custo dos cursos e a

recompensa financeira. O estudo mostrou ainda que a importância da formação

de treinadores é reconhecida pelos próprios treinadores como fator

imprescindível para elevar a qualidade das práticas profissionais.

Em um estudo realizado com treinadores de voleibol relacionando-os

com a sua formação, constataram que 58,4% dos treinadores apontam que a

formação deve ser realizada tanto pelo sistema desportivo, quanto pelo sistema

educativo de nível superior, enquanto 40,3% afirmam que esta formação

deveria ser efetivada somente pelo sistema desportivo (RESENDE, 2009).

33
Bloom, Salmela e Schinke (1995) desenvolvem uma pesquisa sobre o

método usado para treinar os futuros treinadores. Para a realização do estudo,

foram entrevistados vinte treinadores experts de quatro modalidades esportivas

diferentes, com a finalidade de saber quais eram os melhores métodos de

formação de treinadores. Os resultados do estudo mostraram que os

treinadores deram importância ao seguinte: a) Clínicas, seminários e simpósios

como forma de transmitir conhecimentos e experiências. b) Transmissão direta

da experiência (em que os treinadores envolvidos participam de modo ativo). c)

Observação passiva de outros treinadores. d) Um programa estruturado de

mentores, ou seja, o acompanhamento de estudantes por tutores. Esta foi a

atividade de formação mais importante na avaliação dos treinadores.

Ter bastante conhecimento sobre o esporte por ter sido ex-atleta parece

ser um fator determinante para entrar na carreira de treinador, o que contribui

também para se alcançar o sucesso profissional (LYLE, 2002; SALMELA,

1996; SCHINKE et al; 1995). Já no que diz respeito ao acesso à formação, ter

sido ex-atleta não foi considerado um fator fundamental nesta decisão,

segundo uma pesquisa realizada por Resende et al; (2009) sobre a percepção

dos treinadores face à formação dos treinadores em Portugal.

Os cursos de formação de treinadores são relativamente recentes

(CAMPBELL, 1993) e segundo os estudos já realizados não correspondem às

reais necessidades dos treinadores. Demers et al; (2006) enumera algumas

das dificuldades intrínsecas do processo de formação, tais como: a) os cursos

apresentam poucas oportunidades para a participação prática dos treinadores;

b) não são tidas em consideração as expectativas e necessidades dos

treinadores; c) o conteúdo não reflete as necessidades do trabalho diário dos

34
treinadores; d) a estrutura dos cursos não é flexível às necessidades e

expectativas dos participantes; e) os cursos devem promover oportunidades

práticas de desenvolvimento profissional durante as formações, sendo estas

ajustadas em cada nível; f) os programas de formação precisam ser articulados

de uma forma mais objetiva.

Larkin apud Resende (2009), com o objetivo de delinear o

desenvolvimento atual do processo e necessidades dos treinadores irlandeses,

realizaram um estudo com cento e vinte e nove treinadores e verificaram que

em relação à formação de treinadores, os mesmos consideram que a troca de

experiências pessoais, bem como, dos métodos de treino com os demais

treinadores foram os aspectos mais benéficos dos cursos de certificação. As

pesquisas mais recentes realizadas na área dos cursos de formação de

treinadores revelam que a parte formal da certificação dos cursos representa

apenas uma pequena parte do desenvolvimento do conhecimento do treinador

e, consequentemente, do seu sucesso na profissão. De acordo com a pesquisa

de Blomm et al; (1995), foi constatado que os treinadores experts valorizam 4

grandes áreas no contexto de formação contínua: clínicas, seminários e

simpósios, experiência prática e observação de outros treinadores e programas

estruturados de mentoring. Também Gould et al; (1990), verificaram que uma

das melhores fontes de enriquecimento de aprendizagem para os treinadores

considerados experts é a interação existente entre os treinadores. Isto foi

verificado em uma pesquisa realizada com cento e trinta treinadores de

seleções nacionais de Jogos Panamericanos e olímpicos dos Estados Unidos.

Em uma pesquisa efetuada com o intuito de identificarem as fontes de

conhecimento dos treinadores experts, Irwin et al; (2004), entrevistaram

35
dezesseis treinadores de elite da Ginástica através de entrevistas semi-

estruturadas. Dos resultados alcançados constataram que os treinadores

recorrem frequentemente ao aprendizado experimental, à prática reflexiva e à

literatura existente sobre treinamento para aprender a treinar. Os técnicos

identificaram que a aquisição de conhecimento foi facilitada em sua maioria

pelas clínicas interativas de treinamento e mentoring que promoveram

aquisições críticas e experimentações ativas. A prática reflexiva, em ambiente

de treino, é fator determinante para melhorar o seu desempenho como

treinador.

Em um estudo também relacionado às fontes de conhecimento utilizadas

pelos treinadores, Wright et al; (2007), realizou uma entrevista individual semi-

estruturada com trinta e cinco jovens treinadores da modalidade de hóquei no

gelo da província de Ontário, Canadá. Dos resultados deste estudo surgiram

sete diferentes situações que revelaram contribuir para a melhoria da sua

aprendizagem, entre elas: cursos de formação de treinadores, clínicas e

seminários, programa formal de mentoring, livros e vídeos, experiências

pessoais relacionadas com o esporte, interações com outros treinadores e o

uso na internet. Com este estudo foi constatado que finalmente, na última

década, os recursos da Internet começaram a ser promovido como ferramentas

valiosas para o aprendizado.

Com o objetivo de obter metáforas de aprendizagem para orientar o

trabalho de aprendizes, professores e pesquisadores, Sfard (1998), identificou

duas metáforas: a metáfora da aquisição e a metáfora da participação. A

metáfora de aquisição é referente às fontes de estudos que utilizamos para a

aprendizagem e a metáfora da participação refere-se a parte prática do

36
trabalho, as interações com outros treinadores e as próprias experiências

vivenciadas como treinador. Na avaliação e discussão dos vínculos existentes

entre elas, destaca-se a questão da unificação teórica da investigação sobre a

aprendizagem dirigida, onde o objetivo é mostrar como um rigor muito grande a

uma metáfora particular pode levar a distorções teóricas e práticas

indesejáveis.

Uma pesquisa efetuada com dezessete treinadores canadenses de

ginástica teve como objetivo identificar e conceituar o processo de aquisição do

conhecimento dos treinadores (CÔTÉ et al; 1995). Foi realizado um

questionário com questões abertas e entrevistas com métodos interrogatórios

para desvendar e explorar as informações importantes. Todas as entrevistas

dos treinadores foram transcritas na íntegra, e os dados não estruturados

qualitativamente foram indutivamente analisados seguindo os procedimentos e

as técnicas da teoria fundamentada (STRAUSS e CORBIN apud CÔTÉ, 1995).

Destas análises surgiram como resultado alguns componentes responsáveis

pela aquisição do conhecimento dos treinadores, tais como: a competição, a

formação e a organização, as características pessoais do treinador, as

características pessoais do ginasta e o seu nível de desenvolvimento, e os

fatores contextuais.

Um estudo apresentou um modelo de mentoring para a gestão do

desporto e educação física, enfatizando a importância do mentoring para o

progresso em uma carreira de gestão (WEAVER e CHELLADURAI, 1999). As

funções do mentoring referem-se tanto a mobilidade de carreira e realização

pessoal, quanto ao crescimento profissional, beneficiando todas as partes -

protegido, mentor e organização. O estudo descreve as implicações e diretrizes

37
para a orientação no domínio do desporto e das organizações de Educação

Física.

Carter e Bloom (2009) objetivaram também explorar o desenvolvimento

e a aquisição de conhecimentos em relação à formação de treinadores. A

pesquisa foi realizada com seis grandes treinadores masculinos universitários

do Canadá das seguintes modalidades: basquetebol, voleibol e hóquei no gelo.

Através de entrevistas abertas semi-estruturadas, os resultados da análise

revelaram semelhanças entre os treinadores em termos de suas características

pessoais, conhecimentos e de formação atual. Surgiram algumas semelhanças

e diferenças na forma de aquisição do conhecimento. Muitos dos resultados

atuais foram semelhantes aos estudos anteriores sobre o desenvolvimento de

treinadores experts na aquisição de conhecimentos, apesar do fato de que os

treinadores universitários da nossa amostra não competiam na elite como

atleta. Este artigo explica como essas pessoas adquiriram o conhecimento e

fornece uma ideia mais completa do desenvolvimento e da aquisição de

conhecimentos da formação para treinadores iniciantes.

Guerra et al; (2001), estudou a necessidade de formação

psicopedagógica dos treinadores para atuar com sucesso nas primeiras etapas

de formação esportiva. O aprofundamento da formação dos treinadores é de

fundamental importância para colaborar na educação integral dos jovens

escolares em seu período de desenvolvimento. Desta maneira, a formação do

treinador esportivo não se distancia muito da formação do professor de

Educação Física. O treinador, neste período de iniciação, é a figura mais

importante junto à família na motivação do jogador, ajudando no seu

desenvolvimento pessoal e esportivo, e compreendendo sempre que o

38
desenvolvimento e os interesses do aluno vêm antes dos interesses pessoais e

particulares do treinador. A relação treinador-atleta acontecerá sempre

baseada nas concepções pedagógicas, visto que o treinador não pode perder a

mentalidade humanista e centrar-se exclusivamente nos aspectos técnicos

esportivos buscando resultados à curto prazo. Segundo Guerra et al; (2009), o

treinador deve ter a formação específica na modalidade esportiva, respeitar os

valores éticos e profissionais, ter vocação para ensinar jovens e uma boa

capacidade de comunicação com os mesmos. O autor ainda destaca que,

como o enfoque dos programas de formação de treinadores atende

principalmente a técnica desportiva, os treinadores esportivos deveriam ter

conhecimentos sobre áreas como psicologia, pedagogia e didática, fisiologia e

medicina básica.

2.7 ESTUDOS SOBRE A FORMAÇÃO DE TREINADORES DE TÊNIS

Dentre as investigações realizadas sobre a formação de treinadores

desportivos, poucos deles tratam sobre o treinador de tênis. Nesta área, as

publicações espanholas vêm despontando, inclusive pelo fato de a Espanha ter

passado por um processo de reorganização na formação de treinadores de

tênis. Os estudos que seguem tratam sobre a formação de treinadores de tênis

e serviram de base para a discussão específica realizada neste estudo.

Com o objetivo de conhecer o pensamento de treinadores espanhóis de

tênis de alto rendimento na concepção de novas qualificações dos técnicos

desportivos, Garcia et al; (2003), realizaram uma pesquisa com vinte

treinadores espanhóis de alto rendimento que treinaram algum jogador

39
presente entre os 100 primeiros do ranking mundial durante as temporadas de

1997/1998, 1998/1999 e 1999/2000. Utilizando um questionário relacionaram

cinco variáveis para investigação da formação dos treinadores: tipo de

instituição responsável pela formação, características temporais da formação,

características dos programas de formação, características da participação do

aluno no processo de ensino e as características das instalações e dos

recursos materiais. Quanto ao tipo de instituição responsável pela formação

observou-se que os treinadores concedem uma grande importância para que

se tenha um melhor desenvolvimento das novas titulações. A Real Federación

Española de Tenis (RFET), as Faculdades de Ciências do Esporte e os INEF‟s

devem cooperar entre si mediantes acordos de investigação. Os treinadores

valorizam positivamente que as titulações de tênis tenham o mesmo

reconhecimento, sejam realizadas pela via federativa ou pela universidade,

portanto, os treinadores valorizam muito a criação de programas de

cooperação docente por parte da federação. Em relação à variável das

características temporais da formação, os treinadores consideraram de maior

importância ter um período prolongado de prática para ter acesso ao próximo

nível de formação do que um volume elevado de aulas teóricas. A questão de o

curso ser distribuído durante os finais de semana e seguidamente não agrada

os treinadores, valorizando assim o sistema empregado atualmente,

distribuindo o total de aulas em semanas espaçadas, mesmo este sistema

também sendo considerado pelos treinadores uma má opção. As possíveis

soluções para este problema podem ser as novas tecnologias para uma

formação inicial à distância onde as federações concedam seus próprios

cursos na forma de conteúdos teóricos. Atualmente, pouquíssimas federações

40
propiciam estes cursos, sendo a Federação Catalã a única que fornece todos

os níveis desta formação. Garcia et al; (2003), constatou que na questão das

características dos programas de formação existe uma excelente valorização

no fato dos alunos poderem se especializar em diferentes currículos. Os

treinadores espanhóis de alto rendimento consideram de muita importância

disciplinas optativas e a criação de um mestrado em „‟tênis de alto rendimento‟‟,

opções que não existiam na Espanha. Na variável „‟características da

participação do aluno no processo de ensino‟‟, é valorizado também pelos

treinadores, que determinados alunos recebam bolsas de estudos e que os

alunos tenham participação nos diferentes órgãos de ensino e que se

promovam a estadia dos alunos nos centros de tênis. García et al; (2003) ainda

comenta que nas características das instalações e dos recursos materiais são

observados que consideram os vídeos como de grande importância no meio

didático, e que as tecnologias de última geração como sistema de

teleconferência e internet são muito úteis para enriquecer este processo de

aprendizagem dos treinadores.

A formação profissional do treinador de tênis também foi estudada por

Crespo (1996). Este estudo destacou as vias de formação do professor de tênis

em 3 âmbitos: formação por obtenção de títulos, que foi relacionado com os

títulos que são reconhecidos ou não pelo Ministério de Educação e Ciência

(MEC); formação por obtenção de diplomas e certificados, relacionado à

cursos, seminários, simpósios, conferências e etc.; e formação contínua, ligado

à leitura de livros, aquisição de vídeos e de material docente, participação em

torneios, visitas à outros clubes e a troca de experiências com outros colegas

de profissão. Segundo Crespo (1996), os princípios para uma melhor

41
profissionalização do treinador de tênis são reconhecer quais as reais

recompensas de se continuar estudando, estar sempre motivado

profissionalmente, reservar tempo para a família e os hobbies, almejar a

promoção profissional, agir conforme a ética profissional e se preocupar com a

própria imagem profissional.

Anos depois, Crespo (2008) continuou estudando a formação

permanente e o desenvolvimento das habilidades dos treinadores de tênis,

sendo um dos objetivos do estudo, relatar o que a International Tennis

Federation (ITF) espera dos programas de formação de treinadores. Neste

âmbito, o autor destacou que a ITF espera que as Federações Nacionais

comparem os programas de formação dos treinadores de tênis entre si e de

acordo com os níveis da Comissão de Treinadores da ITF; a facilitação do

reconhecimento das titulações dos treinadores de tênis pelas autoridades

governamentais; a possibilidade de uma maior mobilidade dos treinadores de

tênis pelo mundo, a utilização dos melhores métodos em todos os programas

de formação de treinadores, a garantia da qualidade da formação das

instituições de ensino e o reconhecimento das titulações em todos os países e

o aumento da confiança na formação dos treinadores perante os jogadores e

dirigentes. Em relação ao desenvolvimento das habilidades dos treinadores de

tênis, as tendências atuais aconselham que os programas de formação de

treinadores sejam atualizados baseados nas habilidades que os mesmos

precisam adquirir para um bom sucesso profissional.

42
3 MÉTODO

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva utilizando a

abordagem quantitativa e qualitativa (THOMAS e NELSON, 2002; CERVO e

BERVIAN, 1983), que objetiva validar a versão brasileira do “Questionário de

Análise da Formação Inicial e Permanente dos Treinadores de Tênis de Alto

Rendimento” (QUAFIPETAR) (LIMA e ANDRADE, 2011) com base no

questionário para análise da formação inicial e permanente dos treinadores

espanhóis de alto rendimento de García (2001) e posteriormente descrever o

perfil da formação inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto

rendimento no Brasil.

3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA

Com o objetivo de atender aos critérios adotados para este estudo,

quatro grupos participaram da investigação, denominados grupo I, grupo II,

grupo III e grupo IV.

O grupo I teve a função de avaliar o critério de clareza e validade de

conteúdo dos instrumentos de pesquisa. Foi formado por 10 sujeitos, neste

estudo chamados de especialistas, formados em Educação Física,

pesquisadores experientes e familiarizados com esporte de alto rendimento;

três destes são familiarizados também com tênis de alto rendimento. Destes,

cinco são doutores pesquisadores da área da Educação Física e cinco


mestrandos do curso de Ciências do Movimento Humano da UDESC. O grupo I

colaborou também na orientação para a adaptação e aprimoramento do

questionário.

O grupo II, constituído pela amostra do estudo piloto, avaliou a clareza e

validade de conteúdo do questionário, além de responderem as questões do

instrumento de pesquisa. Foi formado por 24 treinadores de tênis de alto

rendimento residentes do estado de Santa Catarina.

O grupo III, amostra da população-alvo deste estudo, atendeu aos

critérios de validação de fidedignidade, além de formar amostra para a análise

da formação inicial e permanente do treinador de tênis de alto rendimento no

Brasil. Participaram deste grupo 31 treinadores brasileiros de tênis de alto

rendimento dos estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio

Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Ceará e Amazonas. Somente participaram

os treinadores que estavam em atividade e que tivessem treinado algum tenista

infanto-juvenil ou profissional de nível competitivo nacional ou internacional. A

quantidade (n da amostra) atende ao mínimo de 5 sujeitos para cada fator da

dimensão do construto para a validação, proposta por Bryman e Cramer

(2003). Além destes treinadores, três (3) foram participantes da pesquisa

qualitativa.

O grupo IV formou a comissão de especialistas de doutores

pesquisadores e teve a função de participar do processo de validação de

construto pela análise de validação confirmatória do QUAFIPETAR.

As amostras foram selecionadas de forma não-probabilística intencional

(THOMAS e NELSON, 2002), adotando-se o critério de voluntariado e

buscando adequação ao objetivo proposto para a validação do instrumento. O

44
objetivo desta seleção foi considerar o segmento dos treinadores que lidam

diretamente com os tenistas brasileiros melhores ranqueados mundialmente e

que, pelo nível de expertise, conhecem e/ou experimentaram todas as

categorias de ensino do tênis – do ensino aos iniciantes ao alto rendimento.

3.3 INSTRUMENTOS

Quatro instrumentos foram utilizados deste estudo: a) Entrevista de

história de vida realizada com um ex-atleta número um do mundo no tênis; b)

Questionário de Caracterização Geral dos Treinadores de Tênis de Alto

Rendimento; c) Questionário quantitativo para análise da formação inicial e

permanente dos treinadores espanhóis de tênis de alto rendimento (GARCÍA,

2001) e; d) Questionário qualitativo para análise da formação inicial e

permanente dos treinadores espanhóis de alto rendimento (GARCÍA, 2001).

Ambos os instrumentos de García (2001) passaram pelo processo de tradução

e adaptação; adicionalmente, o questionário quantitativo passou pela testagem

e validação. O instrumento quantitativo foi intitulado Questionário para Análise

da Formação Inicial e Permanente dos Treinadores de Tênis de Alto

Rendimento - QUAFIPETAR (LIMA e ANDRADE, 2011) e o qualitativo

nomeado Roteiro de Entrevista Qualitativa para Análise da Formação Inicial e

Permanente dos Treinadores de Tênis de Alto Rendimento - QUALI-

QUAFIPETAR (LIMA e ANDRADE, 2011).

45
3.3.1 Entrevista de “história de vida” com Gustavo Kuerten

O instrumento utilizado inicialmente neste estudo foi um roteiro semi-

estruturado para promover a entrevista de “história de vida” do tipo tópica

(BONI e QUARESMA, 2005) com Gustavo Kuerten, que objetivou focalizar uma

etapa da experiência em questão (MINAYO,1993). Essa entrevista (APÊNDICE

A) foi realizada na sede da empresa Guga Kuerten Participações, em

Florianópolis (SC), e objetivou buscar os elementos de maior interesse e/ou de

maior vulnerabilidade do tênis brasileiro, em relação à importância e função do

treinador de tênis, sob a ótica de um dos melhores tenistas da história mundial

e, certamente, o maior tenista masculino da história do tênis brasileiro.

3.3.2 Questionário de Caracterização Geral dos Treinadores de

Tênis de Alto Rendimento

O instrumento utilizado neste estudo para caracterizar a amostra foi um

questionário estruturado denominado “Questionário de Caracterização Geral

dos Treinadores de Tênis de Alto Rendimento” de Lima e Andrade (2011),

baseado e adaptado de Andrade (2001) (ANEXO E), que teve por objetivo

investigar características pessoais relevantes para o estudo como a idade,

sexo, melhor ranking na ATP e WTA de um(a) tenista que o treinador tenha

treinado, ano do melhor ranking do seu(sua) atleta, condições profissionais

gerais e condição e histórico de saúde.

46
3.3.3 Instrumentos adaptados, testados e validados

3.3.3.1 Questionário para Análise da Formação Inicial e Permanente dos


Treinadores de Tênis de Alto Rendimento - QUAFIPETAR (LIMA e ANDRADE,
2011)

Utilizou-se como base para o estudo o instrumento estruturado

quantitativo desenvolvido por García (2001) sobre análise da formação dos

treinadores espanhóis de alto rendimento (vide ANEXO A), que passou por

processo de tradução, retro tradução (back translation), adaptação

transcultural, testagem e validação para a língua portuguesa do Brasil pelos

critérios de clareza, de validade de conteúdo aparente, validade de construto e

fidedignidade.

O questionário quantitativo para análise da formação dos treinadores

espanhóis de alto rendimento é composto por trinta e cinco (35) questões,

sendo abertas, fechadas e, entre estas, com algumas questões utilizando uma

escala Likert de 5 pontos (1 = absolutamente en desacuerdo, 2 = en

desacuerdo, 3 = indiferente, 4 = de acuerdo, e 5 = absolutamente de acuerdo).

O instrumento traduzido e adaptado (ANEXO C) foi nomeado “Questionário de

Análise da Formação Inicial e Permanente dos Treinadores de Tênis de Alto

Rendimento” (QUAFIPETAR), e é composto por trinta e duas (32) questões,

sendo abertas, fechadas e, entre estas, com algumas questões utilizando uma

escala Likert de 5 pontos (1 = absolutamente em desacordo, 2 = em

desacordo, 3 = indiferente, 4 = de acordo, e 5 = absolutamente de acordo).

47
3.3.3.2 Roteiro de Entrevista Qualitativa para Análise da Formação
Inicial e Permanente dos Treinadores de Tênis de Alto Rendimento - QUALI-
QUAFIPETAR (LIMA e ANDRADE, 2011)

A técnica qualitativa de investigação foi realizada por meio de um

questionário semi-estruturado, com questões abertas em profundidade, de

modo a permitir uma abordagem flexível e dinâmica (MATTOS e LINCOLN,

2005) para a compreensão das avaliações dos treinadores de alto rendimento

sobre as questões este estudo. O questionário qualitativo original de García

(2001) para análise da formação dos treinadores espanhóis de alto nível é

composto por doze (12) questões, sendo todas abertas (ANEXO E). O

instrumento traduzido, retro traduzido (back translation) e adaptado (ANEXO G)

foi nomeado “Roteiro de Entrevista Qualitativa para Análise da Formação Inicial

e Permanente dos Treinadores de Tênis de Alto Rendimento” “Questionário

Qualitativo de Análise da Formação Inicial e Permanente dos Treinadores de

Tênis de Alto Rendimento” (QUALI-QUAFIPETAR), e é composto por oito (8)

questões, sendo todas abertas.

3.4 TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL

Neste estudo objetivou-se fazer a tradução e adaptação transcultural dos

questionários quantitativo e qualitativo de García (2001), para a análise da

formação inicial e permanente de treinadores de alto rendimento no Brasil.

Para isto valeu-se da metodologia proposta por Nóbrega e Gutiérrez (2000),

com uma modificação que consistiu na inclusão da etapa de tradução proposta

por Beaton et al; (2000). Assim, este estudo foi desenvolvido aplicando-se as

48
seguintes etapas metodológicas: Primeira etapa: tradução dos questionários

originais quantitativo e qualitativo de García (2001) para a língua portuguesa do

Brasil por dois tradutores independentes. Segunda etapa: back-translation, em

que foi realizada a retro tradução ao idioma de origem, ou seja, o espanhol, por

um treinador de tênis chileno, com experiência de moradia na Espanha por 6

anos. Terceira etapa: avaliação do back translation por um grupo de dois

experts em tênis com domínio das línguas portuguesa e espanhola. Quarta

etapa: verificação da equivalência semântica da versão em português dos

instrumentos QUAFIPETAR e QUALI-QUAFIPETAR. A partir da tradução e

retrotradução (back-translation) da escala e posterior avaliação pelo grupo de

experts identificou-se equivalência semântica com os instrumentos originais.

Após esse processo, os questionários passaram por correções, adições

e subtrações de elementos textuais das questões e itens, que se justificavam

pela adaptação à realidade do tênis brasileiro e do processo de formação inicial

e permanente específico do treinador de tênis no Brasil.

3.5 COLETA DE DADOS

A coleta de dados iniciou após aprovação do projeto pelo Comitê de

Ética em Pesquisas com Seres Humanos (CEP) da Universidade do Estado de

Santa Catarina – UDESC, registrado sob protocolo nº 147/2010.

Dividiu-se em três etapas: a primeira compreendeu a coleta de dados

para o estudo piloto, a segunda a coleta quantitativa definitiva com a

população-alvo e a terceira a coleta definitiva qualitativa com a população-alvo

do estudo.

49
3.5.1 Primeira etapa: coleta para o estudo-piloto

A primeira etapa foi realizada em Itajaí (SC) junto ao grupo II, formado

por 24 treinadores de tênis competitivo do estado de Santa Catarina,

selecionados de forma não-probabilística intencional e por conveniência

(THOMAS e NELSON, 2002), com o objetivo de analisar o critério de clareza e

validade de conteúdo, além de responderem as questões do instrumento de

pesquisa para o estudo piloto. Destes dados coletados, foi realizada a análise

inicial da fidedignidade (índice de consistência interna pelo alpha de Cronbach)

e aceitabilidade do instrumento quantitativo QUAFIPETAR traduzido. Nesta

coleta, o pesquisador orientou sobre os objetivos do estudo e esclareceu

quanto aos procedimentos de coleta dos dados. Somente participaram da

pesquisa os treinadores que entregaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido devidamente assinado.

