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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DO

JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA DE __


PROCESSO-CRIME nº __
NOME, já qualificado nos autos do processo-crime em epígrafe, que lhe move o
Ministério Público, como incurso no Artigo 330, do Código Penal, vem, mui
respeitosamente à honrosa presença de Vossa Excelência, por seu advogado que ao
final subscreve, dentro do prazo legal, apresentar sua RESPOSTA À ACUSAÇÃO,
nos termos dos Artigos 396 e 396-A do Código de Processo Penal, pelos motivos de
fato e de direito a seguir aduzidos:
DOS FATOS
Ocorre que o Acusado fora denunciado e encontra-se processado por este ínclito
Juízo em virtude da ocorrência dos fatos que, segundo entendimento do Ministério
Público, configuram a norma penal incriminadora prevista no Artigo 330, do
Código Penal.
Segundo se recolhe da peça acusatória, o Acusado no dia __ de __ de __, por volta das
__h__mim, dirigiu-se até a casa de sua ex-companheira, NOME, e infligiu as Medidas
Protetivas de Urgência que contra ele foram expedidas, pois deveria manter uma
distância mínima de 300 metros dela. Consta ainda que a vítima acionou a Policia
Militar desta Comarca, e o Acusado, sem esboçar nenhuma resistência, foi
encaminhado à Delegacia de Polícia, onde fora lavrado Boletim de Ocorrência de
Desobediência contra ele.
É a síntese do necessário.
DO DIREITO
A defesa, segura do conhecimento de Vossa Excelência e certa de que nenhum
detalhe escapará da análise criteriosa dos autos em apreço, vem aduzir os
argumentos que demonstram a falta de justa causa para a denúncia do Ministério
Público e que, por consequência, impedem que a Ação Penal proposta em face do
Acusado possa prosperar, senão vejamos.
I. DA ATIPICIDADE
Com efeito, é pacífico o entendimento de que no caso de descumprimento das
Medidas Protetivas de Urgência, consagradas pela Lei 11.340/2006 (Lei Maria da
Penha), não há que se falar em penalização pelo crime de Desobediência. Posto que
para tal fato já existe uma sanção penal, a prisão preventiva nos termos do Artigo
313, Inciso III, do Código de Processo Penal.
Assim, a não penalização do agente pelo crime de Desobediência no caso de
descumprimento das r. Medidas Protetivas de Urgência, busca evitar a ocorrência
do “bis in idem”, que consiste na repetição de uma sanção penal sobre mesmo fato e
não é aceita no nosso ordenamento jurídico-penal.
O Professor Nelson Hungria (citado por Guilherme de Souza Nucci, em seus
comentários ao Código Penal, RT, 2009, p. 1061), bem explica o acima defendido da
seguinte forma:
[...] “Se, pela desobediência de tal ou qual ordem oficial, alguma lei comina determinada penalidade
administrativa ou civil, não se deverá reconhecer o crime em exame, salvo se a dita lei ressalvar
expressamente a cumulativa aplicação do Artigo 330 (ex.: o Artigo 219 do Código de Processo Penal)”
(Comentários ao Código Penal, v. 9, p. 420). [...] grifado

A jurisprudência é pacífica quanto a este entendimento:


