Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
i o s r e l i g i o s o s
Os imaginár a
ra p o l í t i c a a r g e n t i n
n a c u l t u
Es quivel
Juan Cruz
iro
P a u la G urgel Ribe
Tradução de Maria
resumo abstract
congresspeople; Argentina.
Palavras-chave: política; religião;
deputados nacionais; Argentina.
“Às vezes se confundem [...],
por isso te perguntei se religião e
política não eram a mesma coisa,
porque na realidade a gente
trabalha sobre as crenças do outro”
(WS, deputado nacional).
P
ensar as cosmovisões da secularização (Berger, 1967; Stark &
daqueles que decidem Bainbridge, 1986). Para tais autores, os pro-
politicamente em ter- cessos de diferenciação institucional cres-
mos do lugar atribuído cente e de maior autonomia dos sujeitos,
ao religioso leva, inde- componentes que distinguiam a modernidade
fectivelmente, a nos in- ocidental, supunham um deslocamento da
dagarmos pela trama religião de sua outrora função reguladora
vincular entre a polí- da vida social. Sobre esses pilares se sus-
tica e a religião em um tentava o marco analítico da secularização
espaço social e histórico que pressagiava a privatização do religioso
determinado. Partindo da e seu retraimento da arena pública.
premissa de que mais Agora, as singularidades históricas, jurí-
do que se constituir em dicas e culturais que emolduraram as rela-
esferas sociais diferenciadas, a religião e a ções entre instituições, grupos e referentes
política formam um campo de solapamen- políticos e religiosos dão conta do cará-
tos que inclui âmbitos de socialização e ter contingente de tais processos (Parker,
circulação comuns, cabe nos perguntarmos 1996; Mallimaci, 2015; De la Torre, 2015;
pelos dispositivos das culturas políticas Wright, 2015).
hegemônicas que levam a interpelar sím- De fato, na América Latina, sua trama
bolos, linguagens, instituições e sujeitos social e institucional não respondeu aos
religiosos de um modo naturalizado. E,
simultaneamente, nos interessarmos pelas
biografias e/ou trajetórias dos atores polí-
ticos para indagar sobre sua ancoragem
JUAN CRUZ ESQUIVEL é professor da
em textos confessionais. Universidade de Buenos Aires (UBA), pesquisador
As reflexões em torno da religião e sua do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e
Técnicas (Conicet), Argentina, e autor de, entre
presença/vitalidade no mundo moderno outros, Igreja, Estado e política: estudo comparado
foram historicamente situadas nas teorias no Brasil e na Argentina (Santuário).
Virgem Maria
na Casa Rosada
(sede do Poder
Executivo da Nação)
mapa do poder e, portanto, para naturali- Nesse caso, para essa camada de legis-
zar sua permeabilidade sobre as decisões ladores, os fundamentos que moldam os
estatais. Guido Giorgi (2014) analisou as imaginários políticos em torno do religioso
sociabilidades religiosas dos ministros da deverão ser rastreados por outros caminhos
Nação e percebeu que, em alguns perío- analíticos. As carreiras se circunscrevem
dos da história argentina, quadros católicos a trajetórias típicas do campo da política.
ocuparam os cargos superiores do Estado. Militância partidária, cargos prematuros
Se as experiências de gestão foram gra- datas pátrias do que como ato confes-
vitantes para consolidar na cultura política sional. Em todo caso, o reconhecimento
uma cosmovisão que, para fins instrumen- à diversidade religiosa e à convivência
tais, assegura um lugar preponderante aos democrática se traduz na projeção de um
agentes religiosos e a suas estruturas orga- Estado pluriconfessional, no qual, além
nizativas como interlocutores da gestão esta- do financiamento para o catolicismo e da
tal, no plano das ideias, é preciso recuperar presença de suas iconografias nas repar-
alguns aspectos que tributam à tradição e tições públicas, contemple-se também as
à memória histórica, que funcionam como demais confissões religiosas. Como pano
substratos naturalizados e proporcionam os de fundo e independentemente da maior
marcos e as margens estabelecidas de onde ou menor identificação com a religião em
se pensa, se age e se estabelecem relações na termos pessoais, prima o reconhecimento
arena política e pública. É aqui que resulta ao aporte que as religiões realizam para
necessário tornar complexa essa rede vincular a sustentação do tecido social e a valo-
entre religião e política e, seguindo Casa- rização enquanto reservatórios morais da
nova (1994), reforçar que a religião, sem a sociedade em seu conjunto.
capacidade estruturante de séculos passados,
é reconhecida em seu acervo de valores e “As organizações religiosas são organizações
sua presença é validada no espaço público. importantes na vida das sociedades. Então o
A Igreja católica é concebida como parte Estado deveria se relacionar com todas. Sim,
constitutiva da cultura argentina. Nesse sen- se relacionar, como não? As religiões são
tido, não se colocam objeções nem ao apoio expressões sociais e culturais muito impor-
estatal ao culto católico, prescrito constitu- tantes” (BL, entrevista realizada em 20 de
cionalmente6, nem à entronização da sim- abril de 2017).