Tendo em vista um dos objetivos desta etapa, de testar a clareza e

validade de conteúdo dos itens do instrumento, os participantes foram

orientados a responder às questões e a assinalar sua posição quanto à clareza

de cada item em “Totalmente Claro”, “Moderadamente Claro” e “Nada Claro” e

quanto à validade em “Totalmente Válido”, “Moderadamente Válido” e “Nada

Válido”, ambos em uma escala de 0 a 10.

Esse processo foi conduzido de acordo com os parâmetros propostos

por Melo apud Barroso (2007) para validade de clareza, que considera: 1)

Questão “Nada Clara” (nota 0 a 4): o respondente não entendeu nada do que

está escrito. Neste caso o item, ou itens, que receberam essa pontuação

deveriam ser excluídos da escala; 2) Questão “Moderadamente Clara” (nota 5

50
a 7): o respondente indica sua incerteza quanto à compreensão, possivelmente

interpretando o item de duas ou mais formas diferentes. As questões que, em

média, apresentaram estas notas deveriam ser reformuladas; 3) Questão

“Totalmente Clara” (nota 8 a 10): compreensão completa, ou seja, o

respondente confirma a clareza total na interpretação da questão.

3.5.2 Segunda etapa: coleta quantitativa definitiva

A segunda etapa da coleta de dados foi realizada com o grupo III em

competições juvenis e profissionais e nas academias e clubes de tênis, nas

cidades de Itajaí (Banana Bowl – torneio internacional), Joinville (Circuito

UNIMED de Tênis – torneio nacional) e Florianópolis (SC) (nas academias de

treinamento de tênis de alto rendimento), nos meses de janeiro e fevereiro de

2011. A amostra foi selecionada de forma não-probabilística intencional e por

conveniência (THOMAS e NELSON, 2002). A abordagem para a coleta de

dados precedeu, no mínimo, uma hora antes ou depois de uma intervenção

profissional com tenistas, com o pesquisador orientando sobre os objetivos do

estudo e esclarecendo quanto aos procedimentos de coleta dos dados.

Somente participaram da pesquisa os técnicos que entregaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido devidamente assinado. A coleta foi

realizada com os treinadores mediante aplicação direta do QUAFIPETAR pelo

pesquisador. Não houve influência do pesquisador nas respostas dos

treinadores.

51
3.5.3 Terceira etapa: coleta qualitativa definitiva

A coleta com o roteiro de entrevista qualitativa QUALI-QUAFIPETAR

compreendeu a terceira etapa, quando foram entrevistados, diretamente pelo

pesquisador, três (3) treinadores brasileiros de reconhecida competência no

treinamento de atletas infanto-juvenis e profissionais de tênis. Assim como na

amostra do instrumento quantitativo, estes treinadores participantes da

entrevista qualitativa foram selecionados de forma não-probabilística

intencional e por conveniência (THOMAS e NELSON, 2002). Anteriormente à

entrevista, o pesquisador orientou sobre os objetivos do estudo e esclareceu

quanto aos procedimentos de coleta dos dados. Somente participaram da

pesquisa os técnicos que entregaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido devidamente assinado.

Em todas as etapas, como forma de padronização, a aplicação dos

instrumentos de pesquisa foi realizada individualmente e em ambiente

reservado, evitando a influência de fatores externos como barulhos, ruídos ou

elementos diversos de distração. Durante a coleta das informações, o

entrevistado teve total liberdade para expressar suas idéias. Triviños (1987)

afirma que a entrevista semi-estruturada oferece diferentes perspectivas para

que o pesquisado alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias ao

mesmo tempo em que valoriza a presença do investigador, o que enriquece a

investigação. As respostas dos entrevistados foram gravadas e anotadas

individualmente pelo entrevistador usando os termos como expressos pelo

entrevistado, com posterior redação para transcrição do texto final. O tempo de

realização da entrevista foi de aproximadamente 35 minutos.

52
3.6 TRATAMENTO DOS DADOS

3.6.1 Tratamento estatístico utilizado para a validação do

QUAFIPETAR

Um conjunto de procedimentos estatísticos foram testados e alguns

foram utilizados com o objetivo de realizar o processo de validação propostos

para este estudo (quadro 1).

Quadro 1. Testes estatísticos utilizados para a validação do QUAFIPETAR.

Análise Testes

Consistência Interna Alpha de Cronbach

1 1
Análise de Fatores Análise Fatorial Exploratória com rotação Varimax

A validade de clareza de cada item do questionário QUAFIPETAR foi

verificada mediante a frequência percentual para cada uma das três

possibilidades de resposta (“Totalmente Clara”, “Moderadamente Clara” e

“Nada Clara”), considerando índice mínimo para aprovação os valores iguais

ou superiores a 0,8 (80%). O mesmo foi verificado para a validade de conteúdo

1
Uma testagem prévia de análise fatorial foi realizada pelo teste de Análise Fatorial Exploratória com
rotação varimax, mas não foi utilizada em virtude da inadequação dos diferentes níveis usados na escala
com relação às exigências estatísticas que permitissem a realização da análise. Para suprir a
necessidade de análise dimensional do instrumento, foi utilizada a análise confirmatória com doutores
especialistas.

53
do QUAFIPETAR, porém sob as possibilidades de resposta “Totalmente

Válida”, “Moderadamente Válida” e “Nada Válida”.

A confiabilidade da escala foi avaliada através da consistência interna,

verificada por meio do coeficiente alpha de Cronbach.

Considerando a natureza do instrumento QUAFIPETAR, a validade de

construto, avaliada pela análise dimensional, foi realizada por validação

confirmatória através do julgamento de uma comissão formada por cinco

doutores pesquisadores da área da Educação Física com conhecimento na

área de formação de treinadores. Essa avaliação permitiu verificar o quanto as

questões estão relacionadas às dimensões e aos conceitos teóricos que a

fundamentam. Uma testagem prévia de análise fatorial foi realizada pelo teste

de Análise Fatorial Exploratória com rotação varimax, mas não foi utilizada em

virtude da inadequação dos diferentes níveis usados na escala com relação às

exigências estatísticas que permitissem a realização da análise.

A análise estatística da consistência interna do instrumento

QUAFIPETAR e dos seus construtos foi realizada através do pacote estatístico

SPSS (Statistical Package to Social Sciences for Windows) - versão 17.0.

3.6.2 Tratamento estatístico utilizado para a descrição do perfil da

formação inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto

rendimento

O tratamento estatístico utilizado para a descrição do perfil da formação

inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento consistiu na

aplicação de estatística descritiva e inferencial (quadro 2).

54
Quadro 2. Testes estatísticos utilizados para a avaliação da formação inicial e
permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil.

Testes
Análise

Dados paramétricos Dados não-paramétricos

Normalidade Shapiro-Wilk

Correlação - Correlação de Spearman

Estudo descritivo Frequência, média, desvio padrão, valores máximos e mínimos

Cálculos de média, desvio padrão, valores máximos e mínimos foram

utilizados como parte da estatística descritiva para a avaliação do perfil da

formação inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento,

tanto para o QUAFIPETAR, como para o questionário de caracterização geral

do sujeito. Para a estatística inferencial utilizou-se o teste de normalidade e

correlações (Pearson ou Spearman) de acordo com a distribuição apresentada

pelos dados da pesquisa.

A análise estatística descritiva e inferencial foi realizada através do

pacote estatístico SPSS (Statistical Package to Social Sciences for Windows) -

versão 17.0.

3.7 ANÁLISE QUALITATIVA DA ENTREVISTA

Para análise das entrevistas foi utilizada a análise de conteúdo de Bardin

(1977), que proporciona melhor visualização, aprofundamento e uma análise

detalhada da complexidade das motivações, atitudes, valores e tendências do


55
informante (ANDRADE, 2001). A análise do conteúdo das entrevistas dos

participantes da pesquisa foi realizada através de quadros-resumo, conforme

descrito por Andrade (2001, p.126):

“Após a transcrição, na íntegra, dos depoimentos dos


participantes, o texto será relido detalhadamente, sendo
identificados e destacados os micro discursos, partes das falas da
entrevista que continham sentido e associação com as categorias
investigadas ou que eram relacionadas à outra categoria
emergente. Desta forma, o processo de categorização ocorreu de
maneira dinâmica, a maioria delas previamente elaboradas e
algumas surgidas das interações da análise do conteúdo. Após
seleção de um micro discurso, este foi selecionado e colado junto
à subcategoria afim. Desta forma, o conjunto ordenado e
organizado das transcrições das entrevistas, dos micro discursos
de cada parceiro de conversação, distribuídos nas unidades de
análise, categorias e subcategorias foram reunidos num texto [...].
A colocação dos depoimentos em cada subcategoria foi
organizada [...] para facilitar a apresentação e a análise do
conteúdo [...] alguns depoimentos dos participantes puderam ser
usados, “encaixados” em mais de uma categoria. Isto ocorreu
quando a parte do depoimento dado continha informações que
dava suporte para mais de uma subcategoria.”

Um aspecto fundamental da análise qualitativa dos dados é a construção

dos quadros resumos (apresentação e discussão dos dados), que são

compostos pelas unidades de análise e as “subcategorias”, onde a organização

das informações facilita as análises iniciais. Esta organização permite uma boa

visualização dos dados qualitativos e o aprofundamento da pesquisa.

Ao interpretar as subcategorias o pesquisador pode redefinir os termos

com o objetivo de proporcionar um maior esclarecimento sobre elas, melhorar a

distribuição das categorias, dos conteúdos e da formatação junto aos quadros

resumos. Quando são identificadas muitas subcategorias, pode-se fazer mais

de um quadro para diferenciar núcleos de conteúdo ou categorias.


56
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados deste estudo estão apresentados de acordo com os

objetivos específicos propostos: de validar a versão brasileira do

QUAFIPETAR pelos critérios de clareza, de validade de conteúdo, validade

de construto e fidedignidade (tópico 4.1); de descrever o perfil da formação

inicial dos treinadores de tênis de alto rendimento (tópico 4.3); e de

descrever o perfil da formação permanente dos treinadores de tênis de alto

rendimento (tópico 4.4). Um tópico exclusivo sobre os resultados da

caracterização geral da amostra (tópico 4.2) precederá aqueles sobre a

formação inicial e permanente.

4.1 VALIDAÇÃO DO QUAFIPETAR (LIMA e ANDRADE, 2011)

PELOS CRITÉRIOS DE CLAREZA, DE VALIDADE DE CONTEÚDO,

VALIDADE DE CONSTRUTO E FIDEDIGNIDADE

4.1.1 Validação de clareza e de conteúdo do QUAFIPETAR

A validação de clareza e de conteúdo do Questionário de Avaliação

da Formação Inicial e Permanente de Treinadores de Tênis de Alto

Rendimento (QUAFIPETAR) fez parte do primeiro processo de validação,

perfazendo um momento importante, visto que os resultados obtidos nesta

etapa culminaram com a avaliação da versão final do instrumento para a

língua portuguesa do Brasil.


Após a realização das coletas, os questionários foram analisados

individualmente para se verificar falhas no preenchimento e considerar

sobre as dúvidas e sugestões dos sujeitos. Nenhum deles comunicou falha

no instrumento que justificasse a exclusão de questões e algumas

sugestões foram acrescentadas para a maior clareza do instrumento final.

O cálculo do índice de clareza das questões e do QUAFIPETAR

completo compreendeu uma importante etapa da validação do instrumento

(tabela 1).

Tabela 1. Índices de “validade – clareza” das questões do QUAFIPETAR.


Questão Índice Questão Índice
Q1 1,00 Q18 0,95
Q2 1,00 Q19 0,92
Q3 1,00 Q20 0,93
Q4 0,98 Q21 0,96
Q5 0,97 Q22 0,94
Q6 0,93 Q23 0,96
Q7 0,82 Q24 0,85
Q8 0,86 Q25 0,92
Q9 0,80 Q26 0,92
Q10 0,86 Q27 0,98
Q11 0,84 Q28 0,91
Q12 0,86 Q29 0,86
Q13 0,97 Q30 0,93
Q14 0,94 Q31 0,90
Q15 0,96 Q32 0,88
Q16 0,92 Q33 0,78
Q17 0,96
*Média geral da validade de clareza do instrumento: 0,92 ± 0,06.

Todas as questões apresentaram índices de clareza satisfatórios

(acima de 0,80 ou 80%), exceto a questão Q33, com índice de 0,78.

Reformulações na redação dos itens (itens 3, 4, 6, 9, 11, 13, 14, 16, 24, 28,

34 e 36) da questão Q9 (índice de clareza de 0,80) foram realizadas com o

objetivo de facilitar ainda mais a compreensão da questão pela população

investigada. A questão Q33, com índice de clareza muito próximo ao


58
adequado (0,78), não foi reformulada em consideração ao laudo de clareza

e conteúdo identificados pelo grupo I, e em consideração à percepção do

pesquisador quanto ao cansaço dos sujeitos do estudo piloto, já que esta

foi a última questão a ser respondida e, ainda, discursiva. A proximidade

com índices ideais de validade de conteúdo aparente e o laudo dos

especialistas do grupo I também permitiram a manutenção das questões

Q9 (0,75) e Q24 (0,76) no QUAFIPETAR. O fator positivo a ser observado

foi o interesse dos treinadores em opinar sobre o assunto.

Em razão das sugestões acrescentadas pelos treinadores para o

instrumento final, das observações anotadas pelo pesquisador durante a

coleta de dados no estudo piloto e, independente dos altos índices de

clareza, 12 das 33 questões passaram por revisão do enunciado e/ou dos

itens (Q9, Q11, Q12, Q13, Q17, Q19, Q21, Q22, Q24, Q26, Q28 e Q29) a

fim de deixar estas questões ainda mais claras para a população

pesquisada. As questões Q5 e Q7 tiveram campos de respostas

adicionados, a fim de garantir uma melhor cobertura de respostas

possíveis.

Após análise criteriosa da Q23, optou-se por excluí-la devido à

inconsistência com a realidade de formação inicial de treinadores de tênis

no Brasil, que não permite formação externa à Educação Física enquanto

docente da disciplina de Tênis em Instituições do Ensino Superior de

Educação Física e Esportes, em determinação à lei 9696/98 (ANEXO K). A

exclusão determinou, desta forma, a diminuição do QUAFIPETAR de 33

para 32 questões.

Todas as alterações promovidas nas questões discutidas

anteriormente, com os comentários referentes a elas, podem ser

observadas no ANEXO B.

59
Considerando o critério adotado, nenhum item a mais precisou ser

reformulado ou excluído, confirmando a validade de clareza da tradução

com índice geral de 0,92±0,06.

O cálculo do índice de validade de conteúdo das questões e do

QUAFIPETAR completo compreendeu a segunda importante etapa da

validação do instrumento (tabela 2).

Tabela 2. Índices de “validade – conteúdo” das questões do QUAFIPETAR.


Questão Índice Questão Índice
Q1 1,00 Q18 0,92
Q2 1,00 Q19 0,91
Q3 0,99 Q20 0,88
Q4 0,99 Q21 0,96
Q5 0,97 Q22 0,95
Q6 0,89 Q23 0,94
Q7 0,81 Q24 0,76
Q8 0,87 Q25 0,92
Q9 0,75 Q26 0,89
Q10 0,84 Q27 0,98
Q11 0,83 Q28 0,91
Q12 0,83 Q29 0,87
Q13 0,96 Q30 0,93
Q14 0,86 Q31 0,90
Q15 0,91 Q32 0,88
Q16 0,92 Q33 0,81
Q17 0,95
*Média geral da validade de conteúdo aparente do instrumento: 0,90 ± 0,07.

As questões Q9 e Q24, com índice de validade de conteúdo muito

próximo ao adequado (0,75 e 0,76), não foram reformuladas em

consideração ao laudo de conteúdo identificado pelo grupo I. Com o índice

geral de 0,90±0,07, o QUAFIPETAR confirmou a validade de conteúdo

aparente.

60
4.1.2 Validação confirmatória dos construtos do QUAFIPETAR

Após a tentativa de definição das dimensões do construto através da

análise fatorial estatística com rotação varimax, foi observado insucesso na

definição fatorial do instrumento devido às diferenças escalares entre as

questões do QUAFIPETAR. Devido a esta razão, a análise fatorial foi

realizada através de validação confirmatória pelo julgamento de uma

comissão de especialistas (formada por cinco doutores pesquisadores da

área da Educação Física com conhecimento na área de formação de

treinadores).

A validação confirmatória definiu as dimensões do construto do

instrumento como sendo: da “FORMAÇÃO INICIAL” as questões Q5, Q6,

Q7, Q12, Q21, Q22 e Q23; da “FORMAÇÃO PERMANENTE” ficaram

definidas as questões Q8, Q24, Q25, Q26, Q27, Q28, Q29, Q30, Q31 e

Q32; assim como “FORMAÇÃO GERAL” (formação inicial e permanente

conjugadas) as questões Q4, Q9, Q10, Q11, Q13, Q14, Q15, Q16, Q17,

Q18, Q19 e Q20.

4.1.3 Confiabilidade da escala mediante o coeficiente de

consistência interna de cada fator e da escala como um todo.

A análise de consistência interna da versão do QUAFIPETAR

apresentou um índice satisfatório, com valor alpha (α) de Cronbach de 0,87

(tabela 3).

61
Tabela 3: Consistência interna (α de Cronbach) dos construtos do
QUAFIPETAR.

α de Cronbach
Construto
Versão brasileira Versão original

1. Formação inicial 0,56 Não fez

2. Formação permanente 0,85 Não fez

3. Formação geral 0,96 -

TOTAL DO INSTRUMENTO 0,87 Não fez

A confiabilidade das dimensões do construto foi de α = 0,56 para o

fator “formação inicial”, α = 0,85 para “formação permanente” e α = 0,96

para “formação geral” (construto nos quais as questões fazem referência

tanto para formação inicial como para permanente). A análise aponta

indícios de confiabilidade do instrumento, sendo possível visualizar uma

tendência de valores elevados de consistência interna do instrumento

QUAFIPETAR. Segundo Silveira (1993), valores de α entre 0,7 e 0,9

apresentam adequada confiabilidade. Para tanto, o coeficiente de α = 0,56

encontrado para o fator “formação inicial” ainda apresenta-se aquém do

índice de consistência interna adequado. Deve-se considerar que, mesmo

com um coeficiente de α = 0,56 para o construto “formação inicial”, ele está

inserido no instrumento QUAFIPETAR, que obteve α = 0,85 para “formação

permanente” e α = 0,96 para “formação geral”. Assim sendo, com um

índice geral de α = 0,87 do instrumento, é satisfatório considerar “boa

consistência interna” (α de Cronbach) para os construtos do QUAFIPETAR.

Este processo de validação do QUAFIPETAR provém de uma

necessidade emergente em produzir pesquisas sobre a formação de


62
treinadores, como sugerem os estudos de Crespo (1996 e 2008), Vargas-

Tonsing (2007), García (2001) e a percepção de Gustavo Kuerten, quando

revela que “O Brasil precisa de algumas coisas ainda para melhorar o seu

nível como, por exemplo, um estudo mais aprofundado sobre o tênis

feminino, os professores e treinadores do país. Os tenistas precisam de

uma melhor base para competir no circuito mundial”; e complementa que,

na sua experiência pessoal, julga fundamentais os conhecimentos e

treinamentos que recebeu pelos bons técnicos pelos quais passou para,

então, tornar-se um dos melhores tenistas do mundo. Assim como os

instrumentos validados na Espanha por García (2001), o QUAFIPETAR

representa um dos poucos estudos de validação para avaliação da

formação inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento.

4.2 CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS TREINADORES DE TÊNIS

DE ALTO RENDIMENTO INVESTIGADOS

O grupo que participou do estudo foi composto por 31 treinadores de

tênis competitivo dos estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas

Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Ceará e Amazonas. A tabela

4 contempla os dados de caracterização geral dos treinadores de tênis de

alto rendimento.

63
Tabela 4: Características gerais dos treinadores de tênis de alto rendimento
(idade, estatura, peso, rankings dos melhores atletas treinados, tempo de
prática de tênis e tempo como treinador de tênis).

N x DP Mínimo Máximo

Idade (anos) 31 36,52 9,09 23 63

Estatura (cm) 28 179 6,84 1,68 1,98

Peso (kg) 30 79,70 8,47 65 110

Melhor ranking da ATP de atleta profissional que 10 709,60 557,07 26 1500


foi treinador

Melhor ranking da WTA de atleta profissional 3 202,67 110,82 128 330


que foi treinador

Ano em que o atleta atingiu o melhor ranking 10 2001 7,93 1986 2010

Tempo de prática de tênis (anos) 31 25,13 11,30 8 57

Tempo de prática (anos) como treinador de tênis 30 15,30 8,90 2 40

Onde: x representa a média e DP o desvio-padrão.

Todos os treinadores da amostra são adultos do sexo masculino e

apresentaram bastante experiência como tenistas e como treinadores de

tênis. Considerando a média de altura e peso, o índice de massa corporal

(IMC) médio calculado foi de 24,9, o que mostra que os treinadores de

tênis encontram-se na faixa de normalidade de peso para os padrões

brasileiros (ABRANTES et al; 2003).

Devido à importância dos treinadores apresentarem maturidade,

experiência e conhecimentos sobre as diversas variáveis do treinamento

desportivo, a idade com que os treinadores iniciam a carreira profissional

tem sido estudada por alguns autores (REZENDE, 2009 e IBAÑES et al;

1997). Neste estudo, o pico de distribuição da idade dos treinadores de

tênis de alto rendimento no Brasil está entre 30 e 40 anos, seguindo pelos

de 20 a 30 anos (gráfico 1). Existe apenas um escore atípico na variável

(63 anos).
64
Gráfico 1. Distribuição da idade dos treinadores de tênis de alto rendimento no
Brasil, organizadas por classes de 5 anos.

A distribuição de idade dos treinadores de tênis de alto rendimento

no Brasil mostrou-se parecida com a encontrada nos estudos de García

(2001 e 2003), onde 50% correspondiam a treinadores espanhóis de tênis

de alto rendimento entre 26 e 35 anos e 35% entre 36 e 45 anos, ou seja,

85% concentram-se entre 26 e 45 anos. Semelhantemente, os resultados

desse estudo mostraram que 77,42% dos treinadores brasileiros de tênis

de alto rendimento têm entre 20 e 40 anos, sendo 25,8% entre 20 e 30

anos, 22,58% entre 30 e 35 anos de idade e 29,03% dos treinadores entre

35 e 40 anos de idade.

A idade dos treinadores investigados está dentro de uma faixa

indicada como ideal para a intervenção profissional no treinamento

desportivo. Nos estudos de Rezende (2009) e Ibañes et al; (1997), que

tratam sobre a idade mínima para ascender à carreira de treinador, os

dados de referência são de 18 e 16 anos respectivamente. Em

contraponto, neste estudo a média de idade em que os treinadores

iniciaram suas carreiras foi de 21,17 anos ± 5,00, o que mostra o início de
65
carreira em uma idade mais tardia quando comparado aos treinadores

investigados em outros estudos, pressupondo maior maturidade e domínio

de diferentes áreas de intervenção (ISIDRO, 2009 e BERLINDER, 2000) do

que os treinadores mais novos encontrados em outros estudos (REZENDE,

2009 e IBAÑES et al, 1997). A distribuição apresentada no gráfico 1, com

grande parte dos treinadores nas faixas etárias mais jovens, pode estar

relacionada ao impacto do fenômeno causado pelo tenista Gustavo

Kuerten no Brasil entre os anos de 1997 e 2007, influenciando na tomada

de decisão dos profissionais para o mercado de treinamento de tênis. Essa

influência pode ser observada também no gráfico 2, que mostra uma

distribuição cronológica dos anos em que os treinadores iniciaram suas

carreiras no treinamento de tênis.

Gráfico 2. Distribuição cronológica dos anos em que os treinadores de tênis de


alto rendimento iniciaram suas carreiras profissionais.

Mais da metade dos treinadores de tênis de alto rendimento no

Brasil (51,7%) iniciaram suas carreiras após o ano de 1997, quando

Gustavo Kuerten despontou como campeão no Grand Slam de Roland


66
Garros, na França. O resultado demonstra a importância de um grande

ídolo na mobilização profissional de uma área esportiva, tal qual é a

percepção dos participantes I.K. e R.K. na entrevista qualitativa, onde

manifestaram a importância do sucesso do Guga e do Larri Passos ao

longo dos anos para a criação de um modelo de sucesso para o país.

Comparativamente, basta observar a mobilização nacional causada por

outros grandes ídolos como Ayrton Senna e Pelé.

Quanto ao estado civil dos treinadores de tênis de alto rendimento,

46,7% é de solteiros ou separados e 53,3% de casados. Os resultados

mostram uma evidente predominância da raça branca (91,3%) em relação

às demais (8,7% negros), bem como da religião católica (77%) diante das

outras. A predominância da etnia branca parece estar relacionada a dois

fatores: o do antecedente histórico do tênis, que chegou ao Brasil por

técnicos ingleses da Companhia Light and Power e da São Paulo Railway

no final do século XIX (BRUSTOLIN, 1995) e pelo alto custo financeiro

exigido na sua prática como atividade regular. Segundo o IBGE (2011), a

despesa de famílias com a pessoa de referência de etnia branca estava

28% acima da média nacional e 89% acima das despesas das famílias com

pessoa de referência de etnia negra.

Embora todos os 31 treinadores da amostra tenham treinado (ou

estejam treinando) atletas competitivos no Brasil, apenas 13 deles

afirmaram ter treinado atletas ranqueados na ATP (masculino) e WTA

(feminino) entre os rankings 26 e 1500 do mundo. O resultado não

determina, entretanto, a qualidade dos treinadores, visto que boa parte dos

67
bons tenistas infanto-juvenis ainda não marcou pontos nos rankings

profissionais.

