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* Doutora em Serv1~0 Social pela UFRJ. Professora titular da Escola de Servt~o Social da PUC-MG.
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Desde meus tempos de estudante de Servi\:O Social, pelos idos dos anos 60,
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na Escola de Servi\:O Social da entO.o Universídade Católica de Minas Gerais 1 salvo u-se.
acompanha-me um difuso sentímento de mal-estar para com o servi\:O social. O relato ilustra a peculiar situac;:éio do pesquisador em ciencias humanas
Pouco claro e nem sempre dizível, só muito lentamente este sentimento foi- e sodais de estar ao mesmo tempo dentro e fara, ser sujeito e objeto, num
se tomando nítido na minha interioridade e, na mesma medida, mostrando- lugar epistemológico que Morin define como dualidade interna:
se coletivo, partilhado por colegas, alunas e al unos. A contragosto assentou-
se em mim a convic\:0.0 de que, mesmo que apenas insinuado, um certo ªA dissociac;:ao cientificarnente indispensável entre observac;:ao e participac;:ao
mal-estar fazia parte da intersubjetividade dos agentes de servi\:O social. é urna dissociac;:ao intelectual que nao exclui a participac;:ao afetiva. Entre-
Neste artigo, tomo este sentimento como objeto de reflexO.o, respaldada tanto, a participac;:ao requer urn esforc;:o crescente e permanente de dis-
nos resultados de urna pesquisa que serviram de suporte para mínha tese de tanciamento e de objetivac;:ao. Constantemente o pesquisador deve elucidar
doutorado intitulada "Nós, as assistentes sociais - estudo antropológico aquilo que ele sente e refletir sobre sua experiencia. O pesquisador nao
das subjetividades e ambivalencias da profissO.o". pode esconder sua dualidade interior" (1984:172).
a
Chegar objetiva\:O.o <leste sofrimento, decifrar-lhe os contornos e
entender o silencio que o cerca, nao foram tarefas fáceis. A ambigüidade Um segundo recuo teórico implicou refletir sobre o conceito de
inscrita nos termos centrais do enunciado - o mal-estar da e do assistente subjetividade(s), foco do objeto de minha pesquisa. Renato Mezan enfatiza
social- teria sido suficiente para emperrar meu pro jeto, nao fosse a pergunta o caráter polissemico do conceito que, além de plural, incrusta-se no
formulada por Camille Tarot, filósofa francesa estudiosa de Marcel Mauss: cruzamento de duas dimensoes: subjetividade como experiencia de si ...
se forem recha\:ados todos os termos ambíguos, restaría ainda algum variedades e dimensoes desta experiencia, tendo o sujeito como foco e
objeto de pesquisa interessante?. Pelo seu tom provocador, a pergunta origem, e como condensac;:éio de determinac;:óes da ordem do biológico, do
deu-me coragem para correr riscos e acreditar nas intui\:6es ancoradas na económico, do sociai. No primeiro prisma, o su jeito, portador de um conjunto
minha própria experiencia. O legado de urna longa trajetória de assistente de experiencias singulares, afetado pelas coisas, pelas pessoas, pelas
social, supervisora de campo e docente, das leituras, observa\:6es e conversas situac;:5es, mantém-se no centro dos fatores que o afetam. A segunda vertente
com colegas e estudantes, constituiu o patrimonio inicial a partir do qua! enfoca a subjetividade como negocia\:O.o do individuo com os suportes de
ousei enfrentar o desafio de tomar meu sofrimento e o sofrimento das e dos seu mundo natural e social, e a enfase desloca-se para as oportunidades,
assistentes sociais como tema de estudo, ocupando o dupio lugar de sujeito limita\:5es e constrangimentos de sua biografía. Se o primeiro enfoque
e objeto da pesquisa. direciona o individuo para o mundo, o segundo direciona o mundo para o
Os escritos metodológicos de Norbert Elias e Edgar Morin ajudaram-me individuo, um movimento de méio dupla que traduz a ambigüidade da
nesta empreitada. Elias utiliza urna bela fábula de Allan Poe como metáfora palavra sujeito: sujeito de, e sujeito a, sujeito na sua fun\:O.o agentiva, e
da dualidade proximidade-distanciamento que, segundo ele, é própria sujeito sujei\:éiO.
das ciencias da cultura. É a história de tres irmO.os pescadores que foram A tenséio/negocia\:éiO entre subjetividade como consciencia de si e
surpreendidos por urna tempestade em alto mar. Um deles afogou-se nos subjetividade resultante das condi<;:6es objetivas da vida, ainda segundo
primeiros momentos da forte ventania. O segundo, ainda que em pcmico e Mezan, opera-se em tres planos: na singularidade das biografías, escolhas,
a custa de um grande esfor\:O de autocontrole, observou atentamente o que paix5es e sentimentos; na universalidade constituída pela linguagem e por
se passava em seu redor, e viu que os objetos cilíndricos e de menor tama- tudo o mais que compartilho com a humanidade, em todos os tempos e
nho flutuavam cada vez maís nos círculos maiores do redemoinho, apro- lugares; e no plano intermediário, comum a um grupo que vivencia as
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mesmas experiencias, relac;:oes de companheirismo, tempo, lugar e forma escolhi esta profissiio (profissional); o que vejo as assist<mtes sociais
de inserc;:ao social. fazerem niio precisa de faculdade; para que estudar tanta coisa? (es-
Nesta lógica, o mal-estar que na minha hipó tese habita corac;:oes e mentes tudante). O tom subjetivo e inquieto das entrevistas se esvaece no correr da
da e do assístente social, só pode ser entendido na conjugac;:ao destes tres análise para dar lugar a urna interpretac;:ao objetiva, externa aos sen timen tos
planos: o plano das subjetividades singulares, individuais; o plano das dos agentes, pela qual a autora passa a lidar com a crise de materialidade
subjetividades do coletivo mais ou menos homogeneo de profissionais e do servic;:o social, como resultante da díminuil;:iio drástica da base material
estudantes de Servic;:o Social; e no plano constituído pelo conjunto de fatores do exercício profissional e da hipertrofia da atuac;:ao socioeducativa, como
macrossocíaís, que vao desde as estruturas económicas e políticas ín- fator explicativo do desencanto expresso pelas entrevistadas. Tout court, a
ternacionaís e nacionais, a cultura, a vida social, até as demandas que sao angústia das colegas é atribuído acrise de materialidade do servic;:o social.