bologia católica em edifícios governamen-
tais (crucifixos, virgens, etc.). Ao contrário, [A respeito da sustentação do culto católico,
apela-se à tradição, à conformação como dos símbolos religiosos em instituições públi-
nação e à historicidade do ritualismo cató- cas e da realização do Te Deum] “Acho que
lico na cenografia pública nacional como tem a ver com a cultura, com a história, com
argumentos de fundamentação. nosso passado que basicamente vem desse
Tampouco aparecem impugnações à lugar e acredito que faz parte dos usos e
continuidade na realização dos Te Deum 7, costumes institucionais, da cultura institu-
entendida mais como prática oficial das cional. Não, não me provoca nenhum efeito
estranho” (BL, entrevista realizada em 20
de abril de 2017).
6 O artigo 2º da Constituição da Argentina estabelece
que o governo federal deve manter o culto católico “Não me parece ruim, dado que é o culto
apostólico romano.
largamente majoritário na Argentina e que
7 Essa cerimônia, que rubrica a “consagração sagrada”
do poder democrático, é solicitada pelas máximas inclusive está unido à nossa história, vin-
autoridades políticas em nível nacional, provincial e
culado às nossas raízes como país” (TP,
municipal, apesar de não estar prescrita em nenhuma
legislação. entrevista realizada em 2 de maio de 2017).
Bibliografia
DURKHEIM, Emile. La división del trabajo social. Buenos Aires, Editorial Gorla, 2008.
EISENSTADT, Shmuel. Multiple modernities. Daedaulus, Research Library Core, 2000.
ESQUIVEL, Juan Cruz. “Religious and Politics in Argentina. Religious influence on
parliamentary decisions on sexual and reproductive rights”, in Latin American
Perspectives, vol. 43-3. Sage Publications, 2016.
. “Tensiones y distensiones político-religiosas en torno a la educación sexual
en Argentina”, in Aldo Ameigeiras (coord.). Cruces, intersecciones, conflictos. Relaciones
político-religiosas en Latinoamérica. Buenos Aires, Clacso, 2012.
.“Cultura política y poder eclesiástico: Encrucijadas para la construcción del
Estado laico en Argentina”, in Archives des sciences sociales des religions, n. 146. Institut
de Sciences Sociales des Religions de Paris, Ecole des Hautes Etudes en Sciences
Sociales, 2009.
GIORGI, Guido. “Los factores ‘extra-políticos’ de la carrera política: una aproximación
a las sociabilidades de los ministros de la Nación en la Argentina (1854-2011)”,
in Revista de Ciencia Política, vol. 52, n. 2. Buenos Aires, Eudeba, 2014.
GIUMBELLI, Emerson. “Crucifixos em recintos estatais e monumento do Cristo Redentor:
distintas relações entre símbolos religiosos en espaços públicos”, in Ari Oro et al.
(orgs.). A religião no espaço público. Atores e objetos. São Paulo, Terceiro Nome, 2012.
MALLIMACI, Fortunato; ESQUIVEL, Juan Cruz. “La contribución de la política y el Estado
en la construcción del poder religioso”, in Revista Argentina de Ciencia Política, n. 17.
Buenos Aires, Eudeba, 2014.
MALLIMACI, Fortunato. El mito de la Argentina laica. Catolicismo, política y estado. Buenos
Aires, Capital Intelectual, 2015.
. Modernidad, religión y memoria. Buenos Aires, Colihue, 2008.
MILOT, Micheline. La laicidad. Madrid, Editorial CCS, 2009.
PARKER, Cristian. Otra lógica en América Latina: religión popular y modernización
capitalista. Santiago de Chile, FCE, 1996.
RANQUETAT JÚNIOR, César Alberto. “A presença da Bíblia e do crucifixo em espaços
públicos no Brasil: religião, cultura e nação”, in Ari Oro et al. (orgs.). A religião no
espaço público. Atores e objetos. São Paulo, Terceiro Nome, 2012.
STARK, Rodney; BAINBRIDGE, William. The future of religion: secularization, revival and cult
formation. Berkeley, University of California, 1986.
WEBER, Max. Ensayos sobre sociología de la religión. Madrid, Taurus, 1984.
WRIGHT, Pablo. “Relación de la academia latinoamericana con las academias europea y
anglosajona”, in Revista Sociedad y Religión, n. 44, vol. XXV, Dossiê “Sociedad y Religión
30 años. Interrogantes, historia y poder en la producción de conocimiento sobre el
fenómeno religioso en América Latina”. Buenos Aires, Ceil/Conicet, 2015.