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Octavio Ianni levanta estas questões para chegar ao ápice do artigo para afirmar:
“Este é um momento epistemológico fundamental” (Ianni, 2000, p. 239): o
paradigma clássico, fundado na reflexão sobre a sociedade nacional, dá lugar a
um novo paradigma fundado na reflexão sobre a sociedade global. “O
conhecimento acumulado sobre a sociedade nacional não é suficiente para
esclarecer as configurações e os movimentos de uma realidade que já é [...]
global” (Ianni, 2000, p. 239). O autor ressalta que “a sociedade nacional não dá
conta, nem empírica nem metodologicamente, nem histórica nem teoricamente, de
toda a realidade na qual inserem indivíduos e classes, nações e nacionalidades,
culturas e civilizações” (Ianni, 2000, p. 239).
Comentário:
O que o autor quer dizer é que a ciência deve progredir na mesma velocidade que
o mundo avança. O mundo real, com a globalização, se recriou: uma sociedade
global emergiu. Porém, as ciências sociais não sabem como lidar com essa nova
realidade ou não evolui na mesma velocidade, não sendo capazes de dar
respostas a esse novo fato, que é a globalização. Na realidade, falta criar e
estabelecer um novo paradigma.
Justamente esse é um dos elementos que falta maior clareza e sustentação
teórica por parte do autor: paradigma. Ianni não esclarece o que é um paradigma,
como um paradigma surge ou por que vivemos sob paradigmas e ainda, por que a
ciência vive de paradigmas, como eles se dão e acontecem. No artigo, paradigma
é um fato dado e não há esclarecimento. Ora, se a globalização nos faz viver sob
um novo paradigma, como afirma o autor, este conceito deve ser muito importante
e mereceria ao menos uma definição mais explícita. Pelo que transparece no texto,
paradigma é uma nova visão de mundo: é deixar de pensar e entender o mundo
baseado em Estados-nação (sistema westfaliano) e enxergá-lo como uma
realidade nova, onde não temos parâmetros para falar a esse respeito. Assim,
grosseiramente, paradigma pode ser entendido como “parâmetro”, mas sendo, ao
mesmo tempo, um conceito mais abrangente que isto.
A questão crucial, para o autor, é que não temos parâmetros para compreender e
falar sobre essa “sociedade global” que surgiu com a globalização. A sociedade
nacional, segundo Ianni, não pode ser referência para compreender a sociedade
global, pois é uma realidade totalmente distinta.
O autor coloca o problema, mas não propõe solução. O fato positivo nessa
discussão é que o caminho está aberto para as ciências sociais progredirem em
busca de uma compreensão ampla e de elucidação dessa nova realidade que
estamos vivendo, que é a sociedade global, surgida na esteira da globalização.
Trata-se de um novo desafio, onde a volta de alguma teoria pretérita, como o
positivismo, por exemplo, não será capaz de proporcionar uma aclaração a poder
satisfazer a sagacidade do questionar científico contemporâneo. Na verdade, o
que se deduz desse tema é que é uma questão tão vasta e complexa, que as
ciências sociais ainda não têm resposta à altura. A compreensão do mundo atual
apresenta muitos desafios para as ciências sociais que devem ser analisados sob
uma outra ótica, o que pode vir a constituir uma nova ciência: a Globologia,
conforme já proposto por Bergesen e mencionado por Ianni em seu artigo.
Em suma, fica patente após a leitura do artigo que as ciências sociais têm que se
desenvolver de forma mais rápida para poder abarcar e explicar as novas
realidades que estamos vivendo e que é coerente, segundo Bergesen, fazer
apologia de uma nova ciência social, a Globologia.