dirigidas a profissao e aos profissionais; vincula-se coma teia de significados Em outros momentos, nao apenas escamoteadas, o mal-estar inscrito
e representac;:oes de assistencia, de servic;:o social e das noc;:oes que !he sao nas subjetividades das e dos assistentes sociais é alvo de admoestac;:oes.
correlatas, assim como com as representac;:oes do senso comum e os discursos Exemplo é o artigo de Denise Juncá:
formulados no interior da profissao com o objetivo de apresentá-la interna
e externamente. Nossas subjetividades e intersubjetivídades constroem-se "Os assistentes sociais permitem que seu exercício profissional seja trans-
no interior de urna categoría profissional que comunga, pelo menos formado numa ratina burocrática, num ritual que comporta, quase que
· parcialmente, de um mesmo ethos, urna mesma formac;:ao técnica e teórica, exclusivamente, ac;:oes de caráter imediatista, dissociadas de urna reflexao
compartilha dos mesmos discursos e ocupa urna posíc;:ao definida na história teórica: precisamos romper com nossa auto-imagem de profissional
e na geografía do mundo do trabalho. subalterno" (1997:47; destaques nossos).
Compreender o sofrimento inscrito nas subjetividades das e dos assis-
tentes sociais implica escutar o ruidoso silencio que os encobrem: incertezas, Outros autores, ao tratar das inquietac;:oes e angústias que afetam os
decepc;:oes, frustrac;:óes e sentimentos de menos valia, expressos em queixas profissíonais, adotam urna postura irónica, de advertencia ou de menos-
e brincadeíras, em confidencias e chistes, logo se calam quando talamos prezo: para Ander Egg, nossa identidade é a nossa niio-identidade; Netto
seriamente do Servic;:o Social com letras maiúsculas. Nao que fiquem es- faz um alerta para a prevalencia de temas voltados para o que ele denomina
condidos. Ao contrário, as inquietac;:oes com os déficits identitários do intemalidade do servic;:o social e Montaña, zombeteiro, fala de urna pere-
servic;:o social, com as fragilidades de suas bases de legitimidade, com seu grinac;:iio profissional em busca obsessiva de urna legendária especifi-
precário reconhecimento social e com a nebulosidade dos limites da es- cidade. Com efeito, a dassificac;:ao de temas dignos de fazer parte de nossa
pecificidade profissional, substratos do dito sofrimento, aparecem recorren- agenda de debates academicos tem nos levado a urna mudez sobre o sofri-
temente nos enunciados de pesquisas e ensaios academicos, nos temas de mento da e do assistente social, num movimento de ocultamento que Peter
congressos academicos e profissionais, e sao tratados em reunioes de caráter Burke assím descreve: "urna maneira de ver é também urna maneira de
formal e informal. nao ver; a atenc;:iio colocada sobre o objeto A nos abriga a neglicenciar o
No entanto, as análises teóricas, mesmo que calcadas em depoimentos objeto B".
marcados com forte tonalidade existencial, quase que invariavelmente Foi minha história profissional que sustentou a convicc;:iio de que valia
resvalam para um discurso geral e prescritivo, tendendo a ocultar, escamo- a pena investir neste obscuro objeto B¡ ambíguo, de difícil apreensao, mas
tear, negar ou reprovar sua dimensao subjetiva e os sofrimentos expressos nem por isso menos relevante. Balizei minha pesquisa na convicc;:ao de que
pelos profissionais e estudantes. Exemplo disto é o artigo de Rose M. Serra, urna boa parte das e dos assistentes sodais experimenta, ou experimentou,
"A crise de materialidade do Servic;:o Social", que comec;:a com recortes de em alguns ou em muitos momentos de sua vida profissional, sentimentos
falas de assistentes sociais e estudantes: niio vejo perspectiva, niio sei porque de mal-estar, cuja origem e colorac;:iio enraízam-se na memória, nas repre-
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injusta. O imperativo ético da ap:io de longo prazo coexiste com os reclames nável no rol das profissoes o que nos leva a nos pergunta1, implícita ou
de urgencia dos sofiimentos sociais e humanos. explicitamente, se efetivamente usufruimos dos beneficios de pertencer ao
É neste espa~o conflitual que as instó.ncias de produ~áo de sentidos pro- grupo das ocupa<;:6es que al~aram o patamar profissional. Esta e outras
poem-nos modelos profissionais referenciados simultaneamente na assis- dúvidas nos afetam na medida em que sáo marcadores de nossa posi~iio no
tenda, e na cidadania; na a~áo generalista, e na espedaliza~áo técnica; na mercado de trabalho, território onde se trocam dinheiro, poder e prestigio.
aen~áo individualizada, e na a~áo social coletiva; na visáo de urna sociedade Afetam, assim, as possibilidades do servi~o social responder as aspira~oes e
liberal, e na utopia de constru<;:áo de urna sociedade igualitária, cuja meto- necessidades de reconhecimento social, de crescimento na carreira, de auto-
dología se define, no nosso espa<;:o academico, como dire~áo social estra- estima e autonomía, enfim, de realiza~áo pessoal e profissional. Assim é
tégica. Discursos, sentidos e práticas contraditórios atravessam nosso dia- que a fluidez de limites profissionais, imbricada com as já muito debatidas
a-dia: entre a compaixáo, e o direito; a integra~áo, e a transforma~áo social; dificuldades de demarcap'.io da especificidade e do estofo teórico do servi<;:o
a a<;:áo social movida pela urgencia, de curto alcance, e a de longo prazo; o social entre as disciplinas que se ocupam dos estudos do homem e da so-
humanitarismo apropriado pelo espetáculo e pelas mídias, e a cultura de ciedade, me fizeram recorrer as pesquisas e ensaíos da Sociología das Pro-
urna relativa invisibilidade, pautada pelo respeito aprivaddade da dore da fissoes, área do conhecimento sobre o social que, entre outras questoes,
ajuda; entre demandas de qualidade e eficiencia, e o caráter eminentemente discute os paró.metros de defini<;:áo do conceito de profissáo e sua distin<;:áo
das demais ocupa~oes.
