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Resumo: Um documentário – homenagem, educativo e musical, média metragem de 35 minutos, colorido. O Filme
ABRINDO O CORAÇÃO demonstra duas pessoas que se conhecem e constatam a coincidência de se desenvolverem
em três aspectos musicais (triangulação): são instrumentistas, educadoras e musicoterapeutas e através do
desenvolvimento desta amizade criam um DUO para refletir, dialogar, tocar e trocar informações musicais. No
decorrer deste DUO e desta amizade, Niágara Cruz realiza o levantamento das memórias de Maria José Cardoso
Majzner Michalski, com o apoio das filmagens de Clementino Junior, e que no DVD além de uma homenagem, mostra-
se rico em informações da própria história da educação musical, da educação instrumental pianística e da
musicoterapia no Rio de Janeiro, no Brasil. O nome deste projeto deve-se a um lindo trabalho musical com pessoas de
3ª idade, que Maria José desenvolveu e constatou: mudanças positivas são possíveis ABRINDO O CORAÇÃO e para
abrir o coração a música é um caminho. Um dos aspectos desenvolvidos no DVD é a importância de sensibilizar-se e
reencantar-se para os profissionais musicais, de qualquer área, e tentamos estimulá-los a não perderem seu contato
pessoal com a música através da inserção de: pesquisar/TOCAR/ensinar/avaliar/SENTIR, em seus cotidianos.
Despertando:
Em 2003 eu tinha me mudado de Mato Grosso do Sul para o Rio de Janeiro em busca de
aperfeiçoamento em meus estudos. Já havia cursado as faculdades de música e trabalhava já há
vários anos na educação musical e na música, mas cada vez mais sobrava menos tempo para
realizar o que tanto gostava: tocar. Como reencantar-me pela minha arte? Precisava de novos
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NIÁGARA DA CRUZ VIEIRA - Mestra em Musicologia (UFRJ, 2010), Especialista em Musicoterapia
(CBM-CEU, 2004), Bacharel em Piano (2001), Licenciada em Ed. Art. - Música (2002). É professora de Piano no
Ensino Médio Integrado em Música do Colégio Pedro II e regente e criadora do projeto Fanfarra do Colégio Pedro II.
Ministra oficina: QSOMKISSUTEM. É parceira no Duo Brincando com Música com Maria José M. Michalski, e no
Duo com Gaetano Galifi. Coordenou as trilhas do Curta Caminho Teixeira (exibido em 13 países). É autora do livro: O
Jardim dos Sentidos Ed. Irmãos Vitale.
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CLEMENTINO LUIZ DE JESUS JÚNIOR - Mestrando da FFP-UERJ, possui graduação em Desenho
Industrial - Programação Visual pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997), atuando principalmente nos
seguintes temas: educação e inclusão audiovisual, cineclube, atlântico, cinema negro e diáspora africana. Realiza curtas
metragens de cunho educativo e em parcerias com autores diversos e comunidades do Rio de Janeiro – RJ.
horizontes.
Na medida em que os anos passavam e íamos construindo nossa amizade, nossos diálogos e
argumentos permeavam nosso mundo musical e ora concordávamos, ora discordávamos, mas
“Apesar de a divergência funcionar como veículo na vida mental de uma sociedade, não se pode
considerá-la um objetivo em si. A concordância é igualmente importante.‖ (JUNG, 1998, p. 59). E
encontrávamos equilíbrio em nossa amizade: buscava na figura dela a calma para a reflexão de
meus atos e ela buscava em minha figura a energia para realizações das ações musicais.
Refletindo sobre um estímulo para os pais voltarem a cantar para os filhos, e que isto traria
melhor qualidade de interação entre eles, formamos o Duo Brincando com Música e gravamos um
C.D. infantil de piano e flautas intitulado Cantando como nossos pais, as cantigas de roda, com
lindos arranjos musicais da estimada compositora, arranjadora e educadora musical Elvira
Drummond. Fizemos várias apresentações musicais com o tema deste C.D. para o público infantil e
para profissionais da área musical com retorno positivo sobre o cantar e a interação musical entre as
diferentes faixas etárias.
