Você está na página 1de 13

AIElSmAO

This paper aims to understand the feeling of uneasiness of


social workers, facing the contradictions and the ambiguities
of the Social Work conceming the limits of its knowledge
and the definition of its goals. This uneasiness is approached
by the discourse of student and professionals, gathered in
the Pontificia Universidade Catolica de Minas Gerais as part
of a Ph.D. work in the Social Work School of the UFRJ. Two
questions were addressed. Firstly, the embarrassment of the
social worker to say what the social work is, and what a
social worker does about the conflict between the official
narratives, that place them in the. domain of the modem
impersonality, and the narratives grounded in the tra-
ditional symbologies of benevolence and help. The second
question concems the incertainties of the place of the Social
Work in the privileged space of professions in the general
field of occupations.

Key-Words: social work; social worker.

* Doutora em Serv1~0 Social pela UFRJ. Professora titular da Escola de Servt~o Social da PUC-MG.
166 PRA!A VERME.HA ª Nº 5 • SEGUNDO SEMESTRE • 200 J

Desde meus tempos de estudante de Servi\:O Social, pelos idos dos anos 60,
T SERvic;o ScOAL: AflHAL oo QUE "SE TRATA?

ximando-se da superficie do mar, sem afundar. Alertou o irm5.o para que se


agarrasse a um barril, mas foi em va.o, porque, paralisado pelo medo, o
irméio nao foi dono de si, de seu corpo e acabou por afogar-se. Apenas ele
167

na Escola de Servi\:O Social da entO.o Universídade Católica de Minas Gerais 1 salvo u-se.
acompanha-me um difuso sentímento de mal-estar para com o servi\:O social. O relato ilustra a peculiar situac;:éio do pesquisador em ciencias humanas
Pouco claro e nem sempre dizível, só muito lentamente este sentimento foi- e sodais de estar ao mesmo tempo dentro e fara, ser sujeito e objeto, num
se tomando nítido na minha interioridade e, na mesma medida, mostrando- lugar epistemológico que Morin define como dualidade interna:
se coletivo, partilhado por colegas, alunas e al unos. A contragosto assentou-
se em mim a convic\:0.0 de que, mesmo que apenas insinuado, um certo ªA dissociac;:ao cientificarnente indispensável entre observac;:ao e participac;:ao
mal-estar fazia parte da intersubjetividade dos agentes de servi\:O social. é urna dissociac;:ao intelectual que nao exclui a participac;:ao afetiva. Entre-
Neste artigo, tomo este sentimento como objeto de reflexO.o, respaldada tanto, a participac;:ao requer urn esforc;:o crescente e permanente de dis-
nos resultados de urna pesquisa que serviram de suporte para mínha tese de tanciamento e de objetivac;:ao. Constantemente o pesquisador deve elucidar
doutorado intitulada "Nós, as assistentes sociais - estudo antropológico aquilo que ele sente e refletir sobre sua experiencia. O pesquisador nao
das subjetividades e ambivalencias da profissO.o". pode esconder sua dualidade interior" (1984:172).
a
Chegar objetiva\:O.o <leste sofrimento, decifrar-lhe os contornos e
entender o silencio que o cerca, nao foram tarefas fáceis. A ambigüidade Um segundo recuo teórico implicou refletir sobre o conceito de
inscrita nos termos centrais do enunciado - o mal-estar da e do assistente subjetividade(s), foco do objeto de minha pesquisa. Renato Mezan enfatiza
social- teria sido suficiente para emperrar meu pro jeto, nao fosse a pergunta o caráter polissemico do conceito que, além de plural, incrusta-se no
formulada por Camille Tarot, filósofa francesa estudiosa de Marcel Mauss: cruzamento de duas dimensoes: subjetividade como experiencia de si ...
se forem recha\:ados todos os termos ambíguos, restaría ainda algum variedades e dimensoes desta experiencia, tendo o sujeito como foco e
objeto de pesquisa interessante?. Pelo seu tom provocador, a pergunta origem, e como condensac;:éio de determinac;:óes da ordem do biológico, do
deu-me coragem para correr riscos e acreditar nas intui\:6es ancoradas na económico, do sociai. No primeiro prisma, o su jeito, portador de um conjunto
minha própria experiencia. O legado de urna longa trajetória de assistente de experiencias singulares, afetado pelas coisas, pelas pessoas, pelas
social, supervisora de campo e docente, das leituras, observa\:6es e conversas situac;:5es, mantém-se no centro dos fatores que o afetam. A segunda vertente
com colegas e estudantes, constituiu o patrimonio inicial a partir do qua! enfoca a subjetividade como negocia\:O.o do individuo com os suportes de
ousei enfrentar o desafio de tomar meu sofrimento e o sofrimento das e dos seu mundo natural e social, e a enfase desloca-se para as oportunidades,
assistentes sociais como tema de estudo, ocupando o dupio lugar de sujeito limita\:5es e constrangimentos de sua biografía. Se o primeiro enfoque
e objeto da pesquisa. direciona o individuo para o mundo, o segundo direciona o mundo para o
Os escritos metodológicos de Norbert Elias e Edgar Morin ajudaram-me individuo, um movimento de méio dupla que traduz a ambigüidade da
nesta empreitada. Elias utiliza urna bela fábula de Allan Poe como metáfora palavra sujeito: sujeito de, e sujeito a, sujeito na sua fun\:O.o agentiva, e
da dualidade proximidade-distanciamento que, segundo ele, é própria sujeito sujei\:éiO.
das ciencias da cultura. É a história de tres irmO.os pescadores que foram A tenséio/negocia\:éiO entre subjetividade como consciencia de si e
surpreendidos por urna tempestade em alto mar. Um deles afogou-se nos subjetividade resultante das condi<;:6es objetivas da vida, ainda segundo
primeiros momentos da forte ventania. O segundo, ainda que em pcmico e Mezan, opera-se em tres planos: na singularidade das biografías, escolhas,
a custa de um grande esfor\:O de autocontrole, observou atentamente o que paix5es e sentimentos; na universalidade constituída pela linguagem e por
se passava em seu redor, e viu que os objetos cilíndricos e de menor tama- tudo o mais que compartilho com a humanidade, em todos os tempos e
nho flutuavam cada vez maís nos círculos maiores do redemoinho, apro- lugares; e no plano intermediário, comum a um grupo que vivencia as
Ti
168 P:wA VE?JJELHA" ~o 5 •SECUNDO SEMES!KE • 200 \ SERvit;o SoC!Af.: AANAL oo cuE sE TRATA? 169
i
mesmas experiencias, relac;:oes de companheirismo, tempo, lugar e forma escolhi esta profissiio (profissional); o que vejo as assist<mtes sociais
de inserc;:ao social. fazerem niio precisa de faculdade; para que estudar tanta coisa? (es-
Nesta lógica, o mal-estar que na minha hipó tese habita corac;:oes e mentes tudante). O tom subjetivo e inquieto das entrevistas se esvaece no correr da
da e do assístente social, só pode ser entendido na conjugac;:ao destes tres análise para dar lugar a urna interpretac;:ao objetiva, externa aos sen timen tos
planos: o plano das subjetividades singulares, individuais; o plano das dos agentes, pela qual a autora passa a lidar com a crise de materialidade
subjetividades do coletivo mais ou menos homogeneo de profissionais e do servic;:o social, como resultante da díminuil;:iio drástica da base material
estudantes de Servic;:o Social; e no plano constituído pelo conjunto de fatores do exercício profissional e da hipertrofia da atuac;:ao socioeducativa, como
macrossocíaís, que vao desde as estruturas económicas e políticas ín- fator explicativo do desencanto expresso pelas entrevistadas. Tout court, a
ternacionaís e nacionais, a cultura, a vida social, até as demandas que sao angústia das colegas é atribuído acrise de materialidade do servic;:o social.
dirigidas a profissao e aos profissionais; vincula-se coma teia de significados Em outros momentos, nao apenas escamoteadas, o mal-estar inscrito
e representac;:oes de assistencia, de servic;:o social e das noc;:oes que !he sao nas subjetividades das e dos assistentes sociais é alvo de admoestac;:oes.
correlatas, assim como com as representac;:oes do senso comum e os discursos Exemplo é o artigo de Denise Juncá:
formulados no interior da profissao com o objetivo de apresentá-la interna
e externamente. Nossas subjetividades e intersubjetivídades constroem-se "Os assistentes sociais permitem que seu exercício profissional seja trans-
no interior de urna categoría profissional que comunga, pelo menos formado numa ratina burocrática, num ritual que comporta, quase que
· parcialmente, de um mesmo ethos, urna mesma formac;:ao técnica e teórica, exclusivamente, ac;:oes de caráter imediatista, dissociadas de urna reflexao
compartilha dos mesmos discursos e ocupa urna posíc;:ao definida na história teórica: precisamos romper com nossa auto-imagem de profissional
e na geografía do mundo do trabalho. subalterno" (1997:47; destaques nossos).
Compreender o sofrimento inscrito nas subjetividades das e dos assis-
tentes sociais implica escutar o ruidoso silencio que os encobrem: incertezas, Outros autores, ao tratar das inquietac;:oes e angústias que afetam os
decepc;:oes, frustrac;:óes e sentimentos de menos valia, expressos em queixas profissíonais, adotam urna postura irónica, de advertencia ou de menos-
e brincadeíras, em confidencias e chistes, logo se calam quando talamos prezo: para Ander Egg, nossa identidade é a nossa niio-identidade; Netto
seriamente do Servic;:o Social com letras maiúsculas. Nao que fiquem es- faz um alerta para a prevalencia de temas voltados para o que ele denomina
condidos. Ao contrário, as inquietac;:oes com os déficits identitários do intemalidade do servic;:o social e Montaña, zombeteiro, fala de urna pere-
servic;:o social, com as fragilidades de suas bases de legitimidade, com seu grinac;:iio profissional em busca obsessiva de urna legendária especifi-
precário reconhecimento social e com a nebulosidade dos limites da es- cidade. Com efeito, a dassificac;:ao de temas dignos de fazer parte de nossa
pecificidade profissional, substratos do dito sofrimento, aparecem recorren- agenda de debates academicos tem nos levado a urna mudez sobre o sofri-
temente nos enunciados de pesquisas e ensaios academicos, nos temas de mento da e do assistente social, num movimento de ocultamento que Peter
congressos academicos e profissionais, e sao tratados em reunioes de caráter Burke assím descreve: "urna maneira de ver é também urna maneira de
formal e informal. nao ver; a atenc;:iio colocada sobre o objeto A nos abriga a neglicenciar o
No entanto, as análises teóricas, mesmo que calcadas em depoimentos objeto B".
marcados com forte tonalidade existencial, quase que invariavelmente Foi minha história profissional que sustentou a convicc;:iio de que valia
resvalam para um discurso geral e prescritivo, tendendo a ocultar, escamo- a pena investir neste obscuro objeto B¡ ambíguo, de difícil apreensao, mas
tear, negar ou reprovar sua dimensao subjetiva e os sofrimentos expressos nem por isso menos relevante. Balizei minha pesquisa na convicc;:ao de que
pelos profissionais e estudantes. Exemplo disto é o artigo de Rose M. Serra, urna boa parte das e dos assistentes sodais experimenta, ou experimentou,
"A crise de materialidade do Servic;:o Social", que comec;:a com recortes de em alguns ou em muitos momentos de sua vida profissional, sentimentos
falas de assistentes sociais e estudantes: niio vejo perspectiva, niio sei porque de mal-estar, cuja origem e colorac;:iio enraízam-se na memória, nas repre-
1