simbólico de nossa prática. Difícil pensar em eficáda e medir os resultados
de um trabalho que náo se enquadra na racionalidade do tipo instrumental, A escolha da metodologia para o trabalho de campo guiou-se pela
preocupa~áo em apreender as subjetividades dos nossos sujeitos, foco da
regida pela adequa~áo entre meios e fins.
Este conjunto de incertezas e indefini~oes traduzem-se, no plano das epistemologia de Alfred Schutz. Formulada a partir de Max Weber e Husserl,
subjetividades das e dos assistentes sociais, numa sucessáo de experiencias esse autor sustenta que o método das ciencias sociais visa, por excelencia,
de dúvidas, frustra~áo e dilaceramento. Vivenciamos as solicita~oes de urna compreensüo de segundo grau, ou seja, visa compreender o
direcionar nossos fazeres por finalidades heterogeneas, indecidíveis e muitas compreendido pelo ator social, principio também reafirmado por Paul
vezes impossíveis face ao tamanho dos problemas com os quais lidamos e Ricouer, que fala em levar a sério a palavra do ator:
tencia de dois mapas de sociabilidade, a sociabilidade primária e a socia- lhes urna interpreta<;:ao mais forte" (citado por Dosse, 1997:166).
bilidade secundária, ambos matrizes configuradoras do desenho profissio-
nal. Superpostos, tais mapas náo se confundem: o primeiro associa-se as Esta escolha exigiu-me urna escuta cuidadosa a conjuga~áo dos senti-
e o segundo a impessoalidade, ªº interesse a competitividade e ªº modelo sentimentos e racionalidades, de aten~áo as minhas próprias palavras e
masculino. gestos, as palavras e gestos de colegas, assistentes sociais, docentes, alunos,
A partir destas reflexoes, a segunda hipótese desenha-se no contorno do dentro e fora da sala de aula.
mal-estar como expressáo das dificuldades da demarca~áo do servi~o social A coleta sistemática de dados ocorreu no 22 semestre de 1998, e constou
como urna profissao no mapa da divisáo social do trabalho. A precariedade de entrevistas semidirigidas com estudantes de Servi~o Social do último
de nossa arquitetura ocupacional, mesmo sendo operacional, náo nos fo me- período, reunioes com todos os forrnandos daquele ano e entrevistas com
ce suportes suficientemente robustos para urna inclusáo nítida e inquestio- assistentes sociais. Foram escolhidas, entre as 56 forrnandas daquele semestre,
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14 estudantes comas seguintes características: todas mulheres, situadas na 1. SERVR~O SOCIAL: AIFINAIL, 11>0 Ql!JIE SE TRATA?
faixa etária entre 24 e 54 anos; seís consideram-se mio brancas; cinco sao
maes. Comum a todas elas é o enorme esfon;:o d~ compatibilizac;:ao da O episódio foi-nos narrado por urna estudante do último período do curso
faculdade com o estágio e/ou trabalho, perfazendo urna jornada média de de servi~o social. Passa-se na hora do para-casa da filha, menina de nove
40 a 60 horas semanais; a maioria tem a seu cargo as tarefas de matemagem anos, cuja tarefa era a de entrevistar um dos país e preparar urna pequena
e de cuidados com a casa. Apenas urna delas é completamente dependente exposic;:ao para os colegas sobre sua profissao:
financeiramente da família; as demais sao responsáveis pela própria
sobrevivencia, pelas mensalidades da universidade e algumas delas também "(...) aí ela me perguntou: 'mamae, o que faz urna assistente social?' Engoli
pelo sustento dos filhos. Boa parte completou o 22 grau em cursos supletivos um nó na garganta. Comecei a falar. A gente trabalha assim, trabalha assado,
e a entrada na universidade deu-se num período médio de seis anos após o etc..... porque nao tem como voce definir o Servic;:o Social: Servic;:o Social é
término do curso médio. A metade dentre elas, antes de se decidir pelo isto. Depois que falei bastante, ela me disse: 'mae, eu nao vou te entrevistar
servic;:o social, tentou, sem sucesso, um ou mais exornes vestibulares: psico- nao'. Perguntei por que, e ela: 'porque tuda isto que voce faiou, eu nao vou
logia, odontologia, jomalismo, direito, educac;:ao físíca e história. A maioria conseguir falar pra minha sala. Vou entrevistar meu pai, porque o servico do
delas sao filhas de país analfabetos ou como 12 grau, sendo as primeiras na meu pai eu sei falar. Todo mundo entende; voce, ninguém entende''.'
familia a cursarem universidade.