Dos 29% dos treinadores patrocinados, somente 11,1% deles tem

remuneração pelo patrocínio, sendo que 77,4% de todos da amostra

trabalham somente com tênis, não exercendo nenhuma outra função

profissional. O restante dos profissionais (22,6%) manifestou trabalhar na

área comercial ou em funções relacionadas com o tênis, atuando como

empresários, professores universitários ou dirigentes de tênis.

Um importante fator de satisfação profissional é a renda média

mensal do treinador de tênis de alto rendimento (gráfico 3), e seu estudo

pode revelar o posicionamento aproximado do profissional no estrato

sócio-demográfico brasileiro (ABEP, 2011).

40,0
33,4
40
30
13,3
% dos treinadores

13,3
20
10
0
Até 3 salários 3 a 6 SM 7 a 10 SM Mais de 10 SM
mínimos (SM)

Salários Mínimos (SM)

Gráfico 3. Distribuição de renda pessoal mensal obtida como treinador de tênis no


Brasil.

A maioria dos treinadores de tênis recebe de 3 a 10 salários

mínimos (S.M.) (73,4%), ou seja, recebem entre R$1.635,00 e R$5.540,00

(valores de 23/03/2011) como treinadores de tênis, enquanto que 13,3%

dos profissionais recebem ainda mais. A média da remuneração mensal

68
dos treinadores de tênis apresentou-se consideravelmente maior que a

média do rendimento mensal dos brasileiros ocupados que, segundo os

estudos do IBGE (2011) é de pouco mais de um salário mínimo, com

variações regionais entre R$631,20 no sudeste e de R$314,70 no nordeste.

Em um resultado complementar, a renda familiar do treinador mantém-se

conforme mostra o gráfico 4 a seguir.

35,7 39,3
% dos treinadores

40
17,9
20 7,1

0
Até 3 salários 3 a 6 SM 7 a 10 SM Mais de 10 SM
mínimos (SM)

Salários Mínimos (SM)

Gráfico 4. Distribuição de renda familiar dos treinadores de tênis no Brasil.

O gráfico da renda familiar dos treinadores apontou que a maior

parte das famílias (75%) apresentou rendas elevadas. Destes 75%, quase

metade recebe valores de 7 a 10 salários mínimos (35,7%) e outra metade

acima dos 10 salários mínimos (39,3%). Considerando a renda média

mensal das famílias brasileiras divulgada pela ABEP (2011), as famílias

dos treinadores de tênis de alto rendimento recebem o equivalente às

classes acima de B2 (figura 4).

69
Figura 4: Relação entre renda mensal familiar em reais e estratos sociais no Brasil
(ABEP, 2011)2.

Comparando com os estudos estatísticos do IBGE (2011), onde os

resultados revelam que a média de rendimento mensal da família brasileira

é de R$ 1.789,66, a renda familiar média da maioria dos treinadores de

tênis de alto rendimento no Brasil é, no mínimo, a partir de duas vezes o

valor da média nacional. Esta renda possibilita que o treinador trabalhe

com maior tranqüilidade para melhorar a qualidade da sua atuação

profissional sem ter que buscar novas oportunidades de emprego.

O nível de jogo dos treinadores de tênis, com base nos critérios da

CBT, é um elemento muito valorizado nas suas carreiras e é importante

para formar o treinador quanto à sua condição de professor. Muita

importância tem sido atribuída à habilidade do treinador na prática do

esporte em que intervém (ISIDRO, 2009 e BERLINDER, 2000); essa

experiência prévia na modalidade é considerada um importante fator da

formação de treinadores (ex: participante I.K., quadro 3). O perfil do nível

2
Alguns estudos classificam a população em A, B, C, D e E, de acordo com fatores de renda, itens de conforto
no lar, posses e estudos, entre outros. A figura 4 apresenta as classes sociais classificadas pelo fator “renda
familiar”, elaborado pela ABEP (2011).

70
de jogo dos treinadores de tênis de alto rendimento pode ser observado no

gráfico 5, que discrimina a distribuição dos treinadores conforme a classe a

que pertencem, de acordo com a classificação na CBT: da primeira classe

(para o melhor nível de jogo) até a sexta classe (iniciante).

64,5
% dos treinadores

80
60
40
12,9 3,2 9,7 9,7
20
0
Profissional Primeira Segunda Terceira Nenhuma
(pontos na classe classe classe
ATP ou WTA)

Nível de jogo

Gráfico 5. Nível de jogo dos treinadores de tênis investigados de acordo com a


classificação na Confederação Brasileira de Tênis3.

Nos resultados encontrados com relação à qualidade técnica na

prática de jogo do treinador, observou-se que a maior parte dos treinadores

de alto rendimento (77,4%) jogou torneios nos mais altos níveis federativos

do país e, ainda, 12,9% tiveram experiência na segunda e terceira classe,

que representa um bom nível de experiência prática para o treinador.

Resultado semelhante foi encontrado no estudo de García (2001), que

apresentou 70% dos treinadores espanhóis nos mais altos níveis de jogo.

Porém, houve uma inversão na quantidade de treinadores com experiência

3
A classificação da Confederação Brasileira de Tênis para ordenar a qualidade técnica dos tenistas em torneios
por classes parte da sexta (iniciantes) para a primeira classe (para os tenistas mais qualificados). Naturalmente,
tenistas com pontuação nos rankings da ATP ou WTA possuem qualidade de jogo aprimorada igual ou mais que
atletas da primeira classe.

71
de jogo na categoria profissional, onde no estudo de García (2001) 65%

deles jogaram no profissional contra 12,9% dos treinadores brasileiros; por

outro lado, 64,5% destes manifestaram jogar na primeira classe, enquanto

que somente 5% dos treinadores espanhóis mostraram jogar nesse nível.

O perfil geral do nível de jogo dos treinadores aponta para uma ampla

experiência com a prática dos fundamentos técnicos e táticos do jogo, o

que vai ao encontro do estudo de Bloom, Salmela e Schinke (1995), que

revelou que a experiência do treinador com a prática do esporte é um dos

critérios elencados por atletas para qualificar um treinador. O resultado

também concorda com os resultados de Isidro (2009), Berlinder (2000),

Lyle (2002), Salmela (1996) e Schinke et al; (1995), quando revelaram que

ter bastante conhecimento sobre o esporte por ter sido ex-atleta parece ser

um fator determinante para entrar na carreira de treinador e contribui para

se alcançar o sucesso profissional. Em contraponto à importância do nível

de jogo, observa-se o comentário do participante R.K.: “O próprio Larri

(Passos) não foi um grande jogador, mas teve uma boa experiência de

quadra.” (quadro 3). O estudo de Resende et al; (2009) também encontrou

resultados que contrapõe a importância da necessidade de alto nível de

jogo dos treinadores. Pesquisando sobre a avaliação dos treinadores sobre

a formação dos treinadores em Portugal, observaram que ter sido ex-atleta

não foi considerado um fator fundamental na decisão do treinador buscar

formação.

A percepção dos treinadores investigados sobre nível de jogo que

deveriam apresentar os bons treinadores de tênis de alto rendimento

72
encontra-se discriminada no quadro-resumo a seguir, que identifica e

destaca os micro discursos dos participantes I.K, R.N.S e R.K. (quadro 3).

Quadro 3. Percepção dos treinadores investigados sobre nível de jogo que


deveriam apresentar os bons treinadores de tênis de alto rendimento.

Nível de jogo que deveriam apresentar os bons treinadores de tênis de alto


rendimento

Os treinadores de tênis de alto rendimento precisam ter passado pela experiência de


todas as etapas de ensino (I.K).

Os treinadores de tênis de alto rendimento precisam ter experiência no circuito


profissional de tênis (3).

Os treinadores de tênis de alto rendimento precisam ter experiência em viagens (3).


O nível de jogo depende; o que precisa é ter uma boa experiência de quadra (R.K).

Os comentários dos participantes na entrevista qualitativa sobre o

nível de jogo que deveriam apresentar os bons treinadores de tênis de alto

rendimento mostraram que, embora o nível de jogo seja um elemento

bastante valorizado entre os treinadores, o conhecimento do circuito

profissional de tênis e a experiência vivenciada nele são variáveis muito

importantes na percepção de qualidade de um treinador de tênis de alto

rendimento.

4.3 DESCRIÇÃO DO PERFIL DA FORMAÇÃO INICIAL DOS

TREINADORES DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO

Devido ao significativo aumento de importância que o esporte vem

adquirindo na sociedade atual, a formação de treinadores desportivos tem

sido recentemente alvo crescente de pesquisas (ABRAHAM e COLLINS,

73
1998; CASSIDY, JONES e POTRAC, 2004; CÔTÉ, 1998; GILBERT, 2002).

A importância da formação inicial dos treinadores de tênis de alto

rendimento, seja ela pelas vias de aprendizagem informal, não-formal ou

formal (NELSON et al; 2006), torna fundamental a análise de resultados em

estudos como este. O primeiro importante resultado a ser observado é o

perfil da formação dos treinadores de tênis em cursos de graduação em

Educação Física, considerando que este curso é o que corresponde à

regulamentada intervenção do profissional no treinamento desportivo

brasileiro e àquele que aborda cientificamente os aspectos relacionados

com as Ciências do Esporte.

Apenas uma pequena parte dos treinadores de tênis de alto

rendimento (34,5%) apresentou formação no curso de Educação Física

(tabela 5).

Tabela 5: Graduação dos treinadores de tênis de alto rendimento em


cursos de Educação Física/Ciências do Esporte.

%
Graduação N %
acumulado
Mestrado 1 3,4 3,4
Especialização 2 6,9 10,3
Licenciatura 1 3,2 13,8
Bacharelado 4 13,8 27,6
Licenciatura e Bacharelado 2 6,9 34,5
Nenhum dos anteriores 19 65,5 -
O % acumulado soma os percentuais aferidos, respectivamente, dos itens de cima para baixo.

Um dos resultados mais relevantes refere-se ao alto percentual de

treinadores de tênis de alto rendimento categorizados como provisionados

(65,5%), visto que os treinadores têm optado por realizarem suas

formações iniciais predominantemente pelas vias informais e não formais

(NELSON et al; 2006). Consequentemente, muito poucos treinadores

74
apresentaram formação em pós-graduação em Ciências do Esporte

(10,3%), sendo o mestrado a maior graduação encontrada entre os

treinadores, com o mínimo de 3,4% dos profissionais. O baixo percentual

de treinadores com graduação na área da Educação Física e Esportes

(34,5%) preocupa pela baixa oportunidade de vivências científicas na área

das ciências do esporte, considerando esta uma ampla área de

conhecimentos que engloba, inclusive, o tênis. Desta forma, o resultado

evidencia que boa parte dos conhecimentos dos treinadores brasileiros

provém da experiência como jogador, conforme reforçam os participantes

I.K, R.N.S e R.K (quadro 3). Na pesquisa de doutorado de García (2001),

os resultados confirmaram a mesma tendência: dos 20 treinadores

espanhóis de alto rendimento analisados, nenhum possuía graduação em

Educação Física, possivelmente pelo fato de estarem envolvidos com o

tênis desde muito precoce e ainda seguindo por muito tempo a carreira de

tenista profissional. Segundo García (2001), a falta de tempo, fruto da

carreira de tenista profissional, parece que torna praticamente impossível

que os atletas dediquem tempo aos estudos. Esse resultado encontra a

crítica do estudo de Cassidy et al; (2009), que verificou que boa parte da

maestria profissional provém da aquisição de competências num período

de formação educativa. Igualmente, Moreira apud Isidro (2009) indica que

os treinadores que possuem uma formação superior em Educação Física

apresentam uma noção mais aproximada das exigências de conhecimento

teórico que não se adquire apenas da experiência da prática, ou nos cursos

de aprendizagem formal iniciais. Esta visão ampliada nas ciências do

esporte ganha suporte na declaração de Gustavo Kuerten, que considera

que bom treinador é aquele que “[...] tem a visão do todo e domina ao

máximo todas as áreas do treinamento desportivo (fundamentalmente do


75
tênis), conhecendo, utilizando, coordenando e participando de todos os

tipos de treinamento para a performance ideal. [...] o “main coach” (posição

naturalmente assumida pelo técnico) deve, para isso, ter pleno

conhecimento das ciências do esporte. Três fatores são fundamentais na

bagagem de um bom técnico de tênis de alto rendimento: nível de

formação acadêmica e especializada, experiência e sistematização

(planejamento e avaliação) do treinamento.”. Embora 65,5% dos

treinadores sejam representados por provisionados, parecem atribuir valor

às aprendizagens formais (NELSON et al; 2006) nas Ciências do Esporte;

os participantes demonstraram nos seus relatos o desejo em poder formar-

se em Educação Física (ex.: I.K. e R.N.S, quadro 4).

Quadro 4. Percepção dos treinadores sobre a formação inicial ideal para os


treinadores de tênis de alto rendimento.

Formação inicial ideal para os treinadores de tênis de alto rendimento

O treinador deve aliar a prática à teoria (I.K).

O ensino à distância é uma boa opção para a formação dos treinadores de tênis de alto
rendimento (I.K; R.N.S).

O treinador deve fazer estágios em atividades de mentoring (3).

O treinador deve ter graduação máxima na CBT e outras formações específicas das
áreas em que queiram ministrar atividades (I.K).

O treinador deve ter passado pela experiência de todas as etapas de ensino do tênis e
apresentar experiência no circuito profissional de tênis (I.K).

As aprendizagens informais por meio das atividades de mentoring são consideradas


importantes (3).

O treinador deve aprender por autodidatismo (R.N.S).

O treinador deve realizar cursos da CBT (3).

O treinador deve ter formação acadêmica em Educação Física (I.K; R.N.S).

Faria o curso de graduação em Educação Física se fosse disponibilizado (I.K; R.N.S).

76
As sugestões encontradas sobre a importância da internet e as

sugestões para implementação de cursos de Educação Física à distância

para os treinadores de alto rendimento foram uma constante no estudo

qualitativo, justificada pelo excesso de viagens inerentes da profissão,

conforme pode ser exemplificado no depoimento do sujeito R.N.S: “Seria

muito interessante que fossem oferecidos cursos de nível superior em

Educação Física na forma de ensino à distância; acredito que muitos

treinadores, assim como eu, fariam o curso [...] mas a carreira de técnico

de atletas de alto rendimento me impossibilitava de frequentar aulas em

razão das constantes viagens.”.

Estes resultados conferem com o estudo de Vargas-Tonsing (2007),

que objetivou explorar as preferências de 366 jovens treinadores sobre o

processo de formação, o interesse a certos tópicos de aprendizado, razões

e/ou barreiras para o processo de educação como técnico. Neste, os

resultados mostraram que os técnicos valorizaram a disponibilidade da

internet como meio de formação. Concorda também com os resultados de

Wright et al; (2007) que, em um estudo relacionado às fontes de

conhecimento utilizadas pelos treinadores, trinta e cinco jovens treinadores

da modalidade de hóquei no gelo da província de Ontário, Canadá,

revelaram a importância da internet como uma das situações que

revelaram contribuir para a melhoria da sua aprendizagem.

Considerando a importância da formação dos treinadores no curso

de Educação Física (CASSIDY et al; 2009 e ISIDRO, 2009), que os

forneceria uma noção mais aproximada das exigências de conhecimento

teórico que não se adquire apenas da experiência da prática, os resultados

77
referentes ao perfil de formação inicial dos treinadores pela aprendizagem

formal em cursos superiores não-relacionados com as Ciências do Esporte

tornam-se importantes (tabela 6).

Tabela 6: Descrição das características de formação inicial dos treinadores


de tênis de alto rendimento em áreas diferentes da graduação em
Educação Física.

%
Graduação N %
acumulado
Especialização 1 3,3 3,3
Bacharelado 3 10,0 13,3
Licenciatura e Bacharelado 8 26,7 40,1
Ensino Médio 7 23,3 -
Nenhum dos anteriores 11 36,7 -

Nota.: Os resultados deste estudo apontam formação dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil em
cursos de Economia, Administração em Comércio Exterior, Odontologia e Bacharelado em Direito.

Uma parcela significativa de treinadores de tênis de alto rendimento

formou-se em áreas não relacionadas com as Ciências do Esporte (40,1%),

o que contrapõe a expectativa de estudos realizados por Isidro (2009),

Cassidy et al; (2009), Resende et al (2009) e Wright et al; (2007), quando

ressaltam a importância de formação em área afim ao conhecimento

necessário para intervenção no esporte. Os resultados apontam formação

dos treinadores em cursos de Economia, Administração em Comércio

Exterior, Odontologia e Bacharelado em Direito. A importância da

especialização para a qualidade de intervenção profissional preconizada

pelo estudo de Isidro (2009) levanta a importância de debate para os dados

encontrados nesta pesquisa. O resultado mostra que somente cerca de um

em cada 3 treinadores são profissionais em Educação Física (34,5%),

enquanto que dois terços restantes (65,5%) são de áreas diferentes

daquelas em que se pressupõe a intervenção do treinador de tênis. Os


78
resultados parecem justificar o intenso corporativismo e preconceito

observado empiricamente no tênis brasileiro entre os treinadores

provisionados e os formados em Educação Física. Em um estudo sobre as

condições de acesso à formação de treinadores em Portugal, Isidro (2009)

ratifica esta questão quando manifestou dados em que os treinadores com

outras formações que não em Educação Física consideraram mais

importante a obtenção de uma formação acadêmica qualquer para

acessarem a condição de treinadores, enquanto que os com formação

superior em Educação Física enalteceram a importância de se obter

formação específica em Educação Física para exercer a função de

treinador.

Resultados diferentes foram encontrados no estudo de García

(2001), onde nenhum treinador espanhol apresentou formação em nível

superior, mesmo que fosse em áreas distintas da Educação Física. Neste

estudo, 20% deles tinham formação inicial formal no 1 grau completo, 25%

no B.U.P e 55% no C.O.U.4. Como conseqüência da formação inicial

apresentada pelos treinadores espanhóis, nenhum deles participou de

disciplinas de tênis em Instituições de Ensino Superior, no curso de

Educação Física/Ciências do Esporte, enquanto que 29% dos treinadores

de tênis de alto rendimento no Brasil já o fizeram.

A adesão de treinadores em sistemas de formação tem sido

estudada em vários países, com Alemanha, Estados Unidos e Espanha

4
C.O.U. é o último ano antes da faculdade, depois de cursar B.U.P., que corresponde a "Instruções Superiores"
(que na Espanha corresponde a 3 anos: início com 14-15 anos de idade e término por volta de 17 a 18 anos). No
final do C.O.U. o aluno recebe um título de Bacharel. Teoricamente, é uma orientação para a Universidade; na
prática, é mais um ano de ensino médio em que são dados os conteúdos referentes à prova seletiva das
universidades. No entanto, esse modelo mudou nos últimos anos para adaptar ao modelo europeu, que tem o
ensino obrigatório até os 16 anos (CHUSI, 2011).

79
através de estudos como o de Nordmann e Sandner (2009), Crespo (2006),

García (2001) e Siedentop e Eldar (1989). Neste estudo, pode-se verificar

que grande parte dos treinadores de tênis vinculou-se ao sistema de

graduação oficial da Confederação Brasileira de Tênis (tabela 7), a fim de

certificarem-se no Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP) da

CBT.

Tabela 7: Características de certificação dos treinadores de tênis de alto


rendimento pelo Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP) da
CBT

%
Graduação N %
acumulado
Instrutor 1 3,2 3,2
Treinador 6 19,4 22,6
Treinador Nacional 3 9,7 32,3
Técnico Nacional 4 12,9 45,2
Técnico Master 4 12,9 58,1
Não graduado 9 29,0 -
Outro 4 12,9 -

Onde: Instrutor representa a menor graduação do sistema e Técnico Master representa a maior.

A alta adesão dos treinadores investigados ao Sistema Nacional de

Graduação Profissional (SNGP) da CBT (58,1%) contrapõe-se com os

dados encontrados nos registros da CBT, onde somente 88 professores do

Brasil inteiro graduaram-se no SNGP até o segundo mês de 2011 (CBT,

2010), em um universo estimado em cerca de sete mil professores de tênis

(KIST, 2011). O resultado causa estranhamento pelo fato de os treinadores

investigados corresponderem a 20,45% de todos os professores do Brasil

registrados no sistema. O resultado nos remete a duas possibilidades: a)

Grande parcela dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil aderiu

80
ao sistema SNGP da CBT; ou b) Grande parte dos treinadores de tênis de

alto rendimento no Brasil desconhecem o sistema oficial adotado pela

Confederação. Empiricamente, observa-se que grande parte dos

treinadores pode estar equivocando-se quanto à aderência no SNGP ao

considerar que, automaticamente, pertence ao SNGP se cursar qualquer

um dos módulos de formação da CBT (módulos A, B, C, D, E e F).

Considerando esta hipótese verdadeira, então parece que a CBT não está

conseguindo fazer chegar aos treinadores de tênis a proposta oficial do

Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP) da Confederação.

A expressiva quantidade de treinadores com certificação no SNGP

(58,1%) vai ao encontro da avaliação dos treinadores de voleibol da

Espanha que, no estudo de Resende (2009) 40,3% afirmam que a

formação deveria ser efetivada somente pelo sistema desportivo

(confederação ou federações), recebendo, o treinador, uma certificação

oficial pela via federativa. O participante R.N.S confirma no seu depoimento

os resultados do estudo de Resende (2009), enquanto que os participantes

I.K e R.K atribuem à CBT e às Instituições de Ensino Superior em conjunto

as certificações aos treinadores de tênis no Brasil (quadro 5).

Quadro 5. Percepção dos treinadores sobre instituições responsáveis pela


formação legal do treinador de tênis no Brasil.

Instituições que deveriam ser responsáveis pela formação legal do


treinador de tênis no Brasil

A CBT deveria ser a instituição responsável pela formação legal do treinador de tênis no
Brasil (R.N.S).

A CBT e as instituições de ensino superior (em conjunto) deveriam ser as responsáveis


pela formação legal do treinador de tênis no Brasil (I.K; R.K).

81
O nível de participação dos treinadores de tênis de alto rendimento

em disciplinas de tênis ou disciplinas com conteúdos de tênis em uma

Instituição de Ensino Superior pode gerar informações importantes sobre o

grau de participação das universidades na formação dos treinadores de

tênis de alto rendimento no Brasil (tabela 8).

Tabela 8. Participação dos treinadores em disciplinas de tênis ou


disciplinas com conteúdos de tênis em Instituição de Ensino Superior em
Ciências do Esporte/Educação Física.

Frequência Percentual Percentual


Participação
(n) (%) Cumulativo (%)
Cursou disciplinas com conteúdos de tênis na
graduação 3 9,7 9,7

Cursou a disciplina de tênis na graduação 5 16,1 25,8

Cursou a disciplina de tênis na especialização 1 3,2 29,0

Não cursou 22 71,0


TOTAL 31 100,0

Os resultados apontam que a grande maioria dos treinadores (71%)

nunca frequentou disciplinas de tênis em Educação Física, ou mesmo

disciplinas com conteúdos de tênis. O resultado evidencia o baixo contato

dos treinadores de tênis de alto rendimento com os conteúdos científicos

ministrados na universidade, onde somente um em cada três treinadores

passou por essa experiência. García (2001), entretanto, encontrou que

nenhum dos 20 treinadores espanhóis de alto rendimento participou de

disciplinas de tênis em Instituições de Ensino Superior, no curso de

Educação Física/Ciências, enquanto que 29% dos treinadores de tênis de

alto rendimento no Brasil já participaram.


82
A baixa participação de treinadores de tênis de alto rendimento em

disciplinas que tratem sobre tênis fundamenta-se basicamente pelo alto

percentual de treinadores provisionados em tênis (65,5%) que, por não

terem acessado o ensino superior em Educação Física, restringem sua

participação nessas disciplinas. Por outro lado, dos 10 treinadores

formados em Educação Física, nove manifestaram ter participado de

disciplinas de tênis ou de disciplinas com conteúdos de tênis em sua

ementa. Este resultado demonstra o grau de participação da universidade

na formação inicial do treinador de tênis formado em Educação Física, que

se utiliza desta oportunidade como meio para formar-se como treinador. O

resultado implica também na observação de que as universidades estão

disponibilizando as disciplinas nos seus currículos, para que fomentem o

contato dos acadêmicos com os conhecimentos científicos do tênis. A

preocupação pertinente à baixa participação geral dos treinadores

brasileiros de alto rendimento (71%) em disciplinas com conteúdos de tênis

foi encontrada também do estudo de Isidro (2009), que indica que os

treinadores que possuem uma formação superior em Educação Física

apresentam uma noção mais aproximada das exigências de conhecimento

teórico que não se adquire apenas da experiência da prática. Entretanto, a

aproximação da maioria desses treinadores com os conteúdos científicos

relacionados ao tênis pode provir de aprendizagem não-formal (NELSON et

at, 2006) através de cursos, seminários e eventos diversos. Nestas

atividades de formação, 27,8% dos treinadores avaliaram que são

escassas as atividades com rigor científico ou que é escassa a adaptação

83
das atividades de índole científica às necessidades e nível de

compreensão dos treinadores.

A importância da opinião dos treinadores investigados sobre as

características ideais dos programas de formação em tênis promovidos

pelas Instituições de Ensino Superior em Educação Física (tabela 9) é

justificada pela necessidade de produção de um conhecimento científico

que dê suporte para uma ampla discussão dos técnicos e dirigentes do

tênis nacional afim de propor uma retificação ou ratificação do modelo

atualmente adotado no ensino superior para os programas relativos à

modalidade de tênis.

Tabela 9. Avaliação dos treinadores investigados sobre as características


ideais dos programas de formação em tênis das Instituições de Ensino
Superior em Educação Física/Ciências do Esporte no Brasil.
%

Opinião
Afirmações Discordo Concordo
Discordo intermediária Concordo
totalmente totalmente
(25%) /moderada (75%)
(0%) (100%)
(50%)

“O curso deveria ter algumas 3,7 0 25,9 40,7 29,6


disciplinas optativas.”