Mas após este projeto infantil começamos a tocar outros estilos de peças musicais que
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DVD (abreviatura de Digital Versatile Disc1 , em português, Disco Digital Versátil-1995). Tem maior
capacidade para armazenar dados no formato digital que o CD, devido a uma tecnologia óptica superior, além de
padrões melhorados de compressão de dados.
achávamos bonitas e que fomos aos poucos adaptando para piano e flauta. O critério para a escolha
era que a música nos causasse alguma emoção, então nos acalmávamos antes de tocar, para
perceber este sentir e emocionar-se. Seguíamos tocando juntas.
Paralelamente, outras necessidades se faziam presentes, como auxiliar Maria José com o
registro de seu grupo de 3ª idade, onde ela desenvolvia sua monografia de musicoterapia.
Acompanhei, por várias vezes, este trabalho.
Aprendi muito através destas experiências com o grupo: diminuí minha ansiedade, a minha
expectativa sobre o outro, ou mesmo sobre o que deveria acontecer de uma determinada situação.
Neste caso não poderia ser somente uma pesquisadora. Como JUNG (1998, p. 58) se refere: ―Nesta
experiência com Freud foi-me revelada pela primeira vez, a noção de que antes de construirmos
teorias gerais a respeito do homem e sua psique deveríamos aprender bastante mais sobre o ser
humano com quem vamos lidar.‖ Eu necessitava, antes, conhecer o outro com o qual eu lidava.
Interessante foi notar a figura central deste grupo, uma senhora, na época com mais de
noventa anos que desejava ter aulas de piano. Maria José foi desenvolvendo ao longo deste trabalho
uma visão diferenciada: a de uma aula de música com perspectiva musicoterapeutica. E o resultado
deste: é possível uma pessoa mudar aos noventa anos, permitir-se sentir e reencantar-se. O caminho
foi a música. Ela denominou a monografia de Abrindo o Coração.
Após vivenciar através da fala de Maria José vários momentos importantes da Educação
Musical, da Educação Pianística e da Musicoterapia no Brasil, percebi como eram importantes seus
relatos, decidi então, organizar um roteiro com suas memórias. Não seria fácil, pois para chegar à
figura dela e ao entendimento do porque eu mostraria sua vida, teria que realizar um início
autobiográfico.
Para desfiar este desafio e partindo daí tecer uma trama, escolhi partir do ponto mais
sensível : o meu reencantamento pela música através dela.
A Expectativa e a Busca:
Quando desejamos que outras pessoas possam tomar conhecimento de algo muito
importante para nós, precisamos demonstrar isto partindo de uma perspectiva diferenciada. Neste
caso, de alguém que entendesse a relação de amizade sem perder a seriedade do contexto, e que
conseguisse transpassar a lente de uma câmera sem invadir a fluência do momento em que a
gravação ocorreria. Com a ajuda de Clementino Júnior, que com sua paciência e experiência
conseguiu realizar todo trabalho de filmagem e captação de som junto com Suzane Nahas. O
desafio de captar sons musicais de instrumentos como o piano e a flauta em ambiente natural não
foi fácil, e colhemos muitas imagens e músicas que devido a burocracias não puderam constar no
D.V.D. mas, após um ano de edições conseguimos chegar ao resultado final, como afirma
Clementino Júnior (2014) em seu depoimento:
―Entrar, sem invadir o espaço doméstico de Maria José e tentar manter o clima natural do
seu cotidiano, durante a fase de captação de imagens e sons para o documentário (mesmo com uma
equipe enxuta de um diretor/cinegrafista e uma operadora de som) não foi uma tarefa fácil. Para
isso o espaço físico do apartamento, com sua amplitude e sua localização geográfica (cujo muro do
prédio a separa do Parque Lage) viabilizaram um clima propício para uma boa captação de áudio
em pleno domingo de uma área movimentada da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro.
Ao romancear em vídeo o cotidiano das conversas que travamos ao longo do ano, com uma
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“Ontrealvess” : ter vivido uma era (época).
câmera ligada e eventuais spots de 500 “Watts5” iluminando um ambiente onde normalmente a luz
costuma ser mais suave, percebemos que Maria José manteve a mesma tranquilidade de sempre.
Assim como ilustramos no vídeo, o tempo na casa de Maria José não é o tempo do trânsito
da rua Jardim Botânico, do taxímetro que levou Niágara à casa dela, ou da agenda do celular com
seus lembretes sincronizados “on line6” com outros compromissos concorrentes. Lá é um espaço
para refletir e se expressar com palavras e sons, e mesmo com o tempo variável de algumas pausas
musicais, deixar o dia e a música passearem dentro de seu “timing7” natural, já que até a época de
Galileu, o que chamamos tempo, ou mesmo o que chamamos natureza, centrava-se acima de tudo
nas comunidades humanas: ―O tempo servia aos homens, essencialmente, como meio de orientação
no universo social e como modo de regulação de sua coexistência.‖ (ELIAS,1990).