J
170 PRAIA VERMELHA • Nº 5 •SEGUNDO SEMESTRE• 2001
SER\<1CO SoOAt: AflNAL oo cuE SE TRATA? 17 1

suas convergencias, divergencias, disputas e combinai;:oes sao, no nosso


sentac;:oes, nas finalidades e práticas cotidianas de seu trabalho. Meu tema
entender, elementos de compreensiio do sentimento de mal-estar das e dos
enfoca o mal-estar de um profissional que, compartilhando dramas huma-
assistentes sociais.
nos, depara-se com as enormes distancias que separam o que ele pode efe-
Assim, o tempo de minha vida profissional permitiu-me formular
tivamente e concretamente fazer do que se espera que ele fai;:a e, especial-
quest6es que me serviram de guia para a pesquisa de campo para a tese;
mente, do que ele mesmo espera fazer; com indefinii;:oes e contradii;:oes
neste artigo, exploro sucintamente duas delas.
inscritas nas demandas que lhes siio dirigidas pelos clientes e instituii;:oes
A primeira centra-se na idéia de que nós, assistentes sociais, convivemos
empregadoras; com divergencias e contradii;:oes entre os sentidos que !he
com um niio-se-saber-dizer que, síntoma das fragilidades dos suportes de
siio atribuídos pelas vozes da prai;:a pública e peias vozes formatadoras da
identidade, de legitimai;:iio e de reconhecimento sociais da profissiio, atinge
profissiio, as vozes oficiais; com as expectativas de urna missiio profissio-
profundamente nossas subjetividades. Convivemos com um indizível que
nal que muitas vezes se mostra ímpossível frente a escassez de recursos
se expressa nas hesitai;:oes e perplexidades que tomam canta de cada um de
financeiros e as prioridades políticas e administrativas cada vez maís dis-
nós quando ouvimos perguntas aparentemente banais: o que é servii;:o
tanciadas da questao social; com um trabalho que, definido por múltiplas
social? o que faz o assistente social?
finalidades, torna-se difícil de ser explicitado e avaliado, pois niio se tem
Na busca da superai;:ao <leste nao se saber dizer, tanto os discursos
como avaliar quando niio se sabe o que se quer alcani;:ar.
oficiais como os empíricos da e sobre a profissao sao atravessados por
A este conjunto de fatores associa-se a fluidez das fronteiras dos saberes
ambigüidades e contradii;:oes, que tornam ó luz as dificuldades de definii;:ao
e fazeres profissíonais que minam seus suportes identitários e legitimadores
do servii;:o social quanto a seus flns, objetivos e instrumentalidade. Indeci-
e expressam-se na fragilidade do seu status social e académico, nos baixos
dível é o termo cunhado por Yves Barel para falar do real do servíi;:o social
salários, no pequeno número de assistentes sociaís em cargos de direi;:iio,
e da vivencia da e do assistente social que se percebe na confluencia de
assim como na preseni;:a indiscriminada de outros profissionais, niio-
demandas, orientai;:óes e sentidos, muitas vezes contraditóríos e de difícil
profissionais e voluntários no amplo espai;:o ocupacional da ai;:iio social.
conciliai;:iio: controle e reprodui;:ao da fori;:a de trabalho explorada pelo
Sentimos o desconforto de freqüentemente vermos nosso trabalho ser
sistema industrial urbano; normalizai;:üo da sociedade pela preveni;:ao,
confundido com ai;:oes beneméritas e niio profissionais, muitas vezes
educai;:üo, animai;:üo, ajuda económica, prestai;:üo de servii;:os; domesti-
identificadas com interesses alheios a ética profissional.
cai;:üo da marginalidade e manuteni;:üo da oi;dem através de mecanismos
Os esfori;:os que fazemos no sentido da construi;:iio de um carpo teórico,
microssociais, como a supervisüo de espai;:os miúdos da casa, da escola, da
ético e técnico, coerente e consistente, demarcado pela ruptura comas noi;:oes
família; conscientizai;:üo, mobilizai;:iio e organizai;:üo da sociedade em de-
que nos deram orígem, encontram resistencias em representai;:oes e práticas
fesa de seus direitos; !uta política pela transformai;:üo da sociedade. Como
sociais antigas, retomadas e reatualizadas sob novas roupagens. Os valores
mulheres, preenchíamos as condii;:óes para penetrar nos espai;:os cotidia-
vínculados ó píedade e ó caridade crista continuam a habitar o ambiente
nos, angariar confiani;:a dos grupos e alcani;:ar sensibilidades que serviríam
simbólico e prático, externo e interno ó profissiio; reproduzem-se na per-
tanto para incrementar as redes de controle das condutas desviantes e
cepi;:iio espontanea do senso comum e no saber das diversas gerai;:oes de
garantir o equilíbrio social, como para mobilizar consciencias, incentivar
assistentes sociais que se sucedem. As aspirai;:oes de universalidade e obje-
a formai;:iio de grupos com sentido coletivo e político.
a
tividade próprías das profissóes modernas, associadas racionalídade e ªº
Estamos assim situadas e situados na mediai;:iio de conflitos, dilacera-
imaginário masculino, convivem com a lógica cultural do feminino, im-
das e dilacerados entre objetivos, lealdades e interesses antagónicos, ex-
pregnada pelo valor do envolvímento afetivo e da doai;:iio. Universalidade
perimentando a incontornável associai;:üo entre o ato assistencial e o controle
versus particularismo, masculino versus feminino, distanciamento versus
social, entre a ajuda e a dominai;:üo, entre a aspirai;:üo por urna ai;:üo pro-
envolvímento, utilitarismo versus dom, profissionalismo versusvoluntariado,
fissional transformadora e a manuteni;:iio de urna ordem social mínima e
sociotechnique versus sociosolidaire (expressiio da Revista Esprit, 1972, 1998):
T
1

172 PRAIA VERMEU-!A • ~ 5 • SEGUNDO SEMES'rnE. • 2001


SER\<1!:;0 SOC!ilL'. AflNAL 00 QUE SE TPJ..TA? 17~

injusta. O imperativo ético da ap:io de longo prazo coexiste com os reclames nável no rol das profissoes o que nos leva a nos pergunta1, implícita ou
de urgencia dos sofiimentos sociais e humanos. explicitamente, se efetivamente usufruimos dos beneficios de pertencer ao
É neste espa~o conflitual que as instó.ncias de produ~áo de sentidos pro- grupo das ocupa<;:6es que al~aram o patamar profissional. Esta e outras
poem-nos modelos profissionais referenciados simultaneamente na assis- dúvidas nos afetam na medida em que sáo marcadores de nossa posi~iio no

tenda, e na cidadania; na a~áo generalista, e na espedaliza~áo técnica; na mercado de trabalho, território onde se trocam dinheiro, poder e prestigio.