Selecionei nove assistentes sociais, com base no critério de ano de Me poupe, é a resposta que urna assistente social, formada em 1970, dá
formatura entre os anos 60 a 70, procurando diversificá-las quanto as his- aos curiosos impertinentes que insistem em saber o que é o servic;:o social.
tórias de vida" e as histórias profissionais. A escolha das décadas nao foi Nunca ninguém me perguntou, esquiva-se outra entrevistada. Longos
casual. Os anos 60 e 70, para a juventude universitária brasileira, repre- segundos de silencio e risos amarelados se seguiram a minha pergunta: o
sentam um tempo de efervescencia cultural e política, de Jutas contra 0 que voce responde quando lhe perguntam o que é e o que faz o Assistente
regime autoritário e os conseqüentes.,embates cotn a_polícia. Vivemos, com Social? Todas elas, mesmo quando convictas de sua escolha, bem instaladas
mais ou menos intensidade, os mqvimentos de ~ontestac;:ao cultural e e realizadas na profissao, tiveram reac;:oes semelhantes.
particularmente de liberac;:ao da mu!her, deparando-nos com a novidade Este néío-se-saber-dizer nos remete a questoes relativas a autopercepc;:ao
da pílula anticoncepcional .e com a contestac;:ao d~ virgindade feminina. da profissao, a apresentac;:ao que fazemos para o outro e a percepc;:ao que o
a
Nós, estudantes de servi~o social, mgioría oriundupe famílias religiosas· e outro tem de nós. Leva-nos a pensar em como nos vemos, como nos mostra-
tradicionais, freqüentemente vimo-nos envolvida~·em conf!itos interge- mos e como somos vistos. Sentido como um déficit de discurso, as dificuldades
racionais e sentíamo-nos divididas eritre o novo'~;o antigo, entre a ·culpa de se autodefinir foi assim expressa por urna entrevistada, com larga
católica e a contesta~ao do script femínino que rios:foi legado, experimen- experiencia profissional: "o que fac;:o e acho que é isto que cada profissional
tando urna difícil combina~a.o do de§ejo e do m~do de se assumír como pode dizer, mas acho que nao tem como definir, no conjunto, o que é o
indivíduos independentes. '.:: · servic;:o social". Urna aluna manifesta sua apreensao em tom jocoso, sem
Minhas entrevistadas sao todas m~lheres, co~:Ídades variando entre esconder o desconforto nele contido: "ouvi dizerde urna menina que anotou
50 e 76 anos; de dasse média, a maioria delas é originária de famílias no cademo urna definic;:ao de servic;:o social; ando atrás desta menina".
tradicionais mineiras: católicas, numerosas, as mae~ donas de casa; os país Outra entrevistada, minha colega de turma, faz biague e nos diz ter perdido
sao funcionários públicos, pequenos comerciantes ·e profissionais liberais. o sano na noite que antecedeu a entrevista, "muito preocupada com a
Algumas aposentadas, todas com urna ampla vida: profissional e, de algu- possibilidade de voce me fazer 'a' pergunta: 'o que é servic;:o social?'."
ma forma ainda na ativa, ou como voluntária, cdwo profissional liberal Mas dizer é preciso. Somente o dizer constrói a identidade de um grupo,
ou na área academica. ·t define suas fronteiras, demarca as diferenc;:as com o ambiente externo. A
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construi;:ao de grupos sociais, na visao de Elias, dá-se pela intermedia¡;:ao de mecanismo nos leva a urna apreensao fragmentada do soc10l, como se os
categorias instituídas para perceber e instalar a diferencia¡;:ao, num processo problemas fossem autónomos em suas origens, determínai;:oes e possibilidades
no qua! se confrontam, como num espelho, as representai;:oes que os de interveni;:ao. Por outro lado, as tentativas de se-dizer dirigidas para a
indivíduos fazem de si mesmos e aquelas que !he sao impostas pelos outros. superai;:ao do aprisionamento no concreto tem-nos encaminhado para o pólo
O nao-se-saber-dizer como que nos cría a necessidade imperiosa (obsessiva?) aposto, para formulai;:oes de tal maneira genéricas que provocam o que Dubar
de estabelecermos distin¡;:oes entre o nós e os outros, através da produi;:ao de chama de descolamento do universo do discurso dos fatos palpáveis, de
discursos capazes de nos apresentar interna e externamente. lugares, objetivos, tecnologías, ratinas, hábitos. É ainda em Dubar que
Urna vertente deste esfor¡;:o pauta-se na defini¡;:ao do servi<;:o social encontramos urna referencia a um fenómeno comurn nos grupos profissionais:
referenciado aos problemas sociais específicos com os quais !ida. Nesta o desenvolvimento de um modo de falar restrito a um pequeno grupo. Para
lógica, a demarcai;:ao, a classifica¡;:ao e a interveni;:ao em problemas sociais nós, docentes e formadores dos novas profissionais, cabe bem a carapui;:a:
determinados definem os suportes de identifica¡;:ao e de legitima¡;:ao da conscientes de que dizer é preciso, conscientes de nosso papel de produtores
profissao. Encontramos um exemplo na fola de urna de nossas entrevistadas: de discursos, ternos apresentado a categoría profissional representai;:oes por
"sei folar o que fa<;:o no ... ,mas nao sei definir o que é e o que faz 'o' servi<;:o demais abstratas sobre o servi¡;:o social; falamos de suas missoes, objetivos,
social." O dizer-se, neste registro, ancora-se no relato de casos e/ou na des- competencias e fun¡;:oes de forma nem sempre precisa e clara, muitas vezes
cni;:ao de práticas profissionais tendo por base um problema social, urna dissodada das ratinas, lugares, discursos e fazeres das e dos assístentes sociais
institui¡;:ao ou urn programa: atendimento a criani;:as em situai;:ao de risco, de campo e das pessoas com quem convivemos, a quem prestamos servi¡;:o e
programas de formai;:ao de jovens desempregados, assistencia a mulheres que nos empregam. A tao sofrida distancia entre a teoría e a prática pode ser
vítimas de violencia, apenados, usuários de drogas, desempregados etc. pensada na lógica de um descolamento dos discursos ofidais em relai;:ao aos
Observamos urna enorme ginástica verbal para fazer coincidir o conceito profanos, entre os discursos produzidos na academia e os produzidos no campo.
de servi<;:o social com o fozer concreto da e do assistente social; as falas de Os primeiros, alicer¡;:ados nurn modelo profissionai moderno, carregam nas
duas estudantes sao ilustrativas: cores e linhas de ruptura com os arcanos da profissao, propondo modelos que,
liberais ou marxistas, sao sempre marcadamente diferenciados das práticas
"Ah ... para falar do servic:o social a gente tem de explicar muitas coisas ... sociais antigas. Na história que contamos, para nós e para os outros,
a gente tem de dar os exemplos mais básicos para depois chegar aos radicalizamos a distin¡;:ao entre trabalho social e servi¡;:o social e, no registro
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objetivos reais. A gente tem de comecar pelo assistencialismo para depois das práticas, assinalamos a distancia entre assistencialismo e assistenda.