Ementa: APELAÇÃO. LESÃO CORPORAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. CONDENAÇÃO MANTIDA.
DESOBEDIÊNCIA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA PROTETIVA. ATIPICIDADE.
O descumprimento de medidas protetivas de urgência previstas na Lei nº 11.340/2006 não caracteriza
crime de desobediência, porquanto existente, no ordenamento jurídico, consequência jurídica
específica para tal conduta. Precedentes do STJ (Terceira Seção). Em se tratando de crime envolvendo
violência doméstica e familiar, assume especial relevo a palavra da ofendida, em razão de tal infração
ser comumente praticada na esfera da convivência íntima e em situação de vulnerabilidade, sem que
seja presenciada por outras pessoas. Caso em que o quanto afirmado pela ofendida vem confortado
por outros elementos de prova. Condenação mantida. Pena redimensionada. APELAÇÃO DO ACUSADO
DESPROVIDA. APELO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PROVIDO, EM PARTE. (TJ-RS - ACR: 70065512709 RS,
Relator: Honório Gonçalves da Silva Neto, Data de Julgamento: 22/07/2015, Primeira Câmara Criminal,
Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 28/07/2015). Grifad
Ementa: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. DESCUMPRIMENTO
DE MEDIDA PROTETIVA DE URGÊNCIA PREVISTA NA LEI MARIA DA PENHA. AFASTAMENTO DA
CONFIGURAÇÃO DO DELITO. EXISTÊNCIA DE SANÇÕES ESPECÍFICAS DE NATUREZA PENAL,
ADMINISTRATIVA OU CIVIL. PRECEDENTES. RECURSO PROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte firmou
entendimento de que para a configuração do "crime de desobediência, não basta apenas o não
cumprimento de uma ordem judicial, sendo indispensável que inexista a previsão de sanção específica
em caso de seu descumprimento" (HC n.º 115504/SP, Rel. Min. Jane Silva (Desembargadora
Convocada), 6.ª Turma, Dje 09/02/2009). 2. Resta evidenciada a atipicidade da conduta, porque a
legislação previu alternativas para que ocorra o efetivo cumprimento das medidas protetivas de
urgência, previstas na Lei Maria da Penha, prevendo sanções de natureza civil, processual civil,
administrativa e processual penal. 3. Recurso provido para, reconhecida a atipicidade da conduta. (TJ-
SP - EP: 00349848820158260000 SP 0034984-88.2015.8.26.0000, Relator: Bandeira Lins, Data de
Julgamento: 20/07/2015, 2ª Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação: 24/07/2015). Grifado
Ementa: AMEAÇA - CRIME COMETIDO NO ÂMBITO DA LEI MARIA DA PENHA - ABSOLVIÇÃO -
IMPOSSIBILIDADE - CRIME DE DESOBEDIÊNCIA - DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS -
CONDUTA ATÍPICA - ENTENDIMENTO CONSOLIDADO NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
Comprovadas a materialidade e a autoria do crime de ameaça, bem como do elemento subjetivo do
injusto penal, ausentes causas excludentes de ilicitude ou de isenção de pena, não há como se acolher
a pretensão defensiva de absolvição por insuficiência de provas. Tendo o Superior Tribunal de Justiça
consolidado entendimento no sentido de que o descumprimento de medidas protetivas não
caracteriza infração penal, impõe-se a absolvição por atipicidade da conduta. (TJ-MG - APR:
10390140011961001 MG, Relator: Maria Luíza de Marilac, Data de Julgamento: 14/07/2015, Câmaras
Criminais / 3ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 22/07/2015). Grifado
Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL - DELITOS EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - DESOBEDIÊNCIA -
CRIME NÃO APERFEIÇOADO - RECURSO DESPROVIDO. 1. Evidenciado que a desobediência foi meio
necessário para a execução do crime-fim de ameaça, deve ser por este absorvido, mediante a
aplicação do princípio da consunção. 2. Outrossim, há exclusão do crime de desobediência quando
existe a previsão de outra sanção legal para a medida judicial desobedecida. Precedentes do STJ e
deste TJMG. 3. Recurso não provido. (TJ-MG, Relator: Eduardo Brum, Data de Julgamento: 15/07/2015,
Câmaras Criminais / 4ª CÂMARA CRIMINAL). Grifado

II. DA REDUÇÃO DE PENA


Cumpre salientar que o Acusado, há época dos fatos, fazia uso constante de
substâncias psicoativas e de bebidas alcoólicas.
Conforme declarações, no dia dos fatos o Acusado encontrava-se “chapado”,
pois havia feito uso de substâncias entorpecentes, razão pela qual, acabou
agindo de forma irracional e insensata, indo à casa da ex-companheira e,
consequentemente, descumprindo as Medidas Protetivas de Urgência que
contra ele haviam sido impostas.
Excelência é certo e incontroverso que o Acusado estava com o seu senso de
discernimento totalmente prejudicado, visto que se encontrava sob o efeito
devastador causado pelas drogas que utilizou, não podendo determina-se de
acordo com o caráter ilícito do fato.
Posto isso, o Artigo 46, da Lei 11.343/06 estabelece que:
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por força das circunstâncias
previstas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena
capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