aen~áo individualizada, e na a~áo social coletiva; na visáo de urna sociedade Afetam, assim, as possibilidades do servi~o social responder as aspira~oes e

liberal, e na utopia de constru<;:áo de urna sociedade igualitária, cuja meto- necessidades de reconhecimento social, de crescimento na carreira, de auto-
dología se define, no nosso espa<;:o academico, como dire~áo social estra- estima e autonomía, enfim, de realiza~áo pessoal e profissional. Assim é
tégica. Discursos, sentidos e práticas contraditórios atravessam nosso dia- que a fluidez de limites profissionais, imbricada com as já muito debatidas
a-dia: entre a compaixáo, e o direito; a integra~áo, e a transforma~áo social; dificuldades de demarcap'.io da especificidade e do estofo teórico do servi<;:o
a a<;:áo social movida pela urgencia, de curto alcance, e a de longo prazo; o social entre as disciplinas que se ocupam dos estudos do homem e da so-
humanitarismo apropriado pelo espetáculo e pelas mídias, e a cultura de ciedade, me fizeram recorrer as pesquisas e ensaíos da Sociología das Pro-
urna relativa invisibilidade, pautada pelo respeito aprivaddade da dore da fissoes, área do conhecimento sobre o social que, entre outras questoes,

ajuda; entre demandas de qualidade e eficiencia, e o caráter eminentemente discute os paró.metros de defini<;:áo do conceito de profissáo e sua distin<;:áo
das demais ocupa~oes.
simbólico de nossa prática. Difícil pensar em eficáda e medir os resultados
de um trabalho que náo se enquadra na racionalidade do tipo instrumental, A escolha da metodologia para o trabalho de campo guiou-se pela
preocupa~áo em apreender as subjetividades dos nossos sujeitos, foco da
regida pela adequa~áo entre meios e fins.
Este conjunto de incertezas e indefini~oes traduzem-se, no plano das epistemologia de Alfred Schutz. Formulada a partir de Max Weber e Husserl,

subjetividades das e dos assistentes sociais, numa sucessáo de experiencias esse autor sustenta que o método das ciencias sociais visa, por excelencia,
de dúvidas, frustra~áo e dilaceramento. Vivenciamos as solicita~oes de urna compreensüo de segundo grau, ou seja, visa compreender o
direcionar nossos fazeres por finalidades heterogeneas, indecidíveis e muitas compreendido pelo ator social, principio também reafirmado por Paul
vezes impossíveis face ao tamanho dos problemas com os quais lidamos e Ricouer, que fala em levar a sério a palavra do ator:

os estreitos limites e condicionantes impostos pela realidade política,


económica, social e institucional; um quadro que se agrava com o processo "O pesquisador deve obrigatoriamente seguir de forma próxima os atores
de desmonte do Estado Social sob a batuta do paradigma neoliberal. Num no seu trabalho interpretativo (...) deve levar a sério seus argu~entos e as
registro próximo, o caráter ambivalente da profissáo manifesta-se na coexis- provas que apresentam sem procurar reduzi-las e desqualificá-las, opondo-

tencia de dois mapas de sociabilidade, a sociabilidade primária e a socia- lhes urna interpreta<;:ao mais forte" (citado por Dosse, 1997:166).
bilidade secundária, ambos matrizes configuradoras do desenho profissio-
nal. Superpostos, tais mapas náo se confundem: o primeiro associa-se as Esta escolha exigiu-me urna escuta cuidadosa a conjuga~áo dos senti-

rela~6es agratuidade, ªº dom e ªº modelo cultural do feminino;


pessoais,
mentos e das racionalidades dos sujeitos de pesquisa com meus próprios

e o segundo a impessoalidade, ªº interesse a competitividade e ªº modelo sentimentos e racionalidades, de aten~áo as minhas próprias palavras e
masculino. gestos, as palavras e gestos de colegas, assistentes sociais, docentes, alunos,

A partir destas reflexoes, a segunda hipótese desenha-se no contorno do dentro e fora da sala de aula.

mal-estar como expressáo das dificuldades da demarca~áo do servi~o social A coleta sistemática de dados ocorreu no 22 semestre de 1998, e constou

como urna profissao no mapa da divisáo social do trabalho. A precariedade de entrevistas semidirigidas com estudantes de Servi~o Social do último
de nossa arquitetura ocupacional, mesmo sendo operacional, náo nos fo me- período, reunioes com todos os forrnandos daquele ano e entrevistas com
ce suportes suficientemente robustos para urna inclusáo nítida e inquestio- assistentes sociais. Foram escolhidas, entre as 56 forrnandas daquele semestre,
l 74 PRAJA VERMElHA • rl' 5 • SEGUNDO SS"51RE • 2001 SER1;1c;:o ScOAL: AANAL oo cuE SE TP.ATA? 175

14 estudantes comas seguintes características: todas mulheres, situadas na 1. SERVR~O SOCIAL: AIFINAIL, 11>0 Ql!JIE SE TRATA?
faixa etária entre 24 e 54 anos; seís consideram-se mio brancas; cinco sao
maes. Comum a todas elas é o enorme esfon;:o d~ compatibilizac;:ao da O episódio foi-nos narrado por urna estudante do último período do curso
faculdade com o estágio e/ou trabalho, perfazendo urna jornada média de de servi~o social. Passa-se na hora do para-casa da filha, menina de nove
40 a 60 horas semanais; a maioria tem a seu cargo as tarefas de matemagem anos, cuja tarefa era a de entrevistar um dos país e preparar urna pequena
e de cuidados com a casa. Apenas urna delas é completamente dependente exposic;:ao para os colegas sobre sua profissao:
financeiramente da família; as demais sao responsáveis pela própria
sobrevivencia, pelas mensalidades da universidade e algumas delas também "(...) aí ela me perguntou: 'mamae, o que faz urna assistente social?' Engoli
pelo sustento dos filhos. Boa parte completou o 22 grau em cursos supletivos um nó na garganta. Comecei a falar. A gente trabalha assim, trabalha assado,
e a entrada na universidade deu-se num período médio de seis anos após o etc..... porque nao tem como voce definir o Servic;:o Social: Servic;:o Social é
término do curso médio. A metade dentre elas, antes de se decidir pelo isto. Depois que falei bastante, ela me disse: 'mae, eu nao vou te entrevistar
servic;:o social, tentou, sem sucesso, um ou mais exornes vestibulares: psico- nao'. Perguntei por que, e ela: 'porque tuda isto que voce faiou, eu nao vou
logia, odontologia, jomalismo, direito, educac;:ao físíca e história. A maioria conseguir falar pra minha sala. Vou entrevistar meu pai, porque o servico do
delas sao filhas de país analfabetos ou como 12 grau, sendo as primeiras na meu pai eu sei falar. Todo mundo entende; voce, ninguém entende''.'
familia a cursarem universidade.
Selecionei nove assistentes sociais, com base no critério de ano de Me poupe, é a resposta que urna assistente social, formada em 1970, dá
formatura entre os anos 60 a 70, procurando diversificá-las quanto as his- aos curiosos impertinentes que insistem em saber o que é o servic;:o social.
tórias de vida" e as histórias profissionais. A escolha das décadas nao foi Nunca ninguém me perguntou, esquiva-se outra entrevistada. Longos
casual. Os anos 60 e 70, para a juventude universitária brasileira, repre- segundos de silencio e risos amarelados se seguiram a minha pergunta: o
sentam um tempo de efervescencia cultural e política, de Jutas contra 0 que voce responde quando lhe perguntam o que é e o que faz o Assistente
regime autoritário e os conseqüentes.,embates cotn a_polícia. Vivemos, com Social? Todas elas, mesmo quando convictas de sua escolha, bem instaladas
mais ou menos intensidade, os mqvimentos de ~ontestac;:ao cultural e e realizadas na profissao, tiveram reac;:oes semelhantes.
particularmente de liberac;:ao da mu!her, deparando-nos com a novidade Este néío-se-saber-dizer nos remete a questoes relativas a autopercepc;:ao
da pílula anticoncepcional .e com a contestac;:ao d~ virgindade feminina. da profissao, a apresentac;:ao que fazemos para o outro e a percepc;:ao que o
a
Nós, estudantes de servi~o social, mgioría oriundupe famílias religiosas· e outro tem de nós. Leva-nos a pensar em como nos vemos, como nos mostra-
tradicionais, freqüentemente vimo-nos envolvida~·em conf!itos interge- mos e como somos vistos. Sentido como um déficit de discurso, as dificuldades
racionais e sentíamo-nos divididas eritre o novo'~;o antigo, entre a ·culpa de se autodefinir foi assim expressa por urna entrevistada, com larga
católica e a contesta~ao do script femínino que rios:foi legado, experimen- experiencia profissional: "o que fac;:o e acho que é isto que cada profissional
tando urna difícil combina~a.o do de§ejo e do m~do de se assumír como pode dizer, mas acho que nao tem como definir, no conjunto, o que é o
indivíduos independentes. '.:: · servic;:o social". Urna aluna manifesta sua apreensao em tom jocoso, sem
Minhas entrevistadas sao todas m~lheres, co~:Ídades variando entre esconder o desconforto nele contido: "ouvi dizerde urna menina que anotou
50 e 76 anos; de dasse média, a maioria delas é originária de famílias no cademo urna definic;:ao de servic;:o social; ando atrás desta menina".
tradicionais mineiras: católicas, numerosas, as mae~ donas de casa; os país Outra entrevistada, minha colega de turma, faz biague e nos diz ter perdido
sao funcionários públicos, pequenos comerciantes ·e profissionais liberais. o sano na noite que antecedeu a entrevista, "muito preocupada com a
Algumas aposentadas, todas com urna ampla vida: profissional e, de algu- possibilidade de voce me fazer 'a' pergunta: 'o que é servic;:o social?'."
ma forma ainda na ativa, ou como voluntária, cdwo profissional liberal Mas dizer é preciso. Somente o dizer constrói a identidade de um grupo,
ou na área academica. ·t define suas fronteiras, demarca as diferenc;:as com o ambiente externo. A
< :.
T
1
17 6 PRMA VERMELHA • rf 5 • SEGUl.00 SEMESTRE • 2001
SER\llC:O SoOAt.: AFINAL oo cuE SE TRATA? 177