chegar até a assistencia e até a revolucao:'
Entendemos trabalho socíal como o con¡unto de práticas de aJuda a pessoas em condii;oes de precanedade
"Eu acho que o nosso pape! é colocar a cidadania, promover o ser humano, e desamparo. Amotlvacao do agente socíal reside nos sentlmentos de compa1xao, piedade ou candade
cnsta, geralmente no registro religioso e da socíabilidade pnmána, entre tamiliares, v1zinhos, redes
a conscientizac:ao de direitos e deveres. (...) Mas na verdade eu já cheguei a
comurntánas. Sao prancas encontradas em todas as sociedades e culturas que, de alguma forma, cnam
falar o contrário, que todo pepino que existe é coisa para assistente social:' mecanismos de protei;ao as pessoas e aos grupos submet1dos a sofrimento. Anteriores aleí e ao dire1to,
na concepi;ao de Rousseau a compaixao é compartilhada por todos os homens.
No entanto, as limitai;:oes deste enfoque ficam logo evidenciadas. Em O servii;o sooal representa um recorte neste conjunto de práticas, fundamentando-se em valores
primeiro lugar, porque os casos e as descri¡;:oes nao dao conta da passagem do laicos e pautando sua 1nterveni;ao em métodos baseados em conhec1mentos cíentificos das ciencias
sooa1s e humanas. Marca-se pelos pnncipíos da profiss1onalizacao moderna, quais seiam, formai;ao
particular para o geral, do servi¡;:o social praticado, para um conceito que
abranja o conjunto das atribuii;:oes e finalidades profissíonais; em segundo ¡ especifica, reconhec1mento de competénoa teónca e técnica, garant1a de espai;o exclusivo no mapa das
profiss5es, remunerai;ao adequada. Éurna criai;iio da sociedade moderna, identificado com a consolidacao
lugar, porque se trata de urna estratégia que nao alcan¡;:a a pluralidade e a do capitalismo. Aínterveni;ao profissional se faz no campo da socíabilidade secundária, ass1nalada pela
complexidade das demandas sodais e dos nossos fazeres; e por último, este ) racíonalidade e ímpessoalidade.
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Sao muitas as tentativas de demarca<;:é1o conceitual do servi<;:o social. A indigna<;:iio da entrevistada expressa nosso medo de ser c0ntaminadas
Josefa Lopes elaborou um inventário analítico destas formulacéies teóricas pelas mazelas inscritas na imagem do pobre: a degrada<;:O.o humana que
classificando-as numo linha ao longo de dais pólos, cada qua! ~omportand~ acompanha as carencias, o fracasso e a dependencia de quem recebe sem
urna perspectiva diferente, senda em oposi<;:é1o: a perspectiva da integra~iio retribuir. Mas nao há como negar que, tanto no plano das ínterpreta<;:éies,
social toma como objeto as carencias e disfun~éies individuais ou sociais; 1
como das práticas e dos valores, persistem as no<;:éies de compaixO.o e de
predomina urna visiio atomizada da sociedade e os profissionais buscam f ajuda aos pobres, configurando um espa<;:o profissíonal híbrido, no qua!
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a neutralidade pela adesiio a valores a-históricos; o objetivo da a<;:iio teorías, ideologías, simbologías e práticas se misturam, se combinam e/ou
profissional é o ajustamento e a integra<;:iio sociais, através da presta<;:iio disputam a posi<;:O.o hegemónica.
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de servi<;:os e forma<;:iio de comportamentos integrados; a perspectiva da Lan<;:ando milo do paradigma de Robert Castel sobre a questao social,
liberta~iio social desloca o objeto da a<;:iio da carencia para a domina- entendemos nosso campo profissional como atravessado por dais sentidos:
<;:iio; a profissiio analisa a sociedade pela ótica histórico-estrutural e 0 o sentido dos direitos e o do social assistencial. No seu livro Metamorfoses
assistente social se identifica com a clientela e seu objetivo é de forma<;:O.o da questao social Castel tra<;:a um histórico das prote<;:éies sociais a partir do
da consciencia social para a mudan<;:a da sociedade. final da Idade Média, conceituando questao social como urna inquieta~iio
Esta segunda perspectiva, prevalente no conjunto da produ<;:é1o oficial do a
quanto capacidade de manter a coesiio da sociedade. Ganhando visi-
servi<;:o social, parte da crítica radical da profissao, tomada como historicamente bilidade nos tempos inicíais da Revolu<;:iio Industrial, a questao social ganha
vinculada aos interesses das classes dominantes; cito Maria Lucía Martinelli: contornos mais nítidos na mesma medida em que se delineiam duas mo-
dalidades de interven<;:iio: a regulamenta<;:O.o e o controle dos direitos do
"Profissao complementar, a servi<;:o de terceiros, representando perma- trabalho pelo Estado, dando suporte a sociedade salarial; e as iniciativas de
nentemente formas mistificadas de repressao e controle; urna profissao prote<;:iio aos que esta.o excluidos do trabalho e das redes de prote<;:O.o pri-
que por fori;:a de sua identidade atribuida e como estratégia do próprio márias: os desfiliados, ou em desvantagem, alvo de a<;:éies sociais definidas
capitalismo, acabou por responder mais prontamente as demandas do como social-assistencial.
