PROFESSORA – ANA PAULA CONCEIÇÃO GRADUANDOS – ADRIANO JOSÉ DE SANTANA E JONAS DA CRUZ CARDOSO
RELATÓRIO DE PESQUISA: Como intervir em cada um dos níveis de compreensão do sistema pela criança, para que ela avance e aprenda a ler e a escrever?
Ao iniciar o processo de aquisição da escrita a criança precisa conhecer o sistema
de signos referentes à língua escrita. Ela precisa articular a linguagem oral ao conhecimento novo que é a estrutura da língua escrita. O que diferencia o processo de aquisição da língua escrita é a concepção teórica de educação; ou seja, a concepção que se tem do quê e do como ensinar/aprender é que vai determinar a metodologia de alfabetização. Cada professor tem um referencial teórico que orienta o trabalho de alfabetizar e que vai sendo modificado à medida que vai incorporando novos conhecimentos a esse referencial por meio da interação com os colegas de trabalho, alunos em sala de aula e em cursos de formação e aperfeiçoamento. Por isso pode-se afirmar que também as práticas vão sendo alteradas em função dessas vivências e de novas compreensões sobre o que é, como e por que alfabetizar. Nesse processo, o medo de ser rotulado como tradicional tem levado o professor a mudar o seu foco de atenção: cria-se a ideia de que certos conteúdos e instrumentos devem ser abolidos do processo de alfabetização. Por trás de qualquer método de ensino e aprendizagem e, mais especificamente, por trás de qualquer método de ensino de alfabetização, existe uma teoria sobre o que é o objeto de conhecimento a ser aprendido, nesse caso, a escrita alfabética, e sobre como os indivíduos o aprendem. Criados desde a Antiguidade, mas sobretudo, a partir do século XVIII, o métodos tradicionais de alfabetização que conhecemos, apesar das diferenças que aparentam, têm uma única e comum teoria de conhecimento subjacente: a visão empírica/associacionista de aprendizagem. A teoria criada por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky (1979) teve uma grande divulgação em nosso país. Geralmente sob o rótulo de “construtivismo”, tem sido, desde os anos de 1980, bastante difundida na formação inicial e continuada de nossos professores e faz parte da fundamentação de documentos do MEC, como, por exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa, de primeira à quarta série, instituídos em 1996. Reconhecendo as grandes contribuições que trouxe, e os grandes desafios e lacunas que provocou, ao desbancar os métodos tradicionais de alfabetização, vamos aqui denominá-la de “teoria da psicogênese” ou “teoria da psicogênese da escrita”. A teoria da psicogênese da escrita (FEREIRO e TEBEROSKY, 1979; FERREIRO. 1985) tem insistido em dois pontos que nos parecem essenciais, para entendermos por que a tarefa do alfabetizando não é apenas aprender um código, mas, sim, se apropriar de um sistema notacional. Em primeiro lugar, precisamos reconhecer que, para o aprendiz da escrita alfabética, as regras de funcionamento ou propriedades do sistema não estão já disponíveis, dadas ou prontas na sua mente. Em segundo lugar, a teoria da psicogênese da escrita mostra que, assim como a humanidade levou muito tempo para inventar o sistema alfabético, após ter usado outros sistemas de escrita (sistemas pictográficos, ideográficos, silábicos etc.) a internalização das regras e convenções do alfabeto não e algo que se dá da noite para o dia, nem pela mera acumulação de informações que a escola transmite, prontas para o alfabetizando. Para aprender a escrever, é fundamental que o aluno tenha muitas oportunidades de fazê-lo, mesmo antes de saber grafar corretamente as palavras: quanto mais fizer isso, mais aprenderá sobre o funcionamento da escrita. Segundo Teberosky e Colomer (2003), os diversos trabalhos resultantes daquela linha teórica evidenciaram que: • As crianças, antes de poderem ler e escrever sozinhas e convencionalmente, formulam uma série de ideias próprias ou hipóteses, atribuindo aos símbolos da escrita alfabética significados bastante distintos dos que lhes transmitem os adultos que as alfabetizam; • As hipóteses elaboradas pela criança seguem uma ordem de evolução em que, a princípio, não se estabelece