1
construi;:ao de grupos sociais, na visao de Elias, dá-se pela intermedia¡;:ao de mecanismo nos leva a urna apreensao fragmentada do soc10l, como se os
categorias instituídas para perceber e instalar a diferencia¡;:ao, num processo problemas fossem autónomos em suas origens, determínai;:oes e possibilidades
no qua! se confrontam, como num espelho, as representai;:oes que os de interveni;:ao. Por outro lado, as tentativas de se-dizer dirigidas para a
indivíduos fazem de si mesmos e aquelas que !he sao impostas pelos outros. superai;:ao do aprisionamento no concreto tem-nos encaminhado para o pólo
O nao-se-saber-dizer como que nos cría a necessidade imperiosa (obsessiva?) aposto, para formulai;:oes de tal maneira genéricas que provocam o que Dubar
de estabelecermos distin¡;:oes entre o nós e os outros, através da produi;:ao de chama de descolamento do universo do discurso dos fatos palpáveis, de
discursos capazes de nos apresentar interna e externamente. lugares, objetivos, tecnologías, ratinas, hábitos. É ainda em Dubar que
Urna vertente deste esfor¡;:o pauta-se na defini¡;:ao do servi<;:o social encontramos urna referencia a um fenómeno comurn nos grupos profissionais:
referenciado aos problemas sociais específicos com os quais !ida. Nesta o desenvolvimento de um modo de falar restrito a um pequeno grupo. Para
lógica, a demarcai;:ao, a classifica¡;:ao e a interveni;:ao em problemas sociais nós, docentes e formadores dos novas profissionais, cabe bem a carapui;:a:
determinados definem os suportes de identifica¡;:ao e de legitima¡;:ao da conscientes de que dizer é preciso, conscientes de nosso papel de produtores
profissao. Encontramos um exemplo na fola de urna de nossas entrevistadas: de discursos, ternos apresentado a categoría profissional representai;:oes por
"sei folar o que fa<;:o no ... ,mas nao sei definir o que é e o que faz 'o' servi<;:o demais abstratas sobre o servi¡;:o social; falamos de suas missoes, objetivos,
social." O dizer-se, neste registro, ancora-se no relato de casos e/ou na des- competencias e fun¡;:oes de forma nem sempre precisa e clara, muitas vezes
cni;:ao de práticas profissionais tendo por base um problema social, urna dissodada das ratinas, lugares, discursos e fazeres das e dos assístentes sociais
institui¡;:ao ou urn programa: atendimento a criani;:as em situai;:ao de risco, de campo e das pessoas com quem convivemos, a quem prestamos servi¡;:o e
programas de formai;:ao de jovens desempregados, assistencia a mulheres que nos empregam. A tao sofrida distancia entre a teoría e a prática pode ser
vítimas de violencia, apenados, usuários de drogas, desempregados etc. pensada na lógica de um descolamento dos discursos ofidais em relai;:ao aos
Observamos urna enorme ginástica verbal para fazer coincidir o conceito profanos, entre os discursos produzidos na academia e os produzidos no campo.
de servi<;:o social com o fozer concreto da e do assistente social; as falas de Os primeiros, alicer¡;:ados nurn modelo profissionai moderno, carregam nas
duas estudantes sao ilustrativas: cores e linhas de ruptura com os arcanos da profissao, propondo modelos que,
liberais ou marxistas, sao sempre marcadamente diferenciados das práticas
"Ah ... para falar do servic:o social a gente tem de explicar muitas coisas ... sociais antigas. Na história que contamos, para nós e para os outros,
a gente tem de dar os exemplos mais básicos para depois chegar aos radicalizamos a distin¡;:ao entre trabalho social e servi¡;:o social e, no registro
1
objetivos reais. A gente tem de comecar pelo assistencialismo para depois das práticas, assinalamos a distancia entre assistencialismo e assistenda.
chegar até a assistencia e até a revolucao:'
Entendemos trabalho socíal como o con¡unto de práticas de aJuda a pessoas em condii;oes de precanedade
"Eu acho que o nosso pape! é colocar a cidadania, promover o ser humano, e desamparo. Amotlvacao do agente socíal reside nos sentlmentos de compa1xao, piedade ou candade
cnsta, geralmente no registro religioso e da socíabilidade pnmána, entre tamiliares, v1zinhos, redes
a conscientizac:ao de direitos e deveres. (...) Mas na verdade eu já cheguei a
comurntánas. Sao prancas encontradas em todas as sociedades e culturas que, de alguma forma, cnam
falar o contrário, que todo pepino que existe é coisa para assistente social:' mecanismos de protei;ao as pessoas e aos grupos submet1dos a sofrimento. Anteriores aleí e ao dire1to,
na concepi;ao de Rousseau a compaixao é compartilhada por todos os homens.
No entanto, as limitai;:oes deste enfoque ficam logo evidenciadas. Em O servii;o sooal representa um recorte neste conjunto de práticas, fundamentando-se em valores
primeiro lugar, porque os casos e as descri¡;:oes nao dao conta da passagem do laicos e pautando sua 1nterveni;ao em métodos baseados em conhec1mentos cíentificos das ciencias
sooa1s e humanas. Marca-se pelos pnncipíos da profiss1onalizacao moderna, quais seiam, formai;ao
particular para o geral, do servi¡;:o social praticado, para um conceito que
abranja o conjunto das atribuii;:oes e finalidades profissíonais; em segundo ¡ especifica, reconhec1mento de competénoa teónca e técnica, garant1a de espai;o exclusivo no mapa das
profiss5es, remunerai;ao adequada. Éurna criai;iio da sociedade moderna, identificado com a consolidacao
lugar, porque se trata de urna estratégia que nao alcan¡;:a a pluralidade e a do capitalismo. Aínterveni;ao profissional se faz no campo da socíabilidade secundária, ass1nalada pela
complexidade das demandas sodais e dos nossos fazeres; e por último, este ) racíonalidade e ímpessoalidade.