Neste ambiente Niágara e Maria José formam um Duo, um Uno, expressos em música. E
com o acréscimo de outro duo de técnicos audiovisuais tratamos de, através de nossa estrutura
narrativa, limitações de tempo e espaço (a decoração interferia um pouco na gravação por refletir e
por vezes revelar esta presença adicional de pessoas) nos esforçamos para que Maria José e Fumaça,
seu gato, não percebessem ou se incomodassem com isto. Procuramos fundir a câmera a uma
consciência que se define não pelos movimentos que é capaz de captar, mas pelas relações mentais
e psicológicas nas quais é capaz de entrar.
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Watts- plural: O watt é a unidade de potência para medir a eletricidade - do Sistema Internacional de
Unidades (SI).
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On line= Adj. = conectado, em tempo real.
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timing= tempo
renuncia às sutilezas psicológicas, mais facilmente a história se
gravará na memória do ouvinte, mais completamente ela se
assimilará à sua própria experiência e mais irresistivelmente
ele cederá à inclinação de recontá-la um dia." (BENJAMIM,
Walter, 1994).‖
Argumentos:
Este artigo surgiu como uma narrativa autobiográfica da autora, que ao gravar o D.V.D.
Abrindo o coração, conta em sua vivência através do Duo Brincando com Música a história de
Maria José M. Michalski, e como se reencanta através da música Abrindo o coração.
Justificando e Refletindo:
O ensino de música nas Escolas de Ensino Regular Brasileiras (lei nº 11.769) não
está totalmente implantado, por vários fatores que vão desde a falta de profissionais
capacitados especificamente para o ensino de Educação Musical até a falta de verbas
nas escolas;
O espaço da música nas escolas, muitas vezes, não evoca o ensino da linguagem
musical, e por vezes se restringe ao cumprimento de horários, tarefas e exercícios
teóricos ou, quando tem teor prático musical, acaba passando ao outro extremo: o de
apresentações para as festividades da escola ou da recreação.
O aprendizado musical para ser plenamente alcançado necessita sair da rotina do dia a dia.
Isto não e fácil para o educador musical que, por vezes, acumula funções: estuda repertório, faz
arranjos, cria materiais didáticos, organiza cerimoniais das solenidades da escola, ensaia em
horários extras, participa de festinhas e eventos escolares, dentre outros além da própria aula.
Estes aspectos, e outros não citados aqui, diminuem o contato do educador musical com o
seu instrumento, ou por vezes deixa esta relação de tocar mecânica, e ficam mais propensos a um
olhar quantitativo pelo atendimento a um grande número de alunos e turmas. É necessário ao
educador estar sempre se atualizando pois em cada época, necessita reorganizar-se e aprender
propostas diferenciadas para as formas de ensino da arte. Com tudo isto, é fato que pouco tempo
sobra para o educador olhar para si mesmo, o que em consequência pode dificultar também, sua
perspectiva de olhar terapeuticamente sobre como a música está agindo no outro.
Desde 1930 podemos constatar através do artigo de BARBOSA, que foram vários as
modificações nos processos de ensino da arte no Brasil; cada época com sua respectiva tendência,
buscava alternativas viáveis de boa qualidade deste ensino para a escola regular, ao qual destacamos
a proposta triangular:
Criar uma identificação do público com os personagens reais deste D.V.D. tornou-se uma
busca para agregar valores, vivências e reflexões comuns, mas partindo primeiramente não de uma
triangulação externa, que iria acontecer com o outro, mas sobre tudo interna, a triangulação musical
da formação profissional de Maria José que coincidia com a de Niágara (que são instrumentistas,
educadoras musicais e musicoterapeutas).
Instrumentistas
Educadoras Musicais
Musicoterapeutas
Após muitas conversas com Maria José sobre as dificuldades encontradas pelos Educadores
para lidar com música de modo a sensibilizar-se, percebia-a saudosa e questionava-a sobre as
diferenças diacrônicas de sua vida. Em seus relatos percebia o valor de suas memórias, que
enalteciam o contato com o real (com a natureza, com o ser humano e o lado humano), e, como
atualmente, mesmo tendo consciência intelectual disto, acabamos nos afastando pelo corrido
cotidiano de dominar conhecimentos, funções técnicas, tecnológicas e produzir.