“É adequado que os alunos possam


especializar-se, optar em sua titulação
de tênis por diferentes áreas (tênis 0 4,2 20,8 45,8 29,2
recreativo, gestão do tênis, tênis para
pessoas com deficiência, tênis de alto
rendimento...).”

“É necessária a criação de uma pós-


graduação em “tênis de alto
rendimento”, centrando os cursos de
8,3 4,2 16,7 41,7 29,2
formação em todas as áreas além do
tênis de alta competição.”

“É adequado que as disciplinas sejam


mais longas e que se tenha menor
8,3 12,5 25,0 37,5 16,7
número delas.”

"É adequado que as disciplinas sejam 0 14,3 0 57,1 28,6


mais longas.”

Obs.: Graus de concordância com as características desejáveis conforme escala likert de 5 pontos
onde: 1 (Discordo totalmente – 0%); 2 (Discordo – 25%); 3 (Opinião intermediária/moderada – 50%),
4 (Concordo – 75%); e 5 (Concordo totalmente – 100%). Portanto, a escala pode variar de 1 a 5.

84
Observou-se que a maioria dos treinadores concorda ou concorda

totalmente (70,3%) que as universidades deveriam propiciar a disciplina

optativa de tênis na sua grade curricular; na avaliação dos treinadores de

alto rendimento, as disciplinas deveriam longas (85,7%). Segundo grande

parte dos treinadores, é necessária a criação de uma pós-graduação em

“tênis de alto rendimento”, centrando os cursos de formação em todas as

áreas que não sejam o tênis de alta competição (70,9%). Esses resultados

concordam com os encontrados nos estudos de García (2001 e 2003), em

que os treinadores espanhóis de alto rendimento atribuíram muita

importância às disciplinas optativas e à criação de um mestrado em “tênis

de alto rendimento”, opções que não existem naquele país. O resultado

demonstra quanto os treinadores espanhóis valorizam o papel das ciências

do esporte na qualificação do treinamento de tenistas de alto rendimento,

independente de nenhum deles ter a graduação em educação Física;

observação semelhante pode ser realizada com os resultados encontrados

neste estudo. Os treinadores de tênis de alto rendimento do Brasil

atribuíram muita importância à possibilidade de especialização do treinador

por diferentes áreas do tênis (tênis recreativo, gestão do tênis, tênis para

pessoas com deficiência, tênis de alto rendimento, entre outros) (75%),

assim com o encontrado no estudo de García (2003) sobre a percepção de

treinadores espanhóis de tênis de alto rendimento na concepção das novas

qualificações dos técnicos de tênis propostas para a Espanha.

A sugestão de certificação mínima dos professores na CBT, para

que estejam aptos a ministrarem aulas no processo de formação inicial de

treinadores de tênis, permite a análise da percepção dos treinadores de

85
tênis de alto rendimento do Brasil sobre a qualificação mínima necessária

através do Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP) ao

professor para que possa contribuir com qualidade na formação inicial dos

treinadores de tênis no Brasil (gráfico 6).


% dos treinadores

34,6
40
19,2 19,2
11,5 15,4
20

0
Instrutor Treinador Treinador Técnico Técnico
Nacional Nacional Master

Titulação mínima do professor responsável pelas disciplinas de tênis do curso de treinadores de tênis

Gráfico 6. Percepção dos treinadores investigados sobre a qualificação mínima


necessária no SNGP5 para que o professor possa contribuir com qualidade na
formação inicial dos treinadores de tênis no Brasil.

Na distribuição da qualificação mínima necessária no SNGP dos

professores responsáveis pelas disciplinas de tênis ficou ressaltada,

especialmente, a graduação de Técnico Nacional, com 34,6% das

indicações. Pelo menos metade dos treinadores considera que os

professores deveriam ter as maiores certificações no SNGP para contribuir

na formação dos treinadores de alto rendimento no Brasil, assim como

concordaram os comentários de I.K e R.N.S (quadro 6). Os treinadores

espanhóis, no entanto, manifestaram em sua maioria (95%) que os

treinadores deveriam ter as maiores certificações na Real Federación

Española de Tenis (RFET) para ascenderem à condição de professor na

5
O Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP) da CBT classifica os treinadores ascendentemente em:
Instrutor, Treinador, Treinador Nacional, Técnico Nacional e Técnico Master.

86
formação inicial dos treinadores de tênis (GARCÍA, 2001). O resultado do

estudo espanhol ressalta a confiança que os treinadores de alto rendimento

daquele país atribuem ao seu órgão máximo do tênis, especialmente no

aspecto da formação de treinadores.

Além da alta certificação exigida para os professores, os treinadores

participantes avaliaram que os professores deveriam ser bons

comunicadores para poderem passar os conhecimentos que têm, ter

formação específica nas áreas em que ministrarão aulas e serem

profissionais de referência, de reconhecida competência (“O profissional de

referência deve ser um símbolo de sucesso” (R.K)). Segundo o

participante, alguns treinadores de tênis de reconhecida competência são

capazes de sedimentar certos conhecimentos.

Quadro 6. Percepção dos treinadores sobre as características que


deveriam apresentar os professores das disciplinas de tênis nas
instituições.

Características que deveriam apresentar os professores das disciplinas de


tênis nas instituições

Os professores devem ser bons comunicadores (I.K).

Os professores devem ter a graduação máxima na CBT (I.K; R.N.S).

Os professores devem ter formação específica nas áreas em que ministrarão as aulas
(I.K; R.K).

Os professores devem ser ex-tenistas (R.K).

Os professores devem ser profissionais de referência, de reconhecida competência


(R.K).

87
O mesmo questionamento foi realizado quanto aos requisitos

mínimos do professor, porém sobre a graduação pelas Instituições de

Ensino Superior em Educação Física/ Ciências do Esporte (gráfico 7).

51,9
60
% dos treinadores

50
40
30 18,5
11,1 11,1
20
3,7 3,7
10
0
Doutor em Mestre em CE Especialista Graduado em Provisionado Nenhum
Ciências do em CE CE em áreas da requisito
Esporte (CE) Educação acadêmico
Física

Titulação mínima do professor responsável pelas disciplinas de tênis do curso de treinadores de tênis

Gráfico 7. Titulação necessária do professor responsável pelas disciplinas de


tênis do curso de treinadores de tênis, relacionada com as Ciências do Esporte.

Mais da metade das indicações sobre a titulação mínima necessária

na Educação Física do professor responsável pelas disciplinas de tênis

apontou o profissional provisionado em tênis (51,9%). Na Espanha, dentro

da diversidade de opinião mostrada sobre esta questão, a maioria deles

(60%) acredita que o professor deve ter, pelo menos, graduação, mestrado

ou doutorado em Educação Física ou Ciências do Esporte (GARCÍA,

2001).

Verificando a correlação (Spearman) entre a formação inicial dos

treinadores na Educação Física/Ciências do Esporte e a opinião sobre os

requisitos de graduação para qualquer professor de disciplinas de tênis na

formação inicial de treinadores, observou-se uma correlação positiva de

88
moderada a forte (DANCEY e REIDY, 2006), com ρ=0,665 (p<0,01). O

resultado demonstra tendência à identificação das características do

professor das disciplinas de tênis conforme as próprias características

formativas de cada treinador, o que demonstra uma espécie de

corporativismo, tanto por parte do provisionado em tênis como pelo

profissional em Educação Física. Este resultado vai ao encontro do estudo

de Isidro (2009) sobre as condições de acesso à formação de treinadores

em Portugal, que divulgou dados em que os treinadores com outras

formações que não em Educação Física consideraram mais importante a

obtenção de uma formação acadêmica qualquer para acessarem a

condição de treinadores, enquanto que os com formação superior em

Educação Física enalteceram a importância de se obter formação

específica em Educação Física para exercer a função de treinador.

Quanto ao nível de jogo exigido do professor responsável pela

formação inicial de treinadores de tênis, a maior parte dos treinadores de

tênis investigados consideram a importância do professor ter treinado ou

jogado (81%), mesmo que não seja no mais alto nível (tabela 10).

89
Tabela 10. Avaliação dos treinadores sobre os níveis de jogo que um
professor responsável pela formação inicial de treinadores de tênis deve ter
jogado e/ou treinado alguém.
1. ALTO RENDIMENTO Frequência Percentual (%)
Ter treinado 6 25,0
Ter Jogado 3 12,5
Precisa ter treinado e jogado 4 16,7
Não precisa ter treinado nem jogado 11 45,8
2. COMPETIÇÃO REGIONAL Frequência Percentual (%)
Ter treinado 6 24,0
Ter Jogado 7 28,0
Precisa ter treinado e jogado 7 28,0
Não precisa ter treinado nem jogado 5 20,0
3. APERFEIÇOAMENTO Frequência Percentual (%)
Ter treinado 6 25,0
Ter Jogado 4 16,7
Precisa ter treinado e jogado 5 20,8
Não precisa ter treinado nem jogado 9 37,5
4. INICIAÇÃO Frequência Percentual (%)
Ter treinado 6 25,0
Ter Jogado 6 25,0
Precisa ter treinado e jogado 1 4,2
Não precisa ter treinado nem jogado 11 45,8
5. PRÉ-TÊNIS Frequência Percentual (%)
Ter treinado 7 29,2
Ter Jogado 3 12,5
Precisa ter treinado e jogado 1 4,2
Não precisa ter treinado nem jogado 13 54,2
6. NÃO É NECESSÁRIO Frequência Percentual (%)
Ter treinado 2 9,5
Ter Jogado 2 9,5
Precisa ter treinado e jogado 17 81,0

Os resultados deste estudo mostraram que boa parte dos


treinadores brasileiros de alto rendimento entende que o professor precisa,
pelo menos, ter jogado e treinado algum atleta de nível de aperfeiçoamento
(62,5%) ou de competições regionais (80%). No entanto, 45,8% acreditam
que não é necessário que professor responsável pela formação inicial de
treinadores de tênis tenha jogado ou treinado algum tenista de alto

90
rendimento. Em contraste com os resultados encontrados acima, observa-
se os do estudo de García (2001), onde os treinadores espanhóis
consideraram que é importante que o professor tenha treinado algum atleta
de aperfeiçoamento (50%) ou alcançado níveis de jogo nessa qualidade
(20%) e, por outro lado, 75% apontando necessidade de nível de jogo de
alto rendimento e 45% na experiência de treinamento de algum atleta
nesse nível.
A percepção de que os professores responsáveis pela formação
inicial de treinadores de tênis não precisam ter jogado, nem treinado algum
atleta (com 45,8% das intenções) no nível de jogo de alto rendimento abre
uma reflexão de que as experiências vividas com o tênis de alto nível
podem provir com qualidade através de outras atividades, além daquelas
realizadas dentro da quadra, seja jogando ou treinando alguém.
Considerando que somente 19,2% dos treinadores investigados atingiram
os níveis mais altos de competição no tênis, então o resultado pode
também estar vinculado à autopercepção dos treinadores sobre as suas
próprias competências para assumir as funções como professores da
formação inicial de treinadores. Desta forma, o resultado encontrado
espelha, para estes professores, suas próprias experiências e
competências adquiridas.
Tendo em vista que a minoria dos treinadores investigados (19%)
considera que não há necessidade que o professor responsável pela
formação inicial de treinadores de tênis tenha treinado algum atleta ou
mesmo jogado tênis, observa-se a importância que os treinadores dão à
experiência na modalidade considerando, inclusive, que o professor seja
um ex-tenista, conforme cita o participante R.K: “Muitas vezes a gente não
pode perder um ex-tenista; ele é um profissional que pode trazer uma
grande experiência, mesmo que ele não tenha o curso de Educação
Física.” (quadro 6). Contrastando com o estudo de García (2001), todos os
treinadores espanhóis consideraram que era necessário que o professor
91
tivesse pelo menos a experiência de jogar ou treinar algum atleta em
qualquer nível de tênis.

4.4 DESCRIÇÃO DO PERFIL DA FORMAÇÃO PERMANENTE DOS


TREINADORES DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO

A importância da formação permanente dos treinadores de tênis de


alto rendimento, seja ela pelas vias de aprendizagem informal, não-formal
ou formal (NELSON et al; 2006) reside no fenômeno de busca do treinador
pelo aprimoramento na área em que atua. O foco dos resultados da
pesquisa neste tópico visa descrever os meios pelos quais os treinadores
de tênis de alto rendimento do Brasil buscam capacitar-se após a
assumirem a condição de treinadores pelo processo de formação inicial já
realizada, avaliar as oportunidades de formação permanente
disponibilizadas e sugerir novas situações de capacitação.
A qualidade das atividades de formação permanente ofertada aos
treinadores de tênis de alto rendimento é um fator bastante importante na
construção de um panorama favorável à participação dos treinadores de
tênis nessas atividades, de forma que sua avaliação se torna relevante
(tabela 11).

Tabela 11. Avaliação dos treinadores sobre a qualidade das atividades de


formação permanente ofertadas atualmente aos treinadores de tênis de
alto rendimento.
Frequência
Avaliação Percentual (%)
(n)
Pode melhorar muito 2 7,7
Pode melhorar 7 26,9
Qualidade normal 7 26,9
Boa qualidade 10 38,5
TOTAL 26 100,0

92
Quanto ao processo de formação permanente dos treinadores, em

especial pelos caracterizados pela aprendizagem não-formal de Nelson et

al. (2006) (participação em cursos, congressos, palestras, entre outros),

cerca de dois terços dos treinadores investigados aprova a qualidade das

atividades de formação permanente oferecidas (65,4%), enquanto que um

terço dos treinadores avaliam que ainda tem que melhorar. Os treinadores

de tênis brasileiros parecem não ser tão críticos quanto os treinadores

espanhóis de alto rendimento, pois 75% deles avaliaram que as atividades

de formação permanente na Espanha podem melhorar de alguma forma

(GARCÍA, 2001).

Os resultados quanto à qualidade das atividades de formação

permanente ofertadas permite-nos traçar um paralelo com as sugestões

apontadas pelos técnicos de alto rendimento, que sugeriram algumas

possibilidades de tornar essas atividades mais atrativas como, por

exemplo, as imersões de treinadores em programas estruturados de

mentoring (onde um mentor participa como um exemplo para o processo

de aprendizado do treinador) (3), os intercâmbios (I.K.; R.K.) e os cursos

(3) (quadro 7).

93
Quadro 7. Percepção dos treinadores investigados sobre o tipo de
atividades de formação permanente que estão relacionadas à atualização
ou melhora do nível de competência dos treinadores de tênis de alto
rendimento.

Atividades de formação permanente que estão relacionadas à atualização


ou melhora do nível de competência dos treinadores de tênis de alto
rendimento

Intercâmbios (I.K; R.K).

Estágio em atividades de mentoring (3).

Cursos da CBT e ITF (3).

Conferências da ITF pelo website (R.N.S).

Uso da internet (R.K).

Leitura de modo geral, tanto de livros sobre tênis como livros sobre temas gerais (R.K).

Presença em torneios de tênis (R.K).

A presença em torneios foi um item citado por apenas um dos

participantes. Porém, todos os participantes da entrevista qualitativa

manifestaram a importância da experiência que devem ter os treinadores

de tênis de alto rendimento no circuito, o que classifica a presença dos

treinadores nos torneios como um importante meio de formação

permanente. Da mesma forma, ao uso da internet foi um dos elementos

que mais surgiram nas propostas de formação dirigidas pelos treinadores

participantes.

Os resultados encontrados nesse estudo vão ao encontro do

exposto pelos estudos de Vargas-Tonsing (2007), Irwin et al; (2004),

Weaver e Chelladurai (1999) Blomm et al; (1995), que tratam da

importância do uso da internet, das clínicas, seminários e simpósios,

experiência prática, observação de outros treinadores e programas

estruturados de mentoring, livros e vídeos.


94
Além da qualidade das atividades de formação permanente, outro

fator tem bastante importância no processo de aquisição de conhecimentos

para o treinador de tênis: a frequência nas atividades de formação

permanente (tabela 12).

Tabela 12. Grau de participação dos treinadores de alto rendimento em


atividades de formação permanente.
Frequência
Grau de participação Percentual (%)
(n)
Muito pouca participação 2 7,7
Pouca participação 3 11,5
Normal 11 42,3
Bastante participação 8 30,8
Muita participação 2 7,7
TOTAL 26 100,0

Grande parte dos treinadores participa continuamente de atividades

de formação permanente, com freqüências de normal a muito elevadas

(80,8%), enquanto que 19,2% deles manifestaram pouca ou muito pouca

frequência. O resultado mostra que praticamente 1 a cada 5 treinadores

pouco frequentam as atividades, o que difere da realidade espanhola, onde

70% dos treinadores espanhóis de tênis de alto rendimento manifestaram

participar pouco ou muito pouco de atividades de formação permanente

(GARCÍA, 2011). Os problemas gerados pela baixa frequência em eventos

desta natureza são a baixa reciclagem do conhecimento de tênis e a falta

de oportunidades para troca de experiência entre treinadores, que por

vezes não têm tanta abertura como naquela ocasião para relacionar-se e

trocar experiências com outros treinadores.

95
Alguns fatores podem estar relacionados com a impossibilidade dos

treinadores de tênis de alto rendimento frequentarem atividades de

formação permanente, conforme avaliação dos participantes I.K, R.N.S e

R.K. (quadro 8).

Quadro 8. Percepção dos treinadores investigados sobre as principais


dificuldades dos treinadores de tênis de alto rendimento na participação em
atividades de formação permanente.

Principais dificuldades dos treinadores de tênis de alto rendimento na


participação em atividades de formação permanente

O receio que os treinadores têm de não acompanharem tecnicamente os cursos (I.K).

O receio que os treinadores têm de se expor (I.K).

O receio que os treinadores têm de serem descobertos nas suas limitações e


fragilidades teóricas (I.K, R.N.S).

Não poder deixar de trabalhar para participar de atividades de formação (I.K).

Falta de tempo em razão das constantes viagens solicitadas pelo ofício de treinador de
tênis de alto rendimento (R.N.S).

A falta de humildade dos treinadores para aprender (R.N.S).

A acomodação que os treinadores apresentam quando alcançam uma boa posição


(R.K).

As respostas dadas pelos treinadores investigados sobre os maiores

fatores limitantes da participação dos treinadores de tênis de alto

rendimento em atividades de formação permanente representam uma

excelente oportunidade de levantar graves problemas do processo de

formação de treinadores no Brasil. Considerando a falta de estudos

científicos do tênis brasileiro, em especial sobre a formação de treinadores,

a identificação dos fatores intervenientes na formação do treinador

96
promove o afloramento de conhecimentos empíricos até então suprimidos

na experiência de cada treinador. Tal conhecimento, embora perceptível

pela grande massa de profissionais do tênis não era explorada com a

devida profundidade.

Fatores como “a falta de tempo em razão das constantes viagens

solicitadas pelo ofício de treinador de tênis de alto rendimento” (R.N.S) e

“não poder deixar de trabalhar para participar de atividades de formação”

(I.K) ainda ganham respaldo em estudos como o de García (2001), que

verificou que 95% dos treinadores espanhóis de tênis de alto rendimento

não podem deixar de atender aos seus trabalhos em razão de eventos de

capacitação. Entretanto, fatores internos, pertencentes à individualidade e

subjetividade inerentes de cada treinador foram agora observados nos

relatos de alguns dos participantes. O participante R.N.S., por exemplo,

resume essa “verdade” empírica reconhecida por vários dos profissionais

do tênis no Brasil: “[...] o tênis é muito camuflado! Essa é uma das grandes

razões de os treinadores não participarem de muitos eventos de

capacitação permanente. É importante se abrir.”. Nesta perspectiva, fatores

pessoais como “o receio que os treinadores têm de não acompanharem

tecnicamente os cursos (I.K)”, “o receio que os treinadores têm de se expor

(I.K)”, “o receio que os treinadores têm de serem descobertos nas suas

limitações e fragilidades teóricas (I.K, R.N.S)”, “a falta de humildade dos

treinadores para aprender (R.N.S)” e a “acomodação que os treinadores

apresentam quando alcançam uma boa posição (R.K)” são fundamentais

para identificar grandes falhas no processo de formação inicial e

97
permanente dos treinadores de tênis no Brasil, dos professores de

iniciação no tênis aos treinadores de tênis de alto rendimento.

Não foram achados resultados próximos a estas declarações dos

treinadores deste estudo nas demais pesquisas encontradas, mas nos

estudos de Vargas-Tonsing (2007), um dos fatores dificultadores

observados conferem com os resultados encontrados nesta (tabela 13),

onde o alto custo dos eventos é um fator limitador importante da maior

frequência de técnicos nos eventos de formação permanente.

Tabela 13. Principais dificuldades dos treinadores de alto rendimento para


participarem de atividades de formação permanente
Frequência
Principais dificuldades Percentual (%)
(n)
Dificuldades econômicas 7 25,9
Ocupações e responsabilidades familiares 10 37,0
Não poder deixar de atender ao seu trabalho 10 37,0
TOTAL 27 100,0

Embora os resultados deste estudo referentes ao alto custo tenham

corroborado com os encontrados em estudos como o de Vargas-Tonsing

(2007), os resultados das limitações referentes às ocupações e

responsabilidades familiares (37%), e de não poderem deixar de atender

ao seu trabalho (37%) representam fatores importantes a ser observado. O

resultado mostra que a rotina de trabalho e as ocupações e

responsabilidades familiares ocuparam a maior parte da responsabilidade

em não permitir ao treinador participar de atividades de formação

permanente.

No estudo de doutorado de García (2001), as ocupações e

compromissos familiares não corresponderam a um problema (0%), nem

98
mesmo as dificuldades econômicas. Apesar da leve discrepância entre os

resultados do fator “dificuldades econômicas” entre o atual estudo e o de

García (2001) (25,9% e 0%, respectivamente), o argumento do participante

R.N.S sintetiza em favor dos resultados de García (2001), quando expõe

que “o valor da capacitação não importa; o interessante é O QUE se

oferece. Mesmo uma passagem para os Estados Unidos ou Europa, a

hospedagem, pode ser barata em consideração ao retorno que propicia. Se

o curso é ruim, qualquer custo é caro.”. Este argumento encontra ainda

mais respaldo se considerarmos a média da renda familiar dos treinadores

de tênis de alto rendimento encontrados neste estudo, onde a maioria dos

treinadores de tênis recebe de 3 a 10 salários mínimos (S.M.) (73,4%), ou

seja, recebem entre R$1.635,00 e R$5.540,00 (valores de 23/03/2011)

como treinadores de tênis, enquanto que 13,3% deles recebem ainda mais.

Os principais problemas das atividades de formação permanente

ofertadas podem representar fatores importantes para a ausência de parte

dos treinadores de tênis dessas atividades (tabela 14).

Tabela 14. Percepção dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil


sobre os principais problemas das atividades de formação permanente
ofertadas.
Frequência
Principais problemas Percentual (%)
(n)

Escassa existência de atividades com rigor científico


promovidas pelos órgãos federativos 5 20,8

Escassa adaptação das atividades de índole científica às


necessidades e nível de compreensão dos treinadores 3 12,5

Atividades excessivamente estereotipadas (parecidas,


monótonas, repetição de conteúdos) 11 45,8
Atividades pouco motivantes 1 4,2
Número insuficiente de atividades de aplicação prática 4 16,7

99
A rotina didática, prática e teórica dos eventos de formação

permanente parecem corresponder à grande parte dos principais

problemas na oferta das atividades, com 45,8% da opinião dos treinadores

de tênis. Praticamente um em cada cinco treinadores considera que

existem poucas atividades com rigor científico nos cursos, e um em cada

dez considera que os conteúdos científicos não são passados para os

treinadores de forma clara e objetiva. Este resultado pode estar relacionado

ao alto percentual de treinadores sem formação no nível superior em

Educação Física e, portanto, afastado da rotina de contato com termos e

conhecimentos científicos. Poucos treinadores consideraram as atividades

de formação permanente pouco motivantes (4,2%). Comparando estes

resultados com os encontrados no estudo de García (2001), a falta de

atividades com rigor científico mostrou equivalência com o atual estudo

(25%), e os espanhóis mostraram mais dificuldade com as atividades de

caráter científico (25%) em relação aos treinadores brasileiros. O fato pode

estar relacionado com a formação dos treinadores no curso de Educação

Física, que no Brasil representa 34,5% dos treinadores investigados,

enquanto que na Espanha nenhum deles tem formação no nível superior

em Educação Física.

Diferentemente do encontrado no estudo de García (2001), grande

parte dos treinadores de tênis de alto rendimento do Brasil considerou que

um dos principais problemas das atividades de formação permanente são

as atividades excessivamente estereotipadas (45,8%) (parecidas,

monótonas, repetição de conteúdos). Com esta avaliação, torna-se

100
importante refletir se os cursos não apresentam novidades porque os

conhecimentos do tênis já estão há muito sedimentados ou se os

professores não têm ensinado aos demais as novas possibilidades de

intervenção que têm aprimorado na sua prática.

Com o objetivo de facilitar a leitura dos resultados gerais sobre a

caracterização dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil, bem

como do perfil da formação inicial e permanente dos treinadores

investigados, na sequência serão apresentados os quadros-resumo dos

resultados mais importantes. O perfil de caracterização geral dos

treinadores de alto rendimento no Brasil resume-se no quadro 9.

Quadro 9. Perfil da caracterização geral dos treinadores de tênis de alto


rendimento no Brasil.

Caracterização geral

Variável Características

Idade Adultos com média de idade de 36,5 anos ± 9,09.

Bastante experiência com a prática de jogo (25,13


Tempo de experiência como atleta
anos ± 11,30).

Tempo de experiência como treinador Bastante tempo de experiência (25,13 anos ± 11,30).

Poucos são patrocinados (29%) e tão pouco são


Patrocínio
remunerados pelo patrocínio (11,1%).

