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Mestrando do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA)/Membro do
Grupo de Pesquisa Cultura Popular, Identidades e Meio Ambiente na Amazônia da Universidade Federal
do Amazonas (UFAM); Chefe do Núcleo de Patrimônio Imaterial da Secretaria Municipal de Cultura de
Manaus.
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Planejamento Urbano de Manaus (IMPLURB), esta comissão era formada por outros
membros de outras secretarias como a Secretaria Municipal de Educação (SEMD),
Manaus Tur e outros. Durante as discussões de revisão das casas de interesse
arquitetônico, a SEMC por meio dos técnicos da Coordenadoria do patrimônio Cultural,
notou que nas discussões, a maioria dos profissionais de outras secretarias, estavam
considerando o Patrimônio Cultural da cidade de Manaus, apenas a partir de seu valor
arquitetônico e estava esquecendo das edificações de valor histórico e cultural.
Com tudo, foi colocado em evidência que bens edificados que compreendem
casas, prédios e espaços de sociabilidade da cultura negra e popular deveriam ser
levados em conta.
Espaços como o terreiro da mãe Zulmira no bairro Morro da Liberdade, terreiro
do Seringal Mirim no bairro de São Geraldo e as casas da comunidade de São Benedito,
onde anualmente é realizado a Festa de São Benedito na Rua Japurá, no bairro da Praça
14 de janeiro e outras no Bairro da Choeirinha devem ser listados e tombados como
patrimônio histórico no município de Manaus.
A casa da mãe Zulmira remonta aos tempos da chegada dos primeiros moradores
ao Morro da Liberdade, por volta de 1892, com a vinda de imigrantes nordestinos,
principalmente maranhenses, que trouxeram para a cidade a tradição dos culto religiosos
africanos. Mãe Zulmira foi a terceira na linha sucessória de Joana Gama, a primeira mãe
de santo do Morro da Liberdade.
A casa do mestre Horácio, na rua Japurá, no bairro Praça 14 de Janeiro, mantém
a fachada de barro. Outro espaço importante que preserva parte da arquitetura é a casa
da família Santos, no bairro da Cachoeirinha, considerada berço do boi-bumbá Corre-
Campo e da Escola de Samba Mista da Cachoeirinha na década de 1940. Um outro
evento que ganhou relevância na SEMC por meio da Coordenadoria do patrimônio
cultural, foi a importância de apoiar evento realizado desde 2007, que comemora o dia
da consciência negra, no mês de novembro em Manaus.
Outra atividade que a Coordenadoria do Patrimônio Cultural, acabou
incorporando em suas atividades, o registro etnográfico da festa religiosa de passagem
de ano da Praia da Ponta Negra. Com o projeto Festa e Religião: Aspectos Religiosos
na Festa de Passagem de Ano na Praia da Ponta Negra – Manaus-AM, foi possível
notar que na última década do século passado a festa de passagem de ano na praia da
Ponta Negra ganhou grande importância tanto para moradores de Manaus quanto para
turista que visitam a cidade nesse período.
Contudo, grupos sociais que deram significado para se festejar a passagem de
ano na beira da praia perderam visibilidade, sendo em muitas ocasiões mal vistos por
organizadores do evento. A SEMC sentiu a necessidade de realizar uma pesquisa em
2007 com objetivo revelar a importância dos umbandistas na ressignificação dessa festa
de final de ano em Manaus. Com a pesquisa, tomamos conhecimento de que no início
da década de 60 do século passado não havia a promoção por órgãos públicos de festas
de passagem de ano naquele local. E foi acompanhando o grupo de religiosos do
Terreiro do Sibamba, foi que notamos que eles, já se deslocavam para aquele local onde
faziam oferendas à Iemanjá e festejavam a passagem de ano. Dessa maneira o poder
público passou a redimensionar o evento de forma que esses grupos sociais passaram a
ser considerados como precursores do evento, assim, passaram a adquirir um capital
simbólico importante nas relações que se estabelecem na festa de passagem de ano da
Praia da Ponta Negra em Manaus.