Todo processo acadêmico que vivi, me auxiliou a refletir e organizar meus pensamentos,
mas em meio ao tumulto da vida, percebi que acabei desconsiderando as minhas memórias pessoais
em função das memórias dos conteúdos do que temos que fazer em nossos cotidianos. Também,
que havia criado um círculo que se retroalimentava exigindo-me cada vez mais ações automatizadas
e que não me deixavam espaço de tempo para sentir-me. Como eu conseguiria sair das ações
automáticas? A minha resposta foi : Escutando-me no outro. O despertar de nossas memórias
vivas pode estar da fala do outro: ―A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar
„identidade‟, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e
das sociedades de hoje, na febre e na angústia.‖ (GOFF, 2012, p.455).
A figura arquetípica do sábio traduz a experiência de vida que pode ser repassada do mais
velho para o mais novo através da convivência. Percebi, lecionando, que o advento da tecnologia e
da internet e todo seu processo virtual, facilitou o acesso as informações inclusive por sua
característica não – física, de acessibilidade (globalização) e de portabilidade, mas por outro lado,
justamente o contato pessoal, que era feito fisicamente, o que era considerado importante para ser
repassado (identidade) por fazer sentido dentro de um contexto de vida que poderia ser seguido
(continuidade dos arquétipos) não tem como ser repassado justamente por sua propriedade humana
de convivência com o humano, que a máquina não o faz. Conviver com Maria José, trouxe - me o
reencantamento: a figura da sábia que é relativa a do orientador acadêmico, mas sem papéis...
apenas ela, humana, em seu ambiente musical e natural.
Uma vez que é difícil com todos os percalços da vida atual reencantar-se com e pela sua
profissão, gostaria de dividir esta conquista com os educadores. Mas para isto busquei alternativas
para dilemas concretos, como apoios:
o Colégio Pedro II onde trabalho há vários anos e muito estimo, através de seu
Departamento Cultural, com a prensagem dos D.V.D.s e a distribuição gratuita destes para
os educadores em eventos oficiais do Colégio;
o Centro de Artes de Laranjeiras (C.A.L.) onde um dos seus fundadores foi Yan Michalski
(finado marido de Maria José) gentilmente cedeu seu espaço para exibições e debates.
a Ed. Irmãos Vitale que nos orientou juntamente com o Ecad para a utilização das músicas e
direitos autorais para a realização deste documentário-homenagem;
Abram o coração, com música, e que esta narrativa autobiográfica possa proporcionar um
momento para discutirem seu próprio modelo formativo educacional/musical e o seu papel no
processo de mediação da construção da educação musical brasileira, pois vocês, também fazem
parte desta História.
O projeto foi executado de Janeiro de 2013 e irá até Dezembro de 2014. Com projeções e
distribuição gratuita dos D.V.D.s para educadores, educadores musicais, musicoterapeutas,
instrumentistas e alunos do curso técnico em música. Os apoiadores tiveram seus nomes divulgados
em agradecimentos, nos créditos finais do DVD.
5ª fase: Dia de Estréia Oficial para amigos de M. José - 22 de Junho de 2014 (aniversário de
Maria José M. Michalski).
Contar com o apoio de amigos de vida e de trabalho, que nos estimulam e apesar das
diferenças e dificuldades que encontramos nos encorajam a continuar, pois, acreditavam na essência
deste trabalho foi fundamental para realimentar-me por todo de meu processo de elaboração.
Agradeço à todos que me/nos auxiliaram e compartilho aqui uma linda mensagem que recebemos
no dia da 1ª exibição do D.V.D. :
Quanto à resposta de minha primeira questão: “Como reencantar-se por sua arte?”
compartilhamos com vocês através deste artigo e deste D.V.D., e desejamos que a Música possa ser
um dos caminhos para Abrirem o Coração.
Referências Bibliográficas:
JUNG, Carl G. O homem e seus símbolos. Ed. Nova Fronteira. Rio de Janeiro. R.J. 1998.pág.58-59-
95.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão, et all. 2° Ed. Campinas-São
Paulo: UNICAMP, 1992. Pág.455.