Trabalho extra tênis A maioria trabalha exclusivamente com tênis (77,4%).

Renda média mensal A maioria recebe de 3 a 10 salários mínimos (SM)


(73,4%) e 13,3% recebem mais de 10 SM.

Nível de jogo A maioria (77,4%) foi profissional ou joga primeira


classe e 12,9% joga 2ª ou 3ª classe.

Os resultados sobre o perfil de formação inicial dos treinadores de

tênis de alto rendimento no Brasil encontram-se resumidos no quadro 10.

101
Quadro 10. Perfil da formação inicial dos treinadores de tênis de alto
rendimento no Brasil.

Formação Inicial

Variável Características

Cerca de um terço dos treinadores de tênis de alto


rendimento (34,5%) apresentou formação no curso de
Educação Física. Os treinadores provisionados (não
Graduação no ensino formal formados em Educação Física) correspondem a 65,5%
e realizaram suas formações iniciais
predominantemente pelas vias informais e não formais
(NELSON et al; 2006). 23,3% dos treinadores tem
ensino médio.

Certificação no Sistema Nacional de Mais da metade dos treinadores são certificados pelo
Graduação Profissional (SNGP) da SNGP (58,1%).
CBT

Participação dos treinadores em A maioria dos treinadores (71%) nunca participou de


disciplinas de tênis ou disciplinas com disciplinas de tênis ou disciplinas com conteúdos de
conteúdos de tênis em Instituição de tênis em Instituição de Ensino Superior em Ciências do
Ensino Superior em Ciências do Esporte/Educação Física.
Esporte/Educação Física

O perfil da formação permanente dos treinadores de tênis de alto


rendimento no Brasil encontra-se, resumidamente, no quadro 11.

Quadro 11. Perfil da formação permanente dos treinadores de tênis de


alto rendimento no Brasil.

Formação Permanente

Variável Características

Participação em intercâmbios, estágios em atividades


Atividades de formação permanente
de mentoring, cursos da CBT ou ITF, uso da internet,
mais indicadas pelos treinadores
conferências da ITF pelo website, leitura de livros
sobre tênis ou gerais e presença em torneios de tênis.
Participação em atividades de
Grande parte dos treinadores participa continuamente
formação permanente
de atividades de formação permanente (80,8%).

A rotina de trabalho e as ocupações e


responsabilidades familiares e o receio de serem
Fatores dificuldades na participação
descobertos nas suas limitações e fragilidades teóricas
em atividades de formação
ocuparam a maior parte da responsabilidade em não
permanente
permitir ao treinador participar de atividades de
formação permanente.

45,8% dos treinadores concordam que sejam as


atividades excessivamente estereotipadas (parecidas,
Percepção dos treinadores sobre os
monótonas, repetição de conteúdos); um em cada
principais problemas das atividades
cinco treinadores considera que existem poucas
de formação permanente ofertadas no
atividades com rigor científico nos cursos, e um em
Brasil
cada dez considera que os conteúdos científicos não
são passados para os treinadores de forma clara e
objetiva.

102
De forma geral, a formação inicial dos treinadores de tênis de alto

rendimento no Brasil não está diferente dos treinadores de tênis espanhóis

(GARCÍA, 2001) em várias das variáveis, apresentando a base da sua

formação inicial nas aprendizagens no tipo informal e não-formal (NELSON

et al; 2006). Há de se considerar a importância que estes processos de

aprendizagem têm na formação profissional dos treinadores, especialmente

observando a performance dos tenistas espanhóis no circuito mundial de

tênis. É evidente que outros fatores podem ser responsáveis pelo sucesso

de um atleta no circuito, como por exemplo, o acesso das equipes de

treinamento a laboratórios, a participação de uma equipe interdisciplinar de

apoio, a abertura dos treinadores à intervenção dos demais profissionais

das ciências do esporte, entre outros. Embora a literatura (CASSIDY et al;

2009 e ISIDRO, 2009), os treinadores (I.K; R.N.S) e os próprios atletas

(Gustavo Kuerten) considerem a importância da formação dos treinadores

no nível superior em Educação Física, a prática mostra que em uma das

maiores potências do tênis no mundo todos os 20 treinadores da amostra

do estudo de García (2001) não têm essa formação. Pelos resultados

sobre a formação permanente, o que se evidencia para o Brasil é a

necessidade de um replanejamento pessoal (seja pela organização

familiar, de trabalho e de abertura para novos aprendizados) e da

reorganização do sistema de formação de treinadores de tênis, a fim de

organizar melhor as atividades desenvolvidas para os treinadores e de

planejar a formação dos treinadores de tênis em uma ação conjunta entre a

Confederação Brasileira de Tênis e as instituições de ensino superior.

103
5 CONCLUSÕES

Com base nos objetivos propostos, na revisão de literatura e na coleta e

análise dos resultados, podemos concluir que: Os procedimentos

metodológicos propostos foram úteis e confiáveis, assim como os resultados

confirmaram a validade do instrumento QUAFIPETAR (LIMA e ANDRADE,

2011) e permitiu descrever o perfil da formação inicial e permanente dos

treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil.

O estudo confirmou a validade pelos critérios de clareza, validade de

conteúdo, validade de construto e de confiabilidade do QUAFIPETAR quanto

aos construtos e do instrumento como um todo, sendo a versão final traduzida,

modificada e adaptada de García (2001) sendo considerada válida e adequada

para aplicação no Brasil.

A descrição do perfil profissional dos treinadores de tênis de alto

rendimento no Brasil indicou que a faixa etária que os treinadores brasileiros

iniciaram suas carreiras está dentro daquela preconizada pelos estudos

relacionados à intervenção de treinadores de outras modalidades em outros

países, apresentando em sua experiência muitos anos de prática de tênis

(25,13 anos ± 11,30) e bom nível de jogo. A maioria dos treinadores tem média

de renda familiar entre 3 e 10 vezes maior que a média da população ocupada

do Brasil.

O estudo mostrou que a maioria dos treinadores de tênis realizou sua

formação inicial fora da aprendizagem formal do curso de Educação Física,

fundamentando sua aprendizagem pelas vias informais, como em atividades

estruturadas de mentoring e em atividades não-formais (cursos, palestras e


seminários, por exemplo) para tornarem-se treinadores, ou ainda optando por

aprendizagem formal em outras áreas profissionais como Direito, Odontologia,

Administração em Comércio Exterior e Ciências Contábeis, áreas sem muita

intersecção com o esporte de rendimento. Independente disso, os treinadores

reconhecem a importância dos conhecimentos das Ciências do Esporte para a

formação do treinador de tênis de alto rendimento. Os resultados evidenciaram

que os treinadores investigados consideram que a adequada competência para

exercer a função de treinador é aquela em que se encaixa no seu próprio perfil,

com os profissionais que possuem graduação em Educação Física salientando

a importância da sua formação para a intervenção como treinador. Os

treinadores provisionados percebem que o nível médio do ensino regular é o

adequado para assumir a disciplinas de tênis em encontros de formação

permanente. Os treinadores propuseram que a Confederação Brasileira de

Tênis seja a entidade responsável pela certificação dos treinadores no Brasil,

com o suporte científico das instituições do Ensino Superior em Educação

Física no processo de formação inicial dos treinadores.

Os treinadores de tênis de alto rendimento identificaram que para

melhorar a qualidade do processo de formação permanente deveriam

procurar atividades de intercâmbio, mentoring, cursos pela internet (a rotina

profissional de viagens impossibilita outras formas de continuidade formativa) e

a regionalização dos eventos, também com o objetivo de facilitar o acesso às

atividades e baixar o custo para os treinadores. Observou-se que grande parte

dos treinadores participa frequentemente de atividades de formação

permanente, mas que uma das grandes dificuldades de participação dos

treinadores, segundo seus pontos de vista, é a dificuldade que eles têm de

105
mostrarem suas vulnerabilidades de conhecimento. Paralelamente, foi

observado que a rotina de trabalho e as ocupações e responsabilidades

familiares ocuparam a maior parte da responsabilidade em não permitir ao

treinador participar de atividades de formação permanente conforme

idealizado. Ao fim, observou-se que um dos grandes problemas na frequência

de treinadores em atividades de formação permanente são as atividades

excessivamente repetidas e monótonas que são atualmente ministradas.

A partir dos resultados e considerações, é possível elaborar estratégias

de intervenção que atendam as necessidades dos treinadores de tênis de alto

rendimento no seu processo de formação inicial e permanente. É importante

que haja uma ampla discussão sobre o perfil do treinador ideal, para que a

partir disso um sistema nacional desenvolva o melhor processo de formação de

treinadores de tênis, desde a iniciação até o alto rendimento. Sem dúvida, para

o Brasil desenvolver o tênis como um esporte de maior participação

quantitativa e qualitativa de atletas em competições internacionais e para que

se tenha mais efetividade no desenvolvimento de tênis no país, melhorar o

processo de formação de treinadores de tênis é tarefa urgente, onde se espera

que o estado contribua neste processo.

106
6 SUGESTÕES

Com o objetivo de tornar este trabalho uma referência para uma ampla
discussão sobre a formação de treinadores de tênis no Brasil, é importante que
se atente ao processo de mudança instaurada pela promulgação da lei
9696/98, que trata sobre a regulamentação do profissional em Educação
Física. O Brasil passa por um processo de transformação legal do exercício da
profissão como treinador, independente da modalidade. É importante que haja
um alinhamento de interesse entre as esferas da autarquia nacional e do
esporte, afim de que sejam elaborados planos de curto, médio e longo prazos
para manter e, especialmente, elevar a quantidade e qualidade dos treinadores
que intervirão no tênis nacional. Segundo a lei, todos os novos treinadores que
virão a trabalhar na área precisarão ter formação de nível superior em
Educação Física, o que forçará uma mudança na cultura de formação dos
treinadores de tênis no Brasil. Diante deste quadro, duas alternativas parecem
apontar em primeira instância: trazer o provisionado que tenha interesse para o
curso de Educação Física, para que o tênis mantenha e qualifique seus
interventores; e incentivar os atuais jovens tenistas a ingressarem no curso de
graduação em Educação Física para que logo sejam os próximos e imediatos
interventores. Com essas e outras medidas será possível impedir o fardo de
morte do tênis nacional pela diminuição radical de treinadores e, ainda, elevá-lo
ao patamar das grandes potências do tênis mundial.
Sugere-se ainda que novos estudos sejam elaborados utilizando-se do
QUAFIPETAR e do QUALI-QUAFIPETAR, tanto com uma amostra maior,
utilizando-se de técnicas de amostragem estatística com objetivo de maior
generalização de resultados, ou ainda novas pesquisas de aprofundamento
qualitativo sobre a formação de treinadores e professores de tênis, analisando
mais detalhadamente os diferentes grupos envolvidos no ensino e treinamento
de tênis no Brasil.
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116
APÊNDICE A – ENTREVISTA DO TIPO “HISTÓRIA DE VIDA”

COM GUSTAVO KUERTEN

117
ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE
(Tipo História de Vida)

SUJEITO: Gustavo Kuerten, 34 anos (ex-tenista brasileiro n1 do mundo).

O instrumento utilizado inicialmente neste estudo foi um questionário para


promover uma entrevista de “história de vida” (BONI e QUARESMA, 2005), do tipo
tópica, que focaliza uma etapa ou um determinado setor da experiência em questão
(MINAYO,1993). Esta entrevista objetivou buscar os elementos de maior interesse
e/ou vulnerabilidade do tênis do Brasil sob a ótica de um atleta nacional ex-número um
do mundo, para a confecção de um estudo de destaque para o tênis nacional. Abaixo,
segue a descrição da entrevista realizada.

Considerando a realidade do tênis brasileiro em relação ao rendimento


das nações que representam a força do tênis mundial, quais são os tópicos que,
no seu entendimento, devem ser estudados cientificamente para melhorar o
nível do tênis brasileiro?
GK – Vários fatores são importantes para serem estudados. O Brasil precisa de
algumas coisas ainda para melhorar o seu nível como, por exemplo, um estudo mais
aprofundado sobre o tênis feminino, os professores e treinadores do país. Os tenistas
precisam de uma melhor base para competir no circuito mundial.

O que você considera ter sido o seu grande diferencial em relação aos
outros tenistas que o tornou o melhor do tênis mundial naquele período?
GK – Basicamente, considero ter sido a minha habilidade de usar as
ferramentas (leiam-se os arsenais de desempenho técnicos, táticos, físicos e mentais)
na hora do jogo.

Ao que você atribui essa habilidade?


GK – Julgo fundamentais os conhecimentos e treinamentos recebidos pelos
bons técnicos pelos quais passei.

118
O que é um bom técnico no seu ponto de vista?
GK – É aquele que tem a visão do todo e domina ao máximo todas as áreas do
treinamento desportivo (fundamentalmente do tênis), conhecendo, utilizando,
coordenando e participando de todos os tipos de treinamento para a performance
ideal.
Venho observando uma descendência na qualidade dos técnicos do Brasil,
basicamente por duas razões que julgo importante: a primeira é que os antigos bons
técnicos (contextualizados, com grandes experiências e com ótima formação
acadêmica e profissional) parecem ter cansado das suas funções e saíram do cenário
competitivo e de formação de atletas de base. A segunda razão é a imaturidade
experimental e de conteúdo dos novos técnicos e demais profissionais que estão
formando a nova geração de tenistas profissionais, que entraram durante ou logo após
o “boom” do tênis brasileiro, com a minha ascensão como destaque e ídolo nacional.
Além do mais, observo que atualmente os treinadores não utilizam um sistema
único de treinamento (nem próprios, nem generalizados ou padrão) para controlar as
“n” variáveis de um processo de treinamento. Não há o controle das variáveis técnicas
e táticas do treinamento técnico, nem mesmo das variáveis dos treinamentos
complementares, como o físico e o mental. Observo que o “main coach” (posição
naturalmente assumida pelo técnico) deve, para isso, ter pleno conhecimento das
ciências do esporte. Três fatores são fundamentais na bagagem de um bom técnico de
tênis de alto rendimento: nível de formação acadêmica e especializada, experiência e
sistematização (planejamento e avaliação) do treinamento.

Quais são, no seu ponto de vista, as melhores escolas do tênis


competitivo internacional?
GK – A Espanha e a Argentina. Primeiro porque eles têm um sistema nacional
para a metodologia de ensino e treinamento de tênis; segundo porque existe um fator
cultural importante para que nasçam mais campeões. A prática de tênis nesses países
está sedimentada, sendo que é um dos esportes preferidos, em detrimento ao que é o
tênis para o Brasil. Além disso, nesses países existe uma alta densidade de destaques
para a quantidade de praticantes e atletas.

119
APÊNDICE B – TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE

NOME NA PESQUISA – GUSTAVO KUERTEN

120
121
APÊNDICE C – CARTA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE

ÉTICA

122
123
APÊNDICE D – ESTUDO PILOTO

124
1 ESTUDO PILOTO

FORMAÇÃO DO TREINADOR DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO NO


BRASIL.

Esse estudo piloto descreve a avaliação e a testagem prévia do método

a ser aplicado no estudo de dissertação. O piloto é considerado um ensaio

geral de todas as atividades previstas para a coleta de informações e

tratamento dos dados, de modo a verificar a operacionalidade do projeto

proposto (YIN, 1994).

1.1 OBJETIVOS DO ESTUDO PILOTO

1.1.1 Objetivo Geral

Testar procedimentos, instrumentos, preparar o pesquisador para a

coleta e análise dos dados da pesquisa e realizar análise estatística preliminar.

1.1.2 Objetivos Específicos

 Realizar a análise de clareza e validade de conteúdos da versão final do

Questionário de Avaliação da Formação Inicial e Permanente de

Treinadores de Tênis de Alto Rendimento (QUAFIPETAR) (LIMA e

ANDRADE, 2011) adaptado e traduzido para a língua portuguesa do

Brasil;

 Realizar a análise fatorial do construto do QUAFIPETAR;


125
 Verificar a fidedignidade do QUAFIPETAR traduzido mediante o

coeficiente de consistência interna de cada fator e do instrumento como

um todo;

 Descrever o perfil do profissional e da formação inicial e permanente dos

treinadores de tênis de alto rendimento do estudo piloto (ver apêndice E:

Artigo do estudo piloto);

 Familiarizar o pesquisador com a aplicação dos instrumentos utilizados

na pesquisa.

1.2 MÉTODO

Esta etapa objetiva verificar os procedimentos para a execução do

projeto de dissertação. Para tanto, foi realizado um ensaio geral de todas as

atividades previstas para a coleta, aquisição, armazenamento e tratamento dos

dados, exceto o ensaio com o instrumento qualitativo proposto por García

(2001). Neste ensaio, foi realizada a familiarização do pesquisador com os

procedimentos do estudo. Previamente à realização deste estudo piloto o

projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da

UDESC, recebendo aprovação (protocolo nº 147/2010). Após o recebimento da

carta de aceite foi realizada a coleta dos dados do piloto.

1.2.1 Tipo de pesquisa

Este é um estudo metodológico exploratório e descritivo, que consiste na

investigação dos métodos de obtenção, organização e análise dos dados,

discorrendo sobre a elaboração, validação e avaliação dos instrumentos e

126
técnicas de pesquisa, tendo como objetivo a construção de um instrumento de

medidas confiável e preciso (THOMAS e NELSON, 2002).

1.2.2 População e amostra

A amostra foi selecionada de forma não-probabilística intencional

(THOMAS e NELSON, 2002), tendo em vista que esta etapa do estudo exigia a

participação de treinadores de tênis competitivo, público alvo do instrumento

em fase de validação. O grupo foi composto por 24 treinadores de tênis

competitivo do estado de Santa Catarina, todos do sexo masculino, com idades

compreendidas entre 23 e 63 anos (28,58 ± 8,95 anos).

1.2.3 Instrumentos

Para a realização desta etapa da pesquisa foram utilizados dois

instrumentos, um Questionário de Caracterização Geral dos Treinadores de

Tênis de Alto Rendimento (ANEXO E), que tem por objetivo apresentar

características pessoais relevantes para o estudo como, por exemplo, idade,

sexo, melhor ranking na ATP e WTA de um(a) tenista que tenha treinado, ano

do melhor ranking do seu(sua) atleta, condições profissionais gerais, entre

outros; e a versão final traduzida e adaptada do instrumento proposto por

García (2001), o Questionário de Avaliação da Formação Inicial e Permanente

de Treinadores de Tênis de Alto Rendimento (QUAFIPETAR). Este

questionário passou, após tradução para o português do Brasil e adaptação

para a realidade brasileira, por um processo de back translation, realizada por

127
um profissional em Educação Física, treinador de tênis e de nacionalidade

Chilena tendo este, ainda, vivido na Espanha por 6 anos. Ambos os

instrumentos continham os campos para o apontamento dos níveis de validade

de conteúdo (“Totalmente Válido”, “Moderadamente Válido” e “Nada Válido”) e

clareza (“Totalmente Claro”, “Moderadamente Claro” e “Nada Claro”) de cada

questão, que foram preenchidos imediatamente após a sua resposta. A escala

para ambas foi de 0 (zero) a 10 (dez).

1.2.4 Aplicação dos Instrumentos

O preenchimento do instrumento pelos treinadores aconteceu em um

evento promovido pela Federação Catarinense de Tênis (FCT), em Itajaí (SC),

sob a autorização prévia do presidente da federação. O evento foi realizado

das 9h às 12h e das 14h às 16h; ao final do encontro, todos os participantes

foram informados sobre o estudo, sua relevância e de que forma poderiam

contribuir para a pesquisa. Antes do preenchimento do instrumento foi

esclarecido à todos que a participação era voluntária e não obrigatória.

Com relação à aplicabilidade do instrumento, o tempo médio de

preenchimento foi de 45 minutos, acrescidos de cinco minutos de explicação

sobre mesmo, totalizando 50 minutos. Esse tempo demonstrou-se adequado

para que o preenchimento dos questionários seja feito, na coleta definitiva, em

algum momento em que preceda ou proceda algum compromisso pessoal ou

profissional dos treinadores. Considerando o longo tempo despendido,

observou-se a necessidade da observação pelo pesquisador do cuidado para

que o tempo não comprometa o planejamento e a rotina dos treinadores e, com

128
isso, não altere a concentração dos sujeitos para as respostas ao questionário.

Nesta coleta do estudo piloto, o pesquisador observou que os sujeitos

encontravam-se cansados após um extenso dia de discussões sobre o rumo do

tênis em Santa Catarina.

Os treinadores responderam aos questionários em grupo, porém não

muito próximos um do outro, para que não houvesse nenhum tipo de

interferência. O pesquisador esteve presente em todos os momentos da coleta

junto aos treinadores, colocando-se à disposição para sanar qualquer tipo de

dúvida em relação ao preenchimento dos questionários. Algumas observações

de dúvida foram relatadas pelos participantes; o apontamento das questões

duvidosas permitiu ao pesquisador relembrar ao sujeito sobre a necessidade

de uma criteriosa análise dele sobre a validade e clareza da questão. As

dúvidas e contribuições foram anotadas pelo pesquisador para análise

posterior à coleta.

1.2.5 Tratamento dos dados do estudo piloto

Os índices gerais de validade de clareza e de conteúdo aparente (0,92 e

0,90 respectivamente) e de cada item foram verificados através da distribuição

de freqüências e percentuais, como podem ser observados nas tabelas 8 e 9.

A consistência interna geral e de cada fator do QUAFIPETAR foi

verificada por meio do coeficiente alpha (α) de Cronbach.

Após a tentativa da análise fatorial estatística com rotação varimax, foi

observado insucesso na definição fatorial do instrumento devido às diferenças

escalares entre as questões do QUAFIPETAR e pela presença de dados

129
nominais. Para tanto, a análise das dimensões do construto foi realizada

através da validação confirmatória pelo julgamento de uma comissão de

especialistas (formada por cinco doutores pesquisadores da área da Educação

Física com conhecimento na área de formação de treinadores).

Para a descrição do perfil do profissional e da formação inicial e

permanente da amostra, os dados foram tratados com estatística descritiva

(valores médios, desvios padrão e valores mínimos e máximos) e inferencial.

A distribuição dos dados das principais variáveis de caracterização geral

dos sujeitos e das demais questões do estudo piloto revelou que somente

algumas questões ou itens apresentaram distribuição normal. Para estes, será

utilizado teste de correlação de Pearson. Para os dados não paramétricos, será

utilizada correlação de Spearman. Foram analisados 24 questionários no

pacote estatístico SPSS 17.0 para Windows. Com o aumento da amostra

espera-se que todas as variáveis apresentem distribuição normal, confirmando

assim a escolha dos testes selecionados para o estudo.

1.3 RESULTADOS DO ESTUDO PILOTO

Os resultados do estudo piloto estão apresentados de acordo com os

objetivos propostos para esta etapa:

Objetivo 1 – Realizar a análise de clareza e validade de conteúdos da

versão final do Questionário de Avaliação da Formação Inicial e Permanente de

Treinadores de Tênis de Alto Rendimento (QUAFIPETAR) traduzido e

adaptado de García (2001) para a língua portuguesa do Brasil.

130
A validação de clareza e de conteúdo do Questionário de Avaliação da

Formação Inicial e Permanente de Treinadores de Tênis de Alto Rendimento

(QUAFIPETAR) fez parte do primeiro processo de validação, perfazendo um

momento importante, visto que os resultados obtidos nesta etapa culminaram

com a avaliação da versão final do instrumento para a língua portuguesa do

Brasil.

Após a realização das coletas, os questionários foram analisados

individualmente para se verificar falhas no preenchimento e considerar sobre

as dúvidas e sugestões dos sujeitos. Nenhum deles comunicou falha no

instrumento que justificasse a exclusão de questões e algumas sugestões

foram acrescentadas para a maior clareza do instrumento final.

O cálculo do índice de clareza das questões e do QUAFIPETAR

completo compreendeu uma importante etapa da validação do instrumento

(tabela 1).

Tabela 1 – Índices de “validade – clareza” das questões do QUAFIPETAR


(LIMA e ANDRADE, 2011).
Questão Índice Questão Índice
Q1 1,00 Q18 0,95
Q2 1,00 Q19 0,92
Q3 1,00 Q20 0,93
Q4 0,98 Q21 0,96
Q5 0,97 Q22 0,94
Q6 0,93 Q23 0,96
Q7 0,82 Q24 0,85
Q8 0,86 Q25 0,92
Q9 0,80 Q26 0,92
Q10 0,86 Q27 0,98
Q11 0,84 Q28 0,91
Q12 0,86 Q29 0,86
Q13 0,97 Q30 0,93
Q14 0,94 Q31 0,90
Q15 0,96 Q32 0,88
Q16 0,92 Q33 0,78
Q17 0,96
*Média geral da validade de clareza do instrumento: 0,92 ± 0,06.

131
Todas as questões apresentaram índices de clareza satisfatórios (acima

de 0,80 ou 80%), exceto a questão Q33, com índice de 0,78. Reformulações na

redação dos itens (itens 3, 4, 6, 9, 11, 13, 14, 16, 24, 28, 34 e 36) da questão

Q9 (índice de clareza de 0,80) foram realizadas com o objetivo de facilitar ainda

mais a compreensão da questão pela população investigada. A questão Q33,

com índice de clareza muito próximo ao adequado (0,78), não foi reformulada

em consideração ao laudo de clareza e conteúdo identificados pelo grupo I, e

em consideração à percepção do pesquisador quanto ao cansaço dos sujeitos

do estudo piloto, já que esta foi a última questão a ser respondida e, ainda,

discursiva. A proximidade com índices ideais de validade de conteúdo aparente

e o laudo dos especialistas do grupo I também permitiram a manutenção das

questões Q9 (0,75) e Q24 (0,76) no QUAFIPETAR. O fator positivo a ser

observado foi o interesse dos treinadores em opinar sobre o assunto.