capital, acentuando-se a sua característica de instrumento de reprodui;:ao Com este modelo, Castel como que faz urna clivagem na chamada
das rela<;:6es sociais e de produi;:ao capitalista" (1989:240). questao social com reflexos nas formas de presta<;:éies sociais: de um lado, os
direitos sociais atrelados a condi<;:O.o de trabalhador, com alcance exclusivo
Mas discursos críticos e indicadores do sentido da liberta~iio social, ao assalariado; de outro lado, as prote<;:éies as popula<;:éies sem eira nem
coexistem com outros, em geral pouco sistematizados e sem o estatuto de beira, os vagabundos dos finais da Idade Média, os desfiliados que hoje se
oficiais; identificados com a integra~éio social e com as simbologías fun- multiplicam soba égide do neoliberalismo. Éa esfera do social-assistencial.
dadoras da profissiio. Tanto no meio profissional como na pra<;:a pública, Sabemos, pela nossa experiencia profissional, o quanto é difícil transferir
permanecem e reproduzem-se as representa<;:éies do servi<;:o social como as conquistas dos direitos sodais da sociedade salarial para os desfiliados,
expressao de sentimentos de compaixoo e piedade, no registro da caridade tristemente identificados com os inúteis do mundo: falta-lhes o lastro do
crista e de ajuda aos pobres e necessitados. trabalho que permitiría pensar no socíal-assistencíal como um direito. Assim,
Urna aluna contou-nos indignada que, no 6nibus, conversando com um sabemos que apregoar a assistencia como um direito do cidadiio e um
colega de universidade, estudante de economía, ele lhe perguntou o que estu- dever do Estado é mais urna frase de efeito que nos empenhamos em tomar
dava. SeIVi~o social, respondeu-lhe. Ele entao quis saber de que se tratava e ela: realidade do que urna expressiio desta realidade.
um profissional que trabalha com comunidades carentes, que trabalha Há autores que, analisando o papel social do Estado contemporiineo,
com a questao social, para que os excluidos sejam considerados cidadiios destacarn a distiinda entre o propósito e a efetiva<;:O.o dos direitos sociais;
etc. e tal; ao que ele conduiu, entiio voce vai ser doutora em pobreza? Norberto Bobbio, entre outros, faz como que um alerta: "o núcleo dos direitos
180 PRAIA VERMELHA • r.f 5 •SECUNDO SEMESTRE• 2001
trata de justificó-los, mas de protege-los". e valores; para muitos de nós, urna mala a ser descartada na primeíra esquina;
De muitas maneiras a disjun\:i'iO entre as práticas voltadas para a para outros, nem tanto, afina! poderla servir para alguma coisa. Mas, pelo· · ·
efetiva\:i'iO do direito e as de atendimento sócio-assistenciais se explicita no que há de bom e de ruim, estamos condenados a carregar esta mala; resta-
cotidiano da e do assistente social. O foider de um programa de assistencia nos saber como. Écom ela a tiraco lo que trabalhamos no sentido de redefinir
de urna prefeitura da grade BH declara que seu objetivo é: "Acolher o cidadiio e demarcar nosso espa\:o no mapa das ocupa\:6es, no qua! aspiramos a um
no momento em que sua sobrevivencia está amea\:ada". Cidadania e lugar de profissional, porque qualquer que seja sua definí\:i'io, profissiio
sobrevivencia, direito e assistencia, no\:6es que niio fazem parte do mesmo sempre indica um estatuto social superior no ranking das ocupa\:oes. Embora
campo semdntico, sao germinadoras de tensoes que atravessam o universo a sociologia das profissoes niio tenha chegado a um consenso sobre a
teórico e prático do servi\:O social e inquietam os profissionais: entre o defini\:i'io da categoria profissao, um elemento é comum a todas as correntes:
humanitarismo, e o projeto de transforma\:oes sociais profundas; entre o a condi\:i'iO de profissional assinala urna distin\:i'iO positiva em rela\:iiO ao
servi\:O social tecnocrático e o servi\:O social político; entre o modelo gestio- conjunto das demais ocupa\:6es em termos de status, prestigio, autonomía,
nário, guiado pela produtividade e eficácia capitalistas, e o modelo libertário, rendimentos e exclusividade de um campo específico de trabalho.
de matriz marxista; entre a piedade, a compaixiio, e o direito universal; Um estudo clássico, datado de 1915, um dos primeiros a apresentar um
entre o controie social e a emancipa\:i'iO. conceito de profissiio, tem como título urna pergunta que nos toca: "Is social
Para as assistentes sociaís formadas na década de 1960, o verdadeiro, o work a profession?" Seu autor, Flexner, responde que sao profissionais os
autentico servi~o social é o servi~o social de comunidades; urna outra, médicos, os engenheiros, os advogados e os que estudam as artes: literatura,
graduada 10 anos depois, representante assim da década de 1970, nos diz pintura, música. A justificativa, "garantir a justi\:a e cuidar dos enfermos
ter se sentido como que traindo a história e os compromissos da profissao, siio fun\:oes sociais vitais e por isso siio forma\:6es intelectuais as mais antigas
porque faz atendimentos sociais de casos numa abordagem relacional( ...) e organizadas de forma autónoma". O servi\:o social, excluído da categoría
é como se eu estivesse abandonando as !utas políticas. Outros tantos profissao, seria, na melhor das hipóteses, urna semiprofissiio ou, na pior,
depoímentos, recolhidos nas entrevistas com estudantes e profissionais, urna niio-profissao. As atividades desenvolvidas pelo assistente social niio
expressam as ambigüidades do serví\:O social nas nossas subjetividades: exigiriam a forma\:iio intelectual e a organiza\:i'io enumeradas por Flexner.
"Como selecionar a miséria? É impossível. Chegueí a um ponto que hoje Desta forma, poderiam ser desenvolvidas por médicos, sociólogos, militares,
concedo (o beneficio) aos primeiros que chegam. Quando acaba, acaba." enfermeiros, professores, padres, pastores, advogados, e sobretudo por
"Escuto as histórias mais trágicas; muito sofrimento, muita desesperan\:ª· pessoas voluntárias, de acordo coma lista de Alfredo Henríquez, assistente
Niio tenho o que fazer, nem para onde encaminhar. Um desespero; vivo isto social chileno radicado em Lisboa autor de um estudo - talvez o primeiro -
todo odia. Nao dá nem para contar." sobre o servi\:O social e a sociología das profissoes.