No sentido de envolver a sociedade e os diversos segmentos sociais nas
discussões sobre as atividades de Patrimônio Cultural e no sentido de apontar políticas
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Autora mostra com essa visão, a ruptura da colônia com o centro europeu. Esta
ruptura vai sendo marcada por uma autonomia cada vez maior da Terra Brasilis, em
estar dialogando financeiramente com os países europeus durante todo o século XIX. A
cultura francesa encontra-se cada vez mais inserido na cultura brasileira, possível pelas
relações comerciais estabelecidas com matérias primas como o algodão, café e a
borracha que reforçam as relações de todos os tipos. Em Manaus, a valorização oficial
do Estado, tenta remontar através do patrimônio arquitetônico, períodos áureos da
borracha passados pela belle époque. Remontando espaços e investindo milhões de reais
em uma cultura erudita, resquícios dos barões da borracha que circulavam as grandes
óperas do Teatro Amazonas.
Já no final do século XIX, fica evidente a associação clara, por parte das elites
brasileira, entre valores culturais e europeus e as noções vigentes de modernidade e de
civilização, manifestados nos costumes, nas artes, na moda, com destaque para a
arquitetura, capaz de evocar paisagens urbanas similares ao dos grandes centros da
Europa. Era preciso, apagar o passado de um país atrasado e se aliar as noções que o
progresso demandava.
Edinea Dias (1999, p. 131) aponta que no inicio do século XX na cidade de
Manaus, os administradores públicos tomam o espaço público com um “espaço
pensado, idealizado e organizado para se fazer conhecer, impressionar e atrair os
investidores estrangeiros, ao mesmo tempo em que projeta para o mundo prosperidade e
civilização dentro da visão burguesa de uma cidade ideal, cria também suas próprias
contradições”. A autora nos chama atenção para uma cidade que na sua constituição
histórica, como a capital da borracha, tem o poder público aliado aos interesses
privados, desenvolvendo uma política de pressão e exclusão e dominação contra pessoas
ou grupos de pessoas que emergem na cidade e que não se enquadram nos conceito de
valores da elite local.
Com estratégias elaboradas de proibições e controle sobre os segmentos pobres
da cidade de Manaus, que ocupavam os mais diferentes trabalhos gerados na capital,
concerne diretamente sobre a habitação, em suas palavras:
Esta passagem da professora Edinea Dias nos remonta a uma Manaus do início do
Século XX, com transformações em suas paisagem urbana que marcaram o patrimônio
histórico e cultural da cidade. Mas passado aí cem anos, em pleno início do Século XXI,
nota-se que Manaus está passando pelo mesmo processo de exclusão dos pobres da
considerada área central da cidade. Desta, vez articulado com a noção de preservação do
Patrimônio Arquitetônico e Histórico da cidade.
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Mais uma vez o poder público utiliza-se de uma série de instrumentos para fazer
funcionar sua política de espaço urbano saneado, impondo através das posturas e
decretos, todo um conjunto de ações disciplinando a vida do cidadão urbano. Aliado aos
grandes financiadores mundiais como o Banco Mundial (BM) e o Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BIRD), o governo tem que executar o projeto de acordo com as
cartilhas de seus financiadores, não respeitando as peculiaridades culturais de moradia e
as diferentes formas de expressão da cultura popular. É o que o Inventário dos Grupos
Folclóricos identificou, inúmeras danças e brincadeiras que deixaram de existir ou
foram empurradas cada vez mais longe, para os limites da cidade dada a intervenção do
PROSAMIM. Em 2007 observou-se que brincadeiras com mais de 20 anos de
atividades que localizava-se na área atingida pelo PROSAMIM do Bairro Cachoeirinha
não saíram para brincar no Festival Folclórico, dada a dificuldade para se encontrar para
ensaios e a morte sistemáticas dos velhos por depressão dada pela desvinculação do
lugar.
De acordo com Manuel Filho e Regina Abreu (2007) a participação de
antropólogos nas instituições de patrimônio era pequena até pouco atrás. No Brasil,
Gilberto Velho tem participação significativa no IPHAN, no Conselho do Patrimônio. A
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Referências Bibliográficas
FILHO, Manuel Ferreira Lima e ABREU, Regina Maria do Rego Monteiro de. A
Antropologia e o Patrimônio Cultural no Brasil. In: Associação Brasileira de
Antropologia. Antropologia e Patrimônio Cultural: diálogos e desafios contemporâneos.
Organizadores Manuel Ferreira Lima Filho, Jane Felipe Beltrão, Cornelia Eckert –
Blumenau: Nova Letra, 2007.