J
178 PRA!A VERMELHA • r.fJ 5 • SECUNDO SEMESTRE • 200 J
T
1
SERVl~o SooAt: AAr1AL oo QUE SE TAATA? 17 9

Sao muitas as tentativas de demarca<;:é1o conceitual do servi<;:o social. A indigna<;:iio da entrevistada expressa nosso medo de ser c0ntaminadas
Josefa Lopes elaborou um inventário analítico destas formulacéies teóricas pelas mazelas inscritas na imagem do pobre: a degrada<;:O.o humana que
classificando-as numo linha ao longo de dais pólos, cada qua! ~omportand~ acompanha as carencias, o fracasso e a dependencia de quem recebe sem
urna perspectiva diferente, senda em oposi<;:é1o: a perspectiva da integra~iio retribuir. Mas nao há como negar que, tanto no plano das ínterpreta<;:éies,
social toma como objeto as carencias e disfun~éies individuais ou sociais; 1
como das práticas e dos valores, persistem as no<;:éies de compaixO.o e de
predomina urna visiio atomizada da sociedade e os profissionais buscam f ajuda aos pobres, configurando um espa<;:o profissíonal híbrido, no qua!
1
a neutralidade pela adesiio a valores a-históricos; o objetivo da a<;:iio teorías, ideologías, simbologías e práticas se misturam, se combinam e/ou
profissional é o ajustamento e a integra<;:iio sociais, através da presta<;:iio disputam a posi<;:O.o hegemónica.
1
de servi<;:os e forma<;:iio de comportamentos integrados; a perspectiva da Lan<;:ando milo do paradigma de Robert Castel sobre a questao social,
liberta~iio social desloca o objeto da a<;:iio da carencia para a domina- entendemos nosso campo profissional como atravessado por dais sentidos:
<;:iio; a profissiio analisa a sociedade pela ótica histórico-estrutural e 0 o sentido dos direitos e o do social assistencial. No seu livro Metamorfoses
assistente social se identifica com a clientela e seu objetivo é de forma<;:O.o da questao social Castel tra<;:a um histórico das prote<;:éies sociais a partir do
da consciencia social para a mudan<;:a da sociedade. final da Idade Média, conceituando questao social como urna inquieta~iio
Esta segunda perspectiva, prevalente no conjunto da produ<;:é1o oficial do a
quanto capacidade de manter a coesiio da sociedade. Ganhando visi-
servi<;:o social, parte da crítica radical da profissao, tomada como historicamente bilidade nos tempos inicíais da Revolu<;:iio Industrial, a questao social ganha
vinculada aos interesses das classes dominantes; cito Maria Lucía Martinelli: contornos mais nítidos na mesma medida em que se delineiam duas mo-
dalidades de interven<;:iio: a regulamenta<;:O.o e o controle dos direitos do
"Profissao complementar, a servi<;:o de terceiros, representando perma- trabalho pelo Estado, dando suporte a sociedade salarial; e as iniciativas de
nentemente formas mistificadas de repressao e controle; urna profissao prote<;:iio aos que esta.o excluidos do trabalho e das redes de prote<;:O.o pri-
que por fori;:a de sua identidade atribuida e como estratégia do próprio márias: os desfiliados, ou em desvantagem, alvo de a<;:éies sociais definidas
capitalismo, acabou por responder mais prontamente as demandas do como social-assistencial.
capital, acentuando-se a sua característica de instrumento de reprodui;:ao Com este modelo, Castel como que faz urna clivagem na chamada
das rela<;:6es sociais e de produi;:ao capitalista" (1989:240). questao social com reflexos nas formas de presta<;:éies sociais: de um lado, os
direitos sociais atrelados a condi<;:O.o de trabalhador, com alcance exclusivo
Mas discursos críticos e indicadores do sentido da liberta~iio social, ao assalariado; de outro lado, as prote<;:éies as popula<;:éies sem eira nem
coexistem com outros, em geral pouco sistematizados e sem o estatuto de beira, os vagabundos dos finais da Idade Média, os desfiliados que hoje se
oficiais; identificados com a integra~éio social e com as simbologías fun- multiplicam soba égide do neoliberalismo. Éa esfera do social-assistencial.
dadoras da profissiio. Tanto no meio profissional como na pra<;:a pública, Sabemos, pela nossa experiencia profissional, o quanto é difícil transferir
permanecem e reproduzem-se as representa<;:éies do servi<;:o social como as conquistas dos direitos sodais da sociedade salarial para os desfiliados,
expressao de sentimentos de compaixoo e piedade, no registro da caridade tristemente identificados com os inúteis do mundo: falta-lhes o lastro do
crista e de ajuda aos pobres e necessitados. trabalho que permitiría pensar no socíal-assistencíal como um direito. Assim,
Urna aluna contou-nos indignada que, no 6nibus, conversando com um sabemos que apregoar a assistencia como um direito do cidadiio e um
colega de universidade, estudante de economía, ele lhe perguntou o que estu- dever do Estado é mais urna frase de efeito que nos empenhamos em tomar
dava. SeIVi~o social, respondeu-lhe. Ele entao quis saber de que se tratava e ela: realidade do que urna expressiio desta realidade.
um profissional que trabalha com comunidades carentes, que trabalha Há autores que, analisando o papel social do Estado contemporiineo,
com a questao social, para que os excluidos sejam considerados cidadiios destacarn a distiinda entre o propósito e a efetiva<;:O.o dos direitos sociais;
etc. e tal; ao que ele conduiu, entiio voce vai ser doutora em pobreza? Norberto Bobbio, entre outros, faz como que um alerta: "o núcleo dos direitos
180 PRAIA VERMELHA • r.f 5 •SECUNDO SEMESTRE• 2001

sociais niio estarla na sua fundamenta\:i'io, mas na exeqüibilidade ... niio se


¡ Srn-.1<:;:0 SoctAL: AF!NAL oo QUE sE iRATA?

social se inicia com urna mala pesada, repleta de tradi\:oes, de ~imbologias


18 1

trata de justificó-los, mas de protege-los". e valores; para muitos de nós, urna mala a ser descartada na primeíra esquina;
De muitas maneiras a disjun\:i'iO entre as práticas voltadas para a para outros, nem tanto, afina! poderla servir para alguma coisa. Mas, pelo· · ·
efetiva\:i'iO do direito e as de atendimento sócio-assistenciais se explicita no que há de bom e de ruim, estamos condenados a carregar esta mala; resta-
cotidiano da e do assistente social. O foider de um programa de assistencia nos saber como. Écom ela a tiraco lo que trabalhamos no sentido de redefinir
de urna prefeitura da grade BH declara que seu objetivo é: "Acolher o cidadiio e demarcar nosso espa\:o no mapa das ocupa\:6es, no qua! aspiramos a um
no momento em que sua sobrevivencia está amea\:ada". Cidadania e lugar de profissional, porque qualquer que seja sua definí\:i'io, profissiio
sobrevivencia, direito e assistencia, no\:6es que niio fazem parte do mesmo sempre indica um estatuto social superior no ranking das ocupa\:oes. Embora
campo semdntico, sao germinadoras de tensoes que atravessam o universo a sociologia das profissoes niio tenha chegado a um consenso sobre a
teórico e prático do servi\:O social e inquietam os profissionais: entre o defini\:i'io da categoria profissao, um elemento é comum a todas as correntes:
humanitarismo, e o projeto de transforma\:oes sociais profundas; entre o a condi\:i'iO de profissional assinala urna distin\:i'iO positiva em rela\:iiO ao
servi\:O social tecnocrático e o servi\:O social político; entre o modelo gestio- conjunto das demais ocupa\:6es em termos de status, prestigio, autonomía,
nário, guiado pela produtividade e eficácia capitalistas, e o modelo libertário, rendimentos e exclusividade de um campo específico de trabalho.
de matriz marxista; entre a piedade, a compaixiio, e o direito universal; Um estudo clássico, datado de 1915, um dos primeiros a apresentar um
entre o controie social e a emancipa\:i'iO. conceito de profissiio, tem como título urna pergunta que nos toca: "Is social
Para as assistentes sociaís formadas na década de 1960, o verdadeiro, o work a profession?" Seu autor, Flexner, responde que sao profissionais os
autentico servi~o social é o servi~o social de comunidades; urna outra, médicos, os engenheiros, os advogados e os que estudam as artes: literatura,
graduada 10 anos depois, representante assim da década de 1970, nos diz pintura, música. A justificativa, "garantir a justi\:a e cuidar dos enfermos
ter se sentido como que traindo a história e os compromissos da profissao, siio fun\:oes sociais vitais e por isso siio forma\:6es intelectuais as mais antigas
porque faz atendimentos sociais de casos numa abordagem relacional( ...) e organizadas de forma autónoma". O servi\:o social, excluído da categoría
é como se eu estivesse abandonando as !utas políticas. Outros tantos profissao, seria, na melhor das hipóteses, urna semiprofissiio ou, na pior,
depoímentos, recolhidos nas entrevistas com estudantes e profissionais, urna niio-profissao. As atividades desenvolvidas pelo assistente social niio
expressam as ambigüidades do serví\:O social nas nossas subjetividades: exigiriam a forma\:iio intelectual e a organiza\:i'io enumeradas por Flexner.
"Como selecionar a miséria? É impossível. Chegueí a um ponto que hoje Desta forma, poderiam ser desenvolvidas por médicos, sociólogos, militares,
concedo (o beneficio) aos primeiros que chegam. Quando acaba, acaba." enfermeiros, professores, padres, pastores, advogados, e sobretudo por
"Escuto as histórias mais trágicas; muito sofrimento, muita desesperan\:ª· pessoas voluntárias, de acordo coma lista de Alfredo Henríquez, assistente
Niio tenho o que fazer, nem para onde encaminhar. Um desespero; vivo isto social chileno radicado em Lisboa autor de um estudo - talvez o primeiro -
todo odia. Nao dá nem para contar." sobre o servi\:O social e a sociología das profissoes.
"Se a gente faz urna leitura mais generosa (dos critérios) e concede o A partir deste estudo inaugural, outros sociólogos dedicaram-se a
beneficio, pois sente a necessidade da pessoa, pode estar comprometendo o demarcar o conceito de profissiio, e entre eles Talcott Parsons, que a localiza
recurso para o mes seguinte. Se é rigorosa, fica de fora um tanto de gente no paradigma funcionalista. Cada vez mais fino e mais preciso, o lugar
que precisa." social dos profissionais vai sendo definido pelos seguidores de Parsons, sempre
no sentido de ressaltar a condi\:i'iO privilegiada em rela\:i'io ao conjunto das
ocupa\:6es. A perspectiva funcionalista define os atributos distintivos dos pro-
l. O SERVl~O SOCIAL E A SOCIOLOGIA DAS PROFISSOES fissionais em rela\:i'io aos niio-profissionais, semiprofissionais e as ocupa\:oes
em geral, pautando-se no modelo médico/paciente, donde a enfase na dua-
Originário das artes antigas, o processo de profissionaliza\:i'io do servi\:O lidade conhecimento-ignordncia, e na complementaridade autoridade-con-
182 PRAIA VER.1.IELHA • Nº 5 • SECUNDO SEMESTRE • 200 J SERVt<;o SoOAL: AFINAL oo auE SE TAATA? 183