"Se a gente faz urna leitura mais generosa (dos critérios) e concede o A partir deste estudo inaugural, outros sociólogos dedicaram-se a
beneficio, pois sente a necessidade da pessoa, pode estar comprometendo o demarcar o conceito de profissiio, e entre eles Talcott Parsons, que a localiza
recurso para o mes seguinte. Se é rigorosa, fica de fora um tanto de gente no paradigma funcionalista. Cada vez mais fino e mais preciso, o lugar
que precisa." social dos profissionais vai sendo definido pelos seguidores de Parsons, sempre
no sentido de ressaltar a condi\:i'iO privilegiada em rela\:i'io ao conjunto das
ocupa\:6es. A perspectiva funcionalista define os atributos distintivos dos pro-
l. O SERVl~O SOCIAL E A SOCIOLOGIA DAS PROFISSOES fissionais em rela\:i'io aos niio-profissionais, semiprofissionais e as ocupa\:oes
em geral, pautando-se no modelo médico/paciente, donde a enfase na dua-
Originário das artes antigas, o processo de profissionaliza\:i'io do servi\:O lidade conhecimento-ignordncia, e na complementaridade autoridade-con-
182 PRAIA VER.1.IELHA • Nº 5 • SECUNDO SEMESTRE • 200 J SERVt<;o SoOAL: AFINAL oo auE SE TAATA? 183
fiani;:a. Embora hoja difereni;:as entre os autores, persiste um núcleo básico, cercados sociais, espai;:os exclusivos que restringiriam as oportunidades de
pautado na reuniao dos seguintes atributos: i) desprendimento- o profissional competitividade; a visao marxista, de outro lado, aponta para os efeitos
nao apostaría apenas nos lucros pessoais, mas seu interesse estaría voltado políticos de refori;:o de elitismo.
para a prestai;:ao de servii;:os aos clientes; movido por valores impessoais, o Entre as correntes críticas, destacamos a sociología interacionista que,
profissional estarla preocupado com o avani;:o da ciencia; ii) reconhecimento tributária da Escala de Chicago, apresenta o funcionalismo como um
de urna competencia - teórica e prática - oriunda de um saber legitimado e empreendimento pseudocientifico de legitimai;:ao de urna ideoiogia, a ideo-
adquirido por urna formai;:ao longa; iii) trabalhador diferenciado que justifica logía profissionalista. Autonomía, auto-organizai;:ao, prívilégios socíais e
o monopólio da realizai;:ao de atividades profissionais assegurado por orga- jurídicos sao aspirai;:oes comuns a todos os grupos profissionais, e 0 que
nizai;:oes profissionais; iv) pertencimento ó.s frai;:oes superiores das camadas cabe ó.s ciencias sociais é o entendimento dos processos históricos, das tra-
médias, por prestigio, rendimentos e poder. dii;:oes e das estratégias pelos quais determinados grupos ocupacionais
Profissional, assim, é o indivíduo ou grupo ocupacional que preenche conseguem ascender ao estatuto profissional e outros nao. Nesta lógica, a
os seguintes quesitos: i) conhecímentos sistemáticos e transmissíveis enrai- enfase dos estudos sobre as profissoes no pensamento interacíonista recaí
zados em teorias capazes de fundar habilidades técnicas específicas e apli- sobre os aspectos biográficos e relacionais, definindo a profissao como um
cáveis a situai;:oes concretas do trabalho; ii) reconhecimento da relevancia processo subjetivamente significante, construído na trajetória de urna vida
social das tarefas realizadas; iii) garantía da exclusividade sobre um individual em relai;:oes dinamicas comos outros. Ganham fori;:a as dimen-
determinado campo de atividades; iv) autonomía e direito de controle sobre soes biográficas e identitárias, rompendo com a divísao natural do trabalho
o processo de trabalho; v) respeitabilidade, destaque e prestigio social; vi) como resultado de urna capaddade técnica de responder ó.s necessidades
compromisso e preocupai;:ao com ética do trabalho; vii) exigencia de urna sociais.
formai;:ao de longo termo; viii) remunerai;:ao e prestigio diferenciados dos Para E. Hughes, um dos mais importantes representantes desta corrente,
demais trabalhadores. os procedimentos de distribuii;:ao social do trabalho promovem urna
Neste paradigma de compreensao, o servii;:o social ora é classificado no hierarquizai;:ao das funi;:oes, divididas entre funi;:oes profanas e sagradas.
rol das profissoes, ora nao o é. No primeiro caso, ficam em relevo as com- Os profissionais, a quem sao concedidos diplomas ou liceni;:as, constituíríam
petencias técnicas transmissíveis, a responsabilidade perante os clientes e os os grupos privilegiados, detentores de segredos, saberes sagrados e interditos;
colegas, a organizai;:ao em associai;:ao. A nao inclusao ressalta a ausencia de além disto, disporiam de um mandato, também como concessao social,
urna teoria própria consistente, o que nos transformarla em tecnólogos sociais. correspondente ao certificado de garantía da exclusividade do exercício
É evidente que a dúvida - somos ou nao profissionais - nos incomoda e profissional através de instituii;:oes mediadoras do poder estatal.
algumas vezes leva-nos urna militancia de defesa do métier. Ouvi de urna O privilégio dos profissionais seria o resultado de Jutas políticas para a
formando: garantía de privilégios, e nao o resultado de competencias distribuídas pelas
necessidades sociais. O interacionismo preocupa-se, assim, em compreender
"Se voce nao mostra do que é capaz, como vai querer o reconhecimento? O os passos pelos quais os grupos, que tem urna determinada ocupai;:ao, ten-
profissional passa a ser visto de forma negativa por causa de a, b, ou c. Voce tam tomó-la profissao; que estratégias tais grupos utilizam para criar urna
compromete o perfil do profissional. Conhei;:o assistentes sociais assim:' identificai;:ao com os modelos e valores ditos profissionais.