Em razão das sugestões acrescentadas pelos treinadores para o

instrumento final, das observações anotadas pelo pesquisador durante a coleta

de dados no estudo piloto e, independente dos altos índices de clareza, 12 das

33 questões passaram por revisão do enunciado e/ou dos itens (Q9, Q11, Q12,

Q13, Q17, Q19, Q21, Q22, Q24, Q26, Q28 e Q29) a fim de deixar estas

questões ainda mais claras para a população pesquisada. As questões Q5 e

Q7 tiveram campos de respostas adicionados, a fim de garantir uma melhor

cobertura de respostas possíveis.

Após análise criteriosa da Q23, optou-se por excluí-la devido à

inconsistência com a realidade de formação inicial de treinadores de tênis no

Brasil, que não permite formação externa à Educação Física enquanto docente

132
da disciplina de Tênis em Instituições do Ensino Superior de Educação Física e

Esportes, em determinação à lei 9696/98. A exclusão determinou, desta forma,

a diminuição do QUAFIPETAR de 33 para 32 questões.

Considerando o critério adotado, nenhum item a mais precisou ser

reformulado ou excluído, confirmando a validade de clareza da tradução com

índice geral de 0,92±0,06 (Tabela 1).

O cálculo do índice de validade de conteúdo das questões e do

QUAFIPETAR completo compreendeu a segunda importante etapa da

validação do instrumento (tabela 2).

Tabela 2 – Índices de “validade – conteúdo” das questões do QUAFIPETAR


(LIMA e ANDRADE, 2011)
Questão Índice Questão Índice
Q1 1,00 Q18 0,92
Q2 1,00 Q19 0,91
Q3 0,99 Q20 0,88
Q4 0,99 Q21 0,96
Q5 0,97 Q22 0,95
Q6 0,89 Q23 0,94
Q7 0,81 Q24 0,76
Q8 0,87 Q25 0,92
Q9 0,75 Q26 0,89
Q10 0,84 Q27 0,98
Q11 0,83 Q28 0,91
Q12 0,83 Q29 0,87
Q13 0,96 Q30 0,93
Q14 0,86 Q31 0,90
Q15 0,91 Q32 0,88
Q16 0,92 Q33 0,81
Q17 0,95
*Média geral da validade de conteúdo aparente do instrumento: 0,90 ± 0,07.

As questões Q9 e Q24, com índice de validade de conteúdo muito

próximo ao adequado (0,75 e 0,76), não foram reformuladas em consideração

ao laudo de conteúdo identificado pelo grupo I. Com o índice geral de

0,90±0,07, o QUAFIPETAR confirmou a validade de conteúdo aparente.


133
Objetivo 2 – Realizar a análise fatorial do construto do QUAFIPETAR.

Uma testagem prévia de análise fatorial foi realizada pelo teste de

Análise Fatorial Exploratória com rotação varimax, mas não foi utilizada em

virtude da inadequação dos diferentes níveis usados na escala com relação às

exigências estatísticas que permitissem a realização da análise. Devido a esta

razão, a análise fatorial foi realizada através de validação confirmatória pelo

julgamento de uma comissão de especialistas (formada por cinco doutores

pesquisadores da área da Educação Física com conhecimento na área de

formação de treinadores).

A validação confirmatória definiu as dimensões do construto do

instrumento como sendo: da “FORMAÇÃO INICIAL” as questões Q5, Q6, Q7,

Q12, Q21, Q22 e Q23; da “FORMAÇÃO PERMANENTE” ficaram definidas as

questões Q8, Q24, Q25, Q26, Q27, Q28, Q29, Q30, Q31 e Q32; assim como

“FORMAÇÃO GERAL” (formação inicial e permanente conjugadas) as

questões Q4, Q9, Q10, Q11, Q13, Q14, Q15, Q16, Q17, Q18, Q19 e Q20.

Objetivo 3 – Verificar a confiabilidade da escala mediante o coeficiente

de consistência interna de cada fator e da escala como um todo.

A análise de consistência interna da versão do QUAFIPETAR

apresentou um índice satisfatório, com valor alpha (α) de Cronbach de 0,84.

(tabela 3).

134
Tabela 3: Consistência interna (α de Cronbach) dos construtos do
QUAFIPETAR.

α de Cronbach
Construto
Versão brasileira Versão original

1. Formação inicial 0,49 Não fez

2. Formação permanente 0,84 Não fez

3. Formação geral 0,81 Não fez

TOTAL DO INSTRUMENTO 0,84 Não fez

A confiabilidade das dimensões do construto foi de alpha (α) de

Cronbach 0,49 para o fator “formação inicial”, 0,84 para “formação permanente”

e alpha de 0,81 para “formação geral” (formação inicial e permanente

conjugadas). A análise prévia inicial com os sujeitos do estudo piloto já aponta

indícios de confiabilidade do instrumento, sendo possível visualizar uma

tendência de valores elevados de consistência interna do instrumento

QUAFIPETAR. Segundo Silveira (1993), valores entre 0,7 e 0,9 apresentam

adequada confiabilidade. Para tanto, o coeficiente de 0,49 encontrado para o

fator “formação inicial” ainda apresenta-se aquém do índice de consistência

interna adequado. Com o aumento da amostra, a tendência é de que os

resultados de consistência aumentem ou mantenham-se elevados.

Objetivo 4 – Descrever o perfil do profissional e da formação inicial e

permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento do estudo piloto (Ver

apêndice E: Artigo do estudo piloto).

Objetivo 5 – Familiarizar o pesquisador com a aplicação do instrumento

utilizado na pesquisa.
135
O estudo piloto representou uma importante e fundamental etapa da

dissertação, visto a necessidade de familiarização do pesquisador com o

instrumento adaptado e com a administração deste com alguns sujeitos da

população alvo da pesquisa. A experiência adquirida permitiu o polimento e

alinhamento do instrumento com o perfil cultural dos técnicos brasileiros de

tênis, visto que a colaboração fortuita através de observações, sugestões e

dúvidas eminentes permitiu ao pesquisador modular mais precisamente o

instrumento QUAFIPETAR. Adaptações diversas de redação e de cunho

cultural permitiram maior fidedignidade ao construto, e foram efetuadas além

daquelas já projetadas pelo objetivo específico de validade de clareza e de

conteúdo aparente das questões. Ou seja, uma reformulação profunda no

instrumento foi permitida em razão dos processos transcorridos pelo estudo

piloto. A experiência permitiu, ainda, projetar melhor os métodos de coleta de

dados definitiva, além da produtiva continuidade da pesquisa.

1.4 CONCLUSÃO DO ESTUDO PILOTO

Conclui-se com este estudo piloto que os procedimentos metodológicos


propostos são úteis, confiáveis e confirmam a aplicabilidade da pesquisa. Este
estudo permitiu capacitar o pesquisador para a coleta definitiva dos dados,
etapa posterior a essa.
O estudo confirmou a validade de clareza, de conteúdos aparente e de
confiabilidade do instrumento como um todo, sendo a versão final traduzida
considerada adequada para continuidade do trabalho, com ampliação da
amostra e realização da validação confirmatória das dimensões do construto. A

136
análise fatorial foi a única testagem que não seguiu a rigor a projeção
metodológica esperada, o que sujeitou à nova proposta de testagem pela
validação confirmatória realizada por uma comissão de especialistas, formada
por cinco doutores pesquisadores da área da Educação Física com
conhecimento na área de formação de treinadores.
A descrição do perfil do profissional e da formação inicial e permanente
da amostra (apêndice E: Artigo do estudo piloto) indicou que a faixa etária dos
treinadores de tênis é a preconizada pelos estudos relacionados à intervenção
de treinadores em outros países e de outras modalidades, apresentando em
sua experiência muitos anos de prática de tênis e bom nível de jogo. A
expertise adquirida pela prática parece dar suporte de intervenção para a
grande maioria dos treinadores, visto que a maior parte deles não tem
graduação em Educação física. A renda gerada pela profissão está, em sua
maioria, entre 3 e 10 vezes mais que a média da população ocupada do Brasil.
Do ponto de vista formativo, o piloto mostrou que a maioria dos treinadores de
tênis realizou sua formação inicial fora da aprendizagem formal em Ciências do
Esporte, fundamentando-se em aprendizagens informais e não-formais para
formar-se como treinador, ou ainda optando por aprendizagem formal em
outras áreas profissionais como Direito, Odontologia, Administração em
Comércio Exterior e Ciências Contábeis, áreas sem muita intersecção com o
esporte de rendimento.
Paralelamente ao encontrado em outros estudos, onde profissionais
manifestaram que a adequada competência para exercer a função de treinador
é aquela em que se encaixa no seu próprio perfil, este estudo evidenciou o
mesmo, com os profissionais que possuem graduação em Educação Física
salientando a importância da formação para a intervenção como treinador, e
com os provisionados percebendo que o nível médio do ensino regular é o
adequado para assumir a disciplinas específicas de tênis em encontros de
formação permanente.

137
APÊNDICE E – FORMAÇÃO INICIAL E PERMANENTE DE

TREINADORES DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO NO BRASIL:

ESTUDO PILOTO - ARTIGO DO ESTUDO PILOTO

138
FORMAÇÃO INICIAL E PERMANENTE DE TREINADORES DE TÊNIS DE
ALTO RENDIMENTO NO BRASIL: ESTUDO PILOTO

Marcelo Bittencourt Neiva de Lima


Alexandro Andrade

RESUMO

O objetivo deste estudo foi descrever o perfil do profissional e da formação inicial e


permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil. Participaram da
amostra 24 treinadores de tênis competitivo do estado de Santa Catarina, todos do
sexo masculino, com idades compreendidas entre 23 e 63 anos (38,58 ± 8,95 anos).
Foi utilizado como instrumentos de pesquisa o Questionário de Caracterização Geral
dos Treinadores de Tênis de Alto Rendimento e o “Questionário de Análise da
Formação Inicial e Permanente dos Treinadores de Tênis de Alto Rendimento”
(QUAFIPETAR) (LIMA e ANDRADE, 2011), validado para a língua portuguesa do
Brasil. Os dados foram tratados com estatística descritiva (valores médios, desvios
padrão e valores mínimos e máximos). Foi observado que a faixa etária dos
treinadores de tênis pesquisados é a adequada quando comparada aos estudos
relacionados à intervenção de treinadores em outros países e de outras modalidades,
apresentando em sua bagagem experimental muitos anos de prática de tênis e bom
nível de jogo. A expertise adquirida pela prática parece dar suporte de intervenção
para a grande maioria dos treinadores, visto que a maior parte deles não tem
graduação em Educação física. A renda gerada pela profissão está, em sua maioria,
entre 3 e 10 vezes mais que a média da população brasileira. Do ponto de vista
formativo, a pesquisa mostra que a maioria dos treinadores de tênis realizou sua
formação inicial fora da aprendizagem formal em Ciências do Esporte,
fundamentando-se em aprendizagens informais e não-formais para formar-se como
treinador, ou ainda optando por aprendizagem formal em outras áreas profissionais.
Os treinadores participam de atividades de formação permanente, mas identificam
limitações de participação por razões profissionais e pessoais, além de perceberem
falhas como atividades excessivamente estereotipadas e repetitivas. Com a
promulgação da Lei 9696/98, é importante que haja um alinhamento de interesse entre
o governo federal e as entidades do esporte, afim de que sejam elaborados planos de
curto e médio prazos para manter e, especialmente, elevar a quantidade e qualidade
dos treinadores que intervirão no tênis nacional.

Palavras-chave: Formação de treinadores, tênis, alto rendimento.

INTRODUÇÃO

Muitos estudos têm ratificado a importância da adequada formação

profissional de treinadores para a obtenção de bons resultados no processo de

treinamento e competição, além da importância da experiência que os


139
treinadores devem ter, independente da formação acadêmica realizada

(NORDMANN e SANDNER, 2009; JONES, 2006; SFARD, 1998; PIÉRON,

1993 e 1988; SIEDENTOP e ELDAR, 1989; BERLINER, 1986). A importância

da formação de treinadores é reconhecida pelos próprios treinadores como

fator fundamental para elevar a qualidade da prática profissional (VARGAS-

TONSING, 2007) e pelos pesquisadores, que sugerem que treinadores

melhores qualificados proporcionam formação esportiva mais apropriada e

enriquecida qualitativa e quantitativamente aos seus atletas (KIRK e GORELY,

2000). Neste anseio, o planejamento de um sistema de formação inicial e

permanente tem sido foco de estudo de algumas das maiores potências

mundiais do esporte, como a Alemanha e a Espanha (NORDMANN e

SANDNER, 2009; CRESPO, 2006; GARCÍA, 2001). Contrastando com a

formação de treinadores de tênis na Espanha, por exemplo, considerada uma

das maiores potências mundiais do tênis e uma das mais organizadas em

capacitação de treinadores (RODRIGUES et al; apud GARCÍA et al; 2003),

está a de treinadores de tênis no Brasil, que carece de um comprometido

engajamento dos treinadores nos sistemas nacionais de formação, seja no

Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP) da Confederação

Brasileira de Tênis (CBT) ou na graduação universitária. Em 2007, o

Departamento de Capacitação da CBT estimou que mil e quatrocentos

professores haviam passado pelos cursos de capacitação. Deste total, 700

estavam filiados ao Departamento de Capacitação. Estima-se que, no Brasil,

existam cerca de sete mil professores de tênis (KIST, 2011). Entretanto, dados

da CBT apontaram que somente 88 professores do Brasil graduaram-se no

SNGP até o segundo mês de 2011 (CBT, 2010).

140
No seu estudo de doutorado sobre a formação técnica de jovens tenistas

brasileiros, Balbinotti (2003) analisa que os processos de ensino e treinamento

utilizados e sustentados pelos treinadores nacionais não têm sido estudados

com a devida profundidade, de forma que, segundo García (2001), a lacuna

deixada pela falta de estudos neste campo tem relação direta com a baixa

apreensão científica das atividades desenvolvidas pelos treinadores de tênis.

Este aparente apoio no empirismo pressupõe uma menor qualificação formal

dos técnicos brasileiros de tênis, o que pode estar relacionado ao nível de

aproveitamento do potencial competitivo do tenista brasileiro no circuito

profissional. O panorama, de fato, é desfavorável para os tenistas brasileiros no

ranking mundial de tênis tanto no masculino, com 35 tenistas entre os mil

primeiros do ranking mundial de simples (ATP, 2010), como no feminino, com

19 atletas (WTA TOUR, 2010). Em comparação com as nações que mais se

destacam nos rankings mundiais, a Espanha, Estados Unidos e Argentina têm,

respectivamente, 62, 69 e 61 tenistas na ATP; na WTA a Espanha tem 35

tenistas, Estados Unidos 85 e Argentina 22 jogadoras. Se considerarmos os

100 primeiros, aqueles que disputam a chance de ser o número 1 do mundo, o

Brasil tem 2 tenistas em comparação com os 19 da Espanha, 13 dos Estados

Unidos e 9 da Argentina (ATP, 2010 e WTA, 2010). Considerando esse

panorama, observa-se que o país carece de estudo aprofundado da formação

dos treinadores de tênis que, segundo reforçam Knowles et al; (2005), poderá

determinar, no futuro, uma colaboração decisiva na determinação das

necessidades e prioridades de formação nos próprios cursos de formação.

A percepção de que o Brasil carece de mais treinadores de tênis com

formação adequada às necessidades do alto rendimento provém também de

141
atletas, qual é o caso de Thomaz Bellucci. Em uma notícia vinculada no jornal

Diário Catarinense, assim que rompeu com o último técnico, foi publicado o

seguinte: “[...] O rompimento ocorre dois dias depois de Bellucci dizer que

faltam técnicos competentes no Brasil [...] O tenista já foi comandado por três

treinadores” (BELLUCCI, 2010, p. 8).

Independentemente da baixa representatividade do Brasil no circuito

profissional mundial, alguns estudos e pesquisas voltadas para a metodologia

empregada no treinamento de tênis vêm sendo produzidas no país (KLERING,

2010; GARBIN, 2009; MOTTA, 2009; BALBINOTTI, 2008; 2004a; 2004b e

2003; COSTA e NASCIMENTO, 2004). Porém, não existem estudos brasileiros

que tratem sobre a formação de treinadores de tênis de alto nível, o que implica

na relevância de se investigar este tema no campo das ciências do esporte.

Essa perspectiva, entretanto, é bastante abordada por autores internacionais

(CRESPO, 2006, 2008; GARCÍA et al; 2003; GARCÍA, 2001; SIEDENTOP e

ELDAR, 1989), que propõe estudos de base para ratificação ou reorganização

do processo de formação de treinadores de tênis de alto rendimento. A

preocupação com a formação de treinadores de outras modalidades esportivas

é, entretanto, bastante estudada. O reconhecimento de que a qualidade da

intervenção do treinador tem implicações importantes para a formação

esportiva de atletas e para a obtenção dos melhores desempenhos esportivos,

tem estimulado alguns países a desenvolver seus próprios programas de

certificação ou educação formal de treinadores, como pressupõe os estudos de

Nordmann e Sandner (2009), Lemyre et al; (2007), Vargas-Tonsing (2007) e

Wright et al; (2007), Côté (2006), Cushion et al; (2003), Cushion e Jones

(2001), McCallister et al; (2000), Woodman (1993) e Gould et al; (1990), os

142
quais apontam características comuns em sua estrutura e são oferecidos por

uma gama de instituições, como universidades, associações profissionais,

institutos, conselhos e federações esportivas, por exemplo (NORDMANN e

SANDER, 2009; WRIGHT et al; 2007 e TRUDEL e GILBERT, 2006). A

importância do processo de formação de treinadores observado nos estudos

internacionais sugere que a investigação também seja realizada com os

treinadores brasileiros, afim de melhor compreender o fenômeno no país. No

momento em que se reconhece e admite, pela crítica metodológica de

investigação do ensino, que a conduta dos treinadores não é o único critério de

eficácia pedagógica, o pensamento deles se mostra como um objeto de estudo

relevante, com um potencial significativo, que necessita de novas técnicas e

metodologias que nos permitam seguir avançando nos estudos sobre os

processos de melhora e aperfeiçoamento dos treinadores em seus diferentes

períodos de formação (RAMOS, 1999).

Para tanto, o objetivo deste estudo foi descrever o perfil do profissional e

da formação inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento

no Brasil.

MÉTODO

Este estudo caracteriza-se como descritivo e exploratório, utilizando a

abordagem quantitativa para análise de dados (THOMAS e NELSON, 2002;

CERVO e BERVIAN, 1983), e teve como amostra 24 treinadores de tênis

competitivo do estado de Santa Catarina, todos do sexo masculino, com idades

compreendidas entre 23 e 63 anos (38,58 ± 8,95 anos). A amostra foi

selecionada de forma não-probabilística intencional (THOMAS e NELSON,


143
2002). Somente participaram do estudo os treinadores que assinaram o Termo

de Consentimento livre e Esclarecido, de acordo com o protocolo de aprovação

do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres

Humanos (CEP) da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC,

registrado sob o nº 147/2010.

Como instrumentos de pesquisa foram utilizados o Questionário de

Caracterização Geral dos Treinadores de Tênis de Alto Rendimento e o

“Questionário de Análise da Formação Inicial e Permanente dos Treinadores de

Tênis de Alto Rendimento” (QUAFIPETAR) (LIMA e ANDRADE, 2011),

traduzido, adaptado de García (2001) e validado para a língua portuguesa do

Brasil.

O Questionário de Caracterização Geral dos Treinadores de Tênis de

Alto Rendimento teve por objetivo apresentar características pessoais

relevantes para o estudo, como idade, sexo, melhor ranking na ATP e WTA de

um(a) tenista que tenha treinado, ano do melhor ranking do seu(sua) atleta,

condições profissionais gerais, entre outros.

O QUAFIPETAR é um instrumento estruturado quantitativo que visa

investigar a formação inicial e permanente de treinadores de tênis de alto

rendimento. O questionário passou por processo de adaptação, testagem e

validação para a língua portuguesa do Brasil pelos critérios de clareza, de

validade de conteúdo aparente e fidedignidade (com valor alpha (α) de

Cronbach de 0,84). É composto por 35 questões, sendo abertas, fechadas e,

entre estas, com algumas questões utilizando uma escala Likert de 5 pontos (1

= absolutamente em desacordo, 2 = em desacordo, 3 = indiferente, 4 = de

acordo, e 5 = absolutamente de acordo).

144
O preenchimento do instrumento pelos treinadores aconteceu em um

evento promovido pela Federação Catarinense de Tênis (FCT), em Itajaí (SC),

sob a autorização prévia do presidente da federação. O evento foi realizado

das 9h às 12h e das 14h às 16h; ao final do encontro, todos os participantes

foram informados sobre o estudo, sua relevância e de que forma poderiam

contribuir para a pesquisa. Antes do preenchimento do instrumento foi

esclarecido à todos que a participação era voluntária e não obrigatória.

Os dados foram tratados com estatística descritiva (valores médios,

desvios padrão e valores mínimos e máximos) e inferencial. As relações entre

as variáveis do estudo foram verificadas através da correlação de Spearman.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O grupo que participou do estudo foi composto por 24 treinadores de

tênis competitivo do estado de Santa Catarina, todos do sexo masculino, 88,2%

de etnia branca e 11,8% negra, com média de idade de 38,58 ± 8,95 anos,

experientes como tenistas (27,79 ± 11,10 anos) e como treinadores de tênis

(17 ± 9,22 anos) (tabela 1).

Tabela 1: Características gerais dos treinadores de tênis de alto rendimento


(idade, estatura, peso, rankings dos melhores atletas treinados, tempo de
prática de tênis e tempo como treinador de tênis).

N x DP Mínimo Máximo
Idade (anos) 24 38.58 8.95 23 63

Melhor ranking da ATP de atleta profissional que foi 9 621.78 512.20 26 1300
treinador
Melhor ranking da WTA de atleta profissional que foi 3 202.67 110.82 128 330
treinador
Ano em que o atleta atingiu o melhor ranking 9 2001 8.37 1986 2010
Tempo de prática de tênis (anos) 24 27.79 11.10 8 57
Tempo de prática (anos) como treinador de tênis 23 17 9.22 2 40

Onde: x representa a média e DP o desvio-padrão.

145
Devido à importância dos treinadores apresentarem maturidade,

experiência e conhecimentos sobre as diversas variáveis do treinamento

desportivo, a idade com que os treinadores iniciam a carreira profissional tem

sido estudada por alguns autores (REZENDE, 2009 e IBAÑES et al; 1997). As

distribuições da idade encontradas neste estudo são aproximadamente

normais e que existe apenas um escore atípico na variável (63 anos) (gráfico

1).

Gráfico 1. Distribuição da idade dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil,


organizadas por classes de 5 anos.

Os resultados da idade dos treinadores investigados estão dentro de

uma faixa indicada como ideal, segundo os estudos de Rezende (2009) e

Ibañes et al; (1997), que tratam sobre a idade mínima para ascender à carreira

de treinador (18 e 16 anos, respectivamente). O consenso dos autores sobre a

idade reside na necessidade de maturidade e domínio de diferentes áreas de

intervenção. A distribuição de idade dos treinadores de tênis de alto rendimento

no Brasil mostrou-se parecida com a encontrada nos estudos de García (2001

e 2003), onde 50% correspondiam a treinadores espanhóis de tênis de alto

rendimento entre 26 e 35 anos e 35% entre 36 e 45 anos, ou seja, 85%


146
concentram-se entre 26 e 45 anos. A distribuição apresentada no gráfico 1,

com grande parte dos treinadores nas faixas etárias mais jovens, pode estar

relacionada ao impacto do fenômeno causado pelo tenista Gustavo Kuerten no

Brasil entre os anos de 1997 e 2007, influenciando na tomada de decisão dos

profissionais para o mercado de treinamento de tênis.

Dos 24 treinadores, onze treinaram atletas ranqueados entre 26 e

1300 na ATP ou WTA, oito afirmaram que nenhum dos seus atletas marcou

pontos nos rankings profissionais e cinco deles não responderam sobre a

questão. Dos treinadores, 83,3% trabalham somente com tênis, não exercendo

nenhuma outra função profissional, enquanto que metade dos 16,7% restantes

trabalha na área comercial e a outra metade em funções relacionadas com o

tênis.

Um importante fator de satisfação profissional é a renda média mensal

do treinador de tênis de alto rendimento (gráfico 2), e seu estudo pode revelar

o posicionamento aproximado do profissional no estrato sócio-demográfico

brasileiro (ABEP, 2011).

41,7
45
% dos treinadores

40 29,2
35
30
25 16,7
20 8,3
15 4,2
10
5
0
Até 3 salários 3 a 6 SM 7 a 10 SM Mais de 10 Não
mínimos (SM) SM responderam

Salários Mínimos (SM)

Gráfico 2. Distribuição de renda pessoal mensal obtida como treinador de tênis no


Brasil.

147
A renda média mensal dos treinadores investigados é de até 3 salários

mínimos (SM) para 8,3% dos treinadores, 3 a 6 SM para 29,2%, 7 a 10 SM

para 41,7% e mais de 10 SM para 16,7% dos profissionais. A média da

remuneração mensal dos treinadores de tênis apresentou-se

consideravelmente maior que a média do rendimento mensal médio dos

brasileiros ocupados que, segundo o IBGE (2011) é de pouco mais de um

salário mínimo, com variações regionais entre R$631,20 no sudeste e de

R$314,70 no nordeste.

O nível de jogo dos treinadores de tênis, com base nos critérios da CBT,

é um elemento muito valorizado nas suas carreiras e é importante para formar

o treinador quanto à sua condição de professor. Muita importância tem sido

atribuída à habilidade do treinador na prática do esporte em que intervém

(ISIDRO, 2009 e BERLINDER, 2000) (gráfico 3).

70,8
80
% dos treinadores

60

40
16,7
20 4,2 4,2 4,2

0
Profissional Primeira Segunda Terceira Nenhuma
(pontos na classe classe classe
ATP ou
WTA)
Nível de jogo

Gráfico 3. Nível de jogo dos treinadores de tênis investigados de acordo com a


classificação na Confederação Brasileira de Tênis.