fiani;:a. Embora hoja difereni;:as entre os autores, persiste um núcleo básico, cercados sociais, espai;:os exclusivos que restringiriam as oportunidades de
pautado na reuniao dos seguintes atributos: i) desprendimento- o profissional competitividade; a visao marxista, de outro lado, aponta para os efeitos
nao apostaría apenas nos lucros pessoais, mas seu interesse estaría voltado políticos de refori;:o de elitismo.
para a prestai;:ao de servii;:os aos clientes; movido por valores impessoais, o Entre as correntes críticas, destacamos a sociología interacionista que,
profissional estarla preocupado com o avani;:o da ciencia; ii) reconhecimento tributária da Escala de Chicago, apresenta o funcionalismo como um
de urna competencia - teórica e prática - oriunda de um saber legitimado e empreendimento pseudocientifico de legitimai;:ao de urna ideoiogia, a ideo-
adquirido por urna formai;:ao longa; iii) trabalhador diferenciado que justifica logía profissionalista. Autonomía, auto-organizai;:ao, prívilégios socíais e
o monopólio da realizai;:ao de atividades profissionais assegurado por orga- jurídicos sao aspirai;:oes comuns a todos os grupos profissionais, e 0 que
nizai;:oes profissionais; iv) pertencimento ó.s frai;:oes superiores das camadas cabe ó.s ciencias sociais é o entendimento dos processos históricos, das tra-
médias, por prestigio, rendimentos e poder. dii;:oes e das estratégias pelos quais determinados grupos ocupacionais
Profissional, assim, é o indivíduo ou grupo ocupacional que preenche conseguem ascender ao estatuto profissional e outros nao. Nesta lógica, a
os seguintes quesitos: i) conhecímentos sistemáticos e transmissíveis enrai- enfase dos estudos sobre as profissoes no pensamento interacíonista recaí
zados em teorias capazes de fundar habilidades técnicas específicas e apli- sobre os aspectos biográficos e relacionais, definindo a profissao como um
cáveis a situai;:oes concretas do trabalho; ii) reconhecimento da relevancia processo subjetivamente significante, construído na trajetória de urna vida
social das tarefas realizadas; iii) garantía da exclusividade sobre um individual em relai;:oes dinamicas comos outros. Ganham fori;:a as dimen-
determinado campo de atividades; iv) autonomía e direito de controle sobre soes biográficas e identitárias, rompendo com a divísao natural do trabalho
o processo de trabalho; v) respeitabilidade, destaque e prestigio social; vi) como resultado de urna capaddade técnica de responder ó.s necessidades
compromisso e preocupai;:ao com ética do trabalho; vii) exigencia de urna sociais.
formai;:ao de longo termo; viii) remunerai;:ao e prestigio diferenciados dos Para E. Hughes, um dos mais importantes representantes desta corrente,
demais trabalhadores. os procedimentos de distribuii;:ao social do trabalho promovem urna
Neste paradigma de compreensao, o servii;:o social ora é classificado no hierarquizai;:ao das funi;:oes, divididas entre funi;:oes profanas e sagradas.
rol das profissoes, ora nao o é. No primeiro caso, ficam em relevo as com- Os profissionais, a quem sao concedidos diplomas ou liceni;:as, constituíríam
petencias técnicas transmissíveis, a responsabilidade perante os clientes e os os grupos privilegiados, detentores de segredos, saberes sagrados e interditos;
colegas, a organizai;:ao em associai;:ao. A nao inclusao ressalta a ausencia de além disto, disporiam de um mandato, também como concessao social,
urna teoria própria consistente, o que nos transformarla em tecnólogos sociais. correspondente ao certificado de garantía da exclusividade do exercício
É evidente que a dúvida - somos ou nao profissionais - nos incomoda e profissional através de instituii;:oes mediadoras do poder estatal.
algumas vezes leva-nos urna militancia de defesa do métier. Ouvi de urna O privilégio dos profissionais seria o resultado de Jutas políticas para a
formando: garantía de privilégios, e nao o resultado de competencias distribuídas pelas
necessidades sociais. O interacionismo preocupa-se, assim, em compreender
"Se voce nao mostra do que é capaz, como vai querer o reconhecimento? O os passos pelos quais os grupos, que tem urna determinada ocupai;:ao, ten-
profissional passa a ser visto de forma negativa por causa de a, b, ou c. Voce tam tomó-la profissao; que estratégias tais grupos utilizam para criar urna
compromete o perfil do profissional. Conhei;:o assistentes sociais assim:' identificai;:ao com os modelos e valores ditos profissionais.
O conjunto de pesquisas realizadas pela escola, que toma como objeto
A visao funcionalista vai ser duramente criticada por outras correntes ocupai;:oes diversificadas (e nao apenas os considerados profissionais, como
das ciencias socíais, e o argumento é de que a enumerU!;:ao de atributos médicos, advogados), como músicos de jazz, peleiros etc., embasou urna
cumpriria urna funi;:ao ideológica de iegitimai;:ao de relai;:oes ·de poder. Do formulai;:ao teórica acerca dos procedimentos que oríentam os esfori;:os dos
lado da perspectiva liberal, a crítica considera que os atributos criariam grupos ocupacionais na direi;:ao de sua profissionalizai;:ao: i) o estabeleci-
184 PRA!A VE.q.'.\El.HA. rP 5. SEGurmo SEMESl'Rf. 2001 SERV1~0 SOCJAL: AANAL DO QUE SE TRATA? 185

mento de urna carreira que, entendida como estatutos, deveres e privilégios, sobretudo a auto-estima. Minha vida profissional niio se baseou no servico
permite aos indivíduos interpretar de urna determinada maneira o social técnico. Tomo u outros rumos". ,
significado de suas ac;:éies e de seus atributos; e ii) a socializapio, entendida O depoimento de urna aluna formanda acompanha o mesmo diapasO.o:
como a reivindicapio, pelo grupo profissional, de selecionar, formar, iniciar "o servíc;:o social é diferente das outras profisséies. O que move a gente é 0 ser
e disciplinar seus próprios membros e definir a natureza dos servic;:os que humano".
devem realizar e os termos nos quais devem ser feitos. O que se percebe é como se, na divisa.o das competencias esperadas de
Hughes localiza o trabalho social entre as ocupac;:éies que aspiram o um profissional, ficássemos coma competencia do saber ser e muito pouco
reconhecimento profissional, para o que faz urna releitura de seu passado do saber teórico e do saber técnico, urna tendencia que nos fragiliza e de
no sentido de articular urna nova forma de interac;:iio com os outros certa forma compromete o movimento de ingresso e fixac;:O.o do servic;:o
protagonistas: clientes, público em geral e outros grupos ocupadonais: social no rol dos profissionais.
Corroborando esta hipótese, anotamos o elenco de qualidades do ass;~­
"Os trabalhadores sociais se aplicam em provar que seu trabalho nao pode tente social para o próximo milenio em posters afixados nos murais de
ser executado por amadores, cujas esforc;:os sao apoiados apenas na boa urna escala de formac;:O.o de assistentes sociais:
vontade. É preciso urna formac;:ao previa aanálise dos casos, urna técnica
que se sustente sobre a consciencia e a experiencia acumulada sobre a "Humano, corajoso, desprendido, vocacionado, politizado, dedicado,
natureza humana e comportamentos em diversas circunstancias e situac;:oes paciente, respeitoso, educado, de bom senso, generoso, consolador,
de crise. O seu primeiro objetivo é definir a posic;:ao do profissional e de a confiante, confiável, espírito de ajuda, disponível, caridoso, comunicativo,
distinguir da do visitador social ou do reformador social que é apenas um integrador, que ama o próximo, carinhoso tolerante, sincero, engajado,
amador misericordioso" (1996:111 ). tranqüilo, talentoso, compreensível, ético, accessível:'