O conjunto de pesquisas realizadas pela escola, que toma como objeto
A visao funcionalista vai ser duramente criticada por outras correntes ocupai;:oes diversificadas (e nao apenas os considerados profissionais, como
das ciencias socíais, e o argumento é de que a enumerU!;:ao de atributos médicos, advogados), como músicos de jazz, peleiros etc., embasou urna
cumpriria urna funi;:ao ideológica de iegitimai;:ao de relai;:oes ·de poder. Do formulai;:ao teórica acerca dos procedimentos que oríentam os esfori;:os dos
lado da perspectiva liberal, a crítica considera que os atributos criariam grupos ocupacionais na direi;:ao de sua profissionalizai;:ao: i) o estabeleci-
184 PRA!A VE.q.'.\El.HA. rP 5. SEGurmo SEMESl'Rf. 2001 SERV1~0 SOCJAL: AANAL DO QUE SE TRATA? 185
mento de urna carreira que, entendida como estatutos, deveres e privilégios, sobretudo a auto-estima. Minha vida profissional niio se baseou no servico
permite aos indivíduos interpretar de urna determinada maneira o social técnico. Tomo u outros rumos". ,
significado de suas ac;:éies e de seus atributos; e ii) a socializapio, entendida O depoimento de urna aluna formanda acompanha o mesmo diapasO.o:
como a reivindicapio, pelo grupo profissional, de selecionar, formar, iniciar "o servíc;:o social é diferente das outras profisséies. O que move a gente é 0 ser
e disciplinar seus próprios membros e definir a natureza dos servic;:os que humano".
devem realizar e os termos nos quais devem ser feitos. O que se percebe é como se, na divisa.o das competencias esperadas de
Hughes localiza o trabalho social entre as ocupac;:éies que aspiram o um profissional, ficássemos coma competencia do saber ser e muito pouco
reconhecimento profissional, para o que faz urna releitura de seu passado do saber teórico e do saber técnico, urna tendencia que nos fragiliza e de
no sentido de articular urna nova forma de interac;:iio com os outros certa forma compromete o movimento de ingresso e fixac;:O.o do servic;:o
protagonistas: clientes, público em geral e outros grupos ocupadonais: social no rol dos profissionais.
Corroborando esta hipótese, anotamos o elenco de qualidades do ass;~
"Os trabalhadores sociais se aplicam em provar que seu trabalho nao pode tente social para o próximo milenio em posters afixados nos murais de
ser executado por amadores, cujas esforc;:os sao apoiados apenas na boa urna escala de formac;:O.o de assistentes sociais:
vontade. É preciso urna formac;:ao previa aanálise dos casos, urna técnica
que se sustente sobre a consciencia e a experiencia acumulada sobre a "Humano, corajoso, desprendido, vocacionado, politizado, dedicado,
natureza humana e comportamentos em diversas circunstancias e situac;:oes paciente, respeitoso, educado, de bom senso, generoso, consolador,
de crise. O seu primeiro objetivo é definir a posic;:ao do profissional e de a confiante, confiável, espírito de ajuda, disponível, caridoso, comunicativo,
distinguir da do visitador social ou do reformador social que é apenas um integrador, que ama o próximo, carinhoso tolerante, sincero, engajado,
amador misericordioso" (1996:111 ). tranqüilo, talentoso, compreensível, ético, accessível:'
É fácil visualizar o movimento coletivo da categoria profissional no Na mesma lógica, um cartaz na sala de espera de um programa de
sentido de se firmar como profissional: criac;:O.o de escolas superiores e de atendimento de servic;:o social comemora o diada e do assistente social com
associac;:éies profissionais; desenvolvimento de dispositivos de controle sobre os seguíntes dizeres:
o mercado de trabalho; !uta por piso salarial; organizac;:O.o de pesquisas e de
estudos teóricos e empíricos. Temos em mO.os urna hístória de construc;:O.o "Ser assistente social é: receber o seu carinho e o seu sorriso é fundamental
'
profissional na qua! destacam-se momentos de avanc;:o em relac;:ao ao legado porque sei que voce me aceita. Entrar na sua intimidade, conhecer seus
de trabalho social praticado por leigos, voluntários, deslocado de reflexéies segredos e lhe ajudar a ser feliz, também me faz feliz. Pensar sempre com
teóricas e desprovido de instrumentalidade técnica, com baixo ou nulo o corac;:ao, pois voce merece respeito:'
reconhecimento social.
No entanto, os discursos das entrevistadas nem sempre engrossam estas Os dados evidenciam a ambivalencia presente no ambiente profissional
fileiras de luta; ao contrário, outras vezes, denotam baixa convicc;:ao quanto frente ao processo de profissionalizac;:ó.o: queremos e Jutamos para alcanc;:ar
ao estatuto profissional do servic;:o social. Para urna assistente social formada o lugar socialmente privilegiado reservado aos profissionais, mas ao mesmo
na década de 1960, por exemplo, nao há necessidade de se fazer o curso tempo mantemos a identificac;:ó.o comas simbologias e as práticas relacionais,
para exercer as atividades que sao atribuídas a urna assistente social. Na herdeiras das artes antigas e operadas no registro da sociabilidade primária.
sua opinió.o, mais do que uma profisséio, o servic;:o social é um servic;:o. Prestigio, garantia de rendimentos e de espac;:os exclusivos de atuac;:O.o, auto-
Urna outra assistente social, formada na mesma época, avalia que, do nomia de ac;:ó.o ancorada em conhecimentos teóricos e técnicos, difícilmente
curso, "o mais importante foi o embasamento para entender as coisas e combinam com os atributos elencados nos registros acima.
186 PRA1A VERMELHA • rf 5 • SEGUNDO SE.'.JESTRE • 200] SERVlc;o ScOAL: AflNAL oo QUE st TRATA? 187
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