Nesse caso há a ocorrência da Semi-inimputabilidade que gera a redução da pena


aplicada ao agente e é reconhecida e aplicada pela jurisprudência:
Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL - TRÁFICO DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE - CONDENAÇÕES
MANTIDAS - PENAS-BASE - DIMINUIÇÃO - RECONHECIMENTO DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DE
PENA PREVISTA NO ART. 46 DA LEI 11.343/06 - POSSIBILIDADES. 01. Comprovada a ocorrência do
crime de tráfico de entorpecentes em relação aos dois acusados, impossível a absolvição ou a
desclassificação para o crime de uso de substância entorpecente. 02. As penas-base, do apelante
Jason, fixadas em patamares elevados devem ser diminuídas. 03. Sendo o acusado semi-imputável,
necessário é o reconhecimento da causa especial de diminuição de pena prevista no artigo 46 da Lei
11.343/06. Provimento parcial ao recurso que se impõem. (TJ-MG - APR: 10024130488729001 MG,
Relator: Antônio Carlos Cruvinel, Data de Julgamento: 25/03/2014, Câmaras Criminais / 3ª CÂMARA
CRIMINAL, Data de Publicação: 04/04/2014). grifado
Ementa: TRÁFICO DE DROGAS. PROVAS SUFICIENTES DA AUTORIA E MATERIALIDADE.
DESCLASSIFICAÇÃO PARA USO. IMPOSSIBILIDADE. PENAS. REDUÇÃO. CONFISSÃO ESPONTÂNEA.
RECONHECIMENTO. AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA. COMPENSAÇÃO. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE
PENA PREVISTA NO ARTIGO 46 DA LEI 11.343/2006. APLICABILIDADE. [...] 4. Sendo o Laudo de
Dependência Toxicológica categórico quanto à redução da capacidade da apelante de compreender
inteiramente o que fez, deve ser aplicada a causa de diminuição de pena descrita no artigo 46 da Lei
11.343/2006. (TJ-MG - APR: 10024112722830001 MG, Relator: Maria Luíza de Marilac, Data de
Julgamento: 22/01/2013, Câmaras Criminais Isoladas / 3ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação:
29/01/2013)
Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL - TRÁFICO DE ENTORPECENTES - ABSOLVIÇÃO - IMPOSSIBILIDADE -
ROBUSTEZ DO CONJUNTO PROBATÓRIO - DESTINAÇÃO MERCANTIL DO ENTORPECENTE
DEMONSTRADA - REDUÇÃO DA PENA-BASE - INVIAVILIDADE - RECONHECIMENTO DA SEMI-
IMPUTABILIDADE - CABIMENTO - DIMINUIÇÃO DA REPRIMENDA PELO ART. 46 DA LEI 11.343/06 -
NECESSIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. - Mostrando-se robusto o acervo probatório
produzido, e, restando demonstrada a prática, pelo réu, de conduta tipificada no art. 33 da Lei
11.343/06, a manutenção do veredicto de inculpação é medida que se impõe. - Impossível a
diminuição da pena-base quando esta restou aplicada em patamar razoável e proporcional, em estrita
observância ao critério da suficiência. - Demonstrado por intermédio de prova pericial idônea que o
acusado, em razão de dependência química, embora fosse plenamente capaz de entender o caráter
ilícito do fato, não tinha a total capacidade de determinar-se consoante esse entendimento, deve ser
aplicada a minorante do art. 46 da Lei 11.343/06. (TJ-MG - APR: 10461110011644001 MG, Relator:
Furtado de Mendonça, Data de Julgamento: 12/11/2013, Câmaras Criminais / 6ª CÂMARA CRIMINAL,
Data de Publicação: 20/11/2013)
Assim, posto o caso à luz da mais abalizada doutrina e jurisprudência pátria, resta
claro que a denúncia ofertada em face do Acusado não encontra respaldo
jurídico e não deve prosperar, caso contrário, deve ser reconhecida a causa
de redução de pena prevista no Artigo 46, da Lei 11.343/06.
DO PEDIDO
Diante do exposto, requer a Vossa Excelência digne-se ABSOLVER
SUMARIAMENTE o Acusado, nos termos do Artigo 397, Inciso III, do Código de
Processo Penal, pelas razões de fato e de direito acima apresentadas.
Caso não seja esse o entendimento de Vossa Excelência, requer seja decretada a
redução de pena estabelecida no Artigo 46, da Lei 11.343/06, por ser medida de
inteira e salutar JUSTIÇA que ora se impõe.
Nestes Termos,
Pede e Aguarda Deferimento.
Local, data supra.
ADVOGADO
OAB/__ nº __

OBS: Caso possua sugestões, deixe o seu comentário e contribua para o


desenvolvimento e o aperfeiçoamento de todos.

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