É fácil visualizar o movimento coletivo da categoria profissional no Na mesma lógica, um cartaz na sala de espera de um programa de
sentido de se firmar como profissional: criac;:O.o de escolas superiores e de atendimento de servic;:o social comemora o diada e do assistente social com
associac;:éies profissionais; desenvolvimento de dispositivos de controle sobre os seguíntes dizeres:
o mercado de trabalho; !uta por piso salarial; organizac;:O.o de pesquisas e de
estudos teóricos e empíricos. Temos em mO.os urna hístória de construc;:O.o "Ser assistente social é: receber o seu carinho e o seu sorriso é fundamental
'
profissional na qua! destacam-se momentos de avanc;:o em relac;:ao ao legado porque sei que voce me aceita. Entrar na sua intimidade, conhecer seus
de trabalho social praticado por leigos, voluntários, deslocado de reflexéies segredos e lhe ajudar a ser feliz, também me faz feliz. Pensar sempre com
teóricas e desprovido de instrumentalidade técnica, com baixo ou nulo o corac;:ao, pois voce merece respeito:'
reconhecimento social.
No entanto, os discursos das entrevistadas nem sempre engrossam estas Os dados evidenciam a ambivalencia presente no ambiente profissional
fileiras de luta; ao contrário, outras vezes, denotam baixa convicc;:ao quanto frente ao processo de profissionalizac;:ó.o: queremos e Jutamos para alcanc;:ar
ao estatuto profissional do servic;:o social. Para urna assistente social formada o lugar socialmente privilegiado reservado aos profissionais, mas ao mesmo
na década de 1960, por exemplo, nao há necessidade de se fazer o curso tempo mantemos a identificac;:ó.o comas simbologias e as práticas relacionais,
para exercer as atividades que sao atribuídas a urna assistente social. Na herdeiras das artes antigas e operadas no registro da sociabilidade primária.
sua opinió.o, mais do que uma profisséio, o servic;:o social é um servic;:o. Prestigio, garantia de rendimentos e de espac;:os exclusivos de atuac;:O.o, auto-
Urna outra assistente social, formada na mesma época, avalia que, do nomia de ac;:ó.o ancorada em conhecimentos teóricos e técnicos, difícilmente
curso, "o mais importante foi o embasamento para entender as coisas e combinam com os atributos elencados nos registros acima.
186 PRA1A VERMELHA • rf 5 • SEGUNDO SE.'.JESTRE • 200] SERVlc;o ScOAL: AflNAL oo QUE st TRATA? 187

Como intui to de detectar e compreender o grau de satisfap5.o com rela~éio ao


serví~o social, e a percep~éio do lugar ocupado na geografia ocupacional, A QUOI sert le travail social? Revista Espnt, Paris, ASSISTENTES SOCIAIS, 9, 1998, Goiiirna. Cader-
introduzí duas perguntas provocativas nas entrevistas de minhas colegas n. 24 l, 1998.
no de comunica(X)es. Goiania, v. 2, pp. 286-
289, 1998.
profissionais: "voce farta o curso outra vez? estimularta um filho a faze-lo?" Seis ALAYÓN, N. Ass1sténao e assístendalismo: controle
responderam que fartam sim; urna disse que sim, mas que fario um outro curso dos pobres ou erradica~ao da pobreza. Sao BEAUCHARD, J. (Dir.). !denútés collecwes et trovad
Paulo: Cortez, l 995. soaal. Toulouse: Privat 1979.
para completar a formap:to, direito ou psicoiogia; urna afirma categortcamente
que nao fario, nem estimularta os filhos, mesmo porque eles néio se interessam; ALMEIDA, B. F. Análise do processo de trabalho do BECKER, H.. S. Métodos de pesqwso em cienoas
assistente soaal frente aos impasses da con- SOCIGIS. Sao Paulo: Hucitec, 1993.
por fim, urna outra foi radical: néio faria e náo deixaria a filha fazer. temporaneídade. CONGRESSO BRASILEIRO DE
As razoes apresentadas pelas tres colegas que de alguma forma mani- ASSISTENTES SOCIAIS, 9, 1998, Goiarna. BOBBIO, N.A era dos dire1tos. Rio de Jane1ro: campus,
Cademo de comunica<;6es. Goiania, l 998. v.2, 1992.
festaram um certo nível de ínsatisfa~éio para com o servi~o social assentam- pp. 47-50.
se sobre a percep~ao da fluidez de fronteiras do campo do servi~o social, BODART, J. La quéte d'indent1té du travail social: une
ANCIAUX, A Approche textuelle et critique de la div1sion recherche d ·urnté alliée aun désir de s1ngulanté,
tanto na esfera profissional como academica, da falta de autonomía de soc1olog1que du travail socíal. Les Revue francrnse des affa1res soca/es, n. 3, l 983
atua<;:üo, de baixos rendimentos, da vulnerabilidade da e do assistente social cahiers de la recherche sur le travail soda/
n. 9, caen: Université de caen, 1995. '
a
frente demanda de tarefas subalternas, pouco valorizadas e pouco exi- BONELLI, M.G. Estudos sobre profiss5es no Brasil. In:
- - - - · O que ler em ciéncía soc10/
gentes no que se refere uso de competencias técnicas e teóricas, da impossi- ANDER-EGG, E. Del a1uste a la transformadón: brasile1ra (1970-1995). Sao Paulo: ANPOCS
apuntes para una história de trabaío Social. l999.v2. '
bilidade efetiva de controle do espa~o profissional, dividido com outros Buenos Aires: ECRO, 1975.
profissionais e nao-profissionais. BOURDIEU, P. (Dir.) La m1sére du monde. París:
ANDER-EGG, E. lntrodur;ao ao traba/ha soaal. Seuil, 1993.
Petrópolis: Vozes, l 995.
CASTEL, R Les métamorphoses de Ja quest1on
ARRISCADO NUNES, J. Com mal ou com bem, aos sooale: une chronique du salanat Pans: Fayard,
CONCLUSAO teus te atém: as solidanedades pnmárias e os 1995.
limites da soaedade providencia. In: .
Revista Crítica de Géndas Soda1s, n. 42, Coim- CASTRO, M. M. História do servI¡:o soaa/ na Aménca
Ao final de meu trabalho, percebi a nós, assistentes sociais, como eternas bra: 1995. Laúna. Sao Paulo: Cortez, 1984.
aprendizes: aprendemos a incorporar as contradi~oes e a entender que
AUTES, M. Le travail soaal índéfirn. In: _ _ __ COULON, A Céco/e de Oiicago. Paris: PUF, 1997.
nossa a~ao tem sentido e utilidade mesmo que nao se tenha consenso sobre Recherches etprévísions: travail soáal: tro1s points
seu conteúdo e finalidades; que nossas motiva~oes nao sao nem unívocas de vue. Paris: Cnaf 44, 1996. DANE, C Lex1que: le contexte global du travail social.
Revue Fran<;a1se de Service Soao/: Prat1ques
nem simples: trabalhamos voltados para os interesses e necessidades do AUTtS, M. Les paradoxes du travail soaal. París: Sooales Actuelles, Pans, n.177/178, 2º/ 3º
assistido, mas também para a satisfa~iio de nossos próprtos sonhos, interesses Dunod, l 999. trimestres l 995.
e necessidades, incluindo o dinheiro, o reconhecimento e o poder; que a BAILLEAU, F. et al. Lectures sodologiques du travai/ DE RIDDER, G. Les nouvelles frontiéres de
visáo emancipadora de nosso fazer, que nos leva a crítica e a rejei~iio do soda/. Pans: Ouvrieres, l 985. /'intervention socwle. Pans: L"Harrnattan,
1997.
papel controlador da pobreza e da marginalidade, nao nos afasta das práticas BARBIER, R Une analyse instnutionnelle du servíce social.
assistenciais humanitárias e emergenciais; que a persistencia da esponta- Sodo/ogie du Travail, Paris, n. l, pp. 55-82, 1973. DONZELOT, J. La police des famil/es. Pans: Minu1t
1978.
neidade náo nos faz perder o respeito pelos instrumentos técnicos de inter- BAREL, Y. O que está em ¡ogo no trabalho sedal. In:
ven~ao e pelos conhecimentos teóricos das ciencias sociais e humanas; --~· lnterven<;ao soaal. Lisboa: ISSSL, DONZELOT, J. Cinvention du soaa/: essa1 sur le
1985. déclin des pass1ons politiques. Pans: Editions
aprendemos a transitar entre a adesao e a rejei~ao da compaixao e da be- du Seuil, 1994.
nevolencia, entre a especializa~ao técnica e o militantismo, entre saberes BARROS-FREIRE, L Tendéncias do servíco social no
lim1ar do século XXI: o novo conse~adorismo e DORNELL, C. T. El imagmano social del colectivo
instituídos e os experienciais, entre o dito e o nao-dita. a ruptura diante dos novas desafios no campo profesional. Revista de Traba¡o Soda!, Sanllago,
Mas nao se faz tuda isto sem dar. Isto também nós aprendemos. do trabalho. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE n.64, p.41-45, 1994.
l 88 PRAIA VERMELHA • r-f 5 • SEGUNDO S.E:\~ESlKE • 200 l SERvl{;o SoOAL: AANAL oo ouE SE TRAi.1.? 18g