uma relação entre as formas gráficas da escrita e os significantes das palavras (hipótese pré-silábica). Em seguida a criança constrói hipóteses de fonetização da escrita, inicialmente, relacionando os símbolos gráficos às sílabas orais das palavras (hipótese silábica) e finalmente compreende que as letras representam unidades menores que as sílabas: os fonemas da língua (hipótese alfabética). Entre esses dois momentos, haveria um período de transição (hipótese silábico-alfabética). Se não levarmos em conta a heterogeneidade de nossas turmas, corremos o risco de oferecer atividades inadequadas, que não contribuem para a progressão de sua aprendizagem, seja porque são muito fáceis e não oferecem um desafio; seja porque são difíceis demais e demandam mais esforço cognitivo. Devemos evitar atividades que não levam em conta o que a criança pensa e como ela concebe a escrita em sua fase de desenvolvimento. No nível pré-silábico, em um primeiro momento, o aprendiz pensa que pode escrever com desenhos, rabiscos, letras ou outros sinais gráficos, imaginando que a palavra assim inscrita representa a coisa a que se refere. Há um avanço, quando se percebe que a palavra escrita representa não a coisa diretamente, mas o nome da coisa. Ao aprender as letras que compõem o próprio nome, o aprendiz percebe que se escreve com letras que são diferentes de desenhos. Assim, a passagem para o nível silábico é feita com atividades de vinculação do discurso oral com o texto escrito, da palavra escrita com a palavra falada. O aprendiz descobre que a palavra escrita representa a palavra falada, acredita que basta grafar uma letra para se poder pronunciar uma sílaba oral, mas só entrará para o nível silábico, com correspondência sonora, à medida que seus registros apresentarem esta relação. No nível silábico-alfabético, os alunos já têm suas hipóteses muito próximas da escrita alfabética, uma vez que eles já conseguem fazer a relação entre grafemas e fonemas na maioria das palavras que escrevem, embora ainda oscilem entre grafar as unidades menores que a sílaba. No nível alfabético, o aluno finalmente começa a compreender o “como a escrita nota a pauta sonora”, ou seja, que as letras representam unidades menores do que as sílabas. Quando dizemos que um aluno está no nível alfabético, estamos dizendo que ele já é capaz de fazer todas as relações entre grafemas e fonemas. Já estão alfabetizados, porém terão conflitos sérios, ao comparar sua escrita alfabética e espontânea com a escrita ortográfica, em que se fala de um jeito e se escreve de outro. É importante que o professor, no planejamento das atividades, esteja atento para a heterogeneidade do grupo, oferecendo atividades diferenciadas para alunos que apresentam hipóteses de escritas diferentes. Por outro lado, ao propor uma atividade comum para toda a turma, o professor deve considerar que as respostas dos alunos serão distintas, e, nesse caso, o confronto entre diferentes respostas é interessante. Referências
SILVEIRA, Sonia Maria. Alfabetização e letramento: licenciatura em pedagogia/
Sonia Maria Silveira. Salvador: EDUNEB, 2013. Alfabetização: apropriação do sistema de escrita alfabética / organizado por Artur Gomes Morais, /Eliana Borges Correia de Albuquerque, Telma Ferraz Leal. — Belo Horizonte: Autêntica, 2005. Morais, Artur Gomes de. Sistema de escrita alfabética/ Artur Gomes de Morais. São Paulo: Editora Melhoramento, 2012. (Como eu ensino). Alfabetização e letramento na sala de aula/ Maria Lúcia Castanheira, Francisca Izabel Pereira Maciel, Raquel Márcia Fontes Martins, (organizadoras). – 2. ed. – Belo Horizonte: Autêntica Editora: Ceale, 2009. – (Coleção Alfabetização e Letramento na Sala de Aula). Hipóteses de escrita de alunos pré-silábicos e silábicos: como fazê-los avançar, disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/9766/blog-alfabetizacao- hipoteses-escrita-pre-silabico-silabico-como-avancar <acesso em 02 de novembro de 2018>. Psicogênese da Língua Escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização, disponível em: https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40138/1/01d16t03.pdf <acesso em 02 de novembro de 2018>.