Com relação ao nível de jogo do treinador enquanto tenista, observou-se

que 87,5% deles jogou torneios no mais alto nível federativo do país e, ainda,

8,4% teve experiência na segunda e terceira classe, que representa um nível

satisfatório de experiência ao professor. O perfil geral do nível de jogo dos


148
treinadores aponta para uma ampla experiência com a prática dos

fundamentos técnicos e táticos do jogo.

Devido ao significativo aumento de importância que o esporte vem

adquirindo na sociedade atual, a formação de treinadores desportivos tem sido

recentemente alvo crescente de pesquisas (ABRAHAM e COLLINS, 1998;

CASSIDY, 2009; JONES et al; 2004; CÔTÉ, 1998; GILBERT, 2002). A

importância da formação inicial dos treinadores de tênis de alto rendimento,

seja ela pelas vias de aprendizagem informal, não-formal ou formal (NELSON

et al; 2006), torna fundamental a análise de resultados em estudos como este.

O primeiro importante resultado a ser observado é o perfil da formação dos

treinadores de tênis em cursos de graduação em Educação Física,

considerando que este curso é o que corresponde à regulamentada

intervenção do profissional no treinamento desportivo brasileiro e àquele que

aborda cientificamente os aspectos relacionados com as Ciências do Esporte.

Apenas uma pequena parte dos treinadores de tênis de alto rendimento

(22,7%) apresentou formação no curso de Educação Física (tabela 2).

Tabela 2: Graduação dos treinadores de tênis de alto rendimento em cursos de


Educação Física/Ciências do Esporte.

%
Graduação N %
acumulado
Especialização 1 4,5 4,5
Licenciatura 1 4,5 9,1
Bacharelado 2 9,1 18,2
Licenciatura e Bacharelado 1 4,5 22,7
Ensino Médio 8 36,4 -
Nenhum dos anteriores 9 40,9 -

149
Dos treinadores de tênis de alto rendimento que se formaram em

Educação Física, a maior graduação encontrada foi a especialização (4,5%).

Os provisionados em tênis corresponderam a 77,3% dos treinadores.

O baixo percentual de treinadores com graduação na área da Educação

Física e Esportes preocupa, pois, segundo Cassidy et al; (2009), boa parte da

maestria profissional provém da aquisição de competências num período de

formação educativa. Igualmente, Moreira apud Isidro (2009) indica que os

treinadores que possuem uma formação superior em Educação Física

apresentam uma noção mais aproximada das exigências de conhecimento

teórico que não se adquire apenas da experiência da prática, ou nos cursos de

aprendizagem formal iniciais.

Considerando a importância da formação dos treinadores no curso de

Educação Física (CASSIDY et al; 2009 e ISIDRO, 2009), que os forneceria

uma noção mais aproximada das exigências de conhecimento teórico que não

se adquire apenas da experiência da prática, os resultados referentes ao perfil

de formação inicial dos treinadores pela aprendizagem formal em cursos

superiores não-relacionados com as Ciências do Esporte tornam-se

importantes (tabela 3).

Tabela 3: Descrição das características de formação inicial dos treinadores de


tênis de alto rendimento em áreas diferentes da graduação em Educação
Física.

%
Graduação N %
acumulado
Especialização 1 4,4 4,4
Bacharelado 3 13,0 17,4
Licenciatura e Bacharelado 8 34,8 52,2
Ensino Médio 8 34,8 -
Nenhum dos anteriores 3 13,0 -

150
Os resultados do perfil de formação inicial também apontam que 52,2%

dos treinadores formaram-se no nível superior em áreas não relacionadas com

as Ciências do Esporte, como Economia, Administração em Comércio Exterior,

Odontologia e Bacharelado em Direito.

A importância da especialização para a qualidade de intervenção

profissional preconizada pelo estudo de Isidro (2009) levanta a importância de

debate para os dados encontrados nesta pesquisa, onde 52,2% dos

treinadores tênis apresentaram nível superior em áreas não relacionadas com

as Ciências da Atividade Física e Esportes, enquanto que somente 22,7%

deles apresentaram nível superior em Educação Física; a especialização dos

profissionais do tênis parece estar sendo realizada em áreas não relacionadas

com a prática de intervenção do treinador. Em um estudo sobre as condições

de acesso à formação de treinadores em Portugal, Isidro (2009) manifestou

dados em que os treinadores com outras formações que não em Educação

Física consideraram mais importante a obtenção de uma formação acadêmica

qualquer para acessarem à condição de treinadores, enquanto que os com

formação superior em Educação Física enalteceram a importância de se obter

formação específica em Educação Física para exercer a função de treinador.

A adesão de treinadores em sistemas de formação tem sido estudada

em vários países, com Alemanha, Estados Unidos e Espanha através de

estudos como o de Nordmann e Sandner (2009), Crespo (2006), García (2001)

e Siedentop e Eldar (1989). Neste estudo, pode-se verificar que grande parte

dos treinadores de tênis vinculou-se ao sistema de graduação oficial da

Confederação Brasileira de Tênis (tabela 4), a fim de certificarem-se no

Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP) da CBT.

151
Tabela 4: Características de certificação dos treinadores de tênis de alto
rendimento pelo Sistema Nacional de Graduação Profissional (SNGP) da CBT

%
Graduação N %
acumulado
Instrutor 1 4,2 4,2
Treinador 6 25,0 29,2
Treinador Nacional 3 12,5 41,7
Técnico Nacional 3 12,5 54,2
Técnico Master 4 16,7 70,8
Nenhum desses 4 16,7 -
Outro 3 12,5 -

Onde: Instrutor representa a menor graduação do sistema e Técnico Master representa a maior.

Com relação à formação não-formal (NELSON et al; 2006) realizada


pelos treinadores nos cursos da Confederação Brasileira de Tênis (CBT),
observamos que apenas 29,2% dos treinadores da amostra não faziam parte
do quadro de formação da CBT, pelo Sistema Nacional de Graduação
Profissional (SNGP) da Confederação. Entre os treinadores investigados,
70,8% fazem parte do sistema, contrapondo os dados encontrados na CBT,
onde somente 88 professores do Brasil graduaram-se no SNGP até o segundo
mês de 2011 (CBT, 2010), em um universo estimado em cerca de sete mil
professores de tênis (KIST, 2011).
Grande parte dos treinadores de tênis (65%) avaliou que o profissional
provisionado em tênis preenche aos requisitos mínimos que um professor deve
ter para ministrar uma disciplina de tênis em cursos de formação de treinadores
(gráfico 4).

65,0
80
60 10,0 20,0
treinadores

40 5,0
20
0
% dos

Mestre em CE Especialista em Graduado em CEProvisionado em


CE áreas da
Educação Física
Titulação mínima do professor responsável pelas disciplinas de tênis do curso de treinadores de tênis

Gráfico 4. Titulação necessária do professor responsável pelas disciplinas de tênis


do curso de treinadores de tênis, relacionada com as Ciências do Esporte.
152
Na Espanha, dentro da diversidade de opinião mostrada pelos

treinadores espanhóis de alto rendimento sobre esta questão, a maioria deles

(60%) acredita que o professor deve ter, pelo menos, graduação, mestrado ou

doutorado em Educação Física ou Ciências do Esporte (GARCÍA, 2001).

A qualidade das atividades de formação permanente ofertada aos

treinadores de tênis de alto rendimento é um fator bastante importante na

construção de um panorama favorável à participação dos treinadores de tênis

nessas atividades, de forma que sua avaliação se torna relevante (gráfico 5).

Percepção dos treinadores investigados sobre a qualidade das


atividades de formaçãopermanente oferecidas aos treinadores de tênis

5,3
Péssimo
42,1 26,3 Ruim
Regular
26,3 Boa

Gráfico 5. Percepção dos treinadores investigados sobre a qualidade das


atividades de formação permanente oferecidas aos treinadores de tênis.

Quanto ao processo de formação permanente dos treinadores, em

especial pelos caracterizados pela aprendizagem não-formal de Nelson et al.

(2006) (participação em cursos, congressos, palestras, entre outros), cerca de

dois terços dos treinadores investigados aprova a qualidade das atividades de

formação permanente oferecidas (68,4%), enquanto que um terço dos

treinadores avaliam que ainda tem que melhorar. Os treinadores de tênis

brasileiros parecem não ser tão críticos quanto os treinadores espanhóis de

alto rendimento, pois 75% deles avaliaram que as atividades de formação

permanente na Espanha podem melhorar de alguma forma (GARCÍA, 2001).


153
Além da qualidade das atividades de formação permanente, outro fator

tem bastante importância no processo de aquisição de conhecimentos para o

treinador de tênis: a frequência nas atividades de formação permanente

(gráfico 6).

Grau de participação dos treinadores de tênis


em atividades de formação permanente

5,3 Muito escasso

10,5 Normal
Elevado
42,1
42,1 Muito elevado

Gráfico 6. Grau de participação dos treinadores de tênis em atividades de


formação permanente

Grande parte dos treinadores participa continuamente de atividades de

formação permanente, exceto 5,3% deles, que manifestaram escassa

frequência em eventos desta natureza. Os resultados diferem da realidade

espanhola, onde 70% dos treinadores espanhóis de tênis de alto rendimento

manifestaram participar pouco ou muito pouco de atividades de formação

permanente (GARCÍA, 2011). Os problemas gerados pela baixa frequência em

eventos desta natureza são a baixa reciclagem do conhecimento de tênis e a

falta de oportunidades para troca de experiência entre treinadores, que por

vezes não têm tanta abertura como naquela ocasião para relacionar-se e trocar

experiências com outros treinadores.

Alguns fatores podem estar relacionados com a impossibilidade dos

treinadores de tênis de alto rendimento frequentarem atividades de formação

permanente (gráfico 7).

154
Fatores limitantes para a participação dos treinadores de tênis
em atividades de formação permanente

35,0 20,0

Dificuldades econômicas
45,0 Ocupações e responsabilidades familiares
Não poder deixar de atender ao seu trabalho
%

Gráfico 7. Fatores limitantes para a participação dos treinadores de tênis em


atividades de formação permanente no Brasil na percepção dos treinadores
investigados

A rotina de trabalho e as ocupações e responsabilidades familiares

ocuparam a maior parte da responsabilidade em não permitir ao treinador

participar de atividades de formação permanente conforme apreciado. O tempo

extra dispendido em atividades desta natureza parece ser um importante fator

limitador, visto que afasta o profissional das suas obrigações familiares.

Os principais problemas das atividades de formação permanente

ofertadas podem representar fatores importantes para a ausência de parte dos

treinadores de tênis dessas atividades (Gráfico 8).

Percepção dos treinadores sobre os principais problemas na oferta de atividades de


formação permanente

22,2 16,7

5,6 11,1

44,4
%

Escassa existência de atividades com rigor científico promovidas pelos órgãos federativos
Escassa adaptação das atividades de índole científica às necessidades e nível de compreensão dos treinadores
Atividades excessivamente estereotipadas (parecidas, monótonas, repetição de conteúdos)
Atividades pouco motivantes
Número insuficiente de atividades de aplicação prática

Gráfico 8. Percepção dos treinadores sobre os principais problemas na oferta de


atividades de formação permanente no Brasil.
155
A rotina didática, prática e teórica dos eventos de formação permanente

parecem corresponder a grande parte entre os principais problemas na oferta

das atividades, com 44,4% da opinião dos treinadores de tênis. 22,2%

declararam que um número insuficiente de atividades ministradas têm

aplicação prática na rotina de trabalho; 16,7% consideram que são escassas as

atividades com rigor científico adotadas nos cursos, e 11,1% consideram que

os conteúdos científicos não são passados para os treinadores de forma clara

e objetiva. Ainda entre os principais problemas, 5,6% declararam que as

atividades são pouco motivantes.

CONCLUSÕES

A descrição do perfil do profissional dos treinadores de tênis de alto

rendimento no Brasil indicou que a faixa etária dos treinadores de tênis é a

adequada quando comparada aos estudos relacionados à intervenção de

treinadores em outros países e de outras modalidades, apresentando em sua

bagagem experimental muitos anos de prática de tênis e bom nível de jogo. A

maioria dos treinadores tem média de renda familiar entre 3 e 10 vezes maior

que a média da população ocupada do Brasil.

O estudo mostrou que a maioria dos treinadores de tênis realizou sua

formação inicial fora da aprendizagem formal do curso de Educação Física,

fundamentando sua aprendizagem pelas vias informais, e em atividades não-

formais para tornarem-se treinadores, ou ainda optando por aprendizagem

formal em outras áreas profissionais como Direito, Odontologia, Administração

156
em Comércio Exterior e Ciências Contábeis, áreas sem muita intersecção com

o esporte de rendimento.

Observou-se que grande parte dos treinadores participa frequentemente

de atividades de formação permanente. Paralelamente, foi observado que a

rotina de trabalho e as ocupações e responsabilidades familiares ocuparam a

maior parte da responsabilidade em não permitir ao treinador participar de

atividades de formação permanente conforme idealizado. Ao fim, observou-se

que um dos grandes problemas na frequência de treinadores em atividades de

formação permanente são as atividades excessivamente repetidas e

monótonas que são atualmente ministradas.

A partir dos resultados e considerações, é possível elaborar estratégias

de intervenção que atendam as necessidades dos treinadores de tênis de alto

rendimento no seu processo de formação inicial e permanente; é importante

que haja uma ampla discussão sobre o perfil do treinador ideal, para que a

partir disso um sistema nacional se aproprie do processo de construção do

treinador de tênis, e com isso se repliquem os novos campeões de tênis do

Brasil. Esperamos que novos “Gugas” floresçam de um sistema, em vez de

uma obra de sucesso do acaso.

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161
APÊNDICE F – VALIDAÇÃO DO QUESTIONÁRIO

“QUAFIPETAR” PARA ANÁLISE DA FORMAÇÃO INICIAL E

PERMANENTE DE TREINADORES DE TÊNIS DE ALTO

RENDIMENTO NO BRASIL – ARTIGO DE VALIDAÇÃO

162
VALIDAÇÃO DO QUESTIONÁRIO “QUAFIPETAR” PARA ANÁLISE DA
FORMAÇÃO INICIAL E PERMANENTE DE TREINADORES DE TÊNIS DE
ALTO RENDIMENTO NO BRASIL

Marcelo Bittencourt Neiva de Lima


Alexandro Andrade

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi validar o Questionário de Análise da Formação Inicial e


Permanente dos Treinadores de Tênis de Alto Rendimento (QUAFIPETAR), baseado
e adaptado de García (2001). A amostra foi composta de 31 treinadores brasileiros de
tênis de alto rendimento que estivessem em atividade e que tivessem treinado algum
tenista infanto-juvenil ou profissional de nível competitivo nacional ou internacional;
todos os sujeitos foram do gênero masculino. O QUAFIPETAR visa avaliar o perfil da
formação inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil e
é composto de 32 questões divididas nas seguintes dimensões: formação inicial,
formação permanente e formação geral. Para o processo de validação do
QUAFIPETAR utilizou-se a tradução e retrotradução (back translation) com adaptação
transcultural, validação pelos critérios de clareza, de validade de conteúdo, validade
de construto, fidedignidade pela análise da consistência interna (coeficiente alpha de
Cronbach) e a análise fatorial confirmatória. Os resultados da análise de confiabilidade
geral do QUAFIPETAR (α=0,87) e de suas dimensões foram considerados adequados
segundo a literatura, sendo todos os valores do índice alpha de Cronbach superiores a
0,70, exceto o da formação inicial, com α=0,56. A validade de clareza da tradução
apresentou índice geral de 0,92±0,06 e a validade de conteúdo aparente 0,90±0,07.
Assim, pode-se concluir que a avaliação do perfil da formação inicial e permanente
dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil como QUAFIPETAR é válida e
confiável.

Palavras-chave: Formação de treinadores, tênis, alto rendimento.

INTRODUÇÃO

Alguns estudos e pesquisas voltadas para a metodologia empregada no

treinamento de tênis vêm sendo produzidas no Brasil (KLERING, 2010;

GARBIN, 2009; MOTTA, 2009; BALBINOTTI, 2008; 2004a; 2004b e 2003;

COSTA e NASCIMENTO, 2004). Por outro lado, não existem estudos

brasileiros que tratem sobre a formação de treinadores de tênis de alto nível, o

que implica na relevância de se investigar este tema no campo das ciências do

esporte. Essa perspectiva, entretanto, é abordada por autores internacionais


163
(CRESPO, 2006, 2008; GARCÍA et al; 2003; GARCÍA, 2001; SIEDENTOP e

ELDAR, 1989), que propõe estudos de base para ratificação ou reorganização

do processo de formação de treinadores de tênis de alto rendimento. Apesar do

estudo dos programas de formação de treinadores dos diversos esportes se

encontrar em franco desenvolvimento nos últimos 30 anos (GILBERT e

TRUDEL, 1999), a investigação existente nessa área é ainda escassa.

Segundo Isidro (2009), em um estudo de Gilbert (2002) realizado durante o

período de 1970 e 2001, apenas 24 de um total de 661 estudos (3,9%)

relacionados com os treinadores foram desenvolvidos na área da formação.

Segundo a autora, a maioria dos estudos centrados na formação dos

treinadores caracterizava-se não só por uma dispersão como também pela falta

de robustez de um modelo teórico (LYLE, 2002). O reconhecimento de que a

qualidade da intervenção do treinador tem implicações importantes para a

formação esportiva de atletas e para a obtenção dos melhores desempenhos

esportivos tem estimulado alguns países a desenvolver seus próprios

programas de certificação, ou educação formal de treinadores, como

pressupõe os estudos de Nordmann e Sandner (2009), Lemyre et al; (2007),

Vargas-Tonsing (2007) e Wright et al; (2007), Côté (2006), Cushion et al;

(2003), Cushion e Jones (2001), McCallister et al; (2000), Woodman (1993) e

Gould et al; (1990), os quais apontam características comuns em sua estrutura

e são oferecidos por uma gama de instituições, como por exemplo

universidades, associações profissionais, institutos, conselhos e federações

esportivas (NORDMANN e SANDER, 2009; WRIGHT et al; 2007 e TRUDEL e

GILBERT, 2006). A importância do processo de formação de treinadores

observado nos estudos internacionais sugere que a investigação também seja

164
realizada com os treinadores brasileiros, afim de melhor compreender o

fenômeno no país. No momento em que se reconhece e admite, pela crítica

metodológica de investigação do ensino, que a conduta dos treinadores não é

o único critério de eficácia pedagógica, o pensamento deles se mostra como

um objeto de estudo relevante, com um potencial significativo, que necessita de

novas técnicas e metodologias que nos permitam seguir avançando nos

estudos sobre os processos de melhora e aperfeiçoamento dos treinadores em

seus diferentes períodos de formação (RAMOS, 1999).

Na Espanha, um estudo de doutorado foi realizado por García (2001),

onde se buscou investigar a formação inicial e permanente dos treinadores de

tênis espanhóis de alto rendimento, criando e validando instrumentos para esta

análise. No Brasil, entretanto, não há sequer um instrumento que permita a

avaliação da formação inicial e permanente dos treinadores de tênis no país.

Em consideração à potência que representa a Espanha no tênis internacional e

ao grau de especificidade do estudo de García (2001), o instrumento validado,

sem denominação específica, surge como uma referência de base para a

construção de um novo questionário. Neste estudo, o novo instrumento foi

intitulado Questionário para Análise da Formação Inicial e Permanente de

Treinadores de Tênis de Alto Rendimento (QUAFIPETAR). Para tanto, o

objetivo deste estudo foi validar o QUAFIPETAR para a língua portuguesa

brasileira, pelos critérios de clareza, de validade de conteúdo, validade de

construto e fidedignidade.

165
MÉTODO

Este estudo caracteriza-se como descritivo e exploratório, utilizando a

abordagem quantitativa para análise de dados (THOMAS e NELSON, 2002;

CERVO e BERVIAN, 1983). Participaram da amostra 31 treinadores brasileiros

de tênis de alto rendimento dos estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro,

Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Ceará e Amazonas, todos

do sexo masculino. Somente participaram os treinadores que estavam em

atividade e que tivessem treinado algum tenista infanto-juvenil ou profissional

de nível competitivo nacional ou internacional. A quantidade (n da amostra)

atende ao mínimo de 5 sujeitos para cada fator da dimensão do construto para

a validação, proposta por Bryman e Cramer (2003). Os treinadores

investigados têm idades compreendidas entre 23 e 63 anos (36,52 anos ±

9,09), com experiência de 25,13 anos ± 11,30 como tenistas e de 15,30 anos ±

8,90 como treinadores de tênis, com uma amplitude de experiência entre 2 e 40

anos. A amostra foi selecionada de forma não-probabilística intencional e por

conveniência (THOMAS e NELSON, 2002) e somente participaram do estudo

os treinadores que assinaram o Termo de Consentimento livre e Esclarecido,

de acordo com o protocolo de aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê

de Ética em Pesquisas com Seres Humanos (CEP) da Universidade do Estado

de Santa Catarina – UDESC, registrado sob o nº 147/2010.

Foram utilizados como instrumentos de pesquisa: 1) Questionário de

Caracterização Geral dos Treinadores de Tênis de Alto Rendimento; e 2)

Questionário de Análise da Formação Inicial e Permanente dos Treinadores de

Tênis de Alto Rendimento (QUAFIPETAR) (LIMA e ANDRADE, 2011), baseado

166
e adaptado de García (2001). O Questionário de Caracterização Geral dos

Treinadores de Tênis de Alto Rendimento teve por objetivo apresentar

características pessoais relevantes para o estudo, como idade, sexo, condições

profissionais gerais, entre outros. O questionário de análise da formação inicial

e permanente dos treinadores de tênis espanhóis de alto rendimento de García

(2001) é um instrumento estruturado quantitativo que visa investigar a

formação inicial e permanente de treinadores de tênis de alto rendimento.. É

composto por 35 questões, sendo abertas, fechadas e, entre estas, com

algumas questões utilizando uma escala Likert de 5 pontos (1 = absolutamente

em desacordo, 2 = em desacordo, 3 = indiferente, 4 = de acordo, e 5 =

absolutamente de acordo). Este questionário passou por processo de tradução

e retrotradução, adaptação transcultural, testagem e validação para a língua

portuguesa do Brasil pelos critérios de clareza, de validade de conteúdo

aparente e fidedignidade.

A coleta de dados foi realizada com os treinadores de tênis da amostra

em competições juvenis e profissionais e nas academias e clubes de tênis, nas

cidades de Itajaí (Banana Bowl – torneio internacional), Joinville (Circuito

UNIMED de Tênis – torneio nacional) e Florianópolis (SC), nos meses de

janeiro e fevereiro de 2011. A abordagem para a coleta de dados precedeu, no

mínimo, uma hora antes ou depois de uma intervenção profissional com

tenistas, com o pesquisador orientando sobre os objetivos do estudo e

esclarecendo quanto aos procedimentos de coleta dos dados. A coleta foi

realizada com os treinadores mediante aplicação direta do QUAFIPETAR pelo

pesquisador.

167
A tradução e adaptação transcultural do questionário quantitativo de

García (2001) para a análise da formação inicial e permanente de treinadores

de alto rendimento foi realizada seguindo a metodologia proposta por Nóbrega

e Gutiérrez (2000), com uma modificação que consistiu na inclusão da etapa de

tradução proposta por Beaton et al; (2000). Assim, este estudo foi desenvolvido

aplicando-se as seguintes etapas metodológicas: Primeira etapa: tradução do

questionário quantitativo de García (2001) para a língua portuguesa do Brasil

por dois tradutores independentes. Segunda etapa: back-translation, em que foi

realizada a retro tradução ao idioma de origem, ou seja, o espanhol, por um

treinador de tênis chileno, com experiência de moradia na Espanha por 6 anos.

Terceira etapa: avaliação da back-translation por um grupo de dois experts em

tênis com domínio das línguas portuguesa e espanhola. Quarta etapa:

verificação da equivalência semântica da versão em português do instrumento

QUAFIPETAR. Após esse processo, o questionário passou por correções,

adições e subtrações de elementos textuais das questões e itens, que se

justificavam pela adaptação à realidade cultural do tênis brasileiro e do

processo de formação inicial e permanente específico do treinador de tênis no

Brasil.

A validade de clareza de cada item do questionário QUAFIPETAR foi

verificada mediante a frequência percentual para cada uma das três

possibilidades de resposta (“Totalmente Clara”, “Moderadamente Clara” e

“Nada Clara”), considerando índice mínimo para aprovação os valores iguais

ou superiores a 0,8 (80%). O mesmo foi verificado para a validade de conteúdo

do QUAFIPETAR, porém sob as possibilidades de resposta “Totalmente

Válida”, “Moderadamente Válida” e “Nada Válida”.

168
A confiabilidade da escala foi avaliada através da consistência interna,

verificada por meio do coeficiente Alpha de Cronbach.

Considerando a natureza do instrumento QUAFIPETAR, a validade de

construto, avaliada pela análise dimensional, foi realizada por validação

confirmatória pelo julgamento de uma comissão de cinco doutores

pesquisadores da área da Educação Física com conhecimento na área de

formação de treinadores. Essa avaliação permitiu verificar o quanto as

questões estão relacionadas às dimensões e aos conceitos teóricos que a

fundamentam. Uma testagem prévia de análise fatorial foi realizada pelo teste

de Análise Fatorial Exploratória com rotação varimax, mas não foi utilizada em

virtude de falha estatística na sua testagem pelas diferenças escalares entre as

32 questões do QUAFIPETAR.

A análise estatística descritiva foi realizada através do pacote estatístico

SPSS (Statistical Package to Social Sciences for Windows) - versão 17.0

(quadro 1).

Quadro 1. Testes estatísticos utilizados para a validação do QUAFIPETAR.

Análise Testes

Consistência Interna Alpha de Cronbach

Análise de Fatores* Análise Fatorial Exploratória com rotação Varimax*

* Uma testagem prévia de análise fatorial foi realizada pelo teste de Análise Fatorial Exploratória com
rotação varimax, mas não foi utilizada em virtude da inadequação dos diferentes níveis usados na escala
com relação às exigências estatísticas que permitissem a realização da análise. Para suprir a
necessidade de análise dimensional do instrumento, foi utilizada a análise confirmatória com doutores
especialistas.