DOSSE, F. L'emp1re du sens: l'humanisalion des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Pans, servrao soda/: crisis de la reconceptualízación?
SERRA, R M. A cnse de materi?lidade do seNico
sc1ences huma1nes. Pans: La Découverte, 1997. 1990. Buenos Aires: Humarntas, 1976.pp.85-105.
social. Servr>o Sooa/ e Soaedade, Sao Paul~:
ano 14,pp. 147-162, 1993.
DUBAR, C.A soaalizar;iio: constrLI<;ao das identidades JUNcA, D. C. Ass1stentes e ass1st1dos: o feitico da NffiO, J. P. Transformac6es societárias e sefVJ<;o
soC1a1s e profiss1ona1s. Porto: Porto, 1997. identidade atribuida. Serv1r;o Soaa! e Soaedode, social: notas para urna análise prosped:lva da
SEVERINO, A J. Metodolog1a do traba/ha oentifico.
Sao Paulo: n. 54, pp. 26-49, 1997. profissao no Brasil. Servrr;o Soda/ e Soaedode Sao Paulo: Cortez, 2000.
DUBAR, C.; TRIPIER, P. Soalog1e des profess1ons. Sao Paulo, ano 17, n. 50, pp. 87-132, 1996. '
Pans: Armand Colin, 1998. JUNQUEIRA, S.S. Conce1tos e defin11;:6es de servic;o SOULET, M. H. Cnse do Estado prov1dénc1a e
social. Suplemento de Debates Soorns, Ria de NICOLACl-DA-COSTA, A.M. Mal-estar na família:
recompos1cao da 1ntervern;ao sooal. lntervenciio
EUAS, N. EfivoÍV!mento e distanaamento, estudos Jane1ro, n.2, pp.67-72, 1969. descont1nu1dades e conflito entre sistemas
Soaa( Lisboa, ns. 13-14, pp.107-125, J 996:
sobre sodología do conheamento. Lisboa: Dom simbólicos. In: FIGUEIRA S. (Org.). CLJ/turo e
Qu1xote, 1997. LARSON, Magali S. The rise of profess1onalism: a ps1conáhse. Sao Paulo: Brasilierise, 1985.
SOULET, M.H. (Ed.). Urgence, souffronce, m1sere:
soc1olog1cal analys1s. Berkeley: Urnvers1ty of lutte humarntaire ou polit1que sociale?.
FAYET, J. Approche théonque des représentabons de California Press, 1977. ONETO, L. El traba.10 social como mediador en la
Fribourg: Editions Umvers1ta1fes Fribourg
l'aide soClale parmi les travailleurs sooa1ux. Les gestion y diseño de polrticas soáales. Revista Su1sse, l 998.
Cahlers de la recherche en Travail Soaa/, Caen, LAVOUE, J. L'entre-deux du travail social. In: de Traba¡o Soaa/, Santiago, n. 64, pp. 47-53,
n.4, pp. 61-82, 1981. DARTIGUENAVE, J-Y.; GARNIER, J-F. Trovoil soaa/: 1994.
SPINK. MJ. (Org.). Prát1cos discursivas e produ~iio
la reconquete d'un sens. Paris: L'Harmattan, de sentidos no cotidiano. Sao Paulo: Cortez,
FRASER, N., GORDO, L. Contrato versus candade: pp. 126-145, 1998. ORWIN, C. Rousseau, a compaixao e as 01Ses da mo- 1999.
porque nao existe c1dadarna social nos Estados dem1dade. Aná/J"se Soda/: Modemidade e seus
Unidos. Revista Crítica de Cienaas Soaa1s, MARTINELLI, M.L. Se1V1co soool: 1dent1dade e aíticos, Lisboa, v. 33, n.146/147, pp. 307-322,
SPINK. MJ., MENEGON V.M. A pesquisa como prati-
Crnmbra, n. 42, pp. 27-52, 1995. aliena<;ao. Sao Paulo: Cortez, 1989. 1998.
ca discursiva: superando os horrores metodo-
lógicos. In: SPINK. MJ. (Org.). Práúcas discursivas
FREIDSON, E. Renasdmento do profiss1ona!ismo. MELANO, M.C. La insoportable levedad de las PAIS, J.M. Nas rotas do quondiano. Revista Oitica de
e produ>iio de sentídos no coúdiano. Sao Paulo:
Sao Paulo: Edusp, 1998. frontenzac1ones y los rasgos profess1onales que Cienoos Soc1a1s, Coimbra, n37, pp.105-116, Cortez, 1999. pp. 63-92.
conllevan. Revista de Traba¡o Sooo/, Santiago, 1993.
GENTILU, R. A prática como definidora da idenbdade n. 64, pp. 55-64, 1994. TAROT, C. Du fa1t social de Durhke1m au fa1t social total
profiss1onal do serv\<;o soC1a\. Servrco Soaal e POLANO, J.V. Las ra1ces de nuestra vocation.
de Mauss: I' obligation de donner-La découverte
Soaedade, Sao Paulo, ano 17, n. 53, 1997. MESSU, M.Lesoss1tessoaaux. Toulouse: Priva~ 1981. ---~·Revista de traba¡o soaal, Santiago: soc1olog¡que cap1tale de Marce! Mauss. Lo Revue
Urnvers1dad Catolica do Chile, n. 62, 1993.
de MAU.S.S., Pans, n. 8, pp. 68-10 l, 2º se-
GEREMEK, B. A píedade e a forca: históna da misena MEYER, C. Urna rele1tura de Maiy Richmond: ob¡etivos mestre 1996.
e da candade na Europa. Lisboa: Terramar, 1986. e limites do se!Vlt;O soCial de caso: cmquenta POUQUOl le travail soC1al? Revista Esprit, París, 1972.
anos depo1s. Debates Sooo1s, ano 2 1, n.41, 2° TITMUSS, R. Ass1sténc1a socíal e a arte do dom.
GUELL, A., ESTRECH, J. Soao/0910 de uno profesión: sem., pp. 46-56, 1985. RICHMOND, M. O que e SeIV1co Soda/ de Caso.
Humanismo sooolisto, Lisboa: Ed. 70, 1975.
los asistentes sociales. Barcelona: Ediciones Centro Brasile1ro de Coopera\:ijo de Serv11;os
Penlnsula, 1976. MEZAN, R. Sub¡et1v1dades contemporaneas?. Sub¡e- Soc1a1s (m1meo) Ria de Jane1ro, 1981.
VELHO, G. Sub1et1v1dade e soCJedade: urna
t1v1dades Contemporáneas, Sao Paulo: ano 1, experiencia de geracao. Ria de Janeiro: Jorge
GUIENNE, V. Le travoi! soaol piégé? Pans: L'Hannattan, n.I, 1997. RODRIGUES, Mde L. Soaolog1a das proliss6es. Oeiras: Zahar, J 989.
1990. Celta, 1997.
MI CELA, R. Antropo!og1a e Ps1conálise - urna 1ntro- VERDES-LEROUX, J. Traba/hadar soaal. Sao Paulo:
HENRIQUEZ, A O serV11;0 soao! e o doutnno dos dU<;:ao aproducao simbólica, ªº 1magmano, a SANTOS, J. Problemat1zando o ens1no da prática. In: Cortez, 1986.
profissiies. Lisboa: Centro Portugués de ln- sub¡etiv1dade. Sao Paulo: Brasiliense, 1984. CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTENTES
vestlgac;ao em Históna e Trabalho Social, 1998. SOCIAIS, 9, 1998, Goiarna. Codemo de Comum~
YAZBEK, M.C. A política soC1al brasile1ra nos anos 90:
(Estudos e Documentos, sene 1). MONTAÑO, C. Buscando la "especificidad" caciies. Goiarna, pp.160-162, 1998.
refilantrop1za<;ao da questao sooal. Cadernos
prometida: el "endogenismo" del serv1c10 do CEAS, Salvador: pp. 37-51, 1996.
HUGHES, E. Le regord soaolog1que: essais chois1s. social. Boletin Electrónico Surá, Costa Rica, SCHUTZ, A Fenomenología e relor;Des sodaís. Ria
Pans, L' tcole des Hautes ttudes en SC1ences pp. 1-31, 1998. de Jane!fo: Zahar, 1979.
Sooales, 1996.
MORIN, E. Sodolog1e du présent. Pans: Fayard, 1984. SCHUTZ, A. Le chercheur et le quatiáien. Pans:
ION, J., TRICART, J.P. Les Travoilleurs sodoux. París, Sociétes Méndiens Klincks1eck, 1987.
La Découverte, 1998. NffiO, J. P. Cop1talismo monopok"sta e servico sodol
Sao Paulo: Cortez, 1992. SERRA, R M. (Coord.) O servico soda/ e os seus
JAMUR, M. lmogínaíre du chongement et 1deolog1e empregodores: o mercado de trabalho nos
de lo pennanence: la format1on des assistents NffiO, J. P. La cnsis del processo de reconceptualiza- orgaos públicos, empresas e entidades sem
soC1aux au Brésil. Tese (Doutorado) tcole de ción del servicio social. In: _ _. Desafíos al fins lucrallvos no Estado do Ria de Janeiro, Ria
de Janeiro: FSS/UERJ, 1998.

Você também pode gostar