169
RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da tradução e retrotradução (back translation) da escala e

posterior avaliação pelo grupo de experts identificou-se equivalência semântica

com os instrumentos originais.

A validação de clareza e de conteúdo do Questionário de Avaliação da

Formação Inicial e Permanente de Treinadores de Tênis de Alto Rendimento

(QUAFIPETAR) fez parte do primeiro processo de validação, perfazendo um

momento importante, visto que os resultados obtidos nesta etapa culminaram

com a avaliação da versão final do instrumento para a língua portuguesa do

Brasil.

Após a realização das coletas, os questionários foram analisados

individualmente para se verificar falhas no preenchimento e considerar sobre

as dúvidas e sugestões dos sujeitos. Nenhum deles comunicou falha no

instrumento que justificasse a exclusão de questões e algumas sugestões

foram acrescentadas para a maior clareza do instrumento final.

O cálculo do índice de clareza das questões e do QUAFIPETAR

completo compreendeu uma importante etapa da validação do instrumento

(tabela 1).

170
Tabela 1 – Índices de “validade – clareza” das questões do QUAFIPETAR
(LIMA e ANDRADE, 2011).
Questão Índice Questão Índice
Q1 1,00 Q18 0,95
Q2 1,00 Q19 0,92
Q3 1,00 Q20 0,93
Q4 0,98 Q21 0,96
Q5 0,97 Q22 0,94
Q6 0,93 Q23 0,96
Q7 0,82 Q24 0,85
Q8 0,86 Q25 0,92
Q9 0,80 Q26 0,92
Q10 0,86 Q27 0,98
Q11 0,84 Q28 0,91
Q12 0,86 Q29 0,86
Q13 0,97 Q30 0,93
Q14 0,94 Q31 0,90
Q15 0,96 Q32 0,88
Q16 0,92 Q33 0,78
Q17 0,96
*Média geral da validade de clareza do instrumento: 0,92 ± 0,06.

Todas as questões apresentaram índices de clareza satisfatórios (acima

de 0,80 ou 80%), exceto a questão Q33, com índice de 0,78. Reformulações na

redação dos itens (itens 3, 4, 6, 9, 11, 13, 14, 16, 24, 28, 34 e 36) da questão

Q9 (índice de clareza de 0,80) foram realizadas com o objetivo de facilitar ainda

mais a compreensão da questão pela população investigada. A questão Q33,

com índice de clareza muito próximo ao adequado (0,78), não foi reformulada

em consideração ao laudo de clareza e conteúdo identificados pelo grupo I, e

em consideração à percepção do pesquisador quanto ao cansaço dos sujeitos

do estudo piloto, já que esta foi a última questão a ser respondida e, ainda,

discursiva. A proximidade com índices ideais de validade de conteúdo aparente

e o laudo dos especialistas do grupo I também permitiram a manutenção das

questões Q9 (0,75) e Q24 (0,76) no QUAFIPETAR. O fator positivo a ser

observado foi o interesse dos treinadores em opinar sobre o assunto.

171
Em razão das sugestões acrescentadas pelos treinadores para o

instrumento final, das observações anotadas pelo pesquisador durante a coleta

de dados no estudo piloto e, independente dos altos índices de clareza, 12 das

33 questões passaram por revisão do enunciado e/ou dos itens (Q9, Q11, Q12,

Q13, Q17, Q19, Q21, Q22, Q24, Q26, Q28 e Q29) a fim de deixar estas

questões ainda mais claras para a população pesquisada. As questões Q5 e

Q7 tiveram campos de respostas adicionados, a fim de garantir uma melhor

cobertura de respostas possíveis.

Após análise criteriosa da Q23, optou-se por excluí-la devido à

inconsistência com a realidade de formação inicial de treinadores de tênis no

Brasil, que não permite formação externa à Educação Física enquanto docente

da disciplina de Tênis em Instituições do Ensino Superior de Educação Física e

Esportes, em determinação à lei 9696/98. A exclusão determinou, desta forma,

a diminuição do QUAFIPETAR de 33 para 32 questões.

Considerando o critério adotado, nenhum item a mais precisou ser

reformulado ou excluído, confirmando a validade de clareza da tradução com

índice geral de 0,92±0,06 (Tabela 1).

O cálculo do índice de validade de conteúdo das questões e do

QUAFIPETAR completo compreendeu a segunda importante etapa da

validação do instrumento (tabela 2).

172
Tabela 2 – Índices de “validade – conteúdo” das questões do QUAFIPETAR
(LIMA e ANDRADE, 2011)
Questão Índice Questão Índice
Q1 1,00 Q18 0,92
Q2 1,00 Q19 0,91
Q3 0,99 Q20 0,88
Q4 0,99 Q21 0,96
Q5 0,97 Q22 0,95
Q6 0,89 Q23 0,94
Q7 0,81 Q24 0,76
Q8 0,87 Q25 0,92
Q9 0,75 Q26 0,89
Q10 0,84 Q27 0,98
Q11 0,83 Q28 0,91
Q12 0,83 Q29 0,87
Q13 0,96 Q30 0,93
Q14 0,86 Q31 0,90
Q15 0,91 Q32 0,88
Q16 0,92 Q33 0,81
Q17 0,95
*Média geral da validade de conteúdo aparente do instrumento: 0,90 ± 0,07.

As questões Q9 e Q24, com índice de validade de conteúdo muito

próximo ao adequado (0,75 e 0,76), não foram reformuladas em consideração

ao laudo de conteúdo identificado pelo grupo I. Com o índice geral de

0,90±0,07, o QUAFIPETAR confirmou a validade de conteúdo aparente.

Após a tentativa de definição das dimensões do construto através da

análise fatorial estatística com rotação varimax, foi observado insucesso na

definição fatorial do instrumento devido às diferenças escalares entre as

questões do QUAFIPETAR. Devido a esta razão, a análise fatorial foi realizada

através de validação confirmatória pelo julgamento de uma comissão de

especialistas (formada por cinco doutores pesquisadores da área da Educação

Física com conhecimento na área de formação de treinadores).

A validação confirmatória definiu as dimensões do construto do

instrumento como sendo: da “FORMAÇÃO INICIAL” as questões Q5, Q6, Q7,

173
Q12, Q21, Q22 e Q23; da “FORMAÇÃO PERMANENTE” ficaram definidas as

questões Q8, Q24, Q25, Q26, Q27, Q28, Q29, Q30, Q31 e Q32; assim como

“FORMAÇÃO GERAL” (formação inicial e permanente conjugadas) as

questões Q4, Q9, Q10, Q11, Q13, Q14, Q15, Q16, Q17, Q18, Q19 e Q20.

A análise de consistência interna da versão do QUAFIPETAR

apresentou um índice satisfatório, com valor alpha (α) de Cronbach de 0,87

(tabela 3).

Tabela 3: Consistência interna (α de Cronbach) dos construtos do


QUAFIPETAR.

α de Cronbach
Construto
Versão brasileira Versão original

1. Formação inicial 0,56 Não fez

2. Formação permanente 0,85 Não fez

3. Formação geral 0,96 -

TOTAL DO INSTRUMENTO 0,87 Não fez

A confiabilidade das dimensões do construto foi de α = 0,56 para o fator

“formação inicial”, α = 0,85 para “formação permanente” e α = 0,96 para

“formação geral” (construto nos quais as questões fazem referência tanto para

formação inicial como para permanente). A análise aponta indícios de

confiabilidade do instrumento, sendo possível visualizar uma tendência de

valores elevados de consistência interna do instrumento QUAFIPETAR.

Segundo Silveira (1993), valores de α entre 0,7 e 0,9 apresentam adequada

confiabilidade. Para tanto, o coeficiente de α = 0,56 encontrado para o fator

“formação inicial” ainda apresenta-se aquém do índice de consistência interna

adequado. Deve-se considerar que, mesmo com um coeficiente de α = 0,56

174
para o construto “formação inicial”, ele está inserido no instrumento

QUAFIPETAR, que obteve α = 0,85 para “formação permanente” e α = 0,96

para “formação geral”. Assim sendo, com um índice geral de α = 0,87 do

instrumento, é satisfatório considerar “boa consistência interna” (α de

Cronbach) para os construtos do QUAFIPETAR.

CONCLUSÕES

Com base nos resultados obtidos nesse estudo, conclui-se que o

Questionário de Análise da Formação Inicial e Permanente dos Treinadores de

Tênis de Alto Rendimento (QUAFIPETAR), baseado e adaptado de García

(2001), apresenta confiabilidade comprovada nos índices alpha de Cronbach

geral e das dimensões do instrumento (α = 0,87).

A validade de clareza e de conteúdos do instrumento foi confirmada

pelos altos índices encontrados (0,92 ± 0,06 e 0,90 ± 0,07).

Quanto aos indicativos de validade de construto por validação a

comissão de doutores pesquisadores definiu as três dimensões: formação

inicial, formação permanente e formação geral. Dessa forma, todos os

indicativos de confiabilidade e de validade diagnosticados nesse estudo,

indicam que a avaliação da formação inicial e permanente dos treinadores de

tênis de alto rendimento é válida e confiável. Os resultados obtidos por meio do

QUAFIPETAR geram informações relevantes para a análise da formação dos

treinadores de tênis no Brasil e podem colaborar com o desenho e

aperfeiçoamento do processo de formação dos treinadores de tênis do Brasil.

Entretanto, como a validação de instrumentos é um processo complexo,

principalmente nas ciências sociais, esse não pode ser generalizado para todas

as populações de treinadores.
175
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and Sport Pedagogy, v. 12, n. 3, p.127-144, 2007.

178
APÊNDICE G – RESULTADOS DE CLAREZA E VALIDADE

DO QUAFIPETAR

179
180
181
ANEXO A – VERSÃO ORIGINAL DO INSTRUMENTO DE

GARCÍA (2001)

182
183
184
185
186
187
188
189
190
191
192
193
194
ANEXO B – QUESTIONÁRIO DE ANÁLISE DA FORMAÇÃO

INICIAL E PERMANENTE DOS TREINADORES DE TÊNIS DE

ALTO RENDIMENTO (QUAFIPETAR) – COM AS CORREÇÕES

EM DESTAQUE, REALIZADAS APÓS O ESTUDO PILOTO

195
196
197
198
199
200
ANEXO C – QUESTIONÁRIO DE ANÁLISE DA FORMAÇÃO

INICIAL E PERMANENTE DOS TREINADORES DE TÊNIS DE

ALTO RENDIMENTO (QUAFIPETAR) (LIMA e ANDRADE, 2011) –

VERSÃO FINAL

201
202
203
204
205
206
ANEXO D – TERMO DE CONSENTIMENTO

207
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PROPPG

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA


EM SERES HUMANOS – CEPSH

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título do Projeto: FORMAÇÃO DO TREINADOR DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO


NO BRASIL.

Você está sendo convidado a participar de um estudo que têm como objetivo principal
verificar parâmetros estatísticos de um instrumento (questionário) que visa analisar a formação
inicial e permanente dos treinadores de tênis de alto rendimento no Brasil. Após sua aceitação,
serão previamente marcados a data e horário para a coleta de dados referente à aplicação do
questionário.
O estudo não oferecerá riscos, pois todas as medidas são formas não invasivas,
através de questionários. Os dados e informações coletas serão tratados com total sigilo e
respeito. A identidade de todos os participantes será preservada, pois cada indivíduo será
identificado por um número. O que nos importa é a informação dos técnicos e não quem
forneceu as informações.
Os benefícios e vantagens deste estudo serão contribuir com a validação de um
instrumento para a língua portuguesa do Brasil, oferecendo suporte a pesquisas futuras na
área da formação de treinadores de alto rendimento.
As pessoas que estarão acompanhando o estudo serão estudantes de mestrado e de
graduação em Educação Física, todas orientadas pelo Prof. Dr. Alexandro Andrade,
coordenador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício - LAPE.
Salientamos que você poderá se retirar do estudo a qualquer momento.
Solicitamos a vossa autorização para o uso de seus dados para a produção de
artigos técnicos e científicos. A sua privacidade será mantida através da não-
identificação do seu nome.
Agradecemos a vossa participação e colaboração.

PESSOA PARA CONTATO Fone: (48) 3321 8652 (48) 8406 3333

Prof. Dr. Alexandro Andrade ENDEREÇO: Rua Pascoal Simone, 358. Coqueiros, Florianópolis/SC

TERMO DE CONSENTIMENTO

Declaro que fui informado sobre todos os procedimentos da pesquisa e, que recebi de forma
clara e objetiva todas as explicações pertinentes ao projeto e, que todos os dados a meu
respeito serão sigilosos. Eu compreendo que neste estudo, as medições dos
experimentos/procedimentos de tratamento serão feitas em mim sem nenhum risco a minha
integridade física e psicológica.
Declaro que fui informado que posso me retirar do estudo a qualquer momento.

Nome por extenso _________________________________________________________ .

Assinatura _____________________________________
Local:__________________________, ____/____/____ .

208
ANEXO E – QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO GERAL

DOS TREINADORES DE TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO

(ANDRADE e LIMA, 2011)

209
210
ANEXO F - QUESTIONÁRIO QUALITATIVO ORIGINAL DE

GARCÍA (2001) PARA ANÁLISE DA FORMAÇÃO DOS

TREINADORES ESPANHÓIS DE ALTO NÍVEL

211
212
213
ANEXO G – VERSÃO FINAL DO ROTEIRO DE

ENTREVISTA QUALITATIVA PARA ANÁLISE DA FORMAÇÃO

INICIAL E PERMANENTE DOS TREINADORES DE TÊNIS DE

ALTO RENDIMENTO (QUALI-QUAFIPETAR) (LIMA e ANDRADE,

2011)

214
QUALI-QUAFIPETAR (LIMA e ANDRADE, 2011)

SUJEITO: ______________________________________________________________

DADOS GERAIS
1 – Você poderia nos relatar, de maneira geral, como chegou à situação que atualmente ocupa
no mundo do tênis, quando começou e porque razão começou a praticá-lo?

A. FORMAÇÃO RECEBIDA
2 – Quais titulações, sejam elas do nível ou tipo que sejam – pela via acadêmica, pela
federativa, pela privada, etc. – você considera que ajudam o treinador de tênis de alto
rendimento a ser mais competente?

B. SOBRE AS TITULAÇÕES DE FORMAÇÃO DE TREINADORES PELA CBT


3 – Para você, quais instituições deveriam ser as responsáveis pelas titulações reconhecidas
legalmente no Brasil para os treinadores de tênis?

4 – Que características deveriam ter os professores encarregados de ministrar as matérias


específicas de tênis dessas graduações da CBT? E as pessoas encarregadas de elaborar e
atualizar o material formativo?

C. PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES DE FORMAÇÃO PERMANENTE


5 – Que nível de tênis você considera que deve ter uma pessoa para ser um treinador de
tenistas de alto rendimento? Que experiências como treinador deve ter uma pessoa (iniciação,
aperfeiçoamento...) para chegar a ser um bom treinador de tênis de alto rendimento?

6 – Que tipo e quantidade de atividades de formação permanente (sejam quais tipos forem)
estão relacionados à atualização ou melhora do nível de competência do treinador de alto
rendimento?

D. DIFICULDADES PARA PARTICIPAR DE ATIVIDADES DE FORMAÇÃO


PERMANENTE
7 – Quais são as principais dificuldades que os treinadores de alto rendimento encontram para
participar das atividades de formação permanente que se ofertam hoje em dia?

E. ALTERNATIVAS DE FORMAÇÃO PERMANENTE


8 – De que maneira você acredita que se poderia facilitar uma maior participação e/ou
aproveitamento dos treinadores de alto rendimento em atividades de formação permanente?

215
ANEXO H – DESCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O SUJEITO I.K.

CONTENDO AS INFORMAÇÕES DECORRENTES DA

ENTREVISTA COM O QUALI-QUAFIPETAR SOBRE A

FORMAÇÃO INICIAL E PERMANENTE DOS TREINADORES DE

TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO NO BRASIL

216
QUALI-QUAFIPETAR (LIMA e ANDRADE, 2011)

SUJEITO: I.K, 53 anos.

DADOS GERAIS
1 – Você poderia nos relatar, de maneira geral, como chegou à situação que
atualmente ocupa no mundo do tênis, quando começou e porque razão começou a
praticá-lo?
Sempre fui um entusiasta da emoção que o esporte propicia quando se está em
quadra e, aos 17 anos, fui jogar no circuito profissional. Tenho o 2 grau incompleto,
sou um autodidata e penso que o treinador precisa ser completo; é muito importante o
treinador aliar a prática com a teoria. Como atleta (já pensando em ser um treinador)
fui para a Suécia, Argentina e Estados Unidos, além de outros países, e montei o meu
próprio método de ensino com tudo o que aprendi. Como jogador, fui 81 do ranking
de simples e 20 do ranking de duplas da ATP. Comecei em Novo Hamburgo (RS) e a
minha formação inicial foi marcada pela experiência com treinadores dos centros de
tênis dos diversos países que passei. Fiz todos os cursos da Confederação Brasileira
de Tênis (CBT) e da International Tennis Federation (ITF). Se eu tivesse a
oportunidade de fazer um curso de Educação Física à distância, eu o faria. Penso que
o ensino à distância seria uma boa opção para a formação dos treinadores nas
ciências do esporte, para que se tenha conhecimento sobre as várias situações que
acontecem no tênis, e tornem os treinadores mais completos como profissionais.
Como treinador, tive e tenho até hoje vários bons atletas de alto rendimento. Vejo que
é muito importante e é necessária a organização do tênis brasileiro de fora para dentro
da quadra. A parceria duradoura e a cumplicidade entre técnico e atleta é muito
importante para a carreira do atleta, assim como foi o caso do Guga com o Larri
Passos.

A. FORMAÇÃO RECEBIDA

2 – Quais titulações, sejam elas do nível ou tipo que sejam – pela via acadêmica, pela
federativa, pela privada, etc. – você considera que ajudam o treinador de tênis de alto
rendimento a ser mais competente?
Considero as formações acadêmicas e informais. O ideal seria um alinhamento entre
as Universidades e a CBT.

B. SOBRE AS TITULAÇÕES DE FORMAÇÃO DE TREINADORES PELA CBT

3 – Para você, quais instituições deveriam ser as responsáveis pelas titulações


reconhecidas legalmente no Brasil para os treinadores de tênis?
As Universidades junto com a Confederação Brasileira de Tênis (CBT).

4 – Que características deveriam ter os professores encarregados de ministrar as


matérias específicas de tênis dessas graduações da CBT? E as pessoas
encarregadas de elaborar e atualizar o material formativo?
Antes de tudo, os professores das graduações devem ser bons comunicadores. Não
adianta ter muito conhecimento e não saber passar. Quanto à formação, deveriam ter
a graduação máxima na CBT e outras formações específicas das áreas em que iriam
ministrar atividades.

217
C. PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES DE FORMAÇÃO PERMANENTE

5 – Que nível de tênis você considera que deve ter uma pessoa para ser um treinador
de tenistas de alto rendimento? Que experiências como treinador deve ter uma pessoa
(iniciação, aperfeiçoamento...) para chegar a ser um bom treinador de tênis de alto
rendimento?
Deve ter, pelo menos, um nível de jogo médio para cima. Com esse nível, precisa ter
passado pela experiência de todas as etapas de ensino do tênis e experiência no
circuito profissional de tênis.

6 – Que tipo e quantidade de atividades de formação permanente (sejam quais tipos


forem) estão relacionados à atualização ou melhora do nível de competência do
treinador de alto rendimento?
Os intercâmbios, a imersão e cursos. O ideal é que os treinadores utilizem pelo menos
entre 5 e 6 semanas de formação permanente no ano.

D. DIFICULDADES PARA PARTICIPAR DE ATIVIDADES DE FORMAÇÃO


PERMANENTE

7 – Quais são as principais dificuldades que os treinadores de alto rendimento


encontram para participar das atividades de formação permanente que se ofertam hoje
em dia?
O receio que os treinadores têm de não acompanhar o curso ou de se expor. Os
treinadores não se expõem para não serem descobertos nas suas dificuldades e
limitações. Muitos procuram só o diploma e consideram que a perda de tempo
realizando cursos pode fazê-lo perder dinheiro pelas aulas ou treinamentos que não
está ministrando em razão da participação nos eventos de formação permanente.
Quanto aos custos, poderiam ter mais subsídios, mas ainda assim estão dentro de
uma faixa de custo aceitável para o processo de formação permanente.

E. ALTERNATIVAS DE FORMAÇÃO PERMANENTE

8 – De que maneira você acredita que se poderia facilitar uma maior participação e/ou
aproveitamento dos treinadores de alto rendimento em atividades de formação
permanente?
Através dos cursos à distância, pela internet. Outra importante maneira seria setorizar
os cursos por região, para facilitar o acesso dos treinadores ao evento.

218
ANEXO I – REQUISITOS BÁSICOS E NORMAS DE

FUNCIONAMENTO PARA INGRESSAR NO SISTEMA SNGP

(CBT, 2010)

219
Requisitos básicos e normas de funcionamento
para ingressar no sistema SNGP:
1. Aprovação nos cursos de Nível I da CBT realizados até dezembro de 2004, ou
aprovação nos cursos de Nível I da ITF, ou aprovação nos cursos oficiais da CBT: Módulo A,
Módulo B e Módulo C (a partir de 2005).

2. Ser um profissional filiado ao Depto. de Capacitação da CBT e em dia com as suas


contribuições.

3. Estar registrado no CREF.

4. Apresentar o currículo ao Departamento de Capacitação, incluindo os certificados de


todas as atividades e carga horária mencionadas dentro do mesmo. É importante salientar, que
é de responsabilidade do profissional comprovar as informações que constam em seu currículo
Obs: Enviar junto com os documentos a tabela de pontuação do SNGP com seu
respectivo cálculo. A tabela se encontra nas ultimas páginas deste explicativo ou no site
www.cbtenis.com.br no link capacitação, em SNGP
Esclarecemos que para a inserção no sistema, serão considerados cursos, congressos,
simpósios e workshops realizados até dezembro de 2005, após essa data, somente cursos
oficiais ou outorgados pela CBT.

5. Serão levados em consideração os seguintes aspectos:


a) Cursos oficiais da CBT;
b) Cursos, congressos, conferências e workshops;
c) Histórico como jogador;
d) Histórico como treinador;
e) Anos de docência;
f) Formação escolar e universitária.

6. As informações apresentadas serão analisadas e avaliadas pela comissão técnica


da área de capacitação da CBT de acordo com a tabela de pontos do SNGP que está em
anexo
7. Ao realizar o mesmo curso (com os mesmos conteúdos) por mais de uma vez, o
profissional não receberá os pontos por cada vez que o realiza.
8. A comissão técnica emitirá a graduação alcançada pelo profissional, mediante a
pontuação oferecida pela tabela do SNGP.
9. Se os dados estiverem incompletos, a comissão se comunicará com o profissional
para solicitar mais informações a respeito.
10. O profissional poderá apelar por escrito para ser informado detalhadamente sobre
como foi estabelecida a sua graduação.
11. Ao profissional graduado será entregue um título oficial de graduação da CBT.
12. O título poderá ser retirado na sede da CBT ou então ser enviado pelo correio ao
domicílio que constar no currículo.
13. Uma vez estabelecida a graduação do profissional, o mesmo deverá seguir
capacitando-se caso deseje ascender a um nível superior.
14. O profissional que apresentar documentos e atestados que não condizem com a
verdade, terá o seu título cancelado e seu nome excluído do SNGP por 2 anos.

220
Como melhorar a Graduação Profissional

Uma vez que o profissional esteja inserido no SNGP, este poderá conquistar pontos e
ascender no sistema somente através dos cursos, congressos, simpósios e workshops oficiais
ou outorgados pela CBT.

Tempo de permanência em cada nível

Quando o profissional ingressa na pirâmide a primeira ascensão (promoção) para o


próximo patamar pode ser imediata não havendo um tempo estipulado, o mesmo poderá fazê-
lo quando achar conveniente ou quando conquistar os pontos necessários.

A partir da primeira promoção, haverá um tempo de permanência mínima em cada um


dos seguintes níveis:
• Treinador - 2 anos
• Treinador Nacional - 3 anos
• Técnico Nacional - 3 anos

Esclarecimentos para os profissionais aprovados nos Cursos de Nível 1, 2, 3 e 4

Todos os cursos de capacitação da CBT realizados até dezembro de 2004 serão


considerados.
Para cada um dos níveis o profissional receberá 30 pontos. Exemplo: o profissional que
foi aprovado no Nível 1 estará garantido no SNGP e receberá 30 pontos; no Nível 2 receberá
mais 30 pontos e assim sucessivamente.
Para o profissional que não foi aprovado no Curso de Nível 1 da CBT (até
dezembro/04) é necessário que seja aprovado nos módulos A/B/C para que ingresse no SNGP.
Estes módulos juntos terão 75 horas de carga horária e darão 60 pontos.
Se o profissional que já tiver sido aprovado nos Cursos de Nível 1,2,3 e 4 desejar se
atualizar e acumular pontos para o SNGP, poderá fazer os Módulos A/B/C e receberá os
pontos relativos a cada módulo de maneira independente (20 pontos por módulo).

Confederação Brasileira de Tênis


Rua Nhu-Guaçu, 44 • Campo Belo • CEP 04625-000 • São Paulo • SP
Fone: (11) 23590160 / (11) 33268333 • Horário de atendimento das 9:00 às 17:00 hrs

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ANEXO J – NOTÍCIA VINCULADA NO JORNAL DIÁRIO

CATARINENSE NO DIA 25 DE OUTUBRO DE 2010

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223
ANEXO K – LEI 9696/98, PUBLICADA NO D.O.U DE 2 DE

SETEMBRO DE 1998 (CONFEF, 2011)

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